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Faculdade Senac Porto Alegre
Cursos: Tecnólogo em MTK e RH
Disciplina: Comunicação e Expressão
Prof. Patrícia Rödel Gavioli

TRÊS TIPOS DE LEITORES: O CONTEMPLATIVO, O MOVENTEE O IMERSIVO
Maurício Canuto1

RESUMO
Este artigo discute e põe em pauta que há novos tipos de leitores e modos de
ler. No entanto, cabe ao profissional da educação reconhecer quais tipos de leitura seu
aluno domina e a partir daí exercitar leituras que não sejam desinteressantes para seus
alunos.

Palavras-chave: Tipos de leitores, modos de ler e alunos.

INTRODUÇÃO
Distinguimos o leitor do século XXI pela sua habilidade de ler, interpretar e
decodificar variados signos. Na Idade Média, tínhamos um leitor meditativo de um
texto/livro, de uma figura fixa. Já, após a massificação livresca, surgiu um leitor
fragmentado, que vê e sente os estímulos do seu contexto.
Segundo Santaella (2004), existem diversos tipos de leitores. Antes de
entrarmos na explicitação do perfil de cada um deles, é necessário entenderque:

“o leitor do livro é o mesmo da imagem e
este pode ser o leitor das formas híbridas de signos e
processos de linguagem, incluindo nessas formas até
mesmo o leitor da cidade e o espectador de cinema, TV
e vídeo”. (SANTAELLA, 2004, p. 16)

Expandiu-se a forma de ler, entretanto, há uma reação contrária àexpansão do
emprego do termo “leitura”, que antes somente se restringia à leitura, à decifração de
letras. Vêm-se incorporando, contudo, cada vez mais,as relações entre palavra e
imagem, desenho e tamanho de tipos de gráficos,texto e diagramação. Além disso,
1 Formado

em Letras, pós-graduado em Língua Portuguesa e Literatura, especialista em Leitura
pela Pontifica Universidade Católica PUC-SP. E-mail: mauricio.canuto@ig.com.br
com o surgimento, nos centros urbanos, dapublicidade e da propaganda, o escrito
inexplicavelmente unido à imagem, veiocolocar-se diante de nossos olhos na vida
cotidiana, muito embora as situaçõesem que praticamos o ato de ler ocorram de modo
tão automático que nemchegamos a nos dar conta disso.
O primeiro tipo, como já foi mencionado acima, é o leitorcontemplativo,
meditativo da idade pré-industrial, o leitor da era do livro impresso e da imagem fixa.
O segundo é o leitor do mundo em movimento,dinâmico, mundo híbrido, de misturas
sígnicas, um leitor que é filho daRevolução Industrial e do aparecimento dos grandes
centros urbanos. Oterceiro tipo de leitor é aquele que começa a emergir nos novos
espaçosincorpóreos da virtualidade.
Antes de caracterizar cada um desses tipos com mais detalhes, éimportante
ressaltar que, embora haja uma sequencialidade histórica noaparecimento de cada um
desses tipos de leitores, isso não significa que umexclui o outro.

O Leitor Contemplativo (Meditativo)
O leitor contemplativo ou meditativo desprende de aptidõessingulares, ele não
precisa do auxílio do outro. Sua leitura é isolada, silenciosae paulatina, pois depende
dele a sequência de sua leitura. Ser responsávelpela leitura proporciona a capacidade
de ler e reler inúmeras vezes e da formaque melhor lhe agrada, sem restrições, sendo
que, “a leitura silenciosa criou apossibilidade de ler textos mais complexos” (Chartier,
1999, p. 24).
Ao delinear esse tipo de leitor, Santaella (2004) volta seu olhar àleitura
individual, solitária, de foro privado, silenciosa, leitura de numerosos textos lidos em
uma relação de intimidade, de forma silenciosa e individual.Ainda segundo a autora,
esse tipo de leitor nasce da relação íntimaentre o leitor e o livro, leitura do manuseio,
da intimidade, num espaço privado.
Acredita-se

que,

durante

a

leitura,

a

sua

concentração

se

volta

completamentepara essa prática, visto que necessariamente envolve movimentos
complexos:

