O documento discute nove curtas-metragens de animação baseados em obras literárias clássicas. Algumas das adaptações mais notáveis incluem uma versão de "O Velho e o Mar" de Hemingway usando animação em vidro, uma adaptação sombria de "O Coração Denunciador" de Poe, e uma versão do conto "A Alegoria da Caverna" de Platão usando animação em massinha. Muitas das adaptações premiadas são de diretores russos e usam técnicas manuais complex
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
Literatura e curtas
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FICHA INFORMATIVA
AS MELHORES ADAPTAÇÕES NÃO ESTÃO NO ÓSCAR
Já foram feitos filmes baseados em grandes clássicos da literatura; em livros de não
ficção; em biografias e memórias (dois dos principais concorrentes ao Óscar deste
ano, por exemplo, 12 Anos de Escravidão e O Lobo de Wall Street incluem-se
nesta categoria). Há até livros baseados em artigos e reportagens de revistas
como New Yorkerou Rolling Stone.
(…)
Algumas das melhores adaptações literárias não são longas-metragens com o
apoio de um grande estúdio, mas sim curtas de animação que conseguem, com o seu
sistema de produção muitas vezes perto do artesanal, sustentar-se de pé como obras
autónomas, preservar o espírito do original e ainda oferecer algo extremamente origi-
nal e novo em termos da linguagem do próprio cinema. Antes da existência da arca
de maravilhas da internet, muitos dos filmes eram pouco conhecidos, lia-se sobre eles
em revistas de cinema, via-se o nome nos indicados a prémios como o Óscar ou o
Globo de Ouro, mas ter conhecimento dos trabalhos era mais difícil.1
(…)
1
O texto acima pertence ao editor de livros de Zero Hora, Carlos André Moreira, (adaptado) que partilha com os leitores infor-
mações, comentários, curiosidades, entre outros. Também a informação desta ficha informativa é baseada nas suas informações
e opiniões, com adaptações de linguagem respeitantes ao português).
http://wp.clicrbs.com.br/mundolivro/page/2/?topo=13%2C1%2C1%2C%2C%2C13
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1. O Velho e o Mar (1999)
O artista russo Aleksandr Petrov desenvolveu esta pequena gema adaptando a
novela de Ernest Hemingway recorrendo à técnica de desenhar em pranchas de
vidro, apagando e repintando detalhes das cenas a cada mudança de quadro. Tam-
bém não usa pincéis, e sim os próprios dedos, o que dá à imagem um tom onírico e
impreciso. Este filme esteve no Óscar, e venceu o prémio na categoria melhor curta
de animação. Petrov já “garimpou” outras riquezas da literatura, para as suas anima-
ções, como A Sereia (baseado em Púchkin) e Sonho de um Homem Ridícu-
lo (baseado em Dostoiévski).
https://www.youtube.com/watch?v=qx-3VYKvDUA
1. O Coração Denunciador (1953)
Uma adaptação do conto de mesmo nome de Edgar Allan Poe que usa sombras,
fusões, sobreposições e texturas para criar um padrão visual semelhante às cenogra-
fias surreais criadas por Eugène Berman para o Metropolitan Opera, de Nova York,
nas quais se pode reconhecer mais do que um leve toque do trabalho de Salvador
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Dali. A sombria história do assassino que se vê compelido a confessar o seu crime
para não ouvir mais as batidas fantasmagóricas do coração da sua vítima é narrada,
adverte o curta num cartão de texto, “pelos olhos de um louco, que, como todos nós,
crê que é são”. Por isso, os ângulos distorcidos e as sombras assustadoras de um
desenho que foge ao tradicional, casa tão bem com o espírito da obra. A voz do per-
sonagem principal – que, como no conto, narra em primeira pessoa – é dobrado
por James Mason, e foi o primeiro cartoon a receber indicação etária, recomendada
apenas para adultos, na Inglaterra. O curta é produzido pelo estúdio UPA (United
Productions of America) e dirigido por Ted Parmelee.
