1. Ministério de Pequenos Grupos
Vinho Novo, Odres Novos
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Guia de Estudo
Este Guia de Estudo refere-se ao terceiro sermão da série
Vinho Novo, Odres Novos, pregado pelo Pr. Ed René Kivitz em
28 de março de 2010 e disponível em áudio para download
no site da Ibab (ibab.com.br). Ele foi elaborado para facilitar
a discussão em Pequenos Grupos.
IGREJA BATISTA DE ÁGUA BRANCA
2. Sinal Histórico do Reino de Deus
Em 1985 eu cursava o último ano do seminário na Faculdade Teológica Batista de São
Paulo. Na época, morava na Casa da SETE, com meu amigo Roberto Nobu, que coordenava
a Sociedade de Estudantes Teologia Evangélica e existia para oferecer aos seminaristas um
ambiente de pretensiosa reflexão e conspiração a respeito dos rumos da teologia e da
igreja evangélica no Brasil. A Casa era um ponto de encontro e um espaço de convivência
para estudantes, e foi ali que dei os primeiros passos numa amizade que perdura até hoje,
discutindo teologia, filosofia e sonhando em voz alta com Ariovaldo Ramos. Numa daquelas
tardes intermináveis redigimos o documento que transcrevo literalmente a seguir.
RETOMANDO O REINO
Proposta de roteiro
1. Descrever o quadro geral da situação atual
Objetivo: mostrar que estamos numa era pós cristã e pós moderna
2. Propor que a resposta da igreja seja a retomada do reino
3. O reino tem uma mensagem: arrependei-vos
A mensagem do reino tem dois lados, um positivo outro negativo
O lado negativo: a denúncia de que o homem não é o que deveria ser
O lado positivo: a perspectiva da humanização do homem
4. Descrever o que seria o novo homem, baseados no Sermão do Monte
e no fruto do Espírito
5. O reino tem uma dupla linha de ação: uma positiva e uma negativa
A positiva: construir um novo mundo onde não haja injustiças ou
guerras
A negativa: destruir as obras de Satanás
Isso se faz: com a operação de prodígios e por meio da profecia que
denuncia
6. O reino tem uma proposta de comunidade: de serviço mútuo, de
perdão, de amor, de companheirismo, carismática – uma comunidade
movida a dons, que prescinde totalmente do Estado
7. Concluir sobre o que significa retomar o reino
Depois de todos esses anos, além da ampliação e aprofundamento da compreensão a
respeito da missão da igreja, fizemos apenas uma pequena mudança no documento original:
trocamos a palavra “retomada”por “sinalização”. Isso explica porque a declaração de visão
da Ibab é “ser um sinal histórico do reino de Deus”. Uma declaração que em 2010 completa
25 anos.
Sinal do Reino de Deus
Em seu Sermão do Monte Jesus diz que seus discípulos são “sal da terra” e “luz do
mundo”, e diz também que essa luz é inescondível, uma vez que não se pode deixar de
perceber “uma cidade edificada sobre o monte” (Mateus 5.13-16). A maioria dos intérpretes
compreende que o sal é um elemento de preservação dos alimentos, especialmente nos
tempos antigos, quando ainda não existiam os sistemas modernos de refrigeração, como
os nossos freezers e geladeiras. A terra, portanto, está se decompondo, ou literalmente
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3. Guia de Estudo 03 Vinho Novo, Odres Novos
apodrecendo, e o mundo está em trevas. Duas figuras que indicam o péssimo estado das
sociedades humanas organizadas em estruturas sociais, políticas, econômicas e espirituais
anti-reino de Deus.
A visão de Jesus, e da Bíblia como um todo, não é ingênua. Não existe nas páginas do
Novo Testamento qualquer indício de que o mundo vai melhorar ou que será totalmente
transformado. Na verdade, o que existe é uma séria de advertências que indicam que o
mundo vai de mal a pior.
Quando porém vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?
(Lucas 18.8)
Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. Porque
haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos,
desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis,
caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados,
orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de
piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te.
(1Timóteo 3.1-5)
Mas o fato de que não podemos esperar a implantação do reino de Deus na terra ou
mesmo imaginar que seja possível a “retomada do reino”, como pretenderam os cristãos
da América do norte no movimento que ficou conhecido como “evangelho social”, não
significa que nos entregaremos ao niilismo ou ao cinismo desesperançado do “comamos e
bebamos que amanhã morreremos” (Isaías 22.13; 1Coríntios 15.32). Não temos base bíblica
para acreditar que o reino de Deus será consumado na história, mas temos absolutos
indícios de que o reino de Deus, que será consumado na eternidade, dá os seus sinais na
história.
Mas, se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, logo é chegado a vós o reino
de Deus.
(Mateus 12.28)
E, depois que João foi entregue à prisão, veio Jesus para a Galiléia, pregando o
evangelho do reino de Deus, dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está
próximo. Arrependei-vos, e crede no evangelho.
(Marcos 1.14,15)
E, em qualquer cidade em que entrardes, e vos receberem, comei do que vos for
oferecido. E curai os enfermos que nela houver, e dizei-lhes: É chegado a vós o reino
de Deus.
(Lucas 10.8,9)
E, interrogado pelos fariseus sobre quando havia de vir o reino de Deus, respondeu-
lhes, e disse: O reino de Deus não vem com aparência exterior. Nem dirão: Ei-lo aqui,
ou: Ei-lo ali; porque eis que o reino de Deus está entre vós.
