SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 12
1
2
CANTO I
6
E vós, ó bem nascida segurança
Da Lusitana antiga liberdade,
E não menos certíssima esperança
De aumento da pequena Cristandade;
Vós, ó novo temor da Maura lança,
Maravilha fatal da nossa idade,
Dada ao mundo por Deus, que todo o mande,
Pera do mundo a Deus dar parte grande;
7
Vós, tenro e novo ramo florecente
De ũa árvore, de Cristo mais amada
Que nenhua nascida no Ocidente,
Cesárea ou Cristianíssima chamada
(Vede-o no vosso escudo, que presente
Vos amostra a vitória já passada,
Na qual vos deu por armas e deixou
As que Ele pera si na Cruz tomou);
16
Em vós os olhos tem o Mouro frio,
Em quem vê seu exício afigurado;
Só com vos ver, o bárbaro Gentio
Mostra o pescoço ao jugo já inclinado;
Tétis todo o cerúleo senhorio
Tem pera vós por dote aparelhado,
Que, afeiçoada ao gesto belo e tenro,
Deseja de comprar-vos pera genro.
17
«Eis aqui se descobre a nobre Espanha,
Como cabeça ali de Europa toda,
Em cujo senhorio e glória estranha
Muitas voltas tem dado a fatal roda;
Mas nunca poderá, com força ou manha,
A Fortuna inquieta pôr-lhe noda
Que lha não tire o esforço e ousadia
Dos belicosos peitos que em si cria.
D. SEBASTIÃO,
REI DE PORTUGAL
Louco, sim, louco, porque quiz grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Porisso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que ha.
Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nella ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadaver addiado que procria?
3
CANTO III
6
«Entre a Zona que o Cancro senhoreia,
Meta Setentrional do Sol luzente,
E aquela que por fria se arreceia
Tanto, como a do meio por ardente,
Jaz a soberba Europa, a quem rodeia,
Pela parte do Arcturo e do Ocidente,
Com suas salsas ondas o Oceano,
E, pela Austral, o Mar Mediterrano.
17
Em vós se vêm, da Olímpica morada,
Dos dous avós as almas cá famosas;
Ũa, na paz angélica dourada,
Outra, pelas batalhas sanguinosas.
Em vós esperam ver-se renovada
Sua memória e obras valerosas;
E lá vos têm lugar, no fim da idade,
No templo da suprema Eternidade.
20
«Eis aqui, quási cume da cabeça
De Europa toda, o Reino Lusitano,
Onde a terra se acaba e o mar começa
E onde Febo repousa no Oceano.
Este quis o Céu justo que floreça
Nas armas contra o torpe Mauritano,
Deitando-o de si fora; e lá na ardente
África estar quieto o não consente.
21
«Esta é a ditosa pátria minha amada,
À qual se o Céu me dá que eu sem perigo
Torne, com esta empresa já acabada,
Acabe-se esta luz ali comigo.
Esta foi Lusitânia, derivada
De Luso ou Lisa, que de Baco antigo
Filhos foram, parece, ou companheiros,
E nela antão os íncolas primeiros.
O DOS CASTELLOS
A Europa jaz, posta nos cotovellos:
De oriente a Occidente jaz, fitando,
E toldam-lhe romanticos cabellos
Olhos gregos, lembrando.
O cotovello esquerdo é recuado;
O direito é em angulo disposto.
Aquelle diz Italia onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se appoia o rosto.
Fita, com olhar sphyngico e fatal,
O Occidente, futuro do passado.
O rosto que fita é Portugal.
4
CANTO III
96
«EisdespoisvemDinis,que bemparece
Do bravo Afonsoestirpe nobree dina,
Com quema famagrande se escurece
Da liberalidade Alexandrina.
Co este o Reinopróspero florece
(Alcançadajáa paz áureadivina)
Em constituições,leise costumes,
Na terra játranquilaclaroslumes.
97
«Fez primeiro em Coimbra exercitar-se
O valeroso ofício de Minerva;
E de Helicona as Musas fez passar-se
A pisar de Mondego a fértil erva.
Quanto pode de Atenas desejar-se
Tudo o soberbo Apolo aqui reserva.
Aqui as capelas dá tecidas de ouro,
Do bácaro e do sempre verde louro.
98
«Nobres vilas de novo edificou,
Fortalezas, castelos mui seguros,
E quási o Reino todo reformou
Com edifícios grandes e altos muros;
Mas despois que a dura Átropos cortou
O fio de seus dias já maduros,
Ficou-lhe o filho pouco obediente,
Quarto Afonso, mas forte e excelente.
D. DINIS
Na noite escreve um seu Cantar de Amigo
O plantador de naus a haver,
E ouve um silencio murmuro comsigo:
É o rumor dos pinhaes que, como um trigo
De Imperio, ondulam sem se poder ver.
Arroio, esse cantar, jovem e puro,
Busca o oceano por achar;
E a falla dos pinhaes, marulho obscuro,
É o som presente d’esse mar futuro,
É a voz da terra anciando pelo mar.
5
CANTO V
1
«ESTAS sentenças tais o velho honrado
Vociferando estava, quando abrimos
As asas ao sereno e sossegado
Vento, e do porto amado nos partimos.
E, como é já no mar costume usado,
A vela desfraldando, o céu ferimos,
Dizendo: – «Boa viagem!»; logo o vento
