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Norma Andrews: Microbiologista brasileira pioneira na investigação de patógenos intracelulares
1.
2. Foto: Joana Barros
p127
Norma
Andrews
TEXTO ANA SOUSA DIAS
DATA DA REPORTAGEM 12/2007
Norma Andrews, Universidade de Yale, 2007
Microbiologia
Brasil
3.
4. Foto tirada em 1998 com os membros do laboratório de Norma Andrews na Universidade de Yale, 2007 Foto: Joana Barros
5. Norma
Andrews
/ UNIVERSIDADE DE YALE, EUA
TEXTO ANA SOUSA DIAS
Queria ser como Darwin e por isso esco- que nasceu em 1954, foi daí que partiu aos
lheu o curso de História Natural. A vida foi 29 anos.
rápida a indicar-lhe o caminho: logo no ano Encontramo-nos num café simpático
a seguir o curso ganhou o nome de Biologia. em Nova Iorque, em torno de um chá bem
Norma Andrews, que queria fazer inves- quente. Tem uma beleza serena e simples,
tigação em Oceanografia ou em Ecologia, transmite a sensação de ser a pessoa com
«coisas ao ar livre», que tinha coleccionado quem gostaríamos de trabalhar: firme,
insectos e gostava de aventurar-se na selva, directa e com uma inteligência reconfor-
é professora de Patogénese Microbiana e tante. Filha de um médico brasileiro e de
Biologia Celular na Universidade de Yale, uma enfermeira norte-americana, cresceu
depois de ter sido investigadora assistente numa casa nos arredores de São Paulo, com
na Universidade de Nova Iorque. Fez o um terreno onde subia às árvores e conhe-
doutoramento em Bioquímica na mesma cia as manhas de animais perigosos. Hoje,
escola onde se licenciou, a Universidade de a cidade envolveu a casa e, sabiamente, as
São Paulo. Foi nesta grande cidade brasileira cobras afastaram-se.
«O meu pai sempre foi um cientista frus- «Foi sorte, porque eu achei aí um nicho e
trado, era cirurgião mas gostava muito de fiquei nisso o resto da carreira toda, usando
ciência, e dos três filhos eu era quem mais a Biologia Celular mas sem estudar só as
se interessava. Era sempre eu que ganha- células de mamífero, estudando como elas
va os jogos de química, o microscópio de interagem com os patógenos. Especializei-
brinquedo. A minha irmã é cientista social, -me em agentes infecciosos intracelulares.
tem um doutoramento em Ciência Política. Existem infecções com bactérias que nunca
E o meu irmão foi piloto de helicóptero mui- entram dentro das células, ficam fora. Mas
tos anos, está aposentado.» o meu trabalho é com as intracelulares,
No último ano da licenciatura, optou pe- tentando perceber como invadem e como
la Biologia Celular, por causa de um livro se replicam dentro das células.»
intitulado Cells and Organelles. «Nunca o Não se trata de vírus, porque o vírus «não
deitei fora, porque foi com ele que descobri é um organismo independente, é simples-
o que queria fazer. Quando vim para Nova mente uma capa de proteína que carrega
Iorque, descobri que o autor, Alex Novikoff, os genes e usa tudo da célula hospedeira».
era interessantíssimo, politicamente muito Mas «os parasitas e as bactérias são inde-
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activo no tempo do macarthismo e da caça pendentes, produzem factores para mudar
aos comunistas, quase teve de sair do país. o comportamento da célula hospedeira e
Não cheguei a conhecê-lo, infelizmente.» esta produz factores para tentar controlar
Norma Andrews fez a pós-graduação o crescimento dos deles».
num laboratório que trabalhava em parasi- Ao longo da evolução, as células de mamífe-
tas — mais exactamente em tripanossomas. ro e os parasitas — que existem habitualmente
1.Termo utilizado para descrever um episódio da história americana
(1950-1956) caracterizado por uma suspeição anticomunista
extrema e a perseguição desenfreada aos seus supostos apoiantes.
6. NORMA ANDREWS, MICROBIOLOGIA, p131
Foto: Jorge de Moura Andrews
Norma Andrews com 3 anos de idade, São Paulo, Brasil, em 1957
no organismo — chegaram a um equilíbrio, de fluorescência em verde e em vermelho — o
tal forma que os parasitas «não são destruídos parasita está marcado com uma cor, a cé-
nem ficam fora de controlo». O objectivo, diz lula com outra — e podemos fazer um filme
Norma Andrews, «é tentar apreender esses da interacção.
mecanismos, para poder inibi-los e fazer as «Fazemos bastante microscopia electró-
células de mamífero vencerem a batalha». nica, porque com microscópios normais
A investigação destes mecanismos é de- não se pode ver além de um certo ponto.
senvolvida basicamente de duas maneiras. Mas, com a microscopia electrónica, tem de
«Uma é pegar em células isoladas, tirar se trabalhar com células fixadas em tempos
células de ratinhos e colocá-las em cultura. diferentes se usarmos marcadores para de-
Analisamos quantos parasitas invadem a tectar as estruturas que queremos analisar.
célula ao longo do tempo, como sobre- Há técnicas sofisticadas de microscopia
vivem e se se reproduzem. Podemos usar electrónica em que se podem usar anticor-
vários mecanismos para inibir a função do pos marcando certas proteínas. Combina-
parasita ou da célula.» mos as diferentes técnicas. Na microscopia
Quando se encontra alguma coisa, con- electrónica, observa-se até ao nanómetro
firma-se o resultado com a experiência ani- [um milionésimo de milímetro] e em
mal. «Fazemos uma infecção nos ratinhos microscopia de luz só se consegue resolver
com os patógenos, depois de termos feito em mícrons [um milionésimo de metro]. A
um mutante, ou modificamos alguma coisa. microscopia electrónica dá 100 vezes mais
A experiência no animal é muito importante detalhes, mas tem o problema de ter de se
porque mostra se perderam, de facto, a fixar a célula.»
virulência — a faculdade de causar a doença.
«Temos microscópios muito sofistica- A curiosidade pode salvar o gato
dos, microscópios confocais de spinning É claro que um comum mortal, quando se
disc, em que podemos usar células vivas. sente doente, vai ao médico e, se tem uma
As células são marcadas com proteínas infecção, sabe que ele vai receitar-lhe um
fluorescentes e o microscópio analisa a antibiótico. Porque não paramos aí, porque