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Manual dos formadores
de cuidadores de
pessoas idosas
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
José Serra
Governador
Rita Passos
Secretária Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social
Nivaldo Campos Camargo
Secretário Adjunto
Carlos Fernando Zuppo Franco
Chefe de Gabinete
Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social – SEADS
Departamento de Comunicação Institucional – DCI
Paulo José Ferreira Mesquita
Coordenador
Coordenadoria de Gestão Estratégica – CGE
Cláudio Alexandre Lombardi
Coordenador
Coordenadoria de Ação Social – CAS
Tânia Cristina Messias Rocha
Coordenadora
Coordenadoria de Desenvolvimento Social – CDS
Isabel Cristina Martin
Coordenadora
Coordenadoria de Administração de Fundos e Convênios – CAF
Carlos Alberto Facchini
Coordenador
Fundação Padre Anchieta
Paulo Markun
Presidente
Fernando Almeida
Vice-Presidente
Coordenação Executiva – Núcleo de Educação
Fernando Almeida
Fernando Moraes Fonseca Jr.
Mônica Gardeli Franco
Coordenação de Conteúdo e Qualidade
Gabriel Priolli
Coordenação de Produção – Núcleo de Eventos e Publicações
Marilda Furtado
Tissiana Lorenzi Gonçalves
uma realização
Equipe de Produção do Projeto
Coordenação geral
Áurea Eleotério Soares Barroso
Seads
Fernando Moraes Fonseca Jr.
Fundação Padre Anchieta
Desenvolvimento
Seads
Elaine Cristina Moura
Ivan Cerlan
Janete Lopes
Márcio de Sá Lima Macedo
Organização dos conteúdos/textos
Áurea Eleotério Soares Barroso
Colaboradores
Clélia la Laina, Edwiges Lopes Tavares, Izildinha Carneiro,
Ligia Rosa de Rezende Pimenta, Maria Margareth Carpes,
Marilena Rissuto Malvezzi, Paula Ramos Vismona,
Renata Carvalho, Rosana Saito, Roseli Oliveira
Produção editorial
Maria Carolina de Araujo
Coordenação editorial
Marcia Menin
Copidesque e preparação
Paulo Roberto de Moraes Sarmento
Revisão
Projeto gráfico, arte, editoração e produção gráfica
Mare Magnum Artes Gráficas
Ilustrações
Adriana Alves
[...] nós envelheceremos um dia, se tivermos este privilégio.
Olhemos, portanto, para as pessoas idosas como nós seremos no
futuro. Reconheçamos que as pessoas idosas são únicas, com
necessidades e talentos e capacidades individuais, e não um grupo
homogêneo por causa da idade.
Kofi Annan, ex-secretário-geral da ONU.
Prezado(a) leitor(a),
Temos a grata satisfação de fazer a apresentação deste material elaborado pela
Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social de São Paulo (Seads)
e pela Fundação Padre Anchieta – TV Cultura.
Um dos objetivos do Plano Estadual para a Pessoa Idosa do Governo do Estado de
São Paulo – Futuridade, coordenado pela Seads, é propiciar formação permanente
de profissionais para atuar com a população idosa, notadamente nas Diretorias
Regionais de Assistência Social (Drads).
No total, esta série contém dez livros e um vídeo, contemplando os seguintes
conteúdos: o envelhecimento humano em suas múltiplas dimensões: biológica,
psicológica, cultural e social; legislações destinadas ao público idoso; informações
sobre o cuidado com uma pessoa idosa; o envelhecimento na perspectiva da
cidadania e como projeto educativo na escola; e reflexões sobre maus-tratos e
violência contra idosos.
Direitos de cópia
Serão permitidas a cópia e a distribuição dos textos integrantes desta obra sob as
seguintes condições: devem ser dados créditos à SEADS – Secretaria Estadual de Assistência e
Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo e aos autores de cada texto;
esta obra não pode ser usada com finalidades comerciais; a obra não pode ser alterada,
transformada ou utilizada para criar outra obra com base nesta;
esta obra está licenciada pela Licença Creative Commons 2.5 BR
(informe-se sobre este licenciamento em http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.5/br/)
As imagens fotográficas e ilustrações não estão incluídas neste licenciamento.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Duarte, Yeda Aparecida de Oliveira
Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas / Yeda
Aparecida de Oliveira Duarte ; [coordenação geral Áurea Eleotério
Soares Barroso]. -- São Paulo : Secretaria Estadual de Assistência e
Desenvolvimento Social : Fundação Padre Anchieta, 2009.
Bibliografia.
1. Administração pública 2. Cidadania 3. Envelhecimento
4. Idosos - Cuidados 5. Planejamento social 6. Política social
7. Políticas públicas 8. Qualidade de vida 9. Serviço social junto a
idosos I. Barroso, Áurea Eleotério Soares. II. Título.
09-09500	 CDD-362.6
Índices para catálogo sistemático:
1. São Paulo : Estado : Idosos : Estado e assistência e
desenvolvimento social : Bem-estar social 362.6
2. São Paulo : Estado : Plano Estadual para a Pessoa Idosa-
Futuridade : Bem-estar social 362.6
Com esta publicação, destinada aos profissionais que desenvolvem ações com
idosos no Estado de São Paulo, o Futuridade dá um passo importante ao
disponibilizar recursos para uma atuação cada vez mais qualificada e uma prática
baseada em fundamentos éticos e humanos.
Muito nos honra estabelecer esta parceria entre a Seads e a Fundação
Padre Anchieta – TV Cultura, instituição que acumula inúmeros prêmios em
sua trajetória, em razão de serviços prestados sempre com qualidade.
Desejo a todos uma boa leitura.
Um abraço,
Rita Passos
Secretária Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social
Manual dos formadores
de cuidadores de
pessoas idosas
Yeda Aparecida de Oliveira Duarte é professora livre-docente da Escola de
Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP), gerontóloga e criadora do pri-
meiro curso de graduação em Gerontologia do Brasil, na Escola de Artes, Ciências
e Humanidades da USP (EACH/USP).
Sumário
Capítulo 1
Eixos norteadores para cursos de formadores de cuidadores de pessoas
idosas e de cuidadores de pessoas idosas. .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 15
Formadores de cuidadores de pessoas idosas. .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 16
I.	 Quem se quer formar?. .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 18
II.	 Por que se quer ou necessita formar essas pessoas?. .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 26
III.	Quem será o formador e como se preconiza o ensino?. .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 27
IV.	O que é necessário ensinar nos cursos de formadores e de cuidadores?. .  .  .  .  .  .  .  . 30
Cursos de formadores de cuidadores de pessoas idosas. .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 37
Cursos de cuidadores de pessoas idosas. .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 38
Capítulo 2
A construção de uma relação de ajuda. .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 41
Primeiros passos. .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 42
Características necessárias para construir uma relação de ajuda . .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 47
Capacidade de escuta. .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 47
Capacidade de clarificar. .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 49
Capacidade de respeitar-se e de respeitar o idoso. .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 50
Capacidade de ser congruente. .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 52
Capacidade de ser empático. .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 53
Capacidade de confrontação . .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 54
Capítulo 3
Atitudes, mitos e estereótipos relacionados ao envelhecimento e ao
cuidado com a pessoa idosa. .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 58
Atitudes, mitos e estereótipos. .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 60
Capítulo 4
Facilitando o desenvolvimento de atividades de vida diária: sono e repouso. .  .  .  .  .  . 68
O sono como ritmo biológico. .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 69
Padrão de sono e suas modificações com o envelhecimento. .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 70
Recomendações quanto ao uso de medicamentos para dormir. .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 75
Sugestões para um sono de melhor qualidade . .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 76
11
Auxiliando a pessoa idosa
em suas atividades cotidianas
P
ode-se considerar “saúde” para a pessoa idosa a resultante da
interação multidimensional de saúde física e mental, autonomia
nas atividades de vida diária, integração social, suporte familiar
e independência econômica. Qualquer dessas dimensões, associada
a outra ou não, quando comprometida, pode afetar a capacidade do
indivíduo de viver de forma autônoma e independente, repercutindo,
por consequência, em sua qualidade de vida.
Nesse grupo etário não é rara a ocorrência de múltiplas doenças si-
multâneas (polimorbidade), em sua maioria de natureza crônica,
cujas sequelas podem ocasionar incapacidade ou dificuldade de de-
sempenho das atividades cotidianas, gerando, muitas vezes, quadros
de dependência.
A dependência aumenta a demanda por serviços sociais e de saúde.
Assistir o idoso dependente pode ser uma tarefa fisicamente ­extenuante,
pois em geral implica sobrecarga da família, que costuma ser a prin-
Capítulo 5
Facilitando o desenvolvimento de atividades de vida diária: alimentação. .  .  .  .  .  .  .  .  . 79
Funções dos alimentos. .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 81
Capítulo 6
Facilitando o desenvolvimento de atividades de vida diária:
higiene, vestimenta e conforto. .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 90
Higiene corporal. .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 90
As pessoas idosas realmente necessitam de banho diário?. .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 93
Princípios gerais para o banho de pessoas idosas. .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 96
Produtos para o cuidado com a pele utilizados no banho. .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 97
Tipos de banho. .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 98
Cuidados durante o banho. .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 100
Cuidado com as unhas das mãos e dos pés. .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 100
Higiene oral. .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 102
Cuidados com o vestuário. .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 103
Capítulo 7
Facilitando o desenvolvimento de atividades de vida diária:
administração de medicamentos. .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 105
Aspectos gerais da aquisição de medicamentos. .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 110
Aspectos gerais da administração de medicamentos. .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 111
Capítulo 8
Facilitando o desenvolvimento de atividades de vida diária:
mecanismos corporais, mobilização e transferência . .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 115
Movimento humano. .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 116
Impacto do envelhecimento nas estruturas ligadas ao movimento humano. .  .  .  .  .  . 123
Mecânica corporal. .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 125
Aplicação da mecânica corporal. .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 127
Mobilização e transporte de pessoas idosas mais dependentes . .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 128
Auxílio na movimentação na cama de idosos mais dependentes. .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 129
Auxílio no transporte de idosos mais dependentes. .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 132
Referências bibliográficas. .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 135
Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas
12
Auxiliando a pessoa idosa em suas atividades cotidianas
13
cipal provedora de atenção a idosos portadores de incapacidades.
Outro fator preocupante é que muitos cuidadores de idosos com
dependência também são idosos e, por essa razão, podem ter seu
potencial de auxílio reduzido.
Ressaltam-se as mudanças que vêm ocorrendo na estrutura e contex-
to das famílias. No Brasil, a maior parte das que contam com presen-
ça de idosos é pequena, com pessoas em etapas do ciclo vital mais
avançadas. Soma-se a isso o fato de mais mulheres ocuparem, hoje,
a condição de chefe do núcleo familiar e estarem cada vez mais tra-
balhando fora de casa; tradicionalmente, era delegado a elas o papel
de cuidadoras de pessoas doentes ou com mais dependência. Essas
mudanças têm feito com que diversos idosos com algum grau de
dependência não sejam assistidos, podendo sua condição agravar-se.
Torna-se, assim, fundamental a criação de mecanismos sociais que
garantam esse cuidado.
Em vista da situação de desamparo em que se encontram muitos
idosos mais dependentes, o treinamento e a disponibilização de pes-
soas para seu cuidado são urgentes e imprescindíveis. A adequação
das políticas públicas no atendimento de tais demandas ainda está
aquém da necessidade existente. Perante esse quadro, o desafio que
se coloca é formular propostas e ações que equacionem problemas e
avancem no esforço de criar uma rede de assistência à população
idosa mais vulnerável e fragilizada.
Um dos passos nessa construção é o desenvolvimento de um conjun-
to de informações padronizadas que visem a auxiliar uma capacitação
mais homogênea dos cuidadores e, assim, permitir que essa ocupação
evolua para profissão, com pessoal bem preparado e numericamente
disponível para atender às demandas da sociedade. Diante disso, a
Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social do Estado de São
Paulo (Seads), buscando traçar as diretrizes de uma política de aten-
ção à pessoa idosa adequada, elaborou, como uma de suas principais
linhas de atuação, um programa de capacitação global destinado a
desenvolver mão de obra qualificada para assistir os idosos mais de-
pendentes segundo um eixo de orientação uniforme. Esse programa
tem por objetivos:
Fornecer um “olhar gerontológico” aos profissionais que trabalham•	
com idosos.
Orientar os formadores de cuidadores de pessoas idosas e os próprios•	
cuidadores.
Tal iniciativa vem contribuir para o desenvolvimento de ações plane-
jadas e programadas que visem à construção de uma rede de atenção
e cuidados às pessoas idosas que lhes permita envelhecer sem teme-
ridade, com dignidade e respeito.
Este material representa parte da concretização de tais ações. Teve por
base os trabalhos desenvolvidos nessa área, associados às melhores
práticas (evidências). Não tem, no entanto, a intenção de ser um fim
em si mesmo; procura apenas fornecer um direcionamento mínimo
e mais homogêneo na construção de um cuidado adequado às de-
mandas assistenciais das pessoas idosas. Espera-se que seu conteúdo
seja analisado e adaptado às realidades de cada região.
15
A
oficina realizada em Blumenau (SC), em maio de 2007, coor-
denada pela Área Técnica de Saúde da Pessoa Idosa e pelo
Departamento de Gestão da Educação na Saúde (Deges) do
Ministério da Saúde, tratou especificamente dos cur-
sos de formadores de cuidadores de pessoas idosas e
de cuidadores de pessoas idosas. A seguir, faremos uma
síntese dos conteúdos trabalhados nessa ocasião.
Uma de suas principais discussões versou sobre a ne-
cessidade de homogeneizar a formação de formadores,
em decorrência das grandes disparidades entre os cur-
sos de graduação na área de saúde no que se refere ao
ensino de tópicos relacionados ao envelhecimento
(geriatria e gerontologia). Geralmente, os formadores
são das áreas de saúde, educação ou serviço social ou
estão ligados a elas.
Capítulo 1
Eixos norteadores para cursos
de formadores de cuidadores de pessoas
idosas e de cuidadores de pessoas idosas
Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas
16
Eixos norteadores para cursos de formadores de cuidadores de pessoas idosas e de cuidadores de pessoas idosas
17
Embora seja preconizada pela Política Nacional do Idoso a introdução
de conteúdos específicos nos diferentes currículos de graduação, sabe-
-se que isso, ainda hoje, está aquém do necessário.
Na oficina, foi consenso que o formador deve ter conhecimentos
básicos sobre envelhecimento populacional e individual (nos am-
plos aspectos) e sobre cuidados com pessoas idosas com vários
níveis de dependência, de diversas culturas e contextos sociais, e,
na orientação de cuidadores, adaptar esses conhecimentos às rea-
lidades locais, buscando sempre uma construção conjunta e uti-
lizando práticas pedagógicas que problematizem o processo de
trabalho do cuidador.
Formadores de cuidadores de pessoas idosas
No que tange a esse grupo, a oficina teve por objetivos:
Assegurar a formação docente integral dos profissionais envolvidos•	
nos processos de qualificação/formação, tendo como referência
central o significado social da ação educativa no âmbito da saúde
pública e, especialmente, na formação do cuidador de idosos.
Constituir um docente crítico, capaz de aprender a aprender, de•	
trabalhar em equipe, de levar em conta a realidade social para pres-
tar atenção humana de qualidade.
Estimular práticas de atenção à saúde, voltadas ao fortalecimento•	
de ações de recuperação, promoção e prevenção, oferecendo cuida-
do integral e autonomia das pessoas na produção da saúde.
A formação desse profissional deve:
Levar em conta o contexto sociopolítico, em interface com a assis-•	
tência social, a saúde, a educação e o meio ambiente.
Atender às expectativas dos setores envolvidos para mudanças efe-•	
tivas das práticas de atenção à saúde – ampliação do acesso e da
cobertura para a população idosa.
Ao final de sua preparação, o formador tem de ser capaz de:
Desenvolver ações que busquem a integração entre as equipes de•	
saúde e a população idosa, considerando as características e as
finalidades do trabalho de acompanhamento dos idosos com
­dependência.
Realizar, em conjunto com a equipe, atividades de planejamento e•	
avaliação das ações no âmbito de atuação de cada profissional.
Conduzir ações de promoção social e de proteção e desenvolvimen-•	
to da cidadania nas áreas social e da saúde.
Para a adequação do conteúdo, devem ser feitas as seguintes perguntas:
Quem se quer formar?•	
Por que se quer ou necessita formar essas pessoas?•	
Quem será o formador e como se preconiza o ensino?•	
O que é necessário ensinar nos cursos de formadores e de cuidadores?•	
A seguir, apresentamos a síntese dos resultados dessas discussões.
AlexanderRaths/istockphoto
Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas
18
Eixos norteadores para cursos de formadores de cuidadores de pessoas idosas e de cuidadores de pessoas idosas
19
I. Quem se quer formar?
Cuidadores de pessoas idosas podem ser definidos como as pessoas
que cuidam de idosos com dependência, desenvolvendo ações que
promovam a melhoria de sua qualidade de vida em relação a si, à
família e à sociedade. Suas ações fazem interface principalmente com
a saúde, a educação e a assistência social e devem ser pautadas pela
solidariedade, compaixão, paciência e equilíbrio emocional.
Os cuidadores podem ser familiares, agregados à família ou
profissionais (para atuar em domicílio ou em instituições).
Os requisitos mínimos, os conteúdos e as estratégias de abor-
dagem nos cursos a serem realizados diferem, dependendo
do público-alvo.
Os cursos para cuidadores familiares destinam-se, de modo
geral, a parentes disponíveis para assumir essa função. ­Pode-se,
portanto, lidar com pessoas de diferentes níveis culturais e
graus de escolarização. Não é incomum que muitos cuidado-
res familiares tenham baixa escolaridade ou não sejam alfa-
betizados. Embora isso possa comprometer o cuidado a ser
ministrado, bem como a capacidade de absorver os conteúdos
previstos, é uma realidade com que se tem de trabalhar.
De modo geral, os cursos para cuidadores familiares têm por
objetivos:
Fornecer-lhes instrumentos para que cuidem da pessoa ido-•	
sa sob sua responsabilidade da melhor forma possível.
Facilitar seu dia a dia.•	
Minimizar sua ansiedade na realização desse cuidado, para•	
o qual não se sentem capazes (em todos os aspectos, incluin-
do o emocional).
O formador deve lembrar que, em geral, as pessoas não es-
peram se tornar cuidadoras de seus parentes idosos e não se
prepararam para esse fim. Com muita frequência, assumem essa fun-
ção em circunstâncias mais ou menos repentinas e veem, assim, seu
mundo se transformar rapidamente (necessidade de abandonar o
trabalho, de realocar horários, de dispor de parte ou de quase toda
a vida pessoal; gastos elevados e, quase sempre, nenhuma remunera-
ção pela atividade; baixa valorização e pouco reconhecimento da
atividade por outros familiares e pelo próprio idoso assistido; confli-
tos familiares antes não tão evidentes; pouca ou nenhuma colabora-
ção de outros membros da família).
Isso costuma gerar o que se denomina “sofrimento oculto” do cuida-
dor, que é expresso por estresse e sofrimento, angústia, sentimento
de culpa (por algumas vezes negligenciar o cuidado ou gritar com a
pessoa de quem cuida), ira e agressividade (com o idoso e com a fa-
mília), embaraço (na presença de outras pessoas, sobretudo com
idosos com demência), fadiga física e emocional. Essas situações serão
mais ou menos acentuadas dependendo da funcionalidade familiar,
ou seja, da capacidade da família de se reorganizar diante de tal im-
previsto (o de contar com uma pessoa idosa dependente).
Os cuidadores de
pessoas idosas
devem desenvolver
ações que
promovam a
melhoria de sua
qualidade de vida
em relação a si,
à família e à
sociedade.
istockphoto
NikolayMamluke/istockphoto
Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas
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Eixos norteadores para cursos de formadores de cuidadores de pessoas idosas e de cuidadores de pessoas idosas
21
A outra linha de formação de cuidadores visa à capacitação profissio-
nal. Atualmente, os cuidadores aparecem na Classificação Brasileira
de Ocupações (CBO)1
na família 5162 – Cuidadores de
crianças, jovens, adultos e idosos.
A ocupação é denominada “Cuidador de idosos” (código 5162-10)
e tem como sinônimos “Acompanhante de idosos, Cuidador de pes-
soas idosas e dependentes, Cuidador de idosos domiciliar, Cuidador
de idosos institucional, Gero-sitter”.
Sua função primária é:
Cuidar de idosos, a partir de objetivos estabelecidos por instituições es-
pecializadas ou responsáveis diretos, zelando pelo bem-estar, saúde,
alimentação, higiene pessoal, educação, cultura, recreação e lazer da
pessoa assistida.
A CBO deixa claro que essa ocupação não integra a família 3222 –
Técnicos e auxiliares de enfermagem, minimizando quaisquer dúvidas
que possam ser levantadas pelos respectivos conselhos profissionais.
As condições gerais de trabalho são as seguintes:
O trabalho é exercido em domicílios ou instituições cuidadoras [...] de
idosos. As atividades são exercidas com alguma forma de supervisão, na
condição de trabalho autônomo ou assalariado. Os horários de trabalho
são variados: tempo integral, revezamento de turno ou períodos deter-
minados. No caso de cuidadores de indivíduos com alteração de com-
portamento, estão sujeitos a lidar com situações de agressividade.
A CBO também descreve a formação e experiência dos cuidadores
em geral:
Essas ocupações são acessíveis a pessoas com dois anos de experiência em
domicílios ou instituições cuidadoras públicas, privadas ou ONGs,
em funções supervisionadas de pajem, mãe-substituta ou auxiliar de
cuidador, cuidando de pessoas das mais variadas idades. O acesso ao
emprego também ocorre por meio de cursos e treinamentos de formação
profissional básicos, concomitante ou após a formação mínima, que
varia da quarta série do ensino fundamental até o ensino médio. Podem
ter acesso os trabalhadores que estão sendo reconvertidos da ocupação de
atendentes de enfermagem. No caso de atendimento a indivíduos com
elevado grau de dependência, exige-se formação na área de saúde, ­devendo
o profissional ser classificado na função de técnico/auxiliar de enferma-
gem. A(s) ocupação(ões) elencada(s) nesta família ocupacional
demanda(m) formação profissional para efeitos do cálculo do número
de ­aprendizes a serem contratados pelos estabelecimentos, nos termos do
artigo 429 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), exceto os casos
previstos no art. 10 do Decreto 5.598/2005.
As áreas de atividades e suas especificações envolvem:
a)	Cuidar da pessoa idosa:
Cuidar da aparência e higiene pessoal.„„
Observar os horários das atividades diárias.„„
Ajudar no banho, na alimentação, no andar e nas necessidades„„
fisiológicas.
1. Disponível em:
http://www.mtecbo.gov.br.
