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Lusíadas
 Luís de Camões
Canto VII
Interpretação
    Geral
Estrutura Interna

- Intervenção do poeta (estrofe 1-15)

      - Plano Fulcral (16-77)
Temáticas
- Plano do Poeta



- Plano da Viagem
Estância 3
Vós, Portugueses, poucos quanto fortes,
  Que o fraco poder vosso não pesais;
    Vós, que à custa de vossas várias
                   mortes
       A lei da vida eterna dilatais:
   Assi do céu deitadas são as sortes,
 Que vós, por muito poucos que sejais,
   Muito façais na santa Cristandade:
      Que tanto, ó Cristo, exaltas a
                humildade!
Estância 16
Tanto que à nova terra se chegaram,
  Leves embarcações de pescadores
     Acharam, que o caminho lhe
              mostraram
  De Calecu, onde eram moradores.
 Pera lá logo as proas se inclinaram,
Porque esta era a cidade das milhores
   Do Malabar, milhor, onde vivia
   O Rei que a terra toda possuía.
Estância 31
"Deus por certo vos traz, porque pretende
    Algum serviço seu por vós obrado;
    Por isso só vos guia, e vos defende
  Dos inimigos, do mar, do vento irado.
    Sabei que estais na Índia, onde se
                  estende
     Diverso povo, rico e prosperado
     De ouro luzente e fina pedraria,
    Cheiro suave, ardente especiaria.
Estância 37
  “A Lei da gente toda, rica e pobre,
   De fábulas composta se imagina:
Andam nus, e somente um pano cobre
As partes, que a cobrir natura ensina.
   Dois modos há de gente, porque a
                 nobre
Naires chamados são, e a menos digna
 Poleás tem por nome, a quem obriga
  A Lei não misturar a casta antiga.
Estância 38
 "Porque os que usaram sempre um
             mesmo ofício,
De outro não podem receber consorte,
  Nem os filhos terão outro exercício,
 Senão o de seus passados, até morte.
  Para os Naires é certo grande vício
  Destes serem tocados; de tal sorte,
    Que quando algum se toca, por
               ventura,
Com cerimónias mil se alimpa e apura.
Estância 40
  Brâmenes são os seus religiosos,
Nome antigo e de grande proeminência:
  Observam os preceitos tão famosos
Dum que primeiro pôs nome à ciência:
 Não matam coisa viva, e, temerosos,
     Das carnes têm grandíssima
             abstinência;
   Somente no venéreo ajuntamento
 Têm mais licença e menos regimento.
Estância 44
Na praia um regedor do Reino estava,
 Que na sua língua Catual se chama,
   Rodeado de Naires, que esperava
 Com desusada festa o nobre Gama.
   Já na terra, nos braços o levava,
  E num portátil leito uma rica cama
   Lhe oferece, em que vá, costume
                usado,
 Que nos ombros dos homens é levado
Estância 59
 Sentado o Gama junto ao rico leito,
Os seus mais afastados, pronto em vista
    Estava o Samori no trajo e jeito
 Da gente, nunca de antes dele vista.
 Lançando a grave voz do sábio peito,
  Que grande autoridade logo aquista
   Na opinião do Rei e do povo todo,
    O Capitão lhe fala deste modo:
Estância 62
 "E se queres com pactos e alianças
   De paz e de amizade sacra e nua
  Comércio consentir das abastanças
   Das fazendas da terra sua e tua,
     Por que cresçam as rendas e
              abastanças,
Por quem a gente mais trabalha e sua,
  De vossos Reinos, será certamente
  De ti proveito, o dele glória ingente.

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  • 4. Estrutura Interna - Intervenção do poeta (estrofe 1-15) - Plano Fulcral (16-77)
  • 5. Temáticas - Plano do Poeta - Plano da Viagem
  • 6. Estância 3 Vós, Portugueses, poucos quanto fortes, Que o fraco poder vosso não pesais; Vós, que à custa de vossas várias mortes A lei da vida eterna dilatais: Assi do céu deitadas são as sortes, Que vós, por muito poucos que sejais, Muito façais na santa Cristandade: Que tanto, ó Cristo, exaltas a humildade!
  • 7. Estância 16 Tanto que à nova terra se chegaram, Leves embarcações de pescadores Acharam, que o caminho lhe mostraram De Calecu, onde eram moradores. Pera lá logo as proas se inclinaram, Porque esta era a cidade das milhores Do Malabar, milhor, onde vivia O Rei que a terra toda possuía.
  • 8. Estância 31 "Deus por certo vos traz, porque pretende Algum serviço seu por vós obrado; Por isso só vos guia, e vos defende Dos inimigos, do mar, do vento irado. Sabei que estais na Índia, onde se estende Diverso povo, rico e prosperado De ouro luzente e fina pedraria, Cheiro suave, ardente especiaria.
  • 9. Estância 37 “A Lei da gente toda, rica e pobre, De fábulas composta se imagina: Andam nus, e somente um pano cobre As partes, que a cobrir natura ensina. Dois modos há de gente, porque a nobre Naires chamados são, e a menos digna Poleás tem por nome, a quem obriga A Lei não misturar a casta antiga.
  • 10. Estância 38 "Porque os que usaram sempre um mesmo ofício, De outro não podem receber consorte, Nem os filhos terão outro exercício, Senão o de seus passados, até morte. Para os Naires é certo grande vício Destes serem tocados; de tal sorte, Que quando algum se toca, por ventura, Com cerimónias mil se alimpa e apura.
  • 11. Estância 40 Brâmenes são os seus religiosos, Nome antigo e de grande proeminência: Observam os preceitos tão famosos Dum que primeiro pôs nome à ciência: Não matam coisa viva, e, temerosos, Das carnes têm grandíssima abstinência; Somente no venéreo ajuntamento Têm mais licença e menos regimento.
  • 12. Estância 44 Na praia um regedor do Reino estava, Que na sua língua Catual se chama, Rodeado de Naires, que esperava Com desusada festa o nobre Gama. Já na terra, nos braços o levava, E num portátil leito uma rica cama Lhe oferece, em que vá, costume usado, Que nos ombros dos homens é levado
  • 13. Estância 59 Sentado o Gama junto ao rico leito, Os seus mais afastados, pronto em vista Estava o Samori no trajo e jeito Da gente, nunca de antes dele vista. Lançando a grave voz do sábio peito, Que grande autoridade logo aquista Na opinião do Rei e do povo todo, O Capitão lhe fala deste modo:
  • 14. Estância 62 "E se queres com pactos e alianças De paz e de amizade sacra e nua Comércio consentir das abastanças Das fazendas da terra sua e tua, Por que cresçam as rendas e abastanças, Por quem a gente mais trabalha e sua, De vossos Reinos, será certamente De ti proveito, o dele glória ingente.