1) O documento discute casos de plágio, citações e alusões no cinema, fornecendo exemplos de filmes acusados de cópia.
2) É explicada a diferença entre citação, alusão e plágio, sendo que a primeira mantém a obra original intacta, a segunda a reinterpreta e o último copia a autoria.
3) São listados os casos mais "toscos" de plágio no cinema, incluindo filmes como Avatar, O Artista e O Curioso Caso de Benjamin Button.
2. C U LT U R A
“Here’s Johny!”
Nem tudo é o que parece.
Um sorriso pode ser igual mas ser um Jack Nicholson,
é praticamente nascer de novo com o mesmo talento:
talvez sim, talvez não... ou melhor... impossível!!!
O cinema tem sofrido com cópias mal feitas, essas farsas
enriquecem negativamente a sétima arte. Essas “falsetas”
divertem apenas os que buscam entretenimento barato,
mas também suja um mercado tão querido, insultando
a arte de fazer filmes. Nesta reportagem falamos sobre
alguns casos que não só foram acusados de plágio como
até responderam a processos.
Clara Gibson e Felipe Belmonte
Clara Gibson e Dino Lucas
Felipe Belmonte
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CINEMA FALSO
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3. P
arte do que torna o filme um sucesso é a sua
originalidade. Mas como reconhecer quando um
filme é um plágio, uma citação, ou apenas uma
alusão? Como diferenciar a linha tênue que existe en-
tre esses três conceitos?
Pra começar, a citação consiste no ato de
transportar um trecho de uma obra dentro de uma
outra obra, sem alterar a individualidade das duas. Po-
demos visualizar esse intertexto, portanto, através de
uma tela – seja essa a de uma TV, um computador ou
um cinema – que projeta a obra homenageada. Temos
assim um filme dentro de um filme.
A alusão também é uma referência à outra
obra, só que mais velada. O filme homenageado não
é mais “puro” como na citação clássica, sendo agora
“contaminado” pela visão do novo diretor e pelo con-
texto da obra na qual foi inserido. O filme ao qual se
faz a alusão não é projetado numa tela secundária,
pois o que interessa é a estrutura de uma dada cena,
que será reelaborada de acordo com o desejo do di-
retor. A alusão, portanto, nada mais é do que o eco
de um filme passado, que só pode ser percebido a
depender do conhecimento prévio do espectador.
Citação e alusão têm um traço em comum, a
busca por uma referencia passada, porém diferem na
forma como decidem utilizá-la. Enquanto a citação
exibe o texto de origem mantendo-o intacto, a alusão
o reinterpreta, conservando somente o modelo origi-
nal, mas transformando o conteúdo de acordo com a
visão do diretor.
E o plágio? Entramos então numa questão mais
delicada. Em Hollywood, o que não faltam são acusa-
ções de plágio e muitos filmes já sofreram e sofrem
processos contra acusações desse tipo, mas, principal-
mente tratando-se de grandes produções, geralmente
acabam dando em nada, sendo assim esquecidas.
Mas pode-se dizer, por exemplo, que “Cães de
Aluguel” (Reservoir Dogs, 1992) de Tarantino, copia o
enredo de “Perigo Extremo” (City on Fire, 1987) de Rin-
go Lam? Ou ainda, não são excessivos os pontos em
comum entre “Kill Bill: Volume 1” (Kill Bill: Vol. 1, 2003)
e o pouco conhecido “Lady Snowblood” (Shurayukihi-
me, 1973)? O que dá direito aos irmãos Coen de se
inspirarem na obra de Dashiell Hammett, sem men-
cioná-lo nos créditos de “Ajuste Final” (Miller’s Cros-
sing, 1990)? Basta reconhecer a influência de “Paprika”
(Papurika, 2006) para que Christopher Nolan não seja
taxado de plagiário pelo seu “A Origem” (Inception,
2010)?
O plágio é quando alguém copia a obra de
outra pessoa e assume sua autoria, desconsideran-
do os créditos para o autor original. No cinema é
muito mais complicado perceber o plágio do que
num trabalho acadêmico, por exemplo, exceto
quando ele é muito evidente. BOX 4. Mas como
hoje em dia, os filmes se enquadram dentro de ou-
tros filmes, reciclando ideias e descontextualizando
diversos modelos de imagens, os autores passam a
produzir arte através de um processo que é mais re-
memorativo do que criativo, oferecendo uma obra
que agrada tanto às massas quanto aos críticos,
equilibrando a cultura pop e os elementos que re-
metem às obras Cult.
Para um filme alusivo não se tornar uma có-
pia de outro, é necessária uma mudança no foco da
película, um reajuste completo do eixo que guia a
história e seus personagens.