LisaF.Young/istockphoto
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Eixos norteadores para cursos de formadores de cuidadores de pessoas idosas e de cuidadores de pessoas idosas
23
Estar atento às ações da pessoa idosa.„„
Verificar as informações dadas pela pessoa idosa.„„
Informar-se do dia a dia da pessoa idosa no retorno de sua folga.„„
Relatar o dia a dia da pessoa idosa aos responsáveis.„„
Manter o lazer e a recreação no dia a dia.„„
Desestimular a agressividade da pessoa idosa.„„
b)	Promover o bem-estar:
Ouvir a pessoa idosa, respeitando sua necessidade individual de„„
falar.
Dar apoio psicológico e emocional.„„
Ajudar na recuperação da autoestima, dos valores e da„„
afetividade.
Promover momentos de afetividade.„„
Estimular a independência.„„
Auxiliar e respeitar a pessoa idosa em sua necessidade espiritual e„„
religiosa.
c)	Cuidar da alimentação da pessoa idosa:
Participar da elaboração do cardápio.„„
Verificar a despensa.„„
Observar a qualidade e a validade dos alimentos.„„
Fazer as compras conforme lista e cardápio.„„
Preparar a alimentação.„„
Servir a refeição em ambientes e em porções adequadas.„„
Estimular e controlar a ingestão de líquidos e de alimentos„„
variados.
Reeducar os hábitos alimentares.„„
d)	Cuidar da saúde:
Observar temperatura, urina, fezes e vômitos.„„
Controlar e observar a qualidade do sono.„„
Ajudar nas terapias ocupacionais e físicas.„„
Ter cuidados especiais com deficiências e dependências físicas.„„
Manusear adequadamente.„„
Observar alterações físicas.„„
Observar alterações de comportamento.„„
Lidar com comportamentos compulsivos e evitar ferimentos.„„
Controlar armazenamento, horário e ingestão de medicamentos,„„
em domicílios.
Acompanhar a pessoa idosa em consultas e„„
atendimentos médico-hospitalares.
Relatar a orientação médica aos responsáveis.„„
Seguir a orientação médica.„„
e)	Cuidar do ambiente domiciliar e/ou institucional:
Cuidar dos afazeres domésticos.„„
Manter o ambiente organizado e limpo.„„
Promover adequação ambiental.„„
A CBO descreve
a formação e
experiência dos
cuidadores, detalha
suas atividades
e lista as
competências
pessoais.
annedeHaas/istockphoto
Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas
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Eixos norteadores para cursos de formadores de cuidadores de pessoas idosas e de cuidadores de pessoas idosas
25
Prevenir acidentes.„„
Fazer compras para a casa e para a pessoa idosa.„„
Administrar finanças.„„
Cuidar da roupa e objetos pessoais da pessoa idosa.„„
Preparar o leito de acordo com as necessidades da pessoa idosa.„„
f)	Incentivar a cultura e a educação:
Estimular o gosto pela música, dança e esporte.„„
Selecionar jornais, livros e revistas.„„
Ler histórias, textos e jornais para a pessoa idosa.„„
Organizar biblioteca doméstica.„„
g)	Acompanhar em passeios, viagens e férias:
Planejar e fazer passeios.„„
Listar objetos de viagem.„„
Arrumar a bagagem.„„
Preparar a mala de remédios.„„
Preparar documentos e lista de telefones úteis.„„
Preparar alimentação da viagem com antecedência.„„
Acompanhar a pessoa idosa em atividade sociais e culturais.„„
Como competências pessoais do cuidador, a CBO lista as seguintes:
1.	 Manter capacidade e preparo físico, emocional e espiritual.
2.	 Cuidar de sua aparência e higiene pessoal.
3.	 Demonstrar educação e boas maneiras.
4.	 Adaptar-se a diferentes estruturas e padrões familiares e comunitários.
5.	 Respeitar a privacidade da pessoa idosa.
6.	 Demonstrar sensibilidade e paciência.
7.	 Saber ouvir.
8.	 Perceber e suprir carências afetivas.
9.	 Manter a calma em situações críticas.
10.	Demonstrar discrição.
11.	Observar e tomar resoluções.
12.	Em situações especiais, superar seus limites físicos e emocionais.
13.	Manter otimismo em situações adversas.
14.	Reconhecer suas limitações e quando e onde procurar ajuda.
15.	Demonstrar criatividade.
16.	Lidar com a agressividade.
17.	Lidar com seus sentimentos negativos e frustrações.
18.	Lidar com perdas e mortes.
19.	Buscar informações e orientações técnicas.
20.	Obedecer a normas e estatutos.
21.	Reciclar-se e atualizar-se por meio de encontros, palestras, cursos e
seminários.
22.	Respeitar a disposição dos objetos da pessoa idosa.
23.	Dominar noções primárias de saúde.
24.	Dominar técnicas de movimentação para a pessoa idosa não se
machucar.
25.	Dominar noções de economia e atividade doméstica.
26.	Conciliar tempo de trabalho com tempo de folga.
27.	Doar-se.
28.	Demonstrar honestidade.
29.	Conduta moral.
Cabe ressaltar que, como essas informações foram publicadas em
2002, muito se evoluiu na questão dos cuidadores profissionais e será
necessária uma revisão de tal descrição.
Um dos pontos principais relaciona-se à formação: apenas expe­
riência anterior não deve ser considerada qualificação
que exclua a capacitação.
Quanto aos requisitos mínimos, a escolaridade é um
tema controverso. Especialistas da área de
gerontologia preconizam que o cuidador
profissional deve ter, pelo menos, o
ensino fundamental. Não se aceita
AlexanderRaths/istockphoto
Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas
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Eixos norteadores para cursos de formadores de cuidadores de pessoas idosas e de cuidadores de pessoas idosas
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a formação de um cuidador profissional sem escolaridade mínima,
diferentemente do cuidador familiar. No projeto do Ministério da
Saúde, como a formação dos cuidadores no âmbito público ficaria a
cargo (mas não exclusivamente) das Escolas Técnicas de Saúde, esse
requisito se elevaria para o ensino médio, dadas as características das
instituições. Como a CBO ainda não foi revista e a ocupação não é
regulamentada, esse tópico precisa ser mais bem discutido para que
se chegue a um consenso.
II. Por que se quer ou necessita formar essas pessoas?
Sobretudo pelo expressivo crescimento da população idosa, que não
tem sido acompanhado por aumento similar do número de cuidado-
res disponíveis – em vez disso, está decrescendo com o passar do
tempo, influenciado pela queda da taxa de fecundidade e pelas com-
posições familiares cada vez menores. Os índices de suporte e de
dependência são utilizados como indicadores brutos das futuras ne-
cessidades de cuidados. Nos Estados Unidos, em 1980, havia
11 potenciais cuidadores para cada idoso; estima-se que essa
média declinará para dez em 2010, para seis em 2030 e para
quatro em 2050.
Soma-se a isso a crescente entrada das mulheres no mer-
cado de trabalho, antes as principais cuidadoras de seus
parentes idosos. Pesquisas demonstram que as
­norte-americanas gastam cerca de 17 anos cuidan-
do dos filhos e 18 dos pais e que hoje elas cuidam
mais dos pais que dos filhos.
E ainda devem ser consideradas as alterações na
dinâmica de estudo e trabalho em muitos países,
o que faz com que os idosos passem a viver
longe de seus parentes. Os filhos podem tra-
balhar em outros locais, enquanto os pais
permanecem em sua cidade natal. Estudo norte-americano constatou
que pelo menos um terço de todos os filhos adultos mora a pelo
menos 30 minutos de distância dos pais.
Em grandes centros urbanos, destaque-se também o aumento do
índice de violência, levando os filhos a falecer antes de seus pais.
Esses fatores mostram que as pessoas idosas podem estar vulneráveis
ao “não cuidado” caso apresentem qualquer problema mais incapa-
citante, pois seus familiares, que, ainda hoje, representam a principal
fonte de cuidados, nem sempre estão facilmente disponíveis para
atendê-las nessas situações de crise. Isso tende a agravar o que seria
um pequeno problema, por falta de assistência no tempo adequado,
acarretando, muitas vezes, consequências irreparáveis.
É nesse contexto que urge a formação de pessoas habilitadas para
cuidar de pessoas idosas, modificando o panorama ora instalado.
III. Quem será o formador e como se preconiza o ensino?
O consenso é o de que sejam profissionais de nível universitário das
áreas de saúde, educação e serviço social, desde que com conhecimen-
tos gerais de saúde com ênfase no cuidado e específicos de geronto-
logia. O formador também deve ter ou desenvolver conhecimentos
pedagógicos relacionados ao processo de ensino-aprendizagem, des-
critos sinteticamente a seguir.
Nem sempre a intenção de ensinar é traduzida em efe-
tivação do aprendizado. Mesmo com a intenção since-
ra de ensinar, se o aluno não aprendeu, a meta (apreen­
são, apropriação do conteúdo por ele) não foi atingida,
ou seja, o ensino não ocorreu. A pessoa que recebe uma
informação nova tem de ser capaz de repassá-la e, para
tanto, precisa apreender a informação, apropriando-se
desse conhecimento. Para apreender é necessário agir,
O número de
cuidadores
disponíveis
deve acompanhar
o expressivo
crescimento
da população
idosa.
BrittaKasholm-Tengve/istockphoto
Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas
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Eixos norteadores para cursos de formadores de cuidadores de pessoas idosas e de cuidadores de pessoas idosas
29
exercitar-se, informar-se, tomar para si, apropriar-se do objeto em
estudo. Aprender deriva de apreender e significa tomar conhecimen-
to, reter na memória mediante estudo.
O processo de ensino-aprendizagem decorre de ações efetivadas den-
tro e fora da sala de aula. É imprescindível o envolvimento comparti-
lhado com o conhecimento, que deve possibilitar o “pensar a situação”
para que o aluno possa reelaborar as relações dos conteúdos, indo,
portanto, além de “o quê?” e “como?”.
Nesse processo, o professor, no caso o formador, prepara
e dirige as atividades e ações com base em estratégias se-
lecionadas e leva os alunos a desenvolver processos de
mobilização, construção e elaboração da síntese do conheci­
mento para assim chegarem ao que se chama “compreen-
são”. Com isso, eles serão capazes de reproduzir o que foi
aprendido em qualquer circunstância, pois um processo
de reflexão foi estabelecido conjuntamente.
Compreender é aprender o significado de um objeto ou de um
acontecimento e visualizá-lo em suas relações com outros objetos
e acontecimentos, compondo feixes de relações entrelaçados ou
redes (construídas socialmente e em permanente estado de
­atualização).
O principal desafio é conseguir que os alunos desenvolvam a capaci-
dade de abstração, ou seja, de reconstrução do objeto apreendido pela
concepção de noções e princípios independentemente do modelo ou
exemplo estudado/apresentado.
Isso poderá ser desenvolvido pelo uso de diferentes estratégias. Es-
tratégias são ferramentas facilitadoras definidas pelos formadores
durante o processo de ensino-aprendizagem para que os alunos se
apropriem do conhecimento. Exigem de quem as utiliza criativida-
de, percepção aguçada, vivência pessoal profunda e renovadora,
além da capacidade de pôr em prática uma ideia valendo-se da fa-
culdade de dominar o objeto trabalhado.
O formador deve utilizar estratégias que desafiem ou possibilitem
que as operações de pensamento sejam despertadas, exercitadas, cons-
truídas e flexibilizadas pelas necessárias rupturas por meio da mobi-
lização, da construção e das sínteses – vistas e revistas. Lidar com
diferentes estratégias, no entanto, não é fácil.
Há predominância da exposição de conteúdos (aulas expositivas e
palestras) – estratégia funcional para a passagem de informações e me-
morização – por ser bem-aceita tanto pelos professores como pelos
alunos. Os conteúdos são passados prontos, acabados e determinados.
Outras estratégias têm sido preconizadas na formação de cuidadores,
entre elas: aula expositiva dialogada; portfólio; tempestade cerebral
(brainstorming); estudo dirigido; fórum de discussão; solução de pro-
O formador pode
usar diferentes
estratégias para
facilitar a
apropriação do
conhecimento
pelos alunos.
RenéMansi/istockphoto
Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas
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Eixos norteadores para cursos de formadores de cuidadores de pessoas idosas e de cuidadores de pessoas idosas
31
blemas; grupos de verbalização e de observação; dramatização; estu-
dos de caso; oficinas de trabalho.
O uso das estratégias requer habilidade, organização, preparação
cuidadosa, planejamento compartilhado e mutuamente comprome-
tido com o aluno, que, como sujeito de seu processo de aprendizagem,
atuará de maneira ativa.
Para a adequada utilização de estratégias pedagógicas diferenciadas
com habilidade, talvez seja necessário que os formadores participem
de oficinas pedagógicas, ou seja, grupos em que os professores estudam
e trabalham um tema/problema, sob a orientação de um especialista,
aliando teoria e prática. Com isso, eles aprenderão a fazer melhor seu
trabalho mediante a aplicação e o processamento de conceitos e co-
nhecimentos previamente adquiridos.
IV. O que é necessário ensinar nos cursos
de formadores e de cuidadores?
Para o desenvolvimento dos cursos, foram definidos alguns eixos inte-
gradores e as competências e habilidades mínimas a eles relacionadas.
Eixo 1 – Interação e comunicação
Competências a serem desenvolvidas
No final do curso, o cuidador deverá ser capaz de:
Desenvolver ações que estimulem o processo de interação e comu-•	
nicação entre o idoso, seus familiares e a comunidade.
Compreender/interpretar as mensagens verbais e não verbais do•	
idoso e se fazer entender.
Promover/fazer a inter-relação entre família-serviços-comunidade•	
(rede).
Compreender e reconhecer o processo de comunicação do idoso•	
(verbal e não verbal).
Para atender a esse eixo, no final do curso, o cuidador deverá ter
habilidade para:
Estimular a pessoa idosa na manutenção do convívio familiar e„„
social.
Propor atividades que estimulem o uso da linguagem oral e de„„
outras formas de comunicação pela pessoa idosa.
Promover, na família, ambiente favorável à conversação com a„„
pessoa idosa.
Incentivar a socialização da pessoa idosa por meio da participação„„
em grupos, tais como: grupos de acompanhamento terapêutico, de
atividades socioculturais, de práticas corporais/físicas e outros.
Identificar redes de apoio na comunidade e estimular a participação„„
da pessoa idosa, conforme orientações do plano de cuidado.
Apoiar a pessoa idosa na execução das atividades instrumentais de„„
vida diária.
LisaF.Young/istockphoto
Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas
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Eixos norteadores para cursos de formadores de cuidadores de pessoas idosas e de cuidadores de pessoas idosas
33
Utilizar recursos de informação e comunicação adequados à„„
pessoa idosa.
Verificar a necessidade e/ou condições de órteses (bengalas,„„
andadores etc.) e próteses dentárias, auditivas e oculares.
Favorecer a leitura labial pela pessoa idosa durante as„„
­conversações.
Utilizar linguagem clara e precisa com a pessoa idosa e seus„„
familiares.
Eixo 2 – Cuidados em relação às atividades do “andar da vida”
Competências a serem desenvolvidas
No final do curso, o cuidador deverá ser capaz de:
Identificar as necessidades de cuidado.•	
Reconhecer a possibilidade de independência e a autonomia do•	
idoso para a realização das atividades de vida diária (AVDs) e, a
partir daí, organizar as atividades de suporte.
Atuar de forma a estimular o resgate e/ou manutenção da indepen-•	
dência e autonomia do idoso.
Conhecer/reconhecer/identificar o nível/tipo de dependência do•	
idoso, a fim de auxiliar o desempenho de suas AVDs na medida
de suas necessidades
Para atender a esse eixo, no final do curso, o cuidador deverá ter
habilidade para:
Identificar a relação entre problemas de saúde„„
e condições de vida.
Coletar informações sobre a história de vida„„
e de saúde da pessoa idosa.
Identificar o contexto familiar e social de vida da„„
pessoa idosa.
Identificar valores culturais, éticos, espirituais e„„
religiosos da pessoa idosa e de sua família.
Participar da elaboração do plano de cuidado para„„
a pessoa idosa, sua implementação, avaliação e reprogramação
com a equipe de saúde.
Realizar ações de acompanhamento e cuidado da pessoa idosa com„„
dependência, conforme as demandas e necessidades identificadas.
Identificar situações e hábitos presentes no contexto de vida do idoso„„
que são potencialmente promotores ou prejudiciais a sua saúde.
Estimular a autonomia e independência da pessoa idosa em face„„
de suas necessidades.
Apoiar a pessoa idosa na execução das atividades de vida diária,„„
conforme o plano de cuidado.
Apoiar a pessoa idosa na execução das atividades instrumentais„„
de vida diária.
Sensibilizar a pessoa idosa e sua família quanto à necessidade„„
de mudanças graduais e contínuas de hábitos e atitudes, a fim de
facilitar a vida do idoso.
No final do curso,
o cuidador
deverá ter
desenvolvido
uma série de
competências
e habilidades
específicas.
NancyLouie/istockphoto
Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas
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Eixos norteadores para cursos de formadores de cuidadores de pessoas idosas e de cuidadores de pessoas idosas
35
Atentar para possíveis reações indesejadas em relação ao uso„„
de medicamentos.
Providenciar suporte adequado às necessidades específicas da„„
pessoa idosa.
Atentar para a necessidade e/ou para as condições das próteses„„
e órteses em uso pela pessoa idosa.
Estimular a prática de atividades que diminuam o risco de„„
doenças crônicas, conforme orientações do plano de cuidado.
Identificar sinais de fragilização da pessoa idosa.„„
Identificar sinais de depressão e demência na pessoa idosa„„
e encaminhá-la para os cuidados específicos.
Encaminhar o idoso para atendimento à saúde, quando„„
necessário.
Acompanhar o idoso no uso da medicação.„„
Acompanhar a situação vacinal da pessoa idosa.„„
Orientar a família e atuar no caso de óbito da pessoa idosa.„„
Eixo 3 – Prontidão para agir em situações imprevistas
Competências a serem desenvolvidas
No final do curso, o cuidador deverá ser capaz de:
Reconhecer situações de urgência e emergência e realizar os pri-•	
meiros socorros e demais ações sob orientação do profissional
responsável.
Agir com prontidão e presteza em situações imprevistas dentro do•	
limite de suas atribuições.
Para atender a esse eixo, no final do curso, o cuidador deverá ter
habilidade para:
Reconhecer situações de urgência e emergência.„„
Realizar primeiros socorros.„„
Providenciar atendimento de suporte.„„
Eixo 4 – Prevenção de riscos, acidentes e violência
Competências a serem desenvolvidas
No final do curso, o cuidador deverá ser capaz de:
Identificar e reconhecer situações de risco à integridade física e•	
psicológica da pessoa idosa a fim de evitar situações de agravo.
Promover ambiente seguro.•	
Para atender a esse eixo, no final do curso, o cuidador deverá ter
habilidade para:
Identificar as situações de risco de violência.„„
Prevenir, atuar e mobilizar os recursos que reduzam riscos.„„
Analisar os riscos sociais e ambientais à saúde da pessoa idosa„„
com dependência.
Avaliar as condições de risco de acidentes„„
domésticos e propor alternativas para
resolução ou minimização.
Identificar as situações de„„
autonegligência e promover os
encaminhamentos necessários.
Reconhecer os sinais de maus-tratos„„
e promover os encaminhamentos
necessários.
Identificar as situações de violência„„
intra e extrafamiliar.
Estimular a pessoa idosa e seus„„
familiares a participar de programas
sociais locais que envolvam orientação
e prevenção da violência intra e
extrafamiliar, dentre outros.
Notificar caso suspeito ou confirmado„„
de violência contra a pessoa idosa.
AlexanderRaths/istockphoto
Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas
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Eixos norteadores para cursos de formadores de cuidadores de pessoas idosas e de cuidadores de pessoas idosas
37
Eixo 5 – Direitos da pessoa idosa
Competências a serem desenvolvidas
No final do curso, o cuidador deverá ser capaz de:
Conhecer a legislação e os recursos para promover a garantia dos•	
direitos.
Identificar espaços de reivindicação dos direitos da pessoa idosa.•	
Para atender a esse eixo, no final do curso, o cuidador deverá ter
habilidade para:
Identificar as situações que apontem negligência aos direitos da„„
pessoa idosa e promover os encaminhamentos necessários.
Reconhecer e saber utilizar os mecanismos que asseguram os„„
direitos dos idosos como cidadãos.
Garantir o acesso da pessoa idosa a seus direitos legais utilizando„„
os meios e recursos disponíveis.
Divulgar para a pessoa idosa, para seus familiares e para a comunidade„„
a legislação em vigência sobre os direitos dos idosos.
Os conteúdos ministrados visam a atender às competências e habili-
dades a serem desenvolvidas. A carga horária prevista para os cursos
é de 160 horas, integrando conteúdos presenciais, não presenciais e
atividades práticas.
Com base nessa proposta, a Escola de Enfermagem da Universidade
de São Paulo iniciou o desenvolvimento de tais cursos e acrescentou
que, para certificação, os participantes deveriam elaborar e executar,
em grupos de, no máximo, cinco pessoas, um curso para, no mínimo,
dez cuidadores. Só seriam certificados como formadores os que tives-
sem seus cursos aprovados segundo critérios preestabelecidos e
­antecipadamente divulgados, após avaliação em todas as fases (pla-
nejamento, execução e avaliação).
A seguir, apresentamos uma sugestão de conteúdo mínimo para de-
senvolvimento dos cursos.
