O autor resume que muitos o cobraram por não se posicionar sobre a situação política do Brasil. Ele argumenta que o impeachment de Dilma foi um "assalto ao poder" e que o grande problema é o sistema político corrupto do Brasil, não apenas o PT. Ele defende uma profunda reforma política associada a uma transformação cultural para combater a corrupção no longo prazo.
1. Caros amigos e leitores
Muitos me têm cobrado o porquê de não ter escrito sobre a situação
política do Brasil dos últimos tempos. Acredito que nesse momento de muita
paixão e revolta as pessoas acabam por se ofender com qualquer posicionamento
que seja contrário ao seu. Já perdi muitos “amigos”!
Antes de mais nada, volto a repetir que nesse circo todo as pessoas estão
a defender as suas opiniões ou posicionamento a ferro e fogo. Isso tem acirrado
os ânimos e as paixões, e tem faltado reflexão e estudo. Muitos saem a partilhar
informações, reportagens e afins para sustentar as suas opiniões como fossem
verdades objectivas.
Falo mais especificamente do impeachment.
Para qualquer pessoa sensata, o resultado de todo esse processo é um
assalto ao poder. Como anteriormente escrevi num artigo, essa acusação de
“crime de responsabilidade”, não mais é do que uma manobra jurídica (política)
com o pretexto de tirar o PT e a Dilma do poder. Na “democracia” brasileira do
período pós-Getúlio (segunda Era Vargas) era e é pouco comum um presidente
terminar o seu mandato. Talvez o “segredo” estivesse em conseguir controlar o
congresso; a História mostra-nos isso: depois de 1950 apenas Jucelino Kubichek,
FHC e Lula conseguiram terminar os seus mandatos; todos esse conseguiram
controlar o congresso e a famosa política dos governadores. Noutras palavras, a
Dilma não caiu porque é corrupta ou conveniente, mas sim porque não tem a
menor habilidade política para controlar um congresso muito pior que o que
chamam de conservador: é sim corrupto até as entranhas.
Essa falta de domínio do congresso é o resultado da plutocracia,
capitaneada por Eduardo Cunha e Michel Temer, duas figuras que marcam a
política brasileira há muitos anos. Para muitos dos que me conhecem, sabem que
sempre fui e sou um crítico ácido do Partido dos Trabalhadores, justamente por
terem feito essas alianças políticas; E também por terem chegado ao poder e
usarem o mesmo sistema político que todos têm usado desde o período das
Regências (séc. XIX). Podemos ver o reflexo desse congresso na fala do Senador
Romero Jucá: “temos que tirar ela (Dilma), para estancar a sangria da Lava Jato”.
Fico a pensar que por mais anti-petista que seja, dizer que o PT é o partido mais
corrupto do Brasil, é falta de honestidade intelectual ou de um cinismo sem
limites. O grande problema é o sistema político brasileiro, e é isso que mais me
entristece nessa história toda. Se as pessoas quiserem lutar por democracia,
comecemos então por uma profunda reforma política, para além de uma
profunda transformação cultural e moral. Não adianta fazer reforma política e o
povo continuar a fazer sinais de luz quando a polícia está a fazer operação stop (a
famosa Blitz), ou tentar dar um “cafezinho” para o policial. Os políticos que estão
a usar o sistema político falido e corrupto não vieram da Lua; são o resultado da
nossa cultura, principalmente dessa elite que gosta de governos autoritários
para enriquecer. Sabem porque vos escrevo isso? Basta olhar para o corpo
ministerial do “presidente” Temer: só tem homens. Na época até escrevi a dizer
que o país seria governado por uma confraria de maçónicos.
Então lutemos por democracia sim, mas com uma reforma política como
espinha dorsal para atenuar essa corrupção que não começou em 2002, mas sim
como resultado de séculos e séculos de corrupção diária e de todas as formas.
2. Para essa parcela de direita ou de extrema-direita que dizia que tirar o PT
do poder a corrupção iria acabar: estão felizes? O Brasil é um país livre da
corrupção. Paremos com esses discursos sofistas. Precisamos fazer um
autocrítica ininterrupta, para tentarmos manter uma lucidez constante. Caso
contrário vivemos uma intensa briga de torcida. O país precisa de mudar de
patamar. Aos que acreditam que o liberalismo é a melhor forma de viver, digo-
vos que defendam os ideais do liberalismo, que estudem os principais autores
que os defendem e TAMBÉM os seus opositores. É muito fácil criticar Marx sem
se quer ter lido um linha da sua obra. A isso chama-se “João vai com os outros”.
Essa crítica também vale para a esquerda; precisam de ler mais Marx e menos
comentadores, como também os seus opositores. Pessoas de pensamento único
combinam muito bem com regimes autoritários.
Não poderia terminar esse breve texto sem um, Fora Temer, Fora esse
sistema político e Viva uma reforma política e uma verdadeira revolução cultural
que só será possível por meio de um educação de qualidade em todos os níveis.
Viva o hábito da leitura!
Mais amor e menos intolerância. Que possa prevalecer a coerência e lucidez
nessa escuridão de “egos”.
CH