1. Mixoma Odontogênico
Relato de um caso
Autores
Dr. Eduardo Duailibi, Dr. Jorge Elie Hayek, Dr. Michel E.Lipiec, Dra. Lilian W. Chilvarquer e Prof. Dr. Israel Chilvarquer
O presente caso clínico foi gentilmente cedido pelo Dr. Sergio Miranda e pelo Dr. Mario Luis Zuolo. A paciente, leucoderma, de 27 anos, foi encaminhada ao serviço de Radiologia com uma radiografia intra-oral de rotina para avaliação da região da hemi-maxila direita com suspeita de uma possível alteração apical no elemento 16, sem referir nenhuma queixa clínica especifica. O exame clínico não constatou alteração da cor de mucosa, assim como apresentou uma resposta negativa aos testes de percussão horizontal e vertical. No entanto, ao avaliar a vitalidade do elemento 16, observou-se uma resposta positiva ao teste térmico com frio, indicando que o elemento estava com vitalidade pulpar, sugerindo então uma hipótese diagnóstica de processo neoplásico. O estudo radiográfico e as imagens fornecidas pela radiografia panorâmica (FIGURA 1A) e pela radiografia periapical (FIGURA1B) indicaram uma rarefação óssea de aspecto difuso localizada na região de seio maxilar direito entre os elementos 16 e 17. Dando sequência, foram adquiridas imagens da paciente em um tomógrafo de feixe cônico de pequeno volume em alta resolução espacial com cortes axiais de 0,125 mm de espessura e reconstruções com orientação paralelas a superfície oclusal, seguidos de reformatações axiais, coronais e sagitais (FIGURA 1C). Foi observado uma fina malha de trabéculas esparsas no interior da lesão. Após a análise das imagens obtidas, as hipóteses diagnósticas foram: Mixoma Odontogênico e/ou uma Lesão Central de Células Gigantes.
O Mixoma Odontogênico é um tumor benigno raro muito invasivo. Sua origem consiste de restos de células embrionárias mesênquimais odontogênicas presentes no espaço periodontal(1-3). A doença acomete principalmente jovens adultos sendo pouco relatada em pacientes com idade acima de 50 anos(1). O diagnóstico definitivo é fornecido pelo exame histopatológico. A lesão é caracterizada pela presença de células fusiformes de núcleos ovalados ou alongados imersas em uma matriz frouxa, mixomatosa, com vasos sanguíneos escassos com a presença de focos discretos de calcificações(2).
O diagnóstico destas lesões geralmente é tardio devido a ausência de sintomatologia álgica. Geralmente possuem crescimento lento que podem atingir grandes volumes sem alterar a auto percepção do paciente. Devido a este fato, geralmente são diagnosticadas no exame de rotina como a radiografia periapical ou a radiografia panorâmica(4). O conhecimento das características imaginológicas é ímpar para a precisa identificação destas lesões. A lesão apresentada possui um pequeno volume. Geralmente é facilmente confundida com um tumor de origem maligna devido suas características radiográficas(3).
A detecção inicial do Mixoma Odontogênico consiste na análise de radiografias convencionais sejam elas periapicais ou radiografias panorâmicas. A lesão é caracterizada geralmente por uma imagem de lesão expansiva multilocular com trabeculado
fig. 1
2. esparso de limites indefinidos destruindo corticais
sendo altamente invasiva(5). A principal limitação
destas técnicas no diagnóstico destas consiste na
determinação de seus limites anatômicos.
O surgimento de novas tecnologias de imagem
favoreceu o diagnóstico e planejamento do
tratamento destas lesões. Tanto a técnica de
tomografia computadorizada quanto a técnica
de ressonância magnética são aplicados para
determinar os seus limites, já que é altamente invasiva
como indica Kheir et al. 2013. Neste contexto, a
tomografia de feixe cônico demonstrou-se como
uma ferramenta fundamental para o diagnóstico
desta alteração patológica. Sua capacidade em
fornecer imagens nas três dimensões não foi o
único fator de destaque(6). O desenvolvimento
desta tecnologia permitiu o acesso à imagens de
alta resolução com significativa redução da dose
de radiação associada ao aumento da qualidade
da imagem, logo observa-se uma melhor resolução
na delimitação da imagem da lesão(7).
As imagens obtidas da paciente foram adquiridas
em um tomógrafo de feixe cônico de pequeno
volume em alta resolução espacial (PREXION 3D,
XTrillion Inc.,Toquio,Japão). Devido a este fato,
observamos com muita facilidade o aumento
de volume causado pela expansão da lesão
juntamente com o adelgaçamento da cortical
óssea vestibular. Notamos que a lesão perfurou o
assoalho da cavidade sinusal direita. As imagens
em alta resolução dos cortes axiais (FIGURA 1C)
nos permitiram observar que as finas trabéculas
foram identificadas e apresentavam-se em intima
continuidade com as raízes dos elementos 16
e 17. Confirmamos a descrição da literatura,
onde o uso da tomografia de feixe cônico de
alta resolução foi fundamental para auxiliar no
diagnóstico e tratamento das mesmas, delimitando
e demonstrando o modo com que as afecções
alteram a anatomia das estruturas da cavidade
bucal.
A literatura consultada sugere que estes tumores
são altamente recidivantes. Portanto a correta
delimitação da lesão apresenta um papel crucial
para a propedêutica e adequada terapêutica.
Apesar do fato do Mixoma ser um tumor benigno,
ele é localmente muito invasivo. Este fato dificulta
o estabelecimento de manobras terapêuticas
conservadoras e geralmente os pacientes
acometidos por esta lesão podem sofrer uma
sequela funcional e ou estética após o tratamento (3).
A terapêutica de eleição baseia-se no tamanho do
tumor. Indica-se a ressecção parcial à tumores de
grande volume devido a dificuldade na delimitação
da lesão. Já em tumores de tamanho reduzido
(até 3 cm) recomenda-se enucleação cirúrgica da
lesão com um ampla margem e intensa curetagem
das bordas residuais da lesão(5). Observa-se uma
moderada taxa de recidiva destas neoplasias e são
causadas por uma deficiência no procedimento
de enucleação. Nos casos de ressecção total da
lesão não observa-se recidivas no tratamento(5).
No presente caso o exame histopatológico foi
definitivo em classificar a lesão como um tumor
nomeado de Mixoma Odontogênico.
Concluímos que, com o uso de métodos
imaginológicos da atualidade podem-se minimizar
os riscos da terapêutica e melhorar o prognóstico
do caso apresentado.
O único fator de destaque(6). O desenvolvimento
Referências
Bibliográficas
1. Simon ENM, Merkx MAW, Vuhahula E, Ngassapa
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