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Ministério da Educação
              Secretaria de Educação Básica
         Diretoria de Apoio à Gestão Educacional




  Pacto Nacional
pela Alfabetização
  na Idade Certa
A HETEROGENEIDADE EM SALA DE AULA E A
    DIVERSIFICAÇÃO DAS ATIVIDADES




              Ano 03
            Unidade 07
                      Brasília 2012
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
Secretaria da Educação Básica – SEB
Diretoria de Apoio à Gestão Educacional



Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Centro de Informação e Biblioteca em Educação (CIBEC)




Tiragem 134.158 exemplares

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DA EDUCAÇÃO BÁSICA
Esplanada dos Ministérios, Bloco L, Sala 500
CEP: 70047-900
Tel: (61)20228318 - 20228320
Sumário


 A HETEROGENEIDADE EM SALA DE AULA
 E A DIVERSIFICAÇÃO DAS ATIVIDADES

 Iniciando a conversa                                              05

 Aprofundando o tema                                               06
 Direitos de aprendizagem, heterogeneidade dos aprendizes
 e atendimento à diversidade, no final do ciclo de alfabetização:
 diagnosticando e organizando as crianças na sala de aula          06

 Atendendo à diversidade: o trabalho com todas as
 crianças no dia a dia, usando diferentes recursos didáticos       19


 Compartilhando                                                    31
 Direitos de aprendizagem: componente curricular Arte              31

 A colaboração de todos os atores da escola e a participação das
 famílias dos aprendizes no atendimento às crianças ainda não
 alfabetizadas.                                                    34

 Exemplos de quadros de monitoramento de atividades realizadas     41

 Aprendendo mais                                                   44
 Sugestões de leitura                                              44

 Sugestões de atividades para os encontros em grupo                47
A HETEROGENEIDADE EM SALA DE AULA E A DIVERSIFICAÇÃO DAS ATIVIDADES
UNIDADE 7 | Ano 3

Autores dos textos da seção Aprofundando o tema:
Artur Gomes de Morais, Tânia Maria S.B. Rios Leite

Autoras dos relatos de experiência e depoimentos:
Cynthia Cybelle Rodrigues Porto

Leitores críticos e apoio pedagógico:
Adelma Barros-Mendes, Alexsandro da Silva, Alfredina Nery, Amanda Kelly Ferreira da
Silva, Ana Gabriela de Souza Seal, Ana Márcia Luna Monteiro, Cynthia Cybelle Rodrigues
Porto, Edijane Ferreira de Andrade, Erika Souza Vieira, Evani da Silva Vieira, Júlia Teixeira
de Souza, Magna do Carmo Silva Cruz, Priscila Angelina Silva da Costa Santos, Rochelane
Vieira de Santana, Severino Rafael da Silva, Telma Ferraz Leal, Tícia Cassiany Ferro
Cavalcante, Yarla Suellen Nascimento Alvares

Revisor:
Adriana de Oliveira Gibbon

Projeto gráfico e diagramação:
Airton Santos, Ana Carla Silva, Susane Batista e Yvana Alencastro

Ilustrações:
Airton Santos

Capa:
Anderson Lopes, Leon Rodrigues, Túlio Couceiro e Ráian Andrade
Iniciando a conversa

O cuidado em garantir o atendimento à diversidade dos alunos, desde o primeiro ano, é
fundamental para evitarmos que, no terceiro ano, encontremos um grande contingen-
te de crianças com dificuldades em dominar o Sistema de Escrita Alfabética (SEA) e,
portanto, sem poderem usar suas convenções de forma autônoma e exercer a produção de
textos, a leitura e compreensão de textos escritos variados, competências que hoje vemos
como necessárias para considerar alguém alfabetizado. Assim, nessa sétima unidade,
discutiremos o tratamento da heterogeneidade em nossas turmas de final do primeiro ci-
clo, assim como, a necessidade de praticarmos um ensino ajustado, que atenda as neces-
sidades dos alunos, para ajudá-los a avançar na área de língua. Analisaremos, também, as
contribuições do diagnóstico como recurso para a identificação dos saberes que os alunos
com dificuldades em se alfabetizar já construíram e do que ainda precisam ser ajudados
a consolidar. Refletiremos sobre diferentes alternativas didáticas para a consolidação da
escrita alfabética e para a compreensão e produção de textos, com uso de distintos recur-
sos didático-pedagógicos e discutiremos como os demais atores da escola podem criar
projetos de atendimento aos alunos com mais dificuldades e envolver mais as famílias
dessas crianças no acompanhamento de suas aprendizagens.


 Nesta unidade, temos, portanto, como objetivos contribuir para:
 •	 entender a concepção de alfabetização na perspectiva do letramento, considerando o fenômeno da
    heterogeneidade como intrínseco aos processos educativos;
 •	 criar um ambiente alfabetizador, que favoreça a aprendizagem, considerando a heterogeneidade de
    conhecimentos dos aprendizes no processo de alfabetização;
 •	 compreender a importância de organizar diferentes agrupamentos em sala de aula, considerando a
    heterogeneidade de aprendizagens, e adequando os modos de organização da turma aos objetivos pretendidos;
 •	 planejar o ensino na alfabetização, analisando e criando propostas de organização de rotinas da alfabetização
    na perspectiva do letramento, adequando-as às diferentes necessidades de aprendizagem dos alunos;
 •	 analisar e planejar projetos didáticos e sequências didáticas para turmas de alfabetização, contemplando
    crianças que tenham diferentes conhecimentos sobre a escrita.
 •	 compreender a importância da avaliação no ciclo de alfabetização, refletindo sobre a função do diagnóstico no
    acompanhamento das aprendizagens realizadas pelos alunos e na (re)organização do ensino a eles proposto;
 •	 conhecer os recursos didáticos distribuídos pelo Ministério da Educação e planejar situações didáticas em que
   tais materiais sejam usados.
Aprofundando o tema

Direitos de aprendizagem,
heterogeneidade dos aprendizes
e atendimento à diversidade, no
final do ciclo de alfabetização:
diagnosticando e organizando as
crianças na sala de aula
Artur Gomes de Morais
Tânia Maria S.B. Rios Leite




                         O importante, na democratização do ensino,
                         não é “fazer como se” cada um houvesse apren-
                         dido, mas permitir a cada um aprender. Quando
                         não se consegue isso, a solução não é esconder
                         a cabeça na areia, mas reconhecer um fracasso,
                         que é, primeiramente, o da escola, para melhor
                         “retomar o trabalho”. Aí está a verdadeira cliva-
                         gem: frente a desigualdades de aquisições e de
                         níveis escolares devidamente constatados, uns
                         baixam os braços e invocam a fatalidade e os li-
                         mites da natureza humana, outros buscam novas
                         estratégias (PERRENOUD, 1995).
É inevitável encontrarmos heterogeneidade       Aos definitivamente excluídos – isto
nos níveis de conhecimento dos estudantes,      é, reprovados –, resta a sina de, no ano
não só no primeiro ciclo, como em todas as      seguinte, serem submetidos ao mesmo
etapas da escolarização. Exatamente porque      ensino padronizado de tipo idêntico, que de
as pessoas humanas são únicas, mesmo que        nenhum modo se ajusta a suas necessida-
criássemos, artificialmente, uma turma de       des. Às vezes, para aumentar a tragédia, têm
alfabetizandos começando o ano letivo com       que, no ano seguinte, rever o mesmo livro,
níveis de conhecimento muito semelhantes        as mesmas lições, as mesmas explicações...
(no que diz respeito à língua escrita e à sua   que nunca levam em conta quais conhe-
notação), pouco tempo depois iríamos nos        cimentos aqueles alunos já conseguiram
defrontar com a visível diferenciação nos       construir e quais, especificamente, preci-
conhecimentos agregados por aqueles alu-        sam ser ajudados a elaborar ou consolidar.
nos, na mesma área de linguagem. O grande
                                                O atendimento adequado à heterogenei-
problema é que, historicamente, em todos
                                                dade, em nossas salas de aula, pressupõe
os continentes, a universalização do acesso
                                                a necessidade de ressignificação dos
à escola foi instituída com base na padroni-
                                                espaços escolares e o redimensionamento
zação das formas de ensinar e no desrespei-
                                                do tempo pedagógico dedicado aos estu-
to às diferenças individuais dos alunos e de
                                                dantes. Assim, precisamos ter consciência
seus percursos e experiências de vida.
                                                que aquele modelo de ensino, geralmente
Sim, pense no protótipo de ensino tradi-        organizado em “séries”, cada uma durando
cional, muitas vezes praticado, ainda hoje,     um ano letivo, tem uma lógica excludente,
por muitos colégios privados e públicos.        exatamente porque trata como iguais os
Imediatamente nos vem à mente a cena            diferentes, dando-lhes “a mesma dieta” e
em que um grande grupo de alunos, que           ignorando suas necessidades específicas.
constituem uma turma, e estão enfileira-
dos nas bancas de uma mesma sala, recebe
a mesmíssima explicação da professora,
para resolver, em seguida, os mesmos
exercícios. Noutra ocasião, todos respon-
dem às mesmas questões numa prova que
decide pela aprovação ou reprovação de
cada indivíduo, sem levar em conta o que
cada um agregou, de fato, de novos conhe-
cimentos, ao longo do período.




unidade 07                                                                                     07
A proposta de ensino organizado em ciclos,      estava certamente ligada à ausência de um
                       em seus princípios, visa a superar esse         planejamento, por parte daquelas mestras,
                       perverso processo de exclusão. O grande         do que iria ser feito a cada dia. Nas três
                       mote é o respeito à diversidade de percur-      turmas, a maioria das tarefas era proposta
                       sos de vida e estilos de aprendizagem como      para ser respondida de forma individual ou
                       compromisso que a escola precisa assumir        coletiva. Eram muito raros os momentos em
                       para evitar os mecanismos de exclusão que       que as crianças podiam trabalhar em duplas
                       sempre praticou, ao longo dos séculos.          ou em pequenos grupos.
                       Para deixar de ser mero discurso, preci-
                       samos pensar: que atividades e formas           Ficou evidente, também, que as três
                       de organização dos alfabetizandos               professoras pouco estimulavam os alunos
                       devemos praticar, para garantir que,            mais avançados a ajudar seus colegas que
                       ao final do primeiro ciclo, os que mais         ainda não tinham compreendido como a
                       precisam sejam atendidos em suas                escrita funciona. Assim, era frequente os
                       urgentes necessidades, ao mesmo tempo           alunos com dificuldades simplesmente
                       em que seus colegas podem progredir             desistirem de ler ou escrever qualquer
                       ainda mais?                                     coisa – nas situações de tarefas individuais
                                                                       padronizadas – e ficarem apenas esperan-
                       Infelizmente, na prática, nem sempre o          do, ociosos, para copiar a resolução das
                       ensino praticado nas redes organizadas          tarefas, colocada no quadro.
                       em ciclos tem dado conta dessas questões.
                                                                       Acrescida a essas dificuldades exercidas
                       Acompanhando, durante um semestre letivo,
                                                                       pelas práticas homogeneizadoras, pensa-
                       três turmas de terceiro ano de uma rede
                                                                       mos também na presença dos alunos com
                       pública de ensino, Oliveira (2010) constatou
                                                                       deficiência nas salas regulares, que acabam
                       um predomínio de atividades padronizadas,
                                                                       realizando atividades de caráter executivo,
                       realizadas simultaneamente com todos os         como rabiscar, não sendo garantidos os seus
                       alunos. Embora em duas daquelas turmas          direitos de aprendizagem. Devemos lem-
                       houvesse muitos meninos e meninas que não       brar que, em decorrência das peculiarida-
   No “Caderno de
Educação Especial      tinham ainda compreendido o SEA – direito       des impostas pela deficiência, alguns alunos
     - a alfabetiza-
   ção de crianças
                       de aprendizagem previsto para o primeiro        não poderão aprender o SEA da mesma
  com deficiência:     ano do ciclo –, só numa delas a mestra inves-   forma e pelas mesmas vias dos alunos sem
     uma proposta
    inclusiva”  são    tia em atividades que ajudassem os alunos a     deficiência. É outro tipo de especificidade
      abordadas as
   especificidades     avançar nesse sentido. Foi constatado que a     que o professor alfabetizador precisa consi-
  sobre a alfabeti-
 zação de crianças
                       dificuldade de desenvolver atividades que se    derar que transcende a questão da hetero-
  com deficiência.     ajustassem aos alunos em diferentes níveis      geneidade própria de todos os alunos.




08                                                                                          unidade 07
Ante tanta dificuldade de ajustar o ensino     No caso da alfabetização, a retomada e a
aos diferentes níveis dos alunos, Olivei-      difusão dos regimes de ciclos, a partir dos
ra (2010) e Cunha (2007) nos alertam           anos 1980, ocorreram, em nosso país, ao
ainda para outro risco: o de se atribuir,      mesmo tempo em que era disseminada,
justamente aos alunos que mais precisam        entre nós, a teoria da psicogênese da
de ajuda, atividades que são pouco desa-       escrita, formulada por Emilia Ferreiro e
fiadoras ou promotoras de aprendizagem.        Ana Teberosky (1986). Passamos a com-
De fato e infelizmente, todos nós já pre-      preender, então, que a aprendizagem do
senciamos ou ouvimos falar de situações        SEA era um processo evolutivo, no qual a
em que os alunos ainda não alfabetizados       criança, progressivamente, formulava em
eram “ocupados” com tarefas de cópia (de       sua mente respostas que a aproximavam da
letras ou palavras), atividades repetitivas    compreensão que os adultos ou colegas já
que mais serviam para excluí-los, naquele      alfabetizados tinham sobre a escrita. Isto
momento, do processo de ensino-apren-          é, se ela, de início, tinha uma hipótese pré-
dizagem que seus colegas estavam viven-        -silábica, esta evoluía para silábica, para
ciando... e evitar que eles, os alunos com     silábico-alfabética e, finalmente, tornava-
mais dificuldade, pudessem expressar sua       -se alfabética, quando, aí sim, podia vir a
insatisfação, através de atos de indiscipli-   dominar as correspondências letra-som
na. Como assinala Perrenoud (1995), tais       de nossa língua. Aquelas explicações de
                                                                                               No caderno da
“tarefas pouco desafiadoras” resultam,         tipo construtivista se afinavam, portanto,      Unidade 3, ano
                                                                                               1, são discuti-
essencialmente, de uma lógica de controle      com a lógica de um ensino que respeita          dos aspectos
disciplinar.                                   os alfabetizandos, porque demonstra que         relativos ao
                                                                                               ensino do SEA,
                                               precisamos ver em que o aluno já avançou,       de modo mais
                                                                                               aprofundado.
                                               diagnosticar o que já aprendeu, para deci-
                                               dir o que precisa aprender.
                                               Como no processo de apropriação da
                                               língua escrita e de sua notação aquela
                                               perspectiva teórica demonstra que o aluno
                                               não é um ser passivo, que acumularia
                                               informações que a professora transmite
                                               prontas, aprendemos que nem os métodos
                                               uniformizados, usados no primeiro ano,
                                               nem os “pacotes padronizados” (como
                                               aqueles que visam à “correção de fluxo”
                                               das crianças que não se alfabetizaram após




unidade 07                                                                                            09
3 anos) nos ajudariam a ajustar o ensino às necessidades de nossos alunos. Se conside-
     rarmos o Direito de Aprendizagem das crianças brasileiras alfabetizarem-se até oito anos
     de idade, vemos que ao final do terceiro ano do primeiro ciclo, todas as crianças deveriam
     ter recebido um ensino que permitisse:



      •	 Usar de forma autônoma o SEA, dominando suas convenções grafema-fonema na leitura e,
         ao escrever, notando corretamente convenções regulares diretas e começando a dominar
         algumas outras questões ortográficas de tipo regular;
      •	 Ler textos de gêneros escritos variados, conseguindo exercer certas habilidades de
         compreensão leitora como as capacidades de extrair informações explícitas de um texto,
         reconhecer sua finalidade e o assunto de que trata e realizar inferências;
      •	 Produzir textos de gêneros praticados na escola, ajustando-os ao contexto e à situação
         comunicativa onde são gerados.




     Sabemos que alguns alunos chegam ao 3º            cada aluno já sabe e soubermos escolher
     ano ainda apresentando hipóteses iniciais         as melhores opções didáticas para cada
     de escrita. Outros, apesar de já terem            um deles, teremos percorrido um longo
     compreendido como o SEA funciona, ainda           caminho na nossa profissionalização. Se,
     estão com pouco domínio das correspon-            além disso, soubermos atuar com todos
     dências som-grafia, de modo que têm               ao mesmo tempo, atendendo às diferen-
     muita dificuldade ao ler ou escrever. Em          tes demandas e auxiliando-os, teremos
     ambos os casos, precisamos agir na ur-            construído um belo perfil conquanto
     gência, assegurando todas as situações            professor(a) alfabetizador(a)”.
     possíveis que permitam àquelas crianças
                                                       Propomos, portanto, que o professor, logo
     concluir o primeiro ciclo dominando, de
                                                       no início do ano, busque avaliar os conhe-
     fato, o sistema de escrita.
                                                       cimentos que os alunos já possuem, para
     Dentre as habilidades que precisam ser            diagnosticar suas aprendizagens e organi-
     desenvolvidas pelos(as) professores(as),          zar boas situações didáticas. A professora
     uma das mais relevantes e difíceis, é a de        Cynthia Cybelle Rodrigues Porto nos
     identificar as necessidades de cada aluno         relatou como ela fez o diagnóstico inicial
     e atuar com todos ao mesmo tempo. Para            de sua turma e como acompanhava os
     Leal (2005, p.91), “se entendermos o que          progressos de seus alunos:




10                                                                             unidade 07
Para avaliar as crianças de minha turma de 3º ano, quanto ao nível de escrita, fiz
    uma atividade de escrita de palavras, cujo campo conceitual era “animais”.  Escolhi
    10 palavras com diferentes quantidades de sílabas e algumas variações quanto
    às estruturas silábicas: LEÃO – GIRAFA – CACHORRO – FOCA – BALEIA – GOLFI-
    NHO – GATO – ELEFANTE – FORMIGA – HIPOPÓTAMO. A partir do ditado e de outras
    observações construí um mapa, identificando os grupos de crianças em diferentes
    níveis. Os 16 alunos ficaram assim distribuídos:

    • Pré-silábico (1): Stanley (aluno “com necessidades especiais”).

    • Silábico – quantitativo: (nenhum).

    • Silábico – qualitativo (3): Joyce, Maria Graziela, Jadyson.

    • Silábico- alfabético (2): Pedro e Salete.

    • Alfabético com muitas trocas de letras (4): Lívia, Raylan, Richard, Danilo.

    • Alfabético com dificuldade em sílabas complexas (4): Ana Carolina, Gerson, José
    Ryan, Paulo.

    • Alfabético consolidado, porque lê e compreende textos, produz pequenos textos,
    apresentando dificuldades com ortografia (2): Guilherme e Sammerson.

