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Memórias
      do
 Cárcere
Graciliano Ramos foi em mar-
ço de 1936, acusado de ligação com
o Partido Comunista. Prisão sem pro-
cesso, mas que não evitou a de-
portação do acusado, num porão de
navio, para o Rio, onde permaneceu
encarcerado.Foi demitido do cargo e
Diretor de Instrução Pública e le-vado
a diversos presídios, até Já-neiro de
1937, quando foi libertado. Dessa
experiência resultou a obra Memórias
do Cárcere, Publicada postumamente
do homem Graciliano Ramos; é a
análise de prepotência que marcou a
ditadura Vargas e que, em última
análise, marca qualquer ditadura. É
um dos depoimentos mais tensos da
literatura brasileira.
A narrativa de Graciliano Ramos, pela
exposição de motivos contida no capítulo de
abertura da obra, dá ao texto uma auten-
ticidade autobiográfica, sobretudo se a ela
somarmos a “explicação final” de Ricardo
Ramos, qual ficam esclarecidas as difi-
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definitivamente o texto por concluído.
      Memórias do Cárcere é o testemunho
da realidade nua e crua de quem, sem saber
por quê, viveu em porões imundos, sofreu
com torturas e privações provocadas por um
regime ditatorial chamado de Estado Novo.
Na obra Graciliano Ramos não diz
diretamente que se sente injustiçado,
embora o tenha sido e isso se explicita no
próprio texto. O que o autor retrata, e é o
que mais interessa em Memórias do
Cárcere, é um olhar de quem foi preso,
algo que é muito abrangente do que se
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      O discurso, regido pela égide da
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Memorias do carcere

  • 1.
  • 2. Memórias do Cárcere
  • 3.
  • 4. Graciliano Ramos foi em mar- ço de 1936, acusado de ligação com o Partido Comunista. Prisão sem pro- cesso, mas que não evitou a de- portação do acusado, num porão de navio, para o Rio, onde permaneceu encarcerado.Foi demitido do cargo e Diretor de Instrução Pública e le-vado a diversos presídios, até Já-neiro de 1937, quando foi libertado. Dessa experiência resultou a obra Memórias do Cárcere, Publicada postumamente do homem Graciliano Ramos; é a análise de prepotência que marcou a ditadura Vargas e que, em última análise, marca qualquer ditadura. É um dos depoimentos mais tensos da literatura brasileira.
  • 5.
  • 6. A narrativa de Graciliano Ramos, pela exposição de motivos contida no capítulo de abertura da obra, dá ao texto uma auten- ticidade autobiográfica, sobretudo se a ela somarmos a “explicação final” de Ricardo Ramos, qual ficam esclarecidas as difi- culdades que impediram o autor de dar definitivamente o texto por concluído. Memórias do Cárcere é o testemunho da realidade nua e crua de quem, sem saber por quê, viveu em porões imundos, sofreu com torturas e privações provocadas por um regime ditatorial chamado de Estado Novo.
  • 7.
  • 8. Na obra Graciliano Ramos não diz diretamente que se sente injustiçado, embora o tenha sido e isso se explicita no próprio texto. O que o autor retrata, e é o que mais interessa em Memórias do Cárcere, é um olhar de quem foi preso, algo que é muito abrangente do que se fixar no olhar do narrador. O discurso, regido pela égide da opressão, é caracterizado pelo desdo- bramento: pois é psicológico, e, ao mesmo tempo, um documentário; é particular, mas universaliza-se.