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U NI V E R SI D A D E   S T A D U A L   O  
                       E               D   PIA UÍ­  E S PI
                                                   U

CENT R O D E  CIE N CI A S   U M A N S     T R A S   C C H L
                            H           E LE        – 

C oordenação     urso    
              do C     de Letras Espanhol­E A D

Disciplina: Literatura 
                       Brasileira I
                                  

Professora  utora: 
           Do      Alge mira    a c e d o   e n d es
                             de M          M




                                        UNIDADE II
             AS PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES DA
                         LITERATURA BRASILEIRA


OBJETIVOS:


    Caracterizar o contexto sócio-político e cultural da poesia Barroca brasileira.

    Identificar tendências estéticas e ideológicas dos poetas que integram o
    Barroco brasileiro.
    Ler e analisar textos poéticos representativos de autores brasileiros do
    Barroco.
1.     Primeiras manifestações da literatura brasileira


      O estudo sobre as origens da literatura brasileira deve ser feito levando-
se em conta duas vertentes: a histórica e a estética. O ponto de vista histórico
orienta no sentido de que a literatura brasileira é uma expressão de cultura
gerada no seio da literatura portuguesa. Como até bem pouco tempo eram
muito pequenas as diferenças entre a literatura dos dois países, os
historiadores acabaram enaltecendo o processo da formação literária brasileira,
a partir de uma multiplicidade de coincidências formais e temáticas. A outra
vertente (aquela que salienta a estética como pressuposto para a análise
literária brasileira) ressalta as divergências que desde o primeiro instante se
acumularam no comportamento (como nativo e colonizado) do homem
americano, influindo na composição da obra literária. Em outras palavras,
considerando que a situação do colono tinha de resultar numa nova concepção
da vida e das relações humanas, com uma visão própria da realidade, a
corrente estética valoriza o esforço pelo desenvolvimento das formas literárias
no Brasil, em busca de uma expressão própria, tanto quanto possível original.


1.1   O Barroco
Igreja de São Francisco em Salvador-BA.


      O período Barroco sucedeu o Renascimento, do final do século XVI ao
final do século XVII, estendendo-se a todas as manifestações culturais e
artísticas européias e latino-americanas. Iniciado pelo maneirismo e extinto no
rococó, considerado um barroco exagerado e exuberante, e para alguns, a
decadência do movimento. Em sua estética, o barroco revela a busca da
novidade e da surpresa; o gosto pela dificuldade, pregando a ideia de que se
nada é estável tudo deve ser decifrado; a tendência ao artifício e ao engenho; a
noção de que no inacabado reside o ideal supremo de uma obra artística. A
literatura barroca se caracteriza pelo uso da linguagem dramática expressa no
exagero de figuras de linguagem, de hipérboles, metáforas, anacolutos e
antíteses. O barroco é conhecido como "a arte do conflito", pois (por causa do
Renascimento) o homem estava dividido entre dois valores diferentes
(teocentrismo x antropocentrismo). Em vista disso, o barroco se divide em duas
correntes (uma otimista e uma pessimista). Por causa dessa mudança na
mentalidade, o homem entra numa grande depressão, pois ele não pode mais
recorrer a Deus. Esse conflito vai se refletir nas artes da época: relevo na
arquitetura, movimento na escultura, luz e sombra na pintura, contraponto na
música e antíteses e paradoxos na literatura.
      O   Barroco    segundo    Afrânio   Coutinho   (2000)   é   caracterizado
principalmente pelo culto exagerado da obra, sobrecarregando a poesia de
figuras de linguagem; o dualismo: conflito entre o bem e o mal, o Céu e a Terra,
Deus e o Diabo, o material e o espiritual, o pecado e o perdão; culto do
Contraste, onde o poeta se sente dividido e confuso por causa do dualismo de
ideias; o pessimismo, que era acarretado pela confusão causada pelo
dualismo. Em outras palavras, o Barroco revela a busca da novidade e da
surpresa, o gosto da dificuldade, sintetizando o pensamento da escola literária
em estudo, pode-se dizer que dois modelos teóricos os influenciaram: O
cultismo - descrição simples de objetos usando uma linguagem rebuscada,
culta e extravagante, jogo de palavras, com uma influência visível do poeta
espanhol Luís de Gongora (daí o estilo ser chamado também de Gongorismo).
Caracterizado também pelo abuso no emprego de figuras de linguagem como
metáforas, antíteses, hipérboles, anáforas etc. E o conceptismo - marcado pelo
jogo de ideias, de conceitos, seguindo um raciocínio lógico, racionalista e que
utiliza uma retórica aprimorada. Os conceptistas pesquisavam a essência
íntima dos objetos, buscando saber o que são, assim, a inteligência, lógica e
raciocínio ocupam o lugar dos sentidos. Assim, é muito comum a presença de
elementos da lógica formal como o silogismo e o sofismo.
O Barroco no Brasil tem seu marco inicial em 1601, com a publicação do
poema épico "Prosopopéia", de Bento Teixeira, que introduz definitivamente o
modelo da poesia camoniana em nossa literatura. Estende-se por todo o século
XVII e início do XVIII, tendo sido fundada neste período as Academias .
Antes do texto de Bento Teixeira, os sinais mais evidentes da influência da
poesia barroca no Brasil surgiram a partir de 1580 e começaram a crescer nos
anos seguintes ao domínio espanhol na Península Ibérica, já que é a Espanha
a responsável pela unificação dos reinos da região, o principal foco irradiador
do novo estilo poético. O quadro brasileiro se completa no século XVII, com a
presença cada vez mais forte dos comerciantes, com as transformações
ocorridas no Nordeste em consequencia das invasões holandesas e,
finalmente, com o apogeu e a decadência da cana-de-açúcar


1.2.   Autores e obras representativas do barroco brasileiro
Estatua de Bento Teixeira

      Bento Teixeira, como já foi dito, é responsável pela introdução do
Barroco no Brasil com a obra Prosopopéia. Filho de cristãos-novos, veio com a
família para o Brasil por volta de 1567, com destino à capitania do Espírito
Santo, frequentando o colégio dos Jesuítas. Em 1576 foi para o Rio de Janeiro
e em 1579, para a Bahia. Em 1583 vai para Ilhéus onde se casa com Felipa
Raposa, cristã-velha, tendo posteriormente assassinado-a por ela ter cometido
adultério. Sem possibilidade de melhoria financeira, parte em 1584 para Olinda,
abrindo aí a escola. Em 1588 vai para Igaraçu, dedicando-se ao magistério, à
advocacia e ao comércio. Blasfemou, sendo, em consequencia, levado a auto-
de-fé em 31 de julho de 1589, mas conseguindo a absolvição do ouvidor da
Vara Eclesiástica.
      Continuando sob a mira da Inquisição por judaísmo, foi preso em Olinda
em 20 de agosto de 1595 sendo embarcado para Lisboa, aí chegando em
janeiro de 1596. Recolhido aos cárceres, negou a crença e práticas judaicas,
vindo a confessá-las depois. Levado a auto-de-fé em 31 de janeiro de 1599,
abjurou o judaísmo, recebeu doutrinação católica e obteve liberdade
condicional em 30 de outubro. Doente, faleceu na cadeia de Lisboa, em fins de
julho de 1600.
      A obra Prosopopéia, de Bento Teixeira é um poemeto épico, com 94
estâncias em oitava rima e decassílabos heróicos, conforme ensinava Camões
nos Lusíadas, gira em torno de Jorge de Albuquerque Coelho, donatário da
Capitânia de Pernambuco, e de sue irmão, Duarte. O intuito do poeta,
declarado logo nos primeiros versos, era enaltecer os feitos guerreiros dos
heróis, em terras brasílicas e africanas. O narrador do poema é prometeu. Sua
estrutura é composta de um prólogo, narração e epílogo. Seguem alguns
trechos do poema:


