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E. E. Profa. Irene Dias Ribeiro
1ª A - 2010
O velho do Restelo
IV Canto
 Restelo é o nome da praia de onde, no dia 8 de julho de
1497, partiram as caravelas de Vasco da Gama em busca
do perigoso e desconhecido caminho marítimo para a
Índia.
 Na época da expansão mercantilista, entre os séculos
XV e XVI, havia duas correntes de opinião em
Portugal: uma voltada para os valores medievais, mais
preocupada com a agricultura e com os princípios da
velha nobreza fundiária ; outra voltada para a
renovação do perfil econômico do país, mais
preocupada com o comércio e com os princípios
flutuantes da burguesia em ascensão.
 O episódio do velho do restelo é um fragmento da
sequência conhecida como a partida das Naus, em que
se narra o embarque oficial dos navegantes, antecedido
de procissão solene e despedidas espontâneas. A
partida das Naus inicia – se na estrofe 84 e termina na
estrofe 93 do canto quarto. Na despedida dos
navegantes havia
mães, esposas, filhas, crianças, meninos e velhos, entre
eles o velho do restelo
 Quando as Naus já se encontram no Atlântico, surge
um grito vindo da praia: é o velho do restelo, homem
austero do povo, que não consegue se calar diante da
imprudência da viagem. Aventura não encontrava
justificativa senão no desejo de mando e na ambição
de glória
 A fala do velho do restelo possui pontos de contato
com a ode clássica. Entre os gregos antigos, ode é uma
espécie de hino ou canção em louvor das
divindades, dos heróis e dos atletas.
 Em termos extremamente simplificados este é o
conteúdo do velho do restelo:
 ‘’ A vaidade do rei confundia - se com a vaidade
comum de todos os mortais, sempre enganados pela
ilusão de progresso e de inteligência. Teria sido melhor
o homem jamais ter inventado a caravela do que expor
todo um povo a tão arriscada viagem
 94
 "Mas um velho d'aspeito venerando,
Que ficava nas praias, entre a gente,
Postos em nós os olhos, meneando
Três vezes a cabeça, descontente,
A voz pesada um pouco alevantando,
Que nós no mar ouvimos claramente,
C'um saber só de experiências feito,
Tais palavras tirou do experto peito:
 95
 "Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C'uma aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!
 96
 "Dura inquietação d'alma e da vida,
Fonte de desamparos e adultérios,
Sagaz consumidora conhecida
De fazendas, de reinos e de impérios:
Chamam-te ilustre, chamam-te subida,
Sendo dina de infames vitupérios;
Chamam-te Fama e Glória soberana,
Nomes com quem se o povo néscio engana!
 97
 "A que novos desastres determinas
De levar estes reinos e esta gente?
Que perigos, que mortes lhe destinas
Debaixo dalgum nome preminente?
Que promessas de reinos, e de minas
D'ouro, que lhe farás tão facilmente?
Que famas lhe prometerás? que histórias?
Que triunfos, que palmas, que vitórias?
 98
 "Mas ó tu, geração daquele insano,
Cujo pecado e desobediência,
Não somente do reino soberano
Te pôs neste desterro e triste ausência,
Mas inda doutro estado mais que humano
Da quieta e da simples inocência,
Idade d'ouro, tanto te privou,
Que na de ferro e d'armas te deitou:
 99
 "Já que nesta gostosa vaidade
Tanto enlevas a leve fantasia,
Já que à bruta crueza e feridade
Puseste nome esforço e valentia,
Já que prezas em tanta quantidades
O desprezo da vida, que devia
De ser sempre estimada, pois que já
Temeu tanto perdê-la quem a dá:
 100
 "Não tens junto contigo o Ismaelita,
Com quem sempre terás guerras sobejas?
Não segue ele do Arábio a lei maldita,
Se tu pela de Cristo só pelejas?
Não tem cidades mil, terra infinita,
Se terras e riqueza mais desejas?
Não é ele por armas esforçado,
Se queres por vitórias ser louvado?
 101
 "Deixas criar às portas o inimigo,
Por ires buscar outro de tão longe,
Por quem se despovoe o Reino antigo,
Se enfraqueça e se vá deitando a longe?
Buscas o incerto e incógnito perigo
Por que a fama te exalte e te lisonge,
Chamando-te senhor, com larga cópia,
Da Índia, Pérsia, Arábia e de Etiópia?
 102
 "Ó maldito o primeiro que no mundo
Nas ondas velas pôs em seco lenho,
Dino da eterna pena do profundo,
Se é justa a justa lei, que sigo e tenho!
Nunca juízo algum alto e profundo,
Nem cítara sonora, ou vivo engenho,
Te dê por isso fama nem memória,
Mas contigo se acabe o nome e glória.