https://www.youtube.com/watch?v=ZkJwxq-rCBo
2. The Man With the Beautiful Eyes (1999)
Jonathan Hodgson é um artista a viver em Londres, que já dirigiu sequências de
animação para a série de TV Da Vinci Demon’s, de David S. Goyer. Hodgson é o
autor deste belo curta que adapta um poema de mesmo nome de Charles Bukowski,
sobre um grupo de crianças que se mostram fascinadas pelo mistério selvagem de
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um vagabundo alcoólatra visto numa casa, aparentemente abandonada, na vizinhança
em que moram. Com um traço e um uso nervoso da cor, aplicando palavras na tela e
procurando uma representação tão estilizada que chegue a uma espécie de moldura
do objeto (preste atenção na cena final, na qual os carros e as pessoas que passam
diante da vitrine são apenas formas que não a encobrem). Um filme que recebeu
prémios em vários festivais internacionais, incluindo o Bafta, o mais importante da
Grã-Bretanha.
https://www.youtube.com/watch?v=JW12Ealvj0s
2.1. ABreathtakingAnimatedAdaptationofBukowski’s“TheManwiththeBeautifulEyes”
by Maria Popova
A visual interpretation at the intersection of the touching and the
haunting.
Charles Bukowski was a creature of perplexity and paradox, oscil-
lating between romantic pessimism and luminous wisdom on the
meaning of life, propelled by an outrageous daily routine. His ex-
pressive poems explored everything from the myths of creativity to
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his “friendly advice” to young men.
In 1999, British animator Jonathan Hodgson and illustrator Jonny Hannah teamed up
on a breathtaking animated adaptation of Bukowski’s 1992 poem “the man with the
beautiful eyes” from his final and arguably best poetry collection, The Last Night of
the Earth Poems (public library).
when we were kids
there was a strange house
all the shades were
always
drawn
and we never heard voices
in there
and the yard was full of
bamboo
and we liked to play in
the bamboo
pretend we were
Tarzan
(although there was no
Jane).
and there was a
fish pond
a large one
full of the
fattest goldfish
you ever saw
and they were
tame.
they came to the
surface of the water
and took pieces of
bread
from our hands.
our parents had
told us:
“never go near that
house.”
so, of course,
we went.
we wondered if anybody
lived there.
weeks went by and we
never saw
anybody.
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then one day
we heard
a voice
from the house
“YOU GOD DAMNED
WHORE!”
it was a man’s
voice.
then the screen
door
of the house was
flung open
and the man
walked
out.
he was holding a
fifth of whiskey
in his right
hand.
he was about
30.
he had a cigar
in his
mouth,
needed a shave.
his hair was
wild and
and uncombed
and he was
barefoot
in undershirt
and pants.
but his eyes
were
bright.
they blazed
with
brightness
and he said,
“hey, little
gentlemen,
having a good
time, I
hope?”
then he gave a
little laugh
and walked
back into the
house.
we left,
went back to my
parents’ yard
and thought
about it.
our parents,
we decided,
had wanted us
to stay away
from there
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because they
never wanted us
to see a man
like
that,
a strong natural
man
with
beautiful
eyes.
our parents
were ashamed
that they were
not
like that
man,
that’s why they
wanted us
to stay
away.
but
we went back
to that house
and the bamboo
and the tame
goldfish.
we went back
many times
for many weeks
but we never
saw
or heard
the man
again.
the shades were
down
as always
and it was
quiet.
then one day
as we came back from
school
we saw the
house.
it had burned
down,
there was nothing
left,
just a smoldering
twisted black
foundation
and we went to
the fish pond
and there was
no water
in it
and the fat
orange goldfish
were dead
there,
drying out.
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we went back to
my parents’ yard
and talked about
it
and decided that
our parents had
burned their
house down,
had killed
them
had killed the
goldfish
because it was
all too
beautiful,
even the bamboo
forest had
burned.
they had been
afraid of
the man with the
beautiful
eyes.
and
we were afraid
then
that
all throughout our lives
things like that
would
happen,
that nobody
wanted
anybody
to be
strong and
beautiful
like that,
that
others would never
allow it,
and that
many people
would have to
die.
Complement with an equally beauti-
ful animated adaptation of Bukowski’s “Blue-
bird” and his poetry illustrated by the great R.
