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EEEM PROFESSORA ADÉLIA CARVALHO SODRÉ
                                  LITERATURA – PRISE/PROSEL – 1ªETAPA
   LEITURA DO EPISÓDIO OS DOZE DA INGLATERRA; CANTO VI, ESTROFES 39 A 69 DE OS LUSÍADAS, DE CAMÕES.
                                     PROFESSOR ALESSANDRO SOARES

39                                                        Que lustre fosse a nossa Lusitânia.
Vencidos vêm do sono e mal despertos;
Bocijando, a miúdo se encostavam                          44
Pelas antenas, todos mal cobertos contra os               «Entre as damas gentis da corte Inglesa
agudos ares que assopravam;                               E nobres cortesãos, acaso um dia
Os olhos contra seu querer abertos;                       Se levantou discórdia, em ira acesa
Mas estregando, os membros estiravam.                     (Ou foi opinião, ou foi porfia).
Remédios contra o sono buscar querem,                     Os cortesãos, a quem tão pouco pesa
Histórias contam, casos mil referem.                      Soltar palavras graves de ousadia,
                                                          Dizem que provarão que honras e famas
40                                                        Em tais damas não há pera ser damas;
- «Com que milhorpodemos (um dizia)
Este tempo passar, que é tão pesado,                      45
Senão com algum conto de alegria,                         «E que se houver alguém, com lança e espada,
Com que nos deixe o sono carregado?»                      Que queira sustentar a parte sua,
Responde Leonardo, que trazia                             Que eles, em campo raso ou estacada,
Pensamentos de firme namorado:                            Lhe darão feia infâmia ou morte crua.
- «Que contos poderemos ter milhores,                     A feminil fraqueza, pouco usada,
Pera passar o tempo, que de amores?»                      Ou nunca, a opróbrios tais, vendo-se nua
                                                          De forças naturais convenientes,
41                                                        Socorro pede a amigos e parentes.
- «Não é (disse Veloso) cousa justa
Tratar branduras em tanta aspereza,                       46
Que o trabalho do mar, que tanto custa,                   «Mas, como fossem grandes e possantes
Não sofre amores nem delicadeza;                          No reino os inimigos, não se atrevem
Antes de guerra, férvida e robusta                        Nem parentes, nem férvidos amantes,
A nossa história seja, pois dureza                        A sustentar as damas, como devem.
Nossa vida há-de ser, segundo entendo,                    Com lágrimas fermosas, e bastantes
Que o trabalho por vir mo está dizendo.»                  A fazer que em socorro os Deuses levem
                                                          De todo o Céu, por rostos de alabastro,
42                                                        Se vão todas ao Duque de Alencastro.
Consentem nisto todos, e encomendam
A Veloso que conte isto que aprova.                       47
- «Contarei (disse) sem que me aprendam                   «Era este Ingrês potente e militara
De contar cousa fabulosa ou nova;                         Cos Portugueses já contra Castela,
E por que os que me ouvirem daqui reprendam,              Onde as forças magnânimas provara
A fazer feitos grandes de alta prova,                     Dos companheiros, e benigna estrela.
Dos nacidos direi na nossa terra,                         Não menos nesta terra exprimentara
E estes sejam os Doze de Inglaterra.                      Namorados afeitos, quando nela
                                                          A filha viu, que tanto o peito doma
43                                                        Do forte Rei que por mulher a toma.
«No tempo que do Reino a rédea leve,
João, filho de Pedro, moderava,                           48
Despois que sossegado e livre o teve                      «Este, que socorrer-lhe não queria
Do vizinho poder, que o molestava,                        Por não causar discórdias intestinas,
Lá na grande Inglaterra, que da neve                      Lhe diz: - «Quando o direito pretendia
Boreal sempre abunda, semeava                             Do Reino lá das terras Iberinas,
A fera Erínis dura e má cizânia,                          Nos Lusitanos vi tanta ousadia,
Tanto primor e partes tão divinas,
Que eles sós poderiam, se não erro,
Sustentar vossa parte a fogo e ferro;        54
                                             - «Fortíssimos consócios, eu desejo
49                                           Há muito já de andar terras estranhas,
«E se, agravadas damas, sois servidas,       Por ver mais águas que as do Douro e Tejo,
Por vós lhe mandarei embaixadores,           Várias gentes e leis e várias manhas.
