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WALTER BENJAMIN: INTERTEXTUALIZANDO A CONSTRUÇÃO
DE SEU PENSAMENTO EM INFÃNCIA EM BERLIM POR VOLTA
DE 1900.

                                                               ELICIO GOMES LIMA*

WALTER   BENJAMIN:   INTERTEXTUALIZANDO                            BUILDING        YOUR
THOUGHTS ON BERLIN CHILDHOOD AROUND 1900

Walter Benjamin: INTERTEXTUALIZANDO CONSTRUIR TUS PENSAMIENTOS
EN INFANCIA EN BERLÍN HACIA 1900


RESUMO:
      O objetivo deste estudo é apresentar a perspectiva benjaminiana sobre sua idéia de
memória considerando as muitas vozes que colaboraram na construção de sua cosmovisão,
abrangendo nuanças que transcendem o sentido parcimonioso de sua obra, e forjando desta
maneira caminhos orientados pela memória coletiva. Desta forma, procuraremos discutir o
pensamento benjaminiano à luz de uma visão do modernismo, ao mesmo tempo em que
compreender a proposta deste autor a partir do uso de sua prática autobiográfica que
consiste numa meta-ampliação/modificação do conceito de sujeito-essencial para a reflexão
sobre a problemática da produção do conhecimento histórico.
PALAVRAS-CHAVE: WALTER BENJAMIN, MEMÓRIA COLETIVA, INFÂNCIA EM
BERLIM, CONCEITO DE MODERNIDADE, TEMPO-ESPAÇO-PERCEPÇÃO INFANTIL.



SUMMARY:
The objective of this study is to present the perspective on Benjamin's your idea of memory
considering the many voices that contributed to the construction of his worldview, covering
nuances that transcend the sense of sparing his work, and forging paths in this way guided
by the collective memory. Thus, we will try to discuss Benjamin thought the light of a
vision of modernism, while understanding that the proposal by this author from the use of
autobiographical practice which is a modification of the target amplification concept of
self-reflection on the essential the problem of production of historical knowledge.

KEYWORDS: WALTER BENJAMIN, COLLECTIVE MEMORY, CHILDREN IN
BERLIN, THE CONCEPT OF MODERNITY,-SPACE-TIME PERCEPTION
RESUMEN:
El objetivo de este estudio es presentar el punto de vista sobre Benjamin es su idea de
la memoria teniendo en cuenta las muchas voces que han contribuido a la
construcción de su visión del mundo, que abarca matices que trascienden el sentido de
salvar su trabajo, y el establecimiento de rutas de esta manera guiado por la memoria
colectiva. Por lo tanto, vamos a tratar de discutir Benjamin pensaba que la luz de una
visión de la modernidad, mientras que la comprensión de que la propuesta de este
autor por el uso de su práctica, que es una autobiografía meta-ampliação/modificação
el concepto de sujeto-esencial para la reflexión sobre el tema de la producción del
conocimiento histórico.
PALABRAS CLAVE: WALTER BENJAMIN, LA MEMORIA COLECTIVA, LOS NIÑOS EN
BERLIN, EL CONCEPTO DE MODERNIDAD, ESPACIO-TIEMPO PERCEPCIÓN



*Professor: Elicio Gomes Lima: Mestre em Educação pela UNICAMP – Universidade
Estadual de Campinas/SP. Professor convidado do UNASP-EC – Centro Universitário
Adventista de São Paulo e docente efetivo da rede pública Estadual e Municipal de São
Paulo. Contato: elicio.lima@bol.com.br.


*SCHOOLTEACHER: Elicio Gomes Lima: Master of Education at UNICAMP - State
University of Campinas / SP. Visiting Professor at the UNASP-EC - Adventist University
Center of Sao Paulo and effective teaching of public and State Government of São Paulo.
Contact: @ elicio.lima bol.com.br.




*Profesor: Elicio Gomes Lima: Maestría en Educación en la UNICAMP - Universidad
Estadual de Campinas / SP. Profesor visitante en la UNASP-CE - Centro de la
Universidad Adventista de Sao Paulo y eficacia de la enseñanza pública y de Gobierno
del Estado de São Paulo. Contacto: @ elicio.lima bol.com.br




                                 SÃO PAULO JUNHO 2012




                                                                                     2
WALTER BENJAMIN: INTERTEXTUALIZANDO A
CONSTRUÇÃO DE SEU PENSAMENTO EM INFÃNCIA EM
                      BERLIM POR VOLTA DE 1900


                       “Se escrevo um alemão melhor que a maior parte dos escritores de minha
                       geração, devo-o principalmente á observação , durante uns vinte anos,
                       de uma única regrinha. Ei-la: nunca usar a palavra “eu” a não ser nas
                       cartas”( BENJAMIN ,1985, p. 475).


INTRODUÇÃO

     O objetivo deste estudo é apresentar a perspectiva benjaminiana sobre sua idéia de
memória considerando as muitas vozes que colaboraram na construção de sua cosmovisão,
abrangendo nuanças que transcendem o sentido parcimonioso de sua obra, e forjando desta
maneira caminhos orientados pela memória coletiva. Desta forma, procuraremos discutir o
pensamento benjaminiano à luz de uma visão do modernismo, ao mesmo tempo em que
compreender a proposta deste autor a partir do uso de sua prática autobiográfica que
consiste numa meta-ampliação/modificação do conceito de sujeito-essencial para a reflexão
sobre a problemática da produção do conhecimento histórico.
     A partir da crônica, Infância em Berlim por volta de 1900, Benjamin procura resgatar
as imagens (memórias) perdidas no tempo e no espaço de sua infância em Berlim ,tendo
Paris como referencial de busca desta memória inconsciente. Desta maneira, através da
proposta delineada na obra de Walter Benjamin, percebemos a sensibilidade da criança que
elabora sua própria tecitura da memória dialogando com outras figuras e relacionando-se
com muitas vozes as quais permitem (re) dimensionar a ampliação do seu universo social e
político. Em linhas gerais, esta contextualização fornece os elementos necessários à uma
intertextualização recorrente e aberta Dito de outra forma, lançando mão dos instrumentos
benjaminianos, nos orientaremos pelas vozes que mobilizam a análise de sua história-
memória, ao mesmo tempo em que são mobilizadas pelo próprio pensamento do autor
numa perspectiva critico-dialética.


