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Vivá
Geografia
VOLUME 1 | ENSINO MÉDIO
IGOR MOREIRA
Licenciado em Geografia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professor no núcleo de pós -
graduação da Faculdade Porto-Alegrense (Fapa-RS).
Manual do Professor
1a edição
Curitiba, 2016
Vivá Geografia - Volume 1
© 2016 - Igor Moreira
Direitos de publicação
© 2016 Editora Positivo Ltda.
Direção de programas de governo e governança editorial Márcia Takeuchi
Gerência editorial Sandra Cristina Fernandez
Supervisão editorial Cláudia Carvalho Neves
Coordenação editorial e edição Jaqueline Paiva Cesar
Edição Flávia Garcia Penna
Elaboração de conteúdo Angélica Campos Nakamura, Elizabeth Auricchio,
Ivana Pansera
Leitura crítica Nádia Gilma Beserra de Lima
Autoria Igor Moreira. Reformulação dos originais de Igor
Moreira e Elizabeth Auricchio
Assistência editorial Emilia Yamada, Karina Miquelini
Revisão Kátia Scaff Marques (superv.), Maya Indra
Souarthes Oliveira, Edilene Rodrigues
Supervisão de arte Juliano de Arruda Fernandes
Edição de arte Alexandre Francisco da Silva Pereira, Juliana
Medeiros de Albuquerque
Capa Megalodesign
Projeto gráfico Pedro Gentile com ilustrações de Daniel Cabral
Editoração eletrônica Muiraquitã Editoração Gráfica
Supervisão de iconografia Janine Perucci
Iconografia Tassiane Tokarski, Jéssica Miara
Produção gráfica Danilo Marques da Silva
Dados Internacionais para Catalogação na Publicação (CIP)
(Maria Teresa A. Gonzati / CRB 9-1584 / Curitiba, PR, Brasil)
M838 Moreira, Igor.
Vivá : geografia : volume 1 : ensino médio / Igor Moreira – Curitiba : Positivo, 2016.
: il. (Coleção Vivá)
1. Geografia. 2. Ensino médio – Currículos. I. Título.
CDD 373.33
ISBN 978-85-467-0710-2 (Livro do estudante)
ISBN 978-85-467-0711-9 (Manual do professor)
1ª edição
2016
Todos os direitos reservados à
Editora Positivo Ltda.
R. Major Heitor Guimarães, 174
80440-120 – Curitiba – PR
Fale com a gente: 0800 723 6868
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Impressão e acabamento:
Gráfica Posigraf S.A.
R. Senador Accioly Filho, 500
81310-000 – Curitiba – PR
E-mail: posigraf@positivo.com.br
Apresentação
Caro estudante,
Vivemos num mundo cada vez mais complexo em todas as áreas: Relações Internacionais, Ciência, Tecnologia,
Economia. Hoje, um acontecimento particular se inscreve numa teia de relações de alcance globalizado. Estamos na
era do conhecimento, usado de modo intensivo em todas as esferas sociais, seja na escola, seja no trabalho, seja na
convivência cotidiana.
Como decifrar uma atualidade tão múltipla e em constante transformação? Como saber o que é mundo e como ele
funciona? Como formar alunos-cidadãos conscientes, capazes de atuar no presente e construir o futuro?
O objetivo desta coleção é contribuir com referências essenciais para que você possa ampliar seus conhecimentos,
de modo que compreenda as transformações do espaço geográfico como produto das relações socioeconômicas,
culturais e de poder.
Este primeiro volume aborda os fenômenos e processos responsáveis pela formação e transformação do espaço de
vida dos seres humanos. Trata-se de uma proposta de Geografia Geral em que se desenvolvem conceitos como
espaço geográfico, sociedade e natureza. Aborda a escala geológica, que diz respeito às transformações da Terra; a
dinâmica dos fenômenos físicos, com ênfase na discussão sobre os impactos causados pelas sociedades e as
possíveis soluções; as atividades econômicas e a transformação do espaço. Além disso, o livro apresenta elementos
de cartografia como mais uma linguagem para ajudá-lo a compreender o mundo em que vivemos.
O autor
Conheça seu livro
<imagem>
Abertura de unidade
Apresenta uma imagem ampla, relacionada com os assuntos que serão estudados na unidade. Contém um texto
introdutório e algumas questões para você refletir.
<imagem>
Abertura de capítulo
Os capítulos começam com uma imagem e um texto introdutório sobre os principais assuntos que serão abordados.
<imagem>
Ampliando o conhecimento
Apresenta infográficos que ampliam alguns temas relacionados aos conteúdos estudados ao longo dos capítulos.
<imagem>
Pensando bem
Propõe atividades para você checar o que aprendeu, retomar os conteúdos estudados e aprofundar seus
conhecimentos.
<imagem>
Para saber mais
Oferece informações complementares e interessantes sobre um conteúdo estudado no capítulo.
<imagem>
Conexões
Possibilita o aprofundamento de seus conhecimentos por meio de textos relacionados aos temas estudados no
capítulo.
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Para ler, pesquisar e assistir
Apresenta sugestões de livros, sites e filmes sobre os assuntos estudados.
Glossário
Apresenta o significado de palavras e expressões de difícil compreensão.
Texto & contexto
Traz questões para serem respondidas no caderno. Elas incentivam a interpretação de textos, fotografias, mapas,
tabelas e gráficos.
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Desafios & debates
Contém atividades diferenciadas para pesquisa, reflexão e debate sobre um tema.
<imagem>
Projeto
No final do volume, há um projeto que valoriza práticas de pesquisa associadas ao conhecimento geográfico e suas
relações com outras áreas do saber.
<imagem>
Índice remissivo
No final do volume, você encontra uma relação de conceitos, categorias e termos importantes para a Geografia e as
respectivas páginas em que as ocorrências são mais significativas.
Ícone
Interdisciplinaridade
Indica atividades e propostas interdisciplinares, para que você possa estudá-las de modo integrado com as demais
áreas.