Que, por cartas discretas e polidas,         Agora que aparelho certo vejo,
De vosso agravo os façam sabedores;          (Pois que do mundo as cousas são tamanhos)
Também, por vossa parte, encarecidas         Quero, se me deixais, ir só por terra,
Com palavras d~ afagos e d, amores           Porque eu serei convosco em Inglaterra.
Lhe sejam vossas lágrimas, que eu creio
Que ali tereis socorro e forte esteio. »     55
                                             «E quando caso for que eu, impedido
50                                           Por Quem das cousas é última linha,
«Destarte as aconselha o Duque experto       Não for convosco ao prazo instituído,
E logo lhe nomeia doze fortes;               Pouca falta vos faz a falta minha:
E por que cada dama um tenha certo,          Todos por mi fareis o que é devido.
Lhe manda que sobre eles lancem sortes,      Mas, se a verdade o esprito me adivinha,
Que elas só doze são; e descoberto           Rios, montes, Fortuna ou sua enveja
Qual a qual tem caído das consortes,         Não farão que eu convosco lá não seja.»
Cad'~ ua escreve ao seu, por vários modos,
E todas a seu Rei, e o Duque a todos.        56
                                             «Assi diz e, abraçados os amigos
51                                           E tomada licença, enfim se parte.
«Já chega a Portugal o mensageiro,           Passa Lião, Castela, vendo antigos
Toda a corte alvoroça a novidade;            Lugares que ganhara o pátrio Marte;
Quisera o Rei sublime ser primeiro,          Navarra, cos altíssimos perigos
Mas não lho sofre a régia Majestade.         Do Perineu, que Espanha e Gália parte.
Qualquer dos cortesãos aventureiro           Vistas, enfim, de França as cousas grandes,
Deseja ser, com férvida vontade,             No grande empório foi parar de Frandes.
E só fica por bem-aventurado
Quem já vem pelo Duque nomeado.              57
                                             «Ali chegado, ou fosse caso ou manha,
52                                           Sem passar se deteve muitos dias.
«Lá na leal cidade donde teve                Mas dos onze a ilustríssima companha
Origem (como é fama) o nome eterno           Cortam do Mar do Norte as ondas frias;
De Portugal, armar madeiro leve              Chegados de Inglaterra à costa de estranha,
Manda o que tem o leme do governo.           Pera de Londres já fazem todos vias;
Apercebem-se os doze, em tempo breve,        Do Duque são com festas agasalhados
D'armas e roupas de uso mais moderno,        E das damas servidos e amimados.
De elmos, cimeiras, letras e primores,
Cavalos, e concertos de mil cores.           58
                                             «Chega-se o prazo e dia assinalado
53                                           De entrar em campo já cos doze Ingleses,
«Já do seu Rei tomado têm licença,           Que pelo Rei já tinham segurado;
Pera partir do Douro celebrado,              Armam-se d'elmos, grevas e de arneses.
Aqueles que escolhidos por sentença          Já as damas têm por si, fulgente e armado,
Foram do Duque Inglês exprimentado.          O Mavorte feroz dos Portugueses;
Não há na companhia diferença                Vestem-se elas de cores e de sedas,
De cavaleiro, destro ou esforçado;           De ouro e de jóias mil, ricas e ledas.
