O documento discute a linguagem análoga usada para falar sobre Deus, que é um mistério. Rahner discorda da "analogia do ser" da filosofia escolástica e afirma que a transcendência possibilita o conhecimento categorial de Deus. A condição de criatura do homem significa dependência radical e autonomia genuína perante Deus.
A linguagem análoga e a condição de criatura na teologia de Karl Rahner
1. Resumo:
RAHNER, Karl. Curso Fundamental da Fé. São Paulo:
Paulus, 1989, pp. 91-113.
TEO 2254 - Profa Dra Maria Clara Bingemer
Apresentação de Andréia Gripp, mestranda
Teologia Sistemático Pastoral - PUC-Rio
2.
A linguagem usada para falar sobre
Deus é análoga e categorial
Um mistério que se dá a conhecer ao ser
humano como ser de transcendência. Mas
sempre mistério.
E por esse motivo, afirma o teólogo, falamos
de Deus pela analogia, aplicando a Ele
conceitos que sabemos não o definem, nem o
explicam, por completo, mas apenas em
parte.
Deus é mistério santo
3.
Sabemos que linguagem análoga é
aquela que “engloba
exemplificações, comparações,
metáforas, símiles, alegorias e
parábolas”.
Categorial /categorialidade
= Que concerne a uma ou mais
categorias; que é limitado a uma ou a
mais de uma categoria
4.
Rahner discorda da chamada
“analogia do ser” (analogia entis), da
filosofia escolástica:
“Como se alguém tivesse
de falar algo sobre Deus,
mas a seguir percebesse
que realmente não o pode
dizer, porque o conteúdo
da afirmação procede de
outra fonte, de algo que
nada tenha muito que ver
com Deus. E, em
consequência, devíamos
formar conceitos análogos,
que constituiriam uma
coisa intermediária entre o
unívoco e o equívoco.”
(p. 93)
Unívoco = Que admite
somente uma interpretação
ou significado; sem teor
ambíguo. Característica do
conceito que, aplicado a
coisas distintas, se mantém
com o mesmo significado.
Equívoco = De difícil
categorização; cuja
definição é complicada - Que
pode possuir mais de uma
significação; que tem duplo
sentido; ambíguo ou dúbio:
palavra equívoca
5.
A transcendência é o que possibilita
o conhecimento categorial
Para Rahner a analogia
não está ligada a ideia
de posição
intermediárias
posterior e inexata
entre conceitos claros e
conceitos que indicam
duas coisas totalmente
diversas, como
afirmava a filosofia
escolástica
Rahner afirma que a
transcendência
ultrapassa o horizonte
limitado do nosso
espírito.
A transcendência é a
condição que possibilita
todo o conhecimento
categorial, porque é o
elemento originário, a
base, o fundamento para
comparar, classificar os
objetos
6.
Afirmar que Deus é pessoa é dado
fundamental da convicção cristã sobre Deus.
Mas só se pode afirmar isso em sentido
análogo, abrindo a compreensão para o
mistério santo, inefável e incompreensível.
Para entender isso é preciso entender a
relação entre Deus e o homem, a
autocomunicação de Deus pela graça como
constituição transcendental do homem.
O ser pessoal de Deus
7.
O conhecimento de Deus como pessoa se dá
quando o ser humano o experimenta, em sua
experiência histórica.
“O homem se percebe como tendo origem em
outro e como sendo dado a si mesmo por
outro – POR OUTRO, portanto que ele não
pode falsamente interpretar como se fora um
princípio impessoal e como se fora uma
coisa.” (p. 96)
Quando se dá esse
conhecimento?
8.
Pela graça ele se oferece ao homem
e o abre à transcendência.
O ser pessoal de Deus é o
fundamento da pessoa que somos
chamados a ser.
O homem está fundado no
Absoluto que é Deus
9.
Quando somos afetados por sua presença amorosa
junto a nós, conhecemos Deus por experiência.
Tudo o que, em nossa experiência histórica, nos abre ao
Mistério que, desde sempre, se oferece a nós para que
possamos nos realizar como seres de liberdade e
responsabilidade é, para nós, experiência de Deus.
A experiência de proximidade imediata de Deus é,
portanto, sempre mediada pela relação com o mundo e
com os outros, uma vez que Deus está em toda a parte,
pois é quem tudo fundamenta.
Experiência de Deus
A condição de criatura do homem
10.
“O termo ‘condição de criatura’ interpreta
corretamente essa experiência original da relação
entre nós e Deus.”
“... refere-se a uma relação cuja natureza só podemos
descobrir no seio da experiência transcendental
como tal e não no fato de uma coisa fundar-se em
outra do mesmo gênero dela, não no fenômeno
empírico, que consiste em que um fenômeno no
interior de nossa experiência categorial possui
conexão funcional com outro fenômeno.” (p. 97)
A condição de criatura
11.
