O documento discute como as novas tecnologias estão transformando a educação e exigindo novas qualificações dos professores, incluindo conhecimentos técnicos e didáticos para utilizar as novas mídias de forma a promover a aprendizagem dos estudantes e sua inclusão na sociedade digital.
1. Tecnologia e a Formação do Professor
Prof. Esp. Ana Paula Fernandes Yajima
Prof. Ddº Dênison Ventura Sant’ana
Prof. Ddª Josevânia Teixeira Guedes
Prof. Ddª Lenalda Dias Santos
A revolução da informática, da automação e das TIC’s têm gerado novas demandas ao contexto
educacional. Para o domínio das novas tecnologias, exige-se do professor uma nova qualificação que
atenda às expectativas requeridas pelo novo panorama. Nesse sentido, a qualificação pressupõe a
existência de dois componentes básicos do processo educacional: didática pedagógica e conhecimento
técnico das novas mídias. Além disso, o professor, como qualquer outro trabalhador, assume um papel de
elemento figurante da conjuntura estrutural, pois sem saber manipular, reunir, desagregar e analisar a
informação, ele ficará distante do conhecimento, vendo sua situação de marginalização social se agravar
frente às novas mudanças.
Nesse novo panorama social, a informação é o elemento desencadeador de transformações na vida das
pessoas. Sob uma perspectiva capitalista, apropriar-se da informação e ter controle sobre ela tornou-se um
imperativo político-social. A influência das Tecnologias da Informação e da Comunicação se faz sob
questões excludentes e seletivas. Entretanto, elas não estão fechadas, pois busca-se a democratização
digital. O professor é o elemento fundamental para desencadear esse processo. Entretanto, também sofre
com a falta de políticas públicas voltadas para uma formação continuada que privilegiem a sua inserção no
ambiente tecnológico.
Para Pierre Lèvy, pensador contemporâneo da educação, o espaço agora é Ciber – Ciberespaço - ambiente
de profundas transformações políticas, sociais e culturais. A Internet possibilita novas formas de relações
humanas, pois nela há a formação de grupos auto-organizados que realizam o ideal de democracia dentro
de grandes comunidades de forma desterritorializada. Edificam-se novos valores, novos mitos, novas
maneiras de lidar com antigas questões. Compartilham-se novas idéias, abrem-se novos caminhos,
delineando-se novas bases sociais.
Caminhamos para um processo irreversível; não podemos negar o poder das TIC’s na vida de cada um de
nós. Direta ou indiretamente elas estão lá. Também não podemos pensar que as TIC’s são para poucos,
pois seja qual for a classe social, sua influência se faz presente. Portanto, fazem parte de todos os
contextos. Ao professor, cabe conhecer esses espaços, identificar os significados que as TIC’s possuem em
cada um deles para que se possa desenvolver um trabalho pedagógico que viabilize a participação do
educando, ativamente, nesse novo cenário.
As discussões propostas acerca de formação de professores e da democratização do ensino não podem
estar desligadas de uma análise das mídias comunicacionais e da universalização das TIC’s. Tecnologia e
educação estão diretamente ligadas às dinâmicas sociais, pois também são agentes transformadores do
processo de aprendizagem e da formação do indivíduo apto a atuar significativamente num contexto
globalizado. Nessa nova perspectiva, o professor não pode mais ser apenas repassador de conteúdos, mas
será o propulsor de uma prática pedagógica promotora de mudanças no espaço social, na vida de cada um.
Hoje, a forma de lecionar deverá estimular o educando ao desenvolvimento de competências para lidar com
a sociedade moderna, enfatizando a autonomia, o senso de busca e promovendo a produção de idéias e de
ações críticas e colaborativas. O professor, para oportunizar o conhecimento, precisa envolver-se numa
formação que lhe dê competência para analisar os aspectos cognitivos, sociais e culturais do educando,
precisa reinventar sua prática integrando o Currículo às novas mídias.
As exigências feitas à formação do professor são cada vez mais mordazes, todavia, faz-se necessário que
este as cumpra, que as políticas públicas as privilegiem, principalmente, para que se possa transformar
informação em conhecimento, que oportunize transformações sociais, viabilizando uma sociedade para
todos. A eqüidade no processo capitalista é vocabulário morto, mas com um ensino de qualidade, com
valorização docente, consegue-se incluir, o que para uma sociedade como a nossa não é pouca coisa.
Como explorar as novas mídias? Como fazer parte desse novo ensino? Como reinventar o Currículo? São
questões que tentaremos refletir, não para traçar fórmulas para o alcance de êxitos vazios, mas iniciarmos
uma trilha em busca de qualidade educacional para proporcionarmos uma inclusão autônoma.