                                                                                           3
1.CONCEITO DE MODERNIDADE NO TEXTO BENJAMINIANO


                          “No modernismo a forma não é o ato concluído,mas um processo e
                          constante revisão. Assim existe na condição moderna uma pressão
                          profunda contra a perfeição,quando essa palavra significa realização
                          concluída”.



      O modernismo consistiu numa quebra de paradigmas, orientada por rupturas com as
tradições acadêmicas, políticas, religiosas, econômicas e sociais.
       Caracterizando por uma nova ordem socioeconômica, pela liberdade de criação e de
pesquisa.
      O concento (consonância, harmonia) entre o sujeito e estética adaptou-se ao uso, ou
necessidade exigida pelo contexto histórico do modernismo que concerne: Sujeito-conceito
de algo (qualidade ou razão) não submetido às condições limitativas do sujeito em que se
realiza, mais perpassando o individual. O conceito de estética-estudo racional do belo que a
possibilidade da sua conceituação quer quanto à diversidade de emoções e sentimentos que
suscita no homem uma apreciação sensível se aprofunda sobre esta perspectiva em
processo. Assim inseriu-se no processo moderno a representação de incompletude,a não
totalidade e uma pressão profunda,contra a perfeição quando essa palavra significa
“realização concluída”.
      Esta nova realidade com as aceleradas transformações despertou uma tomada de
consciência que o novo,o moderno contradiz e é conflitante com o antigo ,contribuindo á
um processo progressivo de mudanças na macro- estrutura da sociedade .
      O texto de Walter Benjamin rompe com o antigo pelo fato de ser uma obra
autobiográfica que não esta submetida às condições limitativas do sujeito que realiza a
ação, ele dialoga com outras vozes interpolando as experiências vividas. Com isso o texto
infância em Berlim por volta de 1900 engendra em sua narração uma memória
coletiva.Dessa forma as memórias no texto são valores representativos para sociedades que
compartilharam o processo de transformações aceleradas da ruptura entre o antigo e o
moderno.



                                                                                             4
Esse conceito expressa, da clarividência que Benjamin narrou sua obra autobiográfica
transcendendo do individual, pessoal ao coletivo, consciente de uma realidade social,
política,cultural e econômica que norteava sua infância em Berlim (memória ato de
racionalidade adulta) ,tendo um amplo olhar em relação ao mundo capitalista que nos
cerca.Enfim a obra de Walter Benjamin deixa claro que a transmissão da cultura,envolve
também um processo de memória que se preserva e que apresenta como um testamento que
prepara o futuro com dados do passado.




2.UM INTERTEXTO SOB O PONTO DE VISTA DO TEXTO
“INFÂNCIA EM BERLIM POR VOLTA DE 1900” DE WALTER
BENJAMIN


      De acordo com a leitura, Benjamin procurou resgatar o passado trilhando caminhos
que norteavam sua infância em Berlim através de uma criança historicamente situada que
intercruza tempo e espaço.
      No texto a reconstrução do passado não se elabora a partir apenas de uma memória
pessoal, individual ela (á memória) transcende , a reconstrução é (re) elaborada a partir de
uma densidade de memória pessoal e coletiva .É neste sentido que podemos entender que o
“eu” esta dissociando do sujeito ,pelo fato que o “eu” restringe a afirmação de si mesmo. O
sujeito é amplo ,sendo mais que sua expressão pessoal .É essa amplitude do sujeito que o
promove a ser instrumento de alcance social e coletivo          estabelecendo relações de
representação em seu contexto histórico ,o eu só tem significação quando em relação com
o outro.
      Portanto o redimensionamento político e filosófico-psicológico da maneira de
conceder o sujeito encaminham a reflexão que tente a pensar nossa prática histórica, ou seja
como narramos e como agimos nela.
       Nesta perspectiva, a memória é a construção de um ponto de vista sobre uma dada
realidade em que o passado e presente se encontram sendo (re) significados pelo sujeito ,a
partir desse ponto de vista , logo a memória é um produto do passado á luz do presente.