Sumário
Unidade 1 Espaço e sociedade
CAPÍTULO 1
Sociedade, natureza e trabalho 10
A relação sociedade-natureza 11
As transformações técnicas e científicas 12
Concepção de natureza 14
A divisão do trabalho 16
Conexões 19
Pensando bem 20
Desafios & debates 22
CAPÍTULO 2
O espaço geográfico 24
Sociedade e trabalho 25
Espaço e poder 28
O espaço atual: um meio técnico-científico-informacional 30
Conexões 31
Pensando bem 32
Desafios & debates 34
CAPÍTULO 3
Espaço e conhecimento
cartográfico 36
A linguagem dos mapas 37
A representação da Terra 38
Cartografia e visões de mundo 43
Tipos de mapa 45
Escalas cartográficas 45
Símbolos e convenções cartográficas 47
Cartografia temática 48
Posição e orientação 49
Coordenadas geográficas 51
Sistema de fusos horários 54
A Cartografia em um mundo digitalizado 57
Conexões 61
Pensando bem 62
Desafios & debates 64
<imagem>
© Wikimedia Commons/Ghedoghedo
Unidade 2 Natureza e espaço geográfico
CAPÍTULO 4
Terra, tempo e
transformações 68
Big-bang: a teoria da grande explosão 69
Teoria da Acreção 69
Em busca de respostas: o estudo da Terra 70
Marcos da história da Terra 70
Descobrindo as camadas da Terra 72
Sociedade, natureza e recursos 77
Teoria da Deriva Continental 80
Quebra-cabeça planetário: as placas tectônicas 81
Conexões 83
Pensando bem 84
Desafios & debates 86
CAPÍTULO 5
A dinâmica da crosta terrestre 87
O deslocamento das placas 88
Os limites entre as placas 89
A crosta terrestre: grandes estruturas 94
Processos esculpidores do relevo terrestre 97
Solo: fonte de vida 103
A sociedade transforma o relevo 106
Classificação das formas de relevo 107
Conexões 109
Pensando bem 110
Desafios & debates 112
CAPÍTULO 6
Atmosfera e clima 114
Tempo e clima na Terra 115
A atmosfera 116
Água na atmosfera 122
Pressão atmosférica 124
A movimentação do ar 125
Dinâmica das massas de ar 127
Correntes oceânicas e climas 129
Climas da Terra 131
Climas do passado 134
Conexões 135
Pensando bem 136
Desafios & debates 138
<imagem>
Getty Images/Perspectives
CAPÍTULO 7
Biomas e paisagens vegetais 139
Bioma e ecossistema: há diferenças? 140
As paisagens vegetais 142
Processos e causas do desmatamento 148
Ampliando o conhecimento – Desmatamento
no mundo 150
Mudanças globais na vegetação 152
Conexões 155
Pensando bem 156
Desafios & debates 158
Unidade 3 Impactos ambientais
CAPÍTULO 8
Impactos ambientais e globalização 162
Cadê o ozônio? 163
Virando deserto 165
Perigo! Lixo radioativo 166
A água no planeta 168
Ampliando o conhecimento – Água 170
Conexões 175
Pensando bem 176
Desafios & debates 178
CAPÍTULO 9
Mudanças climáticas 179
Causas naturais da mudança climática 180
Refugiados do clima 185
Conexões 189
Pensando bem 190
Desafios & debates 192
CAPÍTULO 10
Problemas ambientais
urbanos e rurais 193
Desigualdades no campo e na cidade 194
Impactos ambientais urbanos 195
Impactos ambientais no campo 202
Conexões 205
Pensando bem 206
Desafios & debates 208
Unidade
As atividades
econômicas
e a transformação
do espaço
4
CAPÍTULO 11
Agropecuária, natureza
e tecnologia 212
Plantar e colher: os primórdios 213
Um período de mudanças 214
Agropecuária no mundo atual 216
Agronegócio 224
Organismos transgênicos 226
Agricultura orgânica 229
Alterações climáticas e agropecuária 231
Conexões 233
Pensando bem 234
Desafios & debates 236
CAPÍTULO 12
Indústria e produção do espaço
geográfico 237
Evolução da indústria 238
Indústria e cidades 239
Tipos de indústria 239
Classificação da indústria 240
Formas de organização do trabalho 241
A indústria no mundo 244
A nova divisão internacional do trabalho 252
Conexões 253
Pensando bem 254
Desafios & debates 256
CAPÍTULO 13
Comércio e serviços na
economia global 257
Importância do setor terciário 258
Economia global e comércio 260
Fluxos comerciais no mundo 262
Comércio internacional: algumas tendências 265
Circulação de capitais 270
Conexões 273
Pensando bem 274
Desafios & debates 276
Projeto: Pegada ecológica 277
Índice remissivo 282
Referências bibliográficas 285
unidade
1
Espaço e sociedade
A partir do momento em que o ser humano começou a modificar a natureza, o planeta Terra deixou de ter apenas
paisagens naturais para se transformar em espaço geográfico: um espaço humanizado, construído por meio do
trabalho.
À medida que mudam os instrumentos de trabalho, a sociedade também se modifica: surgem novas formas de pensar,
de morar, de se relacionar, entre outras.
Por isso, ao olhar uma paisagem, é importante refletir sobre o modo como vive a sociedade que a construiu e discutir
as novas formas de organização social que surgem com o avanço tecnológico. Esse é o desafio da primeira unidade
deste livro.
<imagem>
©iStockphoto.com/AYOTOGRAPHY
Vista parcial de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, em 2012.
Um primeiro olhar
Uma região produtora de algodão, de café ou de trigo. [...] Um centro urbano de negócios e as diferentes
periferias urbanas. Tudo isso são paisagens, formas mais ou menos duráveis. O seu traço comum é ser a
combinação de objetos naturais e de objetos fabricados, isto é, objetos sociais, e ser o resultado da acumulação
da atividade de muitas gerações.
SANTOS, Milton. Pensando o espaço do homem. 5. ed. São Paulo: Edusp, 2007. p. 53.
▸ Como e por que a ação humana transforma as paisagens?
▸ No lugar onde você vive, houve algum tipo de transformação na paisagem? Em caso afirmativo, cite um exemplo.
▸ Em sua opinião, como será , daqui a 20 anos, a paisagem do lugar onde você vive?
▸ Cite um exemplo de como o trabalho pode transformar a paisagem.
▸ De que modo o texto de Milton Santos está relacionado à imagem acima?
▸ Em sua opinião, por que a paisagem é “o resultado da acumulação da atividade de muitas gerações”?
Capítulo
1
Sociedade, natureza e trabalho
<imagem>
©GOOGLE EARTH/IMA G E ©2015 DIGITALGLO B E/D A TA SIO, NOAA, U.S. NAVY, NGA, GEBCO
Imagem de satélite do arquipélago artificial The World, com cerca de 300 ilhas organizadas à semelhança do mapa-
múndi, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, 2015.
A natureza é um patrimônio comum da humanidade, pois é fonte de vida para todos os seres humanos. Mas,
dependendo da sociedade, a natureza e o próprio trabalho podem ser encarados de maneiras absolutamente diversas.
Os grupos humanos, assim como todos os animais, agem sobre a natureza para obter alimento, abrigo e proteção,
satisfazendo suas necessidades. No entanto, há uma grande diferença entre a ação do ser humano e a dos demais
animais. Estes têm apenas necessidades básicas, que permanecem sempre as mesmas, e já nascem intuindo o modo
de agir. Os grupos humanos, ao contrário, por terem razão (ou inteligência avançada), refletem sobre sua ação, planejam,
inventam, preveem resultados e, com isso, criam conhecimento e desenvolvem cultura.
Nessa medida, as necessidades humanas aumentam, diversificam-se e variam no tempo e no espaço, bem como a
maneira de satisfazê-las. Daí a diversidade de formas nas paisagens.
A relação sociedade-natureza
Nos primórdios da humanidade, a natureza era pouco modificada pelos grupos humanos, pois eles viviam da coleta,
da caça e da pesca. Muito dependentes das condições naturais, andavam de um lugar para outro à procura de meios
para sua sobrevivência.
Atualmente, a natureza tem sido cada vez mais modificada. Os seres humanos derrubam florestas e semeiam
lavouras, removem morros e abrem túneis, aterram enseadas e constroem cidades, entre outras ações.
A ação humana exige um saber cada vez maior sobre a natureza, tanto com relação aos elementos que a constituem
quanto aos mecanismos do seu funcionamento. Daí o avanço do conhecimento, que alimenta a ideia de domínio da
sociedade sobre a natureza.
Hoje em dia, essa ideia parece estar consagrada por muitas pessoas, pois ainda predomina uma concepção de
mundo na qual ser humano e natureza estão desvinculados um do outro, absolutamente separados e contrapostos: o
ser humano, dotado de inteligência, é capaz de dominar a natureza para dela retirar tudo de que necessita. Por sua
vez, como simples fonte de recursos, a natureza oferece todos os elementos necessários à sobrevivência do ser
humano – os chamados recursos naturais.
Vista dessa maneira, a relação do ser humano com a natureza é sempre mediada pelo trabalho, entendido como a
atividade de transformar os elementos naturais em bens capazes de satisfazer as necessidades humanas. Um exemplo
dessa transformação pode ser observado nas fotos a seguir. Nesse sentido, qualquer ação dos seres humanos é um
trabalho, seja o simples gesto de colher um fruto, seja a complexa operação de montar um computador, cujas peças
são feitas com material extraído da natureza. Assim concebido, o trabalho define-se como o “fazer produtivo”.