PRÓLOGO
Dirigido a Jorge d’Albuquerque Coelho, Capitão e Governador da Capitania de
Pernambuco, das partes do Brasil da Nova Lusitânia etc.
Se é verdade o que diz Horácio que Poetas e Pintores estão no mesmo
predicamento, e estes, para pintarem perfeitamente uma imagem, primeiro na
lisa tábua fazem rascunho, para depois irem pintando os membros dela
extensamente, até realçarem as tintas, e ela ficar na fineza de sua perfeição;
assim eu, querendo debuxar com obstardo pincel de meu engenho a viva
imagem da vida e feitos memoráveis de vossa mercê, quis primeiro fazer este
rascunho, para depois, sendo-me concedido por vossa mercê, ir mui
particularmente pintando os membros desta imagem, se não me faltar a tinta
do favor de vossa mercê, a quem peço, humildemente, receba minhas rimas,
por serem as primícias com que tento servi-lo. E porque entendo que as
aceitará com aquela benevolência e brandura natural, que costuma,
respeitando mais a pureza do ânimo que a vileza do presente, não me fica
mais que desejar, se não ver a vida de vossa mercê aumentada e estado
prosperado, como todos os seus súditos desejamos.
Beija as mãos de vossa mercê:
(Bento Teixeira) seu vassalo.




                                         I
                        Cantem poetas o poder romano,
                       Sobmetendo nações ao jugo duro;
                        O Mantuano pinte o Rei Troiano,
                    Descendo à confusão do Reino escuro;
                    Que eu canto um Albuquerque soberano,
                        Da fé, da cara Pátria firme muro,
                     Cujo valor, e ser, que o céu lhe inspira,
                       Pode estancar a lácia e grega lira.
                                        II
                      As Délficas irmãs chamar não quero,
que tal invocação é vão estudo;
         Aquele chamo só, de quem espero
       A vida que se espera em fim de tudo.
            Ele fará meu verso tão sincero,
         Quanto fora sem ele tosco, e rudo,
     Que per razão negar não deve o menos
       Quem deu o mais a míseros terrenos.
                                    III
   E vós, sublime Jorge, em quem se esmalta
        A Estirpe d'Albuquerques excelente,
           E cujo eco da fama corre e salta
           Do carro glacial à zona ardente,
         Suspendei por agora a mente alta,
        Dos casos vários da olindesa gente,
        E vereis vosso irmão e vós supremo
           No valor, abater Quirino e Remo.
                                   IV
           Vereis um senil ânimo arriscado
           A trances e conflitos temerosos,
               E seu raro valor executado
            Em corpos luteranos vigorosas.
           Vereis seu Estandarte derribado
              Aos Católicos pés vitoriosos,
          Vereis em fim o garbo, e alto brio,
         Do famoso Albuquerque vosso Tio.
                                    V
         Mas em quanto Tália no se atreve,
       No Mar do valor vosso, abrir entrada,
             Aspirai com favor a Barca leve
       De minha Musa inculta e mal limada.
         Invocar vossa graça, mais se deve,
         Que toda a dos antigos celebrada,
           Porque ela me fará que participe
       Doutro licor melhor que o de Aganipe.
...........................................................................
NARRAÇÃO
                                                 VII
                       A Lâmpada do Sol tinha encoberto,
                        Ao mundo, sua luz serena e pura,
                       E a irmã dos três nomes descoberto
                             A sua tersa e circular figura.
                       Lá do portal de Dite, sempre aberto,
                       Tinha chegado, com a noite escura,
                     Morfeu, que com sutis e lentos passos
                  Atar vem dos mortais os membros lassos.
                ........................................................................
                                                XVII
                       MANUEL BOTELHO DE OLIVEIRA




      O escritor barroco Manuel Botelho de Oliveira nasceu em Salvador - BA,
em1636 e faleceu em 1711. Contemporâneo de Gregório de Matos, cursou
Direito na Universidade de Coimbra - Portugal. De volta ao Brasil, passou a
exercer a advocacia; também foi vereador da Câmara de Salvador - Em 1705
publica em Portugal sua obra, Música do Parnaso. Conviveu com Gregório de
Matos e versou sobre os temas correntes da poesia de seu tempo.
      A obra, Música do parnaso é dividida em quatro coros de rimas
portuguesas, castelhanas, italianas e latinas, com seu decante cômico reduzido
em duas comédias. Das rimas portuguesas que englobam 42 sonetos, 23
madrigais, 12 décimas, 3 redondilhas , 14 romances, 1 panegírico, 1 poema em
oitavas, 6 canções e uma silva. Para melhor exemplificarmos, seguem trechos
da obra. ( MOISÉS, 2006, p. 52-56,).
MÚSICA DO PARNASO




        Monte Parnaso na Grécia




               SONETO VII


   Vendo a Anarda depõe o sentimento
   A serpe, que adornando várias cores,
 Com passos mais oblíquos, que serenos,
   Entre belos jardins, prados amenos,
     É maio errante de torcidas flores;


  Se quer matar da sede os desfavores,
 Os cristais bebe com a peçonha menos,
Por que não morra com os mortais venenos,
     Se acaso gosta dos vitais licores.


  Assim também meu coração queixoso,
     Na sede ardente do feliz cuidado
    Bebe cos olhos teu cristal formoso;


  Pois para não morrer no gosto amado,
    Depõe logo o tormento venenoso,
    Se acaso gosta o cristalino agrado.
SONETO X
                  Ponderação do rosto e olhos de anarda


                  Quando vejo de Anarda o rosto amado,
                   Vejo ao céu e ao jardim ser parecido;
                   Porque no assombro do primor luzido
                    Tem o sol em seus olhos duplicado.


                      Nas faces considero equivocado
                      De açucenas e rosas o vestido;
                      Porque se vê nas faces reduzido
                     Todo o império de Flora venerado.


                    Nos olhos e nas faces mais galharda
                  Ao céu prefere quando inflama os raios,
                  E prefere ao jardim, se as flores guarda:


                 Enfim dando ao jardim e ao céu desmaios,
                  O céu ostenta um sol, dous sóis Anarda,
                  Um maio o jardim logra; ela dous maios.