                                                                                          5
Tomando esse foco como referencial, (re) significado do passado, no texto infância
em Berlim por volta de 1900, a imagem do labirinto procura (re) estabelecer relações
temporais entre o presente,o passado e o futuro ,por onde flui a narração de memória
pessoal e coletiva,sendo a coletiva a representação social do sujeito.
      A obra de Walter Benjamin destaca pelo fato que não se centrou no fio das
lembranças pessoais ,ou historia de uma vida, “reconstruiu alem da intensidade das
lembranças individuais a densidade de uma memória pessoal e coletiva”.
      Levando em consideração que o individuo esta inserido em um contexto mais amplo
(estrutura social) Benjamin não se deixou seduzir pelo particular em busca da
autopromoção, assim voltou seu olhar a uma realidade mais ampla dentro do mundo
capitalista que nos cerca.
      Desta forma ao nosso ver a narração infância em Berlim por volta de 1900 não
consiste apenas em autobiografia é muito mais que isso,dito diferente é uma experiência
mais ampla que o vivido consciente do narrador,uma vez que há desapossamento de si,
como sujeito que realiza á ação.Todavia Benjamin procurou retratar a cidade como ela se
apresentava para a criança,com a existência dos explorados ,dos despossuidos de bens
materiais,dos revoltados ,da miséria e da morte.Aqui o conceito de memória perdida
(inconsciente) situa-se numa rede temporal (memória ato de racionalidade adulta) onde a
criança filtra através de sua sensibilidade a realidade que a cerca, e dialogando com outras
vozes amplia seu universo social.
      É interessante notar que Benjamin não evoca nenhum paraíso perdido de forma
nostálgica e sentimental , apesar de adulto e exilado de sua cidade natal. Esse fator poderia
ser preponderante para torna-lo vulnerável á busca do paraíso, pois muitas vezes em dada
situação as imagens da infância nos induzem ao saudosismo. O fato de Benjamin não se
deixar seduzir pelo paraíso mediante sua real situação de exilado torna-se claro que sua
crônica não surge da saudade, mas da lucidez, do discernimento que compreende a
impossibilidade não contingente e autobiográfica, mas sim a necessária e social volta ao
passado. Daí a meu ver cai por terra o estigma de melancólico atribuído a Walter
Benjamin.



                                                                                           6
3. A TRÍPLICE MEDIAÇÃO APRESENTADA NO TEXTO DE
WALTER BENJAMIN: TEMPO-ESPAÇO-PERCEPÇÃO INFANTIL.



      Levando em consideração que a obra de Walter Benjamin estabelece etapas
cronológicas de sua infância em Berlim para (re) memorização do passado, relacionando
três formas de mediação teceremos algumas considerações, que abordaremos consoante a
trilogia: espaço, tempo e percepção infantil.
      Benjamin apresentou em sua obra uma visão freudiana do desenvolvimento da
inteligência da criança que é construída em decorrência de um processo ativo de adaptação
e solicitação ao meio. Nesta perspectiva, o desenvolvimento da inteligência é fruto de
paulatina construção de estruturas cognitivas apenas, graças ao embate com o meio.
      A formação e o processamento desta inteligência solicializante possibilita ao
indivíduo em desenvolvimento uma percepção concreta do mundo que ele descobre, dando-
lhe condições de se perceber como sujeito no mundo.
      Sujeito que precisa por dependência implícita da interação com o outro, como um elo
de uma corrente que tem suas particularidades, mas a sua ação e utilidade esta no
entrelaçamento solidário dos demais elos, formando não mais elos juntos,mais um todo
diverso,mas em unidade.
      Desta instância ocorre que somente através de um processo socializador e histórico é
que as categorias espaço, tempo e percepção infantil são consideradas, pois vinculam-se
situando.
      Nesta diretriz é que Benjamin construirá a base trilógica espaço ,tempo e percepção
infantil como veremos a seguir:


      Mediação do tempo – As perspectivas da criança e o olhar do adulto que sabe da
realização ou da derrota dessas perspectivas.


      Mediação do espaço – A impossibilidade de regresso a Berlim- volta seu olhar a
Paris (local- onde se encontrava no exílio).

                                                                                        7
Mediação da percepção infantil – Percepção da realidade que cerca a criança, ela
percebe através de um fino ducto (visão restrita) a verdade política da presença constante
subterrâneo dos vencidos ,dos humilhados.Fatos que o adulto muitas vezes ignoram
classificando, as crianças como ingênuas,crédulas,incompletas e canhestras.
      O que reforça essa visão de muitos adultos é apontada pela idéia de incapacidade
infantil de não entender “certo” as palavras. Porem o mal-entendido,longe de ser um
simples não-entender nos objetos.
      Walter Benjamin sabia disso (relação Freudiana),assim introduz nas lembranças de
infância a dimensão do inconsciente            ,e do esquecimento,dimensões certamente
angustiante,mas imprescindível à retomada, pelo presente e para o presente ,do passado
histórico ou autobiográfico.


4. CONCEITO DE IPSEIDADE NO TEXTO BENJAMINIANO

      A ipseidade coloca que o discurso que temos a respeito do nosso passado é
inseparável da dialética entre antecipação e retrospecção que guia os nossos projetos de
existência e sua retomada rememorativa. Logo o passado é salvo no presente que pressente
em conhece-lo, compreender a memória como um processo de (re) significação do passado
á luz do presente implica,necessariamente,em localizar na linguagem a condição primeira
de instauração desse processo, na medida em que é através dela que o sujeito da forma e
(re) configura esse passado, a partir do seu presente.
      Na (re) configuração do passado talvez Paris e/ou, a sala de leitura da biblioteca
nacional em Paris tenha sido o que mais se aproximou da terra natal de Benjamin. Assim
Paris, sua própria vida, a busca da memória, a procura do passado,os signos premonitórios
do futuro é o labirinto,onde a criança é o sujeito e ousa explorar o desconhecido.
      Redimensionado e ampliando essa visão ao nosso ver o labirinto é o espaço no qual
os anseios dos homens passam a urdir no tecido social do passado o fio da história que
narramos uns aos outros,a história que lembramos ,também que esquecemos e a que
tateamos enunciamos hoje.


                                                                                        8
5. CONTRIBUIÇÃO DO TEXTO BENJAMINIANO À NOSSA
PRÁTICA HISTÓRICA SOCIAL



                                   “Instrumentalizar o aluno para a compreensão da realidade, e na
                                   busca do conhecimento de forma que possa ver (á realidade) por
                                   diferentes ângulos ,assim contribuir para uma consciência crítica
                                   diante das diferentes realidades espaciais1” (LIMA,2000).