O que é natureza?
Marcos Bernardino de Carvalho. São Paulo: Brasiliense, 1999.
O livro aborda as relações, ao longo da História, entre os seres humanos e deles com o meio ambiente.
Recurso natural: elemento da natureza aproveitado pelas sociedades para suprir suas necessidadesemdeterminado tempo e espaço. Pode ser
de dois tipos: renovável(que se multiplica por si ou não se esgota facilmente) ou não renovável(que se esgota depois de aproveitado pelo ser
humano).
<imagem>
Getty Images/Bloomberg/Simon Dawson
Trabalhadoras em fábrica de computadores em Pencoed, País de Gales, 2013.
humano).
<imagem>
Glowimages/AFP
Colheita manual de caju em Kapa, perto de Farim, Guiné Bissau, 2012.
As transformações técnicas e científicas
As intervenções na natureza e as consequentes modificações nela introduzidas pelas sociedades dependem das
técnicas. Por sua vez, a técnica, isto é, o modo de fazer algo, envolve os instrumentos de trabalho a serem usados na
ação. Instrumentos simples, como o machado e o arado, propiciam alterações modestas na natureza. Já instrumentos
aperfeiçoados, como a motosserra e o trator, provocam alterações mais expressivas.
Movida por interesse ou por alguma necessidade, a sociedade pode conceber novas técnicas e construir outros
instrumentos para aumentar o rendimento de seu trabalho.
O fim da Idade Média foi um tempo de importantes progressos e descobertas. Muitas das invenções desse período
continuam presentes nos dias atuais, como os óculos e o botão. Nessa época, na Europa, diante da necessidade de
aumentar a produtividade e das constantes crises advindas da falta de alimentos, foram promovidas importantes
inovações técnicas: a adoção de novo mecanismo de tracionar o arado, a prática da rotação trienal de cultivos e a difusão
do moinho de água, conhecido desde a Antiguidade.
<imagem>
LatinStock/Science Photo Library/King’s College London
Georg Andreas Böckler. Theatrum machinarum novum, 1662. Nessa gravura, produzida no século XVII, é possível
observar um moleiro moendo grãos em um moinho
de água.
Ciência Hoje
<http://cienciahoje.org.br>.
Acesso em: 29 jun. 2017.
Divulga, por meio de reportagens e notícias, a produção científica brasileira. Trata das mais variadas áreas da ciência, como Geografia, Biologia,
Astronomia, Engenharia e Física.
Idade Média: período da História entre a Antiguidade e a Idade Moderna, ou seja, o intervalo que compreende o século V ao XV.
<imagem>
ilustrações: Getulio Delphim/Arquivo da editora
Rotação trienal é o sistema agrícola que consiste em dividir a terra em três lotes, usando-os, alternada e
sucessivamente, com culturas diferentes, como trigo e centeio, e o pousio – período de descanso de um dos lotes ou
parcelas, enquanto os outros dois continuam a produzir. O objetivo desse sistema é poupar o solo do esgotamento,
sobretudo das culturas que exaurem muito a terra. Completa-se um rodízio a cada três anos.
Elaborado pelo autor para fins didáticos.
Desafios e necessidades
As inovações técnicas trazem, em geral, novos problemas à sociedade, representando novos desafios e a
consequente necessidade de resolvê-los. Disso resulta a evolução da técnica, ou seja, a sucessão de novas
formulações do fazer humano. A invenção do automóvel, no século XIX, por exemplo, trouxe a necessidade de uma
roda compatível com esse meio de transporte: o pneu foi inventado dois anos depois.
Atualmente, os instrumentos de trabalho tornam-se mais complexos e, em muitos casos, deixam de ser
prolongamentos da mão do ser humano para constituírem verdadeiras próteses impostas à natureza. Assim, por
exemplo, para obter a força hidráulica necessária ao funcionamento das turbinas de uma usina hidrelétrica, as águas
de um rio são represadas e formam um lago e uma queda-d’água artificiais.
Portanto, as inovações técnicas e o aperfeiçoamento dos instrumentos de trabalho imprimem progresso aos
mecanismos de apropriação da natureza, o que significa maiores modificações e domínio mais intenso sobre o mundo
natural.
A concepção de domínio do ser humano sobre a natureza teve como marco fundamental o advento do capitalismo,
nos séculos XV e XVI. A partir daí, as atividades passaram a se voltar à venda dos produtos, com o objetivo de obter
lucro.
Esse sistema econômico baseia-se na influência ou no predomínio do capital, isto é, todo bem passível de ser
aplicado na produção ou capaz de gerar renda a ser usada para obter nova produção. Tradicionalmente, o capitalismo
é caracterizado pela existência de dois grandes segmentos: os donos do capital (equipamentos, máquinas, etc.) e
aqueles que só dispõem de sua força de trabalho para sobreviver.
<imagem>
Natureza Brasileira/Zig Koch
Sobradinho, situado nos municípios de Sobradinho e Casa Nova, é o principal reservatório de água da Bahia e um
dos maiores lagos artificiais do mundo. Foto de 2012.
Para saber mais
História do pneu
Quando se fala de pneu, tem-se a impressão de que ele mudou pouco [...]. No início os automóveis seguiam o princípio
das carruagens, que usavam aros de ferro ou madeira, até que, [...] em 1843, começaram a ganhar aros revestidos de
borracha. Ainda assim, eram duros e se quebravam com facilidade.
A solução só surgiu três anos depois [...]. Robert William Thomson criou em 1846 a bolsa de ar sobre a qual os
carros se deslocariam no futuro, o pneumático. Tornava os pneus mais duráveis e resolvia de vez o problema da falta
de conforto. Mas, por falta de matéria-prima de qualidade, Thomson desistiu da ideia e passou a recobrir as rodas
com aros de borracha maciça. “Imagine um pneu que não se adapta a uma pedra na estrada, por exemplo. Em vez
de absorver seu formato, ele sobe nela, deslocando toda a massa do veículo. Era isso que tornava a rolagem mais
difícil”, diz Argemiro Luís de Aragão Costa, engenheiro da SAE, instituição que congrega os engenheiros
automotivos.
Em 1888, o veterinário escocês John Boyd Dunlop adaptou pneus no triciclo do seu filho (na verdade, um t ubo
cheio de ar atado ao aro por fitas) e fez tanto sucesso que fundou a primeira fábrica de pneus do mundo. [...]
RUFFO, Gustavo Henrique. A história do pneu. Quatro Rodas, São Paulo, abr. 2009. Disponível em: <http://quatrorodas.abril.com.br/autoservico/reportagens/historia-
pneu-476615.shtml>. Acesso em: 20 out. 2015.
Concepção de natureza
O aumento da produtividade, com o consequente incremento da oferta de mercadorias, e a formação de um mercado
mundial foram fatores importantes para o desenvolvimento inicial do capitalismo. O mercado mundial constituiu-se a
partir das Grandes Navegações, que se tornaram possíveis graças a inovações técnicas ocorridas na navegação
marítima da época (leia o boxe Para saber mais, abaixo).
A descoberta de novos continentes – novas áreas a serem exploradas – e a sobrevalorização da inteligência a
serviço da técnica contribuíram para a ideia de que o controle do ser humano sobre a natureza tinha possibilidades
ilimitadas. Cada vez mais o mundo natural era visto somente como fonte de recursos para as atividades econômicas
e, ainda, como manancial inesgotável.