1 Formado

em Letras, pós-graduado em Língua Portuguesa e Literatura, especialista em Leitura
pela Pontifica Universidade Católica PUC-SP. E-mail: mauricio.canuto@ig.com.br
“Envolve não apenas a visão e percepção,
mas inferência, julgamento, memória, reconhecimento,
conhecimento, experiência e prática”. “*...+ Ler, então,
não é um processo automático de capturar um texto
como um papel fotossensível captura a luz, mas um
processo de reconstrução desconcertante, labiríntico,
comum e, contudo, pessoal” (MANGUEL, 1996, pp. 49:54)

Manguel (1996) e Orlandi (1996) consideram que a história de leitura do leitor
determina seu grau de compreensão e interpretação naconstrução de outros sentidos.
Sua bagagem cultural permite aintertextualização “ler é cumulativo e avança em
progressão geométrica: cadaleitura nova baseia-se no que o leitor leu antes”
(MANGUEL, 1996, p. 33).
Na leitura do livro, essa dinâmica possibilita ao leitor conduzir aapreensão do
conteúdo, adicionando sua inferência, consultando textos afinsetc. Embora a leitura da
escrita de um livro seja sequencial, a solidez do objeto livro permite idas e vindas,
retornos, resignificações. E o leitor contempla emedita à sua maneira.

O Leitor Movente (Fragmentário)
Um novo cenário foi decisivo e, notavelmente, cúmplice do leitorfragmentário,
um leitor capaz de compilar diversas imagens e novas formas deler. Com o surgimento,
principalmente, do jornal impresso, ligado à novaconduta social de consumo e
amparada na publicidade espalhada por toda acidade que impulsionou outra óptica,
outras formas de ler, porém nenhumamenor que a outra.
Com o advento tecnológico em expansão, com a introdução doscinemas e a
instantaneidade da televisão, quebrou-se um paradigma e surgiu um leitor que
acumula características do perfil anterior “contemplativo”, mas que passa a ser
também movente; leitor de formas, volumes, massas,interações de forças,
movimentos; leitor de direções, traços, cores; leitor deluzes que se acendem e se
apagam; leitor cujo organismo mudou de marcha,sincronizando-se à aceleração do
mundo.
Segundo Santaella (2004),
“É nesse ambiente que surge o nosso
segundo tipo de leitor, aquele que nasce com o advento
do jornal e das multidões nos centros urbanos habitados
de signos. É o leitor que foi se ajustando a novos ritmos
1 Formado em Letras, pós-graduado em Língua Portuguesa e Literatura, especialista em Leitura
pela Pontifica Universidade Católica PUC-SP. E-mail: mauricio.canuto@ig.com.br
da atenção, ritmos que passam com igual velocidade de
um estado fixo para um móvel. É o leitor treinado nas
distrações fugazes e sensações evanescentes cuja
percepção se tornou uma atividade instável, de
intensidades desiguais.” (Id. p. 29)

As habilidades do novo tipo de leitor são inquestionáveis, pois ele écapaz de
conviver com diferentes signos, além da velocidade e da intensidadeque as imagens
circulam nesse universo. Santaella (2004) acredita que aflexibilidade desse segundo
leitor abriu caminho ao tipo de leitor mais recente“o imersivo”, isto é, ele esteve
preparando a sensibilidade perceptiva humanapara o surgimento do leitor imersivo,
que navega “entre nós e conexõesalineares pelas arquiteturas líquidas dos espaços
virtuais”.(p. 11)