Crumb.
http://www.brainpickings.org/index.php/2014/07/04/bukowski-
the-man-with-the-beautiful-eyes-jonathan-hodgson/
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3. A Alegoria da Caverna (2008)
Este não é um livro especificamente, mas um dos trechos mais conhecidos de uma
das obras fundadoras da cultura ocidental, A República, de Platão. A representa-
ção da realidade física como uma caverna em que vemos apenas as sombras das
coisas, sem atentar para seu significado verdadeiro, é um dos mitos mais conheci-
dos da história da filosofia, e aqui ganha uma muito breve versão na técnica stop-
motion que, em inglês, é conhecida como “claynimation”, trocadilho entre “argila” e
“animação” que é usada para definir o tipo de filme que aqui conhecemos por
“massinha”. O filme é uma produção do diretor Michael Ramsey e do artista ani-
mador John Gribsby.
https://www.youtube.com/watch?v=69F7GhASOdM
4. Um Médico de Aldeia (2007)
Uma versão do premiado diretor japonês Koji Yamamura para este alucinatório
conto de Franz Kafka. O clima opressivo do original, uma pérola da juventude do
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autor tcheco, é traduzido através de um desenho nervoso e de uma variação cons-
tante das proporções e das perspectivas na obra animada.
https://www.youtube.com/watch?v=ZDjmW-gIsKs
5. Nicholas Era… (2010)
No seu livro Fumaça e Espelhos, o inglês Neil Gaiman, autor de Sandman, conta
a origem deste, um breve conto sombrio natalino. A história surgiu como um cartão
de Natal, um pequeno conto/poema de 100 palavras invertendo a lógica benevo-
lente das atribuições do Papai Noel. O texto foi caligrafado e ilustrado pelo amigo
de Gaiman, e parceiro em Sandman, Dave McKean, e enviado como cartão a
amigos e conhecidos (Gaiman admite na introdução do livro que a ideia veio após
se sentir miseravelmente humilhado e sem talento por receber todos os anos car-
tões de Natal feitos pelos seus talentosos amigos ilustradores). Seguindo a mesma
lógica, o estúdio animado 39 Degrees, estabelecido em Pequim, adaptou o conto
numa animação de Natal em 2010.
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https://www.youtube.com/watch?v=D1bf90USDbM
6. Crime e Castigo (2000)
Assim como o Aleksandr Petrov mencionado no início, Piotr Dumala é um mestre
russo da animação, e tem o seu próprio método de produção tão sofisticado e traba-
lhoso quanto as pranchas de vidro do primeiro. Cada quadro, nas animações de
Dumala, é obtido raspando com uma agulha uma prancha totalmente coberta de tinta
preta. Fotografada para o filme, a prancha é, então, coberta de preto outra vez, para
o quadro seguinte, e assim por diante. Com isso, o trabalho resultante é de um con-
traste muito forte entre os raros pontos iluminados e a escuridão restante do quadro.
Um tipo de trabalho que parece ajustado à perfeição para ilustrar a opressiva atmos-
fera de Crime e Castigo, de Dostoiévski. O vídeo abaixo não tem legendas, mas como
Dumala criou uma versão expressionista da narrativa, não há diálogos na animação,
tornando-a passível de ser entendida por todos nós. É uma versão com ares de
pesadelo, não seguindo necessariamente o livro ao pé da letra.
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https://www.youtube.com/watch?v=gknIrdEx6VI
7. Ricardo III (1994)
Entre 1992 e 1994 a BBC passou uma série de episódios de aproximadamente
meia hora cada, cada um apresentando uma versão animada de uma peça
de William Shakespeare, a cargo de um animador russo diferente. Uma das ver-
sões mais interessantes é dirigida por Natalya Orlova, com base na sangrenta
peça de Shakespeare sobre o perverso nobre deformado que empilha uma monta-
nha de corpos no seu caminho até o trono (e a inevitável desgraça).
https://www.youtube.com/watch?v=gknIrdEx6VI
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8. Kashtanka (2004)
A tradição russa de desenhos animados é uma das mais ricas do mundo. Prova
disso, uma versão de um dos contos mais singelos de Tchékhov, sobre a cadela
de um carpinteiro bêbado que, após se ter perdido de seu dono, depois da passa-
gem de uma parada militar, é recolhida por outro homem e levada para uma casa
com animais treinados para o circo, entre eles um ganso e um gato. A versão
abaixo possui legendas em inglês e espanhol, e é assinada pela mesma Natalya
Orlova do desenho anterior.
https://www.youtube.com/watch?v=KKDA1q-nc-E
9. A Maior Flor do Mundo (2007)
Uma animação do diretor espanhol (nascido no Uruguai) Juan Pablo Etcheverry
baseada num conto para crianças de José Saramago. Lançado quando o escritor
ainda vivia, o filme é narrado pela voz do próprio Saramago, que a apresenta no
início e faz uma breve aparição no fim.