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A este mote alheio:

Verdes são os campos,
De cor de limão:        Voltas
Assim são os olhos
Do meu coração.         Campo, que te estendes
                        Com verdura bela;
                        Ovelhas, que nela
                        Vosso pasto tendes,
                        De ervas vos mantendes
                        Que traz o Verão,
                        E eu das lembranças
                        Do meu coração.

                        Gados que pasceis
                        Com contentamento,
                        Vosso mantimento
                        Não no entendereis;
                        Isso que comeis
                        Não são ervas, não:
                        São graças dos olhos
                        Do meu coração.
A este mote alheio:
                         O poema é uma cantiga cujo mote estabelece uma comparação
Verdes são os campos,    entre a natureza e os olhos da mulher amada:
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Do meu coração.          limão.

Voltas                   Na 1ª volta o sujeito poético apresenta um cenário bucólico:
                         um campo verdejante onde pasta um rebanho.
Campo, que te estendes
Com verdura bela;
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Vosso pasto tendes,      Cromatismo: A cor dominante na estrofe é o verde. A beleza do
De ervas vos mantendes   campo verdejante é identificada com a beleza dos olhos da
Que traz o Verão,        mulher enaltecida
E eu das lembranças
Do meu coração.
                          Do mesmo modo que as ovelhas se alimentam de erva, o
Gados que pasceis         sentimento amoroso do sujeito poético permanece vivo através
Com contentamento,        das recordações da mulher amada.
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos        Metáfora: ao observar os campos verdes, o sujeito poético
Do meu coração.            recorda a beleza e graciosidade dos olhos da sua amada.
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Mote:

Verdes são os campos
da cor do limão
assim são os olhos
do meu coração.
                                Os campos

Voltas:                          ponto de partida para a recordação da amada
Campo que te estendes            semelhança entre a cor dos campos e os olhos da
com verdura bela;
ovelhas que nela                natureza
vosso pasto tendes:              os campos alimentam/ dão vida e a amada também
d’ervas vos mantendes           mantém o sujeito vivo através das recordações.
que traz o Verão,
 e eu das lembranças
                                 projecção e posterior união entre a amada e a
do meu coração.                 Natureza.

Gado que paceis,
co contentamento
vosso mantimento
não o entendeis;
isso que comeis
não são ervas , não:
São graças dos olhos
Do meu coração.
A presença da cor tem um valor simbólico na construção desta cantiga.

Mote:
                                  Verde
Verdes são os campos
da cor do limão                    – símbolo da Natureza, que é o elemento de
assim são os olhos
do meu coração.                   comparação com a amada;

Voltas:                           - Símbolo da esperança, uma vez que a separação
Campo que te estendes
com verdura bela;
                                  causa sofrimento, há o desejo de reencontrar a
ovelhas que nela                  amada.
vosso pasto tendes:
d’ervas vos mantendes
que traz o Verão,
 e eu das lembranças
do meu coração.

Gado que paceis,                    Cromatismo: A cor dominante na estrofe é o
co contentamento                    verde. A beleza do campo verdejante é
vosso mantimento
não o entendeis;
                                    identificada com a beleza dos olhos da mulher
isso que comeis                     enaltecida
não são ervas , não:
São graças dos olhos
Do meu coração.
Os sentimentos que dominam o sujeito poético ao longo da cantiga.


Mote:

Verdes são os campos
da cor do limão
assim são os olhos                Apaixonado – porque a natureza o faz
do meu coração.                   recordar as características da amada
Voltas:
Campo que te estendes
com verdura bela;
ovelhas que nela
vosso pasto tendes:
d’ervas vos mantendes
que traz o Verão,                 Nostálgico/ Saudoso – vive de
 e eu das lembranças              recordações de passado e não de
do meu coração.
                                  presente
Gado que paceis,
co contentamento
vosso mantimento
não o entendeis;                  Triste/Incompreendido/Apaixonado      –
isso que comeis                   porque os outros, a natureza não o
não são ervas , não:
São graças dos olhos              compreende; porque as saudades são
Do meu coração.                   muitas e tudo o que tem são recordações
As palavras “campo”, “ovelhas” e “gado” relacionam-se com o tema.