                            Gregório de matos


Gregório de Matos, poeta significativo do Barroco brasileiro, nasceu em
Salvador - BA, em 20/12/1623 e morreu em Recife – PE, em 1696. Foi
contemporâneo do Pe. Antônio Vieira. Amado e odiado, é conhecido por muitos
como "Boca do Inferno", em função de suas poesias satíricas, muitas vezes
trabalhando o chulo em violentos ataques pessoais. Influenciado pela estética,
estilo e sintaxe de Gôngora e Quevedo, é considerado o verdadeiro iniciador da
literatura brasileira. Considerado uma das principais referências do barroco
brasileiro, Gregório de Matos Guerra cultivou com a mesma beleza tanto o
estilo cultista quanto o conceptista. O primeiro valoriza o pormenor, enquanto o
segundo segue um raciocínio lógico, racionalista
A poesia de Gregório de Matos pode ser classificada como: lírica religiosa e
lírica amorosa e satírica. Em todos os estilos abusa de figuras de linguagem
como se demonstrou faz uso do estilo cultista e conceptista, através de jogos
de palavras e raciocínios sutis. As contradições, próprias, talvez, de sua
personalidade instável, são uma constante em seus poemas, oscilando entre o
sagrado e o profano, o sublime e o grotesco, o amor e o pecado, a busca de
Deus e os apelos terrenos.
Na poesia lírica religiosa o poeta se ajoelha diante de Deus, com forte
sentimento de culpar por haver pecado, e promete redimir-se. São recorrentes
nestes poemas imagens: do homem ajoelhado implorando perdão por seus
erros conforme demonstra a seguir:




                        A Jesus cristo nosso senhor


                Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,
                     Da vossa alta clemência me despido;
                    Porque quanto mais tenho delinquido,
                   Os tenho a perdoar mais empenhado.


                      Se basta a vos irar tanto pecado,
                    A abrandar-vos sobeja um só gemido;
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
                          Vos tem para o perdão lisonjeado.


                      Se uma ovelha perdida e já cobrada
                            Glória tal e prazer tão repentino
                    Vos deu, como afirmais na sacra história,


                      Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,
                     Cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
                     Perder na vossa ovelha a vossa glória
No lírico amoroso se define pelo erotismo, revelando uma sensualidade ora
grosseira,   ora   rara     fineza.    Sua   visão   do   amor   está   fundamentada
constantemente na religiosidade da contra-reforma. Para ele o tempo elimina
as alegrias corpóreas, que a vida e a beleza são breves e que se faz, portanto
necessário aproveitá-las. São constantes imagens de efemeridade, ou seja,
brevidade do tempo, como destaca-se no soneto que segue:


                                      Maria dos povos.


                            Discreta e formosíssima Maria,
                   Enquanto estamos vendo a qualquer hora,
                           Em tuas faces a rosada Aurora,
                          Em teus olhos e boca, o Sol e o dia:


                           Enquanto com gentil descortesia,
                          O Ar, que fresco Adônis te namora,
                          Te espalha a rica trança brilhadora
                           Quando vem passear-te pela fria.


                          Goza, goza da flor da mocidade,
                      Que o tempo trata, a toda a ligeireza
                          E imprime em toda flor sua pisada.


                     Oh não aguardes que a madura idade
                          Te converta essa flor, essa beleza,
Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.


                           (GONZAGA, 2001, p.19)


Por último, o satírico, estilo que comumente é mais conhecido por sua sátira
ferina, azeda e mordaz, usando, às vezes, palavras de baixo calão, daí seu
epíteto Boca do Inferno. O autor critica todos os aspectos da sociedade baiana,
ninguém escapa, os nativos, os negros e particularmente o clero e o povo
português.
                                 Aos vícios
                    Eu sou aquele, que os passados anos
                       cantei na minha lira maldizente
                     torpezas do Brasil, vícios e enganos.


                  E bem que eu os descantei bastantemente,
                      Canto segunda vez na mesma lira
                   O mesmo assunto em plectro diferente.


                   De que pode servir, calar, quem cala?
                    Nunca se há de falar, o que se sente?
                   Sempre se há de sentir, o que se fala? !


                    Qual homem pode haver tão paciente,
                    Que, vendo o triste estado da Bahia,
                  Não chore, não suspire, e não lamente?
Outro autor significativo para o Barroco é o Pe. Antônio Vieira, nasceu em 6 de
fevereiro de 1608, em Lisboa e faleceu em Salvador, em 1697. Foi um dos
mais importantes oradores de seu século. Seu pai servira a marinha e fora, por
dois anos, escrivão da Inquisição portuguesa. Seu pai se mudou em 1609 para
o Brasil, onde assumiu um cargo de escrivão em Salvador; em 1614 trouxe a
família para o Brasil quando Antônio tinha 6 anos de idade. Antônio estudou na
única escola de Salvador da época: a dos jesuítas. Consta que não era um
bom aluno no começo, mas depois se tornou brilhante. Juntou-se à Companhia
de Jesus como noviço em maio de 1623. Existem muitas lendas sobre Vieira,
incluindo que na juventude sua genialidade lhe fora concedida por Nossa
Senhora e que uma vez um anjo lhe indicou o caminho de volta à escola
quando estava perdido. Quando em 1624 os holandeses invadiram a Bahia,
Vieira se refugiou no interior, onde começaram seus impulsos missionários. Um
ano depois tomou os votos de castidade, pobreza e obediência, abandonando
o noviciado. Não partiu para a vida missionária, no entanto. Estudou muito
além da teologia: lógica, física, metafísica, matemática e economia. Em 1634,
após ter sido professor de retórica em Olinda, se ordenou. Em 1638 já
ensinava Teologia.
Se por um lado, Gregório de Matos mexeu com as estruturas morais e a
tolerância de muita gente - como o administrador português, o próprio rei, o
clero e os costumes da própria sociedade baiana do século XVII - por outro,
ninguém angariou tantas críticas e inimizades quanto o "impiedoso" Padre
Antônio Vieira, detentor de um invejável volume de obras literárias, inquietantes
para os padrões da época, quer seja na Bahia, no Maranhão ou em
Pernambuco, estados nos quais passou boa parte de sua vida ou mesmo em
Portugal.
Politicamente, Vieira tinha contra si a pequena burguesia cristã (por defender o
capitalismo judaico e os cristãos-novos); os pequenos comerciantes (por
defender o monopólio comercial); e os administradores e colonos (por defender
os índios). Essas posições, principalmente a defesa dos cristãos-novos,
custaram a Vieira uma condenação da Inquisição, ficando preso de 1665 a
1667.
A obra de Viera consta de cerca de 200 Sermões e mais de 500 cartas entre os
quais se destacam: Sermão pelo Bonsucesso das Armas de Portugal contra as
de Holanda; Sermão da Sexagésima; Sermão de Santo Antônio aos Peixes;
Sermão da Primeira Dominga da Quaresma; Sermão XIV do Rosário (dedicado
aos negros) e muitos outros.