    Para acompanhar a progressão das crianças, procuro avaliá-las, sobretudo nos
    momentos em que trabalho atividades de apropriação do SEA. Na rotina semanal, a
    escrita de palavras é uma atividade frequente: trabalho duas vezes por semana, às
    vezes, até três. Durante a correção da atividade, solicito que as crianças escrevam
    a forma convencional, ao lado das palavras em que cometeram erro (ou que não
    escreveram sequer conforme uma hipótese alfabética). Assim elas podem refletir
    sobre a escrita de cada palavra. Procuro, também, chamar algumas crianças para
    escreverem as palavras no quadro, motivando-as a participar da correção. A ativi-
    dade de escrita de palavras é bastante aceita pela maioria das crianças. Entretanto,
    algumas delas, justamente com dificuldades, apresentaram resistência no início,
    até compreenderem a dinâmica da situação. Como eu tenho uma turma bastante
    heterogênea quanto ao nível de escrita, frequentemente, proponho também a
    leitura de textos curtos como poemas, cantigas e trava-línguas, os quais eu repro-
    duzo no quadro ou entrego em fichas fotocopiadas. A partir da leitura coletiva dos
    textos, exploro a localização de palavras e frases, de pares de palavras que rimam
    e de palavras com sílabas iniciais semelhantes e faço com eles a comparação de
    palavras quanto à quantidade de letras e sílabas. A leitura de textos proporcio-
    na a aproximação das crianças aos textos literários e com isto consigo explorar
    várias competências relativas não só à apropriação do sistema de escrita, mas,
    também, habilidades de leitura. As atividades de apropriação têm proporcionado
    avanços significativos no grupo de alunos com dificuldades na escrita. Durante as
    atividades de escrita de palavras, leitura de textos, jogos de alfabetização, fichas




unidade 07                                                                                 11
de atividades de alfabetização, esses alunos têm revelado mais autonomia e
                              compromisso com o aprendizado. Eles passaram a reconhecer a necessidade de
                              se apropriar da escrita e de chegar ao nível dos demais colegas de turma. É co-
                              mum relatos do tipo: “Acertei mais do que ontem!” Ou, “Errei por besteira!”. Em
                              algumas situações é possível perceber a satisfação dos colegas de turma ante
                              o avanço e o aprendizado daqueles que tinham dificuldade. Para mim, a melhor
                              resposta que eles poderiam dar é o compromisso e esforço em avançar.




                     Como uma alternativa de atendimento à             puderam fazer a leitura silenciosa, a mes-
                     heterogeneidade, verificamos que a profes-        tra leu o texto em voz alta, o que permitiu
                     sora costumava trabalhar coletivamente,           que todos se beneficiassem com atividades
                     diversificando a forma de atendimento             que explorem a compreensão do texto
                     dos alunos, procurando atender um grupo           lido. Conversando com a turma, em tais
                     específico de crianças que estão com mais         situações são exercitadas estratégias de
                     dificuldade, enquanto aqueles que estão           compreensão variadas (reconhecimento
                     em hipóteses de escrita mais avançadas são        do assunto do texto, identificação de sua
                     beneficiados com a realização da tarefa no        finalidade, extração de informações apre-
                     coletivo. Isso ilustra bem que a professora       sentadas explicitamente na superfície do
                     reservaria momentos em que estaria mais           texto, realização de pequenas inferências
                     voltada para as crianças com mais dificul-        etc.). De modo semelhante, ao se engajar
                     dades, mantendo uma mediação direta com           nas atividades de produção coletiva de
                     o aquele grupo. Desse modo, a socialização        textos, as crianças que ainda não domina-
                                                                       ram o SEA podem aprender muito sobre a
                     das dificuldades e a intervenção da profes-
                                                                       linguagem que se usa ao escrever e sobre
                     sora, a partir de um atendimento específico,
                                                                       os cuidados que devemos ter ao escolher o
                     seria mais influente que a realização de uma
                                                                       quê e como escrevemos, sempre tendo em
                     atividade solitária.
                                                                       mente a finalidade da situação de pro-
    Na Unidade 5,
    são realizadas
                     O fato também da professora estabelecer           dução do texto e os efeitos que queremos
reflexões sobre o    uma rotina de atividades com os outros            provocar em quem vai lê-lo.
 uso de textos na
    alfabetização.   eixos da língua oportunizava às crianças
                                                                       Entretanto, nunca devemos esquecer que
                     se beneficiarem das situações em que a
                                                                       é preciso assegurar situações em que o que
                     resolução de tarefas no coletivo é fonte de
                                                                       é ensinado leva em conta as necessidades
                     aprendizagem. Por exemplo, após a leitura
                     de uma história, em que os mais avançados         específicas dos diferentes alunos. Numa




12                                                                                             unidade 07
perspectiva construtivista, para ser mais               ter que reconstruir seus saberes prévios.
eficiente, o ensino deve, como já dito, levar           Por outro lado, não pode ser tão complexa
em conta o que os alunos já sabem e o que               que se torne um desafio impossível.
precisam ser ajudados a aprender. Esse
                                                        Inspirados em Vygotsky (1984) e nos
princípio de “ensino ajustado” (ONRUBIA,
                                                        teóricos da cognição social, sabemos que
1996) pressupõe, então, que os professores
                                                        as crianças se beneficiam quando desen-
diagnostiquem os conhecimentos prévios
                                                        volvem, conjuntamente, uma atividade
dos alunos e formulem atividades que
                                                        com alguém que sabe mais que elas e que
constituam desafios adequados. Isto é, no
                                                        o fato de poder compartilhar com seus
caso da alfabetização, para poder avançar no
                                                        pares pontos de vista e soluções diferentes
domínio da língua escrita ou de suas con-
                                                        (das que adotariam sozinhas) é um grande
venções, uma atividade não deve ser “fácil”,
                                                        motor de desenvolvimento.
ao ponto de o aluno poder resolvê-la, sem




        O que Vygotsky e os teóricos da cognição social nos ensinam sobre as vantagens de estimular as
        crianças a trabalharem em duplas ou grupos maiores?
        Com o seu já bem divulgado conceito de zona de desenvolvimento proximal,
        Vygotsky nos ensinou que a resolução conjunta de situações-problema, em que
        um aprendiz atua junto a um colega ou adulto mais competente que ele, catalisa o
        desenvolvimento daqueles conhecimentos que estavam ainda em estado embrio-
        nário ou que o sujeito menos experiente ainda não conseguia mobilizar sozinho.
        Nas diversas interações em sala de aula, vemos o quanto os alunos se beneficiam
        com “dicas” que seus pares dão, usando uma linguagem e esquemas às vezes bem
        mais ajustados que os que um adulto não-professor utilizaria para explicar/ajudar a
        resolver o problema (TEBEROSKY, 1987). Quando uma criança diz a outra que quer
        escrever a palavra manteiga, que esta “começa com o MA de Maria”, pode estar
        oferecendo uma ajuda bem eficaz, porque seu par com mais dificuldades pode ter
        memorizado o nome da coleguinha ou buscar a forma daquele nome no cartaz afixa-
        do na parede da sala. Os teóricos da cognição social (Anne-Nelly Perret-Clermont e
        outros) demonstraram, por sua vez, que, ao resolver questões em grupo, as crianças
        se beneficiam pelo confronto de diferentes pontos de vista e pela necessidade de
        explicitarem, verbalmente, o que estão pensando, a fim de negociarem uma solução
        conjunta. Claro que o confronto de perspectivas não deveria ser tão grande, razão
        pela qual a professora deve buscar pôr para trabalhar juntas crianças com níveis de
        conhecimento não tão disparatados, quando for objetivo da atividade desafiar as
        crianças a descobrir a lógica de funcionamento do sistema de escrita.




unidade 07                                                                                               13
A favor de um ensino que priorize o aten-          alunos em sala de aula, mas também mo-
     dimento à heterogeneidade, Perrenoud               mentos em que diferentes atividades estejam
     (1995) aposta nas atividades promotoras            sendo conduzidas pelos professores de forma
     de interações que desafiem os educandos            paralela. Podemos pensar em modos diferen-
     a construir novos conhecimentos. Essa              tes de organização das atividades: (1) situa-
     alternativa, segundo o autor, é alcançada          ções didáticas em grande grupo; (2) situações
     por meio de uma prática que considere os           didáticas em pequenos grupos e em duplas;
     percursos individuais de cada aprendiz,            (3) situações didáticas em que as atividades
     sem confundir esse caminho com a elabo-            são realizadas individualmente.
     ração de programas especiais, vinculados às
                                                        As situações didáticas em grande grupo
     necessidades educativas de cada aluno, por
                                                        são variadas e podem ter múltiplas finali-
     um lado, ou a adesão de um ensino em que
                                                        dades. Além das que já mencionamos há
     todos, sempre e ao mesmo tempo, estejam
                                                        pouco, todos podem aprender, também,
     expostos às mesmas atividades e conteúdos.
                                                        por exemplo, participando da revisão
     Para tal, propomos que não só existam dife-        coletiva de um texto. Segundo Leal (2005,
     rentes estratégias didáticas para cada um dos      p. 92), o docente pode ter como:


            objetivo didático que os alunos desenvolvam atitudes de revisão; que desenvol-
            vam estratégias apropriadas, como a de voltar continuamente ao já escrito para
            dar continuidade ao texto, planejando o trecho a seguir; que aprendam sobre
            características de um determinado gênero textual; que aprendam a pontuar um
            texto; que aprendam a usar articuladores textuais, deixando os textos mais coe-
            sos; dentre outros.

            Outras vezes, embora o(a) professor(a) esteja realizando uma atividade única com
            o grande grupo, ele(a) tem clareza de que os alunos estão aprendendo “coisas”
            diferentes naquela atividade. Por exemplo, quando temos um grupo heterogêneo
            quanto aos conhecimentos sobre a escrita alfabética, as atividades levam os alunos
            a apreenderem diferentes princípios do sistema, dependendo do que eles já sabem
            e dos conflitos que estão vivenciando.

            Uma atividade de reflexão fonológica pode, para alguns alunos, ajudá-los a en-
            tender que a escrita tem propriedades do significante (palavra) e não do objeto
            representado; para outros, pode servir para ajudá-los a superar dificuldades orto-
            gráficas de trocas entre pares mínimos (p/b, t/d, f/v); para outros, pode servir para
            que percebam que existe uma unidade sonora menor que a sílaba (fonema) e que
            possam identificá-la; para outros, pode servir para ajudá-los a se apropriarem de
            correspondências grafofônicas.




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Como podemos ver, são muitas as possibi-         Nesse modo de organização, po-
lidades de atividades em grande grupo que        demos realizar atividades unifi-
permitem o professor atingir diferentes          cadas, ou seja, cada grupo tra-
objetivos.                                       balhando independentemente,
Outras atividades sugeridas por Leal             mas realizando a mesma tarefa;
(2005, p.93), são as situações didáticas         ou atividades diversificadas, em
em pequenos grupos, Para a autora:               que cada grupo tem uma tarefa
                                                 a ser cumprida.
As atividades em pequenos
grupos são especialmente im-
portantes, por propiciarem, de                   Exemplos de atividade em pequenos gru-
modo mais íntimo, trocas de                      pos e em duplas nos foram contados pela
experiências entre os alunos,                    professora Cynthia, já citada anteriormen-
levando-os a compartilhar sa-                    te, quando lhe perguntamos como ela fazia
beres, a levantar questões e res-                o trabalho em pequenos grupos para que
postas que os adultos escolari-                  aqueles alunos que sabem mais possam
zados nem sempre se propõem.                     ajudar aos que sabem menos:




          Na minha turma eu tenho o Samerson e o Guilherme e eles já têm uma lei-
          tura fluente. Muitas vezes, o Samerson e o Guilherme não têm muita paci-
          ência de fazer a atividade juntos, de um dar oportunidade ao outro. Então,
          muitas vezes, eu peço para que eles fiquem com alunos que estão trocando
          letras e com aqueles que têm um pouco mais de dificuldade, mas já estão
          conseguindo fazer umas relações muito boas quanto à leitura e escrita. Por
          exemplo, o Ryan, ele está no nível alfabético de escrita, mas tem dificul-
          dade em sílabas complexas. Eu chamo de sílabas complexas, por exemplo,
          aquelas que têm consoante, consoante, vogal. Eu coloco ele com Salete que
          é silábico-alfabética. E ele faz assim: “Salete, pensa! Tu conhece... tu num
          sabe escrever sapo, Salete? Sapo! Tu num sabe, Salete?” Aí Salete diz: “Sei”.
          Então! O “sa” de sapo é o mesmo “sa” de Salete. Como é que é o “sa” de
          sapo, Salete”? Sabe? Ele é um pouco... ele é bacana assim... também tem a
          questão  da criança se dispor a ajudar o outro, isso é muito importante!




unidade 07                                                                                    15
Como podemos observar, em grupos as              é a menor unidade de uma palavra e que
     crianças podem trocar informações e              ela é constituída de “sonzinhos” menores
     comparar diferentes hipóteses. Se há             (que os estudiosos chamam de fonemas).
     crianças em níveis de escrita mais avança-       Para que elas percebam isso, é necessário
     dos e outras que estão com dificuldades em       que a professora esteja circulando pela sala
     algumas sílabas, podemos assistir a boas         e fazendo perguntas que evidenciem tal
     discussões, quando forem decidir que síla-       princípio do sistema.
     ba colocar nas palavras. Na situação acima,
                                                      Mas, se as interações favorecem a constru-
     as crianças buscavam repetir o modelo da
                                                      ção individual de saberes sobre a escrita e
     mestra, no momento de ajudar o colega na
                                                      sobre sua notação, não basta colocar para
     escrita de uma palavra.
                                                      trabalhar juntos alunos com níveis dife-
     Propostas assim são boas para crianças           rentes. Esta é uma ideia simplista e dis-
     que estão utilizando uma letra para cada         torcida que se divulgou nos últimos anos
     sílaba (alunos em hipóteses silábicas e          e que esquece o papel da professora como
     silábico-alfabéticas), pois alimentam o          mediadora também das interações entre
     conflito de que não é possível escrever          os aprendizes. A esse respeito, a professo-
     “como quem já sabe escrever”, apoiando-          ra Cynthia nos conta cuidados que adotava
     -se nessa hipótese. Também pode ajudar           com sua turma de terceiro ano:
     as crianças a refletirem que a sílaba não



              Primeiro eu tenho que administrar as relações interpessoais dentro da sala,
              né? Porque tem aquele menino que não pode ficar junto do outro. É o caso, por
              exemplo, de Raylan e Paulo. São muito amigos, mas quando ficam juntos, é pra
              brincar, não é pra estudar, né? Eles tão num nível bom, mas... é justamente por
              isso. Eu também penso em juntar, por exemplo, o Raylan com Salete. Salete está
              silábico-alfabética. E o Raylan, não. Sozinho, ele não consegue ler. Aí junto os
              dois pra fazer uma atividade... por exemplo, de escrever palavras com... deter-
              minada relação letra-som. Eu faço isso com várias duplas. Eu junto Jamerson
              com Jadson. Jadson tá apresentando um avançozinho de parar e refletir... sobre
              as palavras e dizer: “Ah, não!” e revê o que escreveu. Antes  se eu ditasse a
              palavra cavalo, ele (es)tava naquela hipótese: /ka/ era o K mesmo do alfabeto.
              Trabalhando com Jamerson ele avançou. Em algumas situações não vale mesmo
              a pena colocar juntos alunos do mesmo nível... Samerson e Guilherme, como eu
              disse, eles têm uma leitura fluente. Muitas vezes eles não têm a paciência de




16                                                                            unidade 07
fazer junto, de dar oportunidade ao outro e... esperar, mesmo, uma resposta do
         outro. “Né assim não! Eu fiz assim!”. Por isso muitas vezes eu procuro que eles fi-
         quem com alunos que estão trocando letras. [...] Quando eu dou um jogo diferen-
         te (para cada grupo), eu dou as instruções, mas eles têm dúvida. Por isso eu vou
         passando nos grupos, por exemplo, eles vão: “Ó, tia, a gente tá jogando certo? É
         assim mesmo?” No geral, os alunos não eram cooperativos. Eu tenho forçado essa
         cooperação. Eu forço mesmo. “Olhe, num é pra você fazer pelo colega”, eu insisto,
         né? “Como é que eu faço aqui na correção? Vamos tentar fazer da mesma forma?”
         “Pense com ele direitinho sobre a escrita daquela silabazinha que ele não tá
         conseguindo escrever”. “Mostre pra ele uma palavra parecida, ou então diga pra
         ele uma palavra que ele conhece” [...]




Nada como aprender refletindo sobre a              Para conseguir que as crianças trabalhem
prática de quem, no cotidiano, está ana-           de forma mais autônoma, sem estar a toda
lisando as soluções que adota e os seus            hora “pegando na barra da saia” da pro-
porquês. A partir do relato agora apresen-         fessora para pedirem seu aval (“É assim,
tado, recordamos que os agrupamentos               professora?”, “Tá certo assim, professora?”)
não podem se basear apenas em critérios            precisamos abandonar as tarefas padroniza-
cognitivos (como os níveis de hipótese             das, que alimentam a heteronomia, porque
de escrita), mas precisam levar em conta           têm sempre cobranças unificadas e respos-
afinidades (e desavenças) entre as crian-          tas únicas. E precisamos permitir que as
ças, de modo a ver que arranjos (de duplas,        crianças discutam suas soluções, que errem,
grupos) tendem a ser mais produtivos.              não alcançando sempre as respostas que
                                                   obedecem às convenções da escrita. Assim
Permitir que os alunos interajam e combinem
                                                   como a atitude de cooperação, a crença de
as soluções para as atividades exige que a
                                                   que podem resolver fichas, jogos ou outras
professora monitore o que eles estão fazendo,
                                                   atividades, de forma mais autônoma, não
que ela se alterne nas duplas ou grupos, não só
                                                   é algo inato, mas, sim, algo que as crianças
ajudando a resolver dúvidas, mas estimulando
                                                   aprendem. Como? Praticando isto, no dia
os alunos para que, de fato, assumam uma
                                                   a dia, elas são estimuladas a pensar assim,
atitude cooperativa. Claro que esse monitora-
                                                   à medida que interagem e... veem que sua
mento exige um olhar sintonizado no que está
                                                   professora as ajuda, mas que cabe a elas
acontecendo nos diferentes agrupamentos em
                                                   negociarem as soluções em questão.
que a turma foi organizada.




unidade 07                                                                                        17
Referências:


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     Dissertação (Mestrado em Educação). ), Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, . São
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     Artur Gomes.; ALBUQUERQUE, Eliana. B.; LEAL, Telma. F. (Orgs.) Alfabetização: apropriação
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     OLIVEIRA, Solange. A Progressão das Atividades de língua portuguesa e o Trata-
     mento dado à Heterogeneidade das Aprendizagens: um estudo da prática docente no
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     ONRUBIA, Javier. Ensinar: criar zonas de desenvolvimento proximal e nelas intervir. In: COLL,
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     PERRENOUD, Philippe. La pédagogie à l’école des différences: fragments d’une
     sociologie de l’échec. Paris: ESF, 1995.
     PERRENOUD, Philippe.. As novas didáticas e as novas estratégias dos alunos face ao trabalho es-
     colar. In: PERRENOUD, Philippe. O ofício de aluno e sentido do trabalho escolar. Porto
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     TEBEROSKY, Ana. Construção de Escritas através da Interação Grupal. In FERREIRO, Emilia;
     PALACIOS, Margarita. Os Processos de Leitura e Escrita. Porto Alegre: Artmed, 1987.
     VYGOTSKY, Lev Semenovich. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.