Mote:
                                   É apresentado o destinatário ou destinatários deste
Verdes são os campos               lamento: Campo, Ovelhas e Gado.
da cor do limão                    O sujeito poético dirige-se a estes elementos.
assim são os olhos
do meu coração.
                                   Primeiro começa por invocar o campo verde que se
Voltas:                            estende de forma bela, mas passa logo de seguida
Campo que te estendes              para as ovelhas que estão tão próximas dessa beleza
com verdura bela;
ovelhas que nela
                                   verde.
vosso pasto tendes:
d’ervas vos mantendes              O sujeito poético deixa-lhes um recado, ao lembrar-
que traz o Verão,                  lhes que, por um lado, elas se alimentam/ elas se
 e eu das lembranças
do meu coração.                    mantêm vivas por causa dessa verdura que o verão
                                   torna possível, por outro lado o sujeito poético
Gado que paceis,                   alimenta-se vive por causa das lembranças/ das
co contentamento
                                   memórias que tem da amada.
vosso mantimento
não o entendeis;
isso que comeis                    Pressupomos, portanto uma relação dominada pela
não são ervas , não:               saudade, pela tristeza e pela nostalgia.
São graças dos olhos
Do meu coração.
Este poema retoma aspectos característicos da poesia tradicional.


Mote:
                                    Formal :
Ver//des// são// os //cam//pos      • Cantiga / redondilha menor (5 sílabas métricas)
Da// cor// do// li//mão             • mote: quatro versos
assim são os olhos                  • voltas com oito versos
do meu coração.
                                    • repetição do último verso do mote no final de
Voltas:                             cada volta
Campo que te estendes
com verdura bela;
ovelhas que nela
                                    Conteúdo:
vosso pasto tendes:                 • Saudade
d’ervas vos mantendes               • elogio à beleza da amada
que traz o Verão,                   • as características da mulher : os olhos claros
 e eu das lembranças
do meu coração.                                                       a graciosidade
                                    • 0 bucolismo: a natureza, os campos, as ervas, as
Gado que paceis,                    ovelhas, o gado, o pasto
co contentamento
vosso mantimento
não o entendeis;                    • a simplicidade, trivialidade e banalidade dos
isso que comeis                     elementos que estão na base da inspiração poética:
não são ervas , não:                os campos verdes
São graças dos olhos
Do meu coração.
Apresenta a Paráfrase da última volta. Identificando e clarificando a intenção do recurso
expressivo presente nos últimos quatro versos.

                                 Dirige-se agora ao Gado, no geral, que não tem consciência
 Mote:
                                 da realidade do seu sofrimento.
 Verdes são os campos
 da cor do limão
 assim são os olhos              O sujeito poético de uma forma exagerada (hipérbole)
 do meu coração.
                                 assume a projecção da amada na Natureza, assumindo
 Voltas:
                                 que, sem se dar conta, o gado come a graciosidade dos
 Campo que te estendes
 com verdura bela;               olhos da amada.
 ovelhas que nela
 vosso pasto tendes:
 d’ervas vos mantendes           Ao longo da cantiga temos uma comparação entre os olhos
 que traz o Verão,
  e eu das lembranças            da amada e os campo que se vai tornando cada vez mais
 do meu coração.
                                 evidente aos olhos do sujeito poético.
 Gado que paceis,                A repetição do advérbio de negação “não” transmite um
 co contentamento                tom de oralidade ao poema, e temos a certeza de que o
 vosso mantimento                sujeito poético está convencido desta projecção da amada
 não o entendeis;                na Natureza.
 isso que comeis
 não são ervas , não:            No final da composição poética os campos não são como
 São graças dos olhos            os campos (comparação)
 Do meu coração.                 São os próprios campos verdes (metáfora).
A este mote alheio:

Verdes são os campos,
                         Classificação: cantiga
De cor de limão:         Constituída por mote de 4 versos (quadra) e duas
Assim são os olhos       voltas de 8 versos (oitavas)
Do meu coração.
                         Métrica: redondilha menor (versos pentassílabos)
Voltas
                         Esquema rimático ABAB // cddccbeB // deeddbab
Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
                         Rimas
Vosso pasto tendes,      -no mote - rima cruzada
De ervas vos mantendes   -nas voltas      - rima interpolada (v1 e 7)
Que traz o Verão,        emparelhada (vv2,3,4,5) e cruzada no 6.º e 8º
E eu das lembranças      versos.
Do meu coração.
                         Há rima consoante e toante.
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Com contentamento,
Vosso mantimento
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Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.
A este mote alheio:

Verdes são os campos,
De cor de limão:         A mulher
Assim são os olhos       -tem olhos verdes «da cor do limão»,
Do meu coração.          -é bela (causa a «verdura bela» dos campos),
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Voltas
                         olhos.)
Campo, que te estendes   -provoca as saudades e lembranças no sujeito poético.
Com verdura bela;        -provoca alegria e «contentamento» na natureza
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,      O sujeito poético demonstra
De ervas vos mantendes   -admiração pela natureza,
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Gados que pasceis
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Vosso mantimento         -a verdura para os campos. -o pasto para as ovelhas,
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Contexto histórico padre antónio vieira
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. O texto dramático
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. Batalha de alcácer quibir
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Fls figuras reais
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. Enredo
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. A obra e o contexto
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Sete anos de pastor jacob servia
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Oh! como se me alonga, de ano em ano
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Oh! como se me alonga, de ano em ano
 