                     Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal contra as de Holanda

O trecho que segue é parte do Sermão pregado por Antônio Vieira em 1640 na
igreja de senhora da ajuda, na Bahia.
                                          III
Considerai, Deus meu – e perdoai-me, se falo inconsideradamente – considerai
a quem tirais as terras do Brasil e a quem as dais. Tirais estas terras aos
portugueses a quem nos princípios as destes; e bastava dizer a quem as dais,
para perigar o crédito de vosso nome, que não podem dar nome de liberal
mercês com arrependimento. Para que nos disse S. Paulo, que vós,Senhor,
"quando dais, não vos arrependeis": Sine paenitentia enim suntdona Dei? Mas
deixado isto à parte: tirais estas terras àqueles mesmos portugueses a quem
escolhestes entre todas as nações do Mundo para conquistadores da vossa
Fé, e a quem destes por armas como insígnia e divisa singular
vossas próprias chagas. E será bem, Supremo Senhor e Governador do
Universo, que às sagradas quinas de Portugal e às armas e chagas de Cristo,
sucedam as heréticas listas de Holanda, rebeldes a seu rei e a Deus? Será
bem que estas se vejam tremular ao vento vitoriosas, e aquelas abatidas,
arrastadas e ignominiosamente rendidas? Et quid facies magno nomini tuo? E
que fareis (como dizia Josué) ou que será feito de vosso glorioso nome em
casos de tanta afronta?
      Tirais também o Brasil aos portugueses, que assim estas terras
vastíssimas, como as remotíssimas do Oriente, as conquistaram à custa de
tantas vidas e tanto sangue, mais por dilatar vosso nome e vossa Fé (que esse
era o zelo daqueles cristianíssimos reis) que por amplificar e estender seu
império.Assim fostes servido que entrássemos nestes novos mundos, tão
honrada e tão gloriosamente, e assim permitis que saiamos agora (quem tal
ima de vossa bondade!), com tanta afronta e ignomínia! Oh! como receio que
não falte quem diga o que diziam os egípcios: Callide eduxit eos, utinterficeret
et deleret e terra. Que a larga mão com que nos destes tantos domínios e
reinos não foram mercês de vossa liberalidade, senão cautela e dissimulação
de vossa ira, para aqui fora e longe de nossa Pátria nos matardes,nos
destruirdes, nos acabardes de todo. Se esta havia de ser a paga e o fruto de
nossos trabalhos, para que foi o trabalhar, para que foi o servir, para que foi o
derramar tanto e tão ilustre sangue nestas conquistas? Para que abrimos os
mares nunca dantes navegados? Para que descobrimos as regiões e os climas
não conhecidos? Para que contrastamos os ventos e as tempestades com
tanto arrojo, que apenas há baixio no Oceano, que não esteja infamado com
miserabilíssimos naufrágios de portugueses? E depois de tantos perigos,
depois de tantas desgraças, depois de tantas e tão lastimosas mortes, ou nas
praias desertas sem sepultura, ou sepultados nas entranhas dos alarves, das
feras, dos peixes, que as terras que assim ganhamos, as hajamos de perder
assim? Oh! quanto melhor nos fora nunca conseguir, nem intentar tais
empresas!
      Mais santo que nós era Josué, menos apurada tinha a paciência, e,
contudo, em ocasião semelhante, não falou (falando convosco) por diferente
linguagem. Depois de os filhos de Israel passarem às terras ultramarinas do
Jordão, como nós a estas, avançou parte do exército a dar assalto à cidade de
Hai, a qual nos ecos do nome já parece que trazia o prognóstico do infeliz
sucesso   que    os   israelitas   nela   tiveram;   porque   foram   rotos   e
desbaratados,posto que com menos mortos e feridos, do que nós por cá
costumamos. E que faria Josué à vista desta desgraça? Rasga as vestiduras
imperiais, lanças e por terra, começa a clamar ao Céu: Heu! Domine Deus,
quid voluisti traducerepopulum istum Jordanem fluvium, ut traderes nos in
manus Amorrhaei?"Deus meu e Senhor meu, que é isto? Para que nos
mandastes passaro Jordão e nos metestes de posse destas terras, se aqui nos
haveis de entregar nas mãos dos amorreus e perder-nos?" Utinam
mansissemus trans Jordanem!"Oh! nunca nós passáramos tal rio!"
      Assim se queixava Josué a Deus, e assim nos podemos nós queixar, e
com muito maior razão que ele. Se este havia de ser o fim de nossas
navegações, se estas fortunas nos esperavam nas terras conquistadas: "Oh!
Nunca nós passáramos tal rio!". Utinam mansissemus trans Jordanem!
Prouvera a vossa Divina Majestade que nunca saíramos de Portugal, nem
nossas vidas às ondas e aos ventos, nem conhecêramos ou puséramos os pés
em terras estranhas! Ganhá-las para as não lograr, desgraça foi e não
ventura;possuí- las para as perder, castigo foi de vossa ira, Senhor, e não
mercê,nem favor de vossa liberalidade. Se determináveis dar estas mesmas
terras aos piratas de Holanda, por que lhas não destes enquanto eram
agrestes e incultas, senão agora? Tantos serviços vos tem feito esta gente
pervertida e apóstata, que nos mandastes primeiro cá por seus aposentadores;
para lhe lavrarmos as terras, para lhe edificarmos as cidades, e depois de
cultivadas e enriquecidas lhas entregardes? Assim se hão de lograr os hereges
e inimigos da Fé, dos trabalhos portugueses e dos suores católicos? En queis
consevimus agros! "Eis aqui para quem trabalhamos há tantos anos!" Mas pois
vós, Senhor, o quereis e ordenais assim, fazei o que for desservido. Entregai
aos holandeses o Brasil, entregai-lhes as Índias, entrega ilhes as Espanhas
(que não são menos perigosas as consequencias do Brasil perdido); entregai-
lhes quanto temos e possuímos (como já lhes entregastes tanta parte); ponde
em suas mãos o Mundo; e a nós, aos portugueses e espanhóis, deixai-nos,
repudiai-nos, desfazei-nos, acabai-nos. Mas só digo e lembro a Vossa
Majestade, Senhor, que estes mesmos que agora desfavoreceis e lançais de
vós, pode ser que os queirais algum dia, e que os não tenhais.
Não me atrevera a falar assim, se não tirara as palavras da boca de Job,
que como tão lastimado, não é muito entre muitas vezes nesta tragédia.
Queixava-se o exemplo da paciência a Deus (que nos quer Deus sofridos, mas
não insensíveis), queixava-se do e são de suas penas demandando e
altercando, por que se lhe não havia de remitir e afrouxar um pouco o rigor
delas; e como a todas as réplicas e instâncias o Senhor se mostrasse
inexorável,quando já não teve mais que dizer, concluiu assim: Ecce nunc in
pulvere dormiam, et si mane me qua e sieris, non subsistam. Já que não
quereis, Senhor, desistir ou moderar o tormento, já que não quereis senão
continuaro rigor e chegar com ele ao cabo, seja muito embora; matai-me,
consumime, enterrai-me: Ecce nunc in pulvere dormiam; mas só vos digo e vos
lembrouma coisa: que "se me buscardes amanhã, que me não haveis de
achar":Et si mane me quaesieris, non subsistam. Tereis aos sabeus, tereis aos
caldeus,que sejam o roubo e o açoite de vossa casa; mas não achareis a um
Jó que a sirva, não achareis a um Job que a venere, não achareis a um Jó, que
ainda com suas chagas a não desautorize. O mesmo digo eu, senhor, que não
é muito rompa nos mesmos afetos, quem se vê no mesmo estado. Abrasai,
destruí, consumi-nos a todos; mas pode ser que algum dia queirais espanhóis
e portugueses, e que os não acheis. Holanda vos dará os apostólicos
conquistadores, que levem pelo Mundo os estandartes da cruz; Holanda vos
dará os pregadores evangélicos, que semeiem nas terras dos bárbaros a
doutrina católica e a reguem com o próprio sangue; Holanda defenderá a
verdade de vossos Sacramentos e a autoridade da Igreja Romana; Holanda
edificará templos, Holanda levantará altares, Holanda consagrará sacerdotes e
oferecerá o sacrifício de vosso Santíssimo Corpo; Holanda, enfim, vos servirá e
venerará tão religiosamente, como em Amsterdão, Meldeburgo e Flisinga e em
todas as outras colônias daquele frio e alagado inferno se está fazendo todos
os dias.