Criação e condição de
criatura não indicam evento
dado num momento
O que propriamente significa “relação de criatura”, “ser
criado”, “criação”, não aponta “a um primeiro momento do
tempo em que ocorreu a criação da realidade a que se trata,
mas significam um processo que se acha em andamento e é
atual, que para todo ser existente está ocorrendo agora da
mesma forma como ocorreu em um momento anterior do
tempo de sua existência, ainda que essa criação continuada
seja a de um existente que se estende no tempo.” (p. 98)
12.
A condição de criatura como
radical diferença e radical
dependência de Deus
“Deus deve ser
absolutamente diverso.
Do contrário seria objeto
de conhecer conceitual,
e não o fundamento
deste conhecer.”
“A doutrina cristã
chama esta singular
relação entre Deus e o
mundo de condição
criada do mundo, sua
criaturidade.” (p. 99)
Deus é o “de onde” e o “para
onde” de nossa
transcendência, o horizonte
infinito que abre ao humano
possibilidades ilimitadas.
O mundo depende
radicalmente de Deus, sem
tornar Deus dependente do
mundo.
Essa dependência do mundo
não existe “necessariamente”.
Ele é querida por Deus. É
livremente estabelecida por
Deus. (p. 99)
13.
Radical dependência e
genuína autonomia
“O próprio Deus é quem
estabelece a criatura e a
distinção dela com
referência a si.”
Portanto, a criatura é
realidade genuína e
distinta de Deus, e “não
mera aparência por
detrás da qual se
esconde Deus e sua
realidade”. (p. 100)
“Nós e as realidades
existentes do nosso mundo
existimos real e
verdadeiramente e somos
distintos de Deus não
apesar, mas por causa de
sermos estabelecidos no ser
por Deus e não por outra
realidade qualquer.”
(p.100)
14.
Radical dependência e
genuína autonomia
É no encontro pessoal
com o absoluto que,
segundo Rahner, funda-se
a possibilidade de ser. O
humano experimenta-se
como criatura,
radicalmente dependente
de Deus e, ao mesmo
tempo, genuinamente
autônoma.
“Somente quando a
pessoa se percebe como
sujeito livre e responsável
perante Deus e assume
essa responsabilidade é
que ela entende o que seja
autonomia e que esta não
decresce, mas aumenta na
mesma proporção que a
dependência com
referência a Deus.”
(p. 101)
15.
Denuminização do mundo
O mundo, livremente
estabelecido por Deus, dele
verdadeiramente se origina,
mas não da forma como
Deus se possui a si mesmo.
O mundo não é Deus
mesmo.
O mundo não pode ser
considerado como
“natureza sagrada”, mas
como material disponível
para a atividade criadora
do homem.
Denuminização - como
que uma desdivinização,
desencantamento do
mundo.
Numinoso é um conceito
que na filosofia da religião
de Rudolf Otto está ligado
ao irracional, que seria o
território onde atua o
Numinoso porque dele
emanam os sentimentos de
dependência.
16.
“A religião, tal como concretamente é praticada pelos
homens parece sempre e inevitavelmente dizer: ‘Deus
está aqui e não lá’, ‘isto está de acordo com sua vontade,
não aquilo’, ‘Ele se revelou aqui, não lá’.
A religião da forma como é concretamente praticada
parece nem querer nem poder renunciar a uma
categorização de Deus.” (p. 104)
“O nosso ponto de partida e perspectiva básica parece
dizer-nos o contrário: Deus está em toda parte à medida
que é quem tudo fundamenta, e não está em parte
nenhuma à medida que toda a realidade por ele
fundamentada é criatura, e tudo o que surge assim no
âmbito do mundo de nossa experiência é diverso de Deus,
separado por abismo absoluto existente entre Deus e a
realidade não-divina.” (p. 104)
Tensão entre a perspectiva
transcendental e religião histórica
17.
A proximidade imediata para com Deus é
uma proximidade mediada pela relação com
o mundo e com os outros.
A palavra humana, o sacramento, uma igreja,
a Sagrada Escritura etc. É indicação categorial
da presença transcendental de Deus que se
autocomunica ao mundo e possibilita ao
humano ser sujeito e pessoa, livre e
responsável.
Possibilidade de encontrar
Deus no mundo
18.
“Deus opera o mundo e não propriamente no
mundo.”
No contexto da revelação como experiência de
abertura radical ao mistério santo, a ação de Deus no
mundo, isto é, a “intervenção”.
A “intervenção” adquire sentido de presença que se
oferece ao humano (autocomunicação), solicitando
acolhida ao mistério santo que possibilita o ser, isto
é, o agir livre e responsável. (p. 109)
O agir de Deus
19.
“Quando e à medida que alguma coisa, não só
na teoria, mas na realização concreta da
liberdade, se insere positivamente na livre
relação para com Deus como objetivação e
mediação desta, torna-se, de fato, inspiração, ato,
por pequeno que seja, da providência de Deus,
como costumamos dizer em linguagem religiosa,
trata-se de intervenção especial de Deus.”
( p. 112)
Deus nos dá inspirações?