O Leitor Imersivo (Virtual)
O leitor imersivo ou virtual, assim como citado acima, surge damultiplicidade de
imagens sígnicas e ambientes virtuais de comunicaçãoimediata. Esse novo tipo de
leitor nasce inserido dentro dos grandes centrosurbanos, acostumados com a
linguagem efêmera e provido de umasensibilidade perceptiva-cognitiva quase que
instantânea.
De acordo com Santaella (2004), o receptor de uma hipermídia ouseu usuário
coloca em ação mecanismos, ou melhor, habilidades de leituramuito distintas daquelas
que são empregadas pelo leitor de um texto impressocomo o livro. Por outro lado, são
habilidades também distintas daquelas quesão empregadas pelo receptor de imagens
ou espectador de cinema, televisão.
Essas habilidades de leitura multimídia ainda mais se acentuam, quando
ahipermídia migra do suporte CD-Rom para transitar “nas potencialmenteinfinitas
infovias do ciberespaço”. (p. 11 )
Com a proliferação crescente das redes de telecomunicação,especialmente da
internet que liga todos os pontos do globo, surge um leitorque possui novas formas de
percepção e cognição que os atuais suporteseletrônicos e estruturas híbridas e
alineares do texto escrito estão fazendoemergir.

1 Formado

em Letras, pós-graduado em Língua Portuguesa e Literatura, especialista em Leitura
pela Pontifica Universidade Católica PUC-SP. E-mail: mauricio.canuto@ig.com.br
Nessa medida, Santaella (2004) não vê muitas diferenças entres ostrês tipos de
leitores, porém há habilidades que os diferem. A sua pesquisaconsistiu exatamente em
conhecer e delimitar esse novo leitor, suastransformações sensórias, perceptivas,
cognitivas e, consequentemente,também transformações de sua sensibilidade.
Sendo assim, para a autora a essa multiplicidade veio se somar oleitor das
imagens evanescentes da computação gráfica e o leitor do textoescrito que saltou do
papel para a superfície das telas eletrônicas. Esse leitorestá transitando pelas infovias
das redes, constituindo-se como um novo tipode leitor que navega nas arquiteturas
líquidas e alineares da hipermídia nociberespaço.

Quem é o leitor do século XXI?
O leitor que nasce no século XXI possui aptidões perceptivacognitiva muito
variada do leitor do passado. Esse novo perfil condiz com anecessidade e o acúmulo de
informações que são despejadas pelos espaçosmultimídiade informações instantâneas.
Embora na sala de aula, gradativamente, tem se incorporado esses novos
modos de ler, porém não relacionado com o tipo de leitorcontemporâneo, esse aluno
que relaciona seu modo de ver o mundo,diversificadamente, e se comunica com a
sociedade, a percebedescontextualizada, ou seja, em aulas tão pragmáticas que
exigem certosdomínios linguísticos que são ultrapassados e/ou nunca foram
apreendidospelo novo tipo de leitor.
As habilidades que esse leitor desprende em grau podem serparecidas com
todas as competências praticadas/exercitadas pelos tipos deleitores anteriores a ele.
No entanto, a sua necessidade linguística de Paraquem me comunico? Quando me
comunico? Em qual situação? possui outrafinalidade.
Assim, faz-se necessário que a escola, como instituição formadorados cidadãos,
que serão porventura futuros interlocutores da sociedade,precisa diagnosticar qual o
perfil do seu aluno e como ele se comunica pormeio da sua língua, seja ela na internet,
oralmente ou na escrita, impedindo osilenciamento da sua voz.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A prática social de leitura sofreu e continua tendo inúmerastransformações, ou
seja, não podemos comparar o modo de ler do séculopassado com o atual. Os modos
1 Formado

em Letras, pós-graduado em Língua Portuguesa e Literatura, especialista em Leitura
pela Pontifica Universidade Católica PUC-SP. E-mail: mauricio.canuto@ig.com.br
de ler se modificaram e, então, cabe aoprofissional de educação acompanhar essas
transformações para que sua aulanão seja desinteressante para os alunos. Ao mesmo
tempo, ela tem umahistoricidade, pois nem sempre se leu como hoje se lê e talvez
nem se leia nofuturo como se lê no presente.
O desinteresse pela leitura deve-se ao tipo de leitura exercitada naescola: uma
leitura descontextualizada do interesse do aluno que o fazsilenciar; Por essa razão,
essa pesquisa tentou identificar que tipo de leitura oaluno faz durante suas idas e
vindas na tela do computador e como o professorrelaciona-a com a sua prática de
ensino.

REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA
1. CHARTIER, Roger (1997). A aventura do livro: do leitor ao navegador. São
Paulo:Editora UNESP/Imprensa Oficial do Estado, 1999.
2. MANGUEL, Alberto (1996). Uma história da leitura. São Paulo: Companhia das
Letras, 1997.
3. ORLANDI, Eni P. Discurso e Leitura. São Paulo/Campinas: Cortez/Editora da
Unicamp, 1996.
4. SANTAELLA, Lucia. Navegar no ciberespaço: o perfil do leitor imersivo. São
Paulo:Paullus, 2004.

1 Formado

em Letras, pós-graduado em Língua Portuguesa e Literatura, especialista em Leitura
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  • 2. com o surgimento, nos centros urbanos, dapublicidade e da propaganda, o escrito inexplicavelmente unido à imagem, veiocolocar-se diante de nossos olhos na vida cotidiana, muito embora as situaçõesem que praticamos o ato de ler ocorram de modo tão automático que nemchegamos a nos dar conta disso. O primeiro tipo, como já foi mencionado acima, é o leitorcontemplativo, meditativo da idade pré-industrial, o leitor da era do livro impresso e da imagem fixa. O segundo é o leitor do mundo em movimento,dinâmico, mundo híbrido, de misturas sígnicas, um leitor que é filho daRevolução Industrial e do aparecimento dos grandes centros urbanos. Oterceiro tipo de leitor é aquele que começa a emergir nos novos espaçosincorpóreos da virtualidade. Antes de caracterizar cada um desses tipos com mais detalhes, éimportante ressaltar que, embora haja uma sequencialidade histórica noaparecimento de cada um desses tipos de leitores, isso não significa que umexclui o outro. O Leitor Contemplativo (Meditativo) O leitor contemplativo ou meditativo desprende de aptidõessingulares, ele não precisa do auxílio do outro. Sua leitura é isolada, silenciosae paulatina, pois depende dele a sequência de sua leitura. Ser responsávelpela leitura proporciona a capacidade de ler e reler inúmeras vezes e da formaque melhor lhe agrada, sem restrições, sendo que, “a leitura silenciosa criou apossibilidade de ler textos mais complexos” (Chartier, 1999, p. 24). Ao delinear esse tipo de leitor, Santaella (2004) volta seu olhar àleitura individual, solitária, de foro privado, silenciosa, leitura de numerosos textos lidos em uma relação de intimidade, de forma silenciosa e individual.Ainda segundo a autora, esse tipo de leitor nasce da relação íntimaentre o leitor e o livro, leitura do manuseio, da intimidade, num espaço privado. Acredita-se que, durante a leitura, a sua concentração se volta completamentepara essa prática, visto que necessariamente envolve movimentos complexos: 1 Formado em Letras, pós-graduado em Língua Portuguesa e Literatura, especialista em Leitura pela Pontifica Universidade Católica PUC-SP. E-mail: mauricio.canuto@ig.com.br
  • 3. “Envolve não apenas a visão e percepção, mas inferência, julgamento, memória, reconhecimento, conhecimento, experiência e prática”. “*...+ Ler, então, não é um processo automático de capturar um texto como um papel fotossensível captura a luz, mas um processo de reconstrução desconcertante, labiríntico, comum e, contudo, pessoal” (MANGUEL, 1996, pp. 49:54) Manguel (1996) e Orlandi (1996) consideram que a história de leitura do leitor determina seu grau de compreensão e interpretação naconstrução de outros sentidos. Sua bagagem cultural permite aintertextualização “ler é cumulativo e avança em progressão geométrica: cadaleitura nova baseia-se no que o leitor leu antes” (MANGUEL, 1996, p. 33). Na leitura do livro, essa dinâmica possibilita ao leitor conduzir aapreensão do conteúdo, adicionando sua inferência, consultando textos