Mas um só, que Magriço se dizia,
Destarte fala à forte companhia:             59
EEEM PROFESSORA ADÉLIA CARVALHO SODRÉ
                                        LITERATURA – PRISE/PROSEL – 1ªETAPA
         LEITURA DO EPISÓDIO OS DOZE DA INGLATERRA; CANTO VI, ESTROFES 39 A 69 DE OS LUSÍADAS, DE CAMÕES.
                                           PROFESSOR ALESSANDRO SOARES
«Mas aquela a quem fora em sorte dado                       Que faz que o chão debaixo todo treme;
Magriço, que não vinha, com tristeza                        O coração no peito que estremece
Se veste, por não ter quem nomeado                          De quem os olha, se alvoroça e teme.
Seja seu cavaleiro nesta empresa;                           Qual do cavalo voa, que não dece;
Bem que os onze apregoam que acabado                        Qual, co cavalo em terra dando, geme;
Será o negócio assi na corte Inglesa,                       Qual vermelhas as armas faz de brancas;
Que as damas vencedoras se conheçam,                        Qual cos penachos do elmo açouta as ancas.
Posto que dous e três dos seus faleçam.
                                                            65
60                                                          «Algum dali tomou perpétuo sono
«Já num sublime e púbrico teatro                            E fez da vida ao fim breve intervalo;
Se assenta o Rei Inglês com toda a corte:                   Correndo, algum cavalo vai sem dono,
Estavam três e três e quatro e quatro,                      E noutra parte o dono sem cavalo.
Bem como a cada qual coubera em sorte;                      Cai a soberba Inglesa de seu trono,
Não são vistos do Sol, do Tejo ao Batro,                    Que dous ou três já fora vão do valo.
De força, esforço e d'ânimo mais forte,                     Os que de espada vêm fazer batalha,
Outros doze sair, como os Ingleses,                         Mais acham já que arnês, escudo e malha.
No campo. contra os onze Portugueses.
                                                            66
61                                                          «Gastar palavras em contar extremos
«Mastigam os cavalos, escumando,                            De golpes feros, cruas estocadas,
Os áureos freios, com feroz sembrante;                      É desses gastadores, que sabemos,
Estava o Sol nas armas rutilando,                           Maus do tempo, com fábulas sonhadas.
Como em cristal ou rígido diamante;                         Basta, por fim do caso, que entendemos
Mas enxerga-se, num e noutro bando,                         Que com finezas altas e afamadas,
Partido desigual e dissonante                               Cos nossos fica a palma da vitória
Dos onze contra os doze; quando a gente                     E as damas vencedoras e com glória.
Começa a alvoroçar-se geralmente.
                                                            67
62                                                          «Recolhe o Duque os doze vencedores
«Viram todos o rosto aonde havia                            Nos seus paços, com festas e alegria;
A causa principal do reboliço:                              Cozinheiros ocupa e caçadores,
Eis entra um cavaleiro, que trazia                          Das damas e fermosa companhia,
Armas, cavalo, ao bélico serviço;                           Que querem dar aos seus libertadores
Ao Rei e às damas fala e logo se ia                         Banquetes mil, cada hora e cada dia,
Pera os onze, que este era o grão Magriço;                  Enquanto se detêm em Inglaterra,
Abraça os companheiros, como amigos ,                       Até tornar à doce e cara terra.
A quem não falta, certo nos perigos.
                                                            68
63                                                          «Mas dizem que, contudo, o grão Magriço,
«A dama, como ouviu que este era aquele                     Desejoso de ver as cousas grandes,
Que vinha a defender seu nome e fama,                       Lá se deixou ficar, onde um serviço
Se alegra e veste ali do animal de Hele,                    Notável à Condessa fez de Frandes;
Que a gente bruta mais que virtude ama.                     E, como quem não era já noviço
Já dão sinal, e o som da tuba impele                        Em todo trance onde tu, Marte, mandes,
Os belicosos ânimos, que inflama;                           Um Francês mata em campo, que o destino
Picam d'esporas, largam rédeas logo,                        Lá teve de Torcato e de Corvino.
