Este artigo apresenta as conclusões relacionadas com a análise dos sistemas de educação da Finlândia, Coreia do Sul, Japão, Cuba, Estados Unidos, China, França e Projeto Bolonha de ensino superior da União Europeia tomando por base os artigos Finlândia: paradigma da educação no mundo, Finlândia: paradigma da educação no mundo (2), Bases do sucesso da educação na Coreia do Sul e no Japão, Os fatores de sucesso das políticas de educação na Finlândia e na Coreia do Sul, O sistema de educação em Cuba, O sistema de educação dos Estados Unidos, O sistema de educação da China, O sistema de educação da França e Os Projetos Bolonha de Ensino Superior da União Europeia e da Universidade Nova no Brasil publicados no Blog de Falcoforado (http://fernando.alcoforado.zip.net).
Fatores de sucesso dos melhores sistemas de educação do mundo
1. 1
FATORES DE SUCESSO DOS MELHORES SISTEMAS DE EDUCAÇÃO DO
MUNDO
Fernando Alcoforado*
Este artigo apresenta as conclusões relacionadas com a análise dos sistemas de educação
da Finlândia, Coreia do Sul, Japão, Cuba, Estados Unidos, China, França e Projeto
Bolonha de ensino superior da União Europeia tomando por base os artigos Finlândia:
paradigma da educação no mundo, Finlândia: paradigma da educação no mundo (2),
Bases do sucesso da educação na Coreia do Sul e no Japão, Os fatores de sucesso das
políticas de educação na Finlândia e na Coreia do Sul, O sistema de educação em
Cuba, O sistema de educação dos Estados Unidos, O sistema de educação da China, O
sistema de educação da França e Os Projetos Bolonha de Ensino Superior da União
Europeia e da Universidade Nova no Brasil publicados no Blog de Falcoforado
(http://fernando.alcoforado.zip.net).
O sistema de educação da Finlândia foi analisado por ser um dos países mais bem
avaliados pelo Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos da OCDE com um
teste padronizado para jovens de 15 anos em mais de 40 países). Os sistemas de
educação da Coreia do Sul, da China e do Japão foram objeto de análise porque são bem
avaliados pelo Pisa e, também, pelo THE (Times Higher Education que avalia o
desempenho dos estudantes universitários e a produção acadêmica nas áreas de engenharia e
tecnologia, artes e humanidades, ciências da vida, saúde, física e ciências sociais e considera
ainda pesquisa, transferência de conhecimento e perspectiva internacional, além do ambiente
de ensino O sistema de educação dos Estados Unidos foi analisado por ser o país melhor
avaliado em ensino superior pelo THE e a França por ser um país de grande tradição na
área de educação mundial. O sistema de educação de Cuba foi analisado por ser o país
melhor avaliado na América Latina e Caribe de acordo com o Relatório de
Monitoramento Global de Educação para Todos 2015, da Unesco (Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). Foi analisado também o Projeto
Bolonha de ensino superior da União Europeia e o Projeto da Universidade Nova no
Brasil.
De toda esta análise, identificou-se que a mais adequada articulação entre o sistema de
educação, professores e famílias é decisiva para o sucesso do processo educacional.
Desta análise, foi identificado que as políticas educacionais do governo associadas à
atuação articulada do sistema de educação, dos professores e das famílias são os fatores
básicos de sucesso dos sistemas educacionais em vários países do mundo. Os requisitos
para as políticas governamentais e de atuação dos sistemas de educação, dos professores
e das famílias estão descritos a seguir:
1. Políticas educacionais do governo
As políticas educacionais do governo devem ser pautadas no seguinte: 1) O Parlamento
deve aprovar as leis relativas ao sistema de ensino e decidir sobre os princípios gerais da
política de educação que devem ser colocados em prática pelo Governo e Ministério da
Educação; 3) As instituições públicas e privadas da educação básica (Educação Infantil,
Ensino Fundamental e Ensino Médio) ao ensino superior devem ser controladas pelo
Ministério da Educação; 4) O elevado patamar de qualidade em educação deve ser
atingido com maciço investimento principalmente na formação dos professores, em
material de apoio e na melhoria da estrutura e funcionamento das instituições de ensino;
2. 2
5) O governo deve priorizar primeiramente a educação básica e, só quando esta se
tornar universal, deve destinar recursos para o ensino superior; 6) O governo deve
aplicar a maior parte dos recursos para a educação diretamente nas escolas, universidade
e salas de aula; 7) O governo deve promover a seleção e formação de professores de
ponta, com reconhecimento profissional e boas condições de trabalho; 8) Os
responsáveis pelos órgãos governamentais de educação devem ser educadores; 9) O
modelo de educação a ser implantado deve combinar os mais elevados investimentos
governamentais destinados à educação contando com o apoio das famílias do país para
garantir um aprendizado de alto nível para suas crianças e adolescentes; 10) O currículo
rigoroso ditado pelo Ministério da Educação deve ser o mesmo em todo o país
respeitadas as diversidades regionais; 11) Os conhecimentos, aptidões e competências
dos professores devem ser frequentemente atualizados; 12) Professores devem ser vistos
como fundamentais para o projeto nacional de desenvolvimento; e, 13) Os alunos
devem ter horas de estudo em sala de aula e fora dela em nível adequado a seu
aprendizado.