Cursos de formadores de cuidadores de pessoas idosas
Oficinas pedagógicas – Estratégias de ensino-aprendizagem voltadas•	
ao ensino de adultos
Envelhecimento da população e da pessoa – Aspectos epidemioló-•	
gicos e psicossociais
Envelhecimento da população e da pessoa – Aspectos sociais•	
Envelhecimento da população e da pessoa – Aspectos psicológicos•	
Envelhecimento da população e da pessoa – Aspectos biofisioló-•	
gicos (senescência)
Aspectos funcionais do envelhecimento humano: autonomia,•	
dependência e independência
A construção e manutenção de uma rede de suporte social e familiar•	
no transcorrer da vida
Cuidadores: definição, papéis, direitos e deveres (familiar, domici-•	
liar, institucional, acompanhantes de idosos)
AlexanderRaths/istockphoto
Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas
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Eixos norteadores para cursos de formadores de cuidadores de pessoas idosas e de cuidadores de pessoas idosas
39
Desenvolvimento de uma relação de ajuda•	
Facilitando o desenvolvimento de atividades de vida diária: nutrição•	
e alimentação
Facilitando o desenvolvimento de atividades de vida diária: higiene,•	
vestimenta e conforto
Facilitando o desenvolvimento de atividades de vida diária: mobi-•	
lização e transferência
Facilitando o desenvolvimento de atividades de vida diária:•	
­locomoção
Facilitando o desenvolvimento de atividades de vida diária:•	
­continência
Cuidando de idosos com distúrbios cognitivos•	
Prevenindo situações de violência doméstica•	
Atuando em situações de urgência e emergência•	
Auxiliando no final da vida: processo de morrer, morte e luto•	
Cursos de cuidadores de pessoas idosas
Princípios da relação de ajuda•	
Mitos, atitudes e estereótipos relacionados ao•	
envelhecimento
Aspectos biopsicossociais do envelhecimen-•	
to do ser humano
Autonomia, dependência e independên-•	
cia da pessoa idosa – Aspectos conceituais
e legais e sua relação com o cuidado
Compreendendo as atividades de vida•	
diária (AVDs) em suas diferentes
­dimensões:
básicas (ABVDs),−−
instrumentais (AIVDs) e−−
avançadas (AAVDs)−−
Organizando o cuidado relacionado ao melhor•	
­desempenho das atividades cotidianas (oficinas)
Mecanismos corporais−−
Higiene pessoal e banho−−
Mobilização e transferência−−
Cuidados com a alimentação−−
Organização dos medicamentos−−
Manejando a incontinência (urinária e fecal)−−
Sono e repouso−−
Repensando e organizando o dia a dia−−
Direitos e deveres da pessoa idosa (Estatuto do Idoso)−−
Mantendo um ambiente saudável•	
O cuidado da pessoa idosa com comprometimento de memória•	
(ênfase em demências)
Entendendo a doença de Alzheimer (DA)−−
a)	Reagindo ao diagnóstico
b)	O que acontece depois
c)	Contando aos familiares e amigos
d)	Possibilidades e perspectivas de tratamento
Reorganizando a vida−−
a)	Reorganizando o futuro
b)	Discutindo as possibilidades de cuidado com a família
Cuidando/auxiliando o portador de DA−−
a)	Comunicação
b)	Higiene e conforto
c)	Vestimenta
d)	Alimentação
e)	Programando atividades e exercícios
f)	Incontinência
g)	Sono e repouso
h)	Reconhecendo sinais e sintomas
i)	Atuando em urgências e emergências
Oficinas
pedagógicas
fazem parte
dos cursos de
formadores
e de cuidadores.
Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas
40 41
Cuidando/auxiliando a família do portador de DA−−
a)	Lidando com alterações de comportamento
b)	Lidando com comportamentos agressivos
c)	Compreendendo e manejando alucinações e delírios
d)	Perambulação
e)	Tornando o ambiente seguro
f)	Recebendo visitas
g)	Mantendo a estrutura familiar
h)	Lidando com o luto
Identificando e atuando em situações de urgência e emergência•	
Cuidando no final da vida (processo de morrer, morte e luto)•	
O papel do cuidador – Limites e possibilidades•	
Cuidando do cuidador•	
Quando os cuidadores não forem os familiares, é fundamental
que os conteúdos sobre a construção de uma relação de ajuda
sejam desenvolvidos, pois isso vai constituir-se na base das
atividades desses profissionais.
Relação de ajuda pode ser entendida como uma ligação profunda e
significativa entre a pessoa que ajuda e a que é ajudada, a qual ultra-
passa as simples trocas funcionais, mantendo um prisma de cresci-
mento e evolução. Cria vínculos com a execução de atividades de
cuidado que tenham por princípio o respeito e
a liberdade, ou seja, tenham por finalidade
auxiliar a pessoa que é ajudada a resta-
belecer e manter sua autonomia.
Nesse contexto, entende-se “cuidar”
como “ajudar a viver”. Esse
cuidado pode ser interno
Capítulo 2
A construção de uma relação de ajuda
AnnettVauteck/istockphoto
Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas
42
A construção de uma relação de ajuda
43
ou externo, ou seja, posso ajudar a mim mesmo respondendo pessoal­
mente pelos cuidados usuais (cuidar-se) ou, ainda, ser ajudado por
alguém integral ou parcialmente.
No transcorrer de nossa existência, vivenciamos muitas situações de
ajuda, nas quais ora somos ajudados (cuidados), ora nos ajudamos
(autocuidado), ora ajudamos (cuidamos) outras pessoas. Compreen-
der isso nos remete a outro conceito, o de “ajuda compartilhada”, que
envolve reciprocidade e solidariedade, em que todos necessitam uns
dos outros e a troca referente ao cuidado prestado não gera sentimen-
tos de dependência.
Aquele que se propõe ajudar precisa ter adquirido experiência pes­soal,
relacionada ao processo de viver, às diferentes etapas da vida e a di-
ferentes relações sociais em uma convivência com os mais diversos
grupos de indivíduos. Nem sempre isso é permitido a algumas pes-
soas, pois às vezes elas se veem diante de situações de ajuda a outros
sem nem sequer terem ultrapassado algumas etapas da vida adulta
que lhes possibilitariam conjugar experiência e formação.
Este capítulo foi elaborado com o propósito de suscitar reflexões e
discussões acerca do que se faz necessário para a construção de uma
relação de ajuda, peça fundamental no desenvolvimento, com quali-
dade, das atividades dos cuidadores. Os pressupostos colocados a
seguir basearam-se nas considerações de alguns autores sobre a cons-
trução de relações de ajuda (Carkhuff, 1977; Lazure, 1994; Bérger,
1996; Miranda e Miranda, 1996).
Primeiros passos
A primeira consideração a ser feita é que os cuidadores envolvidos
com atividades de ajuda devem desenvolver habilidades específicas.
Embora sejam elementos fundamentais, não são suficientes apenas
o interesse e a boa vontade. Não basta também apenas “saber” ou
“saber fazer” para o desenvolvimento de um “bom” cuidado. É ne-
cessário “saber ser” para si mesmo e para a pessoa idosa a quem se
destina seu olhar.
Devemos reconhecer que, em muitas ocasiões, ajudamos porque isso
nos faz bem, porque nos sentimos especialmente lisonjeados quando
sabemos que somos responsáveis pelo bem-estar de alguém ou porque
utilizamos esses momentos para fortalecimento próprio, durante o
qual, de alguma forma, exercemos nosso “poder” sobre o outro, por-
que nos consideramos detentores do saber (e, portanto, do poder)
perante aqueles que necessitam de nosso auxílio.
Conhecer-se é fundamental. Compreender que muitas das ­dificuldades
que sentimos para lidar com os problemas, medos e sofrimentos
das pessoas idosas ocorrem porque, talvez, tenhamos as mesmas di-
ficuldades para lidar com nossos próprios medos e com nosso próprio
sofrimento.MarkPapas/istockphoto
Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas
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A construção de uma relação de ajuda
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Conhecer-se não é fácil, pois isso geralmente nos coloca
diante de questões que não queremos ou com as quais
não gostamos de nos confrontar. Tememos ser rejeitados,
julgados, cobrados, pegos em situações desfavoráveis,
correr riscos ou falhar e ter de admitir as falhas. Tememos,
sobretudo, tomar consciência de nosso verdadeiro “eu”
e descobrir que é preciso mudar nosso comportamento e
nossa vida. Somente com esse conhecimento pessoal po-
demos compreender o outro e, então, tentar estabelecer
uma relação de ajuda. É fundamental entender que aju-
dar é “dar de si”, já que envolve doação (de tempo,
­competência, saber, interesse), capacidade de escuta
e compreensão.
Situações de emergência que possam pôr em risco a vida
da pessoa idosa e mesmo as situações de substituição, na
qual o cuidador faz pelo idoso o que ele está temporária
ou permanentemente incapacitado de realizar, são exemplos
de ações que não estão em conformidade com a definição
e finalidades da relação de ajuda.
Nas relações de ajuda, auxiliamos as pessoas idosas a enfrentar e a
superar uma situação de crise com os recursos de que elas dispõem.
Tais situações manifestam-se de diferentes maneiras, mais ou menos
­explícitas e/ou penosas. A capacidade e o limite de cada idoso são
inerentes ao próprio idoso e construídos durante suas experiências
pessoais, cabendo ao cuidador a habilidade de reconhecê-los.
Embora toda relação de ajuda envolva comunicação, nem toda comu-
nicação é obrigatoriamente uma relação de ajuda. Quando o cuidador
pergunta à pessoa idosa sobre dados precisos (quantas vezes urinou no
dia, se tomou café pela manhã etc.), ela vai lhe dar uma resposta
precisa (desde que tenha capacidade de ouvir e compreender). Nesse
caso, ambos apenas circulam informações.
A segunda consideração a ser feita é a compreensão de que, em uma
relação de ajuda, o idoso é o principal detentor dos recursos para a
resolução das dificuldades ou demandas apresentadas. O estabeleci-
mento de uma relação de ajuda possibilita a ele identificar, sentir,
saber, escolher e decidir sobre suas ações (autonomia). Ao profissional
cuidador cabe auxiliá-lo a descobrir ou redescobrir capacidades e
potencialidades próprias, redirecionando suas energias para um novo
olhar sobre si mesmo, que, diante das circunstâncias, pode não exis-
tir ou estar muito deteriorado.
A principal ênfase da relação de ajuda é a dimensão afetiva do pro-
blema, pois muitas das desadaptações não ocorrem por falta de co-
nhecimento, e sim por insatisfações emocionais. Ela busca auxiliar a
pessoa idosa a compreender-se, a fazer escolhas de forma indepen-
dente e significativa e a fazer com que suas relações lhe sejam mais
satisfatórias. Essa relação visa, sobretudo, à melhoria da autoestima,
ao alcance da autorrealização, à promoção de conforto psicológico
e ao fornecimento do apoio necessário para se confrontar com as
próprias dificuldades existenciais.
Dessa forma, a relação de ajuda visa a auxiliar a pessoa idosa a:
Ultrapassar uma situação-limite.•	
Resolver uma situação atual ou potencial.•	
Encontrar um funcionamento pessoal mais satisfatório, aumentan-•	
do sua autoestima e seu sen-
timento de segurança e
diminuindo sua ansie-
dade ao mínimo.
Desenvolver atitudes•	
positivas pe-
rante suas
(in)capaci-
dades.
Nas relações de
ajuda, auxiliamos
as pessoas idosas a
enfrentar e a
superar uma
situação de crise
com os recursos de
que elas dispõem.
AlexanderRaths/istockphoto
Saimnadir/dreamstime.com
Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas
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A construção de uma relação de ajuda
47
Melhorar sua capacidade de comunicação e suas relações com os•	
outros.
Identificar o sentido para sua existência.•	
Manter um ambiente estimulante no que se refere aos níveis bio­•	
psicossociais.
Para desenvolver uma relação de ajuda, é fundamental que o cuidador
seja:
Preciso e objetivo no que lhe diz respeito e no que diz respeito aos•	
outros.
Capaz de respeitar-se e de respeitar os outros.•	
Congruente consigo mesmo e com a pessoa de quem cuida.•	
Empático.•	
Capaz de confrontar-se.•	
É importante destacar que, para ser um cuidador, a pessoa deve: re-
conhecer seus valores pessoais; ser capaz de analisar as próprias emo-
ções; estar apta a servir de modelo e a influenciar outros; ser altruísta;
desenvolver alto senso de responsabilidade em relação a si mesma e
aos outros; ser ética. Essas características auxilia-
rão a formação de interações mais abertas
entre cuidador e idosos, mantendo atitudes
positivas com o objetivo de alcançar a au-
tonomia em vez de controle.
No estabelecimento de uma relação de
ajuda, é necessário definir os objetivos
das duas partes envolvidas – cuidador
e pessoa idosa. Cabe ao cuidador:
Identificar com clareza os problemas•	
vivenciados pelo idoso.
Estabelecer conjuntamente com•	
idoso/família os objetivos concretos
e pertinentes.
Avaliar com o idoso suas capacidades e suas limitações.•	
Escolher os meios para ajudá-lo a atingir seus objetivos levando em•	
conta o sistema de valores do cliente.
Cabe à pessoa idosa/família:
Participar ativamente na definição dos objetivos.•	
Trabalhar um elemento de cada vez.•	
Iniciar pelo problema atual.•	
Características necessárias para construir
uma relação de ajuda
Capacidade de escuta
“Escutar” não é sinônimo de “ouvir”. Escutar é constatar por meio
do estímulo do sistema auditivo; é um processo ativo e voluntário
em que o indivíduo permite-se impregnar pelo conjunto de suas
percepções externas e internas. Na relação de ajuda, escutar repre-
senta um instrumento para compreender a pessoa idosa de forma a
poder determinar com precisão as intervenções necessárias. Ao es-
cutar a pessoa idosa, o cuidador pretende: mostrar-lhe sua impor-
tância; permitir que o idoso identifique suas emoções; auxiliá-lo na
identificação de suas necessidades e na elaboração de um planeja-
mento objetivo e eficaz para atender a elas. Para escutar de modo
eficiente, o cuidador deve:
Desejar estabelecer uma relação mais estreita com a pessoa idosa.•	
Escolher um local calmo que propicie a escuta.•	
Manter-se a uma distância confortável do idoso, mas que permita•	
boa visualização de ambos.
Procurar compreender não só a linguagem verbal, mas principal-•	
mente a não verbal da pessoa idosa.
Evitar julgamentos com base em valores pessoais.•	
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Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas
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A construção de uma relação de ajuda
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Reformular com o idoso, porém com as próprias palavras, o que ele•	
lhe referiu, validando sua compreensão.
Respeitar, compreender e interpretar o silêncio da pessoa idosa.•	
O silêncio pode traduzir a intensidade da procura da resposta con-
siderando tudo o que a precedeu; pode significar o medo ou o so-
frimento que impedem a elaboração de palavras ou, ao contrário,
uma alegria tão intensa que também não pode ser traduzida por
palavras. É a escuta do silêncio que exige a presença mais intensa e
mais verdadeira do cuidador, pois isso pode levá-lo ao encontro real
do que o outro vive de mais profundo. Silêncio não é sinônimo de
vazio nem ausência de relação; costuma ser rico em significados.
Para ser traduzido e transformado em instrumento de ajuda, deve
ser compreendido, respeitado, acolhido e nunca prematuramente
interrompido.
Escutar não é memorizar as palavras emitidas pela pessoa idosa; é
com­preendê-la, ver, apreender e sentir o contexto e os sentimentos
relacionados com o conteúdo das mensagens emitidas. Exige grande
empenho, vigilância sensorial, intelectual e emocional, o que conso-
me muita energia e requer preparo e amadurecimento. O cuidador
que de fato escuta o idoso reflete atentamente sobre o significado de
suas mensagens (verbais e não verbais), buscando o estabelecimento
de intervenções apropriadas às necessidades identificadas.
Escutas que não ajudam
Escuta inadequada•	 – O cuidador está mais atento às próprias re-
flexões que às do idoso, está distraído, tem “pressa” em responder
a ele ou identifica a situação descrita como familiar e faz um pro-
cesso de transferência.
Escuta apreciativa•	 – O cuidador faz juízos de valor durante a escu-
ta. Embora normal, essa atitude pode ser nociva. Para evitar isso, o
cuidador precisa desenvolver a habilidade de aceitar os idosos
e ­escutá-los objetivamente.
Escuta filtrada•	 – Relaciona-se a nossa defesa pessoal, ou seja, sele-
cionamos de modo inconsciente o que permitimos ou não entrar
em contato conosco e criamos barreiras que, mesmo involuntaria-
mente, deformam nossa capacidade de escutar. Isso pode ser evita-
do com o desenvolvimento de um profundo autoconhecimento.
Escuta compassiva•	 – Refere-se ao sentimento de compaixão desen-
volvido pelo cuidador em relação ao idoso que assiste. Tal atitude
pode deturpar a percepção dos fatos, gerando ações inadequadas.
Capacidade de clarificar
“Clarificar” quer dizer tornar claro, limpo ou puro. Na relação de
ajuda, significa ser capaz de delimitar mais precisamente o problema
em si e os envolvidos de maneira concreta e realista. Para tanto, o
cuidador deve ser capaz de auxiliar o idoso a refletir sobre seus pro-
blemas e a descrevê-los em toda a sua extensão, intensidade e com-
plexidade. Após escutá-lo, deve repetir com suas palavras a mesma
questão, permitindo, assim, sua reinterpretação.PamelaMoore/istockphoto
Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas
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A construção de uma relação de ajuda
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As perguntas “Quem?”, “O quê?”, “Onde?”, Como?” e “Por quê?”
auxiliam na clarificação, mas o uso indiscriminado do “por quê?”
pode despertar no idoso a necessidade de se justificar, geralmente
defendendo-se. Cada pergunta deve ter por objetivo auxiliar o idoso
a perceber com maior clareza o problema ou suas soluções.
A utilização, pelo cuidador, de generalizações, abstrações ou termos
imprecisos pode estar relacionada ao medo de enfrentar o problema.
Agindo dessa forma, o problema se torna maior. O cuidador não deve
usar linguagem intelectual, abstrata, impessoal e/ou vaga, pois isso
não auxilia a pessoa idosa a clarificar e precisar seu pensamento.
Capacidade de respeitar-se e de respeitar o idoso
O respeito é uma necessidade humana, uma qualidade,
um valor, uma atitude básica expressada pelo comporta-
mento. Respeitar alguém significa acreditar em sua unici-
dade, em sua capacidade de viver de forma satisfatória.
Respeitar-se significa ser verdadeiro consigo mesmo e com
os outros. Respeitar o idoso significa comunicar-lhe que
procuramos compreendê-lo como pessoa, com sua expe-
riência, seus valores e a situação que está vivenciando de
acordo com seu ponto de vista. Significa ainda identificar
suas capacidades e seu potencial remanescente e auxiliá-lo
a reconhecê-los e a utilizá-los para lidar com essas situações,
dando-lhe condições de resgatar o máximo de autonomia.
Será o idoso, no entanto, que decidirá utilizá-la ou não,
quer dizer, a palavra final é dele, e respeitá-lo significa
compreender e aceitar essa decisão mesmo que ela não
corresponda à expectativa do cuidador.
O respeito se manifesta por meio de atitudes e comporta-
mentos, ativos ou passivos. Estar com o idoso, querer
ajudá-lo e preocupar-se com seu bem-estar; considerá-lo
como ser único, independentemente de suas doenças ou limitações;
acreditar que ele é capaz de decidir sobre o próprio destino e acredi-
tar em sua boa vontade são exemplos de atitudes.
Os comportamentos expressam o significado e o valor do idoso para
o cuidador. Ser capaz de estabelecer uma relação que envolva escuta
e presença física atentas; aceitar o idoso incondicionalmente, evitan-
do juízos críticos; demonstrar empatia, afeto e cordialidade; ­auxiliá-lo
a desenvolver seus recursos pessoais, encorajando-o, motivando-o e
apoiando-o e não agindo por ele; manifestar compreensão e dedicação
são exemplos de comportamentos respeitosos.
Enumeramos, a seguir, alguns exemplos de como o cuidador pode
demonstrar respeito pelo idoso:
Mostrar que o aprecia como pessoa, respeitando sua idade e sua•	
personalidade.
Não utilizar linguagem infantilizante ou demasiadamente familiar.•	
Chamá-lo pelo nome (nome próprio ou apelido, desde que tenha•	
autorização para tanto) e tratá-lo por senhor ou senhora.
Cumprimentá-lo ao chegar e sempre que ele adentrar o recinto em•	
que o cuidador estiver.
Dedicar-se inteiramente a ele quando da execução de algum cuida-•	
do, procurando não se distrair com outros estímulos (televisão,
rádio etc.) e evitando interrupções por telefone.
Evitar demonstrar compaixão. A piedade não é sinal de respeito e•	
não ajuda, sobretudo os idosos.
Mostrar-se confiante no potencial e nas capacidades do idoso, va-•	
lorizando-as de forma construtiva e realista.
Demonstrar apoio afetivo.•	
Respeitar a intimidade do idoso e a confidencialidade da conversa•	
e compartilhar informações apenas com sua prévia autorização.
Aguardar as respostas e as decisões da pessoa, que podem ser mais•	
demoradas, e não apressá-la.
Respeitar o
idoso significa
comunicar-lhe
que procuramos
compreendê-lo
como pessoa, com
sua experiência
e valores.
AlexandruKacso/istockphoto
Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas
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A construção de uma relação de ajuda
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Planejar conjuntamente com o idoso as atividades de cuidado,•	
perguntando sua opinião e buscando segui-la.
O respeito na relação de ajuda auxilia na elevação da autoestima e do
autoconceito, que, em muitos idosos mais dependentes, podem estar
rebaixados.
Obstáculos ao respeito
Comportamentos punitivos e reprovadores.•	
Juízos de valor.•	
Utilização de frases feitas (despersonalização da relação).•	
Escuta falsa, não centrada no idoso.•	
Linguagem infantilizante (muito frequente no tratamento com•	
idosos).
Negação da experiência e das emoções do idoso.•	
Não valorização das capacidades do idoso.•	
Capacidade de ser congruente
“Congruência” significa harmonia, coerência de algo com o fim a
que se destina. Possibilita ao idoso a existência de concordância
entre seu ser e sua experiência e sua expressão em seu comporta-
mento. É, em outras palavras, a capacidade de ser autêntico. A
pessoa que não possui essa competência separa-se de seu verdadeiro
“eu”, reduzindo sua identidade aos papéis que desempenha. Pode,
assim, sentir-se insatisfeita e dividida.
A autenticidade do cuidador pode se
manifestar: por sua espontaneidade;
valorização de seu papel; coerência
e capacidade de compartilhar
­experiências.
Estes são os obstáculos à autentici-
dade: atitude defensiva; não mani-
festação dos próprios sentimentos;
ser inconveniente (a relação profissional exige tato e juízo crítico);
atitudes pessimistas.
Para desenvolver congruência e autenticidade, o cuidador deve apri-
morar o autoconhecimento e o autorrespeito, obter segurança interior,
evitando esconder-se atrás de um papel social, e observar atentamen-
te seu comportamento não verbal, buscando a coerência entre o que
diz e o que demonstra.
Capacidade de ser empático
“Empatia” é a capacidade de se colocar no lugar do outro e sentir
como se estivesse na situação e circunstâncias experimentadas por ele
sem, no entanto, perder o próprio sistema de referência. É, portanto,
a base de toda relação de ajuda. Para que o cuidador seja empático,
ele deve ser capaz de:
Aproximar-se da situação que o idoso está vivenciando.•	
Desenvolver a capacidade de colocar-se no lugar dele, buscando ver•	
o mundo como ele vê, o que não significa fazer suas as emoções e
a vivência do outro, porque a diferenciação é fundamental na rela-
ção de ajuda.
Ter consciência de que o problema é do idoso.•	
Só assim o cuidador será capaz de identificar e compreender de forma
verdadeira o conteúdo das mensagens da pessoa idosa, pois estará em
posição de ver o mundo do mesmo prisma que ela o vê.
A empatia pode ser desenvolvida por uma personalidade afetuosa e
flexível; pela capacidade de generalizações relativas às experiências de
vida; pela capacidade de tolerar e utilizar o silêncio na relação; por
semelhanças de experiências e vivências; pela disponibilidade e escu-
ta atenta; pela tolerância ao estresse; por experiências de vida variadas,
propiciando maior flexibilidade e espontaneidade; pela autoafirmação;
pelo uso de linguagem apropriada e pela capacidade de compreender
a linguagem simbólica utilizada pelo idoso.