Abaxam lanças, fere a terra fogo;

64
«Dos cavalos o estrépito parece
Contando assi Veloso, já a companha
69                                        Lhe pede que não faça tal desvio
«Outro também dos doze em Alemanha        Do caso de Magriço e vencimento,
Se lança e teve um fero desafio           Nem deixe o de Alemanha em esquecimento.
Cum Germano enganoso, que, com manha
Não devida, o quis pôr no extremo fio.»

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Os doze de inglaterra

  • 1. EEEM PROFESSORA ADÉLIA CARVALHO SODRÉ LITERATURA – PRISE/PROSEL – 1ªETAPA LEITURA DO EPISÓDIO OS DOZE DA INGLATERRA; CANTO VI, ESTROFES 39 A 69 DE OS LUSÍADAS, DE CAMÕES. PROFESSOR ALESSANDRO SOARES 39 Que lustre fosse a nossa Lusitânia. Vencidos vêm do sono e mal despertos; Bocijando, a miúdo se encostavam 44 Pelas antenas, todos mal cobertos contra os «Entre as damas gentis da corte Inglesa agudos ares que assopravam; E nobres cortesãos, acaso um dia Os olhos contra seu querer abertos; Se levantou discórdia, em ira acesa Mas estregando, os membros estiravam. (Ou foi opinião, ou foi porfia). Remédios contra o sono buscar querem, Os cortesãos, a quem tão pouco pesa Histórias contam, casos mil referem. Soltar palavras graves de ousadia, Dizem que provarão que honras e famas 40 Em tais damas não há pera ser damas; - «Com que milhorpodemos (um dizia) Este tempo passar, que é tão pesado, 45 Senão com algum conto de alegria, «E que se houver alguém, com lança e espada, Com que nos deixe o sono carregado?» Que queira sustentar a parte sua, Responde Leonardo, que trazia Que eles, em campo raso ou estacada, Pensamentos de firme namorado: Lhe darão feia infâmia ou morte crua. - «Que contos poderemos ter milhores, A feminil fraqueza, pouco usada, Pera passar o tempo, que de amores?» Ou nunca, a opróbrios tais, vendo-se nua De forças naturais convenientes, 41 Socorro pede a amigos e parentes. - «Não é (disse Veloso) cousa justa Tratar branduras em tanta aspereza, 46 Que o trabalho do mar, que tanto custa, «Mas, como fossem grandes e possantes Não sofre amores nem delicadeza; No reino os inimigos, não se atrevem Antes de guerra, férvida e robusta Nem parentes, nem férvidos amantes, A nossa história seja, pois dureza A sustentar as damas, como devem. Nossa vida há-de ser, segundo entendo, Com lágrimas fermosas, e bastantes Que o trabalho por vir mo está dizendo.» A fazer que em socorro os Deuses levem De todo o Céu, por rostos de alabastro, 42 Se vão todas ao Duque de Alencastro. Consentem nisto todos, e encomendam A Veloso que conte isto que aprova. 47 - «Contarei (disse) sem que me aprendam «Era este Ingrês potente e militara De contar cousa fabulosa ou nova; Cos Portugueses já contra Castela, E por que os que me ouvirem daqui reprendam, Onde as forças magnânimas provara A fazer feitos grandes de alta prova, Dos companheiros, e benigna estrela. Dos nacidos direi na nossa terra, Não menos nesta terra exprimentara E estes sejam os Doze de Inglaterra. Namorados afeitos, quando nela A filha viu, que tanto o peito doma 43 Do forte Rei que por mulher a toma. «No tempo que do Reino a rédea leve, João, filho de Pedro, moderava, 48 Despois que sossegado e livre o teve «Este, que socorrer-lhe não queria Do vizinho poder, que o molestava, Por não causar discórdias intestinas, Lá na grande Inglaterra, que da neve Lhe diz: - «Quando o direito pretendia Boreal sempre abunda, semeava Do Reino lá das terras Iberinas, A fera Erínis dura e má cizânia, Nos Lusitanos vi tanta ousadia,