Nos troncos fez o usado movimento.
2
«Entrava neste tempo o eterno lume
No animal Nemeio truculento;
E o Mundo, que co tempo se consume,
Na sexta idade andava, enfermo e lento.
Nela vê, como tinha por costume,
Cursos do Sol catorze vezes cento,
Com mais noventa e sete, em que corria,
Quando no mar a armada se estendia.
3
«Já a vista, pouco e pouco, se desterra
Daqueles pátrios montes, que ficavam;
Ficava o caro Tejo e a fresca serra
De Sintra, e nela os olhos se alongavam;
Ficava-nos também na amada terra
O coração, que as mágoas lá deixavam;
E, já despois que toda se escondeu,
Não vimos mais, enfim, que mar e céu.
4
«Assi fomos abrindo aqueles mares,
Que geração algũa não abriu,
As novas Ilhas vendo e os novos ares
Que o generoso Henrique descobriu;
De Mauritânia os montes e lugares,
Terra que Anteu num tempo possuiu,
Deixando à mão esquerda, que à direita
Não há certeza doutra, mas suspeita.
12
«Sempre, enfim, pera o Austro a aguda
proa,
No grandíssimo gôlfão nos metemos,
Deixando a Serra aspérrima Lioa,
Co Cabo a quem das Palmas nome demos.
O grande rio, onde batendo soa
O INFANTE
Deus quere, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quiz que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,
E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.
Quem te sagrou creou-te portuguez.
Do mar e nós em ti nos deu signal.
Cumpriu-se o Mar, e o Imperio se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!
6
O mar nas praias notas, que ali temos,
Ficou, co a Ilha ilustre, que tomou
O nome dum que o lado a Deus tocou.
13
«Ali o mui grande reino está de Congo,
Por nós já convertido à fé de Cristo,
Por onde o Zaire passa, claro e longo,
Rio pelo antigos nunca visto.
Por este largo mar, enfim, me alongo
Do conhecido Pólo de Calisto,
Tendo o término ardente já passado
Onde o meio do Mundo é limitado.
14
«Já descoberto tínhamos diante,
Lá no novo Hemispério, nova estrela,
Não vista de outra gente, que, ignorante,
Alguns tempos esteve incerta dela.
Vimos a parte menos rutilante
E, por falta de estrelas, menos bela,
Do Pólo fixo, onde inda se não sabe
Que outra terra comece ou mar acabe.
7
CANTO V
37
«Porém já cinco Sóis eram passados
Que dali nos partíramos, cortando
Os mares nunca d' outrem navegados,
Prosperamente os ventos assoprando,
Quando ũa noute, estando descuidados
Na cortadora proa vigiando,
Ũa nuvem que os ares escurece,
Sobre nossas cabeças aparece.
39
«Não acabava, quando ũa figura
Se nos mostra no ar, robusta e válida,
De disforme e grandíssima estatura;
O rosto carregado, a barba esquálida,
Os olhos encovados, e a postura
Medonha e má e a cor terrena e pálida;
Cheios de terra e crespos os cabelos,
A boca negra, os dentes amarelos.
40
«Tão grande era de membros, que bem
posso
Certificar-te que este era o segundo
De Rodes estranhíssimo Colosso,
Que um dos sete milagres foi do mundo.
Cum tom de voz nos fala, horrendo e grosso,
Que pareceu sair do mar profundo.
Arrepiam-se as carnes e o cabelo,
A mi e a todos, só de ouvi-lo e vê-lo!
41
«E disse: – «Ó gente ousada, mais que
quantas
No mundo cometeram grandes cousas,
Tu, que por guerras cruas, tais e tantas,
E por trabalhos vãos nunca repousas,
Pois os vedados términos quebrantas
E navegar meus longos mares ousas,
Que eu tanto tempo há já que guardo e
tenho,
Nunca arados d' estranho ou próprio lenho;
42
«Pois vens ver os segredos escondidos
Da natureza e do húmido elemento,
A nenhum grande humano concedidos
De nobre ou de imortal merecimento,
O MOSTRENGO
O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou trez vezes,
Voou trez vezes a chiar,
E disse, «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo,
«El-Rei D. João Segundo!»
«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou trez vezes,
Trez vezes rodou immudo e grosso,
«Quem vem poder o que só eu posso,
que moro onde nunca ninguem me visse
e escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse,
«El-Rei D. João segundo!»
Trez vezes do leme as mãos ergueu,
Trez vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer trez vezes,
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um Povo que quere o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!»
8
Ouve os danos de mi que apercebidos
Estão a teu sobejo atrevimento,
Por todo o largo mar e pola terra
Que inda hás-de sojugar com dura guerra.
43
«Sabe que quantas naus esta viagem
Que tu fazes, fizerem, de atrevidas,
Inimiga terão esta paragem,
Com ventos e tormentas desmedidas;
E da primeira armada que passagem
Fizer por estas ondas insofridas,
