Este trabalho analisa o romance Em Liberdade de Silviano Santiago, que retrata o período em que Graciliano Ramos saiu da prisão em 1937. Investiga-se os limites entre dados biográficos de Graciliano e elementos ficcionais criados por Santiago. Também se discute a linguagem utilizada e como o autor constrói o personagem "Grasilviano".
Aula 67 e 68 Robótica 8º ano Experimentando variações da matriz de Led
Em Liberdade: O FACTUAL NA FICÇÃO DE SILVIANO SANTIAGO
1. FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA
DEPARTAMENTO DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS E LITERÁRIOS
CAMPUS DE VILHENA - RONDÔNIA
EM LIBERDADE: O FACTUAL NA FICÇÃO DE
SILVIANO SANTIAGO
Acadêmica: Leidiany Biavatti da Silva
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Rosana Nunes Alencar
2. RESUMO: Este trabalho monográfico tem como objetivo
analisar o romance Em Liberdade, de Silviano Santiago, sob
a perspectiva do conceito de factual e ficcional. Esse
romance, publicado em 1981, busca compreender melhor
o drama do escritor brasileiro Graciliano Ramos ao sair da
prisão em 1937. A pesquisa visa investigar limites (se é que
existem) entre dados biográficos relacionados ao autor de
Vidas secas e dados ficcionais provenientes da criação de
Silviano Santiago. É válido ressaltar que foram utilizados
para a composição do suporte teórico-crítico alguns
estudiosos da literatura como Afrânio Coutinho (1976),
Antonio Candido (2006), D’Onófrio (1997), Georg Lukács
(2000) e outros.
Palavras-chave: Ficcional; Romance; Em Liberdade.
3. OBJETIVO GERAL
Este trabalho tem a finalidade de
investigar como a ficção e o fato se
aproximam e se distanciam no romance
Em Liberdade, de Silviano Santiago. Para
isso, estudamos a biografia de Graciliano
Ramos em contraponto com os dados
ficcionais criados pelo autor do romance
que será analisado.
4. HIPÓTESE
A hipótese para esta pesquisa norteia-
se pelo fato de que Silviano Santiago
ficcionalizou dados biográficos de
Graciliano Ramos com o intuito de
problematizar o conceito de ficção na
literatura contemporânea.
5. SUMÁRIO
INTRODUÇÃO....................................................................................09
1. QUANDO A LITERATURA TOCA NA REALIDADE..............................12
1.1 Entre a ficção e o fato.......................................................................12
1.2 A vida de Graciliano Ramos: uma história.......................................14
1.2.1 Do começo ao fim.........................................................................15
1.3 A escrita do autor de Vidas Secas....................................................17
2. EM LIBERDADE: O FACTUAL NA FICÇÃO DE SILVIANO SANTIAGO...18
2.1 Em Liberdade: consideração de alguns estudos críticos..................19
2.2 Em Liberdade: leitura crítica do diário ficcionalizado......................23
2.3 Graciliano e “Grasilviano”.................................................................27
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................32
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................33
6. 1. QUANDO A LITERATURA TOCA NA REALIDADE
Este capítulo tem como objetivo apresentar
os conceitos e teorias relacionadas às questões
que dizem respeito à ficção e ao fato, como
também mostrar os traços biográficos, bem como
o estilo e o contexto histórico vivenciado pelo
escritor alagoano Graciliano Ramos.
7. 1.1 Entre a ficção e o fato
O termo ficção é definido por Mendes
(2005, p. 134) como “a simulação de uma situação
possível”.
Ou seja, a ficção não tem a finalidade de retratar
escritos inverídicos, mas, sim, apresentar registros
que não podem ser comprovados historicamente.
O fato “esta ligado às ações, aos eventos, à
existência e demais situações com as quais temos
contato, que vivenciamos ou somos testemunhas
em nosso cotidiano” (MENDES, 2005, p. 134).
8. 1.2 A vida de Graciliano Ramos:
uma história
Nesta parte, delineamos a biografia do
escritor alagoano Graciliano Ramos narrando a
sua trajetória, compreendida entre a infância até
seus últimos dias de vida. Fazemos isso para
termos uma visão panorâmica da história desse
autor contada - em partes - e ficcionalizada por
Silviano Santiago.