GalinaBarskaya/istockphoto
Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas
54
A construção de uma relação de ajuda
55
Na relação de
ajuda, a
confrontação
só deve ser
utilizada
quando existe
entre cuidador
e idoso um
verdadeiro clima
de confiança.
A empatia, por si só, não soluciona os problemas do idoso como
se fosse um passe de mágica; constitui-se em um meio para fazer
com que ele não se sinta solitário diante deles. Ao perceber que
alguém entende a dimensão que os problemas tomam em sua vida,
sente-se mais confortável e, assim, pode canalizar sua energia na
resolução deles com o apoio daquele com quem mantém uma re-
lação de ajuda.
Capacidade de confrontação
“Confrontar” significa colocar frente a frente, defrontar, comparar;
não envolve disputa como “afrontar”. A confrontação origina-se na
empatia e no respeito ao idoso e é uma manifestação suplementar à
congruência do cuidador. A confrontação permite ao idoso estabele-
cer um contato mais profundo com seu interior, com aquilo que ele
de fato é, com suas forças e seus recursos, assim como com suas fra-
quezas e comportamentos prejudiciais. Na relação de ajuda, a con-
frontação só deve ser utilizada quando existe entre cuidador e idoso
um verdadeiro clima de confiança. O cuidador que pretende ­utilizá-la
deve fazer uma avaliação acurada do estado geral do idoso.
A confrontação exige do cuidador habilidade e tato. Ele vai con-
frontar não o idoso, mas seu comportamento, descrevendo-o sem
emissão de julgamentos, pois isso, nesse momento,
poderia representar demonstração de desrespeito, le-
vando a pessoa idosa a assumir uma postura defensiva.
No entanto, nem sempre a confrontação é reconheci-
da como instrumento de ajuda pelo idoso. Caso ele
resista a essa forma de intervenção, convém não insis-
tir, aguardando ocasião mais oportuna para fazê-lo.
Quando a relação não é de ajuda?
Muitas vezes, os cuidadores querem estabelecer uma
relação de ajuda adequada, mas se frustram com seus
resultados. Listaremos, a seguir, algumas intervenções
que costumam ser muito utilizadas, mas que normal-
mente não respondem às necessidades de ajuda dos
indivíduos.
Dar ordens sem avaliar o contexto que envolve as•	
­situações (pode levar o idoso a ter de negar suas emo-
ções traduzidas por seu comportamento).
Fazer ameaças (“Se não cumprir as orientações, não•	
viremos mais visitá-lo...”). Em geral esse com-
portamento acrescenta mais um elemento, o
medo, à problemática apresentada pela
pessoa.
Censurar o idoso, adverti-lo de forma•	
contundente (representa uma afirmação
de sua incapacidade de discernir entre
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Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas
56
A construção de uma relação de ajuda
57
o certo e o errado, entre o bem e o mal, colocando-o como
incapaz de resolver seus problemas).
Dar soluções (não permite ao idoso refletir sobre seu•	
problema e sobre sua potencialidade de ação).
Argumentar logicamente (“O problema voltou, obvia-•	
mente, porque o(a) senhor(a) não seguiu as orientações
que dei...”), pois pode colocar o idoso em uma situação
desconfortável, fazendo-o sentir-se um tolo, incapaz de
seguir recomendações.
Julgar e criticar (utilizando o próprio sistema de valores),•	
porque pode levar o idoso a não mais confiar no cuidador
por não se sentir compreendido por ele.
Aprovar, lisonjear (“Desta vez tomou a•	
decisão correta...”). Isso pode desenvolver
no idoso o receio de não ser aprovado em
outras situações pelo julgamento do cui-
dador e, caso se arrependa da decisão
tomada, não se sentirá confortável em
compartilhar tal sentimento com ele.
Analisar e interpretar (“Cada vez que o(a)•	
senhor(a) quer a atenção de seus filhos,
comporta-se como se estivesse muito
doente...”). Se a interpretação for verda-
deira, o idoso pode sentir-se “apanhado”,
o que será insustentável; se não for cor-
reta, pode sentir-se acusado ou incom-
preendido.
Consolá-lo (“Não se preocupe, isso vai•	
passar...”). O idoso pode interpretar que o
cuidador minimiza a importância de seu
problema e, portanto, não haverá solução
para isso.
Fazer muitas perguntas fechadas (“Onde?”, “Quando?”, “Como?”,•	
“Por quê?”). O idoso pode sentir-se interrogado.
Gracejar. O gracejo muitas vezes é colocado para minimizar uma•	
situação tensa, ao criar um clima mais agradável. No entanto, a
utilização deve ser bem estudada pelo cuidador, pois sua inadequa-
ção pode levar o idoso a pensar que o cuidador não leva a sério seu
problema ou suas necessidades ou ainda que não o respeita.
Ridicularizar (“Assim o(a) senhor(a) está agindo como uma crian-•	
cinha...”). Pode levar o idoso a sentir-se desvalorizado ou desrespei-
tado e gerar respostas agressivas.
A relação de ajuda, quando adequadamente estabelecida, permitirá ao
idoso e a seus familiares a identificação de recursos próprios disponíveis
para superar os problemas que estão vivenciando, fortalecendo-os para
situações futuras. Esse tipo de intervenção está diretamente associado
à qualidade do cuidado prestado, uma vez que procura auxiliar o
idoso em todas as suas dimensões de ser humano.
“CUIDAR É AJUDAR.”
Julgar e criticar
utilizando o
próprio sistema
de valores pode
levar o idoso
a não mais confiar
no cuidador por
não se sentir
compreendido
por ele.
SherylGriffin/istockphoto
58 59
Capítulo 3
Atitudes, mitos e estereótipos
relacionados ao envelhecimento e
ao cuidado com a pessoa idosa
A vida segue um curso muito preciso e a natureza dota,
cada idade, de finalidades próprias. Por isso, a fraqueza
das crianças, o ímpeto dos jovens, a seriedade dos adultos,
a maturidade dos velhos são coisas naturais que devemos
apreciar cada uma a seu tempo.
Cícero.
buindo a cada indivíduo, conforme sua idade, determinada tarefa
na produção. Nos grupos de sociedade rural existiam também fun-
ções sociais diferenciadas para cada idade.
No período pré-industrial, em que as sociedades eram compostas
essencialmente por camponeses e artesãos, o trabalhador rural vivia
em seu local de trabalho, em que se confundiam as tarefas domésticas
e produtivas. Entre os artesãos altamente qualificados, a capacidade
crescia com a experiência e, portanto, com o avançar dos anos. Nas
profissões em que a qualificação ou a habilidade declinava com a
idade havia uma divisão de trabalho que permitia adaptar as tarefas
às possibilidades de cada um. Ao se tornar inteiramente incapaz, o
velho continuava a viver no seio da família, que lhe assegurava a
subsistência.
Nas sociedades tradicionais, a figura patriarcal ganhava destaque para
que não desmoronasse o mito de uma velhice reverenciada. Já nas
D
esde a Antiguidade, filósofos, como Cícero, demonstravam
interesse e preocupação com o envelhecer e com os velhos.
Sem dúvida, esses pensamentos acompanharam o processo
histórico da civilização, sofrendo adequações aos valores de cada
época e de cada cultura em particular.
Em seu livro A velhice, Simone de Beauvoir descreve as condições de
vida do idoso em diversas culturas, das primitivas às con-
temporâneas. Segundo ela, “ao perder a capacidade de
produção, o velho torna-se apenas um objeto sem utilida-
de, transforma-se em encargo, com um estatuto que lhe é
imposto pelos mais jovens”.
Nas sociedades agrícolas tradicionais, a orga-
nização se fazia de acordo com as categorias
de idade. O fundamento dessa organização
era a atividade econômica familiar, atri-
Camponeses diante de um albergue, 1653, de Jan Steen (Toledo Museum of Art, EUA).
Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas
60
Atitudes, mitos e estereótipos relacionados ao envelhecimento e ao cuidado com a pessoa idosa
61
modernas sociedades urbanas e industriais, o trabalhador
nem sempre mora próximo a seu local de trabalho, e a
família em geral não tem relação com sua atividade pro-
dutiva. Nessas sociedades, a família patriarcal é substituí-
da pela família nuclear, e o patrimônio coletivo, pelo
projeto de vida individual. A perda da capacidade produ-
tiva e o desengajamento do mundo do trabalho constituem
marcos significativos na vida do cidadão, apontando para
um futuro incerto e diferenciado segundo a condição so-
cioeconômica e de gênero.
Esse processo histórico contribuiu para que a velhice, na
sociedade moderna, venha se caracterizando como uma
fase da vida para a qual raramente existem projetos
­pessoais e em que se observa grande declínio na parti­
cipação social.
Na história da civilização, para cada época encontram-se diferentes
atitudes em relação à velhice, interferindo de forma significativa no
estabelecimento de relações intergeracionais, tanto no nível familiar
como no comunitário.
Embora o contingente de pessoas idosas na sociedade contemporânea
seja expressivo, sua experiência de vida não conta de forma decisiva
para o equilíbrio e a organização social.
Atitudes, mitos e estereótipos
O mito é uma representação simbólica que não se baseia na realida-
de. Manifesta-se por frases e expressões feitas (ex.: “idade do condor”)
ou por eufemismos que têm a ver, exclusivamente, com a idade
(ex.:“idade de ouro”, “melhor idade”), que muitas vezes podem es-
conder hostilidade.
O mito da aposentadoria reflete bem os novos va-
lores da sociedade contemporânea. Na visão que ele
evoca, a aposentadoria marcaria uma “nova fase da
vida”, caracterizada pela “liberdade do uso do tem-
po”, possibilitando a fruição de bens e serviços da
sociedade.
Na realidade, o que se observa é que a aposentado-
ria não significa apenas o direito ao desengajamen-
to remunerado do trabalho, mas o início de um
processo de isolamento social. Constata-se parado-
xalmente que, ao mesmo tempo que os avanços
tecnológicos permitiram o prolongamento dos anos
de vida, a sociedade e o Estado retiraram das pes-
soas quase todos os seus papéis e funções sociais.
Outro mito da sociedade contemporânea é o de que
as famílias cuidam de seus idosos mais dependentes.
Tanto isso é um mito que o Estatuto do Idoso pas-
sou a considerar a não assistência da família como
“crime”. Uma pesquisa populacional que estudou
as condições de vida e saúde dos idosos residentes
no município de São Paulo – Estudo Sabe (Saúde,
Bem-Estar e Envelhecimento) – verificou que, en-
tre as pessoas idosas que apresentavam dificuldades
no desempenho de atividades básicas de vida diária
e que, portanto, necessitavam de um cuidador pre-
sencial, apenas cerca de 50% recebiam auxílio em
suas necessidades, independentemente
do tipo de arranjo considerado.1
Na sociedade moderna, a crescente entrada das
mulheres no mercado de trabalho, antes as princi-
pais cuidadoras de seus parentes idosos, vem desfa-
Estudo da cabeça de um homem velho,
1610, de Peter Paul Rubens (Museum
of Art History, Viena, Áustria).
Velho orando, 1881, de Julian Falat
(National Museum, Varsóvia, Polônia).
Na história da
civilização, para
cada época
encontram-se
diferentes atitudes
em relação à
velhice,
interferindo de
forma significativa
no estabelecimento
de relações
intergeracionais,
tanto no nível
familiar como no
comunitário.
1. Disponível em: http://
www.fsp.usp.br/sabe.
Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas
62
Atitudes, mitos e estereótipos relacionados ao envelhecimento e ao cuidado com a pessoa idosa
63
atuais pelo seu descaso pela velhice e, por meio desse sentimento, esti-
mulássemos os mais novos ao auxílio e cooperação aos mais velhos
(Magalhães, 1987).
Os mitos contribuem para a formação de atitudes e comportamentos.
Atitude é uma disposição em relação a uma pessoa ou grupo, um
conjunto de juízos que conduz a um comportamento, que nos leva
a agir. Pode ser favorável ou desfavorável (dependendo das experiên-
cias ou informações prévias).
As crenças são um conjunto de informações sobre um
assunto ou pessoa(s). Determina nossas atitudes, nossas
intenções e nossos comportamentos. Formam-se com
base em informações que recebemos direta ou indire-
tamente. Já o estereótipo é um “chavão”, uma opinião
formada, em geral desprovida de qualquer originalida-
de. É uma percepção automática não adaptada à situa­
ção, reproduzida sem variantes, segundo um padrão
bem determinado, que pode ser positivo ou negativo.
Embora a mídia, com frequência, aborde questões re-
lacionadas ao envelhecimento, ela ainda o faz de ma-
neira aureolada, distanciando-o da realidade de nossos
velhos. Nossa sociedade continua tratando o envelhe-
cimento como assunto a ser evitado. Predomina ainda
a forte crença de que a velhice está associada a doen-
ça, deterioração e morte, mesmo que as pesquisas ve-
nham, insistentemente, mostrando o contrário.
O envelhecimento é um processo, faz parte do ciclo de
vida. Tem seus problemas e dificuldades, mas também
seus aspectos positivos e compensações. Em decorrência
do estereótipo social e do hábito de evitar falar sobre o
envelhecimento e sobre a velhice, muitas ideias falsas e
erros de concepção sobre os idosos ainda são divulgados.
zendo o mito de imaginar que a família, centrada na figura feminina,
pode sozinha cuidar de seus idosos, sobretudo os que perderam ou
estão em via de perder a autonomia.
A sociedade industrial e de serviços estimula mitos que sejam úteis
à manutenção de seu equilíbrio e possam encaminhar soluções para
os desafios da modernidade. Um deles é o de que em todas as so-
ciedades pré-industriais o idoso era respeitado e venerado, graças a
seus conhecimentos e saberes acumulados. Esse mito tem a função
de estimular a família a cuidar de seus idosos improdutivos e
­dependentes.
É como se, incentivando a ideia mítica de que o homem vivia bem e
era bem tratado na sociedade tradicional, culpabilizássemos as gerações
Predomina
ainda a forte
crença de
que a velhice
está associada
a doença,
deterioração
e morte,
mesmo que
as pesquisas
venham mostrando
o contrário.
A Escola de Atenas, 1509-1510, de Raphael, afresco, Palácio Apostólico, Vaticano.
istockphoto
Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas
64
Atitudes, mitos e estereótipos relacionados ao envelhecimento e ao cuidado com a pessoa idosa
65
Atitudes negativas relacionadas ao envelhecimento baseiam-se par-
cialmente em informações equivocadas de como os idosos realmen-
te são. Isso é tão forte em nossa sociedade que originou o termo
“ageism” (sem tradução no Brasil), que significa um processo siste-
mático de discriminação contra as pessoas idosas exclusivamente
porque são velhas, assim como racismo e sexismo referem-se a ati-
tudes preconceituosas com relação à cor da pele e ao gênero. As
pessoas idosas são categorizadas como senis, rígidas em suas atitudes,
desatualizadas moral e socialmente, devendo, portanto, ser excluídas
do convívio social.
Algumas ideias preconcebidas sobre a velhice e sobre as pessoas ido-
sas ainda predominam em nossa sociedade e podem contribuir para
a formação de mitos e estereótipos que podem se traduzir em atitudes
não adequadas no cuidado com a pessoa idosa (Domingues e Queiroz,
2000). São elas:
A maioria dos idosos é doente e, por ser doente, tem necessidade•	
de ajuda para desenvolver as atividades cotidianas.
Muitas pessoas idosas veem a si mesmas como saudáveis. Elas têm uma
vida completa e ativa. Embora muitas sejam portadoras de, pelo menos,
uma doença crônica, elas aprenderam a manejar seus cuidados de saú-
de e a viver produtivamente dentro das limitações impostas pela doença.
Em São Paulo, o Estudo Sabe mostrou que
mais de 80% das pessoas idosas são
completamente independentes no
desempenho de suas atividades coti-
dianas, mesmo possuindo uma ou mais
doenças crônicas.
A maior parte deles é solitária e infeliz.•	
Para alguns deles isso é verdade, mas isso ocorre na mesma
probabilidade em que situação semelhante pode afetar os
adultos jovens ou de meia-idade. Isso quer dizer que ser soli-
tário e infeliz não é uma característica do envelhecimento, mas
sim do ser humano. Muitos idosos são ativos, felizes e encontram
prazer com os amigos e com a família. Outros, em virtude do maior
tempo livre, engajam-se em atividades voluntárias que lhes tragam
satisfação pessoal.
Os idosos são conservadores em seus hábitos de vida e incapazes•	
de mudar.
As pessoas idosas acumularam experiências diversas em sua vida
e lidam com as situações novas com mais prudência e menos impulsivi-
dade que as gerações mais jovens. Normalmente, elas se dispõem
a discutir uma proposta nova desde que tenha bom embasamento e
excelente argumentação.
Muitos idosos são confusos e desinteressados em relação ao mundo•	
a sua volta.
A maioria das pessoas idosas tem interesse no mundo a sua volta. Parte
delas é culta, articulada e desejosa de aprender. Apenas uma pequena
A passagem noroeste, 1874, de John Everett Millais (Tate Gallery, Londres).
waltercraveiro
Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas
66
Atitudes, mitos e estereótipos relacionados ao envelhecimento e ao cuidado com a pessoa idosa
67
parcela delas sofre de demência e problemas de saúde que afetam a
memória.
Os velhos são improdutivos e representam um segmento inútil em•	
nossa sociedade.
São incontáveis as contribuições das pessoas idosas em nossa sociedade.
Muitas descobrem talentos na idade avançada dos quais não tinham
consciência em sua juventude. Por outro lado, os idosos são responsáveis
pela manutenção de muitas famílias atualmente. Algumas cidades, em
especial no Nordeste, sobrevivem quase exclusivamente das aposentado-
rias e pensões dos idosos.
Todo velho é “ranzinza”.•	
Essa não é uma característica exclusiva da pessoa idosa. O adjetivo
apenas muda com o avançar da idade. Quando se trata de um adoles-
cente, em geral esse adjetivo é atribuído às características da idade e,
assim, aceito. As pessoas tendem, apenas, a acentuar suas
características ao envelhecer.
Todo velho é assexuado.•	
O interesse e a atividade sexual são importantes na vida
do ser humano de qualquer idade. Ter uma companhia e
manter relações íntimas é essencial na vida das pessoas, in-
cluindo os idosos.
Os mitos e as crenças repercutem nas atitudes dos pro-
fissionais e dos cuidadores. Assim:
Quem não considera os idosos diferentes entre si é•	
incapaz de estabelecer intervenções específicas.
Quem considera os idosos intransigentes e passivos não lhes dá•	
oportunidade de emitirem opiniões.
Quem considera os idosos conservadores e incapazes de mudanças•	
não permite que eles se adaptem a novas situações ou tentem novos
comportamentos.
Aquele que nega aos idosos sua autonomia nega-lhe o direito a•	
envelhecer dignamente.
Assim, é fundamental que a primeira abordagem dos cursos de cui-
dadores esteja relacionada à identificação de mitos, preconceitos e
atitudes que eles adotam em relação aos idosos e à velhice. Será com
base nesse conhecimento – identidade do grupo – que serão escolhi-
das as estratégias pedagógicas mais adequadas para trabalhar as temá-
ticas polêmicas.
A primeira
abordagem dos
cursos de
cuidadores deve
identificar mitos,
preconceitos e
atitudes que
eles adotam em
relação aos idosos
e à velhice.
waltercraveiro
Centro de Referência do Idoso José Ermírio de Moraes (Crijem).
68 69
Facilitando o desenvolvimento de atividades de vida diária: sono e repouso
que inclui: eletroencefalograma, que é a avaliação das características
da atividade elétrica cerebral; eletro-oculograma, que consiste no re-
gistro de diferenças de potencial entre a retina e a córnea, geradas
pelos movimentos oculares e captadas por eletrodos colocados ao redor
dos olhos, permitindo a identificação do estágio de sono paradoxal ou
REM (rapid eyes movement, sono de movimentos oculares rápidos);
eletromiograma das regiões submentoniana e tibial anterior, para
identificar o sono paradoxal e alguns distúrbios (ex.: mioclono notur-
no – “chutes” durante o sono); e parâmetros como fluxo aéreo nasal
e oral, esforço respiratório, eletrocardiograma e oximetria transcutânea
contínua, que contribuem para a identificação de distúrbios respira-
tórios que ocorrem durante o sono (ex.: apneia do sono), entre outros
problemas. A polissonografia exige que a pessoa durma em um labo-
ratório especialmente equipado para sua realização.
O sono como ritmo biológico
O mundo se organiza em torno de uma periodicidade de 24 horas,
determinada pelo movimento de rotação da Terra. Nossos ritmos
biológicos mais conhecidos têm periodicidade semelhante e são cha-
mados de ritmos circadianos (do latim circa diem, em torno de um
dia). O ciclo vigília-sono é um ritmo circadiano.
Os seres vivos organizam seus ritmos biológicos de acordo com pistas
temporais, chamadas de sincronizadores, de origem geofísica
ou social, provenientes do meio em que vivem. As de
origem geofísica são, por exemplo, a alternância entre o
claro (dia) e o escuro (noite) e as estações do ano, e as
de origem social são representadas, entre outros, pelos
horários de diversos compromissos sociais, como tra-
balho e escola. Essas “pistas” contribuem para a orga-
nização da ritmicidade biológica, para a expressão de
determinado padrão de sono.
O
sono é uma necessidade básica dos seres humanos e, portan-
to, tem influência em sua qualidade de vida. Nesse aspecto,
importante papel é atribuído à qualidade do sono.
Sabe-se que a experiência de um sono insatisfatório ou insuficiente é
muito desagradável, refletindo no desempenho da pessoa em suas
atividades diárias, comportamento e bem-estar. Particularmente para
os idosos, as perturbações do sono também representam fatores de
risco ligados à institucionalização e à mortalidade.
O sono é constituído por diferentes estágios, de acordo com a frequên­
cia e a amplitude típicas das ondas elétricas cerebrais geradas duran-
te o fenômeno. A organização e a proporção que ocupam os vários
estágios são conhecidas como arquitetura intrínseca do sono, que se
modifica com o envelhecimento.
Um exame que tem sido considerado essencial para a análise ­detalhada
da arquitetura do sono e de distúrbios ligados a ele é a polissonografia,
Capítulo 4
Facilitando o desenvolvimento
de atividades de vida diária: sono
e repouso
PaulVasarhelyi/istockphoto
Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas
70 71
O ciclo vigília-sono (períodos de sono e de vigília ao longo das 24
horas) sofre importantes modificações durante o desenvolvimento
do indivíduo. Nos bebês, o sono é fragmentado ao longo do dia e da
noite; os adultos, em geral, dormem apenas durante a noite, exibin-
do um padrão chamado de monofásico; e as pessoas idosas costumam
apresentar um padrão de sono mais fragmentado, com episódios
ocorrendo durante o dia e a noite, em diferentes proporções.
Padrão de sono e suas modificações
com o envelhecimento
Em um indivíduo adulto jovem sem problemas de saúde, uma típica
noite de sono pode ser dividida em ciclos que se repetem quatro ou
cinco vezes e cuja duração média/ciclo é de 70 a 100 minutos. Um
ciclo típico é constituído pelos vários estágios do sono sincronizado
(estágios 1, 2, 3 e 4), seguidos por um período de sono paradoxal
(ex.: estágios 1, 2, 3, 4, 3, 2, eventualmente estágio 1 mais uma vez
e sono paradoxal).