É normal, porém, citar os próprios ídolos,
seja de forma consciente ou não. Como disse certa
vez o escritor Neil Gaiman, muitos encontram suas
próprias vozes só depois de terem soado como
outras pessoas. Todavia, é importante relembrar o
lema de qualquer artista: faça boa arte, faça a sua
arte. S
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4. C U LT U R A
“CINE IN COPIUM” OSMAISTOSCOSAlusões, citações, plágio. Referências, homenagens, cópias. Boa fé, má fé... enfim. Há várias
formas de se falar a mesma coisa no que se refere a esses “acontecimentos”. Listamos os casos
mais contundentes nesses aspectos que falamos anteriormente e ao longo dessa reportagem.
Tenha pena do cinema, ache interessante... tire suas conclusões.
Eis os casos mais toscos de plágio no cinema. De tão toscos conseguem ser hilários e arrancar
sorrisos e despertar a curiosidade de quem vê. Descaradamente copiam os contextos e pu-
xam ao máximo da essência do personagem do filme original. É tanta cara de pau, que ainda
sim esses filmes possuem audiência. Pessoas assistem e esses copiadores hoje estão ricos. As
imagens falam por si.
Clara Gibson e Dino Lucas Felipe Belmonte
“HALLOWEEN – A NOITE DO TERROR” (HALLOWEEN, 1978)
Um exemplo de citação é a cena em que a protagonista Laurie, ao tomar con-
ta das duas crianças, assiste aos filmes que passam na TV: “O Planeta Proibido”
(1956) e “O Monstro do Ártico” (1951).
“SHREK 2” (2004)
Várias são as alusões presentes nessa animação: Homem aranha, A sociedade do
Anel, A um Passo da Eternidade, Flashdance, Alien, O Pecado Mora ao Lado, Mis-
são Impossível e Indiana Jones.
“AVATAR” (2009)
Esse recordista de bilheteria, além de colecionar alguns Oscars, coleciona também
acusações de plágio. James Cameron enfrentou processos para responder acusa-
ções como a de que o enredo do filme veio de Pocahontas, o roteiro de Dança
com os Lobos, os personagens pegos da história em quadrinhos Timespirits e o
argumento de ficção científica retirado de Call Me Joe.
“O ARTISTA” (THE ARTIST, 2011)
Enfrentou um processo contra a produtora francesa La Petit Reine e o roteirista
Christophe Valdenaire, autor do roteiro do longa metragem “Timidity, la Sympho-
nie du Petit Homme”, que foi idealizado em preto e branco e trata da transição do
cinema mudo para o falado. O autor afirma que o seu trabalho foi feito em 1998
e, portanto, o ganhador de cinco Oscars teria plagiado sua obra.
“O CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON” (THE CURIOUS CASE OF BENJA-
MIN BUTTON, 2008)
É informação oficial que o filme foi baseado num conto homônimo de F. Scott
Fitzgerald, mas a italiana Adriana Pichini acusa o filme de ter plagiado um conto
que escreveu, registrado na Itália em 1994 e enviado a editores dos Estados Uni-
dos, mas nunca publicado.
O CASO DE JOHN CARPENTER
No ano de 2079, ao ex-agente da CIA Marion Snow, condenado injustamente por um crime que nunca
cometeu, é dada a possibilidade de ser liberado. Em troca, Snow deverá recuperar a filha do presidente
dos EUA na prisão espacial MS One, cujo controle foi tomado por um grupo de prisioneiros rebeldes.
Esse é o enredo do filme “Sequestro no Espaço” (Lockout, 2012), escrito por Luc Besson.
Num alternativo ano de 1997, Nova York se tornou uma prisão de segurança máxima. Ao ex-agente Snake
Plissken, recentemente condenado à morte, é dada a possibilidade de ser liberado. Em troca, Plissken de-
verá recuperar o presidente dos EUA, que se encontra perdido entre as mortais ruas de Manhattan após
uma aterragem de emergência.
Esse é o enredo da obra-prima de John Carpenter, “Fuga de Nova York” (Escape from New York, 1981),
escrito por Nick Castle e pelo próprio Carpenter.
Obviamente, o diretor americano acusou de plágio a Europacorp, a produtora francesa de Luc Besson.
Surpreendentemente, o Observatoire européen de l’audiovisuel, órgão francês responsável por essas
questões, se pronunciou a favor da acusação movida por Carpenter, condenando a Europacorp a pagar
80.000 Euros, que foram repartidos entre o diretor, o roteirista e a produtora que detêm os direitos sobre
o filme.
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