Eu farei de improviso tal castigo
Que seja mor o dano que o perigo!
9
CANTO IX
51
Cortando vão as naus a larga via
Do mar ingente pera a pátria amada,
Desejando prover-se de água fria
Pera a grande viagem prolongada,
Quando, juntas, com súbita alegria,
Houveram vista da Ilha namorada,
Rompendo pelo céu a mãe fermosa
De Menónio, suave e deleitosa.
52
De longe a Ilha viram, fresca e bela,
Que Vénus pelas ondas lha levava
(Bem como o vento leva branca vela)
Pera onde a forte armada se enxergava;
Que, por que não passassem, sem que nela
Tomassem porto, como desejava,
Pera onde as naus navegam a movia
A Acidália, que tudo, enfim, podia.
64
Nesta frescura tal desembarcavam
Já das naus os segundos Argonautas,
Onde pela floresta se deixavam
Andar as belas Deusas, como incautas.
Algũas, doces cítaras tocavam;
Algũas, harpas e sonoras frautas;
Outras, cos arcos de ouro, se fingiam
Seguir os animais, que não seguiam.
65
Assi lho aconselhara a mestra experta:
Que andassem pelos campos espalhadas;
Que, vista dos barões a presa incerta,
Se fizessem primeiro desejadas.
Algũas, que na forma descoberta
Do belo corpo estavam confiadas,
Posta a artificiosa formosura,
Nuas lavar se deixam na água pura.
68
Começam de enxergar subitamente,
Por entre verdes ramos, várias cores,
Cores de quem a vista julga e sente
Que não eram das rosas ou das flores,
Mas da lã fina e seda diferente,
Que mais incita a força dos amores,
De que se vestem as humanas rosas,
HORIZONTE
Ó mar anterior a nós, teus medos
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mysterio,
Abria em flor o Longe, e o Sul
siderio
Splendia sobre as naus da iniciação.
Linha severa da longinqua costa –
Quando a nau se aproxima ergue-se
a encosta
Em arvores onde o Longe nada
tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons
e cores:
E, no desembarcar, ha aves, flores,
Onde era só, de longe a abstracta
linha.
O sonho é ver as fórmas invisiveis
Da distancia imprecisa, e, com
sensiveis
Movimentos da esprança e da
vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A arvore, a praia, a flor, a ave, a
fonte –
Os beijos merecidos da Verdade.
10
Fazendo-se por arte mais fermosas.
70
«Sigamos estas Deusas e vejamos
Se fantásticas são, se verdadeiras.»
Isto dito, veloces mais que gamos,
Se lançam a correr pelas ribeiras.
Fugindo as Ninfas vão por entre os ramos,
Mas, mais industriosas que ligeiras,
Pouco e pouco, sorrindo e gritos dando,
Se deixam ir dos galgos alcançando.
71
De ũa os cabelos de ouro o vento leva,
Correndo, e da outra as fraldas delicadas;
Acende-se o desejo, que se ceva
Nas alves carnes, súbito mostradas.
Ũa de indústria cai, e já releva,
Com mostras mais macias que indinadas,
Que sobre ela, empecendo, também caia
Quem a seguiu pela arenosa praia.
72
Outros, por outra parte, vão topar
Com as Deusas despidas, que se lavam;
Elas começam súbito a gritar,
Como que assalto tal não esperavam;
Ũas, fingindo menos estimar
A vergonha que a força, se lançavam
Nuas por entre o mato, aos olhos dando
O que às mãos cobiçosas vão negando;
83
Oh, que famintos beijos na floresta,
E que mimoso choro que soava!
Que afagos tão suaves! Que ira honesta,
Que em risinhos alegres se tornava!
O que mais passam na manhã e na sesta,
Que Vénus com prazeres inflamava,
Milhor é exprimentá-lo que julgá-lo;
Mas julgue-o quem não pode exprimentá-lo.
84
Destarte, enfim, conformes já as fermosas
Ninfas cos seus amados navegantes,
Os ornam de capelas deleitosas
De louro e de ouro e flores abundantes.
As mãos alvas lhe davam como esposas;
Com palavras formais e estipulantes
Se prometem eterna companhia,
11
Em vida e morte, de honra e alegria.
91
Não eram senão prémios que reparte,
Por feitos imortais e soberanos,
O mundo cos varões que esforço e arte
Divinos os fizeram, sendo humanos.
Que Júpiter, Mercúrio, Febo e Marte,
Eneas e Quirino e os dous Tebanos,
Ceres, Palas e Juno com Diana,
Todos foram de fraca carne humana.
12
CANTOX
145
Nô mais,Musa,nô mais,que a Lira tenho
Destemperadae avoz enrouquecida,
E não do canto, masde verque venho
Cantar a gente surdae endurecida.
O favorcom que mais se acende o engenho
Não nodá a pátria,não,que está metida
No gostoda cobiça e na rudeza
Dũa austera,apagada e vil tristeza.
NEVOEIRO
Nem rei nem lei, nem paz nem
guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer –
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fatuo encerra.
Ninguem sabe que coisa quere.
Ninguem conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ancia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a Hora!