A complexidade da sociedade moderna demanda um redirecionamento das nossas práticas. Em qualquer
âmbito, as exigências tornam-se cada vez maiores e a escala a ser preenchida não tem fim. Para o
2. professor inserido nesse novo panorama, lidar com as nuances dessa Era exige nova postura e um
redirecionamento profissional e pessoal. As relações de aprendizagem também acompanham o dinamismo
social, imprimindo ao docente a busca incessante por qualificações não apenas didático-pedagógicas.
Assim, para PERRENOUD (1999; p. 69): “as competências são construídas somente no confronto com
verdadeiros obstáculos em processo de projeto ou resolução de problemas”.
Para dar sentido e estimular a vontade no educando em apropriar-se do conhecimento, o professor precisa
desenvolver uma competência de ordem didático-pedagógica, epistemológica e relacional. Deve-se assumir
essa função a ser desencadeada gradativamente, num processo de confiança mútua, suscitando no
educando o desejo de aprender e sugerindo a este a busca pelo saber, visto que o mesmo pode ser o seu
projeto de vida.
Para estabelecer um equilíbrio entre essas competências, o professor precisa estar em constante relação
com o saber, pois este depende eminentemente das práticas sociais nas quais elas se investem. A
habilidade didática precisa se harmonizar com essa relação. O ensino precisa ter o mesmo sentido para o
professor, assim como o aprender deverá ter para o educando.
Ter compreensão dos mecanismos sociológicos, didáticos e psicológicos em questão no momento da
aprendizagem, seja em espaço sistêmico-educacional ou não, e estimular o desejo de saber dos sujeitos
em foco são competências básicas para o professor da Sociedade Informatizada. Possuir habilidade em
utilizar recursos midiáticos, construindo sentido pedagógico para estes é a habilidade extra e, atualmente,
imprescindível para a promoção de uma aprendizagem desencadeadora de inclusão de fato. Não há como
formar para a nova sociedade sem essas condições.
Para Perrenoud (2000; p. 128),
Formar para as novas tecnologias é formar o pensamento hipotético e dedutivo, as faculdades de
observação e de pesquisa, a imaginação, a capacidade de memorizar e classificar, a leitura e a análise de
textos e de imagens, a representação de redes, de procedimentos e de estratégias de comunicação.
É preciso destacar também que, ao nos apropriarmos das novas mídias para ressignificar o ensino à luz das
novas demandas conjunturais, não devemos nos esquecer de que somos construídos sócio-historicamente
e que o momento atual é a constituição de um processo. Quando se fala em progresso, avanço, tecnologia,
incorre-se no erro de negar o antigo e supervalorizar o novo. Nesse sentido, é preciso educar para o novo, o
que não significa negar o antigo, mas através de sua compreensão empreender uma conceituação dinâmica
que fundamente a nova técnica, que a humanize, traçando valores também objetivos, pois a tecnologia
presta-se a beneficiar homens subjetivamente educados.
Sabemos que a docência, atualmente, está inscrita numa era em que aprender é conviver e compartilhar
incertezas. Como as informações se processam muito rapidamente, decodificá-las para incitar o saber
deriva de um processo comunicativo-social, a partir de relações contextuais. O educando pode não viver
afixado à frente de um computador, mas o meio em volta dele exigirá que as informações advindas das
TIC’s sejam apreendidas, compreendidas, ressignificadas, pois sua imersão no processo educativo, social e
produtivo dependerá de sua capacidade de relacioná-las ao seu saber e aos seus objetivos. Ao novo
educador cabe reaprender dentro desse novo contexto, para poder motivar a aprendizagem.
“Para o educador ensinar com qualidade, ele precisa dominar, além do texto, o contexto, além de um
conteúdo, o significado do conteúdo, que é dado pelos contextos social, político, econômico [...]” (GADOTTI;
2007).
O professor como motivador de aprendizagem e oportunizador para a exploração das novas mídias deixa
de ser o “lecionador para ser um gestor do conhecimento social (popular)” (GADOTTI; 2007). Precisamos
pensar a realidade e dar sentido ao que nos é informado bombardisticamente. O professor desse novo
paradigma é um aprendente constante, é consciente, é sensível. Assim, poderá despertar o desejo de
aprender do aluno que construirá seu saber autonomamente, sendo sujeito da própria formação.
A aprendizagem se dá em um ambiente colaborativo, sem centralização autoritária; ela se dá socialmente,
interativamente. A partir dessa abordagem interpsíquica, constrói-se, subjetivamente, o conhecimento .
