PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
WEBAULAS - Terapia Familiar Sistêmica - Cap 1.pdf
1. – –
U1 - Seção 1
Nossas reflexões iniciam-se sobre o pensamento sistêmico, com a discussão da noção de paradigma.
De alguma maneira, nas diferentes esferas do nosso cotidiano, podemos reconhecer a presença dos paradigmas,
presentes em múltiplos aspectos de nossas vidas, padrões ou visões de como deve ser o mundo e as regras necessárias
para que ele funcione.
Podemos dizer que em cada comunidade, povo, há um paradigma, uma forma de ver o mundo, que predomina, por
meio do qual as pessoas organizam seu cotidiano e criam explicações para os fenômenos da vida e da morte.
Para entendermos um pouco mais sobre paradigma, privilegiaremos os três períodos mais recentes da história do
mundo ocidental.
Para conhecer cada um deles, clique sobre os ícones a seguir.
Da Antiguidade até o fim da Idade Média.
Paradigma religioso
• A verdade existe em um plano superior, divino.
• O método é o aperfeiçoamento pessoal, enquanto a meditação é a dedicação religiosa.
• O conhecimento é sempre limitado, parcial, acessível a poucos e "iluminados".
• Conhecer é entrar em contato com o plano divino, é aproximar-se deste plano superior.
Do final da Idade Média até final da 1ª metade do séc. XX.
Paradigma científico / moderno
• A verdade está no mundo, regido por leis exatas, sendo possível um conhecimento total.
• Conhecer é ter a representação do mundo, um espelho da natureza, é ser especialista, saber tudo sobre algo.
• O conhecimento está acessível aquele que estuda as leis científicas.
• O método é o analítico, isto é, dividir em partes cada vez menores para compreender.
Início na 2ª metade do séc. XX, nos anos 1950 até atualidade.
Paradigma sistêmico
• A verdade absoluta não existe, o observador interfere no fenômeno observado.
• O conhecimento é construído na relação social e intermediado pela linguagem. Está acessível a quem se
dispuser ao diálogo, à intersubjetividade e à conversação.
• Conhecer é buscar compreender como os significados foram construídos. Não é possível um conhecimento
que seja uma representação, um espelho da natureza.
• O método é o dialógico, conversacional e reflexivo.
Para finalizarmos, é necessário lembrar que, embora em cada época um paradigma seja predominante, outros
podem estar e estão presentes concomitantemente. O pensamento sistêmico reconhece os antagonismos presentes
entre os paradigmas, busca um consenso das partes e a inclusão das diferenças na busca da superação dos dilemas.
U1 - Seção 2
O terapeuta era entendido como um observador externo ao sistema, e sua tarefa principal era detectar padrões
disfuncionais na família para prescrever modificações nas sequências interacionais e/ou nos padrões de hierarquia e
organizacionais das famílias.
Segundo Calil (1987, p. 30) pode-se dizer que Bateson, antropólogo e Jackson, psiquiatra, foram os primeiros a
desenvolver conceitos sistêmicos em relação ao comportamento humano, com a assistência e colaboração de Haley
e Weakland. Fonte: https://bit.ly/2m4dCvs. Acesso em: 3 jul. 2018.
2. 1950 - 1970
Trabalhos pioneiros sobre o pensamento sistêmico, entre as décadas de 1950 a 1970, traziam raízes teóricas em
comum, assim como a visão sobre o papel do terapeuta.
O terapeuta era entendido como um observador externo ao sistema, e sua tarefa principal era detectar padrões
disfuncionais na família para prescrever modificações nas sequências interacionais e/ou nos padrões de hierarquia e
organizacionais das famílias.
Naquela época, os conceitos-chave para as terapias passaram dos modelos causais lineares e deterministas para um
modelo circular. Nesse sentido, a família passa a ser vista como um sistema cibernético, ou seja, um sintoma que faz
parte dos mecanismos de equilíbrio (homeostase), e o entendimento da patologia passa a ser seu e não do indivíduo
(COSTA, 2011).
Gregory Bateson separou-se do grupo de pesquisa no final dos anos 1960 e Jackson fundou o Mental Research
Institute (MRI), na mesma cidade de Palo Alto, que se tornaria internacionalmente famoso por seus trabalhos com
famílias. Ao mesmo tempo, em outros lugares dos EUA, diferentes profissionais, em alguns momentos
desconhecendo o trabalho de seus colegas, também começaram a atender famílias dentro dos referenciais que,
atualmente, chamamos de sistêmicos.
Destacamos três tipos de terapias, clique nos boxes a seguir e conheça-os.
Terapia Familiar Estratégica
Os princípios gerais da Terapia Familiar Estratégica são:
1) Terapia com foco no sintoma que é trazido como problema pela família (mesmo que observe outros
comportamentos que poderiam ser traduzidos como problema pela equipe, estes não serão, a princípio,
objetos de abordagem).