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Mais procurados (9)

Lusíadas
LusíadasLusíadas
Lusíadas
 
Alexandre herculano a semana santa
Alexandre herculano   a semana santaAlexandre herculano   a semana santa
Alexandre herculano a semana santa
 
Estudo adicional_A morte de Cristo e a lei_622014
Estudo adicional_A morte de Cristo e a lei_622014Estudo adicional_A morte de Cristo e a lei_622014
Estudo adicional_A morte de Cristo e a lei_622014
 
Trisagio
TrisagioTrisagio
Trisagio
 
Eternidade da vida, a
Eternidade da vida, aEternidade da vida, a
Eternidade da vida, a
 
Livro de Enoque 1, 2 e 3
Livro de Enoque 1, 2 e 3Livro de Enoque 1, 2 e 3
Livro de Enoque 1, 2 e 3
 
Camões
CamõesCamões
Camões
 
Habacuc
HabacucHabacuc
Habacuc
 
O suave milagre
O suave milagreO suave milagre
O suave milagre
 

Destaque (20)

COGS Class of 83
COGS Class of 83COGS Class of 83
COGS Class of 83
 
Power point credit de sintesi angles
Power point credit de sintesi anglesPower point credit de sintesi angles
Power point credit de sintesi angles
 
Kirkland Rowell
Kirkland RowellKirkland Rowell
Kirkland Rowell
 
90 10 principle
90 10 principle90 10 principle
90 10 principle
 
overrepresentation
overrepresentation overrepresentation
overrepresentation
 
Twitter reflection 2
Twitter reflection 2Twitter reflection 2
Twitter reflection 2
 
Social Media Promotion Presentation
Social Media Promotion PresentationSocial Media Promotion Presentation
Social Media Promotion Presentation
 
алгоритмы
алгоритмыалгоритмы
алгоритмы
 
школьная форма
школьная формашкольная форма
школьная форма
 
Overrepresentation
OverrepresentationOverrepresentation
Overrepresentation
 
Gold Rush (Inquiry-Based Learning)
Gold Rush (Inquiry-Based Learning)Gold Rush (Inquiry-Based Learning)
Gold Rush (Inquiry-Based Learning)
 
Matamata
MatamataMatamata
Matamata
 
Debate workshop
Debate workshopDebate workshop
Debate workshop
 
A picture is worth
A picture is worthA picture is worth
A picture is worth
 
Overrepresentation
OverrepresentationOverrepresentation
Overrepresentation
 
Slide share
Slide shareSlide share
Slide share
 
เล่มที่ 8
เล่มที่ 8เล่มที่ 8
เล่มที่ 8
 
Prez mihailjkova iw
Prez mihailjkova iwPrez mihailjkova iw
Prez mihailjkova iw
 
Twitter reflection
Twitter reflectionTwitter reflection
Twitter reflection
 
Pertandingan bola jaring
Pertandingan bola jaringPertandingan bola jaring
Pertandingan bola jaring
 

Semelhante a Intertextualidade lusiadas mensagem

Semelhante a Intertextualidade lusiadas mensagem (20)

Os Lusiadas
Os LusiadasOs Lusiadas
Os Lusiadas
 
Os Lusiadas
Os LusiadasOs Lusiadas
Os Lusiadas
 
Os Lusiadas
Os LusiadasOs Lusiadas
Os Lusiadas
 
Luiz de Camôes - Os Lusiadas
Luiz de Camôes - Os LusiadasLuiz de Camôes - Os Lusiadas
Luiz de Camôes - Os Lusiadas
 
25
2525
25
 
Os Lusíadas
Os LusíadasOs Lusíadas
Os Lusíadas
 
Os lusiadas
Os lusiadasOs lusiadas
Os lusiadas
 
Lusiadas
LusiadasLusiadas
Lusiadas
 
Os lusiadas
Os lusiadasOs lusiadas
Os lusiadas
 
Os lusíadas, Luís de Camões
Os lusíadas, Luís de CamõesOs lusíadas, Luís de Camões
Os lusíadas, Luís de Camões
 
Os Lusíadas canto I
Os Lusíadas   canto IOs Lusíadas   canto I
Os Lusíadas canto I
 
Luís Vaz de Camões - Os lusíadas
Luís Vaz de Camões - Os lusíadasLuís Vaz de Camões - Os lusíadas
Luís Vaz de Camões - Os lusíadas
 
Canto iii (1)
Canto iii (1)Canto iii (1)
Canto iii (1)
 
Gigante Adamastor, d'Os Lusíadas
Gigante Adamastor, d'Os LusíadasGigante Adamastor, d'Os Lusíadas
Gigante Adamastor, d'Os Lusíadas
 
Cantos i e ii lusíadas
Cantos i e ii   lusíadasCantos i e ii   lusíadas
Cantos i e ii lusíadas
 
10ºano Luís de Camões parte B
10ºano Luís de Camões parte B10ºano Luís de Camões parte B
10ºano Luís de Camões parte B
 
oslusadas-ovelhodorestelo-ivcanto-110526182923-phpapp02.pdf
oslusadas-ovelhodorestelo-ivcanto-110526182923-phpapp02.pdfoslusadas-ovelhodorestelo-ivcanto-110526182923-phpapp02.pdf
oslusadas-ovelhodorestelo-ivcanto-110526182923-phpapp02.pdf
 
10ºano camões parte C
10ºano camões parte C10ºano camões parte C
10ºano camões parte C
 
O Uraguai - Basílio da Gama
O Uraguai - Basílio da GamaO Uraguai - Basílio da Gama
O Uraguai - Basílio da Gama
 
Lusíadas - Episódio do Adamastor
Lusíadas - Episódio do AdamastorLusíadas - Episódio do Adamastor
Lusíadas - Episódio do Adamastor
 

Último

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMPRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMHELENO FAVACHO
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdfPROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdfHELENO FAVACHO
 
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfPROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfHELENO FAVACHO
 
Sistema de Bibliotecas UCS - Cantos do fim do século
Sistema de Bibliotecas UCS  - Cantos do fim do séculoSistema de Bibliotecas UCS  - Cantos do fim do século
Sistema de Bibliotecas UCS - Cantos do fim do séculoBiblioteca UCS
 
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenos
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenosmigração e trabalho 2º ano.pptx fenomenos
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenosLucianoPrado15
 