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Unidade ii

  • 1. U NI V E R SI D A D E   S T A D U A L   O   E D PIA UÍ­  E S PI U CENT R O D E  CIE N CI A S   U M A N S     T R A S   C C H L H E LE –  C oordenação     urso     do C de Letras Espanhol­E A D Disciplina: Literatura    Brasileira I   Professora  utora:  Do Alge mira    a c e d o   e n d es de M M UNIDADE II AS PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES DA LITERATURA BRASILEIRA OBJETIVOS: Caracterizar o contexto sócio-político e cultural da poesia Barroca brasileira. Identificar tendências estéticas e ideológicas dos poetas que integram o Barroco brasileiro. Ler e analisar textos poéticos representativos de autores brasileiros do Barroco.
  • 2. 1. Primeiras manifestações da literatura brasileira O estudo sobre as origens da literatura brasileira deve ser feito levando- se em conta duas vertentes: a histórica e a estética. O ponto de vista histórico orienta no sentido de que a literatura brasileira é uma expressão de cultura gerada no seio da literatura portuguesa. Como até bem pouco tempo eram muito pequenas as diferenças entre a literatura dos dois países, os historiadores acabaram enaltecendo o processo da formação literária brasileira, a partir de uma multiplicidade de coincidências formais e temáticas. A outra vertente (aquela que salienta a estética como pressuposto para a análise literária brasileira) ressalta as divergências que desde o primeiro instante se acumularam no comportamento (como nativo e colonizado) do homem americano, influindo na composição da obra literária. Em outras palavras, considerando que a situação do colono tinha de resultar numa nova concepção da vida e das relações humanas, com uma visão própria da realidade, a corrente estética valoriza o esforço pelo desenvolvimento das formas literárias no Brasil, em busca de uma expressão própria, tanto quanto possível original. 1.1 O Barroco
  • 3. Igreja de São Francisco em Salvador-BA. O período Barroco sucedeu o Renascimento, do final do século XVI ao final do século XVII, estendendo-se a todas as manifestações culturais e artísticas européias e latino-americanas. Iniciado pelo maneirismo e extinto no rococó, considerado um barroco exagerado e exuberante, e para alguns, a decadência do movimento. Em sua estética, o barroco revela a busca da novidade e da surpresa; o gosto pela dificuldade, pregando a ideia de que se nada é estável tudo deve ser decifrado; a tendência ao artifício e ao engenho; a noção de que no inacabado reside o ideal supremo de uma obra artística. A literatura barroca se caracteriza pelo uso da linguagem dramática expressa no exagero de figuras de linguagem, de hipérboles, metáforas, anacolutos e antíteses. O barroco é conhecido como "a arte do conflito", pois (por causa do Renascimento) o homem estava dividido entre dois valores diferentes (teocentrismo x antropocentrismo). Em vista disso, o barroco se divide em duas correntes (uma otimista e uma pessimista). Por causa dessa mudança na mentalidade, o homem entra numa grande depressão, pois ele não pode mais recorrer a Deus. Esse conflito vai se refletir nas artes da época: relevo na arquitetura, movimento na escultura, luz e sombra na pintura, contraponto na música e antíteses e paradoxos na literatura. O Barroco segundo Afrânio Coutinho (2000) é caracterizado principalmente pelo culto exagerado da obra, sobrecarregando a poesia de
  • 4. figuras de linguagem; o dualismo: conflito entre o bem e o mal, o Céu e a Terra, Deus e o Diabo, o material e o espiritual, o pecado e o perdão; culto do Contraste, onde o poeta se sente dividido e confuso por causa do dualismo de ideias; o pessimismo, que era acarretado pela confusão causada pelo dualismo. Em outras palavras, o Barroco revela a busca da novidade e da surpresa, o gosto da dificuldade, sintetizando o pensamento da escola literária em estudo, pode-se dizer que dois modelos teóricos os influenciaram: O cultismo - descrição simples de objetos usando uma linguagem rebuscada, culta e extravagante, jogo de palavras, com uma influência visível do poeta espanhol Luís de Gongora (daí o estilo ser chamado também de Gongorismo). Caracterizado também pelo abuso no emprego de figuras de linguagem como metáforas, antíteses, hipérboles, anáforas etc. E o conceptismo - marcado pelo jogo de ideias, de conceitos, seguindo um raciocínio lógico, racionalista e que utiliza uma retórica aprimorada. Os conceptistas pesquisavam a essência íntima dos objetos, buscando saber o que são, assim, a inteligência, lógica e raciocínio ocupam o lugar dos sentidos. Assim, é muito comum a presença de elementos da lógica formal como o silogismo e o sofismo. O Barroco no Brasil tem seu marco inicial em 1601, com a publicação do poema épico "Prosopopéia", de Bento Teixeira, que introduz definitivamente o modelo da poesia camoniana em nossa literatura. Estende-se por todo o século XVII e início do XVIII, tendo sido fundada neste período as Academias . Antes do texto de Bento Teixeira, os sinais mais evidentes da influência da poesia barroca no Brasil surgiram a partir de 1580 e começaram a crescer nos anos seguintes ao domínio espanhol na Península Ibérica, já que é a Espanha a responsável pela unificação dos reinos da região, o principal foco irradiador do novo estilo poético. O quadro brasileiro se completa no século XVII, com a presença cada vez mais forte dos comerciantes, com as transformações ocorridas no Nordeste em consequencia das invasões holandesas e, finalmente, com o apogeu e a decadência da cana-de-açúcar 1.2. Autores e obras representativas do barroco brasileiro
  • 5. Estatua de Bento Teixeira Bento Teixeira, como já foi dito, é responsável pela introdução do Barroco no Brasil com a obra Prosopopéia. Filho de cristãos-novos, veio com a família para o Brasil por volta de 1567, com destino à capitania do Espírito Santo, frequentando o colégio dos Jesuítas. Em 1576 foi para o Rio de Janeiro e em 1579, para a Bahia. Em 1583 vai para Ilhéus onde se casa com Felipa Raposa, cristã-velha, tendo posteriormente assassinado-a por ela ter cometido adultério. Sem possibilidade de melhoria financeira, parte em 1584 para Olinda, abrindo aí a escola. Em 1588 vai para Igaraçu, dedicando-se ao magistério, à advocacia e ao comércio. Blasfemou, sendo, em consequencia, levado a auto- de-fé em 31 de julho de 1589, mas conseguindo a absolvição do ouvidor da Vara Eclesiástica. Continuando sob a mira da Inquisição por judaísmo, foi preso em Olinda em 20 de agosto de 1595 sendo embarcado para Lisboa, aí chegando em janeiro de 1596. Recolhido aos cárceres, negou a crença e práticas judaicas, vindo a confessá-las depois. Levado a auto-de-fé em 31 de janeiro de 1599, abjurou o judaísmo, recebeu doutrinação católica e obteve liberdade condicional em 30 de outubro. Doente, faleceu na cadeia de Lisboa, em fins de julho de 1600. A obra Prosopopéia, de Bento Teixeira é um poemeto épico, com 94 estâncias em oitava rima e decassílabos heróicos, conforme ensinava Camões nos Lusíadas, gira em torno de Jorge de Albuquerque Coelho, donatário da Capitânia de Pernambuco, e de sue irmão, Duarte. O intuito do poeta, declarado logo nos primeiros versos, era enaltecer os feitos guerreiros dos heróis, em terras brasílicas e africanas. O narrador do poema é prometeu. Sua