 103
 "Trouxe o filho de Jápeto do Céu
O fogo que ajuntou ao peito humano,
Fogo que o mundo em armas acendeu
Em mortes, em desonras (grande engano).
Quanto melhor nos fora, Prometeu,
E quanto para o mundo menos dano,
Que a tua estátua ilustre não tivera
Fogo de altos desejos, que a movera!
 104
 "Não cometera o moço miserando
O carro alto do pai, nem o ar vazio
O grande Arquiteto co'o filho, dando
Um, nome ao mar, e o outro, fama ao rio.
Nenhum cometimento alto e nefando,
Por fogo, ferro, água, calma e frio,
Deixa intentado a humana geração.
Mísera sorte, estranha condição!"
 A queda do homem associa-se ao mito de
Prometeu, aludido como filho de Jápeto na estrofe 103 do
episódio.
 Sua fábula é essencial ao entendimento do ideário do velho
do restelo: Prometeu era um dos Titãs que se revoltaram
contra o domínio de júpiter.Tendo feito uma estátua de
barro, Prometeu roubou o fogo dos deuses para animar sua
criação.Como castigo pela ousadia, júpiter ordenou que
vulcano, o ferreiro dos deuses, o amarrasse no
cáucario, onde os abutres lhe comiam o fígado, que
renascia e era de novo comido, prometeu é o símbolo da
civilização, da indústria , da sabedoria e do desejo humano
 O ensaísta Antônio José saraiva, um dos mais interessantes
estudiosos de Camões, não aceita essa interpretação.
Segundo ele, as idéias do velho do restelo não se
harmonizam com o todo da epopéia camoniana.
Representariam uma flagrante contradição entre o louvor
da expansão para o Oriente . Pela perspectiva do ensaísta
português, longe de representar aspecto negativo no
poema, essa incongruência dinamiza a poesia do
texto, atribuindo-lhe mais vivacidade estética.Quem fala
através do velho do restelo é o próprio Camões,que
inventou a personagem para incorporar ao poema alguns
juízos morais da cultura humanística,que crítica os
acontecimentos por uma perspectiva metafísica.julgando a
história de fora dos acontecimentos.

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O velho do Restelo e a expansão portuguesa

  • 1. E. E. Profa. Irene Dias Ribeiro 1ª A - 2010
  • 2. O velho do Restelo IV Canto
  • 3.  Restelo é o nome da praia de onde, no dia 8 de julho de 1497, partiram as caravelas de Vasco da Gama em busca do perigoso e desconhecido caminho marítimo para a Índia.
  • 4.  Na época da expansão mercantilista, entre os séculos XV e XVI, havia duas correntes de opinião em Portugal: uma voltada para os valores medievais, mais preocupada com a agricultura e com os princípios da velha nobreza fundiária ; outra voltada para a renovação do perfil econômico do país, mais preocupada com o comércio e com os princípios flutuantes da burguesia em ascensão.
  • 5.  O episódio do velho do restelo é um fragmento da sequência conhecida como a partida das Naus, em que se narra o embarque oficial dos navegantes, antecedido de procissão solene e despedidas espontâneas. A partida das Naus inicia – se na estrofe 84 e termina na estrofe 93 do canto quarto. Na despedida dos navegantes havia mães, esposas, filhas, crianças, meninos e velhos, entre eles o velho do restelo
  • 6.  Quando as Naus já se encontram no Atlântico, surge um grito vindo da praia: é o velho do restelo, homem austero do povo, que não consegue se calar diante da imprudência da viagem. Aventura não encontrava justificativa senão no desejo de mando e na ambição de glória
  • 7.  A fala do velho do restelo possui pontos de contato com a ode clássica. Entre os gregos antigos, ode é uma espécie de hino ou canção em louvor das divindades, dos heróis e dos atletas.
  • 8.  Em termos extremamente simplificados este é o conteúdo do velho do restelo:  ‘’ A vaidade do rei confundia - se com a vaidade comum de todos os mortais, sempre enganados pela ilusão de progresso e de inteligência. Teria sido melhor o homem jamais ter inventado a caravela do que expor todo um povo a tão arriscada viagem
  • 9.  94  "Mas um velho d'aspeito venerando, Que ficava nas praias, entre a gente, Postos em nós os olhos, meneando Três vezes a cabeça, descontente, A voz pesada um pouco alevantando, Que nós no mar ouvimos claramente, C'um saber só de experiências feito, Tais palavras tirou do experto peito:
  • 10.  95  "Ó glória de mandar! Ó vã cobiça Desta vaidade, a quem chamamos Fama! Ó fraudulento gosto, que se atiça C'uma aura popular, que honra se chama! Que castigo tamanho e que justiça Fazes no peito vão que muito te ama! Que mortes, que perigos, que tormentas, Que crueldades neles experimentas!