Estágio 1•	 (5% do sono) – É uma transição entre a vigília e a sono-
lência, em que predominam ondas cerebrais de baixa amplitude e
alta frequência.
Estágio 2•	 (45% do sono) – Também chamado de sono superficial,
apresenta ondas de frequência rápida e poucas ondas mais lentas,
além de fusos de sono e os complexos K.
Estágio 3•	 (7% do sono) – Contém cerca de 20% a 50% de ondas
delta, ou ondas lentas, que são ondas cerebrais de baixa frequência
e grande amplitude.
Estágio 4•	 (13% do sono) – São encontradas ondas delta em pro-
porção superior a 50%.
Assim, os estágios 3 e 4 constituem o denominado sono profundo,
em que, para ser despertado, o indivíduo necessita de um estímulo
externo muito intenso. À medida que o sono progride, diminui a
ocorrência desses estágios, que predominam na primei-
ra metade de uma noite típica de sono.
O sono paradoxal (sono REM), associado aos sonhos,
acontece a intervalos regulares (cada 90 minutos), ocu-
pando cerca de 20% a 30% do período total de sono.
Ele e o estágio 2 predominam na segunda metade de
uma noite típica de sono.
Com o envelhecimento, esse padrão sofre algumas
­modificações:
Diminuição da duração relativa e absoluta do sono•	
de ondas delta (sono profundo).
Aumento relativo e absoluto da duração dos estágios 1 e 2 (sono•	
superficial).
Alterações na organização temporal do sono paradoxal e diminuição•	
de sua duração.
Maior número de transições de um estágio para o outro, inclusive•	
para a vigília, e maior número de interrupções no sono.
A eficiência do sono é a proporção entre o tempo que uma pessoa
consegue realmente dormir e o tempo despendido na cama com esse
objetivo. Constitui um parâmetro fundamental na avaliação da qua-
lidade do sono. Seu cálculo pode ser feito da seguinte maneira:
As pessoas idosas
costumam
apresentar
um padrão
de sono
fragmentado,
com episódios
ocorrendo
durante
o dia e a noite.
LisaKyleYoung/istockphoto
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Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas

  • 1. Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas
  • 2. GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO José Serra Governador Rita Passos Secretária Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social Nivaldo Campos Camargo Secretário Adjunto Carlos Fernando Zuppo Franco Chefe de Gabinete
  • 3. Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social – SEADS Departamento de Comunicação Institucional – DCI Paulo José Ferreira Mesquita Coordenador Coordenadoria de Gestão Estratégica – CGE Cláudio Alexandre Lombardi Coordenador Coordenadoria de Ação Social – CAS Tânia Cristina Messias Rocha Coordenadora Coordenadoria de Desenvolvimento Social – CDS Isabel Cristina Martin Coordenadora Coordenadoria de Administração de Fundos e Convênios – CAF Carlos Alberto Facchini Coordenador Fundação Padre Anchieta Paulo Markun Presidente Fernando Almeida Vice-Presidente Coordenação Executiva – Núcleo de Educação Fernando Almeida Fernando Moraes Fonseca Jr. Mônica Gardeli Franco Coordenação de Conteúdo e Qualidade Gabriel Priolli Coordenação de Produção – Núcleo de Eventos e Publicações Marilda Furtado Tissiana Lorenzi Gonçalves uma realização Equipe de Produção do Projeto Coordenação geral Áurea Eleotério Soares Barroso Seads Fernando Moraes Fonseca Jr. Fundação Padre Anchieta Desenvolvimento Seads Elaine Cristina Moura Ivan Cerlan Janete Lopes Márcio de Sá Lima Macedo Organização dos conteúdos/textos Áurea Eleotério Soares Barroso Colaboradores Clélia la Laina, Edwiges Lopes Tavares, Izildinha Carneiro, Ligia Rosa de Rezende Pimenta, Maria Margareth Carpes, Marilena Rissuto Malvezzi, Paula Ramos Vismona, Renata Carvalho, Rosana Saito, Roseli Oliveira Produção editorial Maria Carolina de Araujo Coordenação editorial Marcia Menin Copidesque e preparação Paulo Roberto de Moraes Sarmento Revisão Projeto gráfico, arte, editoração e produção gráfica Mare Magnum Artes Gráficas Ilustrações Adriana Alves
  • 4. [...] nós envelheceremos um dia, se tivermos este privilégio. Olhemos, portanto, para as pessoas idosas como nós seremos no futuro. Reconheçamos que as pessoas idosas são únicas, com necessidades e talentos e capacidades individuais, e não um grupo homogêneo por causa da idade. Kofi Annan, ex-secretário-geral da ONU. Prezado(a) leitor(a), Temos a grata satisfação de fazer a apresentação deste material elaborado pela Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social de São Paulo (Seads) e pela Fundação Padre Anchieta – TV Cultura. Um dos objetivos do Plano Estadual para a Pessoa Idosa do Governo do Estado de São Paulo – Futuridade, coordenado pela Seads, é propiciar formação permanente de profissionais para atuar com a população idosa, notadamente nas Diretorias Regionais de Assistência Social (Drads). No total, esta série contém dez livros e um vídeo, contemplando os seguintes conteúdos: o envelhecimento humano em suas múltiplas dimensões: biológica, psicológica, cultural e social; legislações destinadas ao público idoso; informações sobre o cuidado com uma pessoa idosa; o envelhecimento na perspectiva da cidadania e como projeto educativo na escola; e reflexões sobre maus-tratos e violência contra idosos. Direitos de cópia Serão permitidas a cópia e a distribuição dos textos integrantes desta obra sob as seguintes condições: devem ser dados créditos à SEADS – Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo e aos autores de cada texto; esta obra não pode ser usada com finalidades comerciais; a obra não pode ser alterada, transformada ou utilizada para criar outra obra com base nesta; esta obra está licenciada pela Licença Creative Commons 2.5 BR (informe-se sobre este licenciamento em http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.5/br/) As imagens fotográficas e ilustrações não estão incluídas neste licenciamento. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Duarte, Yeda Aparecida de Oliveira Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas / Yeda Aparecida de Oliveira Duarte ; [coordenação geral Áurea Eleotério Soares Barroso]. -- São Paulo : Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social : Fundação Padre Anchieta, 2009. Bibliografia. 1. Administração pública 2. Cidadania 3. Envelhecimento 4. Idosos - Cuidados 5. Planejamento social 6. Política social 7. Políticas públicas 8. Qualidade de vida 9. Serviço social junto a idosos I. Barroso, Áurea Eleotério Soares. II. Título. 09-09500 CDD-362.6 Índices para catálogo sistemático: 1. São Paulo : Estado : Idosos : Estado e assistência e desenvolvimento social : Bem-estar social 362.6 2. São Paulo : Estado : Plano Estadual para a Pessoa Idosa- Futuridade : Bem-estar social 362.6
  • 5. Com esta publicação, destinada aos profissionais que desenvolvem ações com idosos no Estado de São Paulo, o Futuridade dá um passo importante ao disponibilizar recursos para uma atuação cada vez mais qualificada e uma prática baseada em fundamentos éticos e humanos. Muito nos honra estabelecer esta parceria entre a Seads e a Fundação Padre Anchieta – TV Cultura, instituição que acumula inúmeros prêmios em sua trajetória, em razão de serviços prestados sempre com qualidade. Desejo a todos uma boa leitura. Um abraço, Rita Passos Secretária Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas
  • 6. Yeda Aparecida de Oliveira Duarte é professora livre-docente da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP), gerontóloga e criadora do pri- meiro curso de graduação em Gerontologia do Brasil, na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP (EACH/USP). Sumário Capítulo 1 Eixos norteadores para cursos de formadores de cuidadores de pessoas idosas e de cuidadores de pessoas idosas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 Formadores de cuidadores de pessoas idosas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 I. Quem se quer formar?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 II. Por que se quer ou necessita formar essas pessoas?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 III. Quem será o formador e como se preconiza o ensino?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 IV. O que é necessário ensinar nos cursos de formadores e de cuidadores?. . . . . . . . . 30 Cursos de formadores de cuidadores de pessoas idosas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 Cursos de cuidadores de pessoas idosas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 Capítulo 2 A construção de uma relação de ajuda. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 Primeiros passos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 Características necessárias para construir uma relação de ajuda . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 Capacidade de escuta. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 Capacidade de clarificar. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 Capacidade de respeitar-se e de respeitar o idoso. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 Capacidade de ser congruente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52 Capacidade de ser empático. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 Capacidade de confrontação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 Capítulo 3 Atitudes, mitos e estereótipos relacionados ao envelhecimento e ao cuidado com a pessoa idosa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58 Atitudes, mitos e estereótipos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 Capítulo 4 Facilitando o desenvolvimento de atividades de vida diária: sono e repouso. . . . . . . 68 O sono como ritmo biológico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69 Padrão de sono e suas modificações com o envelhecimento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70 Recomendações quanto ao uso de medicamentos para dormir. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75 Sugestões para um sono de melhor qualidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
  • 7. 11 Auxiliando a pessoa idosa em suas atividades cotidianas P ode-se considerar “saúde” para a pessoa idosa a resultante da interação multidimensional de saúde física e mental, autonomia nas atividades de vida diária, integração social, suporte familiar e independência econômica. Qualquer dessas dimensões, associada a outra ou não, quando comprometida, pode afetar a capacidade do indivíduo de viver de forma autônoma e independente, repercutindo, por consequência, em sua qualidade de vida. Nesse grupo etário não é rara a ocorrência de múltiplas doenças si- multâneas (polimorbidade), em sua maioria de natureza crônica, cujas sequelas podem ocasionar incapacidade ou dificuldade de de- sempenho das atividades cotidianas, gerando, muitas vezes, quadros de dependência. A dependência aumenta a demanda por serviços sociais e de saúde. Assistir o idoso dependente pode ser uma tarefa fisicamente ­extenuante, pois em geral implica sobrecarga da família, que costuma ser a prin- Capítulo 5 Facilitando o desenvolvimento de atividades de vida diária: alimentação. . . . . . . . . . 79 Funções dos alimentos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81 Capítulo 6 Facilitando o desenvolvimento de atividades de vida diária: higiene, vestimenta e conforto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 Higiene corporal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 As pessoas idosas realmente necessitam de banho diário?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93 Princípios gerais para o banho de pessoas idosas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96 Produtos para o cuidado com a pele utilizados no banho. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97 Tipos de banho. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98 Cuidados durante o banho. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100 Cuidado com as unhas das mãos e dos pés. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100 Higiene oral. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102 Cuidados com o vestuário. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103 Capítulo 7 Facilitando o desenvolvimento de atividades de vida diária: administração de medicamentos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105 Aspectos gerais da aquisição de medicamentos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110 Aspectos gerais da administração de medicamentos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111 Capítulo 8 Facilitando o desenvolvimento de atividades de vida diária: mecanismos corporais, mobilização e transferência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115 Movimento humano. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116 Impacto do envelhecimento nas estruturas ligadas ao movimento humano. . . . . . . 123 Mecânica corporal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125 Aplicação da mecânica corporal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127 Mobilização e transporte de pessoas idosas mais dependentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128 Auxílio na movimentação na cama de idosos mais dependentes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129 Auxílio no transporte de idosos mais dependentes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132 Referências bibliográficas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135
  • 8. Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas 12 Auxiliando a pessoa idosa em suas atividades cotidianas 13 cipal provedora de atenção a idosos portadores de incapacidades. Outro fator preocupante é que muitos cuidadores de idosos com dependência também são idosos e, por essa razão, podem ter seu potencial de auxílio reduzido. Ressaltam-se as mudanças que vêm ocorrendo na estrutura e contex- to das famílias. No Brasil, a maior parte das que contam com presen- ça de idosos é pequena, com pessoas em etapas do ciclo vital mais avançadas. Soma-se a isso o fato de mais mulheres ocuparem, hoje, a condição de chefe do núcleo familiar e estarem cada vez mais tra- balhando fora de casa; tradicionalmente, era delegado a elas o papel de cuidadoras de pessoas doentes ou com mais dependência. Essas mudanças têm feito com que diversos idosos com algum grau de dependência não sejam assistidos, podendo sua condição agravar-se. Torna-se, assim, fundamental a criação de mecanismos sociais que garantam esse cuidado. Em vista da situação de desamparo em que se encontram muitos idosos mais dependentes, o treinamento e a disponibilização de pes- soas para seu cuidado são urgentes e imprescindíveis. A adequação das políticas públicas no atendimento de tais demandas ainda está aquém da necessidade existente. Perante esse quadro, o desafio que se coloca é formular propostas e ações que equacionem problemas e avancem no esforço de criar uma rede de assistência à população idosa mais vulnerável e fragilizada. Um dos passos nessa construção é o desenvolvimento de um conjun- to de informações padronizadas que visem a auxiliar uma capacitação mais homogênea dos cuidadores e, assim, permitir que essa ocupação evolua para profissão, com pessoal bem preparado e numericamente disponível para atender às demandas da sociedade. Diante disso, a Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo (Seads), buscando traçar as diretrizes de uma política de aten- ção à pessoa idosa adequada, elaborou, como uma de suas principais linhas de atuação, um programa de capacitação global destinado a desenvolver mão de obra qualificada para assistir os idosos mais de- pendentes segundo um eixo de orientação uniforme. Esse programa tem por objetivos: Fornecer um “olhar gerontológico” aos profissionais que trabalham• com idosos. Orientar os formadores de cuidadores de pessoas idosas e os próprios• cuidadores. Tal iniciativa vem contribuir para o desenvolvimento de ações plane- jadas e programadas que visem à construção de uma rede de atenção e cuidados às pessoas idosas que lhes permita envelhecer sem teme- ridade, com dignidade e respeito. Este material representa parte da concretização de tais ações. Teve por base os trabalhos desenvolvidos nessa área, associados às melhores práticas (evidências). Não tem, no entanto, a intenção de ser um fim em si mesmo; procura apenas fornecer um direcionamento mínimo e mais homogêneo na construção de um cuidado adequado às de- mandas assistenciais das pessoas idosas. Espera-se que seu conteúdo seja analisado e adaptado às realidades de cada região.
  • 9. 15 A oficina realizada em Blumenau (SC), em maio de 2007, coor- denada pela Área Técnica de Saúde da Pessoa Idosa e pelo Departamento de Gestão da Educação na Saúde (Deges) do Ministério da Saúde, tratou especificamente dos cur- sos de formadores de cuidadores de pessoas idosas e de cuidadores de pessoas idosas. A seguir, faremos uma síntese dos conteúdos trabalhados nessa ocasião. Uma de suas principais discussões versou sobre a ne- cessidade de homogeneizar a formação de formadores, em decorrência das grandes disparidades entre os cur- sos de graduação na área de saúde no que se refere ao ensino de tópicos relacionados ao envelhecimento (geriatria e gerontologia). Geralmente, os formadores são das áreas de saúde, educação ou serviço social ou estão ligados a elas. Capítulo 1 Eixos norteadores para cursos de formadores de cuidadores de pessoas idosas e de cuidadores de pessoas idosas
  • 10. Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas 16 Eixos norteadores para cursos de formadores de cuidadores de pessoas idosas e de cuidadores de pessoas idosas 17 Embora seja preconizada pela Política Nacional do Idoso a introdução de conteúdos específicos nos diferentes currículos de graduação, sabe- -se que isso, ainda hoje, está aquém do necessário. Na oficina, foi consenso que o formador deve ter conhecimentos básicos sobre envelhecimento populacional e individual (nos am- plos aspectos) e sobre cuidados com pessoas idosas com vários níveis de dependência, de diversas culturas e contextos sociais, e, na orientação de cuidadores, adaptar esses conhecimentos às rea- lidades locais, buscando sempre uma construção conjunta e uti- lizando práticas pedagógicas que problematizem o processo de trabalho do cuidador. Formadores de cuidadores de pessoas idosas No que tange a esse grupo, a oficina teve por objetivos: Assegurar a formação docente integral dos profissionais envolvidos• nos processos de qualificação/formação, tendo como referência central o significado social da ação educativa no âmbito da saúde pública e, especialmente, na formação do cuidador de idosos. Constituir um docente crítico, capaz de aprender a aprender, de• trabalhar em equipe, de levar em conta a realidade social para pres- tar atenção humana de qualidade. Estimular práticas de atenção à saúde, voltadas ao fortalecimento• de ações de recuperação, promoção e prevenção, oferecendo cuida- do integral e autonomia das pessoas na produção da saúde. A formação desse profissional deve: Levar em conta o contexto sociopolítico, em interface com a assis-• tência social, a saúde, a educação e o meio ambiente. Atender às expectativas dos setores envolvidos para mudanças efe-• tivas das práticas de atenção à saúde – ampliação do acesso e da cobertura para a população idosa. Ao final de sua preparação, o formador tem de ser capaz de: Desenvolver ações que busquem a integração entre as equipes de• saúde e a população idosa, considerando as características e as finalidades do trabalho de acompanhamento dos idosos com ­dependência. Realizar, em conjunto com a equipe, atividades de planejamento e• avaliação das ações no âmbito de atuação de cada profissional. Conduzir ações de promoção social e de proteção e desenvolvimen-• to da cidadania nas áreas social e da saúde. Para a adequação do conteúdo, devem ser feitas as seguintes perguntas: Quem se quer formar?• Por que se quer ou necessita formar essas pessoas?• Quem será o formador e como se preconiza o ensino?• O que é necessário ensinar nos cursos de formadores e de cuidadores?• A seguir, apresentamos a síntese dos resultados dessas discussões. AlexanderRaths/istockphoto
  • 11. Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas 18 Eixos norteadores para cursos de formadores de cuidadores de pessoas idosas e de cuidadores de pessoas idosas 19 I. Quem se quer formar? Cuidadores de pessoas idosas podem ser definidos como as pessoas que cuidam de idosos com dependência, desenvolvendo ações que promovam a melhoria de sua qualidade de vida em relação a si, à família e à sociedade. Suas ações fazem interface principalmente com a saúde, a educação e a assistência social e devem ser pautadas pela solidariedade, compaixão, paciência e equilíbrio emocional. Os cuidadores podem ser familiares, agregados à família ou profissionais (para atuar em domicílio ou em instituições). Os requisitos mínimos, os conteúdos e as estratégias de abor- dagem nos cursos a serem realizados diferem, dependendo do público-alvo. Os cursos para cuidadores familiares destinam-se, de modo geral, a parentes disponíveis para assumir essa função. ­Pode-se, portanto, lidar com pessoas de diferentes níveis culturais e graus de escolarização. Não é incomum que muitos cuidado- res familiares tenham baixa escolaridade ou não sejam alfa- betizados. Embora isso possa comprometer o cuidado a ser ministrado, bem como a capacidade de absorver os conteúdos previstos, é uma realidade com que se tem de trabalhar. De modo geral, os cursos para cuidadores familiares têm por objetivos: Fornecer-lhes instrumentos para que cuidem da pessoa ido-• sa sob sua responsabilidade da melhor forma possível. Facilitar seu dia a dia.• Minimizar sua ansiedade na realização desse cuidado, para• o qual não se sentem capazes (em todos os aspectos, incluin- do o emocional). O formador deve lembrar que, em geral, as pessoas não es- peram se tornar cuidadoras de seus parentes idosos e não se prepararam para esse fim. Com muita frequência, assumem essa fun- ção em circunstâncias mais ou menos repentinas e veem, assim, seu mundo se transformar rapidamente (necessidade de abandonar o trabalho, de realocar horários, de dispor de parte ou de quase toda a vida pessoal; gastos elevados e, quase sempre, nenhuma remunera- ção pela atividade; baixa valorização e pouco reconhecimento da atividade por outros familiares e pelo próprio idoso assistido; confli- tos familiares antes não tão evidentes; pouca ou nenhuma colabora- ção de outros membros da família). Isso costuma gerar o que se denomina “sofrimento oculto” do cuida- dor, que é expresso por estresse e sofrimento, angústia, sentimento de culpa (por algumas vezes negligenciar o cuidado ou gritar com a pessoa de quem cuida), ira e agressividade (com o idoso e com a fa- mília), embaraço (na presença de outras pessoas, sobretudo com idosos com demência), fadiga física e emocional. Essas situações serão mais ou menos acentuadas dependendo da funcionalidade familiar, ou seja, da capacidade da família de se reorganizar diante de tal im- previsto (o de contar com uma pessoa idosa dependente). Os cuidadores de pessoas idosas devem desenvolver ações que promovam a melhoria de sua qualidade de vida em relação a si, à família e à sociedade. istockphoto NikolayMamluke/istockphoto
  • 12. Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas 20 Eixos norteadores para cursos de formadores de cuidadores de pessoas idosas e de cuidadores de pessoas idosas 21 A outra linha de formação de cuidadores visa à capacitação profissio- nal. Atualmente, os cuidadores aparecem na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO)1 na família 5162 – Cuidadores de crianças, jovens, adultos e idosos. A ocupação é denominada “Cuidador de idosos” (código 5162-10) e tem como sinônimos “Acompanhante de idosos, Cuidador de pes- soas idosas e dependentes, Cuidador de idosos domiciliar, Cuidador de idosos institucional, Gero-sitter”. Sua função primária é: Cuidar de idosos, a partir de objetivos estabelecidos por instituições es- pecializadas ou responsáveis diretos, zelando pelo bem-estar, saúde, alimentação, higiene pessoal, educação, cultura, recreação e lazer da pessoa assistida. A CBO deixa claro que essa ocupação não integra a família 3222 – Técnicos e auxiliares de enfermagem, minimizando quaisquer dúvidas que possam ser levantadas pelos respectivos conselhos profissionais. As condições gerais de trabalho são as seguintes: O trabalho é exercido em domicílios ou instituições cuidadoras [...] de idosos. As atividades são exercidas com alguma forma de supervisão, na condição de trabalho autônomo ou assalariado. Os horários de trabalho são variados: tempo integral, revezamento de turno ou períodos deter- minados. No caso de cuidadores de indivíduos com alteração de com- portamento, estão sujeitos a lidar com situações de agressividade. A CBO também descreve a formação e experiência dos cuidadores em geral: Essas ocupações são acessíveis a pessoas com dois anos de experiência em domicílios ou instituições cuidadoras públicas, privadas ou ONGs, em funções supervisionadas de pajem, mãe-substituta ou auxiliar de cuidador, cuidando de pessoas das mais variadas idades. O acesso ao emprego também ocorre por meio de cursos e treinamentos de formação profissional básicos, concomitante ou após a formação mínima, que varia da quarta série do ensino fundamental até o ensino médio. Podem ter acesso os trabalhadores que estão sendo reconvertidos da ocupação de atendentes de enfermagem. No caso de atendimento a indivíduos com elevado grau de dependência, exige-se formação na área de saúde, ­devendo o profissional ser classificado na função de técnico/auxiliar de enferma- gem. A(s) ocupação(ões) elencada(s) nesta família ocupacional demanda(m) formação profissional para efeitos do cálculo do número de ­aprendizes a serem contratados pelos estabelecimentos, nos termos do artigo 429 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), exceto os casos previstos no art. 10 do Decreto 5.598/2005. As áreas de atividades e suas especificações envolvem: a) Cuidar da pessoa idosa: Cuidar da aparência e higiene pessoal.„„ Observar os horários das atividades diárias.„„ Ajudar no banho, na alimentação, no andar e nas necessidades„„ fisiológicas. 1. Disponível em: http://www.mtecbo.gov.br. LisaF.Young/istockphoto