8 Aula de predicado verbal e nominal - Predicativo do sujeito
8 Aula de predicado verbal e nominal - Predicativo do sujeito8 Aula de predicado verbal e nominal - Predicativo do sujeito
8 Aula de predicado verbal e nominal - Predicativo do sujeitotatianehilda
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...HELENO FAVACHO
 
M0 Atendimento – Definição, Importância .pptx
M0 Atendimento – Definição, Importância .pptxM0 Atendimento – Definição, Importância .pptx
M0 Atendimento – Definição, Importância .pptxJustinoTeixeira1
 
Texto dramático com Estrutura e exemplos.ppt
Texto dramático com Estrutura e exemplos.pptTexto dramático com Estrutura e exemplos.ppt
Texto dramático com Estrutura e exemplos.pptjricardo76
 
EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA INCLUSIVA
EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA INCLUSIVAEDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA INCLUSIVA
EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA INCLUSIVAssuser2ad38b
 
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptxTeoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptxTailsonSantos1
 
Plano de aula Nova Escola períodos simples e composto parte 1.pptx
Plano de aula Nova Escola períodos simples e composto parte 1.pptxPlano de aula Nova Escola períodos simples e composto parte 1.pptx
Plano de aula Nova Escola períodos simples e composto parte 1.pptxPaulaYaraDaasPedro
 
Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptx
Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptxResponde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptx
Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptxAntonioVieira539017
 
A Revolução Francesa. Liberdade, Igualdade e Fraternidade são os direitos que...
A Revolução Francesa. Liberdade, Igualdade e Fraternidade são os direitos que...A Revolução Francesa. Liberdade, Igualdade e Fraternidade são os direitos que...
A Revolução Francesa. Liberdade, Igualdade e Fraternidade são os direitos que...DirceuNascimento5
 
Aula 25 - A america espanhola - colonização, exploraçãp e trabalho (mita e en...
Aula 25 - A america espanhola - colonização, exploraçãp e trabalho (mita e en...Aula 25 - A america espanhola - colonização, exploraçãp e trabalho (mita e en...
Aula 25 - A america espanhola - colonização, exploraçãp e trabalho (mita e en...MariaCristinaSouzaLe1
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIAPROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIAHELENO FAVACHO
 
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptxSlides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
O que é arte. Definição de arte. História da arte.
O que é arte. Definição de arte. História da arte.O que é arte. Definição de arte. História da arte.
O que é arte. Definição de arte. História da arte.denisecompasso2
 
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdfProjeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdfHELENO FAVACHO
 
LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...
LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...
LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...Francisco Márcio Bezerra Oliveira
 

Último (20)

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMPRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdfPROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdf
 
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfPROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
 
Sistema de Bibliotecas UCS - Cantos do fim do século
Sistema de Bibliotecas UCS  - Cantos do fim do séculoSistema de Bibliotecas UCS  - Cantos do fim do século
Sistema de Bibliotecas UCS - Cantos do fim do século
 
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenos
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenosmigração e trabalho 2º ano.pptx fenomenos
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenos
 
8 Aula de predicado verbal e nominal - Predicativo do sujeito
8 Aula de predicado verbal e nominal - Predicativo do sujeito8 Aula de predicado verbal e nominal - Predicativo do sujeito
8 Aula de predicado verbal e nominal - Predicativo do sujeito
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
 
M0 Atendimento – Definição, Importância .pptx
M0 Atendimento – Definição, Importância .pptxM0 Atendimento – Definição, Importância .pptx
M0 Atendimento – Definição, Importância .pptx
 
Texto dramático com Estrutura e exemplos.ppt
Texto dramático com Estrutura e exemplos.pptTexto dramático com Estrutura e exemplos.ppt
Texto dramático com Estrutura e exemplos.ppt
 
EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA INCLUSIVA
EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA INCLUSIVAEDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA INCLUSIVA
EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA INCLUSIVA
 
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptxTeoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
 
Plano de aula Nova Escola períodos simples e composto parte 1.pptx
Plano de aula Nova Escola períodos simples e composto parte 1.pptxPlano de aula Nova Escola períodos simples e composto parte 1.pptx
Plano de aula Nova Escola períodos simples e composto parte 1.pptx
 
Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptx
Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptxResponde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptx
Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptx
 
A Revolução Francesa. Liberdade, Igualdade e Fraternidade são os direitos que...
A Revolução Francesa. Liberdade, Igualdade e Fraternidade são os direitos que...A Revolução Francesa. Liberdade, Igualdade e Fraternidade são os direitos que...
A Revolução Francesa. Liberdade, Igualdade e Fraternidade são os direitos que...
 
Aula 25 - A america espanhola - colonização, exploraçãp e trabalho (mita e en...
Aula 25 - A america espanhola - colonização, exploraçãp e trabalho (mita e en...Aula 25 - A america espanhola - colonização, exploraçãp e trabalho (mita e en...
Aula 25 - A america espanhola - colonização, exploraçãp e trabalho (mita e en...
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIAPROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
 
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptxSlides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
 
O que é arte. Definição de arte. História da arte.
O que é arte. Definição de arte. História da arte.O que é arte. Definição de arte. História da arte.
O que é arte. Definição de arte. História da arte.
 
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdfProjeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
 
LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...
LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...
LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...
 