O desenvolvimento da chamada ciência moderna, nos séculos XVI e XVII, contribuiu igualmente para a construção
dessa concepção pragmática de natureza, na medida em que o saber científico, prático, era aceito como a única forma
de conhecimento, e o conhecimento de tudo o que fosse externo ao ser humano significava controle e domínio,
principalmente sobre o mundo natural.
Ciência moderna: nos séculos XVIe XVII, por meio de vários estudosrealizadosnas áreasde Astronomia, Medicina, Matemática e Física, construiu-se
a concepção de que o verdadeiro conhecimento é realizado pela observação,pela experimentação e pela demonstração de umobjeto de estudo, com
o emprego de um método adequado a tais finalidades. Oser humano, o sujeito que conhece, aplica determinado método sobre o objeto a ser
conhecido. Rompia-se, assim, coma ideia anterior de conhecimento, o qualderivava, sobretudo, da especulação filosófica. Entre os principais
expoentes da época, cabe destacar Nicolau Copérnico, Galileu Galilei, Roger Bacon e René Descartes.
Pragmático: aquilo que pode ter um efeito prático qualquer. Opragmatismo, doutrina filosófica do fimdo século XIX e início do século XX, caracteriza-
se por enfatizara necessidadede aplicar as ideias comumpropósito, por encarara verdade do ponto de vista da utilidade e por considerar o
pensamento um guia para a ação.
Para saber mais
O mapa do céu espelhado no mar
A navegação baseada na observação astronômica – a astronáutica – era indispensável para a navegação no
Atlântico, especialmente no retorno a Portugal no fim das longas viagens inauguradas na segunda metade do século
XV. [...] Orientar-se numa Terra ainda sem mapas dependia diretamente de saber ler e usar o mapa do céu
espelhado no mar, caminho que apenas a experiência, associada ao conhecimento, poderia estabelecer.
Assim, ao partir, os navegadores tomavam a altura mediana de uma estrela. Depois de fixar essa altura,
calculavam a distância vencida a partir de nova observação do mesmo astro, feita mais adiante,
equivalendo cada grau a 16 léguas e dois terços.
[...]
[A observação] dos astros dependia de vários instrumentos, entre os quais se destacava o astrolábio. O
astrolábio, cuja invenção tem sido atribuída aos gregos (Apolônio de Perga, séculos II-III a.C., ou Eudoxo
de Cnido, século IV a.C.), chegou através dos árabes aos astrólogos medievais. Depois de várias
adaptações, o astrolábio plano acabou se transformando no principal instrumento usado pelos navegadores
portugueses [...].
MICELI, Paulo. A oficina do cartógrafo. In: O tesouro dos mapas:
a Cartografia na formação do Brasil. São Paulo: Instituto Cultural
Banco Santos, 2002. p. 130-131.
<imagem>
LATINSTOCK/ALBUM/AKG-IMAGES/RABATI – DOMINGIE
Astrolábio árabe produzido no século IX. Esse instrumento, usado pelos navegantes em suas viagens a partir do século XV, cons iste em um disco de metal ou madeira.
Era utilizado para determinar a altura do Sol e de outros corpos celestes
A ideia de que a única relação sociedade-natureza é aquela intermediada pelo trabalho e que este representa o
processo de transformação dos elementos naturais em coisas úteis para a vida humana tem uma origem histórica
conhecida. O fato de grande parte da humanidade ter desenvolvido essa concepção explica-se pela universalização
dos valores ocidentais, impostos há vários séculos. Mas não se deve desconsiderar as culturas que, ainda hoje,
apresentam uma concepção de natureza absolutamente diversa da nossa. Há membros de algumas sociedades,
por exemplo, que se sentem completamente integrados ao mundo natural, não cabendo entre eles sequer a distinção
ser humano versus natureza.
Para determinadas sociedades antigas, ou mesmo para algumas culturas ainda existentes, a natureza é fonte de
vida, mas não somente no que diz respeito ao fornecimento de recursos para a subsistência. Para elas, a natureza
apresenta-se sacralizada, o que significa que tais povos moldaram sua cultura, sua ideia de religião e sua visão de
mundo com base nos elementos naturais.
Tomemos, por exemplo, uma aldeia indígena cujos membros trabalhavam seis horas por dia para obter o necessário
à sua sobrevivência. Com a utilização do machado, passaram a trabalhar apenas três horas, aproveitando as demais
para aumentar o tempo dedicado a jogos, cantos e outras atividades de recreação. Isso porque os indígenas concebem
o trabalho somente como um meio de satisfazer suas necessidades básicas. Além disso, suas atividades são
desenvolvidas, muitas vezes, de maneira lúdica, e não somente como imposição ou obrigação da vida em sociedade.
No entanto, se a inovação ocorresse em outra sociedade, o uso do novo instrumento garantiria a subsistência com
três horas de trabalho, e as outras três seriam destinadas a aumentar a produção, com o intuito de obter um excedente
para venda. Afinal, a concepção de trabalho que está por trás da busca pelo excedente é justamente aquela do trabalho
produtivo.
Pelos exemplos, pode-se perceber uma grande diferença entre uma sociedade e outra no que se refere à
transformação da natureza: enquanto muitos indígenas a modificam pouco, outras sociedades a alteram cada vez mais,
chegando a destruí-la em alguns aspectos. A construção de barragens, por exemplo, implica a inundação de grandes
extensões de terra, que, na maioria dos casos, fic-arão submersas para sempre.
<imagem>
Pulsar Imagens/Renato Soares
Abertura dos VIII Jogos Indígenas Pataxó, em Porto Seguro (BA), 2014
Texto & contexto
1. Imagine duas situações: um grupo de indígenas trabalhando em uma aldeia da Amazônia para produzir farinha de
mandioca e uma linha de montagem de aparelhos eletrônicos na Zona Franca de Manaus. Que concepções de
trabalho e de natureza estão por trás de cada uma dessas situações?
2. Em sua opinião, onde ainda é possível encontrar sociedades em que diferentes modos de vida se integram
harmoniosamente com a natureza? Justifique.
A divisão do trabalho
A primeira grande inovação do capitalismo foi promover a divisão do trabalho para melhorar a produtividade e
aumentar a produção de bens, agora entendidos como mercadorias, uma vez que se destinam ao mercado.
Ao contrário do que ocorre no artesanato, em que um mesmo trabalhador realiza todas as operações produtivas, na
divisão do trabalho, há uma decomposição do processo de produção, ou seja, cada operação ou tarefa é feita por um
ou mais trabalhadores.
Ao ser introduzida, inicialmente em várias localidades da Europa, a divisão do trabalho propiciou o aumento da
produtividade porque:
▸ poupou o tempo desperdiçado pelo trabalhador ao passar de uma tarefa para outra;
▸ possibilitou a especialização do trabalhador, agora dedicado a uma só tarefa;
▸ estimulou a invenção de ferramentas especialmente adaptadas a cada tipo de trabalho.
Mercado: reduto ou instância da sociedade em que se processamoferta e procura (demanda) de bens e serviços, inclusive capitais e mão de obra.
Pode ser local, regional, nacional ou internacionale, ao mesmo tempo, é dividido em setores: mercado de capitais, de trabalho, de produtos
agropecuários, etc.
<imagem>
Fotoarena/La Imagem/Rodolfo Buhrer
O uso da tecnologia e a especialização da mão de obra estão presentes na moderna divisão do trabalho. Na foto,
linha de produção de indústria automobilística em São José dos Pinhais (PR), 2015.
Samsara
Direção de Ron Fricke. Estados Unidos: Mark Magidson, 2011. 102 minutos.
Documentário que mostra o mundo e sua diversidade por meio de belas imagens e paisagens. Nele, há também cenas instigantes que levam ao
questionamento dos padrões de produção e consumo da sociedade atual.