18                                                                          unidade 07
Atendendo à diversidade: o trabalho
com todas as crianças no dia a dia,
usando diferentes recursos didáticos
Tânia Maria S. B. Rios Leite
Artur Gomes de Morais




No caderno 1, da Unidade 3, discutimos       vivem, a maneira como constroem signifi-       No “Caderno de
                                                                                            Educação Especial
a aprendizagem dos princípios básicos        cados, as práticas culturais etc. Não existe   - a alfabetização
do sistema de notação alfabética (SEA),      um modelo de criança. Pensar em criança-       de crianças com
                                                                                            deficiência: uma
apontando a necessidade de articular, de     -modelo é discriminar. Além de incluir os      proposta inclusiva”  
                                                                                            são abordadas as
modo coerente, os conhecimentos sobre        aprendizes com deficiências, precisamos        especificidades da
o objeto de ensino-aprendizagem (SEA) e      atender todos os que têm dificuldades em       apropriação do SEA
                                                                                            por crianças com
os modos de apropriação do mesmo, pelos      se alfabetizar.                                deficiência.

alunos. Sem que estivéssemos tratando de
                                             Diante de tantas demandas educativas
uma novidade, ali constatamos/reafirma-
                                             para o processo de ensino-aprendizagem
mos a complexidade com que se reveste
                                             do Sistema de Escrita Alfabética, colo-
nosso Sistema de Escrita Alfabética para a
                                             camos as seguintes questões: Como nós,
aprendizagem de nossos alunos.
                                             professores de 3º ano, podemos organizar
Todos os anos, alguns alunos chegam ao 3º    nossa prática pedagógica, de modo que
ano ainda apresentando hipóteses iniciais    todos os alunos possam aprender em
de escrita. A questão importante é como      seus diferentes níveis de aprendizagem
elaborar um projeto de ensino que atenda     considerando suas reais necessidades?
a todos os alunos, sem exceção, dos mais     Como repensar a organização do trabalho
sensíveis aos mais pragmáticos, dos mais     pedagógico, de modo que o planejamento
competitivos aos mais colaborativos, dos     e as atividades propostas rompam com a
mais lentos aos mais rápidos. As crian-      lógica de um ensino homogeneizante, que
ças são o resultado de suas experiências.    pressupõe que as crianças construiriam
Para compreender seu desenvolvimento         seus percursos e suas aprendizagens do
é preciso considerar o espaço em que elas    mesmo modo, no mesmo momento, com




unidade 07                                                                                          19
a mesma desenvoltura? Como usar os                pudemos identificar algumas estratégias
     recursos que estão na escola, para atender        que ela encontrou para envolver todos os
     a diversidade?                                    alunos em sua proposta e contribuir para o
                                                       avanço da turma.
     Usando recursos didáticos dispo-
     níveis na escola, para lidar com os               Além do trabalho de reflexão sobre pa-
     alunos de diferentes níveis.                      lavras, desenvolvido no coletivo com sua
                                                       mediação, a professora nos relatou como
     A professora Cynthia, como já evidenciado
                                                       ela costumava realizar atividades de leitura
     no primeiro texto desse caderno, tinha
                                                       com o livro didático, atendendo à diversi-
     uma turma de 3º ano, com alunos em
                                                       dade da turma em seus diferentes níveis
     vários níveis de aprendizagem do SEA.
                                                       de aprendizagem. Vejamos o que ela nos
     Ao longo de seus relatos de experiência,
                                                       contou:



            Sempre que proponho uma atividade de leitura de texto do livro didático, essa
            leitura é feita silenciosamente, por aqueles que conseguem ler de modo autôno-
            mo. Então eu dou um tempo pra eles lerem tudo, enquanto os outros, que ainda
            não conseguem ler, estão nesse momento só olhando o livro. Eles realmente
            estão ociosos, porque não conseguem fazer a leitura daquele texto. Então depois
            eu proponho a leitura coletiva e, nesse momento, eu leio pra eles. Porque os
            que já estão conseguindo fazer a leitura leem, conseguem fazer a leitura, mas
            não compreendem muitas vezes o que leram.  Eles têm essa dificuldade. Dizem
            assim: “Eita, deixa eu voltar pra ver o que eu li”. Então é proveitoso ler mais ou
            menos umas duas, três vezes o texto, pra poder compreender. Aí eu faço a leitura
            coletiva. Depois dessa leitura coletiva, eu proponho, por exemplo, questões para
            serem respondidas sobre o texto. E aí, o que é que eu faço? Tem momentos em
            que eu faço uma compreensão do texto, oralmente. Tem momentos que eu faço a
            compreensão do texto por escrito.

            Com os alunos que ainda não leem com autonomia, eu proponho um trabalho
            com... a localização de palavras, dentro do texto, como por exemplo,  circular
            palavras que eles já conhecem, a partir de  uma questão como: Quais são as
            palavras que vocês conseguem ler? Então, geralmente, são palavras peque-
            nas, de duas, três sílabas e não contendo sílabas complexas. Então eles sem-
            pre procuram, e quando encontram, encontram a palavra e conseguem ler ao
            menos a primeira sílaba. Então, dentro dessa leitura de palavras do texto, eu
            chego junto do grupo, das crianças que têm mais dificuldade. Porque eu não
            divido a turma, porque a sala é muuuuito apertada e não tem nenhum espaço




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na sala pra dividir. Mas eu chego junto e vamos lá... digo: “Leia pra mim essa
         daqui que você circulou”.  E aí... quando eles fazem a leitura, eu pergunto:
         será que é isso mesmo?  por exemplo,  vamos supor que eles circularam a pa-
         lavra milho. Aí ficou no “mi”, no “mi”, no “mi...” e pergunto: “Esse L, H, O, como
         é que a gente lê?” e aquele aluno diz: “ L, H, O, CHO”. Insisto: “Como é que a
         gente lê? Tem C aqui? Não”. “Não tem. É um L. É um L. L, H, O...” Alguns têm
         essa dificuldade de fazer essa... essa oralização da sílaba complexa. Do L, H, O.
         Naquele dia eu fui tentando apontar palavras semelhantes, dentro do texto,
         pra que eles vissem essa relação dos sons, entre as palavras.




Sem esquecer que o texto e a compreensão          ou adequadas, pois não auxiliam no desen-
de textos são essenciais e obrigatórios no dia    volvimento das estratégias de atribuição de
a dia do primeiro ciclo, a leitura de palavras    sentido aos textos. Mas são parte do pro-
                                                                                                Na Unidade 5, o
é uma atividade importante no processo de         cesso de alfabetização, por propiciar mais    trabalho com textos
alfabetização, tanto para os alfabetizandos       fluência no reconhecimento de palavras no     na alfabetização é
                                                                                                debatido,
que já avançaram quanto à compreensão             texto. Para os alunos que ainda não conse-
do sistema de escrita e já conseguem ler          guem ler, porque ainda não compreendem
com relativa autonomia, quanto para os que        os princípios de fonetização da escrita, a
ainda estão no início do processo de apro-        intervenção da professora foi extremamen-
priação do SEA. Para aquelas crianças que já      te valiosa. Ao se deparar com uma palavra
conseguem ler, a atividade ajuda a consoli-       e tentar lê-la, esse aprendiz mobilizava os
dar as correspondências grafema-fonema,           conhecimentos que já tinha construído e
fazendo com que automatizem as infor-             testava suas hipóteses, lançando mão das
mações sobre as relações entre as letras e        correspondências som-grafia que tinha
fonemas, e dominem tais correspondências.         armazenado em sua memória. Assim, o
                                                  princípio de que cada letra ou grupo de le-
Naquela atividade de leitura, a professora
                                                  tras, corresponde, via de regra, a um som,
Cynthia ajudou os alunos com dificuldades
                                                  pôde ser mobilizado, sobretudo, pelos
a entender que existem unidades menores
                                                  questionamentos e auxílio que a professo-
que as sílabas e que é preciso pensar sobre
                                                  ra (e/ou um colega) pode fornecer durante
os sons das letras, para conseguir fazer
                                                  a atividade.
a leitura da palavra. Obviamente, para
o desenvolvimento da compreensão de               As práticas de leitura e produção de textos
textos, tais atividades não são suficientes       juntamente com as práticas de reflexão so-




unidade 07                                                                                             21
bre palavras precisam ser mantidas duran-     um trabalho individual não implica
     te todo o ciclo de alfabetização, no Ensino   que desconsideremos a importância da
     Fundamental. Lembramos, ademais, que o        interação em sala de aula, nem que o
     uso do livro didático, desde os anos ini-     aluno não possa estabelecer trocas, ou
     ciais, é uma ferramenta importante para       fazer perguntas, ou até mesmo levantar
     o professor trabalhar não só as atividades    da cadeira para falar com o professor ou
     de apropriação do sistema de escrita, mas     com um colega.
     também as dificuldades ortográficas dos
                                                   Atividades de “ditado mudo” são ex-
     alunos.
                                                   celentes propostas para que os alunos
     Em todos esses tipos de situação é muito      mobilizem o que eles aprenderam para
     importante decidir sobre os agrupa-           notar as palavras no papel. Nesse mo-
     mentos, de modo a garantir que todos          mento, a passagem do(a) professor(a)
     os alunos estejam pensando a respeito         pelas bancas, olhando o que eles estão
     de aspectos do Sistema de Escrita Alfa-       escrevendo e conversando com cada um,
     bética. Assim, pode-se priorizar que os       individualmente, levando-os a usar pistas
     alunos compartilhem a tarefa com colegas      para realizar a tarefa, pode ser preciosa
     que não deem prontas as respostas que         para que os alunos ultrapassem obstá-
     eles estão precisando construir, já que é     culos e sintam o interesse do professor
     fundamental que eles possam vivenciar         (Leal 2005).
     o conflito e que tenham um problema a
                                                   Apesar de estarmos focando mais as
     resolver.
                                                   atividades destinadas à apropriação do
     Leal (2005) reafirma que as situações
     didáticas de trabalho individual são tam-
     bém muito importantes no processo de
     aprendizagem, pois as crianças podem
     pensar sobre conceitos e arrumar o que
     já sabem sobre determinado tema e to-
     mar consciência de quais são as suas la-
     cunas. É importante que elas aprendam
     a refletir e a sistematizar seus próprios
     saberes, que aprendam a coordenar sozi-
     nhas suas ações e colocar à disposição o
     que já sabem para resolver os problemas
     a serem superados. O fato de propor




22                                                                    unidade 07
SEA, faz-se necessário salientar que             Nesse espaço devem estar presentes, li-
diferentes objetivos precisam ser pen-           vros de literatura infantil e outros supor-
sados e que a organização dos alunos em          tes de escrita, como jornais, gibis, histó-
sala não pode ser decidida apenas com            rias em quadrinhos etc. Assim, enquanto
base nos conhecimentos que eles têm              o professor estiver trabalhando com os
sobre a escrita alfabética. Para organi-         alunos que ainda estão com dificuldade
zarmos nossos alunos precisamos ter              na leitura e escrita, aqueles que estão em
objetivos definidos naquele momento da           níveis de escrita mais avançados poderão
aula.                                            ser incentivados a realizar a leitura como
                                                 ato de fruição. Com isso não queremos
Além da nossa preocupação com os agru-
                                                 dizer que não tenhamos preocupação com
pamentos é importante que estejamos a
                                                 o ensino das estratégias de leitura. Uma
postos para levantar questões pertinentes
                                                 ação sistematizada é fundamental para
e disponibilizar as informações e con-
                                                 ajudar os alunos a desenvolver as estra-
dições necessárias para a realização das
                                                 tégias de leitura. O importante é opor-
tarefas. Dessa forma, do mesmo modo
                                                 tunizar momentos de ajuda às crianças
que as demais atividades já elencadas, a
                                                 do 3º ano que estão com dificuldades de
organização dos espaços na sala de aula é
                                                 aprendizagem enquanto os outros estão
fundamental para o atendimento a hete-
                                                 realizando atividades independentes. A
rogeneidade. A atividade de leitura pode
                                                 professora Cynthia nos comentou como
ser incentivada pelo professor por meio da
                                                 ela desenvolve o trabalho junto aos alu-
construção de um espaço na sala de aula
                                                 nos, de forma que eles sintam prazer em
reservado para leitura e o manuseio de
                                                 receber ajuda:
livros.



       Na verdade, eles já gostam de receber uma ajuda, não é? Eles têm essa necessi-
       dade de sentar junto comigo no meu birô e dizer: “Tia, me ajuda”. Então eles são
       interessados, mesmo. Mas nem sempre eu posso estar com todos, ajudando todos
       ao mesmo tempo. Eu prefiro acompanhar as duplas, ou os grupos, né? Do que
       eles estarem ali comigo e eu não dar atenção a outros. Então, enquanto eles estão
       fazendo ali aquela atividade, eu vou passando e vou interferindo.  “Como é que é
       isso aqui?” Então eu vou dando uma ajuda a mais. Eles já são interessados tam-
       bém porque eles gostam de atingir o nível daqueles que estão participando muito
       na aula.  




unidade 07                                                                                     23
Como podemos perceber no relato da professora, essa sua postura estimula os alunos a partici-
                      par de situações de aprendizagem em que seu olhar está voltado para cada um com atenção.
                      Outra atividade bastante interessante para trabalhar com os alunos em seus diferentes
 Na Unidade 4, são    níveis de aprendizagem é a utilização de jogos. Em todas as culturas, existem jogos com
expostas reflexões    palavras, e as crianças gostam de brincar com as palavras e com as letras para formar as
sobre a ludicidade
  na alfabetização,   palavras que estão aprendendo a escrever. Na sala da professora Cynthia o jogo é uma
 com discussão so-
bre o uso de jogos
                      atividade que faz parte da sua rotina e, como podemos perceber no seu relato, as crianças
   em sala de aula.   embarcaram prazerosamente na atividade, refletindo sobre as semelhanças e diferenças
                      entre as palavras. Eis como ela trabalhou com o jogo “Troca Letras”:


                          Jogo: Troca letras
                                                                           para refletir com ele lançando a seguinte
                                                                           pergunta: “Em quais palavras você encontra
                                                                           essa letra?”. E Richard e os demais alunos
                                                                           citaram e registrei as seguintes palavras no
                                                                           quadro: GATO, GARRAFA, GALINHA, GOTA,
                                                                           GAIOLA. Em algumas atividades, tenho
                                                                           percebido que Richard tem dificuldades
                                                                           quanto às regularidades diretas, (ele troca,
                                                                           principalmente as letras P e B). Por isso,
                                                                           tenho tentando acompanhar o aluno, para
                                                                           sanar essas trocas, propondo-lhes atividades
                                                                           específicas de leitura e escrita de palavras com
                                                                           essas iniciais, atividades de preenchimento
                                                                           de lacunas nas palavras com essas letras,
                          Jogando o “Troca letras” os alunos com
                                                                           cruzadinhas, por exemplo. Em outro momento,
                          maiores dificuldades fizeram muitas
                                                                           solicitei que o aluno Jadyson escrevesse a
                          descobertas sobre a escrita, dentre elas
                                                                           palavra PENTE conforme a figura. Ele escreveu
                          os sons nasais nas palavras, a mudança no
                                                                           PEITE. Então indaguei: “Eu falo PEITE ou
                          sentido da palavra, ao trocar apenas uma
                                                                           PENTE?” e ele falou: “PENTE”. Para ajudá-lo a
                          letra, a semelhança no som de algumas
                                                                           refletir sobre os sons nasais, escrevi a palavra
                          palavras e a diferença na escrita. Também
                                                                           CATO no quadro e ele leu sem dificuldade.
                          escreveram autonomamente com auxílio
                                                                           Quando adicionei a letra N, transformando
                          de algumas pistas, com a troca da letra
                                                                           CATO em CANTO, ele não conseguiu ler. Então,
                          inicial, medial e final. Ao solicitar que
                                                                           fiz a leitura das duas palavras para que ele e
                          Richard escrevesse a palavra GOLA, ele
                                                                           os demais alunos observassem a diferença
                          escreveu COLA. Após a leitura da palavra,
                                                                           que uma letra pode provocar no som e no
                          ele respondeu: “Eita tia! Aqui é a letra H!”,
                                                                           sentido da palavra.  Enfatizei que o fato de ter
                          mas escolheu a letra G para substituir a letra
                                                                           colocado a letra N na palavra CATO modificou
                          C. Então perguntei: “Qual o nome dessa
                                                                           todo o seu sentido, transformando CATO em
                          letra?”, ele respondeu: “É G”. Aproveitei
                                                                           CANTO. Além disso, sinalizei a mudança no




24                                                                                                 unidade 07
VOVÓ, MALA e BALA , por exemplo. As crianças
                                                      não apresentaram conflitos na escrita de
                                                      palavras conhecidas como RATO, GATO, FACA,
                                                      FADA, por exemplo. Elas tendiam a errar nas
                                                      palavras acentuadas como em  PÉ e PÁ, bem
                                                      como nas palavras com sílabas complexas
                                                      como FOLHA E BOLHA. Os alunos do nível
                                                      silábico apresentaram erros na escrita dessas
                                                      últimas palavras com maior frequência.
                                                      Foram frequentes os relatos afirmando que
                                                      as palavras FACA e FADA, MAPA e MALA eram
                                                      palavras fáceis de escrever. Quando solicitei
                                                      que a aluna Joyce escrevesse a palavra GALO,
                                                      lhe mostrando a figura, ela escreveu GALA.
                                                      Então fiz a seguinte pergunta: “Qual a última
 som da primeira sílaba, pois, não tinha mais         letra da palavra GALO?”. Ela respondeu que
 CA e sim CAN. Após a reflexão, ele afirmou:          era O e fez a troca da letra.
 “Então eu coloco um N aqui, não é tia?”
                                                      Tenho percebido que alguns alunos, no
 (apontando para a letra I na palavra PEITE).
                                                      intuito de mostrar fluência na escrita,
 Escrevi BANDA e PANDA no quadro, perguntei
                                                      acabam trocando letras e suprimindo
 as crianças qual era a diferença entre as duas
                                                      outras. É comum observar eles mesmos
 palavras. Um aluno respondeu: “Trocou o B
                                                      percebendo os seus erros. A proposta de
 pelo P”. Outro respondeu: “Aqui eu tenho
                                                      fazer o jogo coletivamente partiu da ideia
 BAN (apontando para a palavra BANDA) e
                                                      de que os alunos poderiam refletir sobre a
 aqui em tenho PAN (apontando para a palavra
                                                      escrita a partir dos erros dos colegas e que
 PANDA)”. Para refletir sobre os sons nasais,
                                                      a intervenção e reflexão poderia se tornar
 listei algumas palavras no quadro para que os
                                                      mais rica se fosse feita de forma coletiva,
 alunos fizessem a leitura. Enquanto eles liam
                                                      atingindo a um maior grupo. Ao finalizar o
 as palavras, eu sinalizava as sílabas com sons
                                                      jogo com o flanelógrafo preenchido, retirei
 nasalizados. As palavras foram as seguintes:
                                                      as figuras e chamei individualmente os
 CANTO, PINTADA, DENTE, POMBO, PANDA,
                                                      alunos para localizar os pares de palavras
 BANDA e PITOMBA. Após a leitura, um aluno
                                                      que eu ditava e escrevesse no quadro:
 afirma: “Ah tia, já sei. O som fica AN, EN, IN não
 é?”. Ao solicitar a escrita da palavra BOLO no       MAPA – MALA
 flanelógrafo, a aluna Graziella escreveu BOL         GOLA – COLA
 (BOLA), parou e questionou: “Tem dois O?”.
                                                      PINTO – CINTO
 Então, perguntei a ela: “O que você acha?”.
 Então ela foi até as letras e pegou a letra A        FADA – FACA
 e passando os dedos sobre as letras leu: BO          FOLHA – BOLHA
 – LA. Então questionei: “Essa é a figura de          RATO – GATO
 uma BOLA ou de um BOLO?”. Ela respondeu:
                                                      PÁ – PÉ
 “BOLO!”. “E como devo fazer para transformar
 essa palavra em BOLO?”. Ela respondeu: “A            BOLA – BOLO
 última letra é O?”. Então lembrei a Graziella        Após a escrita dos alunos, fizemos a leitura
 que muitas palavras podem ser escritas com           coletiva da lista de pares de palavras,
 letras e sílabas repetidas como em BABÁ,             chamando os alunos para circularem as




unidade 07                                                                                            25
partes semelhantes (nas palavras). Como
        já havia relatado anteriormente, atividades
        com o uso de jogos são muito ricas para os
        alunos que aprendem com autonomia e para
        o professor, pois permite avaliar os meninos
        e as meninas a partir da atuação espontânea
        na brincadeira, bem como avaliar diversos
        aspectos que são escondidos pelos alunos
        por medo do erro e que podem indicar
        dificuldades e avanços.