  • 6. estrutura é composta de um prólogo, narração e epílogo. Seguem alguns trechos do poema: PRÓLOGO Dirigido a Jorge d’Albuquerque Coelho, Capitão e Governador da Capitania de Pernambuco, das partes do Brasil da Nova Lusitânia etc. Se é verdade o que diz Horácio que Poetas e Pintores estão no mesmo predicamento, e estes, para pintarem perfeitamente uma imagem, primeiro na lisa tábua fazem rascunho, para depois irem pintando os membros dela extensamente, até realçarem as tintas, e ela ficar na fineza de sua perfeição; assim eu, querendo debuxar com obstardo pincel de meu engenho a viva imagem da vida e feitos memoráveis de vossa mercê, quis primeiro fazer este rascunho, para depois, sendo-me concedido por vossa mercê, ir mui particularmente pintando os membros desta imagem, se não me faltar a tinta do favor de vossa mercê, a quem peço, humildemente, receba minhas rimas, por serem as primícias com que tento servi-lo. E porque entendo que as aceitará com aquela benevolência e brandura natural, que costuma, respeitando mais a pureza do ânimo que a vileza do presente, não me fica mais que desejar, se não ver a vida de vossa mercê aumentada e estado prosperado, como todos os seus súditos desejamos. Beija as mãos de vossa mercê: (Bento Teixeira) seu vassalo. I Cantem poetas o poder romano, Sobmetendo nações ao jugo duro; O Mantuano pinte o Rei Troiano, Descendo à confusão do Reino escuro; Que eu canto um Albuquerque soberano, Da fé, da cara Pátria firme muro, Cujo valor, e ser, que o céu lhe inspira, Pode estancar a lácia e grega lira. II As Délficas irmãs chamar não quero,
  • 7. que tal invocação é vão estudo; Aquele chamo só, de quem espero A vida que se espera em fim de tudo. Ele fará meu verso tão sincero, Quanto fora sem ele tosco, e rudo, Que per razão negar não deve o menos Quem deu o mais a míseros terrenos. III E vós, sublime Jorge, em quem se esmalta A Estirpe d'Albuquerques excelente, E cujo eco da fama corre e salta Do carro glacial à zona ardente, Suspendei por agora a mente alta, Dos casos vários da olindesa gente, E vereis vosso irmão e vós supremo No valor, abater Quirino e Remo. IV Vereis um senil ânimo arriscado A trances e conflitos temerosos, E seu raro valor executado Em corpos luteranos vigorosas. Vereis seu Estandarte derribado Aos Católicos pés vitoriosos, Vereis em fim o garbo, e alto brio, Do famoso Albuquerque vosso Tio. V Mas em quanto Tália no se atreve, No Mar do valor vosso, abrir entrada, Aspirai com favor a Barca leve De minha Musa inculta e mal limada. Invocar vossa graça, mais se deve, Que toda a dos antigos celebrada, Porque ela me fará que participe Doutro licor melhor que o de Aganipe. ...........................................................................
  • 8. NARRAÇÃO VII A Lâmpada do Sol tinha encoberto, Ao mundo, sua luz serena e pura, E a irmã dos três nomes descoberto A sua tersa e circular figura. Lá do portal de Dite, sempre aberto, Tinha chegado, com a noite escura, Morfeu, que com sutis e lentos passos Atar vem dos mortais os membros lassos. ........................................................................ XVII MANUEL BOTELHO DE OLIVEIRA O escritor barroco Manuel Botelho de Oliveira nasceu em Salvador - BA, em1636 e faleceu em 1711. Contemporâneo de Gregório de Matos, cursou Direito na Universidade de Coimbra - Portugal. De volta ao Brasil, passou a exercer a advocacia; também foi vereador da Câmara de Salvador - Em 1705 publica em Portugal sua obra, Música do Parnaso. Conviveu com Gregório de Matos e versou sobre os temas correntes da poesia de seu tempo. A obra, Música do parnaso é dividida em quatro coros de rimas portuguesas, castelhanas, italianas e latinas, com seu decante cômico reduzido em duas comédias. Das rimas portuguesas que englobam 42 sonetos, 23 madrigais, 12 décimas, 3 redondilhas , 14 romances, 1 panegírico, 1 poema em oitavas, 6 canções e uma silva. Para melhor exemplificarmos, seguem trechos da obra. ( MOISÉS, 2006, p. 52-56,).
  • 9. MÚSICA DO PARNASO Monte Parnaso na Grécia SONETO VII Vendo a Anarda depõe o sentimento A serpe, que adornando várias cores, Com passos mais oblíquos, que serenos, Entre belos jardins, prados amenos, É maio errante de torcidas flores; Se quer matar da sede os desfavores, Os cristais bebe com a peçonha menos, Por que não morra com os mortais venenos, Se acaso gosta dos vitais licores. Assim também meu coração queixoso, Na sede ardente do feliz cuidado Bebe cos olhos teu cristal formoso; Pois para não morrer no gosto amado, Depõe logo o tormento venenoso, Se acaso gosta o cristalino agrado.
  • 10. SONETO X Ponderação do rosto e olhos de anarda Quando vejo de Anarda o rosto amado, Vejo ao céu e ao jardim ser parecido; Porque no assombro do primor luzido Tem o sol em seus olhos duplicado. Nas faces considero equivocado De açucenas e rosas o vestido; Porque se vê nas faces reduzido Todo o império de Flora venerado. Nos olhos e nas faces mais galharda Ao céu prefere quando inflama os raios, E prefere ao jardim, se as flores guarda: Enfim dando ao jardim e ao céu desmaios, O céu ostenta um sol, dous sóis Anarda, Um maio o jardim logra; ela dous maios. Gregório de matos Gregório de Matos, poeta significativo do Barroco brasileiro, nasceu em Salvador - BA, em 20/12/1623 e morreu em Recife – PE, em 1696. Foi contemporâneo do Pe. Antônio Vieira. Amado e odiado, é conhecido por muitos