afinsetc. Embora a leitura da escrita de um livro seja sequencial, a solidez do objeto livro permite idas e vindas, retornos, resignificações. E o leitor contempla emedita à sua maneira. O Leitor Movente (Fragmentário) Um novo cenário foi decisivo e, notavelmente, cúmplice do leitorfragmentário, um leitor capaz de compilar diversas imagens e novas formas deler. Com o surgimento, principalmente, do jornal impresso, ligado à novaconduta social de consumo e amparada na publicidade espalhada por toda acidade que impulsionou outra óptica, outras formas de ler, porém nenhumamenor que a outra. Com o advento tecnológico em expansão, com a introdução doscinemas e a instantaneidade da televisão, quebrou-se um paradigma e surgiu um leitor que acumula características do perfil anterior “contemplativo”, mas que passa a ser também movente; leitor de formas, volumes, massas,interações de forças, movimentos; leitor de direções, traços, cores; leitor deluzes que se acendem e se apagam; leitor cujo organismo mudou de marcha,sincronizando-se à aceleração do mundo. Segundo Santaella (2004), “É nesse ambiente que surge o nosso segundo tipo de leitor, aquele que nasce com o advento do jornal e das multidões nos centros urbanos habitados de signos. É o leitor que foi se ajustando a novos ritmos 1 Formado em Letras, pós-graduado em Língua Portuguesa e Literatura, especialista em Leitura pela Pontifica Universidade Católica PUC-SP. E-mail: mauricio.canuto@ig.com.br
  • 4. da atenção, ritmos que passam com igual velocidade de um estado fixo para um móvel. É o leitor treinado nas distrações fugazes e sensações evanescentes cuja percepção se tornou uma atividade instável, de intensidades desiguais.” (Id. p. 29) As habilidades do novo tipo de leitor são inquestionáveis, pois ele écapaz de conviver com diferentes signos, além da velocidade e da intensidadeque as imagens circulam nesse universo. Santaella (2004) acredita que aflexibilidade desse segundo leitor abriu caminho ao tipo de leitor mais recente“o imersivo”, isto é, ele esteve preparando a sensibilidade perceptiva humanapara o surgimento do leitor imersivo, que navega “entre nós e conexõesalineares pelas arquiteturas líquidas dos espaços virtuais”.(p. 11) O Leitor Imersivo (Virtual) O leitor imersivo ou virtual, assim como citado acima, surge damultiplicidade de imagens sígnicas e ambientes virtuais de comunicaçãoimediata. Esse novo tipo de leitor nasce inserido dentro dos grandes centrosurbanos, acostumados com a linguagem efêmera e provido de umasensibilidade perceptiva-cognitiva quase que instantânea. De acordo com Santaella (2004), o receptor de uma hipermídia ouseu usuário coloca em ação mecanismos, ou melhor, habilidades de leituramuito distintas daquelas que são empregadas pelo leitor de um texto impressocomo o livro. Por outro lado, são habilidades também distintas daquelas quesão empregadas pelo receptor de imagens ou espectador de cinema, televisão. Essas habilidades de leitura multimídia ainda mais se acentuam, quando ahipermídia migra do suporte CD-Rom para transitar “nas potencialmenteinfinitas infovias do ciberespaço”. (p. 11 ) Com a proliferação crescente das redes de telecomunicação,especialmente da internet que liga todos os pontos do globo, surge um leitorque possui novas formas de percepção e cognição que os atuais suporteseletrônicos e estruturas híbridas e alineares do texto escrito estão fazendoemergir. 1 Formado em Letras, pós-graduado em Língua Portuguesa e Literatura, especialista em Leitura pela Pontifica Universidade Católica PUC-SP. E-mail: mauricio.canuto@ig.com.br