O dia em que eu nasci, morra e pereça
O dia em que eu nasci, morra e pereçaO dia em que eu nasci, morra e pereça
O dia em que eu nasci, morra e pereça
 

A Natureza e a Saudade

  • 2. A este mote alheio: Verdes são os campos, De cor de limão: Voltas Assim são os olhos Do meu coração. Campo, que te estendes Com verdura bela; Ovelhas, que nela Vosso pasto tendes, De ervas vos mantendes Que traz o Verão, E eu das lembranças Do meu coração. Gados que pasceis Com contentamento, Vosso mantimento Não no entendereis; Isso que comeis Não são ervas, não: São graças dos olhos Do meu coração.
  • 3. A este mote alheio: O poema é uma cantiga cujo mote estabelece uma comparação Verdes são os campos, entre a natureza e os olhos da mulher amada: De cor de limão: Assim são os olhos Os olhos da mulher amada são verdes, tal como os campos e o Do meu coração. limão. Voltas Na 1ª volta o sujeito poético apresenta um cenário bucólico: um campo verdejante onde pasta um rebanho. Campo, que te estendes Com verdura bela; Ovelhas, que nela Vosso pasto tendes, Cromatismo: A cor dominante na estrofe é o verde. A beleza do De ervas vos mantendes campo verdejante é identificada com a beleza dos olhos da Que traz o Verão, mulher enaltecida E eu das lembranças Do meu coração. Do mesmo modo que as ovelhas se alimentam de erva, o Gados que pasceis sentimento amoroso do sujeito poético permanece vivo através Com contentamento, das recordações da mulher amada. Vosso mantimento Não no entendereis; Isso que comeis Não são ervas, não: São graças dos olhos Metáfora: ao observar os campos verdes, o sujeito poético Do meu coração. recorda a beleza e graciosidade dos olhos da sua amada.
  • 4. Relação o sujeito poético estabelece entre os campos e a amada. Mote: Verdes são os campos da cor do limão assim são os olhos do meu coração. Os campos Voltas:  ponto de partida para a recordação da amada Campo que te estendes  semelhança entre a cor dos campos e os olhos da com verdura bela; ovelhas que nela natureza vosso pasto tendes:  os campos alimentam/ dão vida e a amada também d’ervas vos mantendes mantém o sujeito vivo através das recordações. que traz o Verão, e eu das lembranças  projecção e posterior união entre a amada e a do meu coração. Natureza. Gado que paceis, co contentamento vosso mantimento não o entendeis; isso que comeis não são ervas , não: São graças dos olhos Do meu coração.
  • 5. A presença da cor tem um valor simbólico na construção desta cantiga. Mote: Verde Verdes são os campos da cor do limão – símbolo da Natureza, que é o elemento de assim são os olhos do meu coração. comparação com a amada; Voltas: - Símbolo da esperança, uma vez que a separação Campo que te estendes com verdura bela; causa sofrimento, há o desejo de reencontrar a ovelhas que nela amada. vosso pasto tendes: d’ervas vos mantendes que traz o Verão, e eu das lembranças do meu coração. Gado que paceis, Cromatismo: A cor dominante na estrofe é o co contentamento verde. A beleza do campo verdejante é vosso mantimento não o entendeis; identificada com a beleza dos olhos da mulher isso que comeis enaltecida não são ervas , não: São graças dos olhos Do meu coração.
  • 6. Os sentimentos que dominam o sujeito poético ao longo da cantiga. Mote: Verdes são os campos da cor do limão assim são os olhos Apaixonado – porque a natureza o faz do meu coração. recordar as características da amada Voltas: Campo que te estendes com verdura bela; ovelhas que nela vosso pasto tendes: d’ervas vos mantendes que traz o Verão, Nostálgico/ Saudoso – vive de e eu das lembranças recordações de passado e não de do meu coração. presente Gado que paceis, co contentamento vosso mantimento não o entendeis; Triste/Incompreendido/Apaixonado – isso que comeis porque os outros, a natureza não o não são ervas , não: São graças dos olhos compreende; porque as saudades são Do meu coração. muitas e tudo o que tem são recordações
  • 7. As palavras “campo”, “ovelhas” e “gado” relacionam-se com o tema. Mote: É apresentado o destinatário ou destinatários deste Verdes são os campos lamento: Campo, Ovelhas e Gado. da cor do limão O sujeito poético dirige-se a estes elementos. assim são os olhos do meu coração. Primeiro começa por invocar o campo verde que se Voltas: estende de forma bela, mas passa logo de seguida Campo que te estendes para as ovelhas que estão tão próximas dessa beleza com verdura bela; ovelhas que nela verde. vosso pasto tendes: d’ervas vos mantendes O sujeito poético deixa-lhes um recado, ao lembrar- que traz o Verão, lhes que, por um lado, elas se alimentam/ elas se e eu das lembranças do meu coração. mantêm vivas por causa dessa verdura que o verão torna possível, por outro lado o sujeito poético Gado que paceis, alimenta-se vive por causa das lembranças/ das co contentamento memórias que tem da amada. vosso mantimento não o entendeis; isso que comeis Pressupomos, portanto uma relação dominada pela não são ervas , não: saudade, pela tristeza e pela nostalgia. São graças dos olhos Do meu coração.