2. Atuação do sistema de educação
A atuação do sistema de educação deve ser pautada no seguinte: 1) Cada instituição de
ensino deve ter os mesmos objetivos nacionais; 2) O principal objetivo da educação é a
formação dos jovens como cidadãos e profissionalmente; 3) O sistema educativo deve
investir no Ensino e na Pesquisa, considerando-as como cruciais para a estratégia global
do país, cujos objetivos máximos são o bem-estar dos cidadãos, a promoção da
diversidade cultural, o desenvolvimento sustentável e a prosperidade; 4) A principal
missão das universidades é levar a cabo a pesquisa e ministrar os seus cursos com base
nela; 5) A Universidade deve criar novas tecnologias, promover e atrair talentos do
mundo todo e incentivar a inovação; 6) O ensino superior deve operar com base nas
universidades e institutos politécnicos; 7) As rápidas transformações ocorridas na
atividade produtiva exigem uma constante adaptação das universidades e dos institutos
politécnicos ao mundo do trabalho; 8) As instituições de ensino superior criadas no
âmbito dos institutos politécnicos têm como característica fundamental a formação mais
orientada para a prática; 9) A instituição de ensino deve operar como um centro de
trabalho educativo e criar grupos de reflexão o mesmo acontecendo fora dela, ou seja,
nas diferentes instituições da comunidade em horários extracurriculares; 10) O governo
deve garantir que as instituições públicas e privadas em todos os níveis e localidades
operem com padrões educacionais elevados; 11) O ensino superior tanto público quanto
privado deve ser pago em parte pelos estudantes e em parte pelo governo federal com a
maior fonte de recursos; 12) Cada autoridade local deve ter o poder de decidir sobre a
contratação de novos docentes cujos critérios de admissão devem ser estabelecidos por
cada entidade que preside à contratação; 13) Deve-se evitar que haja número excessivo
de horas de estudo para os estudantes que não os deixa com tempo livre para qualquer
outra atividade ao ponto de prejudicar o desenvolvimento saudável de sua personalidade
e de suas habilidades sociais; e, 14) Nem os professores nem os seus métodos de ensino
devem ser alvo de avaliações e sim a qualidade de ensino das escolas cuja finalidade é a
avaliação do alcance dos objetivos educativos do ano anterior, bem como o
estabelecimento de novos objetivos e o sinalizar de necessidades para o ano seguinte.
3. Atuação dos professores
A atuação dos professores deve ser pautada no seguinte: 1) Existência de professores
qualificados e confiáveis; 2) Reconhecimento social e autonomia dos professores e boas
3. 3
condições de infraestrutura; 3) Existência de professor especial, dedicado a derrubar
barreiras à aprendizagem dos estudantes; 4) Existência de “comitê de socorro” para
ajuda a alunos com baixo aproveitamento que pode incluir o diretor, psicólogo, outros
professores e pais; 5) Os estudantes devem ser preparados para aprender a aprender; 6)
Além de um plano de carreira consolidado, os professores devem receber altos salários e
deve haver investimentos e valorização de seus meios de trabalhos; 7) Professor deve
ter autonomia para ajustar o currículo básico nacional à sua realidade local; 8) O
professor deve conduzir o processo de ensino-aprendizagem com metodologias ativas
propícias ao diálogo, de reflexão e promover o exercício de pensar, para ensinar a seus
alunos a aprender a aprender, aprender a estudar e processar informação de projetos de
pesquisa conjuntos a fim de facilitar o exercício do seu poder discricionário, a satisfação
de aprender e de saber; 9) A sala de aula deve ser uma verdadeira oficina de construção
de criação de conhecimentos, trabalho duro e de respeito com as experiências; e, 10)
Professor deve promover o desenvolvimento de habilidades analíticas, a imaginação e a
iniciativa pessoal dos estudantes.
4. Atuação dos pais dos alunos
A atuação dos pais dos alunos deve ser pautada no seguinte: 1) Os pais devem fazer
parte do chamado Conselho da Escola com um grau de autonomia que permite interferir
na seleção e na promoção de professores, organizar eventos de reciclagem profissional e
outras atividades cruciais para o funcionamento de uma instituição de ensino; e, 2) Os
educadores devem ser auxiliados e monitorados pelos pais dos alunos.