Para saber mais
Divisão territorial do trabalho
A divisão do trabalho que ocorre no interior de uma fábrica ou na sociedade como um todo (operários, professores,
comerciantes, pedreiros, etc.) acontece também no espaço geográfico, ou seja, no espaço produzido pela sociedade.
Se você observar mapas econômicos de determinados países, verá que há áreas do território mais utilizadas para
a pecuária; em outras, predomina a agricultura; outras, ainda, apresentam grande concentração de indústrias; etc.
Existe, enfim, uma repartição espacial das atividades econômicas, que implica na chamada divisão territorial do
trabalho.
Em geral, essa diferenciação regional ocorre por motivos históricos e vinculados a interesses econômicos. Tais
interesses podem estar ligados a fatores naturais e também à localização estratégica.
O trabalho como mercadoria
Quanto mais complexa a economia de determinado país, mais o trabalho individual torna-se insuficiente para
responder às necessidades gerais do próprio indivíduo.
A divisão social do trabalho faz com que a tarefa individual seja só uma pequena parcela do processo de
reprodução geral da sociedade. Entre alguns povos indígenas, por exemplo, toda a divisão do trabalho é visivelment e
percebida por todos, o que é impossível em outras sociedades, particularmente nas grandes cidades.
Hoje, não se fala mais somente em pastores e agricultores; existem pedreiros, motoristas, médicos, advogados,
professores, analistas de sistemas, web designers, empregadas domésticas e um grande número de outros
profissionais.
Tempos modernos
Direção de Charles Chaplin. Estados Unidos: United Artists, 1936.
83 minutos.
O filme retrata a vida de um operário que trabalha na linha de produção de uma fábrica no início do século XX. De forma leve e divertida, mostra
a triste realidade desse trabalhador e faz uma forte crítica, ainda atual, à sociedade.
<imagem>
Criar Imagem/Fernando Favoretto
Motorista de ônibus em São Paulo (SP), 2012.
<imagem>
Pulsar Imagens/Luciana Whitaker
Professora em sala de aula no município de Rio das Flores (RJ), 2014.
O desenvolvimento do capitalismo, que acelerou a especialização da produção,
monetarizou e intensificou as relações comerciais e tornou a produção voltada quase exclusivamente para a venda.
Também levou o ser humano a ser menos responsável individualmente pela satisfação de suas necessidades básicas,
tornando-se, nessa condição, mais uma mercadoria, dotada de valor de troca no mercado de trabalho.
Nas sociedades modernas, portanto, as pessoas, por meio do trabalho, e a natureza, pelas matérias -primas e pelos
elementos que oferece, transformaram-se conjuntamente em mercadoria. Com relação a isso, as pessoas não têm
mais controle direto sobre seu trabalho nem sobre o fruto dele. Tornaram-se mais dependentes e, contraditoriamente,
mais isoladas e sozinhas.
A atual civilização ocidental, moldada pela indústria e, sobretudo, pelo capital financeiro, fez as sociedades
dependerem menos das forças naturais e mais de suas próprias criações.
Monetarizar: instituir a moeda ou o dinheiro – meio de transferência de riquezas – como padrão de referência para as atividades e transações
econômicas, particularmente salários e preços.
Texto & contexto
1. As inovações técnicas trazem, geralmente, novas soluções e também problemas à sociedade. Você concorda com
essa afirmação? Responda à questão e dê exemplos com base na observação das paisagens do município onde
você vive.
2. O ser humano deve dominar a natureza e dela extrair tudo de que necessita. Que concepção de mundo está
subentendida nessa afirmação?
Limitações da natureza
A atividade dos grupos humanos, por mais transformadora que seja, não chega a eliminar a ação das forças
naturais.
Em vários aspectos, a natureza se apresenta como fator limitante às atividades humanas. Por exemplo: quando se
prevê a atuação devastadora de um maremoto ou de um tsunami, podem-se tomar diversas medidas para neutralizar
ou reduzir seus efeitos destrutivos, porém nunca para eliminar a ação do fenômeno; as estações do ano são
importantes para o ciclo das lavouras; a construção de pontes e túneis nas estradas é uma adequação às condições
naturais do terreno; etc.
Diante das limitações impostas por fatores naturais, várias têm sido as soluções encontradas pelas mais diferentes
sociedades no decorrer da História. Tais soluções revelam não só o grau de desenvolvimento tecnológico, mas também a
forma de agir e pensar dos agrupamentos humanos. O estudo da natureza, portanto, permite desvendar muitos aspectos
da realidade social.
Marcovaldo ou as estações na cidade
Ítalo Calvino. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
Marcovaldo é um operário que busca a natureza a todo instante. Observa detalhes que persistem em meio à cidade e sente as mudanças das
estações do ano, alheio ao ambiente urbano e à sociedade de consumo em que vive.
<imagem>
LatinStock/Reuters/Kyodo
Em 11 de março de 2011, um enorme tsunami atingiu a costa leste do Japão, provocado por um terremoto de forte
intensidade.
Para saber mais
Defesa civil
A proteção e defesa civil no Brasil está organizada sob a forma de sistema, denominado de Sistema Nacional de
Proteção e Defesa Civil – Sinpdec –, composto por vários órgãos.
A Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil – Sedec –, no âmbito do Ministério da Integração Nacional, é o
órgão central desse sistema, responsável por coordenar as ações de proteção e defesa civil em todo o território
nacional.
Sua atuação tem o objetivo de reduzir os riscos de desastres. Também compreende ações de prevenção,
mitigação, preparação, resposta e recuperação e se dá de forma multissetorial e nos três níveis de governo – federal,
estadual e municipal –, com ampla participação da comunidade. [...]
O município deve estar preparado para atender imediatamente a população atingida, reduzindo perdas materiais e
humanas. Por isso, a importância de cada cidade criar um órgão que trate da redução dos riscos e da eficácia na
resposta imediata aos desastres.
Há uma grande diversidade de desastres naturais, humanos e mistos [...].
A realidade brasileira, neste contexto de desastres, pode ser caracterizada pela frequência dos desastres naturais
cíclicos, especialmente as inundações em todo o país, seca na região Nordeste e um crescente aumento dos
desastres humanos, devido ao crescimento urbano desordenado, às migrações internas e ao fenômeno da
urbanização acelerada sem a disponibilidade dos serviços essenciais.
Em um cenário de extensão continental, [...] o Brasil apresenta-se com características regionais de desastres,
onde os mais prevalentes são:
Técnico em defesa civil: atua na prevenção e na proteção contra desastres, buscando minimizar perdas materiais e,
sobretudo, humanas.
<imagem>
Ilustrações: Edição de arte/Arquivo da editora
MINISTÉRIO da Integração Nacional. Disponível em: <http://www.mi.gov.br/web/guest/sedec/apresentacao>. Acesso
em: 21 out. 2015.
Conexões
Geógrafo e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Ruy Moreira (1941-) é considerado um dos
expoentes da renovação da ciência geográfica no Brasil. Publicou vários livros dedicados à história do pensamento
geográfico e aos conceitos fundamentais da Geografia. No texto a seguir, discorre sobre o espaço geográfico como
produto do trabalho social. Leia-o com atenção e, depois, faça o que se pede.
O espaço como produto social
[...]
Pelo que já se deu a entender, o espaço não é suporte, substrato ou receptáculo das ações humanas. E não se
confunde com a base física. O espaço geográfico é um espaço produzido.
Nele a natureza não é mera base ou parte integrante. É uma condição concreta de sua produção social. E isso
porque a natureza é uma condição concreta da existência social dos homens. Conquanto a “primeira natureza” não
seja o espaço geográfico, não há espaço geográfico sem ela.