      O texto benjaminiano contribui significativamente de inúmeras formas para nós,
educadores.
      Ao elaboramos uma leitura critica do texto infância em Berlim por volta de 1900
cremos que a principal contribuição para nos professores-educadores é o posicionamento
crítico dos indivíduos ante a estrutura social,uma vez que o conhecimento é construído de
uma realidade proximal para um cosmovisão multidimensionada, interpolando infinitas
vozes. Sob esse olhar vemos que o professor-educador deve atuar como agente facilitador
dos saberes e agir como tal ,consciente e comprometido politicamente com a prática dos
saberes histórico-social3.
      Tomando a obra de Walter Benjamin como referencial, onde o sujeito da
aprendizagem reflete (re) memoriza ,(re) significa para a produção do conhecimento dentro
de sua própria realidade em concento com outras vozes,torna-se evidente que a criança
estabelece posição crítica quando constrói seu próprio conhecimento.


1
 A meu ver deve ser objetivo principal do professor consciente e comprometido politicamente com a prática
do saber histórico–social.
3
  Tenho observado em minha prática docente na rede pública Estadual que inúmeros professores estão alheios
e/ou descompromissados com o “significado” de professor enquanto agente que mobiliza a história e
mobiliza-se com a história juntamente com seus pares e com o sujeito do processo ensino-aprendizagem: o
aluno. Nesta direção professor e todos os indivíduos que contemplam a totalidade escolar são sujeitos que
conhecem em processo, portanto, são sujeitos em construção.

                                                                                                            9
Essa contribuição é incomensurável para-nos enquanto professores-educadores nela
Benjamin ressalta que a criança é dotada de tríplice mediação: tempo, espaço e percepção
infantil, elementos mediadores que inferem que a criança em contato com a estrutura
social é capaz de (re) construir através das suas sensibilidades e percepção a realidade que á
cerca,logo a produção desse conhecimento desperta um posicionamento crítico no sujeito
inserido na sociedade em que vive .
      O questionamento, a indagação, o procurar compreender á realidade que nos cerca
produz conhecimento, assim o conhecimento instrumentaliza para a consciência crítica .
      Nesta perspectiva a consciência crítica torna os indivíduos (aluno) cidadãos que
conhecem seus direitos, deveres sociais e participa da “construção política da
superestrutura”. O professor é um agente fundamental nesse processo, pois em sua prática-
histórico-social deve instrumentalizar os alunos para desenvolver uma consciência crítica .
      Dessa forma, acreditamos que o professor será, de fato, sujeito de sua história,
consciente de sua prática , interpolando relações que encaminham modificações das e nas
relações sociais que não se limitam ao lócus escolar, mas de forma centrípeta avança para
saltos mais significativos, através dos quais o ser humano toma consciência do seu “jeito de
ser no mundo”.
      O texto benjaminiano, portanto, fornece o conjunto de referenciais necessários para
essa compreensão, inegavelmente por construir nexos do todo com as partes e das partes
com o todo numa dinâmica crítico-dialética, que melhor seria caracterizada como diz
MORIN (1995, 1996a 1996b) como “processo hologramático” (mais do que a junção das
partes com o todo, mas a sua transpenetração – onde não se sabe onde uma começa e a
outra termina). Nesta direção, a emancipação do sujeito é estabelecida por esta travessia,
sendo ela mesma uma ferramenta do ato de ser e vir a ser, conforme fica explicitado no
texto de Walter Benjamin.




                                                                                           10
BIBLIOGRAFIA

  BENJAMIN, Walter. Infância em Berlim por Volta de 1900. Obras escolhidas II. Rua de Mão
  única. 2.º ed. São Paulo. , pp 73-142. Brasiliense, 1985.

  FARACO, C. Alberto e TEZZA, Cristóvão. Práticas de Textos. 8.º ed. São Paulo. Vozes,2001.

  FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. 30.º ed. São Paulo, Cortez, 1995FREIRE, Paulo.
  Pedagogia do Oprimido. 12.º ed. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1983.

  LIMA, Elicio Gomes. Reflexões Didáticas. São Paulo. Mimeo, 2000.

  LIMA, Elicio Gomes. Breve Excurso em Thompson e Walter Benjamin. São Paulo. Mimeo.
  2001.
  LIMA. Elicio Gomes. Iconografia no livro didático de história: leitura e percepções de alunos
  do ensino fundamental. – Pará de Minas, MG: Virtual Books, 2012.
  http://pt.scribd.com/doc/94199339

  LIMA. Elicio Gomes. Pesquisa sobre o livro didático de história: uma introdução ao tema. –
  Pará de Minas, MG: Virtual Books, 2011. http://pt.scribd.com/doc/94196969

  LIMA. Elicio Gomes. Para compreender o livro didático através da história da escrita e do
  livro.. – Pará de Minas, MG: Virtual Books, 2012. http://pt.scribd.com/doc/94198335

  LIMA. Elicio Gomes. Gestão Escolar: Desafios da organização e gestão escolar.
  http://pt.scribd.com/doc/94971143

  LIMA. Elicio Gomes. Para compreender o livro didático como objeto de pesquisa. Educação e
  Fronteiras On-Line, Vol. 2, No 4 (2012).
  http://www.periodicos.ufgd.edu.br/index.php/educação/article/view/1563

  LIMA, Paulo Gomes. Formação de professores: por uma ressignificação do trabalho-
  Dourados, MS: Editora da UFGD, 2010.

   MORIN, Edgar. Ciência com consciência. Ed. revista e modificada pelo autor. – Rio de
   Janeiro: Bertrand Brasil, 1996 a.