  • 11.  96  "Dura inquietação d'alma e da vida, Fonte de desamparos e adultérios, Sagaz consumidora conhecida De fazendas, de reinos e de impérios: Chamam-te ilustre, chamam-te subida, Sendo dina de infames vitupérios; Chamam-te Fama e Glória soberana, Nomes com quem se o povo néscio engana!
  • 12.  97  "A que novos desastres determinas De levar estes reinos e esta gente? Que perigos, que mortes lhe destinas Debaixo dalgum nome preminente? Que promessas de reinos, e de minas D'ouro, que lhe farás tão facilmente? Que famas lhe prometerás? que histórias? Que triunfos, que palmas, que vitórias?
  • 13.  98  "Mas ó tu, geração daquele insano, Cujo pecado e desobediência, Não somente do reino soberano Te pôs neste desterro e triste ausência, Mas inda doutro estado mais que humano Da quieta e da simples inocência, Idade d'ouro, tanto te privou, Que na de ferro e d'armas te deitou:
  • 14.  99  "Já que nesta gostosa vaidade Tanto enlevas a leve fantasia, Já que à bruta crueza e feridade Puseste nome esforço e valentia, Já que prezas em tanta quantidades O desprezo da vida, que devia De ser sempre estimada, pois que já Temeu tanto perdê-la quem a dá:
  • 15.  100  "Não tens junto contigo o Ismaelita, Com quem sempre terás guerras sobejas? Não segue ele do Arábio a lei maldita, Se tu pela de Cristo só pelejas? Não tem cidades mil, terra infinita, Se terras e riqueza mais desejas? Não é ele por armas esforçado, Se queres por vitórias ser louvado?
  • 16.  101  "Deixas criar às portas o inimigo, Por ires buscar outro de tão longe, Por quem se despovoe o Reino antigo, Se enfraqueça e se vá deitando a longe? Buscas o incerto e incógnito perigo Por que a fama te exalte e te lisonge, Chamando-te senhor, com larga cópia, Da Índia, Pérsia, Arábia e de Etiópia?
  • 17.  102  "Ó maldito o primeiro que no mundo Nas ondas velas pôs em seco lenho, Dino da eterna pena do profundo, Se é justa a justa lei, que sigo e tenho! Nunca juízo algum alto e profundo, Nem cítara sonora, ou vivo engenho, Te dê por isso fama nem memória, Mas contigo se acabe o nome e glória.
  • 18.  103  "Trouxe o filho de Jápeto do Céu O fogo que ajuntou ao peito humano, Fogo que o mundo em armas acendeu Em mortes, em desonras (grande engano). Quanto melhor nos fora, Prometeu, E quanto para o mundo menos dano, Que a tua estátua ilustre não tivera Fogo de altos desejos, que a movera!
  • 19.  104  "Não cometera o moço miserando O carro alto do pai, nem o ar vazio O grande Arquiteto co'o filho, dando Um, nome ao mar, e o outro, fama ao rio. Nenhum cometimento alto e nefando, Por fogo, ferro, água, calma e frio, Deixa intentado a humana geração. Mísera sorte, estranha condição!"
  • 20.  A queda do homem associa-se ao mito de Prometeu, aludido como filho de Jápeto na estrofe 103 do episódio.  Sua fábula é essencial ao entendimento do ideário do velho do restelo: Prometeu era um dos Titãs que se revoltaram contra o domínio de júpiter.Tendo feito uma estátua de barro, Prometeu roubou o fogo dos deuses para animar sua criação.Como castigo pela ousadia, júpiter ordenou que vulcano, o ferreiro dos deuses, o amarrasse no cáucario, onde os abutres lhe comiam o fígado, que renascia e era de novo comido, prometeu é o símbolo da civilização, da indústria , da sabedoria e do desejo humano
  • 21.  O ensaísta Antônio José saraiva, um dos mais interessantes estudiosos de Camões, não aceita essa interpretação. Segundo ele, as idéias do velho do restelo não se harmonizam com o todo da epopéia camoniana. Representariam uma flagrante contradição entre o louvor da expansão para o Oriente . Pela perspectiva do ensaísta português, longe de representar aspecto negativo no poema, essa incongruência dinamiza a poesia do texto, atribuindo-lhe mais vivacidade estética.Quem fala através do velho do restelo é o próprio Camões,que inventou a personagem para incorporar ao poema alguns juízos morais da cultura humanística,que crítica os acontecimentos por uma perspectiva metafísica.julgando a história de fora dos acontecimentos.