Sobre esse assunto, [...] vale lembrar que, de todos os objetos existentes num arranjo espacial, os de ordem
natural são os únicos que não derivam do trabalho social.
[...]
O caráter social do espaço geográfico decorre do fato simples de que os homens têm fome, sede e frio,
necessidades de ordem física decorrentes de pertencer ao reino animal, ponte de sua dimensão cósmica. No entanto, à
diferença do animal, o homem consegue os bens de que necessita intervindo na “primeira natureza”, transformando-a.
Transformando o meio natural, o homem transforma-se a si mesmo. Ora, como a obra de transformação do meio é uma
realização necessariamente dependente do trabalho social (a ação organizada dos homens em coletividade), é o
trabalho social o agente de transformação do homem de um ser animal para um ser social, combinando esses dois
momentos em todo o decorrer da história humana. [...]
Decorre disso que a formação espacial deriva de um duplo conjunto de interações, que existem de forma
necessariamente articulada: a) o conjunto das interações homem-meio; e b) o conjunto das interações homem-
homem. Tais interações ocorrem simultânea e articuladamente, sendo, na verdade, duas faces de um mesmo
processo.
O caráter simultâneo e articulado dessas interações pode ser expresso nos seguintes termos: os homens entram
em relação com o meio natural através das relações sociais travadas por eles no processo de produção de bens
materiais necessários à existência. Engels já observava que os homens entram em relações uns com os outros
através do trabalho de transformação da natureza. Não haveria relações sociais se não houvesse a necessidade de
os homens transformarem o meio natural em meio de subsistência ou de a este chegarem por meio do trabalho.
[...]
MOREIRA, Ruy. Pensar e ser em Geografia: ensaios de história, epistemologia e ontologia do espaço geográfico. São Paulo: Contexto, 2007. p. 65 -66.
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Pulsar Imagens/Alexandre Tokitaka
Plantação de alface orgânica no município de Ibiúna (SP), em 2015. O ser humano altera a paisagem para suprir
suas necessidades, como a produção de alimentos.
Responda no caderno
1. Em sua opinião, o que o autor quer dizer com a expressão “primeira natureza”?
2. Por que o espaço geográfico tem caráter social? De que depende sua transformação?
3. De que resultam as formações espaciais?
Pensando bem
Responda no caderno
1. O texto a seguir diz respeito à descoberta do ser humano sobre como controlar e usar o fogo. Leia-o com atenção
e, depois, responda às questões.
A descoberta que mudou a humanidade
Há centenas de milhares de anos, nas noites frias de inverno, a escuridão era um grande inimigo. Sem a lua cheia, a
negritude da noite, além de assustadora, era perigosa. Havia muitos predadores com sentidos aguçados e que
poderiam atacar facilmente enquanto dormíamos. O frio intenso era outro inimigo. Não eram fáceis os primeiros passos
da humanidade, dados por antepassados muito diferentes de nós.
Até que, um dia, talvez ao observar uma árvore atingida por um raio, os hominídeos primitivos descobriram algo
que modificaria completamente o rumo da nossa evolução: o fogo. Ao dominar essa entidade, foi possível se
aquecer, proteger-se dos predadores e ainda cozinhar os alimentos. Como nenhuma outra criatura do nosso planeta,
conseguimos usar a nosso favor um fenômeno natural para ajudar a vencer as dificuldades diárias.
Com o fogo, a noite já não era mais tão perigosa e diminuía a necessidade de se esconder ou lutar. Acredita-se
que a descoberta de seu uso tenha agido diretamente sobre a nossa forma de pensar, pois permitiu mais tempo para
pensarmos. [...]
A importância da utilização do fogo como instrumento de transformação da nossa sociedade se acelerou com o
progresso da cultura humana. Além de fornecer conforto térmico e melhorar a preparação de alimentos, ele desde
cedo foi usado em rituais dos mais diferentes povos, na fabricação de armas (até os dias atuais), na produção de
novos materiais (ajudando a fundir metais, por exemplo) e como fonte de calor para máquinas térmicas. [...]
OLIVEIRA, Adilson de. A descoberta que mudou a humanidade. Ciência Hoje, 16 jul. 2010.
Disponível em: <http://www.cienciahoje.org.br /noticia/v/ler /id/2785/n/a_descoberta_que_mudou_a_humanidad e>. Acesso em: 29 jun. 2017.
a) A qual técnica desenvolvida pelo ser humano o texto se refere? O que isso possibilitou?
b) O que o autor quis dizer com a frase: “Acredita-se que a descoberta de seu uso tenha agido diretamente sobre
a nossa forma de pensar, pois permitiu mais tempo para pensarmos”?
c) Em sua opinião, o controle do fogo pelo ser humano ainda é importante nos dias de hoje? Por quê?
d) Com relação aos objetos que fazem parte do seu cotidiano, quais deles não existiriam caso o ser humano não
tivesse desenvolvido técnicas para dominar o fogo? Cite, ao menos, dois exemplos.
2. Você já imaginou como o ser humano se guiava em longas viagens sem ter à disposição equipamentos modernos de
navegação? Apesar de não existir GPS, por exemplo, havia outros equipamentos que auxiliavam os exploradores em
suas viagens. Além disso, eles observavam atentamente o céu, a posição do Sol, da Lua e das estrelas.
Para conhecer um pouco mais sobre esses equipamentos, reúnam-se em grupos de quatro alunos e pesquisem,
em livros, enciclopédias, revistas e/ou na internet, informações sobre um destes objetos:
▸ gnômon;
▸ astrolábio;
▸ sextante;
▸ quadrante mural;
▸ bússola.
Sigam o roteiro abaixo.
a) Como o objeto em questão funciona?
b) Quem o utiliza?
c) Qual é sua importância?
d) Que conhecimentos e técnicas são necessários para sua utilização?
e) Procure uma foto ou crie uma ilustração do objeto.
Após a pesquisa, confeccionem cartazes para apresentar os resultados aos demais colegas de sala.
3. Leia o trecho a seguir, extraído de uma reportagem sobre as mudanças que devem ocorrer no mercado de trabalho
nas próximas décadas. Em seguida, discuta com os colegas as questões propostas.
As profissões condenadas a desaparecer
[...] Frey [doutor em economia da Universidade de Oxford] e Michael Osborne, professor de ciência de engenharia
de Oxford, avaliaram tarefas cotidianas de mais de 700 ocupações, para identificar o que uma máquina poderá fazer
melhor que os humanos nas próximas duas décadas. [...] As profissões mais ameaçadas estão nas áreas de
logística, escritório e produção, aquelas que envolvem tarefas intelectualmente repetitivas. Embora o estudo seja
baseado no mercado de trabalho dos Estados Unidos, suas conclusões são aplicáveis mundialmente. [...]
Exercícios de futurologia sobre a evolução da tecnologia existem há décadas – e, há décadas, eles costumam
errar o alvo. Historicamente, os profetas pecam pelo otimismo. Agora, a realidade parece ter chegado antes do
previsto. Em 2004, os economistas Frank Levy, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), e Richard
Murnane, da Universidade Harvard, disseram no livro A nova divisão do trabalho que os robôs continuariam
incapazes de realizar tarefas complexas, como dirigir. A previsão dos dois especialistas foi superada em 2005,
quando Stanley, um carro sem motorista da Universidade Stanford, venceu um desafio proposto pela Agência de
Projetos Avançados de Defesa dos Estados Unidos (Darpa). [...]