  • 11. como "Boca do Inferno", em função de suas poesias satíricas, muitas vezes trabalhando o chulo em violentos ataques pessoais. Influenciado pela estética, estilo e sintaxe de Gôngora e Quevedo, é considerado o verdadeiro iniciador da literatura brasileira. Considerado uma das principais referências do barroco brasileiro, Gregório de Matos Guerra cultivou com a mesma beleza tanto o estilo cultista quanto o conceptista. O primeiro valoriza o pormenor, enquanto o segundo segue um raciocínio lógico, racionalista A poesia de Gregório de Matos pode ser classificada como: lírica religiosa e lírica amorosa e satírica. Em todos os estilos abusa de figuras de linguagem como se demonstrou faz uso do estilo cultista e conceptista, através de jogos de palavras e raciocínios sutis. As contradições, próprias, talvez, de sua personalidade instável, são uma constante em seus poemas, oscilando entre o sagrado e o profano, o sublime e o grotesco, o amor e o pecado, a busca de Deus e os apelos terrenos. Na poesia lírica religiosa o poeta se ajoelha diante de Deus, com forte sentimento de culpar por haver pecado, e promete redimir-se. São recorrentes nestes poemas imagens: do homem ajoelhado implorando perdão por seus erros conforme demonstra a seguir: A Jesus cristo nosso senhor Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado, Da vossa alta clemência me despido; Porque quanto mais tenho delinquido, Os tenho a perdoar mais empenhado. Se basta a vos irar tanto pecado, A abrandar-vos sobeja um só gemido;
  • 12. Que a mesma culpa, que vos há ofendido, Vos tem para o perdão lisonjeado. Se uma ovelha perdida e já cobrada Glória tal e prazer tão repentino Vos deu, como afirmais na sacra história, Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada, Cobrai-a; e não queirais, pastor divino, Perder na vossa ovelha a vossa glória No lírico amoroso se define pelo erotismo, revelando uma sensualidade ora grosseira, ora rara fineza. Sua visão do amor está fundamentada constantemente na religiosidade da contra-reforma. Para ele o tempo elimina as alegrias corpóreas, que a vida e a beleza são breves e que se faz, portanto necessário aproveitá-las. São constantes imagens de efemeridade, ou seja, brevidade do tempo, como destaca-se no soneto que segue: Maria dos povos. Discreta e formosíssima Maria, Enquanto estamos vendo a qualquer hora, Em tuas faces a rosada Aurora, Em teus olhos e boca, o Sol e o dia: Enquanto com gentil descortesia, O Ar, que fresco Adônis te namora, Te espalha a rica trança brilhadora Quando vem passear-te pela fria. Goza, goza da flor da mocidade, Que o tempo trata, a toda a ligeireza E imprime em toda flor sua pisada. Oh não aguardes que a madura idade Te converta essa flor, essa beleza,
  • 13. Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada. (GONZAGA, 2001, p.19) Por último, o satírico, estilo que comumente é mais conhecido por sua sátira ferina, azeda e mordaz, usando, às vezes, palavras de baixo calão, daí seu epíteto Boca do Inferno. O autor critica todos os aspectos da sociedade baiana, ninguém escapa, os nativos, os negros e particularmente o clero e o povo português. Aos vícios Eu sou aquele, que os passados anos cantei na minha lira maldizente torpezas do Brasil, vícios e enganos. E bem que eu os descantei bastantemente, Canto segunda vez na mesma lira O mesmo assunto em plectro diferente. De que pode servir, calar, quem cala? Nunca se há de falar, o que se sente? Sempre se há de sentir, o que se fala? ! Qual homem pode haver tão paciente, Que, vendo o triste estado da Bahia, Não chore, não suspire, e não lamente?
  • 14. Outro autor significativo para o Barroco é o Pe. Antônio Vieira, nasceu em 6 de fevereiro de 1608, em Lisboa e faleceu em Salvador, em 1697. Foi um dos mais importantes oradores de seu século. Seu pai servira a marinha e fora, por dois anos, escrivão da Inquisição portuguesa. Seu pai se mudou em 1609 para o Brasil, onde assumiu um cargo de escrivão em Salvador; em 1614 trouxe a família para o Brasil quando Antônio tinha 6 anos de idade. Antônio estudou na única escola de Salvador da época: a dos jesuítas. Consta que não era um bom aluno no começo, mas depois se tornou brilhante. Juntou-se à Companhia de Jesus como noviço em maio de 1623. Existem muitas lendas sobre Vieira, incluindo que na juventude sua genialidade lhe fora concedida por Nossa Senhora e que uma vez um anjo lhe indicou o caminho de volta à escola quando estava perdido. Quando em 1624 os holandeses invadiram a Bahia, Vieira se refugiou no interior, onde começaram seus impulsos missionários. Um ano depois tomou os votos de castidade, pobreza e obediência, abandonando o noviciado. Não partiu para a vida missionária, no entanto. Estudou muito além da teologia: lógica, física, metafísica, matemática e economia. Em 1634, após ter sido professor de retórica em Olinda, se ordenou. Em 1638 já ensinava Teologia. Se por um lado, Gregório de Matos mexeu com as estruturas morais e a tolerância de muita gente - como o administrador português, o próprio rei, o clero e os costumes da própria sociedade baiana do século XVII - por outro,
  • 15. ninguém angariou tantas críticas e inimizades quanto o "impiedoso" Padre Antônio Vieira, detentor de um invejável volume de obras literárias, inquietantes para os padrões da época, quer seja na Bahia, no Maranhão ou em Pernambuco, estados nos quais passou boa parte de sua vida ou mesmo em Portugal. Politicamente, Vieira tinha contra si a pequena burguesia cristã (por defender o capitalismo judaico e os cristãos-novos); os pequenos comerciantes (por defender o monopólio comercial); e os administradores e colonos (por defender os índios). Essas posições, principalmente a defesa dos cristãos-novos, custaram a Vieira uma condenação da Inquisição, ficando preso de 1665 a 1667. A obra de Viera consta de cerca de 200 Sermões e mais de 500 cartas entre os quais se destacam: Sermão pelo Bonsucesso das Armas de Portugal contra as de Holanda; Sermão da Sexagésima; Sermão de Santo Antônio aos Peixes; Sermão da Primeira Dominga da Quaresma; Sermão XIV do Rosário (dedicado aos negros) e muitos outros. Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal contra as de Holanda O trecho que segue é parte do Sermão pregado por Antônio Vieira em 1640 na igreja de senhora da ajuda, na Bahia. III Considerai, Deus meu – e perdoai-me, se falo inconsideradamente – considerai a quem tirais as terras do Brasil e a quem as dais. Tirais estas terras aos portugueses a quem nos princípios as destes; e bastava dizer a quem as dais, para perigar o crédito de vosso nome, que não podem dar nome de liberal mercês com arrependimento. Para que nos disse S. Paulo, que vós,Senhor, "quando dais, não vos arrependeis": Sine paenitentia enim suntdona Dei? Mas deixado isto à parte: tirais estas terras àqueles mesmos portugueses a quem