Nesse sentido, a formação do professor deve ser, sobretudo, na autonomia e na participação,
desenvolvendo habilidades de colaboração, comunicação, de pesquisa, de pensamento e de emoção.
Assim, ele passará a ter condições de mobilizar o desejo de aprender, unindo a vida do educando, o seu
contexto ao prazer de buscar o autoconhecimento, o conhecimento coletivo desencadeando projetos de
vida.
3. As novas mídias são recursos muito importantes para estimular esses processos, pois envolvem
características que aguçam a curiosidade, o desejo, os sentimentos e emoções. Portanto, sendo utilizados
pelo profissional com essas competências, para preparar o educando para o novo paradigma de sociedade,
aprimorando a característica que já nos é inata, a sociabilidade; apóiam a indagação, a composição, a
colaboração e a comunicação do educando, ajudando-o a utilizar o acervo de informações e de também
aplicar a tecnologia na solução de problemas do mundo real.
Com a intensa presença da tecnologia na vida das pessoas, várias crenças circundam os diversos espaços
nos quais as TIC’s se fazem mais presentes. Na indústria e nas telecomunicações, o medo acometeu (e
ainda acomete!) os trabalhadores pelo receio de serem substituídos por máquinas. Na educação, não está
sendo diferente. Muitos afirmam que vivemos a educação do “Disk Conhecimento – ligue e tenha todo o
saber ao seu dispor!” Não se trata disso. E analisaremos o porquê.
Em cada fase da nossa história, as descobertas foram vistas com apreensão e receio. Elas superaram
esses medos graças à significação social que foi dada a cada invenção, a cada descoberta. Hoje, estamos
vivendo na “Sociedade da Informação”, na qual o poder de alcance e de manipulação das TIC’s torna-se
cada vez maior e assustador. Tememos a superficialidade e a homogeneização da informação. Criou-se
uma crença de que o homem se submeterá a máquinas e, gradualmente, será substituído por ela. Mas
essas crenças têm um papel importante: elas formam a base das perspectivas dos indivíduos, predispondo-
os a certos modos de conduta que permitem a transgressão dessa barreira invisível que é o medo do novo.
No caso dos professores, estes são instruídos, formados a ensinar como lhes foi ensinado. A partir dessa
perspectiva, para superar essa crença, é necessário substituí-las por novas, buscar contextualizar as
“antigas” para compreendê-las, construindo um suporte para lidar com novos paradigmas. Assim, passamos
por cinco momentos para atingirmos a ressignificação do que é “novo”: exposição, adoção, adaptação,
apropriação e inovação.
O Currículo baseado em diretrizes verticais e a insipiente formação de professores barram a possibilidade
de dinamizar o ensino, contextualizando-o, no momento atual, para provocar interesse sócio-educativo.
As ferramentas midiáticas não são meros recursos. Elas possuem um caráter reformulador de nossas
relações sociais e do nosso relacionamento com o mundo, geram expectativas e efeitos na evolução social
da humanidade. A utilização das TIC’s obriga-nos a repensar o currículo para educarmos as próximas
gerações com a criatividade necessária para questionar a tecnologia na medida em que esta é cada vez
mais incorporada as nossas vidas. É preciso ajudar os educandos, primeiramente, a formar uma opinião
social com relação aos progressos tecnológicos para que possam analisar/examinar as possibilidades e as
conseqüências através de olhos críticos.
Para que a utilização dos recursos midiáticos possa proporcionar uma aprendizagem significativa, o
professor precisa reinventar o currículo à luz de novas demandas do contexto conjuntural. Embora o
fenômeno da globalização imprima o medo da homogeneidade cultural, é preciso relacionar o meio próximo
ao espaço global em um processo sócio-comunicativo. Para inserir o aluno autonomamente nesse
panorama, é preciso oportunizar a ele o conhecimento dessa conjuntura.
Para o docente cumprir essa meta é preciso o suporte de teorias educacionais que lhe permita identificar
em quais atividades essas mídias são mais adequadas e como utilizá-las pedagogicamente. Cabe ainda (e
o é imprescindível) estar em processo contínuo de formação e aperfeiçoamento, participando da
comunidade de aprendizagem na qual atua, buscando conhecer e produzir conhecimento. É necessário um
domínio triplo: das mídias e suas linguagens, das teorias educacionais e dos processos pedagógicos, além
de saber gerir as atividades a serem desenvolvidas. Assim, prepara-se o educador de hoje não para o
futuro, mas para a atuação imediata, estabelecendo uma integração entre a sua prática profissional, seu
papel social e seus anseios pessoais.