  • 8. Este poema retoma aspectos característicos da poesia tradicional. Mote: Formal : Ver//des// são// os //cam//pos • Cantiga / redondilha menor (5 sílabas métricas) Da// cor// do// li//mão • mote: quatro versos assim são os olhos • voltas com oito versos do meu coração. • repetição do último verso do mote no final de Voltas: cada volta Campo que te estendes com verdura bela; ovelhas que nela Conteúdo: vosso pasto tendes: • Saudade d’ervas vos mantendes • elogio à beleza da amada que traz o Verão, • as características da mulher : os olhos claros e eu das lembranças do meu coração. a graciosidade • 0 bucolismo: a natureza, os campos, as ervas, as Gado que paceis, ovelhas, o gado, o pasto co contentamento vosso mantimento não o entendeis; • a simplicidade, trivialidade e banalidade dos isso que comeis elementos que estão na base da inspiração poética: não são ervas , não: os campos verdes São graças dos olhos Do meu coração.
  • 9. Apresenta a Paráfrase da última volta. Identificando e clarificando a intenção do recurso expressivo presente nos últimos quatro versos. Dirige-se agora ao Gado, no geral, que não tem consciência Mote: da realidade do seu sofrimento. Verdes são os campos da cor do limão assim são os olhos O sujeito poético de uma forma exagerada (hipérbole) do meu coração. assume a projecção da amada na Natureza, assumindo Voltas: que, sem se dar conta, o gado come a graciosidade dos Campo que te estendes com verdura bela; olhos da amada. ovelhas que nela vosso pasto tendes: d’ervas vos mantendes Ao longo da cantiga temos uma comparação entre os olhos que traz o Verão, e eu das lembranças da amada e os campo que se vai tornando cada vez mais do meu coração. evidente aos olhos do sujeito poético. Gado que paceis, A repetição do advérbio de negação “não” transmite um co contentamento tom de oralidade ao poema, e temos a certeza de que o vosso mantimento sujeito poético está convencido desta projecção da amada não o entendeis; na Natureza. isso que comeis não são ervas , não: No final da composição poética os campos não são como São graças dos olhos os campos (comparação) Do meu coração. São os próprios campos verdes (metáfora).
  • 10. A este mote alheio: Verdes são os campos, Classificação: cantiga De cor de limão: Constituída por mote de 4 versos (quadra) e duas Assim são os olhos voltas de 8 versos (oitavas) Do meu coração. Métrica: redondilha menor (versos pentassílabos) Voltas Esquema rimático ABAB // cddccbeB // deeddbab Campo, que te estendes Com verdura bela; Ovelhas, que nela Rimas Vosso pasto tendes, -no mote - rima cruzada De ervas vos mantendes -nas voltas - rima interpolada (v1 e 7) Que traz o Verão, emparelhada (vv2,3,4,5) e cruzada no 6.º e 8º E eu das lembranças versos. Do meu coração. Há rima consoante e toante. Gados que pasceis Há rima rica e pobre. Com contentamento, Vosso mantimento Não no entendereis; Isso que comeis Não são ervas, não: São graças dos olhos Do meu coração.
  • 11. A este mote alheio: Verdes são os campos, De cor de limão: A mulher Assim são os olhos -tem olhos verdes «da cor do limão», Do meu coração. -é bela (causa a «verdura bela» dos campos), -é graciosa (pois não são ervas, mas «são graças dos Voltas olhos.) Campo, que te estendes -provoca as saudades e lembranças no sujeito poético. Com verdura bela; -provoca alegria e «contentamento» na natureza Ovelhas, que nela Vosso pasto tendes, O sujeito poético demonstra De ervas vos mantendes -admiração pela natureza, Que traz o Verão, -recordação e saudade pela mulher, que mantém de E eu das lembranças «lembranças», Do meu coração. -amor, enquanto ela se apresenta como «meu coração" Gados que pasceis Com contentamento, Da mulher resulta Vosso mantimento -a verdura para os campos. -o pasto para as ovelhas, Não no entendereis; -a alegria e mantimento para os gados. Isso que comeis -a recordação e saudade para o sujeito poético Não são ervas, não: São graças dos olhos Do meu coração.
  • 12. Disciplina de Português Profª: Helena Maria Coutinho