Intertextualidade lusiadas mensagem

  • 1. 1
  • 2. 2 CANTO I 6 E vós, ó bem nascida segurança Da Lusitana antiga liberdade, E não menos certíssima esperança De aumento da pequena Cristandade; Vós, ó novo temor da Maura lança, Maravilha fatal da nossa idade, Dada ao mundo por Deus, que todo o mande, Pera do mundo a Deus dar parte grande; 7 Vós, tenro e novo ramo florecente De ũa árvore, de Cristo mais amada Que nenhua nascida no Ocidente, Cesárea ou Cristianíssima chamada (Vede-o no vosso escudo, que presente Vos amostra a vitória já passada, Na qual vos deu por armas e deixou As que Ele pera si na Cruz tomou); 16 Em vós os olhos tem o Mouro frio, Em quem vê seu exício afigurado; Só com vos ver, o bárbaro Gentio Mostra o pescoço ao jugo já inclinado; Tétis todo o cerúleo senhorio Tem pera vós por dote aparelhado, Que, afeiçoada ao gesto belo e tenro, Deseja de comprar-vos pera genro. 17 «Eis aqui se descobre a nobre Espanha, Como cabeça ali de Europa toda, Em cujo senhorio e glória estranha Muitas voltas tem dado a fatal roda; Mas nunca poderá, com força ou manha, A Fortuna inquieta pôr-lhe noda Que lha não tire o esforço e ousadia Dos belicosos peitos que em si cria. D. SEBASTIÃO, REI DE PORTUGAL Louco, sim, louco, porque quiz grandeza Qual a Sorte a não dá. Não coube em mim minha certeza; Porisso onde o areal está Ficou meu ser que houve, não o que ha. Minha loucura, outros que me a tomem Com o que nella ia. Sem a loucura que é o homem Mais que a besta sadia, Cadaver addiado que procria?
  • 3. 3 CANTO III 6 «Entre a Zona que o Cancro senhoreia, Meta Setentrional do Sol luzente, E aquela que por fria se arreceia Tanto, como a do meio por ardente, Jaz a soberba Europa, a quem rodeia, Pela parte do Arcturo e do Ocidente, Com suas salsas ondas o Oceano, E, pela Austral, o Mar Mediterrano. 17 Em vós se vêm, da Olímpica morada, Dos dous avós as almas cá famosas; Ũa, na paz angélica dourada, Outra, pelas batalhas sanguinosas. Em vós esperam ver-se renovada Sua memória e obras valerosas; E lá vos têm lugar, no fim da idade, No templo da suprema Eternidade. 20 «Eis aqui, quási cume da cabeça De Europa toda, o Reino Lusitano, Onde a terra se acaba e o mar começa E onde Febo repousa no Oceano. Este quis o Céu justo que floreça Nas armas contra o torpe Mauritano, Deitando-o de si fora; e lá na ardente África estar quieto o não consente. 21 «Esta é a ditosa pátria minha amada, À qual se o Céu me dá que eu sem perigo Torne, com esta empresa já acabada, Acabe-se esta luz ali comigo. Esta foi Lusitânia, derivada De Luso ou Lisa, que de Baco antigo Filhos foram, parece, ou companheiros, E nela antão os íncolas primeiros. O DOS CASTELLOS A Europa jaz, posta nos cotovellos: De oriente a Occidente jaz, fitando, E toldam-lhe romanticos cabellos Olhos gregos, lembrando. O cotovello esquerdo é recuado; O direito é em angulo disposto. Aquelle diz Italia onde é pousado; Este diz Inglaterra onde, afastado, A mão sustenta, em que se appoia o rosto. Fita, com olhar sphyngico e fatal, O Occidente, futuro do passado. O rosto que fita é Portugal.
  • 4. 4 CANTO III 96 «EisdespoisvemDinis,que bemparece Do bravo Afonsoestirpe nobree dina, Com quema famagrande se escurece Da liberalidade Alexandrina. Co este o Reinopróspero florece (Alcançadajáa paz áureadivina) Em constituições,leise costumes, Na terra játranquilaclaroslumes. 97 «Fez primeiro em Coimbra exercitar-se O valeroso ofício de Minerva; E de Helicona as Musas fez passar-se A pisar de Mondego a fértil erva. Quanto pode de Atenas desejar-se Tudo o soberbo Apolo aqui reserva. Aqui as capelas dá tecidas de ouro, Do bácaro e do sempre verde louro. 98 «Nobres vilas de novo edificou, Fortalezas, castelos mui seguros, E quási o Reino todo reformou Com edifícios grandes e altos muros; Mas despois que a dura Átropos cortou O fio de seus dias já maduros, Ficou-lhe o filho pouco obediente, Quarto Afonso, mas forte e excelente. D. DINIS Na noite escreve um seu Cantar de Amigo O plantador de naus a haver, E ouve um silencio murmuro comsigo: É o rumor dos pinhaes que, como um trigo De Imperio, ondulam sem se poder ver. Arroio, esse cantar, jovem e puro, Busca o oceano por achar; E a falla dos pinhaes, marulho obscuro, É o som presente d’esse mar futuro, É a voz da terra anciando pelo mar.