   ___________. O problema epistemológico da complexidade. Mem Martins/Portugal:
   Europa-América, 1996b.

   ___________. Introdução ao pensamento complexo. Col. Epistemologia e Sociedade.
   Lisboa: Astória, 1995
   RIOS, Terezinha Azeredo. Ética e competência. 10.º ed. São Paulo, 2001.

  THOMPSON, E. P. A miséria da teoria. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1981.

  VIGOTSKI, Lev Semenovich. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos
  psicológicos superior. 6ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.



                                                                                            11

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Walter benjamin intertextualizando a construção de seu pensamento em infãncia em berlim por volta de 1900.

  • 1. WALTER BENJAMIN: INTERTEXTUALIZANDO A CONSTRUÇÃO DE SEU PENSAMENTO EM INFÃNCIA EM BERLIM POR VOLTA DE 1900. ELICIO GOMES LIMA* WALTER BENJAMIN: INTERTEXTUALIZANDO BUILDING YOUR THOUGHTS ON BERLIN CHILDHOOD AROUND 1900 Walter Benjamin: INTERTEXTUALIZANDO CONSTRUIR TUS PENSAMIENTOS EN INFANCIA EN BERLÍN HACIA 1900 RESUMO: O objetivo deste estudo é apresentar a perspectiva benjaminiana sobre sua idéia de memória considerando as muitas vozes que colaboraram na construção de sua cosmovisão, abrangendo nuanças que transcendem o sentido parcimonioso de sua obra, e forjando desta maneira caminhos orientados pela memória coletiva. Desta forma, procuraremos discutir o pensamento benjaminiano à luz de uma visão do modernismo, ao mesmo tempo em que compreender a proposta deste autor a partir do uso de sua prática autobiográfica que consiste numa meta-ampliação/modificação do conceito de sujeito-essencial para a reflexão sobre a problemática da produção do conhecimento histórico. PALAVRAS-CHAVE: WALTER BENJAMIN, MEMÓRIA COLETIVA, INFÂNCIA EM BERLIM, CONCEITO DE MODERNIDADE, TEMPO-ESPAÇO-PERCEPÇÃO INFANTIL. SUMMARY: The objective of this study is to present the perspective on Benjamin's your idea of memory considering the many voices that contributed to the construction of his worldview, covering nuances that transcend the sense of sparing his work, and forging paths in this way guided by the collective memory. Thus, we will try to discuss Benjamin thought the light of a vision of modernism, while understanding that the proposal by this author from the use of autobiographical practice which is a modification of the target amplification concept of self-reflection on the essential the problem of production of historical knowledge. KEYWORDS: WALTER BENJAMIN, COLLECTIVE MEMORY, CHILDREN IN BERLIN, THE CONCEPT OF MODERNITY,-SPACE-TIME PERCEPTION
  • 2. RESUMEN: El objetivo de este estudio es presentar el punto de vista sobre Benjamin es su idea de la memoria teniendo en cuenta las muchas voces que han contribuido a la construcción de su visión del mundo, que abarca matices que trascienden el sentido de salvar su trabajo, y el establecimiento de rutas de esta manera guiado por la memoria colectiva. Por lo tanto, vamos a tratar de discutir Benjamin pensaba que la luz de una visión de la modernidad, mientras que la comprensión de que la propuesta de este autor por el uso de su práctica, que es una autobiografía meta-ampliação/modificação el concepto de sujeto-esencial para la reflexión sobre el tema de la producción del conocimiento histórico. PALABRAS CLAVE: WALTER BENJAMIN, LA MEMORIA COLECTIVA, LOS NIÑOS EN BERLIN, EL CONCEPTO DE MODERNIDAD, ESPACIO-TIEMPO PERCEPCIÓN *Professor: Elicio Gomes Lima: Mestre em Educação pela UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas/SP. Professor convidado do UNASP-EC – Centro Universitário Adventista de São Paulo e docente efetivo da rede pública Estadual e Municipal de São Paulo. Contato: elicio.lima@bol.com.br. *SCHOOLTEACHER: Elicio Gomes Lima: Master of Education at UNICAMP - State University of Campinas / SP. Visiting Professor at the UNASP-EC - Adventist University Center of Sao Paulo and effective teaching of public and State Government of São Paulo. Contact: @ elicio.lima bol.com.br. *Profesor: Elicio Gomes Lima: Maestría en Educación en la UNICAMP - Universidad Estadual de Campinas / SP. Profesor visitante en la UNASP-CE - Centro de la Universidad Adventista de Sao Paulo y eficacia de la enseñanza pública y de Gobierno del Estado de São Paulo. Contacto: @ elicio.lima bol.com.br SÃO PAULO JUNHO 2012 2
  • 3. WALTER BENJAMIN: INTERTEXTUALIZANDO A CONSTRUÇÃO DE SEU PENSAMENTO EM INFÃNCIA EM BERLIM POR VOLTA DE 1900 “Se escrevo um alemão melhor que a maior parte dos escritores de minha geração, devo-o principalmente á observação , durante uns vinte anos, de uma única regrinha. Ei-la: nunca usar a palavra “eu” a não ser nas cartas”( BENJAMIN ,1985, p. 475). INTRODUÇÃO O objetivo deste estudo é apresentar a perspectiva benjaminiana sobre sua idéia de memória considerando as muitas vozes que colaboraram na construção de sua cosmovisão, abrangendo nuanças que transcendem o sentido parcimonioso de sua obra, e forjando desta maneira caminhos orientados pela memória coletiva. Desta forma, procuraremos discutir o pensamento benjaminiano à luz de uma visão do modernismo, ao mesmo tempo em que compreender a proposta deste autor a partir do uso de sua prática autobiográfica que consiste numa meta-ampliação/modificação do conceito de sujeito-essencial para a reflexão sobre a problemática da produção do conhecimento histórico. A partir da crônica, Infância em Berlim por volta de 1900, Benjamin procura resgatar as imagens (memórias) perdidas no tempo e no espaço de sua infância em Berlim ,tendo Paris como referencial de busca desta memória inconsciente. Desta maneira, através da proposta delineada na obra de Walter Benjamin, percebemos a sensibilidade da criança que elabora sua própria tecitura da memória dialogando com outras figuras e relacionando-se com muitas vozes as quais permitem (re) dimensionar a ampliação do seu universo social e político. Em linhas gerais, esta contextualização fornece os elementos necessários à uma intertextualização recorrente e aberta Dito de outra forma, lançando mão dos instrumentos benjaminianos, nos orientaremos pelas vozes que mobilizam a análise de sua história- memória, ao mesmo tempo em que são mobilizadas pelo próprio pensamento do autor numa perspectiva critico-dialética. 3