  • 2. Tanto primor e partes tão divinas, Que eles sós poderiam, se não erro, Sustentar vossa parte a fogo e ferro; 54 - «Fortíssimos consócios, eu desejo 49 Há muito já de andar terras estranhas, «E se, agravadas damas, sois servidas, Por ver mais águas que as do Douro e Tejo, Por vós lhe mandarei embaixadores, Várias gentes e leis e várias manhas. Que, por cartas discretas e polidas, Agora que aparelho certo vejo, De vosso agravo os façam sabedores; (Pois que do mundo as cousas são tamanhos) Também, por vossa parte, encarecidas Quero, se me deixais, ir só por terra, Com palavras d~ afagos e d, amores Porque eu serei convosco em Inglaterra. Lhe sejam vossas lágrimas, que eu creio Que ali tereis socorro e forte esteio. » 55 «E quando caso for que eu, impedido 50 Por Quem das cousas é última linha, «Destarte as aconselha o Duque experto Não for convosco ao prazo instituído, E logo lhe nomeia doze fortes; Pouca falta vos faz a falta minha: E por que cada dama um tenha certo, Todos por mi fareis o que é devido. Lhe manda que sobre eles lancem sortes, Mas, se a verdade o esprito me adivinha, Que elas só doze são; e descoberto Rios, montes, Fortuna ou sua enveja Qual a qual tem caído das consortes, Não farão que eu convosco lá não seja.» Cad'~ ua escreve ao seu, por vários modos, E todas a seu Rei, e o Duque a todos. 56 «Assi diz e, abraçados os amigos 51 E tomada licença, enfim se parte. «Já chega a Portugal o mensageiro, Passa Lião, Castela, vendo antigos Toda a corte alvoroça a novidade; Lugares que ganhara o pátrio Marte; Quisera o Rei sublime ser primeiro, Navarra, cos altíssimos perigos Mas não lho sofre a régia Majestade. Do Perineu, que Espanha e Gália parte. Qualquer dos cortesãos aventureiro Vistas, enfim, de França as cousas grandes, Deseja ser, com férvida vontade, No grande empório foi parar de Frandes. E só fica por bem-aventurado Quem já vem pelo Duque nomeado. 57 «Ali chegado, ou fosse caso ou manha, 52 Sem passar se deteve muitos dias. «Lá na leal cidade donde teve Mas dos onze a ilustríssima companha Origem (como é fama) o nome eterno Cortam do Mar do Norte as ondas frias; De Portugal, armar madeiro leve Chegados de Inglaterra à costa de estranha, Manda o que tem o leme do governo. Pera de Londres já fazem todos vias; Apercebem-se os doze, em tempo breve, Do Duque são com festas agasalhados D'armas e roupas de uso mais moderno, E das damas servidos e amimados. De elmos, cimeiras, letras e primores, Cavalos, e concertos de mil cores. 58 «Chega-se o prazo e dia assinalado 53 De entrar em campo já cos doze Ingleses, «Já do seu Rei tomado têm licença, Que pelo Rei já tinham segurado; Pera partir do Douro celebrado, Armam-se d'elmos, grevas e de arneses. Aqueles que escolhidos por sentença Já as damas têm por si, fulgente e armado, Foram do Duque Inglês exprimentado. O Mavorte feroz dos Portugueses; Não há na companhia diferença Vestem-se elas de cores e de sedas, De cavaleiro, destro ou esforçado; De ouro e de jóias mil, ricas e ledas. Mas um só, que Magriço se dizia, Destarte fala à forte companhia: 59