  • 5. 5 CANTO V 1 «ESTAS sentenças tais o velho honrado Vociferando estava, quando abrimos As asas ao sereno e sossegado Vento, e do porto amado nos partimos. E, como é já no mar costume usado, A vela desfraldando, o céu ferimos, Dizendo: – «Boa viagem!»; logo o vento Nos troncos fez o usado movimento. 2 «Entrava neste tempo o eterno lume No animal Nemeio truculento; E o Mundo, que co tempo se consume, Na sexta idade andava, enfermo e lento. Nela vê, como tinha por costume, Cursos do Sol catorze vezes cento, Com mais noventa e sete, em que corria, Quando no mar a armada se estendia. 3 «Já a vista, pouco e pouco, se desterra Daqueles pátrios montes, que ficavam; Ficava o caro Tejo e a fresca serra De Sintra, e nela os olhos se alongavam; Ficava-nos também na amada terra O coração, que as mágoas lá deixavam; E, já despois que toda se escondeu, Não vimos mais, enfim, que mar e céu. 4 «Assi fomos abrindo aqueles mares, Que geração algũa não abriu, As novas Ilhas vendo e os novos ares Que o generoso Henrique descobriu; De Mauritânia os montes e lugares, Terra que Anteu num tempo possuiu, Deixando à mão esquerda, que à direita Não há certeza doutra, mas suspeita. 12 «Sempre, enfim, pera o Austro a aguda proa, No grandíssimo gôlfão nos metemos, Deixando a Serra aspérrima Lioa, Co Cabo a quem das Palmas nome demos. O grande rio, onde batendo soa O INFANTE Deus quere, o homem sonha, a obra nasce. Deus quiz que a terra fosse toda uma, Que o mar unisse, já não separasse. Sagrou-te, e foste desvendando a espuma, E a orla branca foi de ilha em continente, Clareou, correndo, até ao fim do mundo, E viu-se a terra inteira, de repente, Surgir, redonda, do azul profundo. Quem te sagrou creou-te portuguez. Do mar e nós em ti nos deu signal. Cumpriu-se o Mar, e o Imperio se desfez. Senhor, falta cumprir-se Portugal!
  • 6. 6 O mar nas praias notas, que ali temos, Ficou, co a Ilha ilustre, que tomou O nome dum que o lado a Deus tocou. 13 «Ali o mui grande reino está de Congo, Por nós já convertido à fé de Cristo, Por onde o Zaire passa, claro e longo, Rio pelo antigos nunca visto. Por este largo mar, enfim, me alongo Do conhecido Pólo de Calisto, Tendo o término ardente já passado Onde o meio do Mundo é limitado. 14 «Já descoberto tínhamos diante, Lá no novo Hemispério, nova estrela, Não vista de outra gente, que, ignorante, Alguns tempos esteve incerta dela. Vimos a parte menos rutilante E, por falta de estrelas, menos bela, Do Pólo fixo, onde inda se não sabe Que outra terra comece ou mar acabe.
  • 7. 7 CANTO V 37 «Porém já cinco Sóis eram passados Que dali nos partíramos, cortando Os mares nunca d' outrem navegados, Prosperamente os ventos assoprando, Quando ũa noute, estando descuidados Na cortadora proa vigiando, Ũa nuvem que os ares escurece, Sobre nossas cabeças aparece. 39 «Não acabava, quando ũa figura Se nos mostra no ar, robusta e válida, De disforme e grandíssima estatura; O rosto carregado, a barba esquálida, Os olhos encovados, e a postura Medonha e má e a cor terrena e pálida; Cheios de terra e crespos os cabelos, A boca negra, os dentes amarelos. 40 «Tão grande era de membros, que bem posso Certificar-te que este era o segundo De Rodes estranhíssimo Colosso, Que um dos sete milagres foi do mundo. Cum tom de voz nos fala, horrendo e grosso, Que pareceu sair do mar profundo. Arrepiam-se as carnes e o cabelo, A mi e a todos, só de ouvi-lo e vê-lo! 41 «E disse: – «Ó gente ousada, mais que quantas No mundo cometeram grandes cousas, Tu, que por guerras cruas, tais e tantas, E por trabalhos vãos nunca repousas, Pois os vedados términos quebrantas E navegar meus longos mares ousas, Que eu tanto tempo há já que guardo e tenho, Nunca arados d' estranho ou próprio lenho; 42 «Pois vens ver os segredos escondidos Da natureza e do húmido elemento, A nenhum grande humano concedidos De nobre ou de imortal merecimento, O MOSTRENGO O mostrengo que está no fim do mar Na noite de breu ergueu-se a voar; À roda da nau voou trez vezes, Voou trez vezes a chiar, E disse, «Quem é que ousou entrar Nas minhas cavernas que não desvendo, Meus tectos negros do fim do mundo?» E o homem do leme disse, tremendo, «El-Rei D. João Segundo!» «De quem são as velas onde me roço? De quem as quilhas que vejo e ouço?» Disse o mostrengo, e rodou trez vezes, Trez vezes rodou immudo e grosso, «Quem vem poder o que só eu posso, que moro onde nunca ninguem me visse e escorro os medos do mar sem fundo?» E o homem do leme tremeu, e disse, «El-Rei D. João segundo!» Trez vezes do leme as mãos ergueu, Trez vezes ao leme as reprendeu, E disse no fim de tremer trez vezes, «Aqui ao leme sou mais do que eu: Sou um Povo que quere o mar que é teu; E mais que o mostrengo, que me a alma teme E roda nas trevas do fim do mundo, Manda a vontade, que me ata ao leme, De El-Rei D. João Segundo!»
  • 8. 8 Ouve os danos de mi que apercebidos Estão a teu sobejo atrevimento, Por todo o largo mar e pola terra Que inda hás-de sojugar com dura guerra. 43 «Sabe que quantas naus esta viagem Que tu fazes, fizerem, de atrevidas, Inimiga terão esta paragem, Com ventos e tormentas desmedidas; E da primeira armada que passagem Fizer por estas ondas insofridas, Eu farei de improviso tal castigo Que seja mor o dano que o perigo!