  • 4. 1.CONCEITO DE MODERNIDADE NO TEXTO BENJAMINIANO “No modernismo a forma não é o ato concluído,mas um processo e constante revisão. Assim existe na condição moderna uma pressão profunda contra a perfeição,quando essa palavra significa realização concluída”. O modernismo consistiu numa quebra de paradigmas, orientada por rupturas com as tradições acadêmicas, políticas, religiosas, econômicas e sociais. Caracterizando por uma nova ordem socioeconômica, pela liberdade de criação e de pesquisa. O concento (consonância, harmonia) entre o sujeito e estética adaptou-se ao uso, ou necessidade exigida pelo contexto histórico do modernismo que concerne: Sujeito-conceito de algo (qualidade ou razão) não submetido às condições limitativas do sujeito em que se realiza, mais perpassando o individual. O conceito de estética-estudo racional do belo que a possibilidade da sua conceituação quer quanto à diversidade de emoções e sentimentos que suscita no homem uma apreciação sensível se aprofunda sobre esta perspectiva em processo. Assim inseriu-se no processo moderno a representação de incompletude,a não totalidade e uma pressão profunda,contra a perfeição quando essa palavra significa “realização concluída”. Esta nova realidade com as aceleradas transformações despertou uma tomada de consciência que o novo,o moderno contradiz e é conflitante com o antigo ,contribuindo á um processo progressivo de mudanças na macro- estrutura da sociedade . O texto de Walter Benjamin rompe com o antigo pelo fato de ser uma obra autobiográfica que não esta submetida às condições limitativas do sujeito que realiza a ação, ele dialoga com outras vozes interpolando as experiências vividas. Com isso o texto infância em Berlim por volta de 1900 engendra em sua narração uma memória coletiva.Dessa forma as memórias no texto são valores representativos para sociedades que compartilharam o processo de transformações aceleradas da ruptura entre o antigo e o moderno. 4
  • 5. Esse conceito expressa, da clarividência que Benjamin narrou sua obra autobiográfica transcendendo do individual, pessoal ao coletivo, consciente de uma realidade social, política,cultural e econômica que norteava sua infância em Berlim (memória ato de racionalidade adulta) ,tendo um amplo olhar em relação ao mundo capitalista que nos cerca.Enfim a obra de Walter Benjamin deixa claro que a transmissão da cultura,envolve também um processo de memória que se preserva e que apresenta como um testamento que prepara o futuro com dados do passado. 2.UM INTERTEXTO SOB O PONTO DE VISTA DO TEXTO “INFÂNCIA EM BERLIM POR VOLTA DE 1900” DE WALTER BENJAMIN De acordo com a leitura, Benjamin procurou resgatar o passado trilhando caminhos que norteavam sua infância em Berlim através de uma criança historicamente situada que intercruza tempo e espaço. No texto a reconstrução do passado não se elabora a partir apenas de uma memória pessoal, individual ela (á memória) transcende , a reconstrução é (re) elaborada a partir de uma densidade de memória pessoal e coletiva .É neste sentido que podemos entender que o “eu” esta dissociando do sujeito ,pelo fato que o “eu” restringe a afirmação de si mesmo. O sujeito é amplo ,sendo mais que sua expressão pessoal .É essa amplitude do sujeito que o promove a ser instrumento de alcance social e coletivo estabelecendo relações de representação em seu contexto histórico ,o eu só tem significação quando em relação com o outro. Portanto o redimensionamento político e filosófico-psicológico da maneira de conceder o sujeito encaminham a reflexão que tente a pensar nossa prática histórica, ou seja como narramos e como agimos nela. Nesta perspectiva, a memória é a construção de um ponto de vista sobre uma dada realidade em que o passado e presente se encontram sendo (re) significados pelo sujeito ,a partir desse ponto de vista , logo a memória é um produto do passado á luz do presente. 5
  • 6. Tomando esse foco como referencial, (re) significado do passado, no texto infância em Berlim por volta de 1900, a imagem do labirinto procura (re) estabelecer relações temporais entre o presente,o passado e o futuro ,por onde flui a narração de memória pessoal e coletiva,sendo a coletiva a representação social do sujeito. A obra de Walter Benjamin destaca pelo fato que não se centrou no fio das lembranças pessoais ,ou historia de uma vida, “reconstruiu alem da intensidade das lembranças individuais a densidade de uma memória pessoal e coletiva”. Levando em consideração que o individuo esta inserido em um contexto mais amplo (estrutura social) Benjamin não se deixou seduzir pelo particular em busca da autopromoção, assim voltou seu olhar a uma realidade mais ampla dentro do mundo capitalista que nos cerca. Desta forma ao nosso ver a narração infância em Berlim por volta de 1900 não consiste apenas em autobiografia é muito mais que