     A experiência relatada pela professora Cynthia     Para isso, precisam segmentar palavras em
     exemplifica bem o quanto a atividade com           pedaços e focar a atenção no interior das síla-
     jogos pode propiciar diferentes momentos           bas, ou seja, além de perceber que as palavras
     de reflexão sobre a escrita de palavras. Numa      são constituídas de unidades silábicas, são
     perspectiva de mediação da aprendizagem. Ela       levadas a refletir sobre as menores unidades
     ajudava as crianças que estavam com dificul-       sonoras (os fonemas) e suas relações com
     dades a buscar a letra que representava os sons    as unidades gráficas (as letras). Tal reflexão
     correspondentes para formar as palavras das        demanda um nível de conhecimento sobre o
     figuras. Os alunos, ao escolher as letras, foram   Sistema de Escrita Alfabética mais elaborado
     levados a formular com suas próprias palavras      em relação a outras atividades, quando os
     as conclusões que elaboraram sobre como            alunos precisam apenas segmentar e contar
     “certas letras mudam de valor sonoro quando        sílabas ou comparar palavras apenas quanto
     assumem determinadas posições”.                    às semelhanças sonoras.
     Comparar palavras é um tipo de atividade           Dada a importância desse tipo de ativida-
     muito importante no processo de apropriação        de, não é à toa que a professora Cynthia a
     da escrita. Quando as crianças analisam duas       tenha desenvolvido com as crianças com
     ou mais palavras, buscando semelhanças e/          dificuldades de aprendizagem e que tenha
     ou diferenças, elas consolidam correspon-          obtido, segundo seu relato, resultados
     dências entre unidades sonoras (fonemas)           significativos de aprendizagem.
     e unidades gráficas (letras). No caso do jogo
                                                        Dentre as diversas alternativas de situações
     “Troca letras”, além de comparar, as crianças
                                                        de jogos que poderão contribuir para as
     fazem um esforço para identificar o único
                                                        crianças avançarem no seu processo de aqui-
     som (fonema) diferente entre as palavras.
                                                        sição da leitura e escrita, ressaltamos ainda:




26                                                                            unidade 07
•	 As cruzadinhas (ou palavras cruzadas) em que as crianças têm como pistas o número de
     “casas” onde as letras serão escritas;
  •	 O jogo “stop ortográfico” ou “adedonha”, no qual se escolhe uma letra e, a partir do
     tempo determinado, todos os participantes vão procurar escrever, o mais rapidamente
     possível, palavras que são nomes de pessoa, lugar, animal ou fruta, iniciadas por aquela
     correspondência fonográfica;
  •	 O jogo da forca, em que as crianças, ao descobrir certas palavras a serem adivinhadas,
     demonstram estar exercendo um tipo de análise consciente, que lhes permite deduzir,
     por exemplo, que a palavra em certa posição, contém uma sílaba que não é composta
     apenas de consoante e vogal.




A fim de ilustrar o que temos concebido           te subsídio para o trabalho com a hetero-
como boas alternativas didáticas a serem          geneidade na sala de aula. Vejamos como
trabalhadas com as crianças com dificul-          a professora Cynthia desenvolveu, em
dade de aprendizagem, mencionaremos               sua sala de aula do 3º ano, uma atividade
uma situação em que se fez uso de um dos          com base no livro “Você Troca”, de Eva
livros do acervo das obras complementa-           Furnari:
res, coleção de obras que é um importan-




                                   Você troca?
                                   Texto e Imagem: Eva Furnari

                                   “Você troca um lobinho delicado por um chapeuzinho
                                   malvado?” “Você troca um gato contente por um pato com
                                   dente?” Essa e muitas outras perguntas estão colocadas
                                   na obra Você troca? Levando o pequeno leitor a pensar
                                   em situações ora engraçadas, ora absurdas, as indagações
                                   e trocadilhos apresentados a cada página mexem com a
                                   imaginação, produzindo efeitos de sentido que fazem refletir
                                   sobre o mundo e sobre a linguagem.




unidade 07                                                                                        27
Como os alunos do 3º ano gostavam das obras de Eva Furnari, optei por trabalhar
     com dois poemas: “Assim Assado” e “Você troca?”. Inicialmente a escolha dos livros
     era para alcançar os seguintes objetivos: aproximar os alunos de textos literários
     (poemas), identificar as características do gênero poema, refletir sobre os valores
     sonoros das palavras e suas relações com a pauta escrita, explorar alguns recursos
     linguísticos do gênero poema rimado, produzir textos semelhantes, promover
     momentos de socialização das produções textuais por meio de apresentações
     e material impresso. No primeiro momento, apresentei as obras e a biografia da
     autora. Questionei os alunos da seguinte forma: “Agora que vocês já conhecem a
     autora, para quem vocês acham que ela escreve? O que ela costuma escrever nos
     seus livros? Pelos títulos dos livros, dá para a gente saber o que o livro vai falar?”
     Em um segundo momento, fizemos uma votação para escolher o livro que seria tra-
     balhado durante a semana. As crianças optaram pelo livro “Você troca?”.  Então, fiz
     a leitura do livro, que por sinal, foi bastante divertida, pois, os alunos respondiam
     positivamente e negativamente às perguntas do poema. Após a leitura, fiz algumas
     perguntas aos alunos: “Vocês perceberam alguma coisa diferente ou interessante
     no texto?”. Alguns alunos responderam que o livro tinha muitas rimas. Em seguida,
     escolhi alguns alunos para fazer a leitura de algumas estrofes em voz alta e, neste
     momento, um aluno percebeu outro aspecto importante do texto. Ele percebeu
     que as estrofes eram feitas de perguntas. Então, aproveitei para explicar que
     sempre que queremos fazer alguma pergunta escrita temos que utilizar o sinal de
     interrogação, mas não fui a fundo na explicação. Um fato interessante é que alguns
     alunos começaram a fazer rimas antes mesmo de serem solicitadas. Ao retornar
     a leitura de alguns trechos do poema que havia reproduzido no quadro, sinalizei
     para as crianças que em todas as estrofes dos poemas podíamos encontrar rimas.
     Fui marcando alguns pares de palavras rimadas (molhada – descascada; mimado –
     bichado; delicado – malvado etc.) e refletindo com eles sobre a relação do som e a
     semelhança na escrita dos pares de palavras rimados. Distribui folhas de papel A4
     para as crianças e pedi que encontrassem no texto, cinco pares de palavras rima-
     das e registrassem na folha. Também era parte da tarefa, circular os pedacinhos
     semelhantes nos pares de palavras. Essa foi uma atividade desenvolvida por todos
     os grupos de alunos, tendo em vista a memorização de alguns trechos do poema e
     a semelhança da escrita entre as palavras que rimam. Com isto, pude refletir com
     eles que palavras diferentes podem ter escrita semelhante e palavras com sons
     parecidos podem ser escritas diferentes. Em outro momento distribui fichas para
     os alunos, contendo palavras do texto para serem analisadas quanto ao número de
     letras e sílabas, sílaba inicial, sílaba final, comparação entre palavras. Além disso, a
     ficha também continha questões nas quais as crianças deveriam separar as palavras




28                                                                        unidade 07
em sílabas. Para os mais avançados, pedi que escrevessem outras palavras que ri-
        massem com aquelas, tantas quantas lembrassem. No dia seguinte levei para sala o
        poema reproduzido em uma cartolina com algumas lacunas no lugar das rimas. Al-
        guns alunos deveriam preencher as lacunas com novas rimas. Optei por fazer essa
        atividade de forma coletiva, para que os alunos em processo de apropriação pu-
        dessem participar ativamente da construção, já que, para eles, pensar nas relações
        letra-som, já era uma competência consolidada e eles poderiam fazer sozinhos. As
        respostas eram reproduzidas no quadro antes de serem escritas nas tarjetas, já que
        algumas crianças precisaram refletir sobre a escrita correta das palavras e os ajudei,
        passando pelas bancas. Após a atividade de preenchimento de lacunas, conversei
        com as crianças sobre a forma como o poema foi organizado no livro e na cartolina.
        Expliquei às crianças que no livro cada página continha um verso do poema, o que
        era diferente da organização do poema no cartaz. Mostrei que no livro os versos
        eram ilustrados, explicando que a obra foi escrita para crianças que sabem e não
        sabem ler. Ao final da exposição, propus à turma a escrita de versos parecidos com
        os do livro, onde cada criança iria escrever um verso bem-humorado, que deveria
        ser rimado e ilustrado, para compor o livro que seria reproduzido e distribuído
        para outras turmas da escola. Com as crianças em processo de apropriação fiz uma
        intervenção mais direta, auxiliando na reflexão e escrita das frases elaboradas por
        eles. Após a confecção dos versos ilustrados do livro, elegemos um desenho para
        ilustrar a capa do livro. O título original do livro foi mantido por opção da maioria
        dos alunos e encaminhado para reprodução na secretaria da escola.




Cremos que há muitas lições a aprender            nunciando com mais intensidade as partes
com o registro da professora Cynthia.             das palavras que rimavam, contribuiu
Com o propósito de desenvolver uma boa            para as crianças se engajarem na reflexão
situação de aprendizagem, ela planejou,           fonológica das palavras, trabalhando não
antecipadamente, as atividades, definindo         só a rima, mas, também, os sons iniciais e
os objetivos que contemplassem os eixos           os tamanhos das palavras, aspectos funda-
do trabalho com a língua. Inicialmente            mentais para a compreensão dos princí-
criou as condições para que as crianças se        pios do SEA.
familiarizassem com a autora e o estilo do
                                                  Como professora experiente, ela criou
texto, garantindo, assim, uma leitura esté-
                                                  situações didáticas para que a reflexão
tica do poema. Em seguida, o cuidado que
                                                  sobre a palavra não ficasse só na dimensão
Cynthia teve em destacar as rimas, pro-




unidade 07                                                                                       29
do oral, mas contemplasse a dimensão          e faziam sentido, em função dos objetivos
     escrita. O registro das unidades gráficas     que se queria alcançar.
     (letras) é fundamental para que as crian-
                                                   Conseguir respeitar a heterogeneidade e
     ças se tornem conscientes sobre as uni-
                                                   atender aos diferentes é uma tarefa muito
     dades sonoras das palavras. A estratégia
                                                   complexa. Com uma história de ensino
     de trabalhar o texto lacunado no coletivo
                                                   padronizado, que não considerava o que os
     oportunizou que todas as crianças, em seus
                                                   alunos estavam compreendendo, de fato,
     diferentes níveis de escrita, aprendessem
                                                   sobre o que estava sendo trabalhado, para
     “coisas” diferentes naquela atividade. A
                                                   a escola, passar a respeitar a diversidade
     culminância do seu trabalho com a produ-
                                                   dos aprendizes, é um grande desafio. Um
     ção do texto escrito e a posterior divulga-
                                                   desafio que precisamos enfrentar, quando
     ção reflete como as ações executadas pela
                                                   assumimos que é nosso dever assegurar às
     professora estavam relacionadas entre si
                                                   crianças seus direitos de aprendizagem.




     Referências:


     LEAL,Telma Ferraz. Fazendo acontecer: o ensino da escrita alfabética na escola. In: MO-
     RAIS, Artur G.;ALBUQUERQUE, Eliana; LEAL,Telma.(orgs) Alfabetização apropria-
     ção do Sistema de Escrita Alfabética.Belo Horizonte:Autêntica, 2005.




30                                                                     unidade 07
Compartilhando


Direitos de aprendizagem:
componente curricular Arte


Na década de 1980, com a redemocratiza-        ensino, conteúdos de estudos, metodolo-
ção do país, eclodiram, no cenário nacio-      gia e sistema de avaliação).
nal, as associações de arte-educadores
                                               Foi nesse contexto de luta que, em 20 de
e cursos de pós-graduação (lato sensu
                                               dezembro de 1996, os arte-educadores
e stricto sensu), fazendo surgir novas
                                               brasileiros conquistaram a obrigatorie-
reflexões sobre o ensino de arte e novas
                                               dade do ensino de arte para toda a Edu-
concepções para o processo de ensino-
                                               cação Básica, através da promulgação da
-aprendizagem de arte no âmbito escolar.
                                               nova LDBEN, de n° 9.394, que, depois de
Em 1988, foi promulgada a Constituição         quase uma década, revogou as disposições
Brasileira, iniciando-se, logo em seguida,     anteriores e consagrou, oficialmente, a
discussões sobre a nova LDBEN. Em três         concepção de ensino de arte como conhe-
de suas versões, foi retirada a obrigatorie-   cimento, ao explicitar que o ensino de arte
dade do ensino de arte nas escolas. Orga-      deverá promover, entre outros aspectos, o
nizados, os arte-educadores protestaram,       desenvolvimento cultural dos alunos.
convictos da importância da arte para a
                                               Nessa direção, o objetivo do ensino da Arte
formação do aluno. Iniciou-se, aí, uma
                                               na Educação contemporânea reside
longa luta política e conceitual dos arte-
                                               na ideia de reforçar e valorizar a
-educadores brasileiros para tornar a arte
                                               herança cultural, artística e esté-
uma disciplina curricular obrigatória, com
                                               tica dos alunos, além de ampliar
todas as suas especificidades (objetivos de
                                               seus olhares e escutas sensíveis, e
formas expressivas através de experiências       do quadro de direitos de aprendizagens
     estéticas e poéticas com base nas inter-         da área de arte no âmbito deste Programa
     -realidades que eles conhecem ou possam          Nacional de Alfabetização.
     vir a conhecer.
                                                      É importante lembrarmos que são apre-
     As tendências atuais do ensino da arte no        sentadas neste quadro as aprendizagens
     Brasil, em consonância com as perspecti-         gerais da área de arte, como sugestão de
     vas internacionais, vêm indicando a partir       um caminho possível por meio do qual se
     de diferentes estudos e pesquisas, entre         elaborem os currículos e a práxis pedagó-
     outros princípios, a concepção de Arte           gica em arte. No entanto, o mesmo indica
     como conhecimento, que está baseado na           que é preciso garantir as aprendizagens
     interculturalidade, na interdisciplinarida-      específicas das linguagens da dança,
     de e na aprendizagem dos conhecimentos           do teatro, das artes visuais e da música,
     artísticos, a partir de uma abordagem            as quais possuem suas epistemologias
     epistemológica do ensino da arte, que            próprias, de modo a contemplar também
     defende a ideia que arte se ensina e se          a aprendizagem da Arte e da cultura da
     aprende. No caso brasileiro, tal concepção,      África, dos afrodescendentes e dos indíge-
     no que tange particularmente às artes            nas, conforme garantido pelas Leis de nº
     visuais, é inicialmente divulgada na Abor-       10.639/2003 e 11.645/2008.
     dagem Triangular do Ensino da Arte. Essa
                                                      No quadro abaixo estão expostas sugestões
     abordagem foi sistematiza pela professora
                                                      acerca de como tratar a progressão de cada
     Ana Mae Barbosa e suas colaboradoras na
                                                      direito durante o ciclo de alfabetização. A
     década de 1980, a partir das atividades
                                                      letra I será utilizada para indicar que aque-
     educativas desenvolvidas no Museu de
                                                      le direito deve ser introduzido na etapa es-
     Arte Contemporânea, da Universidade de
                                                      colar indicada; a letra A indicará que a ação
     São Paulo. A referida abordagem defende a
                                                      educativa deve garantir o aprofundamento;
     aprendizagem dos conhecimentos artísti-
                                                      e a letra C indica que a aprendizagem deve
     cos a partir da inter-relação entre o fazer, o
                                                      ser consolidada no ano indicado.
     ler e o contextualizar arte.
     Neste sentido, a interculturalidade e as
     interconexões entre as diferentes lingua-
     gens da arte – teatro, música, dança e artes
     visuais formam os pressupostos sócio-
     -filosóficos e didático-metodológicos que
     orientaram a concepção e sistematização




32                                                                         unidade 07
Direitos gerais de aprendizagem: Arte                                       Ano 1   Ano 2   Ano 3
 Compreender a arte como um conhecimento produzido socialmen-
 te, em diferentes contextos históricos e culturais da humanidade.           I/A     A       C

 Reconhecer a importância social da arte na sociedade e na vida dos
 indivíduos.                                                                 I/A     A       C

 Vivenciar experiências educativas nas linguagens da dança, teatro,
 artes visuais e música.
                                                                            I/A/C   A/C      C

 Vivenciar processos educativos de diálogo interdisciplinar da arte
 com diferentes áreas de conhecimento e de diálogo interterritorial
 das diferentes linguagens artísticas, inclusive com as novas tecno-        I/A/C   A/C      C
 logias.

 Conhecer a vida e obra de diferentes artistas das linguagens da
 dança, teatro, artes visuais e música, da comunidade local e da re-
 gião, como, também, com artistas de expressão nacional e interna-           I/A    A/C      C
 cional, das mais diferentes partes do mundo; de diferentes épocas,
 estilos, gêneros, e etnias.