Estes são, portanto, os fatores básicos de sucesso dos sistemas de educação no que diz
respeito às políticas educacionais de governo e às atuações do sistema de educação, dos
professores e dos pais dos alunos que foram identificados com base nas melhores
práticas dos sistemas de educação dos países do mundo mais bem sucedidos tanto na
educação básica como no ensino superior.
5. Comentários adicionais
Neste artigo não foi incorporada nenhuma prática dos Estados Unidos seja na educação
básica seja no ensino superior. Na educação básica, o sistema de ensino norte-
americano, além de não ser bem avaliado pelo Pisa (Programme for International
Student Assessment) coordenado pela Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), é descentralizado, dependendo essencialmente
dos estados e das comunidades locais, estando o governo dos Estados Unidos proibido
pela lei federal de interferir nesta área, muito menos de formular políticas educacionais.
Em outras palavras, não há política educacional do governo dos Estados Unidos para a
educação básica. Apesar dos Estados Unidos terem as universidades mais bem avaliadas
do mundo pelo THE (Times Higher Education), seu sistema de ensino superior não se
desenvolveu como resultado final de um esforço deliberado ou centralizado do governo
norte-americano de criar talentos para mercados carentes de mão de obra, nem de busca
e criação de novos conhecimentos essenciais para a ciência e o desenvolvimento
econômico. Nos Estados Unidos, não há ministério da educação, nem políticas
educacionais governamentais para regular o ensino no país.
Nenhuma das deliberações relacionadas com o Processo de Bolonha de ensino superior
da União Europeia foi considerada neste artigo entre as melhores práticas de ensino
superior porque existem muitas críticas de alunos e professores que reclamam da
4. 4
mudança nas durações dos diversos cursos oferecidos que antes tinham uma duração de
cinco anos e que pelo novo sistema de três ciclos caiu para 3 anos fazendo reduzir a
qualidade do ensino. Outra crítica é a de que a pedagogia universitária proposta pelo
Processo de Bolonha é vista como uma mudança superficial ou cosmética sem grande
substância e incapaz de promover mudanças na organização do trabalho docente e
discente, na adoção de esquemas de apoio tutorial aos estudantes, na dimensão das
turmas, na alteração dos processos de avaliação e na atenção à formação cultural, ética,
política e cívica dos estudantes. Há questionamento, também, quanto às medidas de
“racionalização” e de “downsizing” que têm sido levadas a cabo através de lógicas
gerenciais neoliberais que tendem a tornar ainda mais precários os vínculos laborais dos
docentes, na sua grande maioria sem nomeação definitiva. Além disso, é criticado o fato
de que a educação superior enquanto bem público, que deveria assumir uma dimensão
social e de política pública democrática, surge consideravelmente negligenciada no
Processo de Bolonha.
Neste artigo, nenhuma das proposições do Projeto da Universidade Nova no Brasil foi
considerada entre as melhores práticas de ensino superior a ser considerada. Isto se deve
ao fato de haver inúmeras críticas à proposta da Universidade Nova como a de que o
aluno que pretende seguir uma carreira profissional, após frequentar três anos de
formação geral, que lhe conferirá um diploma de Bacharel interdisciplinar em
Humanidades, Bacharel interdisciplinar em Artes, Bacharel interdisciplinar em
Tecnologias e Bacharel interdisciplinar em Ciências, terá que após a seleção interna na
Universidade, cursar mais quatro, cinco ou seis anos a depender da profissão que
escolheu alongando seu tempo de acesso ao mercado de trabalho. Outra questão
importante diz respeito ao que fará o aluno depois de diplomado em Bacharel em
Humanidades se não conseguir pela seleção cursar uma licenciatura ou um curso
profissional ou uma pós-graduação.
Outra crítica à criação da Universidade Nova é a de que ao propor criar um ciclo básico
humanístico e interdisciplinar para o desenvolvimento de uma formação generalista
como pré-requisito para o amadurecimento do estudante antes de continuar o seu curso
universitário que o formaria como educador, historiador, sociólogo, psicólogo,
advogado, médico, ele teria obrigatoriamente que participar de uma seleção, mas agora
dentro da universidade, e se não tiver vagas suficientes, o aluno sairá da universidade,
agora com um diploma de bacharel interdisciplinar, que não o prepararia efetivamente
para o mundo do trabalho. É questionada também a tese de que a Universidade Nova
diminuiria a evasão que é muito grande tanto no ensino superior publico como privado
no Brasil porque ela se deve ao despreparo do aluno na educação básica e, também,
porque na rede privada o aluno abandona principalmente por dificuldades financeiras e
na rede pública porque os alunos são obrigados a abandonar seus cursos para poderem
trabalhar.
* Fernando Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,
http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel,
São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era
Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social
Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG,
5. 5
Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora,
Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global
(Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do
Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no Brasil-
Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015).