isso,dito diferente é uma experiência mais ampla que o vivido consciente do narrador,uma vez que há desapossamento de si, como sujeito que realiza á ação.Todavia Benjamin procurou retratar a cidade como ela se apresentava para a criança,com a existência dos explorados ,dos despossuidos de bens materiais,dos revoltados ,da miséria e da morte.Aqui o conceito de memória perdida (inconsciente) situa-se numa rede temporal (memória ato de racionalidade adulta) onde a criança filtra através de sua sensibilidade a realidade que a cerca, e dialogando com outras vozes amplia seu universo social. É interessante notar que Benjamin não evoca nenhum paraíso perdido de forma nostálgica e sentimental , apesar de adulto e exilado de sua cidade natal. Esse fator poderia ser preponderante para torna-lo vulnerável á busca do paraíso, pois muitas vezes em dada situação as imagens da infância nos induzem ao saudosismo. O fato de Benjamin não se deixar seduzir pelo paraíso mediante sua real situação de exilado torna-se claro que sua crônica não surge da saudade, mas da lucidez, do discernimento que compreende a impossibilidade não contingente e autobiográfica, mas sim a necessária e social volta ao passado. Daí a meu ver cai por terra o estigma de melancólico atribuído a Walter Benjamin. 6
  • 7. 3. A TRÍPLICE MEDIAÇÃO APRESENTADA NO TEXTO DE WALTER BENJAMIN: TEMPO-ESPAÇO-PERCEPÇÃO INFANTIL. Levando em consideração que a obra de Walter Benjamin estabelece etapas cronológicas de sua infância em Berlim para (re) memorização do passado, relacionando três formas de mediação teceremos algumas considerações, que abordaremos consoante a trilogia: espaço, tempo e percepção infantil. Benjamin apresentou em sua obra uma visão freudiana do desenvolvimento da inteligência da criança que é construída em decorrência de um processo ativo de adaptação e solicitação ao meio. Nesta perspectiva, o desenvolvimento da inteligência é fruto de paulatina construção de estruturas cognitivas apenas, graças ao embate com o meio. A formação e o processamento desta inteligência solicializante possibilita ao indivíduo em desenvolvimento uma percepção concreta do mundo que ele descobre, dando- lhe condições de se perceber como sujeito no mundo. Sujeito que precisa por dependência implícita da interação com o outro, como um elo de uma corrente que tem suas particularidades, mas a sua ação e utilidade esta no entrelaçamento solidário dos demais elos, formando não mais elos juntos,mais um todo diverso,mas em unidade. Desta instância ocorre que somente através de um processo socializador e histórico é que as categorias espaço, tempo e percepção infantil são consideradas, pois vinculam-se situando. Nesta diretriz é que Benjamin construirá a base trilógica espaço ,tempo e percepção infantil como veremos a seguir: Mediação do tempo – As perspectivas da criança e o olhar do adulto que sabe da realização ou da derrota dessas perspectivas. Mediação do espaço – A impossibilidade de regresso a Berlim- volta seu olhar a Paris (local- onde se encontrava no exílio). 7
  • 8. Mediação da percepção infantil – Percepção da realidade que cerca a criança, ela percebe através de um fino ducto (visão restrita) a verdade política da presença constante subterrâneo dos vencidos ,dos humilhados.Fatos que o adulto muitas vezes ignoram classificando, as crianças como ingênuas,crédulas,incompletas e canhestras. O que reforça essa visão de muitos adultos é apontada pela idéia de incapacidade infantil de não entender “certo” as palavras. Porem o mal-entendido,longe de ser um simples não-entender nos objetos. Walter Benjamin sabia disso (relação Freudiana),assim introduz nas lembranças de infância a dimensão do inconsciente ,e do esquecimento,dimensões certamente angustiante,mas imprescindível à retomada, pelo presente e para o presente ,do passado histórico ou autobiográfico. 4. CONCEITO DE IPSEIDADE NO TEXTO BENJAMINIANO A ipseidade coloca que o discurso que temos a respeito do nosso passado é inseparável da dialética entre antecipação e retrospecção que guia os nossos projetos de existência e sua retomada rememorativa. Logo o passado é salvo no presente que pressente em conhece-lo, compreender a memória como um processo de (re) significação do passado á luz do presente implica,necessariamente,em localizar na linguagem a condição primeira de instauração desse processo, na medida em que é através dela que o sujeito da forma e (re) configura esse passado, a partir do seu presente. Na (re) configuração do passado talvez Paris e/ou, a sala de leitura da biblioteca nacional em Paris tenha sido o que mais se aproximou da terra natal de Benjamin. Assim Paris, sua própria vida, a busca da memória, a procura do passado,os signos premonitórios do futuro é o labirinto,onde a criança é o sujeito e ousa explorar o desconhecido. Redimensionado e ampliando essa visão ao nosso ver o labirinto é o espaço no qual os anseios dos homens passam a urdir no tecido social do passado o fio da história que narramos uns aos outros,a história que lembramos ,também que esquecemos e a que tateamos enunciamos hoje. 8