 Conviver e acessar fontes vivas de produção da arte.                       I/A/C   A/C      C

 Identificar no cotidiano a produção e produtores artísticos de cir-
 culação social em diferentes ambientes.                                    I/A/C   A/C      C

 Ler, apreciar e analisar criticamente diferentes objetos artísticos e
 manifestações da arte na sociedade.
                                                                            I/A/C   A/C      C

 Conhecer e reconhecer os elementos que constituem as lingua-
 gens artísticas a partir da leitura e análise de objetos artísticos.       I/A/C   A/C      C

 Conhecer, participar e visitar diferentes dispositivos e equipamen-
 tos culturais de circulação da arte e do conhecimento artístico, tais
 como: teatros, museus, galerias, feiras, ruas, festivais, livrarias, bi-   I/A/C   A/C      C
 bliotecas, centros históricos e culturais.

 Fazer arte na perspectiva da criação artística como pesquisa e in-
 vestigação.                                                                I/A/C   A/C      C

 Conhecer, vivenciar e interagir com materiais, tecnologias, técni-
 cas, instrumentos e procedimentos variados em artes, experimen-
 tando-os de modo a utilizá-lo nos trabalhos pessoais e coletivos de        I/A/C   A/C      C
 criação artística.

 Pesquisar e organizar os diferentes conhecimentos artísticos, a
 partir de fontes variadas de informações.                                  I/A/C   A/C      C

 Respeitar, conviver, valorizar e dialogar com as diferentes produ-
 ções artísticas de circulação social.                                      I/A/C   A/C      C




unidade 07                                                                                          33
A colaboração de todos os atores da
     escola e a participação das famílias
     dos aprendizes no atendimento às
     crianças ainda não alfabetizadas.
     Artur Gomes de Morais
     Tânia Maria S. B. Rios Leite




     O atendimento às diversas necessidades       vos para o tratamento da heterogeneidade
     dos aprendizes, quando se trata do proces-   dos alunos, com especial atenção para os
     so de alfabetização, não pode ser uma res-   concluintes do primeiro ciclo.
     ponsabilidade individual de cada professo-
                                                  Graças ao diálogo, às negociações e acertos
     ra. Em nossa experiência, acompanhando
                                                  continuamente praticados, tende a ocorrer a
     redes públicas de ensino, temos observado
                                                  definição de metas mais claras para cada um
     o quanto se ganha quando gestores, co-
                                                  dos três anos do ciclo, de modo que todos os
     ordenadores pedagógicos e outros apoios
                                                  educadores se comprometem a atingir metas
     partilham a responsabilidade de assegurar
                                                  idênticas, a fim de assegurar aos alunos seus
     os direitos de aprendizagem dos alfabeti-
                                                  direitos de se apropriar da língua escrita e de
     zandos. No caso de alunos do 3º ano, esta
                                                  sua notação. Em função do mesmo espírito
     partilha de responsabilidades e tarefas
                                                  coletivo, criam-se espaços e tempos de aten-
     é ainda mais essencial, para a escola não
                                                  dimento específicos para quem mais precisa
     fracassar em sua missão de alfabetizar.
                                                  ser ajudado a aprender. E encontram-se mais
     Um primeiro ponto que ressaltamos é que,     possibilidades de praticar um atendimento
     nas escolas onde gestores e coordenadores    a pequenos grupos de alunos com dificul-
     pedagógicos se envolvem, efetivamente,       dades, enquanto, por exemplo, outro(a)
     com o atendimento aos alunos com difi-       educador(a) se ocupa dos alunos com conhe-
     culdades de aprendizagem, as chances         cimentos mais avançados.
     de sucesso tendem a ser bem maiores,
     por razões previsíveis. Naqueles centros
     educativos encontramos, geralmente, a        Quando a rede de ensino se mobili-
     construção de projetos pedagógicos coleti-   za para atender à diversidade




34                                                                      unidade 07
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Unidade 07 ano 03 verde