  • 13. 22 Eixos norteadores para cursos de formadores de cuidadores de pessoas idosas e de cuidadores de pessoas idosas 23 Estar atento às ações da pessoa idosa.„„ Verificar as informações dadas pela pessoa idosa.„„ Informar-se do dia a dia da pessoa idosa no retorno de sua folga.„„ Relatar o dia a dia da pessoa idosa aos responsáveis.„„ Manter o lazer e a recreação no dia a dia.„„ Desestimular a agressividade da pessoa idosa.„„ b) Promover o bem-estar: Ouvir a pessoa idosa, respeitando sua necessidade individual de„„ falar. Dar apoio psicológico e emocional.„„ Ajudar na recuperação da autoestima, dos valores e da„„ afetividade. Promover momentos de afetividade.„„ Estimular a independência.„„ Auxiliar e respeitar a pessoa idosa em sua necessidade espiritual e„„ religiosa. c) Cuidar da alimentação da pessoa idosa: Participar da elaboração do cardápio.„„ Verificar a despensa.„„ Observar a qualidade e a validade dos alimentos.„„ Fazer as compras conforme lista e cardápio.„„ Preparar a alimentação.„„ Servir a refeição em ambientes e em porções adequadas.„„ Estimular e controlar a ingestão de líquidos e de alimentos„„ variados. Reeducar os hábitos alimentares.„„ d) Cuidar da saúde: Observar temperatura, urina, fezes e vômitos.„„ Controlar e observar a qualidade do sono.„„ Ajudar nas terapias ocupacionais e físicas.„„ Ter cuidados especiais com deficiências e dependências físicas.„„ Manusear adequadamente.„„ Observar alterações físicas.„„ Observar alterações de comportamento.„„ Lidar com comportamentos compulsivos e evitar ferimentos.„„ Controlar armazenamento, horário e ingestão de medicamentos,„„ em domicílios. Acompanhar a pessoa idosa em consultas e„„ atendimentos médico-hospitalares. Relatar a orientação médica aos responsáveis.„„ Seguir a orientação médica.„„ e) Cuidar do ambiente domiciliar e/ou institucional: Cuidar dos afazeres domésticos.„„ Manter o ambiente organizado e limpo.„„ Promover adequação ambiental.„„ A CBO descreve a formação e experiência dos cuidadores, detalha suas atividades e lista as competências pessoais. annedeHaas/istockphoto
  • 14. Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas 24 Eixos norteadores para cursos de formadores de cuidadores de pessoas idosas e de cuidadores de pessoas idosas 25 Prevenir acidentes.„„ Fazer compras para a casa e para a pessoa idosa.„„ Administrar finanças.„„ Cuidar da roupa e objetos pessoais da pessoa idosa.„„ Preparar o leito de acordo com as necessidades da pessoa idosa.„„ f) Incentivar a cultura e a educação: Estimular o gosto pela música, dança e esporte.„„ Selecionar jornais, livros e revistas.„„ Ler histórias, textos e jornais para a pessoa idosa.„„ Organizar biblioteca doméstica.„„ g) Acompanhar em passeios, viagens e férias: Planejar e fazer passeios.„„ Listar objetos de viagem.„„ Arrumar a bagagem.„„ Preparar a mala de remédios.„„ Preparar documentos e lista de telefones úteis.„„ Preparar alimentação da viagem com antecedência.„„ Acompanhar a pessoa idosa em atividade sociais e culturais.„„ Como competências pessoais do cuidador, a CBO lista as seguintes: 1. Manter capacidade e preparo físico, emocional e espiritual. 2. Cuidar de sua aparência e higiene pessoal. 3. Demonstrar educação e boas maneiras. 4. Adaptar-se a diferentes estruturas e padrões familiares e comunitários. 5. Respeitar a privacidade da pessoa idosa. 6. Demonstrar sensibilidade e paciência. 7. Saber ouvir. 8. Perceber e suprir carências afetivas. 9. Manter a calma em situações críticas. 10. Demonstrar discrição. 11. Observar e tomar resoluções. 12. Em situações especiais, superar seus limites físicos e emocionais. 13. Manter otimismo em situações adversas. 14. Reconhecer suas limitações e quando e onde procurar ajuda. 15. Demonstrar criatividade. 16. Lidar com a agressividade. 17. Lidar com seus sentimentos negativos e frustrações. 18. Lidar com perdas e mortes. 19. Buscar informações e orientações técnicas. 20. Obedecer a normas e estatutos. 21. Reciclar-se e atualizar-se por meio de encontros, palestras, cursos e seminários. 22. Respeitar a disposição dos objetos da pessoa idosa. 23. Dominar noções primárias de saúde. 24. Dominar técnicas de movimentação para a pessoa idosa não se machucar. 25. Dominar noções de economia e atividade doméstica. 26. Conciliar tempo de trabalho com tempo de folga. 27. Doar-se. 28. Demonstrar honestidade. 29. Conduta moral. Cabe ressaltar que, como essas informações foram publicadas em 2002, muito se evoluiu na questão dos cuidadores profissionais e será necessária uma revisão de tal descrição. Um dos pontos principais relaciona-se à formação: apenas expe­ riência anterior não deve ser considerada qualificação que exclua a capacitação. Quanto aos requisitos mínimos, a escolaridade é um tema controverso. Especialistas da área de gerontologia preconizam que o cuidador profissional deve ter, pelo menos, o ensino fundamental. Não se aceita AlexanderRaths/istockphoto
  • 15. Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas 26 Eixos norteadores para cursos de formadores de cuidadores de pessoas idosas e de cuidadores de pessoas idosas 27 a formação de um cuidador profissional sem escolaridade mínima, diferentemente do cuidador familiar. No projeto do Ministério da Saúde, como a formação dos cuidadores no âmbito público ficaria a cargo (mas não exclusivamente) das Escolas Técnicas de Saúde, esse requisito se elevaria para o ensino médio, dadas as características das instituições. Como a CBO ainda não foi revista e a ocupação não é regulamentada, esse tópico precisa ser mais bem discutido para que se chegue a um consenso. II. Por que se quer ou necessita formar essas pessoas? Sobretudo pelo expressivo crescimento da população idosa, que não tem sido acompanhado por aumento similar do número de cuidado- res disponíveis – em vez disso, está decrescendo com o passar do tempo, influenciado pela queda da taxa de fecundidade e pelas com- posições familiares cada vez menores. Os índices de suporte e de dependência são utilizados como indicadores brutos das futuras ne- cessidades de cuidados. Nos Estados Unidos, em 1980, havia 11 potenciais cuidadores para cada idoso; estima-se que essa média declinará para dez em 2010, para seis em 2030 e para quatro em 2050. Soma-se a isso a crescente entrada das mulheres no mer- cado de trabalho, antes as principais cuidadoras de seus parentes idosos. Pesquisas demonstram que as ­norte-americanas gastam cerca de 17 anos cuidan- do dos filhos e 18 dos pais e que hoje elas cuidam mais dos pais que dos filhos. E ainda devem ser consideradas as alterações na dinâmica de estudo e trabalho em muitos países, o que faz com que os idosos passem a viver longe de seus parentes. Os filhos podem tra- balhar em outros locais, enquanto os pais permanecem em sua cidade natal. Estudo norte-americano constatou que pelo menos um terço de todos os filhos adultos mora a pelo menos 30 minutos de distância dos pais. Em grandes centros urbanos, destaque-se também o aumento do índice de violência, levando os filhos a falecer antes de seus pais. Esses fatores mostram que as pessoas idosas podem estar vulneráveis ao “não cuidado” caso apresentem qualquer problema mais incapa- citante, pois seus familiares, que, ainda hoje, representam a principal fonte de cuidados, nem sempre estão facilmente disponíveis para atendê-las nessas situações de crise. Isso tende a agravar o que seria um pequeno problema, por falta de assistência no tempo adequado, acarretando, muitas vezes, consequências irreparáveis. É nesse contexto que urge a formação de pessoas habilitadas para cuidar de pessoas idosas, modificando o panorama ora instalado. III. Quem será o formador e como se preconiza o ensino? O consenso é o de que sejam profissionais de nível universitário das áreas de saúde, educação e serviço social, desde que com conhecimen- tos gerais de saúde com ênfase no cuidado e específicos de geronto- logia. O formador também deve ter ou desenvolver conhecimentos pedagógicos relacionados ao processo de ensino-aprendizagem, des- critos sinteticamente a seguir. Nem sempre a intenção de ensinar é traduzida em efe- tivação do aprendizado. Mesmo com a intenção since- ra de ensinar, se o aluno não aprendeu, a meta (apreen­ são, apropriação do conteúdo por ele) não foi atingida, ou seja, o ensino não ocorreu. A pessoa que recebe uma informação nova tem de ser capaz de repassá-la e, para tanto, precisa apreender a informação, apropriando-se desse conhecimento. Para apreender é necessário agir, O número de cuidadores disponíveis deve acompanhar o expressivo crescimento da população idosa. BrittaKasholm-Tengve/istockphoto
  • 16. Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas 28 Eixos norteadores para cursos de formadores de cuidadores de pessoas idosas e de cuidadores de pessoas idosas 29 exercitar-se, informar-se, tomar para si, apropriar-se do objeto em estudo. Aprender deriva de apreender e significa tomar conhecimen- to, reter na memória mediante estudo. O processo de ensino-aprendizagem decorre de ações efetivadas den- tro e fora da sala de aula. É imprescindível o envolvimento comparti- lhado com o conhecimento, que deve possibilitar o “pensar a situação” para que o aluno possa reelaborar as relações dos conteúdos, indo, portanto, além de “o quê?” e “como?”. Nesse processo, o professor, no caso o formador, prepara e dirige as atividades e ações com base em estratégias se- lecionadas e leva os alunos a desenvolver processos de mobilização, construção e elaboração da síntese do conheci­ mento para assim chegarem ao que se chama “compreen- são”. Com isso, eles serão capazes de reproduzir o que foi aprendido em qualquer circunstância, pois um processo de reflexão foi estabelecido conjuntamente. Compreender é aprender o significado de um objeto ou de um acontecimento e visualizá-lo em suas relações com outros objetos e acontecimentos, compondo feixes de relações entrelaçados ou redes (construídas socialmente e em permanente estado de ­atualização). O principal desafio é conseguir que os alunos desenvolvam a capaci- dade de abstração, ou seja, de reconstrução do objeto apreendido pela concepção de noções e princípios independentemente do modelo ou exemplo estudado/apresentado. Isso poderá ser desenvolvido pelo uso de diferentes estratégias. Es- tratégias são ferramentas facilitadoras definidas pelos formadores durante o processo de ensino-aprendizagem para que os alunos se apropriem do conhecimento. Exigem de quem as utiliza criativida- de, percepção aguçada, vivência pessoal profunda e renovadora, além da capacidade de pôr em prática uma ideia valendo-se da fa- culdade de dominar o objeto trabalhado. O formador deve utilizar estratégias que desafiem ou possibilitem que as operações de pensamento sejam despertadas, exercitadas, cons- truídas e flexibilizadas pelas necessárias rupturas por meio da mobi- lização, da construção e das sínteses – vistas e revistas. Lidar com diferentes estratégias, no entanto, não é fácil. Há predominância da exposição de conteúdos (aulas expositivas e palestras) – estratégia funcional para a passagem de informações e me- morização – por ser bem-aceita tanto pelos professores como pelos alunos. Os conteúdos são passados prontos, acabados e determinados. Outras estratégias têm sido preconizadas na formação de cuidadores, entre elas: aula expositiva dialogada; portfólio; tempestade cerebral (brainstorming); estudo dirigido; fórum de discussão; solução de pro- O formador pode usar diferentes estratégias para facilitar a apropriação do conhecimento pelos alunos. RenéMansi/istockphoto
  • 17. Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas 30 Eixos norteadores para cursos de formadores de cuidadores de pessoas idosas e de cuidadores de pessoas idosas 31 blemas; grupos de verbalização e de observação; dramatização; estu- dos de caso; oficinas de trabalho. O uso das estratégias requer habilidade, organização, preparação cuidadosa, planejamento compartilhado e mutuamente comprome- tido com o aluno, que, como sujeito de seu processo de aprendizagem, atuará de maneira ativa. Para a adequada utilização de estratégias pedagógicas diferenciadas com habilidade, talvez seja necessário que os formadores participem de oficinas pedagógicas, ou seja, grupos em que os professores estudam e trabalham um tema/problema, sob a orientação de um especialista, aliando teoria e prática. Com isso, eles aprenderão a fazer melhor seu trabalho mediante a aplicação e o processamento de conceitos e co- nhecimentos previamente adquiridos. IV. O que é necessário ensinar nos cursos de formadores e de cuidadores? Para o desenvolvimento dos cursos, foram definidos alguns eixos inte- gradores e as competências e habilidades mínimas a eles relacionadas. Eixo 1 – Interação e comunicação Competências a serem desenvolvidas No final do curso, o cuidador deverá ser capaz de: Desenvolver ações que estimulem o processo de interação e comu-• nicação entre o idoso, seus familiares e a comunidade. Compreender/interpretar as mensagens verbais e não verbais do• idoso e se fazer entender. Promover/fazer a inter-relação entre família-serviços-comunidade• (rede). Compreender e reconhecer o processo de comunicação do idoso• (verbal e não verbal). Para atender a esse eixo, no final do curso, o cuidador deverá ter habilidade para: Estimular a pessoa idosa na manutenção do convívio familiar e„„ social. Propor atividades que estimulem o uso da linguagem oral e de„„ outras formas de comunicação pela pessoa idosa. Promover, na família, ambiente favorável à conversação com a„„ pessoa idosa. Incentivar a socialização da pessoa idosa por meio da participação„„ em grupos, tais como: grupos de acompanhamento terapêutico, de atividades socioculturais, de práticas corporais/físicas e outros. Identificar redes de apoio na comunidade e estimular a participação„„ da pessoa idosa, conforme orientações do plano de cuidado. Apoiar a pessoa idosa na execução das atividades instrumentais de„„ vida diária. LisaF.Young/istockphoto
  • 18. Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas 32 Eixos norteadores para cursos de formadores de cuidadores de pessoas idosas e de cuidadores de pessoas idosas 33 Utilizar recursos de informação e comunicação adequados à„„ pessoa idosa. Verificar a necessidade e/ou condições de órteses (bengalas,„„ andadores etc.) e próteses dentárias, auditivas e oculares. Favorecer a leitura labial pela pessoa idosa durante as„„ ­conversações. Utilizar linguagem clara e precisa com a pessoa idosa e seus„„ familiares. Eixo 2 – Cuidados em relação às atividades do “andar da vida” Competências a serem desenvolvidas No final do curso, o cuidador deverá ser capaz de: Identificar as necessidades de cuidado.• Reconhecer a possibilidade de independência e a autonomia do• idoso para a realização das atividades de vida diária (AVDs) e, a partir daí, organizar as atividades de suporte. Atuar de forma a estimular o resgate e/ou manutenção da indepen-• dência e autonomia do idoso. Conhecer/reconhecer/identificar o nível/tipo de dependência do• idoso, a fim de auxiliar o desempenho de suas AVDs na medida de suas necessidades Para atender a esse eixo, no final do curso, o cuidador deverá ter habilidade para: Identificar a relação entre problemas de saúde„„ e condições de vida. Coletar informações sobre a história de vida„„ e de saúde da pessoa idosa. Identificar o contexto familiar e social de vida da„„ pessoa idosa. Identificar valores culturais, éticos, espirituais e„„ religiosos da pessoa idosa e de sua família. Participar da elaboração do plano de cuidado para„„ a pessoa idosa, sua implementação, avaliação e reprogramação com a equipe de saúde. Realizar ações de acompanhamento e cuidado da pessoa idosa com„„ dependência, conforme as demandas e necessidades identificadas. Identificar situações e hábitos presentes no contexto de vida do idoso„„ que são potencialmente promotores ou prejudiciais a sua saúde. Estimular a autonomia e independência da pessoa idosa em face„„ de suas necessidades. Apoiar a pessoa idosa na execução das atividades de vida diária,„„ conforme o plano de cuidado. Apoiar a pessoa idosa na execução das atividades instrumentais„„ de vida diária. Sensibilizar a pessoa idosa e sua família quanto à necessidade„„ de mudanças graduais e contínuas de hábitos e atitudes, a fim de facilitar a vida do idoso. No final do curso, o cuidador deverá ter desenvolvido uma série de competências e habilidades específicas. NancyLouie/istockphoto
  • 19. Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas 34 Eixos norteadores para cursos de formadores de cuidadores de pessoas idosas e de cuidadores de pessoas idosas 35 Atentar para possíveis reações indesejadas em relação ao uso„„ de medicamentos. Providenciar suporte adequado às necessidades específicas da„„ pessoa idosa. Atentar para a necessidade e/ou para as condições das próteses„„ e órteses em uso pela pessoa idosa. Estimular a prática de atividades que diminuam o risco de„„ doenças crônicas, conforme orientações do plano de cuidado. Identificar sinais de fragilização da pessoa idosa.„„ Identificar sinais de depressão e demência na pessoa idosa„„ e encaminhá-la para os cuidados específicos. Encaminhar o idoso para atendimento à saúde, quando„„ necessário. Acompanhar o idoso no uso da medicação.„„ Acompanhar a situação vacinal da pessoa idosa.„„ Orientar a família e atuar no caso de óbito da pessoa idosa.„„ Eixo 3 – Prontidão para agir em situações imprevistas Competências a serem desenvolvidas No final do curso, o cuidador deverá ser capaz de: Reconhecer situações de urgência e emergência e realizar os pri-• meiros socorros e demais ações sob orientação do profissional responsável. Agir com prontidão e presteza em situações imprevistas dentro do• limite de suas atribuições. Para atender a esse eixo, no final do curso, o cuidador deverá ter habilidade para: Reconhecer situações de urgência e emergência.„„ Realizar primeiros socorros.„„ Providenciar atendimento de suporte.„„ Eixo 4 – Prevenção de riscos, acidentes e violência Competências a serem desenvolvidas No final do curso, o cuidador deverá ser capaz de: Identificar e reconhecer situações de risco à integridade física e• psicológica da pessoa idosa a fim de evitar situações de agravo. Promover ambiente seguro.• Para atender a esse eixo, no final do curso, o cuidador deverá ter habilidade para: Identificar as situações de risco de violência.„„ Prevenir, atuar e mobilizar os recursos que reduzam riscos.„„ Analisar os riscos sociais e ambientais à saúde da pessoa idosa„„ com dependência. Avaliar as condições de risco de acidentes„„ domésticos e propor alternativas para resolução ou minimização. Identificar as situações de„„ autonegligência e promover os encaminhamentos necessários. Reconhecer os sinais de maus-tratos„„ e promover os encaminhamentos necessários. Identificar as situações de violência„„ intra e extrafamiliar. Estimular a pessoa idosa e seus„„ familiares a participar de programas sociais locais que envolvam orientação e prevenção da violência intra e extrafamiliar, dentre outros. Notificar caso suspeito ou confirmado„„ de violência contra a pessoa idosa. AlexanderRaths/istockphoto
  • 20. Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas 36 Eixos norteadores para cursos de formadores de cuidadores de pessoas idosas e de cuidadores de pessoas idosas 37 Eixo 5 – Direitos da pessoa idosa Competências a serem desenvolvidas No final do curso, o cuidador deverá ser capaz de: Conhecer a legislação e os recursos para promover a garantia dos• direitos. Identificar espaços de reivindicação dos direitos da pessoa idosa.• Para atender a esse eixo, no final do curso, o cuidador deverá ter habilidade para: Identificar as situações que apontem negligência aos direitos da„„ pessoa idosa e promover os encaminhamentos necessários. Reconhecer e saber utilizar os mecanismos que asseguram os„„ direitos dos idosos como cidadãos. Garantir o acesso da pessoa idosa a seus direitos legais utilizando„„ os meios e recursos disponíveis. Divulgar para a pessoa idosa, para seus familiares e para a comunidade„„ a legislação em vigência sobre os direitos dos idosos. Os conteúdos ministrados visam a atender às competências e habili- dades a serem desenvolvidas. A carga horária prevista para os cursos é de 160 horas, integrando conteúdos presenciais, não presenciais e atividades práticas. Com base nessa proposta, a Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo iniciou o desenvolvimento de tais cursos e acrescentou que, para certificação, os participantes deveriam elaborar e executar, em grupos de, no máximo, cinco pessoas, um curso para, no mínimo, dez cuidadores. Só seriam certificados como formadores os que tives- sem seus cursos aprovados segundo critérios preestabelecidos e ­antecipadamente divulgados, após avaliação em todas as fases (pla- nejamento, execução e avaliação). A seguir, apresentamos uma sugestão de conteúdo mínimo para de- senvolvimento dos cursos. Cursos de formadores de cuidadores de pessoas idosas Oficinas pedagógicas – Estratégias de ensino-aprendizagem voltadas• ao ensino de adultos Envelhecimento da população e da pessoa – Aspectos epidemioló-• gicos e psicossociais Envelhecimento da população e da pessoa – Aspectos sociais• Envelhecimento da população e da pessoa – Aspectos psicológicos• Envelhecimento da população e da pessoa – Aspectos biofisioló-• gicos (senescência) Aspectos funcionais do envelhecimento humano: autonomia,• dependência e independência A construção e manutenção de uma rede de suporte social e familiar• no transcorrer da vida Cuidadores: definição, papéis, direitos e deveres (familiar, domici-• liar, institucional, acompanhantes de idosos) AlexanderRaths/istockphoto
  • 21. Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas 38 Eixos norteadores para cursos de formadores de cuidadores de pessoas idosas e de cuidadores de pessoas idosas 39 Desenvolvimento de uma relação de ajuda• Facilitando o desenvolvimento de atividades de vida diária: nutrição• e alimentação Facilitando o desenvolvimento de atividades de vida diária: higiene,• vestimenta e conforto Facilitando o desenvolvimento de atividades de vida diária: mobi-• lização e transferência Facilitando o desenvolvimento de atividades de vida diária:• ­locomoção Facilitando o desenvolvimento de atividades de vida diária:• ­continência Cuidando de idosos com distúrbios cognitivos• Prevenindo situações de violência doméstica• Atuando em situações de urgência e emergência• Auxiliando no final da vida: processo de morrer, morte e luto• Cursos de cuidadores de pessoas idosas Princípios da relação de ajuda• Mitos, atitudes e estereótipos relacionados ao• envelhecimento Aspectos biopsicossociais do envelhecimen-• to do ser humano Autonomia, dependência e independên-• cia da pessoa idosa – Aspectos conceituais e legais e sua relação com o cuidado Compreendendo as atividades de vida• diária (AVDs) em suas diferentes ­dimensões: básicas (ABVDs),−− instrumentais (AIVDs) e−− avançadas (AAVDs)−− Organizando o cuidado relacionado ao melhor• ­desempenho das atividades cotidianas (oficinas) Mecanismos corporais−− Higiene pessoal e banho−− Mobilização e transferência−− Cuidados com a alimentação−− Organização dos medicamentos−− Manejando a incontinência (urinária e fecal)−− Sono e repouso−− Repensando e organizando o dia a dia−− Direitos e deveres da pessoa idosa (Estatuto do Idoso)−− Mantendo um ambiente saudável• O cuidado da pessoa idosa com comprometimento de memória• (ênfase em demências) Entendendo a doença de Alzheimer (DA)−− a) Reagindo ao diagnóstico b) O que acontece depois c) Contando aos familiares e amigos d) Possibilidades e perspectivas de tratamento Reorganizando a vida−− a) Reorganizando o futuro b) Discutindo as possibilidades de cuidado com a família Cuidando/auxiliando o portador de DA−− a) Comunicação b) Higiene e conforto c) Vestimenta d) Alimentação e) Programando atividades e exercícios f) Incontinência g) Sono e repouso h) Reconhecendo sinais e sintomas i) Atuando em urgências e emergências Oficinas pedagógicas fazem parte dos cursos de formadores e de cuidadores.