  • 9. 5. CONTRIBUIÇÃO DO TEXTO BENJAMINIANO À NOSSA PRÁTICA HISTÓRICA SOCIAL “Instrumentalizar o aluno para a compreensão da realidade, e na busca do conhecimento de forma que possa ver (á realidade) por diferentes ângulos ,assim contribuir para uma consciência crítica diante das diferentes realidades espaciais1” (LIMA,2000). O texto benjaminiano contribui significativamente de inúmeras formas para nós, educadores. Ao elaboramos uma leitura critica do texto infância em Berlim por volta de 1900 cremos que a principal contribuição para nos professores-educadores é o posicionamento crítico dos indivíduos ante a estrutura social,uma vez que o conhecimento é construído de uma realidade proximal para um cosmovisão multidimensionada, interpolando infinitas vozes. Sob esse olhar vemos que o professor-educador deve atuar como agente facilitador dos saberes e agir como tal ,consciente e comprometido politicamente com a prática dos saberes histórico-social3. Tomando a obra de Walter Benjamin como referencial, onde o sujeito da aprendizagem reflete (re) memoriza ,(re) significa para a produção do conhecimento dentro de sua própria realidade em concento com outras vozes,torna-se evidente que a criança estabelece posição crítica quando constrói seu próprio conhecimento. 1 A meu ver deve ser objetivo principal do professor consciente e comprometido politicamente com a prática do saber histórico–social. 3 Tenho observado em minha prática docente na rede pública Estadual que inúmeros professores estão alheios e/ou descompromissados com o “significado” de professor enquanto agente que mobiliza a história e mobiliza-se com a história juntamente com seus pares e com o sujeito do processo ensino-aprendizagem: o aluno. Nesta direção professor e todos os indivíduos que contemplam a totalidade escolar são sujeitos que conhecem em processo, portanto, são sujeitos em construção. 9
  • 10. Essa contribuição é incomensurável para-nos enquanto professores-educadores nela Benjamin ressalta que a criança é dotada de tríplice mediação: tempo, espaço e percepção infantil, elementos mediadores que inferem que a criança em contato com a estrutura social é capaz de (re) construir através das suas sensibilidades e percepção a realidade que á cerca,logo a produção desse conhecimento desperta um posicionamento crítico no sujeito inserido na sociedade em que vive . O questionamento, a indagação, o procurar compreender á realidade que nos cerca produz conhecimento, assim o conhecimento instrumentaliza para a consciência crítica . Nesta perspectiva a consciência crítica torna os indivíduos (aluno) cidadãos que conhecem seus direitos, deveres sociais e participa da “construção política da superestrutura”. O professor é um agente fundamental nesse processo, pois em sua prática- histórico-social deve instrumentalizar os alunos para desenvolver uma consciência crítica . Dessa forma, acreditamos que o professor será, de fato, sujeito de sua história, consciente de sua prática , interpolando relações que encaminham modificações das e nas relações sociais que não se limitam ao lócus escolar, mas de forma centrípeta avança para saltos mais significativos, através dos quais o ser humano toma consciência do seu “jeito de ser no mundo”. O texto benjaminiano, portanto, fornece o conjunto de referenciais necessários para essa compreensão, inegavelmente por construir nexos do todo com as partes e das partes com o todo numa dinâmica crítico-dialética, que melhor seria caracterizada como diz MORIN (1995, 1996a 1996b) como “processo hologramático” (mais do que a junção das partes com o todo, mas a sua transpenetração – onde não se sabe onde uma começa e a outra termina). Nesta direção, a emancipação do sujeito é estabelecida por esta travessia, sendo ela mesma uma ferramenta do ato de ser e vir a ser, conforme fica explicitado no texto de Walter Benjamin. 10
  • 11. BIBLIOGRAFIA BENJAMIN, Walter. Infância em Berlim por Volta de 1900. Obras escolhidas II. Rua de Mão única. 2.º ed. São Paulo. , pp 73-142. Brasiliense, 1985. FARACO, C. Alberto e TEZZA, Cristóvão. Práticas de Textos. 8.º ed. São Paulo. Vozes,2001. FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. 30.º ed. São Paulo, Cortez, 1995FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 12.º ed. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1983. LIMA, Elicio Gomes. Reflexões Didáticas. São Paulo. Mimeo, 2000. LIMA, Elicio Gomes. Breve Excurso em Thompson e Walter Benjamin. São Paulo. Mimeo. 2001. LIMA. Elicio Gomes. Iconografia no livro didático de história: leitura e percepções de alunos do ensino fundamental. – Pará de Minas, MG: Virtual Books, 2012. http://pt.scribd.com/doc/94199339 LIMA. Elicio Gomes. Pesquisa sobre o livro didático de história: uma introdução ao tema. – Pará de Minas, MG: Virtual Books, 2011. http://pt.scribd.com/doc/94196969 LIMA. Elicio Gomes. Para compreender o livro didático através da história da escrita e do livro.. – Pará de Minas, MG: Virtual Books, 2012. http://pt.scribd.com/doc/94198335 LIMA. Elicio Gomes. Gestão Escolar: Desafios da organização e gestão escolar. http://pt.scribd.com/doc/94971143 LIMA. Elicio Gomes. Para compreender o livro didático como objeto de pesquisa. Educação e Fronteiras On-Line, Vol. 2, No 4 (2012). http://www.periodicos.ufgd.edu.br/index.php/educação/article/view/1563 LIMA, Paulo Gomes. Formação de professores: por uma ressignificação do trabalho- Dourados, MS: Editora da UFGD, 2010. MORIN, Edgar. Ciência com consciência. Ed. revista e modificada pelo autor. – Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996 a. ___________. O problema epistemológico da complexidade. Mem Martins/Portugal: Europa-América, 1996b. ___________. Introdução ao pensamento complexo. Col. Epistemologia e Sociedade. Lisboa: Astória, 1995 RIOS, Terezinha Azeredo. Ética e competência. 10.º ed. São Paulo, 2001. THOMPSON, E. P. A miséria da teoria. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1981. VIGOTSKI, Lev Semenovich. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superior. 6ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000. 11