  • 3. EEEM PROFESSORA ADÉLIA CARVALHO SODRÉ LITERATURA – PRISE/PROSEL – 1ªETAPA LEITURA DO EPISÓDIO OS DOZE DA INGLATERRA; CANTO VI, ESTROFES 39 A 69 DE OS LUSÍADAS, DE CAMÕES. PROFESSOR ALESSANDRO SOARES «Mas aquela a quem fora em sorte dado Que faz que o chão debaixo todo treme; Magriço, que não vinha, com tristeza O coração no peito que estremece Se veste, por não ter quem nomeado De quem os olha, se alvoroça e teme. Seja seu cavaleiro nesta empresa; Qual do cavalo voa, que não dece; Bem que os onze apregoam que acabado Qual, co cavalo em terra dando, geme; Será o negócio assi na corte Inglesa, Qual vermelhas as armas faz de brancas; Que as damas vencedoras se conheçam, Qual cos penachos do elmo açouta as ancas. Posto que dous e três dos seus faleçam. 65 60 «Algum dali tomou perpétuo sono «Já num sublime e púbrico teatro E fez da vida ao fim breve intervalo; Se assenta o Rei Inglês com toda a corte: Correndo, algum cavalo vai sem dono, Estavam três e três e quatro e quatro, E noutra parte o dono sem cavalo. Bem como a cada qual coubera em sorte; Cai a soberba Inglesa de seu trono, Não são vistos do Sol, do Tejo ao Batro, Que dous ou três já fora vão do valo. De força, esforço e d'ânimo mais forte, Os que de espada vêm fazer batalha, Outros doze sair, como os Ingleses, Mais acham já que arnês, escudo e malha. No campo. contra os onze Portugueses. 66 61 «Gastar palavras em contar extremos «Mastigam os cavalos, escumando, De golpes feros, cruas estocadas, Os áureos freios, com feroz sembrante; É desses gastadores, que sabemos, Estava o Sol nas armas rutilando, Maus do tempo, com fábulas sonhadas. Como em cristal ou rígido diamante; Basta, por fim do caso, que entendemos Mas enxerga-se, num e noutro bando, Que com finezas altas e afamadas, Partido desigual e dissonante Cos nossos fica a palma da vitória Dos onze contra os doze; quando a gente E as damas vencedoras e com glória. Começa a alvoroçar-se geralmente. 67 62 «Recolhe o Duque os doze vencedores «Viram todos o rosto aonde havia Nos seus paços, com festas e alegria; A causa principal do reboliço: Cozinheiros ocupa e caçadores, Eis entra um cavaleiro, que trazia Das damas e fermosa companhia, Armas, cavalo, ao bélico serviço; Que querem dar aos seus libertadores Ao Rei e às damas fala e logo se ia Banquetes mil, cada hora e cada dia, Pera os onze, que este era o grão Magriço; Enquanto se detêm em Inglaterra, Abraça os companheiros, como amigos , Até tornar à doce e cara terra. A quem não falta, certo nos perigos. 68 63 «Mas dizem que, contudo, o grão Magriço, «A dama, como ouviu que este era aquele Desejoso de ver as cousas grandes, Que vinha a defender seu nome e fama, Lá se deixou ficar, onde um serviço Se alegra e veste ali do animal de Hele, Notável à Condessa fez de Frandes; Que a gente bruta mais que virtude ama. E, como quem não era já noviço Já dão sinal, e o som da tuba impele Em todo trance onde tu, Marte, mandes, Os belicosos ânimos, que inflama; Um Francês mata em campo, que o destino Picam d'esporas, largam rédeas logo, Lá teve de Torcato e de Corvino. Abaxam lanças, fere a terra fogo; 64 «Dos cavalos o estrépito parece
  • 4. Contando assi Veloso, já a companha 69 Lhe pede que não faça tal desvio «Outro também dos doze em Alemanha Do caso de Magriço e vencimento, Se lança e teve um fero desafio Nem deixe o de Alemanha em esquecimento. Cum Germano enganoso, que, com manha Não devida, o quis pôr no extremo fio.»