  • 1. Ministério da Educação Secretaria de Educação Básica Diretoria de Apoio à Gestão Educacional Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa A HETEROGENEIDADE EM SALA DE AULA E A DIVERSIFICAÇÃO DAS ATIVIDADES Ano 03 Unidade 07 Brasília 2012
  • 2. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO Secretaria da Educação Básica – SEB Diretoria de Apoio à Gestão Educacional Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Centro de Informação e Biblioteca em Educação (CIBEC) Tiragem 134.158 exemplares MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DA EDUCAÇÃO BÁSICA Esplanada dos Ministérios, Bloco L, Sala 500 CEP: 70047-900 Tel: (61)20228318 - 20228320
  • 3. Sumário A HETEROGENEIDADE EM SALA DE AULA E A DIVERSIFICAÇÃO DAS ATIVIDADES Iniciando a conversa 05 Aprofundando o tema 06 Direitos de aprendizagem, heterogeneidade dos aprendizes e atendimento à diversidade, no final do ciclo de alfabetização: diagnosticando e organizando as crianças na sala de aula 06 Atendendo à diversidade: o trabalho com todas as crianças no dia a dia, usando diferentes recursos didáticos 19 Compartilhando 31 Direitos de aprendizagem: componente curricular Arte 31 A colaboração de todos os atores da escola e a participação das famílias dos aprendizes no atendimento às crianças ainda não alfabetizadas. 34 Exemplos de quadros de monitoramento de atividades realizadas 41 Aprendendo mais 44 Sugestões de leitura 44 Sugestões de atividades para os encontros em grupo 47
  • 4. A HETEROGENEIDADE EM SALA DE AULA E A DIVERSIFICAÇÃO DAS ATIVIDADES UNIDADE 7 | Ano 3 Autores dos textos da seção Aprofundando o tema: Artur Gomes de Morais, Tânia Maria S.B. Rios Leite Autoras dos relatos de experiência e depoimentos: Cynthia Cybelle Rodrigues Porto Leitores críticos e apoio pedagógico: Adelma Barros-Mendes, Alexsandro da Silva, Alfredina Nery, Amanda Kelly Ferreira da Silva, Ana Gabriela de Souza Seal, Ana Márcia Luna Monteiro, Cynthia Cybelle Rodrigues Porto, Edijane Ferreira de Andrade, Erika Souza Vieira, Evani da Silva Vieira, Júlia Teixeira de Souza, Magna do Carmo Silva Cruz, Priscila Angelina Silva da Costa Santos, Rochelane Vieira de Santana, Severino Rafael da Silva, Telma Ferraz Leal, Tícia Cassiany Ferro Cavalcante, Yarla Suellen Nascimento Alvares Revisor: Adriana de Oliveira Gibbon Projeto gráfico e diagramação: Airton Santos, Ana Carla Silva, Susane Batista e Yvana Alencastro Ilustrações: Airton Santos Capa: Anderson Lopes, Leon Rodrigues, Túlio Couceiro e Ráian Andrade
  • 5. Iniciando a conversa O cuidado em garantir o atendimento à diversidade dos alunos, desde o primeiro ano, é fundamental para evitarmos que, no terceiro ano, encontremos um grande contingen- te de crianças com dificuldades em dominar o Sistema de Escrita Alfabética (SEA) e, portanto, sem poderem usar suas convenções de forma autônoma e exercer a produção de textos, a leitura e compreensão de textos escritos variados, competências que hoje vemos como necessárias para considerar alguém alfabetizado. Assim, nessa sétima unidade, discutiremos o tratamento da heterogeneidade em nossas turmas de final do primeiro ci- clo, assim como, a necessidade de praticarmos um ensino ajustado, que atenda as neces- sidades dos alunos, para ajudá-los a avançar na área de língua. Analisaremos, também, as contribuições do diagnóstico como recurso para a identificação dos saberes que os alunos com dificuldades em se alfabetizar já construíram e do que ainda precisam ser ajudados a consolidar. Refletiremos sobre diferentes alternativas didáticas para a consolidação da escrita alfabética e para a compreensão e produção de textos, com uso de distintos recur- sos didático-pedagógicos e discutiremos como os demais atores da escola podem criar projetos de atendimento aos alunos com mais dificuldades e envolver mais as famílias dessas crianças no acompanhamento de suas aprendizagens. Nesta unidade, temos, portanto, como objetivos contribuir para: • entender a concepção de alfabetização na perspectiva do letramento, considerando o fenômeno da heterogeneidade como intrínseco aos processos educativos; • criar um ambiente alfabetizador, que favoreça a aprendizagem, considerando a heterogeneidade de conhecimentos dos aprendizes no processo de alfabetização; • compreender a importância de organizar diferentes agrupamentos em sala de aula, considerando a heterogeneidade de aprendizagens, e adequando os modos de organização da turma aos objetivos pretendidos; • planejar o ensino na alfabetização, analisando e criando propostas de organização de rotinas da alfabetização na perspectiva do letramento, adequando-as às diferentes necessidades de aprendizagem dos alunos; • analisar e planejar projetos didáticos e sequências didáticas para turmas de alfabetização, contemplando crianças que tenham diferentes conhecimentos sobre a escrita. • compreender a importância da avaliação no ciclo de alfabetização, refletindo sobre a função do diagnóstico no acompanhamento das aprendizagens realizadas pelos alunos e na (re)organização do ensino a eles proposto; • conhecer os recursos didáticos distribuídos pelo Ministério da Educação e planejar situações didáticas em que tais materiais sejam usados.
  • 6. Aprofundando o tema Direitos de aprendizagem, heterogeneidade dos aprendizes e atendimento à diversidade, no final do ciclo de alfabetização: diagnosticando e organizando as crianças na sala de aula Artur Gomes de Morais Tânia Maria S.B. Rios Leite O importante, na democratização do ensino, não é “fazer como se” cada um houvesse apren- dido, mas permitir a cada um aprender. Quando não se consegue isso, a solução não é esconder a cabeça na areia, mas reconhecer um fracasso, que é, primeiramente, o da escola, para melhor “retomar o trabalho”. Aí está a verdadeira cliva- gem: frente a desigualdades de aquisições e de níveis escolares devidamente constatados, uns baixam os braços e invocam a fatalidade e os li- mites da natureza humana, outros buscam novas estratégias (PERRENOUD, 1995).
  • 7. É inevitável encontrarmos heterogeneidade Aos definitivamente excluídos – isto nos níveis de conhecimento dos estudantes, é, reprovados –, resta a sina de, no ano não só no primeiro ciclo, como em todas as seguinte, serem submetidos ao mesmo etapas da escolarização. Exatamente porque ensino padronizado de tipo idêntico, que de as pessoas humanas são únicas, mesmo que nenhum modo se ajusta a suas necessida- criássemos, artificialmente, uma turma de des. Às vezes, para aumentar a tragédia, têm alfabetizandos começando o ano letivo com que, no ano seguinte, rever o mesmo livro, níveis de conhecimento muito semelhantes as mesmas lições, as mesmas explicações... (no que diz respeito à língua escrita e à sua que nunca levam em conta quais conhe- notação), pouco tempo depois iríamos nos cimentos aqueles alunos já conseguiram defrontar com a visível diferenciação nos construir e quais, especificamente, preci- conhecimentos agregados por aqueles alu- sam ser ajudados a elaborar ou consolidar. nos, na mesma área de linguagem. O grande O atendimento adequado à heterogenei- problema é que, historicamente, em todos dade, em nossas salas de aula, pressupõe os continentes, a universalização do acesso a necessidade de ressignificação dos à escola foi instituída com base na padroni- espaços escolares e o redimensionamento zação das formas de ensinar e no desrespei- do tempo pedagógico dedicado aos estu- to às diferenças individuais dos alunos e de dantes. Assim, precisamos ter consciência seus percursos e experiências de vida. que aquele modelo de ensino, geralmente Sim, pense no protótipo de ensino tradi- organizado em “séries”, cada uma durando cional, muitas vezes praticado, ainda hoje, um ano letivo, tem uma lógica excludente, por muitos colégios privados e públicos. exatamente porque trata como iguais os Imediatamente nos vem à mente a cena diferentes, dando-lhes “a mesma dieta” e em que um grande grupo de alunos, que ignorando suas necessidades específicas. constituem uma turma, e estão enfileira- dos nas bancas de uma mesma sala, recebe a mesmíssima explicação da professora, para resolver, em seguida, os mesmos exercícios. Noutra ocasião, todos respon- dem às mesmas questões numa prova que decide pela aprovação ou reprovação de cada indivíduo, sem levar em conta o que cada um agregou, de fato, de novos conhe- cimentos, ao longo do período. unidade 07 07
  • 8. A proposta de ensino organizado em ciclos, estava certamente ligada à ausência de um em seus princípios, visa a superar esse planejamento, por parte daquelas mestras, perverso processo de exclusão. O grande do que iria ser feito a cada dia. Nas três mote é o respeito à diversidade de percur- turmas, a maioria das tarefas era proposta sos de vida e estilos de aprendizagem como para ser respondida de forma individual ou compromisso que a escola precisa assumir coletiva. Eram muito raros os momentos em para evitar os mecanismos de exclusão que que as crianças podiam trabalhar em duplas sempre praticou, ao longo dos séculos. ou em pequenos grupos. Para deixar de ser mero discurso, preci- samos pensar: que atividades e formas Ficou evidente, também, que as três de organização dos alfabetizandos professoras pouco estimulavam os alunos devemos praticar, para garantir que, mais avançados a ajudar seus colegas que ao final do primeiro ciclo, os que mais ainda não tinham compreendido como a precisam sejam atendidos em suas escrita funciona. Assim, era frequente os urgentes necessidades, ao mesmo tempo alunos com dificuldades simplesmente em que seus colegas podem progredir desistirem de ler ou escrever qualquer ainda mais? coisa – nas situações de tarefas individuais padronizadas – e ficarem apenas esperan- Infelizmente, na prática, nem sempre o do, ociosos, para copiar a resolução das ensino praticado nas redes organizadas tarefas, colocada no quadro. em ciclos tem dado conta dessas questões. Acrescida a essas dificuldades exercidas Acompanhando, durante um semestre letivo, pelas práticas homogeneizadoras, pensa- três turmas de terceiro ano de uma rede mos também na presença dos alunos com pública de ensino, Oliveira (2010) constatou deficiência nas salas regulares, que acabam um predomínio de atividades padronizadas, realizando atividades de caráter executivo, realizadas simultaneamente com todos os como rabiscar, não sendo garantidos os seus alunos. Embora em duas daquelas turmas direitos de aprendizagem. Devemos lem- houvesse muitos meninos e meninas que não brar que, em decorrência das peculiarida- No “Caderno de Educação Especial tinham ainda compreendido o SEA – direito des impostas pela deficiência, alguns alunos - a alfabetiza- ção de crianças de aprendizagem previsto para o primeiro não poderão aprender o SEA da mesma com deficiência: ano do ciclo –, só numa delas a mestra inves- forma e pelas mesmas vias dos alunos sem uma proposta inclusiva” são tia em atividades que ajudassem os alunos a deficiência. É outro tipo de especificidade abordadas as especificidades avançar nesse sentido. Foi constatado que a que o professor alfabetizador precisa consi- sobre a alfabeti- zação de crianças dificuldade de desenvolver atividades que se derar que transcende a questão da hetero- com deficiência. ajustassem aos alunos em diferentes níveis geneidade própria de todos os alunos. 08 unidade 07
  • 9. Ante tanta dificuldade de ajustar o ensino No caso da alfabetização, a retomada e a aos diferentes níveis dos alunos, Olivei- difusão dos regimes de ciclos, a partir dos ra (2010) e Cunha (2007) nos alertam anos 1980, ocorreram, em nosso país, ao ainda para outro risco: o de se atribuir, mesmo tempo em que era disseminada, justamente aos alunos que mais precisam entre nós, a teoria da psicogênese da de ajuda, atividades que são pouco desa- escrita, formulada por Emilia Ferreiro e fiadoras ou promotoras de aprendizagem. Ana Teberosky (1986). Passamos a com- De fato e infelizmente, todos nós já pre- preender, então, que a aprendizagem do senciamos ou ouvimos falar de situações SEA era um processo evolutivo, no qual a em que os alunos ainda não alfabetizados criança, progressivamente, formulava em eram “ocupados” com tarefas de cópia (de sua mente respostas que a aproximavam da letras ou palavras), atividades repetitivas compreensão que os adultos ou colegas já que mais serviam para excluí-los, naquele alfabetizados tinham sobre a escrita. Isto momento, do processo de ensino-apren- é, se ela, de início, tinha uma hipótese pré- dizagem que seus colegas estavam viven- -silábica, esta evoluía para silábica, para ciando... e evitar que eles, os alunos com silábico-alfabética e, finalmente, tornava- mais dificuldade, pudessem expressar sua -se alfabética, quando, aí sim, podia vir a insatisfação, através de atos de indiscipli- dominar as correspondências letra-som na. Como assinala Perrenoud (1995), tais de nossa língua. Aquelas explicações de No caderno da “tarefas pouco desafiadoras” resultam, tipo construtivista se afinavam, portanto, Unidade 3, ano 1, são discuti- essencialmente, de uma lógica de controle com a lógica de um ensino que respeita dos aspectos disciplinar. os alfabetizandos, porque demonstra que relativos ao ensino do SEA, precisamos ver em que o aluno já avançou, de modo mais aprofundado. diagnosticar o que já aprendeu, para deci- dir o que precisa aprender. Como no processo de apropriação da língua escrita e de sua notação aquela perspectiva teórica demonstra que o aluno não é um ser passivo, que acumularia informações que a professora transmite prontas, aprendemos que nem os métodos uniformizados, usados no primeiro ano, nem os “pacotes padronizados” (como aqueles que visam à “correção de fluxo” das crianças que não se alfabetizaram após unidade 07 09
  • 10. 3 anos) nos ajudariam a ajustar o ensino às necessidades de nossos alunos. Se conside- rarmos o Direito de Aprendizagem das crianças brasileiras alfabetizarem-se até oito anos de idade, vemos que ao final do terceiro ano do primeiro ciclo, todas as crianças deveriam ter recebido um ensino que permitisse: • Usar de forma autônoma o SEA, dominando suas convenções grafema-fonema na leitura e, ao escrever, notando corretamente convenções regulares diretas e começando a dominar algumas outras questões ortográficas de tipo regular; • Ler textos de gêneros escritos variados, conseguindo exercer certas habilidades de compreensão leitora como as capacidades de extrair informações explícitas de um texto, reconhecer sua finalidade e o assunto de que trata e realizar inferências; • Produzir textos de gêneros praticados na escola, ajustando-os ao contexto e à situação comunicativa onde são gerados. Sabemos que alguns alunos chegam ao 3º cada aluno já sabe e soubermos escolher ano ainda apresentando hipóteses iniciais as melhores opções didáticas para cada de escrita. Outros, apesar de já terem um deles, teremos percorrido um longo compreendido como o SEA funciona, ainda caminho na nossa profissionalização. Se, estão com pouco domínio das correspon- além disso, soubermos atuar com todos dências som-grafia, de modo que têm ao mesmo tempo, atendendo às diferen- muita dificuldade ao ler ou escrever. Em tes demandas e auxiliando-os, teremos ambos os casos, precisamos agir na ur- construído um belo perfil conquanto gência, assegurando todas as situações professor(a) alfabetizador(a)”. possíveis que permitam àquelas crianças Propomos, portanto, que o professor, logo concluir o primeiro ciclo dominando, de no início do ano, busque avaliar os conhe- fato, o sistema de escrita. cimentos que os alunos já possuem, para Dentre as habilidades que precisam ser diagnosticar suas aprendizagens e organi- desenvolvidas pelos(as) professores(as), zar boas situações didáticas. A professora uma das mais relevantes e difíceis, é a de Cynthia Cybelle Rodrigues Porto nos identificar as necessidades de cada aluno relatou como ela fez o diagnóstico inicial e atuar com todos ao mesmo tempo. Para de sua turma e como acompanhava os Leal (2005, p.91), “se entendermos o que progressos de seus alunos: 10 unidade 07
  • 11. Para avaliar as crianças de minha turma de 3º ano, quanto ao nível de escrita, fiz uma atividade de escrita de palavras, cujo campo conceitual era “animais”. Escolhi 10 palavras com diferentes quantidades de sílabas e algumas variações quanto às estruturas silábicas: LEÃO – GIRAFA – CACHORRO – FOCA – BALEIA – GOLFI- NHO – GATO – ELEFANTE – FORMIGA – HIPOPÓTAMO. A partir do ditado e de outras observações construí um mapa, identificando os grupos de crianças em diferentes níveis. Os 16 alunos ficaram assim distribuídos: • Pré-silábico (1): Stanley (aluno “com necessidades especiais”). • Silábico – quantitativo: (nenhum). • Silábico – qualitativo (3): Joyce, Maria Graziela, Jadyson. • Silábico- alfabético (2): Pedro e Salete. • Alfabético com muitas trocas de letras (4): Lívia, Raylan, Richard, Danilo. • Alfabético com dificuldade em sílabas complexas (4): Ana Carolina, Gerson, José Ryan, Paulo. • Alfabético consolidado, porque lê e compreende textos, produz pequenos textos, apresentando dificuldades com ortografia (2): Guilherme e Sammerson. Para acompanhar a progressão das crianças, procuro avaliá-las, sobretudo nos momentos em que trabalho atividades de apropriação do SEA. Na rotina semanal, a escrita de palavras é uma atividade frequente: trabalho duas vezes por semana, às vezes, até três. Durante a correção da atividade, solicito que as crianças escrevam a forma convencional, ao lado das palavras em que cometeram erro (ou que não escreveram sequer conforme uma hipótese alfabética). Assim elas podem refletir sobre a escrita de cada palavra. Procuro, também, chamar algumas crianças para escreverem as palavras no quadro, motivando-as a participar da correção. A ativi- dade de escrita de palavras é bastante aceita pela maioria das crianças. Entretanto, algumas delas, justamente com dificuldades, apresentaram resistência no início, até compreenderem a dinâmica da situação. Como eu tenho uma turma bastante heterogênea quanto ao nível de escrita, frequentemente, proponho também a leitura de textos curtos como poemas, cantigas e trava-línguas, os quais eu repro- duzo no quadro ou entrego em fichas fotocopiadas. A partir da leitura coletiva dos textos, exploro a localização de palavras e frases, de pares de palavras que rimam e de palavras com sílabas iniciais semelhantes e faço com eles a comparação de palavras quanto à quantidade de letras e sílabas. A leitura de textos proporcio- na a aproximação das crianças aos textos literários e com isto consigo explorar várias competências relativas não só à apropriação do sistema de escrita, mas, também, habilidades de leitura. As atividades de apropriação têm proporcionado avanços significativos no grupo de alunos com dificuldades na escrita. Durante as atividades de escrita de palavras, leitura de textos, jogos de alfabetização, fichas unidade 07 11
  • 12. de atividades de alfabetização, esses alunos têm revelado mais autonomia e compromisso com o aprendizado. Eles passaram a reconhecer a necessidade de se apropriar da escrita e de chegar ao nível dos demais colegas de turma. É co- mum relatos do tipo: “Acertei mais do que ontem!” Ou, “Errei por besteira!”. Em algumas situações é possível perceber a satisfação dos colegas de turma ante o avanço e o aprendizado daqueles que tinham dificuldade. Para mim, a melhor resposta que eles poderiam dar é o compromisso e esforço em avançar. Como uma alternativa de atendimento à puderam fazer a leitura silenciosa, a mes- heterogeneidade, verificamos que a profes- tra leu o texto em voz alta, o que permitiu sora costumava trabalhar coletivamente, que todos se beneficiassem com atividades diversificando a forma de atendimento que explorem a compreensão do texto dos alunos, procurando atender um grupo lido. Conversando com a turma, em tais específico de crianças que estão com mais situações são exercitadas estratégias de dificuldade, enquanto aqueles que estão compreensão variadas (reconhecimento em hipóteses de escrita mais avançadas são do assunto do texto, identificação de sua beneficiados com a realização da tarefa no finalidade, extração de informações apre- coletivo. Isso ilustra bem que a professora sentadas explicitamente na superfície do reservaria momentos em que estaria mais texto, realização de pequenas inferências voltada para as crianças com mais dificul- etc.). De modo semelhante, ao se engajar dades, mantendo uma mediação direta com nas atividades de produção coletiva de o aquele grupo. Desse modo, a socialização textos, as crianças que ainda não domina- ram o SEA podem aprender muito sobre a das dificuldades e a intervenção da profes- linguagem que se usa ao escrever e sobre sora, a partir de um atendimento específico, os cuidados que devemos ter ao escolher o seria mais influente que a realização de uma quê e como escrevemos, sempre tendo em atividade solitária. mente a finalidade da situação de pro- Na Unidade 5, são realizadas O fato também da professora estabelecer dução do texto e os efeitos que queremos reflexões sobre o uma rotina de atividades com os outros provocar em quem vai lê-lo. uso de textos na alfabetização. eixos da língua oportunizava às crianças Entretanto, nunca devemos esquecer que se beneficiarem das situações em que a é preciso assegurar situações em que o que resolução de tarefas no coletivo é fonte de é ensinado leva em conta as necessidades aprendizagem. Por exemplo, após a leitura de uma história, em que os mais avançados específicas dos diferentes alunos. Numa 12 unidade 07
  • 13. perspectiva construtivista, para ser mais ter que reconstruir seus saberes prévios. eficiente, o ensino deve, como já dito, levar Por outro lado, não pode ser tão complexa em conta o que os alunos já sabem e o que que se torne um desafio impossível. precisam ser ajudados a aprender. Esse Inspirados em Vygotsky (1984) e nos princípio de “ensino ajustado” (ONRUBIA, teóricos da cognição social, sabemos que 1996) pressupõe, então, que os professores as crianças se beneficiam quando desen- diagnostiquem os conhecimentos prévios volvem, conjuntamente, uma atividade dos alunos e formulem atividades que com alguém que sabe mais que elas e que constituam desafios adequados. Isto é, no o fato de poder compartilhar com seus caso da alfabetização, para poder avançar no pares pontos de vista e soluções diferentes domínio da língua escrita ou de suas con- (das que adotariam sozinhas) é um grande venções, uma atividade não deve ser “fácil”, motor de desenvolvimento. ao ponto de o aluno poder resolvê-la, sem O que Vygotsky e os teóricos da cognição social nos ensinam sobre as vantagens de estimular as crianças a trabalharem em duplas ou grupos maiores? Com o seu já bem divulgado conceito de zona de desenvolvimento proximal, Vygotsky nos ensinou que a resolução conjunta de situações-problema, em que um aprendiz atua junto a um colega ou adulto mais competente que ele, catalisa o desenvolvimento daqueles conhecimentos que estavam ainda em estado embrio- nário ou que o sujeito menos experiente ainda não conseguia mobilizar sozinho. Nas diversas interações em sala de aula, vemos o quanto os alunos se beneficiam com “dicas” que seus pares dão, usando uma linguagem e esquemas às vezes bem mais ajustados que os que um adulto não-professor utilizaria para explicar/ajudar a resolver o problema (TEBEROSKY, 1987). Quando uma criança diz a outra que quer escrever a palavra manteiga, que esta “começa com o MA de Maria”, pode estar oferecendo uma ajuda bem eficaz, porque seu par com mais dificuldades pode ter memorizado o nome da coleguinha ou buscar a forma daquele nome no cartaz afixa- do na parede da sala. Os teóricos da cognição social (Anne-Nelly Perret-Clermont e outros) demonstraram, por sua vez, que, ao resolver questões em grupo, as crianças se beneficiam pelo confronto de diferentes pontos de vista e pela necessidade de explicitarem, verbalmente, o que estão pensando, a fim de negociarem uma solução conjunta. Claro que o confronto de perspectivas não deveria ser tão grande, razão pela qual a professora deve buscar pôr para trabalhar juntas crianças com níveis de conhecimento não tão disparatados, quando for objetivo da atividade desafiar as crianças a descobrir a lógica de funcionamento do sistema de escrita. unidade 07 13