  • 22. Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas 40 41 Cuidando/auxiliando a família do portador de DA−− a) Lidando com alterações de comportamento b) Lidando com comportamentos agressivos c) Compreendendo e manejando alucinações e delírios d) Perambulação e) Tornando o ambiente seguro f) Recebendo visitas g) Mantendo a estrutura familiar h) Lidando com o luto Identificando e atuando em situações de urgência e emergência• Cuidando no final da vida (processo de morrer, morte e luto)• O papel do cuidador – Limites e possibilidades• Cuidando do cuidador• Quando os cuidadores não forem os familiares, é fundamental que os conteúdos sobre a construção de uma relação de ajuda sejam desenvolvidos, pois isso vai constituir-se na base das atividades desses profissionais. Relação de ajuda pode ser entendida como uma ligação profunda e significativa entre a pessoa que ajuda e a que é ajudada, a qual ultra- passa as simples trocas funcionais, mantendo um prisma de cresci- mento e evolução. Cria vínculos com a execução de atividades de cuidado que tenham por princípio o respeito e a liberdade, ou seja, tenham por finalidade auxiliar a pessoa que é ajudada a resta- belecer e manter sua autonomia. Nesse contexto, entende-se “cuidar” como “ajudar a viver”. Esse cuidado pode ser interno Capítulo 2 A construção de uma relação de ajuda AnnettVauteck/istockphoto
  • 23. Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas 42 A construção de uma relação de ajuda 43 ou externo, ou seja, posso ajudar a mim mesmo respondendo pessoal­ mente pelos cuidados usuais (cuidar-se) ou, ainda, ser ajudado por alguém integral ou parcialmente. No transcorrer de nossa existência, vivenciamos muitas situações de ajuda, nas quais ora somos ajudados (cuidados), ora nos ajudamos (autocuidado), ora ajudamos (cuidamos) outras pessoas. Compreen- der isso nos remete a outro conceito, o de “ajuda compartilhada”, que envolve reciprocidade e solidariedade, em que todos necessitam uns dos outros e a troca referente ao cuidado prestado não gera sentimen- tos de dependência. Aquele que se propõe ajudar precisa ter adquirido experiência pes­soal, relacionada ao processo de viver, às diferentes etapas da vida e a di- ferentes relações sociais em uma convivência com os mais diversos grupos de indivíduos. Nem sempre isso é permitido a algumas pes- soas, pois às vezes elas se veem diante de situações de ajuda a outros sem nem sequer terem ultrapassado algumas etapas da vida adulta que lhes possibilitariam conjugar experiência e formação. Este capítulo foi elaborado com o propósito de suscitar reflexões e discussões acerca do que se faz necessário para a construção de uma relação de ajuda, peça fundamental no desenvolvimento, com quali- dade, das atividades dos cuidadores. Os pressupostos colocados a seguir basearam-se nas considerações de alguns autores sobre a cons- trução de relações de ajuda (Carkhuff, 1977; Lazure, 1994; Bérger, 1996; Miranda e Miranda, 1996). Primeiros passos A primeira consideração a ser feita é que os cuidadores envolvidos com atividades de ajuda devem desenvolver habilidades específicas. Embora sejam elementos fundamentais, não são suficientes apenas o interesse e a boa vontade. Não basta também apenas “saber” ou “saber fazer” para o desenvolvimento de um “bom” cuidado. É ne- cessário “saber ser” para si mesmo e para a pessoa idosa a quem se destina seu olhar. Devemos reconhecer que, em muitas ocasiões, ajudamos porque isso nos faz bem, porque nos sentimos especialmente lisonjeados quando sabemos que somos responsáveis pelo bem-estar de alguém ou porque utilizamos esses momentos para fortalecimento próprio, durante o qual, de alguma forma, exercemos nosso “poder” sobre o outro, por- que nos consideramos detentores do saber (e, portanto, do poder) perante aqueles que necessitam de nosso auxílio. Conhecer-se é fundamental. Compreender que muitas das ­dificuldades que sentimos para lidar com os problemas, medos e sofrimentos das pessoas idosas ocorrem porque, talvez, tenhamos as mesmas di- ficuldades para lidar com nossos próprios medos e com nosso próprio sofrimento.MarkPapas/istockphoto
  • 24. Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas 44 A construção de uma relação de ajuda 45 Conhecer-se não é fácil, pois isso geralmente nos coloca diante de questões que não queremos ou com as quais não gostamos de nos confrontar. Tememos ser rejeitados, julgados, cobrados, pegos em situações desfavoráveis, correr riscos ou falhar e ter de admitir as falhas. Tememos, sobretudo, tomar consciência de nosso verdadeiro “eu” e descobrir que é preciso mudar nosso comportamento e nossa vida. Somente com esse conhecimento pessoal po- demos compreender o outro e, então, tentar estabelecer uma relação de ajuda. É fundamental entender que aju- dar é “dar de si”, já que envolve doação (de tempo, ­competência, saber, interesse), capacidade de escuta e compreensão. Situações de emergência que possam pôr em risco a vida da pessoa idosa e mesmo as situações de substituição, na qual o cuidador faz pelo idoso o que ele está temporária ou permanentemente incapacitado de realizar, são exemplos de ações que não estão em conformidade com a definição e finalidades da relação de ajuda. Nas relações de ajuda, auxiliamos as pessoas idosas a enfrentar e a superar uma situação de crise com os recursos de que elas dispõem. Tais situações manifestam-se de diferentes maneiras, mais ou menos ­explícitas e/ou penosas. A capacidade e o limite de cada idoso são inerentes ao próprio idoso e construídos durante suas experiências pessoais, cabendo ao cuidador a habilidade de reconhecê-los. Embora toda relação de ajuda envolva comunicação, nem toda comu- nicação é obrigatoriamente uma relação de ajuda. Quando o cuidador pergunta à pessoa idosa sobre dados precisos (quantas vezes urinou no dia, se tomou café pela manhã etc.), ela vai lhe dar uma resposta precisa (desde que tenha capacidade de ouvir e compreender). Nesse caso, ambos apenas circulam informações. A segunda consideração a ser feita é a compreensão de que, em uma relação de ajuda, o idoso é o principal detentor dos recursos para a resolução das dificuldades ou demandas apresentadas. O estabeleci- mento de uma relação de ajuda possibilita a ele identificar, sentir, saber, escolher e decidir sobre suas ações (autonomia). Ao profissional cuidador cabe auxiliá-lo a descobrir ou redescobrir capacidades e potencialidades próprias, redirecionando suas energias para um novo olhar sobre si mesmo, que, diante das circunstâncias, pode não exis- tir ou estar muito deteriorado. A principal ênfase da relação de ajuda é a dimensão afetiva do pro- blema, pois muitas das desadaptações não ocorrem por falta de co- nhecimento, e sim por insatisfações emocionais. Ela busca auxiliar a pessoa idosa a compreender-se, a fazer escolhas de forma indepen- dente e significativa e a fazer com que suas relações lhe sejam mais satisfatórias. Essa relação visa, sobretudo, à melhoria da autoestima, ao alcance da autorrealização, à promoção de conforto psicológico e ao fornecimento do apoio necessário para se confrontar com as próprias dificuldades existenciais. Dessa forma, a relação de ajuda visa a auxiliar a pessoa idosa a: Ultrapassar uma situação-limite.• Resolver uma situação atual ou potencial.• Encontrar um funcionamento pessoal mais satisfatório, aumentan-• do sua autoestima e seu sen- timento de segurança e diminuindo sua ansie- dade ao mínimo. Desenvolver atitudes• positivas pe- rante suas (in)capaci- dades. Nas relações de ajuda, auxiliamos as pessoas idosas a enfrentar e a superar uma situação de crise com os recursos de que elas dispõem. AlexanderRaths/istockphoto Saimnadir/dreamstime.com
  • 25. Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas 46 A construção de uma relação de ajuda 47 Melhorar sua capacidade de comunicação e suas relações com os• outros. Identificar o sentido para sua existência.• Manter um ambiente estimulante no que se refere aos níveis bio­• psicossociais. Para desenvolver uma relação de ajuda, é fundamental que o cuidador seja: Preciso e objetivo no que lhe diz respeito e no que diz respeito aos• outros. Capaz de respeitar-se e de respeitar os outros.• Congruente consigo mesmo e com a pessoa de quem cuida.• Empático.• Capaz de confrontar-se.• É importante destacar que, para ser um cuidador, a pessoa deve: re- conhecer seus valores pessoais; ser capaz de analisar as próprias emo- ções; estar apta a servir de modelo e a influenciar outros; ser altruísta; desenvolver alto senso de responsabilidade em relação a si mesma e aos outros; ser ética. Essas características auxilia- rão a formação de interações mais abertas entre cuidador e idosos, mantendo atitudes positivas com o objetivo de alcançar a au- tonomia em vez de controle. No estabelecimento de uma relação de ajuda, é necessário definir os objetivos das duas partes envolvidas – cuidador e pessoa idosa. Cabe ao cuidador: Identificar com clareza os problemas• vivenciados pelo idoso. Estabelecer conjuntamente com• idoso/família os objetivos concretos e pertinentes. Avaliar com o idoso suas capacidades e suas limitações.• Escolher os meios para ajudá-lo a atingir seus objetivos levando em• conta o sistema de valores do cliente. Cabe à pessoa idosa/família: Participar ativamente na definição dos objetivos.• Trabalhar um elemento de cada vez.• Iniciar pelo problema atual.• Características necessárias para construir uma relação de ajuda Capacidade de escuta “Escutar” não é sinônimo de “ouvir”. Escutar é constatar por meio do estímulo do sistema auditivo; é um processo ativo e voluntário em que o indivíduo permite-se impregnar pelo conjunto de suas percepções externas e internas. Na relação de ajuda, escutar repre- senta um instrumento para compreender a pessoa idosa de forma a poder determinar com precisão as intervenções necessárias. Ao es- cutar a pessoa idosa, o cuidador pretende: mostrar-lhe sua impor- tância; permitir que o idoso identifique suas emoções; auxiliá-lo na identificação de suas necessidades e na elaboração de um planeja- mento objetivo e eficaz para atender a elas. Para escutar de modo eficiente, o cuidador deve: Desejar estabelecer uma relação mais estreita com a pessoa idosa.• Escolher um local calmo que propicie a escuta.• Manter-se a uma distância confortável do idoso, mas que permita• boa visualização de ambos. Procurar compreender não só a linguagem verbal, mas principal-• mente a não verbal da pessoa idosa. Evitar julgamentos com base em valores pessoais.• AnnettVauteck/istockphoto
  • 26. Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas 48 A construção de uma relação de ajuda 49 Reformular com o idoso, porém com as próprias palavras, o que ele• lhe referiu, validando sua compreensão. Respeitar, compreender e interpretar o silêncio da pessoa idosa.• O silêncio pode traduzir a intensidade da procura da resposta con- siderando tudo o que a precedeu; pode significar o medo ou o so- frimento que impedem a elaboração de palavras ou, ao contrário, uma alegria tão intensa que também não pode ser traduzida por palavras. É a escuta do silêncio que exige a presença mais intensa e mais verdadeira do cuidador, pois isso pode levá-lo ao encontro real do que o outro vive de mais profundo. Silêncio não é sinônimo de vazio nem ausência de relação; costuma ser rico em significados. Para ser traduzido e transformado em instrumento de ajuda, deve ser compreendido, respeitado, acolhido e nunca prematuramente interrompido. Escutar não é memorizar as palavras emitidas pela pessoa idosa; é com­preendê-la, ver, apreender e sentir o contexto e os sentimentos relacionados com o conteúdo das mensagens emitidas. Exige grande empenho, vigilância sensorial, intelectual e emocional, o que conso- me muita energia e requer preparo e amadurecimento. O cuidador que de fato escuta o idoso reflete atentamente sobre o significado de suas mensagens (verbais e não verbais), buscando o estabelecimento de intervenções apropriadas às necessidades identificadas. Escutas que não ajudam Escuta inadequada• – O cuidador está mais atento às próprias re- flexões que às do idoso, está distraído, tem “pressa” em responder a ele ou identifica a situação descrita como familiar e faz um pro- cesso de transferência. Escuta apreciativa• – O cuidador faz juízos de valor durante a escu- ta. Embora normal, essa atitude pode ser nociva. Para evitar isso, o cuidador precisa desenvolver a habilidade de aceitar os idosos e ­escutá-los objetivamente. Escuta filtrada• – Relaciona-se a nossa defesa pessoal, ou seja, sele- cionamos de modo inconsciente o que permitimos ou não entrar em contato conosco e criamos barreiras que, mesmo involuntaria- mente, deformam nossa capacidade de escutar. Isso pode ser evita- do com o desenvolvimento de um profundo autoconhecimento. Escuta compassiva• – Refere-se ao sentimento de compaixão desen- volvido pelo cuidador em relação ao idoso que assiste. Tal atitude pode deturpar a percepção dos fatos, gerando ações inadequadas. Capacidade de clarificar “Clarificar” quer dizer tornar claro, limpo ou puro. Na relação de ajuda, significa ser capaz de delimitar mais precisamente o problema em si e os envolvidos de maneira concreta e realista. Para tanto, o cuidador deve ser capaz de auxiliar o idoso a refletir sobre seus pro- blemas e a descrevê-los em toda a sua extensão, intensidade e com- plexidade. Após escutá-lo, deve repetir com suas palavras a mesma questão, permitindo, assim, sua reinterpretação.PamelaMoore/istockphoto
  • 27. Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas 50 A construção de uma relação de ajuda 51 As perguntas “Quem?”, “O quê?”, “Onde?”, Como?” e “Por quê?” auxiliam na clarificação, mas o uso indiscriminado do “por quê?” pode despertar no idoso a necessidade de se justificar, geralmente defendendo-se. Cada pergunta deve ter por objetivo auxiliar o idoso a perceber com maior clareza o problema ou suas soluções. A utilização, pelo cuidador, de generalizações, abstrações ou termos imprecisos pode estar relacionada ao medo de enfrentar o problema. Agindo dessa forma, o problema se torna maior. O cuidador não deve usar linguagem intelectual, abstrata, impessoal e/ou vaga, pois isso não auxilia a pessoa idosa a clarificar e precisar seu pensamento. Capacidade de respeitar-se e de respeitar o idoso O respeito é uma necessidade humana, uma qualidade, um valor, uma atitude básica expressada pelo comporta- mento. Respeitar alguém significa acreditar em sua unici- dade, em sua capacidade de viver de forma satisfatória. Respeitar-se significa ser verdadeiro consigo mesmo e com os outros. Respeitar o idoso significa comunicar-lhe que procuramos compreendê-lo como pessoa, com sua expe- riência, seus valores e a situação que está vivenciando de acordo com seu ponto de vista. Significa ainda identificar suas capacidades e seu potencial remanescente e auxiliá-lo a reconhecê-los e a utilizá-los para lidar com essas situações, dando-lhe condições de resgatar o máximo de autonomia. Será o idoso, no entanto, que decidirá utilizá-la ou não, quer dizer, a palavra final é dele, e respeitá-lo significa compreender e aceitar essa decisão mesmo que ela não corresponda à expectativa do cuidador. O respeito se manifesta por meio de atitudes e comporta- mentos, ativos ou passivos. Estar com o idoso, querer ajudá-lo e preocupar-se com seu bem-estar; considerá-lo como ser único, independentemente de suas doenças ou limitações; acreditar que ele é capaz de decidir sobre o próprio destino e acredi- tar em sua boa vontade são exemplos de atitudes. Os comportamentos expressam o significado e o valor do idoso para o cuidador. Ser capaz de estabelecer uma relação que envolva escuta e presença física atentas; aceitar o idoso incondicionalmente, evitan- do juízos críticos; demonstrar empatia, afeto e cordialidade; ­auxiliá-lo a desenvolver seus recursos pessoais, encorajando-o, motivando-o e apoiando-o e não agindo por ele; manifestar compreensão e dedicação são exemplos de comportamentos respeitosos. Enumeramos, a seguir, alguns exemplos de como o cuidador pode demonstrar respeito pelo idoso: Mostrar que o aprecia como pessoa, respeitando sua idade e sua• personalidade. Não utilizar linguagem infantilizante ou demasiadamente familiar.• Chamá-lo pelo nome (nome próprio ou apelido, desde que tenha• autorização para tanto) e tratá-lo por senhor ou senhora. Cumprimentá-lo ao chegar e sempre que ele adentrar o recinto em• que o cuidador estiver. Dedicar-se inteiramente a ele quando da execução de algum cuida-• do, procurando não se distrair com outros estímulos (televisão, rádio etc.) e evitando interrupções por telefone. Evitar demonstrar compaixão. A piedade não é sinal de respeito e• não ajuda, sobretudo os idosos. Mostrar-se confiante no potencial e nas capacidades do idoso, va-• lorizando-as de forma construtiva e realista. Demonstrar apoio afetivo.• Respeitar a intimidade do idoso e a confidencialidade da conversa• e compartilhar informações apenas com sua prévia autorização. Aguardar as respostas e as decisões da pessoa, que podem ser mais• demoradas, e não apressá-la. Respeitar o idoso significa comunicar-lhe que procuramos compreendê-lo como pessoa, com sua experiência e valores. AlexandruKacso/istockphoto
  • 28. Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas 52 A construção de uma relação de ajuda 53 Planejar conjuntamente com o idoso as atividades de cuidado,• perguntando sua opinião e buscando segui-la. O respeito na relação de ajuda auxilia na elevação da autoestima e do autoconceito, que, em muitos idosos mais dependentes, podem estar rebaixados. Obstáculos ao respeito Comportamentos punitivos e reprovadores.• Juízos de valor.• Utilização de frases feitas (despersonalização da relação).• Escuta falsa, não centrada no idoso.• Linguagem infantilizante (muito frequente no tratamento com• idosos). Negação da experiência e das emoções do idoso.• Não valorização das capacidades do idoso.• Capacidade de ser congruente “Congruência” significa harmonia, coerência de algo com o fim a que se destina. Possibilita ao idoso a existência de concordância entre seu ser e sua experiência e sua expressão em seu comporta- mento. É, em outras palavras, a capacidade de ser autêntico. A pessoa que não possui essa competência separa-se de seu verdadeiro “eu”, reduzindo sua identidade aos papéis que desempenha. Pode, assim, sentir-se insatisfeita e dividida. A autenticidade do cuidador pode se manifestar: por sua espontaneidade; valorização de seu papel; coerência e capacidade de compartilhar ­experiências. Estes são os obstáculos à autentici- dade: atitude defensiva; não mani- festação dos próprios sentimentos; ser inconveniente (a relação profissional exige tato e juízo crítico); atitudes pessimistas. Para desenvolver congruência e autenticidade, o cuidador deve apri- morar o autoconhecimento e o autorrespeito, obter segurança interior, evitando esconder-se atrás de um papel social, e observar atentamen- te seu comportamento não verbal, buscando a coerência entre o que diz e o que demonstra. Capacidade de ser empático “Empatia” é a capacidade de se colocar no lugar do outro e sentir como se estivesse na situação e circunstâncias experimentadas por ele sem, no entanto, perder o próprio sistema de referência. É, portanto, a base de toda relação de ajuda. Para que o cuidador seja empático, ele deve ser capaz de: Aproximar-se da situação que o idoso está vivenciando.• Desenvolver a capacidade de colocar-se no lugar dele, buscando ver• o mundo como ele vê, o que não significa fazer suas as emoções e a vivência do outro, porque a diferenciação é fundamental na rela- ção de ajuda. Ter consciência de que o problema é do idoso.• Só assim o cuidador será capaz de identificar e compreender de forma verdadeira o conteúdo das mensagens da pessoa idosa, pois estará em posição de ver o mundo do mesmo prisma que ela o vê. A empatia pode ser desenvolvida por uma personalidade afetuosa e flexível; pela capacidade de generalizações relativas às experiências de vida; pela capacidade de tolerar e utilizar o silêncio na relação; por semelhanças de experiências e vivências; pela disponibilidade e escu- ta atenta; pela tolerância ao estresse; por experiências de vida variadas, propiciando maior flexibilidade e espontaneidade; pela autoafirmação; pelo uso de linguagem apropriada e pela capacidade de compreender a linguagem simbólica utilizada pelo idoso. GalinaBarskaya/istockphoto
  • 29. Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas 54 A construção de uma relação de ajuda 55 Na relação de ajuda, a confrontação só deve ser utilizada quando existe entre cuidador e idoso um verdadeiro clima de confiança. A empatia, por si só, não soluciona os problemas do idoso como se fosse um passe de mágica; constitui-se em um meio para fazer com que ele não se sinta solitário diante deles. Ao perceber que alguém entende a dimensão que os problemas tomam em sua vida, sente-se mais confortável e, assim, pode canalizar sua energia na resolução deles com o apoio daquele com quem mantém uma re- lação de ajuda. Capacidade de confrontação “Confrontar” significa colocar frente a frente, defrontar, comparar; não envolve disputa como “afrontar”. A confrontação origina-se na empatia e no respeito ao idoso e é uma manifestação suplementar à congruência do cuidador. A confrontação permite ao idoso estabele- cer um contato mais profundo com seu interior, com aquilo que ele de fato é, com suas forças e seus recursos, assim como com suas fra- quezas e comportamentos prejudiciais. Na relação de ajuda, a con- frontação só deve ser utilizada quando existe entre cuidador e idoso um verdadeiro clima de confiança. O cuidador que pretende ­utilizá-la deve fazer uma avaliação acurada do estado geral do idoso. A confrontação exige do cuidador habilidade e tato. Ele vai con- frontar não o idoso, mas seu comportamento, descrevendo-o sem emissão de julgamentos, pois isso, nesse momento, poderia representar demonstração de desrespeito, le- vando a pessoa idosa a assumir uma postura defensiva. No entanto, nem sempre a confrontação é reconheci- da como instrumento de ajuda pelo idoso. Caso ele resista a essa forma de intervenção, convém não insis- tir, aguardando ocasião mais oportuna para fazê-lo. Quando a relação não é de ajuda? Muitas vezes, os cuidadores querem estabelecer uma relação de ajuda adequada, mas se frustram com seus resultados. Listaremos, a seguir, algumas intervenções que costumam ser muito utilizadas, mas que normal- mente não respondem às necessidades de ajuda dos indivíduos. Dar ordens sem avaliar o contexto que envolve as• ­situações (pode levar o idoso a ter de negar suas emo- ções traduzidas por seu comportamento). Fazer ameaças (“Se não cumprir as orientações, não• viremos mais visitá-lo...”). Em geral esse com- portamento acrescenta mais um elemento, o medo, à problemática apresentada pela pessoa. Censurar o idoso, adverti-lo de forma• contundente (representa uma afirmação de sua incapacidade de discernir entre ElenaElisseeva/dreamstime.com MateuszZagorski/istockphoto
  • 30. Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas 56 A construção de uma relação de ajuda 57 o certo e o errado, entre o bem e o mal, colocando-o como incapaz de resolver seus problemas). Dar soluções (não permite ao idoso refletir sobre seu• problema e sobre sua potencialidade de ação). Argumentar logicamente (“O problema voltou, obvia-• mente, porque o(a) senhor(a) não seguiu as orientações que dei...”), pois pode colocar o idoso em uma situação desconfortável, fazendo-o sentir-se um tolo, incapaz de seguir recomendações. Julgar e criticar (utilizando o próprio sistema de valores),• porque pode levar o idoso a não mais confiar no cuidador por não se sentir compreendido por ele. Aprovar, lisonjear (“Desta vez tomou a• decisão correta...”). Isso pode desenvolver no idoso o receio de não ser aprovado em outras situações pelo julgamento do cui- dador e, caso se arrependa da decisão tomada, não se sentirá confortável em compartilhar tal sentimento com ele. Analisar e interpretar (“Cada vez que o(a)• senhor(a) quer a atenção de seus filhos, comporta-se como se estivesse muito doente...”). Se a interpretação for verda- deira, o idoso pode sentir-se “apanhado”, o que será insustentável; se não for cor- reta, pode sentir-se acusado ou incom- preendido. Consolá-lo (“Não se preocupe, isso vai• passar...”). O idoso pode interpretar que o cuidador minimiza a importância de seu problema e, portanto, não haverá solução para isso. Fazer muitas perguntas fechadas (“Onde?”, “Quando?”, “Como?”,• “Por quê?”). O idoso pode sentir-se interrogado. Gracejar. O gracejo muitas vezes é colocado para minimizar uma• situação tensa, ao criar um clima mais agradável. No entanto, a utilização deve ser bem estudada pelo cuidador, pois sua inadequa- ção pode levar o idoso a pensar que o cuidador não leva a sério seu problema ou suas necessidades ou ainda que não o respeita. Ridicularizar (“Assim o(a) senhor(a) está agindo como uma crian-• cinha...”). Pode levar o idoso a sentir-se desvalorizado ou desrespei- tado e gerar respostas agressivas. A relação de ajuda, quando adequadamente estabelecida, permitirá ao idoso e a seus familiares a identificação de recursos próprios disponíveis para superar os problemas que estão vivenciando, fortalecendo-os para situações futuras. Esse tipo de intervenção está diretamente associado à qualidade do cuidado prestado, uma vez que procura auxiliar o idoso em todas as suas dimensões de ser humano. “CUIDAR É AJUDAR.” Julgar e criticar utilizando o próprio sistema de valores pode levar o idoso a não mais confiar no cuidador por não se sentir compreendido por ele. SherylGriffin/istockphoto
  • 31. 58 59 Capítulo 3 Atitudes, mitos e estereótipos relacionados ao envelhecimento e ao cuidado com a pessoa idosa A vida segue um curso muito preciso e a natureza dota, cada idade, de finalidades próprias. Por isso, a fraqueza das crianças, o ímpeto dos jovens, a seriedade dos adultos, a maturidade dos velhos são coisas naturais que devemos apreciar cada uma a seu tempo. Cícero. buindo a cada indivíduo, conforme sua idade, determinada tarefa na produção. Nos grupos de sociedade rural existiam também fun- ções sociais diferenciadas para cada idade. No período pré-industrial, em que as sociedades eram compostas essencialmente por camponeses e artesãos, o trabalhador rural vivia em seu local de trabalho, em que se confundiam as tarefas domésticas e produtivas. Entre os artesãos altamente qualificados, a capacidade crescia com a experiência e, portanto, com o avançar dos anos. Nas profissões em que a qualificação ou a habilidade declinava com a idade havia uma divisão de trabalho que permitia adaptar as tarefas às possibilidades de cada um. Ao se tornar inteiramente incapaz, o velho continuava a viver no seio da família, que lhe assegurava a subsistência. Nas sociedades tradicionais, a figura patriarcal ganhava destaque para que não desmoronasse o mito de uma velhice reverenciada. Já nas D esde a Antiguidade, filósofos, como Cícero, demonstravam interesse e preocupação com o envelhecer e com os velhos. Sem dúvida, esses pensamentos acompanharam o processo histórico da civilização, sofrendo adequações aos valores de cada época e de cada cultura em particular. Em seu livro A velhice, Simone de Beauvoir descreve as condições de vida do idoso em diversas culturas, das primitivas às con- temporâneas. Segundo ela, “ao perder a capacidade de produção, o velho torna-se apenas um objeto sem utilida- de, transforma-se em encargo, com um estatuto que lhe é imposto pelos mais jovens”. Nas sociedades agrícolas tradicionais, a orga- nização se fazia de acordo com as categorias de idade. O fundamento dessa organização era a atividade econômica familiar, atri- Camponeses diante de um albergue, 1653, de Jan Steen (Toledo Museum of Art, EUA).
