1. As Tendências do Realismo na obra: “No Moinho” de Eça de Queiroz
Frederico Dias Freire*
A história do conto “No Moinho“ de Eça de Queiros trata-se de uma obra
composta pela narração de parte da vida de Dona Maria da Piedade, uma senhora
que serviria de modelo para a sociedade atual, casada com João Coutinho,
homem rico mais que sofrera de uma grave doença na „espinha‟. Com isso, Maria
da Piedade toma conta de sua casa, trata da doença do marido e dos filhos,
agindo como uma zelosa enfermeira.A chegada de Adrião, primo de seu marido,
que embora seja romancista é descrito como um homem robusto, que vem alterar
a rotina do modo de viver da família e despertar em Dona Maria da Piedade
sentimentos jamais sonhados por ela. Depois de ajudar a vender uma fazenda
“motivo de sua chegada”, Dona Maria da Piedade vai com ele visitar um moinho
velho, e Adrião cortejando-a, fala-lhe de uma vida a dois, ali, no moinho e dá-lhe
um beijo, sendo esse o estopim para despertar o que jamais aflora-se naquela
mulher. Adrião parte logo para Lisboa, mas esta experiência leva Dona Maria da
Piedade a imaginar um outro modo de vida. Começa a ler romances e a não cuidar
mais de seu marido e filhos, com isso acaba a cometer adultério com o sebento
praticante da botica.
No moinho é um conto que prescreve que o leitor imagine aquela
história como verdadeira e a reproduz fielmente, por se tratar de uma narrativa
voltada para a análise psicológica, que critica a sociedade e o comportamento de
determinados personagens. Trata-se de uma forma específica de desencadear o
imaginário, muito utilizada pela ficção realista.
A linguagem no Realismo é mais simples, sem preocupações estéticas
exacerbadas, de modo a abranger um público maior, e suas características na
literatura realista se contrapõem com as românticas, passando os cenários a
serem urbanos e o ambiente social a ser valorizado ao invés do natural, com isso
encaixa-se na obra “No Moinho”, pois por se tratar de uma tendência realista não
vê o amor e o casamento como era visto no Romantismo, ou seja, não um simples
elemento de felicidade, mais sim transformando em convenções sociais de
aparência.
Retiramos um fragmento do conto “No Moinho” que deixa clara essa visão
realista do autor, em que o homem passa ter uma exposição de ser medíocree
incapaz, e a mudança de hábito de Dona Maria da Piedade perante a sociedade.
[...] o marido, mais velho que ela, era um inválido, sempre de
cama, inutilizado por uma doença de espinha; havia anos que não
descia à rua; avistavam-no às vezes também à janela, murcho e
trôpego, agarrado a bengala [...].
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*Acadêmico do 4º período noturno do curso de Letras do Instituto superior de Educação da
Faculdade Alfredo Nasser, sob orientação da professora Ms. Patrícia Espíndola no semestre letivo
2012/2.
2. [...]Tornou-se impaciente e áspera. Não suportava ser arrancada
aos episódios sentimentais do seu livro, para ir ajudar a voltar o
marido e sentir-lhe o mau hálito [...].
[...] às vezes ao pé do leito de seu marido, vendo diante de si
aquele corpo de tísico, numa imobilidade de entrevado, vinha-lhe
um ódio torpe, um desejo de lhe apressar a morte [...].
Nota-se no conto de Eça de Queiros “No Moinho” o encaixe perfeito nas
tendências do Realismo, que punha em cheque a sociedade, escancarando para o
leitor seus pensamentos, costumes e visões da sociedade sem nenhuma
preocupação com estética literária, divergindo totalmente do modo de pensar dos
autores Romanescos, que enxergavam a literatura como um campo para as
metáforas, e de suas comparações e exageros, típico do Romantismo.