  • 16. escolhestes entre todas as nações do Mundo para conquistadores da vossa Fé, e a quem destes por armas como insígnia e divisa singular vossas próprias chagas. E será bem, Supremo Senhor e Governador do Universo, que às sagradas quinas de Portugal e às armas e chagas de Cristo, sucedam as heréticas listas de Holanda, rebeldes a seu rei e a Deus? Será bem que estas se vejam tremular ao vento vitoriosas, e aquelas abatidas, arrastadas e ignominiosamente rendidas? Et quid facies magno nomini tuo? E que fareis (como dizia Josué) ou que será feito de vosso glorioso nome em casos de tanta afronta? Tirais também o Brasil aos portugueses, que assim estas terras vastíssimas, como as remotíssimas do Oriente, as conquistaram à custa de tantas vidas e tanto sangue, mais por dilatar vosso nome e vossa Fé (que esse era o zelo daqueles cristianíssimos reis) que por amplificar e estender seu império.Assim fostes servido que entrássemos nestes novos mundos, tão honrada e tão gloriosamente, e assim permitis que saiamos agora (quem tal ima de vossa bondade!), com tanta afronta e ignomínia! Oh! como receio que não falte quem diga o que diziam os egípcios: Callide eduxit eos, utinterficeret et deleret e terra. Que a larga mão com que nos destes tantos domínios e reinos não foram mercês de vossa liberalidade, senão cautela e dissimulação de vossa ira, para aqui fora e longe de nossa Pátria nos matardes,nos destruirdes, nos acabardes de todo. Se esta havia de ser a paga e o fruto de nossos trabalhos, para que foi o trabalhar, para que foi o servir, para que foi o derramar tanto e tão ilustre sangue nestas conquistas? Para que abrimos os mares nunca dantes navegados? Para que descobrimos as regiões e os climas não conhecidos? Para que contrastamos os ventos e as tempestades com tanto arrojo, que apenas há baixio no Oceano, que não esteja infamado com miserabilíssimos naufrágios de portugueses? E depois de tantos perigos, depois de tantas desgraças, depois de tantas e tão lastimosas mortes, ou nas praias desertas sem sepultura, ou sepultados nas entranhas dos alarves, das feras, dos peixes, que as terras que assim ganhamos, as hajamos de perder assim? Oh! quanto melhor nos fora nunca conseguir, nem intentar tais empresas! Mais santo que nós era Josué, menos apurada tinha a paciência, e, contudo, em ocasião semelhante, não falou (falando convosco) por diferente linguagem. Depois de os filhos de Israel passarem às terras ultramarinas do
  • 17. Jordão, como nós a estas, avançou parte do exército a dar assalto à cidade de Hai, a qual nos ecos do nome já parece que trazia o prognóstico do infeliz sucesso que os israelitas nela tiveram; porque foram rotos e desbaratados,posto que com menos mortos e feridos, do que nós por cá costumamos. E que faria Josué à vista desta desgraça? Rasga as vestiduras imperiais, lanças e por terra, começa a clamar ao Céu: Heu! Domine Deus, quid voluisti traducerepopulum istum Jordanem fluvium, ut traderes nos in manus Amorrhaei?"Deus meu e Senhor meu, que é isto? Para que nos mandastes passaro Jordão e nos metestes de posse destas terras, se aqui nos haveis de entregar nas mãos dos amorreus e perder-nos?" Utinam mansissemus trans Jordanem!"Oh! nunca nós passáramos tal rio!" Assim se queixava Josué a Deus, e assim nos podemos nós queixar, e com muito maior razão que ele. Se este havia de ser o fim de nossas navegações, se estas fortunas nos esperavam nas terras conquistadas: "Oh! Nunca nós passáramos tal rio!". Utinam mansissemus trans Jordanem! Prouvera a vossa Divina Majestade que nunca saíramos de Portugal, nem nossas vidas às ondas e aos ventos, nem conhecêramos ou puséramos os pés em terras estranhas! Ganhá-las para as não lograr, desgraça foi e não ventura;possuí- las para as perder, castigo foi de vossa ira, Senhor, e não mercê,nem favor de vossa liberalidade. Se determináveis dar estas mesmas terras aos piratas de Holanda, por que lhas não destes enquanto eram agrestes e incultas, senão agora? Tantos serviços vos tem feito esta gente pervertida e apóstata, que nos mandastes primeiro cá por seus aposentadores; para lhe lavrarmos as terras, para lhe edificarmos as cidades, e depois de cultivadas e enriquecidas lhas entregardes? Assim se hão de lograr os hereges e inimigos da Fé, dos trabalhos portugueses e dos suores católicos? En queis consevimus agros! "Eis aqui para quem trabalhamos há tantos anos!" Mas pois vós, Senhor, o quereis e ordenais assim, fazei o que for desservido. Entregai aos holandeses o Brasil, entregai-lhes as Índias, entrega ilhes as Espanhas (que não são menos perigosas as consequencias do Brasil perdido); entregai- lhes quanto temos e possuímos (como já lhes entregastes tanta parte); ponde em suas mãos o Mundo; e a nós, aos portugueses e espanhóis, deixai-nos, repudiai-nos, desfazei-nos, acabai-nos. Mas só digo e lembro a Vossa Majestade, Senhor, que estes mesmos que agora desfavoreceis e lançais de vós, pode ser que os queirais algum dia, e que os não tenhais.
  • 18. Não me atrevera a falar assim, se não tirara as palavras da boca de Job, que como tão lastimado, não é muito entre muitas vezes nesta tragédia. Queixava-se o exemplo da paciência a Deus (que nos quer Deus sofridos, mas não insensíveis), queixava-se do e são de suas penas demandando e altercando, por que se lhe não havia de remitir e afrouxar um pouco o rigor delas; e como a todas as réplicas e instâncias o Senhor se mostrasse inexorável,quando já não teve mais que dizer, concluiu assim: Ecce nunc in pulvere dormiam, et si mane me qua e sieris, non subsistam. Já que não quereis, Senhor, desistir ou moderar o tormento, já que não quereis senão continuaro rigor e chegar com ele ao cabo, seja muito embora; matai-me, consumime, enterrai-me: Ecce nunc in pulvere dormiam; mas só vos digo e vos lembrouma coisa: que "se me buscardes amanhã, que me não haveis de achar":Et si mane me quaesieris, non subsistam. Tereis aos sabeus, tereis aos caldeus,que sejam o roubo e o açoite de vossa casa; mas não achareis a um Jó que a sirva, não achareis a um Job que a venere, não achareis a um Jó, que ainda com suas chagas a não desautorize. O mesmo digo eu, senhor, que não é muito rompa nos mesmos afetos, quem se vê no mesmo estado. Abrasai, destruí, consumi-nos a todos; mas pode ser que algum dia queirais espanhóis e portugueses, e que os não acheis. Holanda vos dará os apostólicos conquistadores, que levem pelo Mundo os estandartes da cruz; Holanda vos dará os pregadores evangélicos, que semeiem nas terras dos bárbaros a doutrina católica e a reguem com o próprio sangue; Holanda defenderá a verdade de vossos Sacramentos e a autoridade da Igreja Romana; Holanda edificará templos, Holanda levantará altares, Holanda consagrará sacerdotes e oferecerá o sacrifício de vosso Santíssimo Corpo; Holanda, enfim, vos servirá e venerará tão religiosamente, como em Amsterdão, Meldeburgo e Flisinga e em todas as outras colônias daquele frio e alagado inferno se está fazendo todos os dias.