De certa forma, ele se apossa da experiência
do outro para retratar um contexto desejado.
9. 1.3 A escrita do autor de Vidas
Secas
De estilo delicado e hábil, o “velho Graça”,
como era conhecido entre amigos, dizia apenas o
essencial utilizando poucas palavras. Tinha uma
maneira enxuta e crua de escrever. Talvez, isso
tenha advindo das suas experiências quando
menino. Como vimos, Graciliano teve uma
infância muito sofrida e passou por muitas
dificuldades ao longo de sua vida, principalmente,
quando foi preso injustamente.
10. “Nunca pude sair de dentro de mim mesmo, só
posso escrever o que sou. E, se as personagens se
comportam de modos diferentes, é porque não
sou um só. Em determinadas condições,
procederia como esta ou aquela das minhas
personagens” (RAMOS, 2002, p. 12).
11. 2. EM LIBERDADE: O FACTUAL NA FICÇÃO DE SILVIANO
SANTIAGO
Neste capítulo nosso objetivo é realizar uma
revisão crítica acerca do romance Em Liberdade, bem
como discutir sobre a criação do personagem e a
linguagem utilizada por Silviano Santiago para compor
seu romance, tendo por norte teórico os conceitos de
fato e ficção discutidos no capítulo anterior.
12. 2.2 Em Liberdade: leitura crítica do
diário ficcionalizado
Publicado em 1981, no fim da
ditadura militar brasileira que teve
início com o golpe de estado de 1964.
Dividido em duas partes, o que
corresponde a dois espaços de ação,
a obra Em Liberdade tem como
finalidade apresentar fatos
relacionados a Graciliano Ramos
entre 14 de janeiro a 26 de março de
1937 - período que Graciliano estava
em liberdade.
13. 2.3 Graciliano e “Grasilviano”
Nesta parte, temos o
objetivo de descrever
Graciliano Ramos em
vida com seus aspectos
físicos e psicológicos e
relacionar com o
personagem Graciliano
Ramos do romance Em
Liberdade, mostrando
algumas diferenças e
semelhanças do
mundo factual para o
ficcional.
14. FACTUAL
Sem dúvida o meu aspecto era
desagradável, inspirava repugnância.
E a gente da casa se impacientava.
Minha mãe tinha a franqueza de
manifestar-me viva antipatia. Dava-
me dois apelidos: bezerro-encourado
e cabra-cega [...] Não havia roupa que
me assentasse no corpo: a camisa
tufava na barriga, as mangas se
encurtavam ou alongavam, o paletó
se alargava nas costas, enchia-se,
como um balão (RAMOS, 2002, p.
136).
“Graciliano reescrevia sem cessar os
seus livros com o intuito de tirar deles
tudo o que era desnecessário”
(MARTINS, 2010, p. 1).
FICCIONAL
Ainda não tive a coragem de ver o
meu corpo de onde saem essas
frases; a coragem de ver-me em
corpo inteiro, refletido no espelho
que está por detrás da porta do
guarda-roupa [...] Não sinto o meu
corpo. Não quero sentir meu corpo
agora, porque é pura fonte de
sofrimento (SANTIAGO, 2013, p. 25 e
29).
“Penso cada frase, pesquiso cada
palavra, cada expressão. Leio a frase
e releio-a diversas vezes. Procuro o
ritmo dela, tento combiná-lo com o
ritmo do parágrafo e do capítulo”
(SANTIAGO, 2013, p. 123).
15. FACTUAL
“Havia qualquer suspeita contra
nós? Não havia. Tínhamos
entrado em desordem? Não
tínhamos. Éramos inimigos de
barulhos. E então? Porque
estávamos ali? Hem?” (RAMOS,
1953, p.196).
FICCIONAL
Não havia, de fato, nenhum processo
a respeito de Graciliano - nada se
apurara contra ele - e o resultado foi
que, dois ou três dias depois, o
romancista estava em liberdade. Era
dia 13 de janeiro de 1937. Ficou dez
meses e dez dias na prisão.
(SANTIAGO, 2013, p.11).
Sou apenas um jornalista que não
trabalha em redação de jornal; um
romancista que não sai da primeira
edição; um político abortado na
cadeia; um pai de família solteiro,
morando em uma pensão e um
trabalhador sem emprego
(SANTIAGO, 2013, p. 214).
16. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Podemos concluir que não é possível traçar
limites entre o factual e o ficcional no romance Em
Liberdade. Silviano Santiago constrói seu romance de
forma tão elaborada que há uma fusão entre a ficção
e o real.
O romance Em Liberdade dialoga com a ficção e
história, imaginação e realidade, revelando-se em um
processo inovador ao retomar a produção de
Graciliano Ramos. Constatamos que a obra analisada
se apresenta como um desafio contínuo à leitura, pela
imprevisibilidade, exigindo do público-leitor um olhar
crítico e minucioso.
17. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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cinema. São Paulo: Papirus, 2003.
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semiologia. Petrópolis: Vozes, 1971.
• CANCELLI, Elizabeth. Mal estar de escrever: memórias de cárcere em
tempos de ditadura e de Guerra fria. Disponível em:
https://www.usp.br/proin/download/artigo/artigo_mal_
estar_de_escrever.pdf. Acesso dia 30 de Março de 2017.
• CANDIDO, Antonio. Ficção e confissão: ensaios sobre Graciliano
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• COUTINHO, Afrânio. Notas de teoria literária. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1976.
• D’ONÓFRIO, Salvatore. Literatura Ocidental: autores e obras
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• ECO, Umberto. Seis passeios pelos bosques da ficção. Tradução de
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• FREITAS, Vanessa Cristine da Silva. A análise da personagem Luís da
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• HOUAISS, A.; VILLAR, M. S. Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa.
Elaborado pelo Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia e Banco de
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• JÚNIOR, Arnaldo Nogueira. Graciliano Ramos. Disponível em:
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• JÚNIOR, C. B; NASCIMENTO, N. A. Em Liberdade: o vivido inventado
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19. • LABRADA, Isadora Bertolini. Literatura e realidade. Disponível em:
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• LUKÁCS, Georg. A Teoria do romance: Um Ensaio Histórico-filosófico
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• MARTINS, Rui. Graciliano Ramos – características da obra: aspectos
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https://tertuliabibliofila.blogspot.com.br/2010/06/graciliano-
ramos-caracteristicas-da.html. Acesso em 12 de Setembro de 2017.
• MENDES, Emília Lopes. Contribuições ao estudo do conceito de
ficcionalidade e de suas configurações discursivas. 267 f. Tese
(Doutorado em Linguística) – Faculdade de Letras, Universidade
Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2005.
• MENDES, Simone. Entre o factual e o ficcional: a construção (pré)
discursiva do ethos em um cordel de acontecimento. 83 f. Tese (Pós
- Doutorado pela CAPES) – Programa Nacional de Pós-Doutorado,
Fortaleza, 2012.
20. • MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. São Paulo: Cultrix,
2013.
• RAMOS, Graciliano. Memórias do cárcere. São Paulo: José Olympio,
1953.
• ____________. Infância. São Paulo: Record, 2002.
• RIBEIRO, Roberto Carlos. Escrita do eu: crítica e ficção em Silviano
Santiago. Disponível em:
http://www.ufjf.br/darandina/files/2010/02/artigo14a.pdf. Acesso
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• ROSEMBAUM, Yudith. Literatura com Psicanálise. São Paulo: Ática,
1998.
• SANTIAGO, Silviano. Em Liberdade. Rio de Janeiro: Rocco, 2013.
• SÉRGIO, Ricardo. A Ficção. Disponível em:
http://www.recantodasletras.com.br /teorialiteraria/1612705.
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• VEREDA LITERÁRIA. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=Ki7Dd3jVgsc. Acesso em 14 de
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21. • VOGEL, Daise I. A ficção do relato jornalístico. Disponível em:
http://www.revistas.usp.br/caligrama/article/viewFile/56676/59706.
Acesso em 04 de Agosto de 2017.
• OLIVIERI, Antonio Carlos. Regionalismo: Literatura das peculiaridades do
Brasil. Disponível em:
https://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/regionalismo-
literatura-das-peculiaridades-do-brasil.htm. Acesso em 10 de Setembro de
2017.
• FILMOGRAFIA:
• CÁRCERE, Memórias do. Direção: Nelson Pereira dos Santos. Produção: Luís
Carlos Barreto. Rio de Janeiro – RJ, 1984. 2h 53 min.