A substituição do trabalho humano por ferramentas fez a humanidade evoluir desde a Idade da Pedra. Vista de
perto, porém, a evolução técnica não ocorre de maneira harmônica e sincronizada. Vem acompanhada de crises,
num ciclo que o economista austríaco Joseph Schumpeter (1883-1950) batizou como “destruição criadora”. “A
estrutura econômica é incessantemente transformada de dentro para fora, incessantemente destruindo a anterior e
incessantemente criando outra nova”, afirma no livro Capitalismo, socialismo e democracia. “Esse processo de
destruição criadora é o elemento essencial do capitalismo.” [...]
MOURA, Marcelo. As profissões condenadas a desaparecer – e as que resistirão às novas tecnologias. Época, 6 mar. 2014.
Disponível em: <http://epoca.globo.com/vida/vida-util/carreira/noticia/2014/03/bprofissoesb-condenadas-desaparecer-e-
que-resistirao-novas-tecnologias.html>. Acesso em: 21 out. 2015.
a) Em suaopinião, quais são os principais desafios enfrentados pelos jovens que estão ingressando ou, daqui a algum
tempo, ingressarão no mercado de trabalho?
b) Como eles poderão encarar esses desafios?
<imagem>
Agência O Globo/Eduardo Naddar
Jovens mostrando sua primeira carteira de trabalho. Rio de Janeiro (RJ), 2011.
4. Enem (2011) A introdução de novas tecnologias desencadeou uma série de efeitos sociais que afetaram os
trabalhadores e sua organização. O uso de novas tecnologias trouxe a diminuição do trabalho necessário, que se
traduz na economia líquida do tempo de trabalho, uma vez que, com a presença da automação microeletrônica,
começou a ocorrer a diminuição dos coletivos operários e uma mudança na organização dos processos de trabalho.
Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales. Universidad de Barcelona, n. 170(9). 1º ago. 2004.
A utilização de novas tecnologias tem causado inúmeras alterações no mundo do trabalho. Essas mudanças são
observadas em um modelo de produção caracterizado
a) pelo uso intensivo do trabalho manual para desenvolver produtos autênticos e personalizados.
b) pelo ingresso tardio das mulheres no mercado de trabalho no setor industrial.
c) pela participação ativa das empresas e dos próprios trabalhadores no processo de qualificação laboral.
d) pelo aumento na oferta de vagas para trabalhadores especializados em funções repetitivas.
e) pela manutenção de estoques de larga escala em função da alta produtividade.
Desafios & debates
Em grupo
Como vimos ao longo deste capítulo, o trabalho tem papel fundamental na construção do espaço geográfico. Como
atividade individual, orgânica do processo produtivo realizado socialmente, ele é o meio de legitimação da existência
humana, na medida em que responde pela sobrevivência da sociedade. Apesar disso, o trabalho é valorizado de modos
diferentes na sociedade brasileira. Muitas pesquisas indicam que, embora a participação das mulheres no mundo do
trabalho tenha aumentado, boa parte delas ainda recebe salários inferiores aos dos homens, mesmo desempenhando
funções iguais.
1. Leiam atentamente o texto a seguir e, com base nele, expliquem a mensagem transmitida pela charge.
Mulheres são mais “multitarefa” do que os homens, diz estudo
Apesar das mudanças na sociedade, as mulheres ainda são mais sobrecarregadas e desempenham mais tarefas
ao mesmo tempo, em relação aos homens, quando se trata de trabalho em casa. A situação foi identificada por um
estudo da Bar-Ilan University, em Israel, em parceria com a Michigan State University, nos Estados Unidos.
A pesquisa, publicada no American Sociological Review, foi feita com 368 mães e 241 pais, todos com empregos
fora de casa. A conclusão foi que elas trabalham quase 10 horas a mais por semana do que eles em tarefas
realizadas simultaneamente, como cuidar das crianças enquanto preparam o jantar e lavam a louça.
[...]
Para chegar a esse resultado, os estudiosos deram aos participantes um aparelho que emitia um “bip” em sete
momentos aleatórios do dia. Toda vez que ouviam o som, eles tinham que escrever quais tarefas estavam realizando
no momento e como estavam se sentindo.
Foi aí que descobriram que as mulheres estavam muito mais estressadas e sobrecarregadas do que os homens,
que afirmaram sentir prazer ao desempenhar várias funções simultâneas.
Apesar dessa diferença, a pesquisa mostrou também que tanto os homens quanto as mulheres afirmaram ter
sensações positivas quando realizam multitarefas acompanhados do cônjuge e dos filhos. Já no trabalho, a
multitarefa cria sentimentos negativos em ambos, mesmo com a sensação de maior produtividade.
CARVALHO, Luciana. Mulheres são mais “multitarefa” do que os homens, diz estudo. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/estilo-de-vida/noticias/mulher es-sao-
mais-multitarefa-do-que-os-homens-diz-estudo>. Acesso em: 25 jan. 2016.
<imagem>
JUNIÃO/acervo do artista
Charge do artista Junião, publicada no jornal Diário do Povo, em 2011.
2. Com base no gráfico e na charge abaixo, respondam às questões.
Desigualdade salarial
<imagem>
Ilustrações: ©ISTOCKPHOTO/RED_FROG
<imagem>
Edição de arte/arquivo da editora
GUTIERREZ, Felipe. Desigualdade de salários entre homens e mulheres mais que dobra em 12 anos.
Folha de S.Paulo, 24 maio 2015. Disponível em: <http://classificados.folha.uol.com.br/empregos/2015/05/1632713-
diferenca-de-salario-de-admissao-de-homens-e-mulheres-aumenta.shtml>.
Acesso em: 21 out. 2015.
a) Na opinião do grupo, que mensagem o autor da charge transmite?
b) A que conclusões vocês chegam ao comparar os dados sobre o salário médio de admissão de homens e mulheres
no Brasil?
c) Elaborem um texto sobre a participação das mulheres no mundo do trabalho e a desigualdade salarial de gênero.
Pesquisem novas informações sobre o tema em revistas e/ou na internet. Ao término da atividade, troquem ideias
com o professor e os colegas.
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Gilmar/acervo do artista
Charge do artista Gilmar, publicada no jornal Força Sindical, em 2013.
Em debate
Leia o texto abaixo.
Mulher negra é a que ganha menos no mercado, diz Laeser
A mulher negra, no Brasil, continua ocupando a base da pirâmide social, ganhando menos em qualquer função e
tendo dificuldades de acesso aos postos de mando e comando no mercado de trabalho.
É o que demonstra o Boletim de fevereiro do Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Estatísticas e
Sociais das Relações Raciais do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Laeser).
As diferenças de salário nas seis maiores regiões metropolitanas do país variam de R$ 904,15, no emprego
doméstico com carteira, contra R$ 917,88 das mulheres brancas, a R$ 2.761,55 contra R$ 4.388,59, que são obtidos
por mulheres brancas quando na situação de empregadoras.
As diferenças também se repetem nas situações de emprego doméstico, com carteira e sem carteira, emprego no
setor privado, no setor público, militar ou funcionário público, trabalhador por conta própria e empregador.
MULHER negra é a que ganha menos no mercado, diz Laeser. Afropress, 8 mar. 2014.
Disponível em: <http://www.afropress.com/post.asp?id=16217>. Acesso em: 21 out. 2015.
Com base no texto e sob orientação do professor, converse com os colegas sobre a seguinte afirmativa:
No Brasil, no que se refere à discriminação no mundo do trabalho, a mulher negra ocupa posição ainda pior do que a
mulher branca e o homem negro.
Capítulo
2
O espaço geográfico
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©iStockphoto.com/cifotart
A cidade de São Paulo expressa uma profunda transformação da natureza, com a produção de um espaço marcado
pela técnica avançada da sociedade que a construiu. Na foto, avenida Paulista em 2013.