  • 9. 9 CANTO IX 51 Cortando vão as naus a larga via Do mar ingente pera a pátria amada, Desejando prover-se de água fria Pera a grande viagem prolongada, Quando, juntas, com súbita alegria, Houveram vista da Ilha namorada, Rompendo pelo céu a mãe fermosa De Menónio, suave e deleitosa. 52 De longe a Ilha viram, fresca e bela, Que Vénus pelas ondas lha levava (Bem como o vento leva branca vela) Pera onde a forte armada se enxergava; Que, por que não passassem, sem que nela Tomassem porto, como desejava, Pera onde as naus navegam a movia A Acidália, que tudo, enfim, podia. 64 Nesta frescura tal desembarcavam Já das naus os segundos Argonautas, Onde pela floresta se deixavam Andar as belas Deusas, como incautas. Algũas, doces cítaras tocavam; Algũas, harpas e sonoras frautas; Outras, cos arcos de ouro, se fingiam Seguir os animais, que não seguiam. 65 Assi lho aconselhara a mestra experta: Que andassem pelos campos espalhadas; Que, vista dos barões a presa incerta, Se fizessem primeiro desejadas. Algũas, que na forma descoberta Do belo corpo estavam confiadas, Posta a artificiosa formosura, Nuas lavar se deixam na água pura. 68 Começam de enxergar subitamente, Por entre verdes ramos, várias cores, Cores de quem a vista julga e sente Que não eram das rosas ou das flores, Mas da lã fina e seda diferente, Que mais incita a força dos amores, De que se vestem as humanas rosas, HORIZONTE Ó mar anterior a nós, teus medos Tinham coral e praias e arvoredos. Desvendadas a noite e a cerração, As tormentas passadas e o mysterio, Abria em flor o Longe, e o Sul siderio Splendia sobre as naus da iniciação. Linha severa da longinqua costa – Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta Em arvores onde o Longe nada tinha; Mais perto, abre-se a terra em sons e cores: E, no desembarcar, ha aves, flores, Onde era só, de longe a abstracta linha. O sonho é ver as fórmas invisiveis Da distancia imprecisa, e, com sensiveis Movimentos da esprança e da vontade, Buscar na linha fria do horizonte A arvore, a praia, a flor, a ave, a fonte – Os beijos merecidos da Verdade.
  • 10. 10 Fazendo-se por arte mais fermosas. 70 «Sigamos estas Deusas e vejamos Se fantásticas são, se verdadeiras.» Isto dito, veloces mais que gamos, Se lançam a correr pelas ribeiras. Fugindo as Ninfas vão por entre os ramos, Mas, mais industriosas que ligeiras, Pouco e pouco, sorrindo e gritos dando, Se deixam ir dos galgos alcançando. 71 De ũa os cabelos de ouro o vento leva, Correndo, e da outra as fraldas delicadas; Acende-se o desejo, que se ceva Nas alves carnes, súbito mostradas. Ũa de indústria cai, e já releva, Com mostras mais macias que indinadas, Que sobre ela, empecendo, também caia Quem a seguiu pela arenosa praia. 72 Outros, por outra parte, vão topar Com as Deusas despidas, que se lavam; Elas começam súbito a gritar, Como que assalto tal não esperavam; Ũas, fingindo menos estimar A vergonha que a força, se lançavam Nuas por entre o mato, aos olhos dando O que às mãos cobiçosas vão negando; 83 Oh, que famintos beijos na floresta, E que mimoso choro que soava! Que afagos tão suaves! Que ira honesta, Que em risinhos alegres se tornava! O que mais passam na manhã e na sesta, Que Vénus com prazeres inflamava, Milhor é exprimentá-lo que julgá-lo; Mas julgue-o quem não pode exprimentá-lo. 84 Destarte, enfim, conformes já as fermosas Ninfas cos seus amados navegantes, Os ornam de capelas deleitosas De louro e de ouro e flores abundantes. As mãos alvas lhe davam como esposas; Com palavras formais e estipulantes Se prometem eterna companhia,
  • 11. 11 Em vida e morte, de honra e alegria. 91 Não eram senão prémios que reparte, Por feitos imortais e soberanos, O mundo cos varões que esforço e arte Divinos os fizeram, sendo humanos. Que Júpiter, Mercúrio, Febo e Marte, Eneas e Quirino e os dous Tebanos, Ceres, Palas e Juno com Diana, Todos foram de fraca carne humana.
  • 12. 12 CANTOX 145 Nô mais,Musa,nô mais,que a Lira tenho Destemperadae avoz enrouquecida, E não do canto, masde verque venho Cantar a gente surdae endurecida. O favorcom que mais se acende o engenho Não nodá a pátria,não,que está metida No gostoda cobiça e na rudeza Dũa austera,apagada e vil tristeza. NEVOEIRO Nem rei nem lei, nem paz nem guerra, Define com perfil e ser Este fulgor baço da terra Que é Portugal a entristecer – Brilho sem luz e sem arder, Como o que o fogo-fatuo encerra. Ninguem sabe que coisa quere. Ninguem conhece que alma tem, Nem o que é mal nem o que é bem. (Que ancia distante perto chora?) Tudo é incerto e derradeiro. Tudo é disperso, nada é inteiro. Ó Portugal, hoje és nevoeiro... É a Hora!