  • 32. Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas 60 Atitudes, mitos e estereótipos relacionados ao envelhecimento e ao cuidado com a pessoa idosa 61 modernas sociedades urbanas e industriais, o trabalhador nem sempre mora próximo a seu local de trabalho, e a família em geral não tem relação com sua atividade pro- dutiva. Nessas sociedades, a família patriarcal é substituí- da pela família nuclear, e o patrimônio coletivo, pelo projeto de vida individual. A perda da capacidade produ- tiva e o desengajamento do mundo do trabalho constituem marcos significativos na vida do cidadão, apontando para um futuro incerto e diferenciado segundo a condição so- cioeconômica e de gênero. Esse processo histórico contribuiu para que a velhice, na sociedade moderna, venha se caracterizando como uma fase da vida para a qual raramente existem projetos ­pessoais e em que se observa grande declínio na parti­ cipação social. Na história da civilização, para cada época encontram-se diferentes atitudes em relação à velhice, interferindo de forma significativa no estabelecimento de relações intergeracionais, tanto no nível familiar como no comunitário. Embora o contingente de pessoas idosas na sociedade contemporânea seja expressivo, sua experiência de vida não conta de forma decisiva para o equilíbrio e a organização social. Atitudes, mitos e estereótipos O mito é uma representação simbólica que não se baseia na realida- de. Manifesta-se por frases e expressões feitas (ex.: “idade do condor”) ou por eufemismos que têm a ver, exclusivamente, com a idade (ex.:“idade de ouro”, “melhor idade”), que muitas vezes podem es- conder hostilidade. O mito da aposentadoria reflete bem os novos va- lores da sociedade contemporânea. Na visão que ele evoca, a aposentadoria marcaria uma “nova fase da vida”, caracterizada pela “liberdade do uso do tem- po”, possibilitando a fruição de bens e serviços da sociedade. Na realidade, o que se observa é que a aposentado- ria não significa apenas o direito ao desengajamen- to remunerado do trabalho, mas o início de um processo de isolamento social. Constata-se parado- xalmente que, ao mesmo tempo que os avanços tecnológicos permitiram o prolongamento dos anos de vida, a sociedade e o Estado retiraram das pes- soas quase todos os seus papéis e funções sociais. Outro mito da sociedade contemporânea é o de que as famílias cuidam de seus idosos mais dependentes. Tanto isso é um mito que o Estatuto do Idoso pas- sou a considerar a não assistência da família como “crime”. Uma pesquisa populacional que estudou as condições de vida e saúde dos idosos residentes no município de São Paulo – Estudo Sabe (Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento) – verificou que, en- tre as pessoas idosas que apresentavam dificuldades no desempenho de atividades básicas de vida diária e que, portanto, necessitavam de um cuidador pre- sencial, apenas cerca de 50% recebiam auxílio em suas necessidades, independentemente do tipo de arranjo considerado.1 Na sociedade moderna, a crescente entrada das mulheres no mercado de trabalho, antes as princi- pais cuidadoras de seus parentes idosos, vem desfa- Estudo da cabeça de um homem velho, 1610, de Peter Paul Rubens (Museum of Art History, Viena, Áustria). Velho orando, 1881, de Julian Falat (National Museum, Varsóvia, Polônia). Na história da civilização, para cada época encontram-se diferentes atitudes em relação à velhice, interferindo de forma significativa no estabelecimento de relações intergeracionais, tanto no nível familiar como no comunitário. 1. Disponível em: http:// www.fsp.usp.br/sabe.
  • 33. Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas 62 Atitudes, mitos e estereótipos relacionados ao envelhecimento e ao cuidado com a pessoa idosa 63 atuais pelo seu descaso pela velhice e, por meio desse sentimento, esti- mulássemos os mais novos ao auxílio e cooperação aos mais velhos (Magalhães, 1987). Os mitos contribuem para a formação de atitudes e comportamentos. Atitude é uma disposição em relação a uma pessoa ou grupo, um conjunto de juízos que conduz a um comportamento, que nos leva a agir. Pode ser favorável ou desfavorável (dependendo das experiên- cias ou informações prévias). As crenças são um conjunto de informações sobre um assunto ou pessoa(s). Determina nossas atitudes, nossas intenções e nossos comportamentos. Formam-se com base em informações que recebemos direta ou indire- tamente. Já o estereótipo é um “chavão”, uma opinião formada, em geral desprovida de qualquer originalida- de. É uma percepção automática não adaptada à situa­ ção, reproduzida sem variantes, segundo um padrão bem determinado, que pode ser positivo ou negativo. Embora a mídia, com frequência, aborde questões re- lacionadas ao envelhecimento, ela ainda o faz de ma- neira aureolada, distanciando-o da realidade de nossos velhos. Nossa sociedade continua tratando o envelhe- cimento como assunto a ser evitado. Predomina ainda a forte crença de que a velhice está associada a doen- ça, deterioração e morte, mesmo que as pesquisas ve- nham, insistentemente, mostrando o contrário. O envelhecimento é um processo, faz parte do ciclo de vida. Tem seus problemas e dificuldades, mas também seus aspectos positivos e compensações. Em decorrência do estereótipo social e do hábito de evitar falar sobre o envelhecimento e sobre a velhice, muitas ideias falsas e erros de concepção sobre os idosos ainda são divulgados. zendo o mito de imaginar que a família, centrada na figura feminina, pode sozinha cuidar de seus idosos, sobretudo os que perderam ou estão em via de perder a autonomia. A sociedade industrial e de serviços estimula mitos que sejam úteis à manutenção de seu equilíbrio e possam encaminhar soluções para os desafios da modernidade. Um deles é o de que em todas as so- ciedades pré-industriais o idoso era respeitado e venerado, graças a seus conhecimentos e saberes acumulados. Esse mito tem a função de estimular a família a cuidar de seus idosos improdutivos e ­dependentes. É como se, incentivando a ideia mítica de que o homem vivia bem e era bem tratado na sociedade tradicional, culpabilizássemos as gerações Predomina ainda a forte crença de que a velhice está associada a doença, deterioração e morte, mesmo que as pesquisas venham mostrando o contrário. A Escola de Atenas, 1509-1510, de Raphael, afresco, Palácio Apostólico, Vaticano. istockphoto
  • 34. Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas 64 Atitudes, mitos e estereótipos relacionados ao envelhecimento e ao cuidado com a pessoa idosa 65 Atitudes negativas relacionadas ao envelhecimento baseiam-se par- cialmente em informações equivocadas de como os idosos realmen- te são. Isso é tão forte em nossa sociedade que originou o termo “ageism” (sem tradução no Brasil), que significa um processo siste- mático de discriminação contra as pessoas idosas exclusivamente porque são velhas, assim como racismo e sexismo referem-se a ati- tudes preconceituosas com relação à cor da pele e ao gênero. As pessoas idosas são categorizadas como senis, rígidas em suas atitudes, desatualizadas moral e socialmente, devendo, portanto, ser excluídas do convívio social. Algumas ideias preconcebidas sobre a velhice e sobre as pessoas ido- sas ainda predominam em nossa sociedade e podem contribuir para a formação de mitos e estereótipos que podem se traduzir em atitudes não adequadas no cuidado com a pessoa idosa (Domingues e Queiroz, 2000). São elas: A maioria dos idosos é doente e, por ser doente, tem necessidade• de ajuda para desenvolver as atividades cotidianas. Muitas pessoas idosas veem a si mesmas como saudáveis. Elas têm uma vida completa e ativa. Embora muitas sejam portadoras de, pelo menos, uma doença crônica, elas aprenderam a manejar seus cuidados de saú- de e a viver produtivamente dentro das limitações impostas pela doença. Em São Paulo, o Estudo Sabe mostrou que mais de 80% das pessoas idosas são completamente independentes no desempenho de suas atividades coti- dianas, mesmo possuindo uma ou mais doenças crônicas. A maior parte deles é solitária e infeliz.• Para alguns deles isso é verdade, mas isso ocorre na mesma probabilidade em que situação semelhante pode afetar os adultos jovens ou de meia-idade. Isso quer dizer que ser soli- tário e infeliz não é uma característica do envelhecimento, mas sim do ser humano. Muitos idosos são ativos, felizes e encontram prazer com os amigos e com a família. Outros, em virtude do maior tempo livre, engajam-se em atividades voluntárias que lhes tragam satisfação pessoal. Os idosos são conservadores em seus hábitos de vida e incapazes• de mudar. As pessoas idosas acumularam experiências diversas em sua vida e lidam com as situações novas com mais prudência e menos impulsivi- dade que as gerações mais jovens. Normalmente, elas se dispõem a discutir uma proposta nova desde que tenha bom embasamento e excelente argumentação. Muitos idosos são confusos e desinteressados em relação ao mundo• a sua volta. A maioria das pessoas idosas tem interesse no mundo a sua volta. Parte delas é culta, articulada e desejosa de aprender. Apenas uma pequena A passagem noroeste, 1874, de John Everett Millais (Tate Gallery, Londres). waltercraveiro
  • 35. Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas 66 Atitudes, mitos e estereótipos relacionados ao envelhecimento e ao cuidado com a pessoa idosa 67 parcela delas sofre de demência e problemas de saúde que afetam a memória. Os velhos são improdutivos e representam um segmento inútil em• nossa sociedade. São incontáveis as contribuições das pessoas idosas em nossa sociedade. Muitas descobrem talentos na idade avançada dos quais não tinham consciência em sua juventude. Por outro lado, os idosos são responsáveis pela manutenção de muitas famílias atualmente. Algumas cidades, em especial no Nordeste, sobrevivem quase exclusivamente das aposentado- rias e pensões dos idosos. Todo velho é “ranzinza”.• Essa não é uma característica exclusiva da pessoa idosa. O adjetivo apenas muda com o avançar da idade. Quando se trata de um adoles- cente, em geral esse adjetivo é atribuído às características da idade e, assim, aceito. As pessoas tendem, apenas, a acentuar suas características ao envelhecer. Todo velho é assexuado.• O interesse e a atividade sexual são importantes na vida do ser humano de qualquer idade. Ter uma companhia e manter relações íntimas é essencial na vida das pessoas, in- cluindo os idosos. Os mitos e as crenças repercutem nas atitudes dos pro- fissionais e dos cuidadores. Assim: Quem não considera os idosos diferentes entre si é• incapaz de estabelecer intervenções específicas. Quem considera os idosos intransigentes e passivos não lhes dá• oportunidade de emitirem opiniões. Quem considera os idosos conservadores e incapazes de mudanças• não permite que eles se adaptem a novas situações ou tentem novos comportamentos. Aquele que nega aos idosos sua autonomia nega-lhe o direito a• envelhecer dignamente. Assim, é fundamental que a primeira abordagem dos cursos de cui- dadores esteja relacionada à identificação de mitos, preconceitos e atitudes que eles adotam em relação aos idosos e à velhice. Será com base nesse conhecimento – identidade do grupo – que serão escolhi- das as estratégias pedagógicas mais adequadas para trabalhar as temá- ticas polêmicas. A primeira abordagem dos cursos de cuidadores deve identificar mitos, preconceitos e atitudes que eles adotam em relação aos idosos e à velhice. waltercraveiro Centro de Referência do Idoso José Ermírio de Moraes (Crijem).
  • 36. 68 69 Facilitando o desenvolvimento de atividades de vida diária: sono e repouso que inclui: eletroencefalograma, que é a avaliação das características da atividade elétrica cerebral; eletro-oculograma, que consiste no re- gistro de diferenças de potencial entre a retina e a córnea, geradas pelos movimentos oculares e captadas por eletrodos colocados ao redor dos olhos, permitindo a identificação do estágio de sono paradoxal ou REM (rapid eyes movement, sono de movimentos oculares rápidos); eletromiograma das regiões submentoniana e tibial anterior, para identificar o sono paradoxal e alguns distúrbios (ex.: mioclono notur- no – “chutes” durante o sono); e parâmetros como fluxo aéreo nasal e oral, esforço respiratório, eletrocardiograma e oximetria transcutânea contínua, que contribuem para a identificação de distúrbios respira- tórios que ocorrem durante o sono (ex.: apneia do sono), entre outros problemas. A polissonografia exige que a pessoa durma em um labo- ratório especialmente equipado para sua realização. O sono como ritmo biológico O mundo se organiza em torno de uma periodicidade de 24 horas, determinada pelo movimento de rotação da Terra. Nossos ritmos biológicos mais conhecidos têm periodicidade semelhante e são cha- mados de ritmos circadianos (do latim circa diem, em torno de um dia). O ciclo vigília-sono é um ritmo circadiano. Os seres vivos organizam seus ritmos biológicos de acordo com pistas temporais, chamadas de sincronizadores, de origem geofísica ou social, provenientes do meio em que vivem. As de origem geofísica são, por exemplo, a alternância entre o claro (dia) e o escuro (noite) e as estações do ano, e as de origem social são representadas, entre outros, pelos horários de diversos compromissos sociais, como tra- balho e escola. Essas “pistas” contribuem para a orga- nização da ritmicidade biológica, para a expressão de determinado padrão de sono. O sono é uma necessidade básica dos seres humanos e, portan- to, tem influência em sua qualidade de vida. Nesse aspecto, importante papel é atribuído à qualidade do sono. Sabe-se que a experiência de um sono insatisfatório ou insuficiente é muito desagradável, refletindo no desempenho da pessoa em suas atividades diárias, comportamento e bem-estar. Particularmente para os idosos, as perturbações do sono também representam fatores de risco ligados à institucionalização e à mortalidade. O sono é constituído por diferentes estágios, de acordo com a frequên­ cia e a amplitude típicas das ondas elétricas cerebrais geradas duran- te o fenômeno. A organização e a proporção que ocupam os vários estágios são conhecidas como arquitetura intrínseca do sono, que se modifica com o envelhecimento. Um exame que tem sido considerado essencial para a análise ­detalhada da arquitetura do sono e de distúrbios ligados a ele é a polissonografia, Capítulo 4 Facilitando o desenvolvimento de atividades de vida diária: sono e repouso PaulVasarhelyi/istockphoto
  • 37. Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas 70 71 O ciclo vigília-sono (períodos de sono e de vigília ao longo das 24 horas) sofre importantes modificações durante o desenvolvimento do indivíduo. Nos bebês, o sono é fragmentado ao longo do dia e da noite; os adultos, em geral, dormem apenas durante a noite, exibin- do um padrão chamado de monofásico; e as pessoas idosas costumam apresentar um padrão de sono mais fragmentado, com episódios ocorrendo durante o dia e a noite, em diferentes proporções. Padrão de sono e suas modificações com o envelhecimento Em um indivíduo adulto jovem sem problemas de saúde, uma típica noite de sono pode ser dividida em ciclos que se repetem quatro ou cinco vezes e cuja duração média/ciclo é de 70 a 100 minutos. Um ciclo típico é constituído pelos vários estágios do sono sincronizado (estágios 1, 2, 3 e 4), seguidos por um período de sono paradoxal (ex.: estágios 1, 2, 3, 4, 3, 2, eventualmente estágio 1 mais uma vez e sono paradoxal). Estágio 1• (5% do sono) – É uma transição entre a vigília e a sono- lência, em que predominam ondas cerebrais de baixa amplitude e alta frequência. Estágio 2• (45% do sono) – Também chamado de sono superficial, apresenta ondas de frequência rápida e poucas ondas mais lentas, além de fusos de sono e os complexos K. Estágio 3• (7% do sono) – Contém cerca de 20% a 50% de ondas delta, ou ondas lentas, que são ondas cerebrais de baixa frequência e grande amplitude. Estágio 4• (13% do sono) – São encontradas ondas delta em pro- porção superior a 50%. Assim, os estágios 3 e 4 constituem o denominado sono profundo, em que, para ser despertado, o indivíduo necessita de um estímulo externo muito intenso. À medida que o sono progride, diminui a ocorrência desses estágios, que predominam na primei- ra metade de uma noite típica de sono. O sono paradoxal (sono REM), associado aos sonhos, acontece a intervalos regulares (cada 90 minutos), ocu- pando cerca de 20% a 30% do período total de sono. Ele e o estágio 2 predominam na segunda metade de uma noite típica de sono. Com o envelhecimento, esse padrão sofre algumas ­modificações: Diminuição da duração relativa e absoluta do sono• de ondas delta (sono profundo). Aumento relativo e absoluto da duração dos estágios 1 e 2 (sono• superficial). Alterações na organização temporal do sono paradoxal e diminuição• de sua duração. Maior número de transições de um estágio para o outro, inclusive• para a vigília, e maior número de interrupções no sono. A eficiência do sono é a proporção entre o tempo que uma pessoa consegue realmente dormir e o tempo despendido na cama com esse objetivo. Constitui um parâmetro fundamental na avaliação da qua- lidade do sono. Seu cálculo pode ser feito da seguinte maneira: As pessoas idosas costumam apresentar um padrão de sono fragmentado, com episódios ocorrendo durante o dia e a noite. LisaKyleYoung/istockphoto