  • 14. A favor de um ensino que priorize o aten- alunos em sala de aula, mas também mo- dimento à heterogeneidade, Perrenoud mentos em que diferentes atividades estejam (1995) aposta nas atividades promotoras sendo conduzidas pelos professores de forma de interações que desafiem os educandos paralela. Podemos pensar em modos diferen- a construir novos conhecimentos. Essa tes de organização das atividades: (1) situa- alternativa, segundo o autor, é alcançada ções didáticas em grande grupo; (2) situações por meio de uma prática que considere os didáticas em pequenos grupos e em duplas; percursos individuais de cada aprendiz, (3) situações didáticas em que as atividades sem confundir esse caminho com a elabo- são realizadas individualmente. ração de programas especiais, vinculados às As situações didáticas em grande grupo necessidades educativas de cada aluno, por são variadas e podem ter múltiplas finali- um lado, ou a adesão de um ensino em que dades. Além das que já mencionamos há todos, sempre e ao mesmo tempo, estejam pouco, todos podem aprender, também, expostos às mesmas atividades e conteúdos. por exemplo, participando da revisão Para tal, propomos que não só existam dife- coletiva de um texto. Segundo Leal (2005, rentes estratégias didáticas para cada um dos p. 92), o docente pode ter como: objetivo didático que os alunos desenvolvam atitudes de revisão; que desenvol- vam estratégias apropriadas, como a de voltar continuamente ao já escrito para dar continuidade ao texto, planejando o trecho a seguir; que aprendam sobre características de um determinado gênero textual; que aprendam a pontuar um texto; que aprendam a usar articuladores textuais, deixando os textos mais coe- sos; dentre outros. Outras vezes, embora o(a) professor(a) esteja realizando uma atividade única com o grande grupo, ele(a) tem clareza de que os alunos estão aprendendo “coisas” diferentes naquela atividade. Por exemplo, quando temos um grupo heterogêneo quanto aos conhecimentos sobre a escrita alfabética, as atividades levam os alunos a apreenderem diferentes princípios do sistema, dependendo do que eles já sabem e dos conflitos que estão vivenciando. Uma atividade de reflexão fonológica pode, para alguns alunos, ajudá-los a en- tender que a escrita tem propriedades do significante (palavra) e não do objeto representado; para outros, pode servir para ajudá-los a superar dificuldades orto- gráficas de trocas entre pares mínimos (p/b, t/d, f/v); para outros, pode servir para que percebam que existe uma unidade sonora menor que a sílaba (fonema) e que possam identificá-la; para outros, pode servir para ajudá-los a se apropriarem de correspondências grafofônicas. 14 unidade 07
  • 15. Como podemos ver, são muitas as possibi- Nesse modo de organização, po- lidades de atividades em grande grupo que demos realizar atividades unifi- permitem o professor atingir diferentes cadas, ou seja, cada grupo tra- objetivos. balhando independentemente, Outras atividades sugeridas por Leal mas realizando a mesma tarefa; (2005, p.93), são as situações didáticas ou atividades diversificadas, em em pequenos grupos, Para a autora: que cada grupo tem uma tarefa a ser cumprida. As atividades em pequenos grupos são especialmente im- portantes, por propiciarem, de Exemplos de atividade em pequenos gru- modo mais íntimo, trocas de pos e em duplas nos foram contados pela experiências entre os alunos, professora Cynthia, já citada anteriormen- levando-os a compartilhar sa- te, quando lhe perguntamos como ela fazia beres, a levantar questões e res- o trabalho em pequenos grupos para que postas que os adultos escolari- aqueles alunos que sabem mais possam zados nem sempre se propõem. ajudar aos que sabem menos: Na minha turma eu tenho o Samerson e o Guilherme e eles já têm uma lei- tura fluente. Muitas vezes, o Samerson e o Guilherme não têm muita paci- ência de fazer a atividade juntos, de um dar oportunidade ao outro. Então, muitas vezes, eu peço para que eles fiquem com alunos que estão trocando letras e com aqueles que têm um pouco mais de dificuldade, mas já estão conseguindo fazer umas relações muito boas quanto à leitura e escrita. Por exemplo, o Ryan, ele está no nível alfabético de escrita, mas tem dificul- dade em sílabas complexas. Eu chamo de sílabas complexas, por exemplo, aquelas que têm consoante, consoante, vogal. Eu coloco ele com Salete que é silábico-alfabética. E ele faz assim: “Salete, pensa! Tu conhece... tu num sabe escrever sapo, Salete? Sapo! Tu num sabe, Salete?” Aí Salete diz: “Sei”. Então! O “sa” de sapo é o mesmo “sa” de Salete. Como é que é o “sa” de sapo, Salete”? Sabe? Ele é um pouco... ele é bacana assim... também tem a questão da criança se dispor a ajudar o outro, isso é muito importante! unidade 07 15
  • 16. Como podemos observar, em grupos as é a menor unidade de uma palavra e que crianças podem trocar informações e ela é constituída de “sonzinhos” menores comparar diferentes hipóteses. Se há (que os estudiosos chamam de fonemas). crianças em níveis de escrita mais avança- Para que elas percebam isso, é necessário dos e outras que estão com dificuldades em que a professora esteja circulando pela sala algumas sílabas, podemos assistir a boas e fazendo perguntas que evidenciem tal discussões, quando forem decidir que síla- princípio do sistema. ba colocar nas palavras. Na situação acima, Mas, se as interações favorecem a constru- as crianças buscavam repetir o modelo da ção individual de saberes sobre a escrita e mestra, no momento de ajudar o colega na sobre sua notação, não basta colocar para escrita de uma palavra. trabalhar juntos alunos com níveis dife- Propostas assim são boas para crianças rentes. Esta é uma ideia simplista e dis- que estão utilizando uma letra para cada torcida que se divulgou nos últimos anos sílaba (alunos em hipóteses silábicas e e que esquece o papel da professora como silábico-alfabéticas), pois alimentam o mediadora também das interações entre conflito de que não é possível escrever os aprendizes. A esse respeito, a professo- “como quem já sabe escrever”, apoiando- ra Cynthia nos conta cuidados que adotava -se nessa hipótese. Também pode ajudar com sua turma de terceiro ano: as crianças a refletirem que a sílaba não Primeiro eu tenho que administrar as relações interpessoais dentro da sala, né? Porque tem aquele menino que não pode ficar junto do outro. É o caso, por exemplo, de Raylan e Paulo. São muito amigos, mas quando ficam juntos, é pra brincar, não é pra estudar, né? Eles tão num nível bom, mas... é justamente por isso. Eu também penso em juntar, por exemplo, o Raylan com Salete. Salete está silábico-alfabética. E o Raylan, não. Sozinho, ele não consegue ler. Aí junto os dois pra fazer uma atividade... por exemplo, de escrever palavras com... deter- minada relação letra-som. Eu faço isso com várias duplas. Eu junto Jamerson com Jadson. Jadson tá apresentando um avançozinho de parar e refletir... sobre as palavras e dizer: “Ah, não!” e revê o que escreveu. Antes se eu ditasse a palavra cavalo, ele (es)tava naquela hipótese: /ka/ era o K mesmo do alfabeto. Trabalhando com Jamerson ele avançou. Em algumas situações não vale mesmo a pena colocar juntos alunos do mesmo nível... Samerson e Guilherme, como eu disse, eles têm uma leitura fluente. Muitas vezes eles não têm a paciência de 16 unidade 07
  • 17. fazer junto, de dar oportunidade ao outro e... esperar, mesmo, uma resposta do outro. “Né assim não! Eu fiz assim!”. Por isso muitas vezes eu procuro que eles fi- quem com alunos que estão trocando letras. [...] Quando eu dou um jogo diferen- te (para cada grupo), eu dou as instruções, mas eles têm dúvida. Por isso eu vou passando nos grupos, por exemplo, eles vão: “Ó, tia, a gente tá jogando certo? É assim mesmo?” No geral, os alunos não eram cooperativos. Eu tenho forçado essa cooperação. Eu forço mesmo. “Olhe, num é pra você fazer pelo colega”, eu insisto, né? “Como é que eu faço aqui na correção? Vamos tentar fazer da mesma forma?” “Pense com ele direitinho sobre a escrita daquela silabazinha que ele não tá conseguindo escrever”. “Mostre pra ele uma palavra parecida, ou então diga pra ele uma palavra que ele conhece” [...] Nada como aprender refletindo sobre a Para conseguir que as crianças trabalhem prática de quem, no cotidiano, está ana- de forma mais autônoma, sem estar a toda lisando as soluções que adota e os seus hora “pegando na barra da saia” da pro- porquês. A partir do relato agora apresen- fessora para pedirem seu aval (“É assim, tado, recordamos que os agrupamentos professora?”, “Tá certo assim, professora?”) não podem se basear apenas em critérios precisamos abandonar as tarefas padroniza- cognitivos (como os níveis de hipótese das, que alimentam a heteronomia, porque de escrita), mas precisam levar em conta têm sempre cobranças unificadas e respos- afinidades (e desavenças) entre as crian- tas únicas. E precisamos permitir que as ças, de modo a ver que arranjos (de duplas, crianças discutam suas soluções, que errem, grupos) tendem a ser mais produtivos. não alcançando sempre as respostas que obedecem às convenções da escrita. Assim Permitir que os alunos interajam e combinem como a atitude de cooperação, a crença de as soluções para as atividades exige que a que podem resolver fichas, jogos ou outras professora monitore o que eles estão fazendo, atividades, de forma mais autônoma, não que ela se alterne nas duplas ou grupos, não só é algo inato, mas, sim, algo que as crianças ajudando a resolver dúvidas, mas estimulando aprendem. Como? Praticando isto, no dia os alunos para que, de fato, assumam uma a dia, elas são estimuladas a pensar assim, atitude cooperativa. Claro que esse monitora- à medida que interagem e... veem que sua mento exige um olhar sintonizado no que está professora as ajuda, mas que cabe a elas acontecendo nos diferentes agrupamentos em negociarem as soluções em questão. que a turma foi organizada. unidade 07 17
  • 18. Referências: CUNHA, Isabella. Bilecki. A postura docente diante dos ciclos de aprendizagem. Dissertação (Mestrado em Educação). ), Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, . São Paulo, 2007. FERREIRO, Emília. ; TEBEROSKY., Ana. A Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986. LEAL, Telma Ferraz. Fazendo acontecer: o ensino da escrita alfabética na escola. In: MORAIS, Artur Gomes.; ALBUQUERQUE, Eliana. B.; LEAL, Telma. F. (Orgs.) Alfabetização: apropriação do Sistema de Escrita Alfabética. Belo Horizonte: Autentica, 2005. OLIVEIRA, Solange. A Progressão das Atividades de língua portuguesa e o Trata- mento dado à Heterogeneidade das Aprendizagens: um estudo da prática docente no contexto dos ciclos. Tese (Doutorado em Educação), - Universidade Federal de Pernambuco, . Recife, 2010. ONRUBIA, Javier. Ensinar: criar zonas de desenvolvimento proximal e nelas intervir. In: COLL, Cesar. et al. O Construtivismo na Sala de Aula. São Paulo: Ed. Ática, 1996. PERRENOUD, Philippe. La pédagogie à l’école des différences: fragments d’une sociologie de l’échec. Paris: ESF, 1995. PERRENOUD, Philippe.. As novas didáticas e as novas estratégias dos alunos face ao trabalho es- colar. In: PERRENOUD, Philippe. O ofício de aluno e sentido do trabalho escolar. Porto Alegre: Porto Editora, 19941995. TEBEROSKY, Ana. Construção de Escritas através da Interação Grupal. In FERREIRO, Emilia; PALACIOS, Margarita. Os Processos de Leitura e Escrita. Porto Alegre: Artmed, 1987. VYGOTSKY, Lev Semenovich. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984. 18 unidade 07
  • 19. Atendendo à diversidade: o trabalho com todas as crianças no dia a dia, usando diferentes recursos didáticos Tânia Maria S. B. Rios Leite Artur Gomes de Morais No caderno 1, da Unidade 3, discutimos vivem, a maneira como constroem signifi- No “Caderno de Educação Especial a aprendizagem dos princípios básicos cados, as práticas culturais etc. Não existe - a alfabetização do sistema de notação alfabética (SEA), um modelo de criança. Pensar em criança- de crianças com deficiência: uma apontando a necessidade de articular, de -modelo é discriminar. Além de incluir os proposta inclusiva” são abordadas as modo coerente, os conhecimentos sobre aprendizes com deficiências, precisamos especificidades da o objeto de ensino-aprendizagem (SEA) e atender todos os que têm dificuldades em apropriação do SEA por crianças com os modos de apropriação do mesmo, pelos se alfabetizar. deficiência. alunos. Sem que estivéssemos tratando de Diante de tantas demandas educativas uma novidade, ali constatamos/reafirma- para o processo de ensino-aprendizagem mos a complexidade com que se reveste do Sistema de Escrita Alfabética, colo- nosso Sistema de Escrita Alfabética para a camos as seguintes questões: Como nós, aprendizagem de nossos alunos. professores de 3º ano, podemos organizar Todos os anos, alguns alunos chegam ao 3º nossa prática pedagógica, de modo que ano ainda apresentando hipóteses iniciais todos os alunos possam aprender em de escrita. A questão importante é como seus diferentes níveis de aprendizagem elaborar um projeto de ensino que atenda considerando suas reais necessidades? a todos os alunos, sem exceção, dos mais Como repensar a organização do trabalho sensíveis aos mais pragmáticos, dos mais pedagógico, de modo que o planejamento competitivos aos mais colaborativos, dos e as atividades propostas rompam com a mais lentos aos mais rápidos. As crian- lógica de um ensino homogeneizante, que ças são o resultado de suas experiências. pressupõe que as crianças construiriam Para compreender seu desenvolvimento seus percursos e suas aprendizagens do é preciso considerar o espaço em que elas mesmo modo, no mesmo momento, com unidade 07 19
  • 20. a mesma desenvoltura? Como usar os pudemos identificar algumas estratégias recursos que estão na escola, para atender que ela encontrou para envolver todos os a diversidade? alunos em sua proposta e contribuir para o avanço da turma. Usando recursos didáticos dispo- níveis na escola, para lidar com os Além do trabalho de reflexão sobre pa- alunos de diferentes níveis. lavras, desenvolvido no coletivo com sua mediação, a professora nos relatou como A professora Cynthia, como já evidenciado ela costumava realizar atividades de leitura no primeiro texto desse caderno, tinha com o livro didático, atendendo à diversi- uma turma de 3º ano, com alunos em dade da turma em seus diferentes níveis vários níveis de aprendizagem do SEA. de aprendizagem. Vejamos o que ela nos Ao longo de seus relatos de experiência, contou: Sempre que proponho uma atividade de leitura de texto do livro didático, essa leitura é feita silenciosamente, por aqueles que conseguem ler de modo autôno- mo. Então eu dou um tempo pra eles lerem tudo, enquanto os outros, que ainda não conseguem ler, estão nesse momento só olhando o livro. Eles realmente estão ociosos, porque não conseguem fazer a leitura daquele texto. Então depois eu proponho a leitura coletiva e, nesse momento, eu leio pra eles. Porque os que já estão conseguindo fazer a leitura leem, conseguem fazer a leitura, mas não compreendem muitas vezes o que leram. Eles têm essa dificuldade. Dizem assim: “Eita, deixa eu voltar pra ver o que eu li”. Então é proveitoso ler mais ou menos umas duas, três vezes o texto, pra poder compreender. Aí eu faço a leitura coletiva. Depois dessa leitura coletiva, eu proponho, por exemplo, questões para serem respondidas sobre o texto. E aí, o que é que eu faço? Tem momentos em que eu faço uma compreensão do texto, oralmente. Tem momentos que eu faço a compreensão do texto por escrito. Com os alunos que ainda não leem com autonomia, eu proponho um trabalho com... a localização de palavras, dentro do texto, como por exemplo, circular palavras que eles já conhecem, a partir de uma questão como: Quais são as palavras que vocês conseguem ler? Então, geralmente, são palavras peque- nas, de duas, três sílabas e não contendo sílabas complexas. Então eles sem- pre procuram, e quando encontram, encontram a palavra e conseguem ler ao menos a primeira sílaba. Então, dentro dessa leitura de palavras do texto, eu chego junto do grupo, das crianças que têm mais dificuldade. Porque eu não divido a turma, porque a sala é muuuuito apertada e não tem nenhum espaço 20 unidade 07
  • 21. na sala pra dividir. Mas eu chego junto e vamos lá... digo: “Leia pra mim essa daqui que você circulou”. E aí... quando eles fazem a leitura, eu pergunto: será que é isso mesmo? por exemplo, vamos supor que eles circularam a pa- lavra milho. Aí ficou no “mi”, no “mi”, no “mi...” e pergunto: “Esse L, H, O, como é que a gente lê?” e aquele aluno diz: “ L, H, O, CHO”. Insisto: “Como é que a gente lê? Tem C aqui? Não”. “Não tem. É um L. É um L. L, H, O...” Alguns têm essa dificuldade de fazer essa... essa oralização da sílaba complexa. Do L, H, O. Naquele dia eu fui tentando apontar palavras semelhantes, dentro do texto, pra que eles vissem essa relação dos sons, entre as palavras. Sem esquecer que o texto e a compreensão ou adequadas, pois não auxiliam no desen- de textos são essenciais e obrigatórios no dia volvimento das estratégias de atribuição de a dia do primeiro ciclo, a leitura de palavras sentido aos textos. Mas são parte do pro- Na Unidade 5, o é uma atividade importante no processo de cesso de alfabetização, por propiciar mais trabalho com textos alfabetização, tanto para os alfabetizandos fluência no reconhecimento de palavras no na alfabetização é debatido, que já avançaram quanto à compreensão texto. Para os alunos que ainda não conse- do sistema de escrita e já conseguem ler guem ler, porque ainda não compreendem com relativa autonomia, quanto para os que os princípios de fonetização da escrita, a ainda estão no início do processo de apro- intervenção da professora foi extremamen- priação do SEA. Para aquelas crianças que já te valiosa. Ao se deparar com uma palavra conseguem ler, a atividade ajuda a consoli- e tentar lê-la, esse aprendiz mobilizava os dar as correspondências grafema-fonema, conhecimentos que já tinha construído e fazendo com que automatizem as infor- testava suas hipóteses, lançando mão das mações sobre as relações entre as letras e correspondências som-grafia que tinha fonemas, e dominem tais correspondências. armazenado em sua memória. Assim, o princípio de que cada letra ou grupo de le- Naquela atividade de leitura, a professora tras, corresponde, via de regra, a um som, Cynthia ajudou os alunos com dificuldades pôde ser mobilizado, sobretudo, pelos a entender que existem unidades menores questionamentos e auxílio que a professo- que as sílabas e que é preciso pensar sobre ra (e/ou um colega) pode fornecer durante os sons das letras, para conseguir fazer a atividade. a leitura da palavra. Obviamente, para o desenvolvimento da compreensão de As práticas de leitura e produção de textos textos, tais atividades não são suficientes juntamente com as práticas de reflexão so- unidade 07 21
  • 22. bre palavras precisam ser mantidas duran- um trabalho individual não implica te todo o ciclo de alfabetização, no Ensino que desconsideremos a importância da Fundamental. Lembramos, ademais, que o interação em sala de aula, nem que o uso do livro didático, desde os anos ini- aluno não possa estabelecer trocas, ou ciais, é uma ferramenta importante para fazer perguntas, ou até mesmo levantar o professor trabalhar não só as atividades da cadeira para falar com o professor ou de apropriação do sistema de escrita, mas com um colega. também as dificuldades ortográficas dos Atividades de “ditado mudo” são ex- alunos. celentes propostas para que os alunos Em todos esses tipos de situação é muito mobilizem o que eles aprenderam para importante decidir sobre os agrupa- notar as palavras no papel. Nesse mo- mentos, de modo a garantir que todos mento, a passagem do(a) professor(a) os alunos estejam pensando a respeito pelas bancas, olhando o que eles estão de aspectos do Sistema de Escrita Alfa- escrevendo e conversando com cada um, bética. Assim, pode-se priorizar que os individualmente, levando-os a usar pistas alunos compartilhem a tarefa com colegas para realizar a tarefa, pode ser preciosa que não deem prontas as respostas que para que os alunos ultrapassem obstá- eles estão precisando construir, já que é culos e sintam o interesse do professor fundamental que eles possam vivenciar (Leal 2005). o conflito e que tenham um problema a Apesar de estarmos focando mais as resolver. atividades destinadas à apropriação do Leal (2005) reafirma que as situações didáticas de trabalho individual são tam- bém muito importantes no processo de aprendizagem, pois as crianças podem pensar sobre conceitos e arrumar o que já sabem sobre determinado tema e to- mar consciência de quais são as suas la- cunas. É importante que elas aprendam a refletir e a sistematizar seus próprios saberes, que aprendam a coordenar sozi- nhas suas ações e colocar à disposição o que já sabem para resolver os problemas a serem superados. O fato de propor 22 unidade 07
  • 23. SEA, faz-se necessário salientar que Nesse espaço devem estar presentes, li- diferentes objetivos precisam ser pen- vros de literatura infantil e outros supor- sados e que a organização dos alunos em tes de escrita, como jornais, gibis, histó- sala não pode ser decidida apenas com rias em quadrinhos etc. Assim, enquanto base nos conhecimentos que eles têm o professor estiver trabalhando com os sobre a escrita alfabética. Para organi- alunos que ainda estão com dificuldade zarmos nossos alunos precisamos ter na leitura e escrita, aqueles que estão em objetivos definidos naquele momento da níveis de escrita mais avançados poderão aula. ser incentivados a realizar a leitura como ato de fruição. Com isso não queremos Além da nossa preocupação com os agru- dizer que não tenhamos preocupação com pamentos é importante que estejamos a o ensino das estratégias de leitura. Uma postos para levantar questões pertinentes ação sistematizada é fundamental para e disponibilizar as informações e con- ajudar os alunos a desenvolver as estra- dições necessárias para a realização das tégias de leitura. O importante é opor- tarefas. Dessa forma, do mesmo modo tunizar momentos de ajuda às crianças que as demais atividades já elencadas, a do 3º ano que estão com dificuldades de organização dos espaços na sala de aula é aprendizagem enquanto os outros estão fundamental para o atendimento a hete- realizando atividades independentes. A rogeneidade. A atividade de leitura pode professora Cynthia nos comentou como ser incentivada pelo professor por meio da ela desenvolve o trabalho junto aos alu- construção de um espaço na sala de aula nos, de forma que eles sintam prazer em reservado para leitura e o manuseio de receber ajuda: livros. Na verdade, eles já gostam de receber uma ajuda, não é? Eles têm essa necessi- dade de sentar junto comigo no meu birô e dizer: “Tia, me ajuda”. Então eles são interessados, mesmo. Mas nem sempre eu posso estar com todos, ajudando todos ao mesmo tempo. Eu prefiro acompanhar as duplas, ou os grupos, né? Do que eles estarem ali comigo e eu não dar atenção a outros. Então, enquanto eles estão fazendo ali aquela atividade, eu vou passando e vou interferindo. “Como é que é isso aqui?” Então eu vou dando uma ajuda a mais. Eles já são interessados tam- bém porque eles gostam de atingir o nível daqueles que estão participando muito na aula. unidade 07 23