  • 5. Nessa medida, Santaella (2004) não vê muitas diferenças entres ostrês tipos de leitores, porém há habilidades que os diferem. A sua pesquisaconsistiu exatamente em conhecer e delimitar esse novo leitor, suastransformações sensórias, perceptivas, cognitivas e, consequentemente,também transformações de sua sensibilidade. Sendo assim, para a autora a essa multiplicidade veio se somar oleitor das imagens evanescentes da computação gráfica e o leitor do textoescrito que saltou do papel para a superfície das telas eletrônicas. Esse leitorestá transitando pelas infovias das redes, constituindo-se como um novo tipode leitor que navega nas arquiteturas líquidas e alineares da hipermídia nociberespaço. Quem é o leitor do século XXI? O leitor que nasce no século XXI possui aptidões perceptivacognitiva muito variada do leitor do passado. Esse novo perfil condiz com anecessidade e o acúmulo de informações que são despejadas pelos espaçosmultimídiade informações instantâneas. Embora na sala de aula, gradativamente, tem se incorporado esses novos modos de ler, porém não relacionado com o tipo de leitorcontemporâneo, esse aluno que relaciona seu modo de ver o mundo,diversificadamente, e se comunica com a sociedade, a percebedescontextualizada, ou seja, em aulas tão pragmáticas que exigem certosdomínios linguísticos que são ultrapassados e/ou nunca foram apreendidospelo novo tipo de leitor. As habilidades que esse leitor desprende em grau podem serparecidas com todas as competências praticadas/exercitadas pelos tipos deleitores anteriores a ele. No entanto, a sua necessidade linguística de Paraquem me comunico? Quando me comunico? Em qual situação? possui outrafinalidade. Assim, faz-se necessário que a escola, como instituição formadorados cidadãos, que serão porventura futuros interlocutores da sociedade,precisa diagnosticar qual o perfil do seu aluno e como ele se comunica pormeio da sua língua, seja ela na internet, oralmente ou na escrita, impedindo osilenciamento da sua voz. CONSIDERAÇÕES FINAIS A prática social de leitura sofreu e continua tendo inúmerastransformações, ou seja, não podemos comparar o modo de ler do séculopassado com o atual. Os modos 1 Formado em Letras, pós-graduado em Língua Portuguesa e Literatura, especialista em Leitura pela Pontifica Universidade Católica PUC-SP. E-mail: mauricio.canuto@ig.com.br
  • 6. de ler se modificaram e, então, cabe aoprofissional de educação acompanhar essas transformações para que sua aulanão seja desinteressante para os alunos. Ao mesmo tempo, ela tem umahistoricidade, pois nem sempre se leu como hoje se lê e talvez nem se leia nofuturo como se lê no presente. O desinteresse pela leitura deve-se ao tipo de leitura exercitada naescola: uma leitura descontextualizada do interesse do aluno que o fazsilenciar; Por essa razão, essa pesquisa tentou identificar que tipo de leitura oaluno faz durante suas idas e vindas na tela do computador e como o professorrelaciona-a com a sua prática de ensino. REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA 1. CHARTIER, Roger (1997). A aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo:Editora UNESP/Imprensa Oficial do Estado, 1999. 2. MANGUEL, Alberto (1996). Uma história da leitura. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. 3. ORLANDI, Eni P. Discurso e Leitura. São Paulo/Campinas: Cortez/Editora da Unicamp, 1996. 4. SANTAELLA, Lucia. Navegar no ciberespaço: o perfil do leitor imersivo. São Paulo:Paullus, 2004. 1 Formado em Letras, pós-graduado em Língua Portuguesa e Literatura, especialista em Leitura pela Pontifica Universidade Católica PUC-SP. E-mail: mauricio.canuto@ig.com.br