2) Tradução do sintoma em termos de comportamentos (se uma família diz que o filho é hiperativo, os
terapeutas procuram descobrir quais são as ações deste filho que o levaram a essa definição: “ele não para
quieto”, “conversa com os colegas o tempo todo”, “não presta atenção em nada”, “não deixa espaço para os
demais”).
Terapia Familiar Estrutural
Em resumo, o terapeuta da Terapia Familiar Estrutural é orientado para a estrutura que busca:
1) Identificar e tipificar as fronteiras entre os subsistemas: existentes, inexistentes, existentes e definidas,
permeáveis ou impermeáveis.
2) Reorganizar a localização espacial da família durante as sessões, proporcionando uma experiência que
“perturba” a estruturação com que estão acostumados, buscando um rearranjo que continue após a terapia.
3) Redefinir as regras de funcionamento e poder dentro do sistema familiar.
4) Fortalecer o subsistema conjugal e parental.
Terapêutica de Milão
Os principais pontos do trabalho da Terapêutica de Milão são:
1) Atendendo famílias com pacientes esquizofrênicos, descobriram um padrão de interação que denominaram
de paradoxo, inspirados da Teoria do Duplo Vínculo de Bateson (elas buscavam tratamento, mas queriam
manter sua homeostase, a qual, por sua vez, fazia parte da gênese do problema).
2) Era uma terapia breve, em média 10 sessões quinzenais ou mensais.
3) Trabalham em grupo (time): o terapeuta – ou uma dupla, de preferência mista, um homem e uma mulher –
atendiam a família, e o resto do grupo observava atrás do espelho unidirecional.
4) Depois de um tempo, o(s) terapeuta(s) saia(m) da sala e discutia(m) o caso com o restante da equipe,
criava(m) hipóteses sobre a família e estabelecia(m) as diretrizes a serem passadas para a família. O(s)
terapeuta(s) retornava(m) à sala de terapia e comunicava(m) à família as ideias do grupo, e prescrições a
serem seguidas.
5) Não viam os sintomas como patologias isoladas, mas como algo importante para que a família mantivesse
sua homeostase.
3. Após a abordagem dos principais pontos dos três tipos de terapias destacadas nesta webaula,
podemos agora refletir sobre como ocorre a comunicação de cada escola terapêutica familiar sistêmica.
U1 - Seção 3
Os processos reflexivos e as práticas narrativas são escolas que prezam pela exibilização dos olhares ou dos pontos de
vista. Essas escolas consideram que o mundo é construído pelas pessoas que o constituem e têm como essencial a
postura de cooperação e colaboração, mantendo uma atitude de curiosidade legítima ou de “não saber” nas interações
e conexões com os sistemas familiares e redes sociais.
A terapia narrativa (ou abordagens ou práticas narrativas) assume que é impossível um conhecimento pleno e
universal das pessoas e do mundo em que vivemos. Só podemos ter acesso ao que experimentamos e às histórias ou
narrativas que contamos ou que nos são contadas a respeito do vivido.
As abordagens narrativas são mais do que técnicas, são maneiras diferentes de ver as pessoas e o mundo que as cerca.
De uma noção de um problema interno, individual, passamos para um conceito a partir do qual os problemas estão
nas histórias que dominam nossas vidas.
Após ter se dedicado a desconstrução do problema e a sua externalização, o terapeuta narrativo pode continuar a
conversação, pesquisando habilidades, capacidades e recursos da pessoa, em geral, pouco utilizados, mas que podem
ser recorridos no enfrentamento do problema externalizado.
O processo reflexivo leva em consideração que sempre enxergamos as coisas por um ponto de vista, destacando um
determinado contexto e não nos atentando a todo o resto. Considera ainda que duas pessoas podem descrever de
forma diferente a mesma imagem e isto pode levá-las a diferentes construções sobre aquele aspecto do mundo.
As terapias de família inspiradas nos processos reflexivos tendem a ser breves e o número de sessões pode variar. A
frequência entre as sessões pode ser semanal, quinzenal ou até mesmo mensal.
O entrevistador busca desconstruir as várias queixas (entender como cada um chegou aquele significado) e construir
um problema comum, consensual para o grupo atendido, sendo este o foco inicial da conversação terapêutica. Sugere-
se ainda que as reflexões sejam em forma de um diálogo e que nelas sejam incluídas mais perguntas do que afirmações.
Ao terminar sua fala, a equipe reflexiva volta para a postura de observador reflexivo. O entrevistador habitualmente
retoma a sessão com uma pergunta direta: gostariam de comentar e/ou falar mais sobre alguma coisa que ouviram? E
após todos terem se colocado e discutido suas ideias (se houver), o entrevistador pode apresentar suas reflexões para
a discussão.
Processos reflexivos e terapias narrativas podem ser considerados como posturas e abordagens complementares, os
quais farão parte da bagagem do profissional sistêmico.
Nesse contexto, o terapeuta sistêmico tem o papel de articular conversações, de mediar conflitos e de estimular as
pessoas envolvidas com o problema para que encontrem novos significados e novas narrativas não deficitárias.