  • 24. Como podemos perceber no relato da professora, essa sua postura estimula os alunos a partici- par de situações de aprendizagem em que seu olhar está voltado para cada um com atenção. Outra atividade bastante interessante para trabalhar com os alunos em seus diferentes Na Unidade 4, são níveis de aprendizagem é a utilização de jogos. Em todas as culturas, existem jogos com expostas reflexões palavras, e as crianças gostam de brincar com as palavras e com as letras para formar as sobre a ludicidade na alfabetização, palavras que estão aprendendo a escrever. Na sala da professora Cynthia o jogo é uma com discussão so- bre o uso de jogos atividade que faz parte da sua rotina e, como podemos perceber no seu relato, as crianças em sala de aula. embarcaram prazerosamente na atividade, refletindo sobre as semelhanças e diferenças entre as palavras. Eis como ela trabalhou com o jogo “Troca Letras”: Jogo: Troca letras para refletir com ele lançando a seguinte pergunta: “Em quais palavras você encontra essa letra?”. E Richard e os demais alunos citaram e registrei as seguintes palavras no quadro: GATO, GARRAFA, GALINHA, GOTA, GAIOLA. Em algumas atividades, tenho percebido que Richard tem dificuldades quanto às regularidades diretas, (ele troca, principalmente as letras P e B). Por isso, tenho tentando acompanhar o aluno, para sanar essas trocas, propondo-lhes atividades específicas de leitura e escrita de palavras com essas iniciais, atividades de preenchimento de lacunas nas palavras com essas letras, Jogando o “Troca letras” os alunos com cruzadinhas, por exemplo. Em outro momento, maiores dificuldades fizeram muitas solicitei que o aluno Jadyson escrevesse a descobertas sobre a escrita, dentre elas palavra PENTE conforme a figura. Ele escreveu os sons nasais nas palavras, a mudança no PEITE. Então indaguei: “Eu falo PEITE ou sentido da palavra, ao trocar apenas uma PENTE?” e ele falou: “PENTE”. Para ajudá-lo a letra, a semelhança no som de algumas refletir sobre os sons nasais, escrevi a palavra palavras e a diferença na escrita. Também CATO no quadro e ele leu sem dificuldade. escreveram autonomamente com auxílio Quando adicionei a letra N, transformando de algumas pistas, com a troca da letra CATO em CANTO, ele não conseguiu ler. Então, inicial, medial e final. Ao solicitar que fiz a leitura das duas palavras para que ele e Richard escrevesse a palavra GOLA, ele os demais alunos observassem a diferença escreveu COLA. Após a leitura da palavra, que uma letra pode provocar no som e no ele respondeu: “Eita tia! Aqui é a letra H!”, sentido da palavra. Enfatizei que o fato de ter mas escolheu a letra G para substituir a letra colocado a letra N na palavra CATO modificou C. Então perguntei: “Qual o nome dessa todo o seu sentido, transformando CATO em letra?”, ele respondeu: “É G”. Aproveitei CANTO. Além disso, sinalizei a mudança no 24 unidade 07
  • 25. VOVÓ, MALA e BALA , por exemplo. As crianças não apresentaram conflitos na escrita de palavras conhecidas como RATO, GATO, FACA, FADA, por exemplo. Elas tendiam a errar nas palavras acentuadas como em PÉ e PÁ, bem como nas palavras com sílabas complexas como FOLHA E BOLHA. Os alunos do nível silábico apresentaram erros na escrita dessas últimas palavras com maior frequência. Foram frequentes os relatos afirmando que as palavras FACA e FADA, MAPA e MALA eram palavras fáceis de escrever. Quando solicitei que a aluna Joyce escrevesse a palavra GALO, lhe mostrando a figura, ela escreveu GALA. Então fiz a seguinte pergunta: “Qual a última som da primeira sílaba, pois, não tinha mais letra da palavra GALO?”. Ela respondeu que CA e sim CAN. Após a reflexão, ele afirmou: era O e fez a troca da letra. “Então eu coloco um N aqui, não é tia?” Tenho percebido que alguns alunos, no (apontando para a letra I na palavra PEITE). intuito de mostrar fluência na escrita, Escrevi BANDA e PANDA no quadro, perguntei acabam trocando letras e suprimindo as crianças qual era a diferença entre as duas outras. É comum observar eles mesmos palavras. Um aluno respondeu: “Trocou o B percebendo os seus erros. A proposta de pelo P”. Outro respondeu: “Aqui eu tenho fazer o jogo coletivamente partiu da ideia BAN (apontando para a palavra BANDA) e de que os alunos poderiam refletir sobre a aqui em tenho PAN (apontando para a palavra escrita a partir dos erros dos colegas e que PANDA)”. Para refletir sobre os sons nasais, a intervenção e reflexão poderia se tornar listei algumas palavras no quadro para que os mais rica se fosse feita de forma coletiva, alunos fizessem a leitura. Enquanto eles liam atingindo a um maior grupo. Ao finalizar o as palavras, eu sinalizava as sílabas com sons jogo com o flanelógrafo preenchido, retirei nasalizados. As palavras foram as seguintes: as figuras e chamei individualmente os CANTO, PINTADA, DENTE, POMBO, PANDA, alunos para localizar os pares de palavras BANDA e PITOMBA. Após a leitura, um aluno que eu ditava e escrevesse no quadro: afirma: “Ah tia, já sei. O som fica AN, EN, IN não é?”. Ao solicitar a escrita da palavra BOLO no MAPA – MALA flanelógrafo, a aluna Graziella escreveu BOL GOLA – COLA (BOLA), parou e questionou: “Tem dois O?”. PINTO – CINTO Então, perguntei a ela: “O que você acha?”. Então ela foi até as letras e pegou a letra A FADA – FACA e passando os dedos sobre as letras leu: BO FOLHA – BOLHA – LA. Então questionei: “Essa é a figura de RATO – GATO uma BOLA ou de um BOLO?”. Ela respondeu: PÁ – PÉ “BOLO!”. “E como devo fazer para transformar essa palavra em BOLO?”. Ela respondeu: “A BOLA – BOLO última letra é O?”. Então lembrei a Graziella Após a escrita dos alunos, fizemos a leitura que muitas palavras podem ser escritas com coletiva da lista de pares de palavras, letras e sílabas repetidas como em BABÁ, chamando os alunos para circularem as unidade 07 25
  • 26. partes semelhantes (nas palavras). Como já havia relatado anteriormente, atividades com o uso de jogos são muito ricas para os alunos que aprendem com autonomia e para o professor, pois permite avaliar os meninos e as meninas a partir da atuação espontânea na brincadeira, bem como avaliar diversos aspectos que são escondidos pelos alunos por medo do erro e que podem indicar dificuldades e avanços. A experiência relatada pela professora Cynthia Para isso, precisam segmentar palavras em exemplifica bem o quanto a atividade com pedaços e focar a atenção no interior das síla- jogos pode propiciar diferentes momentos bas, ou seja, além de perceber que as palavras de reflexão sobre a escrita de palavras. Numa são constituídas de unidades silábicas, são perspectiva de mediação da aprendizagem. Ela levadas a refletir sobre as menores unidades ajudava as crianças que estavam com dificul- sonoras (os fonemas) e suas relações com dades a buscar a letra que representava os sons as unidades gráficas (as letras). Tal reflexão correspondentes para formar as palavras das demanda um nível de conhecimento sobre o figuras. Os alunos, ao escolher as letras, foram Sistema de Escrita Alfabética mais elaborado levados a formular com suas próprias palavras em relação a outras atividades, quando os as conclusões que elaboraram sobre como alunos precisam apenas segmentar e contar “certas letras mudam de valor sonoro quando sílabas ou comparar palavras apenas quanto assumem determinadas posições”. às semelhanças sonoras. Comparar palavras é um tipo de atividade Dada a importância desse tipo de ativida- muito importante no processo de apropriação de, não é à toa que a professora Cynthia a da escrita. Quando as crianças analisam duas tenha desenvolvido com as crianças com ou mais palavras, buscando semelhanças e/ dificuldades de aprendizagem e que tenha ou diferenças, elas consolidam correspon- obtido, segundo seu relato, resultados dências entre unidades sonoras (fonemas) significativos de aprendizagem. e unidades gráficas (letras). No caso do jogo Dentre as diversas alternativas de situações “Troca letras”, além de comparar, as crianças de jogos que poderão contribuir para as fazem um esforço para identificar o único crianças avançarem no seu processo de aqui- som (fonema) diferente entre as palavras. sição da leitura e escrita, ressaltamos ainda: 26 unidade 07
  • 27. • As cruzadinhas (ou palavras cruzadas) em que as crianças têm como pistas o número de “casas” onde as letras serão escritas; • O jogo “stop ortográfico” ou “adedonha”, no qual se escolhe uma letra e, a partir do tempo determinado, todos os participantes vão procurar escrever, o mais rapidamente possível, palavras que são nomes de pessoa, lugar, animal ou fruta, iniciadas por aquela correspondência fonográfica; • O jogo da forca, em que as crianças, ao descobrir certas palavras a serem adivinhadas, demonstram estar exercendo um tipo de análise consciente, que lhes permite deduzir, por exemplo, que a palavra em certa posição, contém uma sílaba que não é composta apenas de consoante e vogal. A fim de ilustrar o que temos concebido te subsídio para o trabalho com a hetero- como boas alternativas didáticas a serem geneidade na sala de aula. Vejamos como trabalhadas com as crianças com dificul- a professora Cynthia desenvolveu, em dade de aprendizagem, mencionaremos sua sala de aula do 3º ano, uma atividade uma situação em que se fez uso de um dos com base no livro “Você Troca”, de Eva livros do acervo das obras complementa- Furnari: res, coleção de obras que é um importan- Você troca? Texto e Imagem: Eva Furnari “Você troca um lobinho delicado por um chapeuzinho malvado?” “Você troca um gato contente por um pato com dente?” Essa e muitas outras perguntas estão colocadas na obra Você troca? Levando o pequeno leitor a pensar em situações ora engraçadas, ora absurdas, as indagações e trocadilhos apresentados a cada página mexem com a imaginação, produzindo efeitos de sentido que fazem refletir sobre o mundo e sobre a linguagem. unidade 07 27
  • 28. Como os alunos do 3º ano gostavam das obras de Eva Furnari, optei por trabalhar com dois poemas: “Assim Assado” e “Você troca?”. Inicialmente a escolha dos livros era para alcançar os seguintes objetivos: aproximar os alunos de textos literários (poemas), identificar as características do gênero poema, refletir sobre os valores sonoros das palavras e suas relações com a pauta escrita, explorar alguns recursos linguísticos do gênero poema rimado, produzir textos semelhantes, promover momentos de socialização das produções textuais por meio de apresentações e material impresso. No primeiro momento, apresentei as obras e a biografia da autora. Questionei os alunos da seguinte forma: “Agora que vocês já conhecem a autora, para quem vocês acham que ela escreve? O que ela costuma escrever nos seus livros? Pelos títulos dos livros, dá para a gente saber o que o livro vai falar?” Em um segundo momento, fizemos uma votação para escolher o livro que seria tra- balhado durante a semana. As crianças optaram pelo livro “Você troca?”. Então, fiz a leitura do livro, que por sinal, foi bastante divertida, pois, os alunos respondiam positivamente e negativamente às perguntas do poema. Após a leitura, fiz algumas perguntas aos alunos: “Vocês perceberam alguma coisa diferente ou interessante no texto?”. Alguns alunos responderam que o livro tinha muitas rimas. Em seguida, escolhi alguns alunos para fazer a leitura de algumas estrofes em voz alta e, neste momento, um aluno percebeu outro aspecto importante do texto. Ele percebeu que as estrofes eram feitas de perguntas. Então, aproveitei para explicar que sempre que queremos fazer alguma pergunta escrita temos que utilizar o sinal de interrogação, mas não fui a fundo na explicação. Um fato interessante é que alguns alunos começaram a fazer rimas antes mesmo de serem solicitadas. Ao retornar a leitura de alguns trechos do poema que havia reproduzido no quadro, sinalizei para as crianças que em todas as estrofes dos poemas podíamos encontrar rimas. Fui marcando alguns pares de palavras rimadas (molhada – descascada; mimado – bichado; delicado – malvado etc.) e refletindo com eles sobre a relação do som e a semelhança na escrita dos pares de palavras rimados. Distribui folhas de papel A4 para as crianças e pedi que encontrassem no texto, cinco pares de palavras rima- das e registrassem na folha. Também era parte da tarefa, circular os pedacinhos semelhantes nos pares de palavras. Essa foi uma atividade desenvolvida por todos os grupos de alunos, tendo em vista a memorização de alguns trechos do poema e a semelhança da escrita entre as palavras que rimam. Com isto, pude refletir com eles que palavras diferentes podem ter escrita semelhante e palavras com sons parecidos podem ser escritas diferentes. Em outro momento distribui fichas para os alunos, contendo palavras do texto para serem analisadas quanto ao número de letras e sílabas, sílaba inicial, sílaba final, comparação entre palavras. Além disso, a ficha também continha questões nas quais as crianças deveriam separar as palavras 28 unidade 07
  • 29. em sílabas. Para os mais avançados, pedi que escrevessem outras palavras que ri- massem com aquelas, tantas quantas lembrassem. No dia seguinte levei para sala o poema reproduzido em uma cartolina com algumas lacunas no lugar das rimas. Al- guns alunos deveriam preencher as lacunas com novas rimas. Optei por fazer essa atividade de forma coletiva, para que os alunos em processo de apropriação pu- dessem participar ativamente da construção, já que, para eles, pensar nas relações letra-som, já era uma competência consolidada e eles poderiam fazer sozinhos. As respostas eram reproduzidas no quadro antes de serem escritas nas tarjetas, já que algumas crianças precisaram refletir sobre a escrita correta das palavras e os ajudei, passando pelas bancas. Após a atividade de preenchimento de lacunas, conversei com as crianças sobre a forma como o poema foi organizado no livro e na cartolina. Expliquei às crianças que no livro cada página continha um verso do poema, o que era diferente da organização do poema no cartaz. Mostrei que no livro os versos eram ilustrados, explicando que a obra foi escrita para crianças que sabem e não sabem ler. Ao final da exposição, propus à turma a escrita de versos parecidos com os do livro, onde cada criança iria escrever um verso bem-humorado, que deveria ser rimado e ilustrado, para compor o livro que seria reproduzido e distribuído para outras turmas da escola. Com as crianças em processo de apropriação fiz uma intervenção mais direta, auxiliando na reflexão e escrita das frases elaboradas por eles. Após a confecção dos versos ilustrados do livro, elegemos um desenho para ilustrar a capa do livro. O título original do livro foi mantido por opção da maioria dos alunos e encaminhado para reprodução na secretaria da escola. Cremos que há muitas lições a aprender nunciando com mais intensidade as partes com o registro da professora Cynthia. das palavras que rimavam, contribuiu Com o propósito de desenvolver uma boa para as crianças se engajarem na reflexão situação de aprendizagem, ela planejou, fonológica das palavras, trabalhando não antecipadamente, as atividades, definindo só a rima, mas, também, os sons iniciais e os objetivos que contemplassem os eixos os tamanhos das palavras, aspectos funda- do trabalho com a língua. Inicialmente mentais para a compreensão dos princí- criou as condições para que as crianças se pios do SEA. familiarizassem com a autora e o estilo do Como professora experiente, ela criou texto, garantindo, assim, uma leitura esté- situações didáticas para que a reflexão tica do poema. Em seguida, o cuidado que sobre a palavra não ficasse só na dimensão Cynthia teve em destacar as rimas, pro- unidade 07 29
  • 30. do oral, mas contemplasse a dimensão e faziam sentido, em função dos objetivos escrita. O registro das unidades gráficas que se queria alcançar. (letras) é fundamental para que as crian- Conseguir respeitar a heterogeneidade e ças se tornem conscientes sobre as uni- atender aos diferentes é uma tarefa muito dades sonoras das palavras. A estratégia complexa. Com uma história de ensino de trabalhar o texto lacunado no coletivo padronizado, que não considerava o que os oportunizou que todas as crianças, em seus alunos estavam compreendendo, de fato, diferentes níveis de escrita, aprendessem sobre o que estava sendo trabalhado, para “coisas” diferentes naquela atividade. A a escola, passar a respeitar a diversidade culminância do seu trabalho com a produ- dos aprendizes, é um grande desafio. Um ção do texto escrito e a posterior divulga- desafio que precisamos enfrentar, quando ção reflete como as ações executadas pela assumimos que é nosso dever assegurar às professora estavam relacionadas entre si crianças seus direitos de aprendizagem. Referências: LEAL,Telma Ferraz. Fazendo acontecer: o ensino da escrita alfabética na escola. In: MO- RAIS, Artur G.;ALBUQUERQUE, Eliana; LEAL,Telma.(orgs) Alfabetização apropria- ção do Sistema de Escrita Alfabética.Belo Horizonte:Autêntica, 2005. 30 unidade 07
  • 31. Compartilhando Direitos de aprendizagem: componente curricular Arte Na década de 1980, com a redemocratiza- ensino, conteúdos de estudos, metodolo- ção do país, eclodiram, no cenário nacio- gia e sistema de avaliação). nal, as associações de arte-educadores Foi nesse contexto de luta que, em 20 de e cursos de pós-graduação (lato sensu dezembro de 1996, os arte-educadores e stricto sensu), fazendo surgir novas brasileiros conquistaram a obrigatorie- reflexões sobre o ensino de arte e novas dade do ensino de arte para toda a Edu- concepções para o processo de ensino- cação Básica, através da promulgação da -aprendizagem de arte no âmbito escolar. nova LDBEN, de n° 9.394, que, depois de Em 1988, foi promulgada a Constituição quase uma década, revogou as disposições Brasileira, iniciando-se, logo em seguida, anteriores e consagrou, oficialmente, a discussões sobre a nova LDBEN. Em três concepção de ensino de arte como conhe- de suas versões, foi retirada a obrigatorie- cimento, ao explicitar que o ensino de arte dade do ensino de arte nas escolas. Orga- deverá promover, entre outros aspectos, o nizados, os arte-educadores protestaram, desenvolvimento cultural dos alunos. convictos da importância da arte para a Nessa direção, o objetivo do ensino da Arte formação do aluno. Iniciou-se, aí, uma na Educação contemporânea reside longa luta política e conceitual dos arte- na ideia de reforçar e valorizar a -educadores brasileiros para tornar a arte herança cultural, artística e esté- uma disciplina curricular obrigatória, com tica dos alunos, além de ampliar todas as suas especificidades (objetivos de seus olhares e escutas sensíveis, e
  • 32. formas expressivas através de experiências do quadro de direitos de aprendizagens estéticas e poéticas com base nas inter- da área de arte no âmbito deste Programa -realidades que eles conhecem ou possam Nacional de Alfabetização. vir a conhecer. É importante lembrarmos que são apre- As tendências atuais do ensino da arte no sentadas neste quadro as aprendizagens Brasil, em consonância com as perspecti- gerais da área de arte, como sugestão de vas internacionais, vêm indicando a partir um caminho possível por meio do qual se de diferentes estudos e pesquisas, entre elaborem os currículos e a práxis pedagó- outros princípios, a concepção de Arte gica em arte. No entanto, o mesmo indica como conhecimento, que está baseado na que é preciso garantir as aprendizagens interculturalidade, na interdisciplinarida- específicas das linguagens da dança, de e na aprendizagem dos conhecimentos do teatro, das artes visuais e da música, artísticos, a partir de uma abordagem as quais possuem suas epistemologias epistemológica do ensino da arte, que próprias, de modo a contemplar também defende a ideia que arte se ensina e se a aprendizagem da Arte e da cultura da aprende. No caso brasileiro, tal concepção, África, dos afrodescendentes e dos indíge- no que tange particularmente às artes nas, conforme garantido pelas Leis de nº visuais, é inicialmente divulgada na Abor- 10.639/2003 e 11.645/2008. dagem Triangular do Ensino da Arte. Essa No quadro abaixo estão expostas sugestões abordagem foi sistematiza pela professora acerca de como tratar a progressão de cada Ana Mae Barbosa e suas colaboradoras na direito durante o ciclo de alfabetização. A década de 1980, a partir das atividades letra I será utilizada para indicar que aque- educativas desenvolvidas no Museu de le direito deve ser introduzido na etapa es- Arte Contemporânea, da Universidade de colar indicada; a letra A indicará que a ação São Paulo. A referida abordagem defende a educativa deve garantir o aprofundamento; aprendizagem dos conhecimentos artísti- e a letra C indica que a aprendizagem deve cos a partir da inter-relação entre o fazer, o ser consolidada no ano indicado. ler e o contextualizar arte. Neste sentido, a interculturalidade e as interconexões entre as diferentes lingua- gens da arte – teatro, música, dança e artes visuais formam os pressupostos sócio- -filosóficos e didático-metodológicos que orientaram a concepção e sistematização 32 unidade 07
  • 33. Direitos gerais de aprendizagem: Arte Ano 1 Ano 2 Ano 3 Compreender a arte como um conhecimento produzido socialmen- te, em diferentes contextos históricos e culturais da humanidade. I/A A C Reconhecer a importância social da arte na sociedade e na vida dos indivíduos. I/A A C Vivenciar experiências educativas nas linguagens da dança, teatro, artes visuais e música. I/A/C A/C C Vivenciar processos educativos de diálogo interdisciplinar da arte com diferentes áreas de conhecimento e de diálogo interterritorial das diferentes linguagens artísticas, inclusive com as novas tecno- I/A/C A/C C logias. Conhecer a vida e obra de diferentes artistas das linguagens da dança, teatro, artes visuais e música, da comunidade local e da re- gião, como, também, com artistas de expressão nacional e interna- I/A A/C C cional, das mais diferentes partes do mundo; de diferentes épocas, estilos, gêneros, e etnias. Conviver e acessar fontes vivas de produção da arte. I/A/C A/C C Identificar no cotidiano a produção e produtores artísticos de cir- culação social em diferentes ambientes. I/A/C A/C C Ler, apreciar e analisar criticamente diferentes objetos artísticos e manifestações da arte na sociedade. I/A/C A/C C Conhecer e reconhecer os elementos que constituem as lingua- gens artísticas a partir da leitura e análise de objetos artísticos. I/A/C A/C C Conhecer, participar e visitar diferentes dispositivos e equipamen- tos culturais de circulação da arte e do conhecimento artístico, tais como: teatros, museus, galerias, feiras, ruas, festivais, livrarias, bi- I/A/C A/C C bliotecas, centros históricos e culturais. Fazer arte na perspectiva da criação artística como pesquisa e in- vestigação. I/A/C A/C C Conhecer, vivenciar e interagir com materiais, tecnologias, técni- cas, instrumentos e procedimentos variados em artes, experimen- tando-os de modo a utilizá-lo nos trabalhos pessoais e coletivos de I/A/C A/C C criação artística. Pesquisar e organizar os diferentes conhecimentos artísticos, a partir de fontes variadas de informações. I/A/C A/C C Respeitar, conviver, valorizar e dialogar com as diferentes produ- ções artísticas de circulação social. I/A/C A/C C unidade 07 33
  • 34. A colaboração de todos os atores da escola e a participação das famílias dos aprendizes no atendimento às crianças ainda não alfabetizadas. Artur Gomes de Morais Tânia Maria S. B. Rios Leite O atendimento às diversas necessidades vos para o tratamento da heterogeneidade dos aprendizes, quando se trata do proces- dos alunos, com especial atenção para os so de alfabetização, não pode ser uma res- concluintes do primeiro ciclo. ponsabilidade individual de cada professo- Graças ao diálogo, às negociações e acertos ra. Em nossa experiência, acompanhando continuamente praticados, tende a ocorrer a redes públicas de ensino, temos observado definição de metas mais claras para cada um o quanto se ganha quando gestores, co- dos três anos do ciclo, de modo que todos os ordenadores pedagógicos e outros apoios educadores se comprometem a atingir metas partilham a responsabilidade de assegurar idênticas, a fim de assegurar aos alunos seus os direitos de aprendizagem dos alfabeti- direitos de se apropriar da língua escrita e de zandos. No caso de alunos do 3º ano, esta sua notação. Em função do mesmo espírito partilha de responsabilidades e tarefas coletivo, criam-se espaços e tempos de aten- é ainda mais essencial, para a escola não dimento específicos para quem mais precisa fracassar em sua missão de alfabetizar. ser ajudado a aprender. E encontram-se mais Um primeiro ponto que ressaltamos é que, possibilidades de praticar um atendimento nas escolas onde gestores e coordenadores a pequenos grupos de alunos com dificul- pedagógicos se envolvem, efetivamente, dades, enquanto, por exemplo, outro(a) com o atendimento aos alunos com difi- educador(a) se ocupa dos alunos com conhe- culdades de aprendizagem, as chances cimentos mais avançados. de sucesso tendem a ser bem maiores, por razões previsíveis. Naqueles centros educativos encontramos, geralmente, a Quando a rede de ensino se mobili- construção de projetos pedagógicos coleti- za para atender à diversidade 34 unidade 07