(Lucas 17.20,21)
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O reino de Deus é uma realidade presente na história por meio dos que acolheram a
mensagem de Jesus e beberam o vinho novo do evangelho da graça de Deus. Isto é, o reino
de Deus chegou para os desgraçados que, a partir de então, se tornaram bem-aventurados.
Os desgraçados
Jesus proferiu seu Sermão do Monte para os discípulos mais chegados, tendo as
multidões ao redor, espalhadas pela enconta de um monte na região da Galiléia.
E percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas suas sinagogas e pregando o evangelho
do reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo. E a sua fama
correu por toda a Síria, e traziam-lhe todos os que padeciam, acometidos de várias
enfermidades e tormentos, os endemoninhados, os lunáticos, e os paralíticos, e ele
os curava. E seguia-o uma grande multidão da Galiléia, de Decápolis, de Jerusalém, da
Judéia, e de além do Jordão.
(Mateus 4.23-25)
A chegada do reino de Deus é boa notícia principalmente para os pobres, os que
sofrem, e os que são fracos diante dos poderes deste mundo. Por esta razão alguns dizem
que Deus “fez uma opção preferencial pelos pobres”, enquanto outros dizem que foram
as massas humilhadas e marginalizadas que fizeram a opção preferencial pelo reino de
Deus. Jesus observou que “é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do
que um rico entrar no reino de Deus” (Mateus 19.23,24). O apóstolo Paulo chegou à mesma
conclusão.
Porque, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne,
nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados. Mas Deus
escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu
as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; e Deus escolheu as coisas vis
deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são; para que
nenhuma carne se glorie perante ele.
(1 Coríntios 1.26-29)
A chegada do reino de Deus transforma os desgraçados em bem aventurados.
Os bem aventurados
Há pelos menos três possibilidades de interpretação das bem aventuranças. A mais
comum é aquela que considera as bem aventuranças uma lista de virtudes próprias dos
participantes do reino de Deus. Nesse caso, toda pessoa que deseja participar do reino de
Deus deve ser pobre de espírito e chorar sua miséria; deve também ser mansa e humilde e
dedicar a vida a satisfazer sua fome e sede de justiça; deve ser misericordiosa, pacificadora
e pura de coração; além disso, deve estar disposta a sofrer pelo reino de Deus.
Dallas Willard, entretanto, oferece uma outra possibilidade de interpretação, que me
agrada mais. Ele diz que as bem aventuranças não se explicam pela condição das pessoas,
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5. Guia de Estudo 03 Vinho Novo, Odres Novos
mas pelas promessas que a elas são feitas. Isto é, os participantes do reino de Deus não são
bem aventurados porque são pobres de espírito ou porque choram, mas porque deles é o
reino dos céus e porque serão consoladas. Não são bem aventuradas porque são mansas,
humildes e têm fome e sede de justiça, mas porque herdarão a terra, serão saciadas em
todas as suas necessidades. Não são bem aventuradas porque são misericordiosas, puras de
coração e pacificadoras, mas porque alcançarão misericórdia, serão contadas entre os filhos
de Deus e verão a Deus. Sua bem aventurança, inclusive está relacionada com o privilégio
de sofrer injustamente pelo reino de Deus. Dallas Willard considera que, na primeira parte
de cada bem aventurança, Jesus descreve os desgraçados e na segunda parte faz a eles as
promessas dos frutos do reino de Deus.
Uma terceira possibilidade é apresentada por André Chouraqui, hebraísta e estudioso
das línguas semíticas e das culturas do Oriente. Ele divide as bem aventuranças em dois
grupos de quatro. As quatro primeiras descrevem as multidões desgraçadas a quem o reino
de Deus é oferecido e prometido, e as quatro últimas descrevem os participantes do reino
de Deus, que o representam e expressam na história.
Nesse caso, as multidões de desgraçados são descritas como pobres de espírito,
ou como traduz Chouraqui, “humilhados pelo sopro”, o que seria algo como “desgraçados
sobre quem o Espírito foi soprado”. Esses choram enlutados, não apenas a realidade
concreta da morte física, mas também o fato de terem suas vidas usurpadas pela escravidão
imposta pelo império romano. Por esta razão, são mansos, isto é, absolutamente indefesos
e vulneráveis, não têm vez nem voz e dependem de quantos possam defender sua causa,
já que não têm condições de lutar por si mesmos. Isso explica porque têm fome e sede de
justiça.
As multidões desgraçadas são abençoadas por aqueles que são misericordiosos,
puros de coração e pacificadores. A palavra misericórdia é própria da língua hebraica para
descrever o útero da mulher que nutre a vida que está para nascer.
Os misericordiosos, aqueles que assumem entre seus irmãos a função principal de
Yahweh, é a de ser a matriz do universo. A palavra rahamims deriva de rehém, “a
matriz”, o útero da mulher. A matriz recebe, mantém e dá a vida, oferecendo ao feto,
a cada segundo, tudo de que ele precisa para viver.
(Chouraqui, André. A Bíblia: Matyah. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1996)
Com essa bela figura de linguagem, Jesus descreve os participantes do reino de Deus como
aqueles que trazem em seu “ventre de misericórdia” pessoas que sofrem toda sorte de
males, e tudo fazem para manter o ventre imaculado, isto é, puro, para que seja um berço
de paz. Justamente porque são identificados com o príncipe da Paz (Isaías 9.6) e se colocam
ao lado dos marginalizados e buscam lhes fazer justiça, são perseguidos e recebem toda a
hostilidade das forças e poderes anti–reino de Deus.
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