Ao se relacionarem com a natureza, os grupos humanos passaram a modificá-la: florestas foram derrubadas, rios
tiveram seus cursos alterados, baías e enseadas foram aterradas, etc.
A superfície do planeta está cada vez mais pontilhada de agrupamentos humanos, com destaque para as
grandes cidades, interligadas por uma rede mais ou menos densa de vias de transporte e de comunicação. Em
muitos locais, o próprio ar apresenta uma composição diferente daquela de algum tempo atrás. Desse modo, o
espaço é resultado de modificações cada vez maiores na natureza pelos grupos humanos.
Ações inadequadas do ser humano na natureza geralmente provocam impactos ambientais no solo, na água, na
vegetação, etc. O crescimento das cidades e o estabelecimento de indústrias sem planejamento são ações que
contribuem para a degradação ambiental.
Embora a interferência do ser humano na natureza seja necessária para o funcionamento da sociedade, deve-se
lembrar que seus recursos são esgotáveis. Por exemplo: se a média de consumo de água não diminuir em um curto
período de tempo, o mundo enfrentará, em um futuro não muito distante, graves problemas de escassez.
Sociedade e trabalho
O ser humano é essencialmente social. Para satisfazer suas necessidades, ele não age sozinho, mesmo porque, se
assim procedesse, seria impotente diante da natureza. Por isso o trabalho é uma atividade coletiva, ou seja, social.
Para atuar em conjunto, as pessoas se organizam em sociedade e definem o modo como o trabalho social deve ser
realizado. Com isso, estabelecem relações entre si, chamadas de relações sociais. Ao se organizarem socialmente,
também organizam seu espaço de vida, o que é feito por meio do trabalho. Assim, o espaço é uma criação da sociedade
e o trabalho é, por excelência, geográfico, na medida em que envolve a produção do próprio espaço.
Encontro comMilton Santos ou o mundo globalvisto do lado de cá
Direção de Silvio Tendler. Brasil: Caliban Filmes, 2006. 89 minutos.
Documentário conduzido por uma entrevista comMilton Santos, um dos geógrafos mais importantes do Brasile do mundo, acerca da globalização
e de seus efeitos emdiversos países.
Organizaçãosocial
No decorrer da História, a humanidade conheceu diferentes maneiras de organização social e de produção do
espaço.
Quando, entre antigos povos, as relações sociais eram de igualdade, todos trabalhavam e produziam o indispensável
para viver – cabe dizer que o mesmo ainda ocorre entre alguns povos indígenas atuais. A vida era realmente
comunitária, pois tudo era comum e todos compartilhavam os mesmos interesses. Eram reconhecidos e aceitos como
chefes os que tinham mais experiência e conhecimento.
No espaço correspondente a esse tipo de organização social, não havia cercas separando as terras cultivadas, os
animais eram criados em um único cercado e todas as habitações tinham o mesmo aspecto.
A introdução da divisão do trabalho em uma comunidade demonstra, em geral, a constituição de uma estrutura social
marcada por desigualdades.
Na antiga Mesopotâmia, por exemplo, o campo era dividido em lotes, cada qual dedicado a uma divindade, mas
cultivados em conjunto. O excedente produzido destinava-se à cidade, que desempenhava um papel político e religioso.
Os governantes e os sacerdotes que detinham o poder recebiam e controlavam os excedentes produzidos nas terras
comuns. Separadas do campo, as cidades eram cercadas por muros e, internamente, apresentavam-se divididas em
propriedades particulares.
Na Idade Média, os feudos eram bons exemplos de segregação social. Eles eram divididos em várias parcelas, e o
senhor feudal concedia o uso da terra ao camponês, geralmente em troca de uma renda fixa, paga em espécie ou, a
partir do fim desse período, em dinheiro. Porém, com o desenvolvimento do capitalismo e a monetarização da
economia, ocorrida a partir da reativação do comércio, muitas cidades medievais assumiram um papel produtivo, pois,
assim como o campo, passaram a produzir mercadorias.
Ao diferenciar os detentores dos meios de produção daqueles que têm para vender somente sua força de trabalho,
a produção capitalista imprimiu significativas marcas no espaço. Com a grande expansão produtiva, a partir da
Revolução Industrial (século XVIII), essas marcas tornaram-se ainda mais visíveis. Surgiram as fábricas, cercadas por
precárias habitações de operários; os luxuosos bairros burgueses; as ruas mais largas, que ampliavam a circulação;
etc.
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Pulsar Imagens/Ricardo Teles
Boa parte do tempo dos povos indígenas é dedicada a atividades relacionadas à alimentação. Na foto, indígenas da
aldeia Kamayurá pescam na lagoa Iananpaú, no Parque Indígena do Xingu, em Canarana (MT), 2014.
Organizaçãodo espaço
Até o século XIX, a produção do espaço das cidades aconteceu de maneira desordenada. A oposição entre grupos ou
segmentos sociais contribuía para tornar a estruturação espacial das cidades ainda mais caótica.
As práticas do urbanismo moderno, que surgiram no fim do século XIX e início do século XX, visavam impor ao
espaço das cidades uma organização. O objetivo era estruturá-las em zonas residenciais e comerciais, distritos
industriais e áreas de lazer. Até hoje, tais funções são determinadas pelos chamados planos diretores, que procuram
gerir os espaços das cidades.
Um exemplo significativo da tentativa de impor uma organização ao espaço são as cidades planejadas, como
Brasília, Palmas e Belo Horizonte.
As construçõesde Brasília
Heloisa Espada e Sergio Burgi. Rio de Janeiro: Instituto Moreira Salles, 2010.
Livro de fotos de Brasília. Traz desde fotos históricas, que mostrama construção da cidade, os operários, os primeiros moradores, a pobreza, etc.,
até atuais, que retratam a cidade, as pessoas e seu cotidiano já estabelecidos.
<imagem>
©Google earth/Image ©2015 DigitalGlobe
Palmas, capital do Tocantins, é a última cidade brasileira planejada do século XX. Imagem de satélite de 2015.
Transformações sociais
A dinâmica social, impulsionada por desigualdades e conflitos existentes no interior das sociedades, muitas vezes
impede a pretendida estruturação do espaço, com cada fração do território tendo uma função previamente definida.
Os espaços que as sociedades tentam construir obedecendo a uma lógica predeterminada geralmente acabam
transformados pela influência de agentes imobiliários, como grandes empresas construtoras, ou pela ação de
segmentos sociais excluídos ou prejudicados pela estruturação espacial imposta, como é o caso dos moradores de
favelas ou dos chamados sem-teto. Esses últimos são agentes sociais capazes de construir espontaneamente o
espaço de acordo com suas necessidades, exercitando, para isso, sua criatividade.
As transformações sociais são sempre acompanhadas por mudanças na produção do espaço. Mas, em quase todos
os países, as relações sociais predominantes no passado deixaram muitas marcas no espaço, que permanecem até
hoje, mais ou menos modificadas e combinadas com as marcas da sociedade atual.
No Brasil, por exemplo, o latifúndio é uma herança do período colonial (século XVI ao XIX), quando predominaram
no país relações escravistas. Junto à grande propriedade, não é rara a existência de casebres miseráveis para abrigar
trabalhadores, em grande parte, descendentes de antigos africanos escravizados.
Latifúndio: grande propriedade rural, parcialmente não aproveitada ou cultivada de maneira inadequada e com baixo investimento de capital. O
latifúndio já existia na Roma antiga e foi predominante na Europa medieval. Persiste até hoje em quase todo o mundo, principalmente nos países
pobres ou de industrialização tardia. No Brasil, estudiosos consideramque o latifúndio é uma herança das sesmarias distribuídas pela Coroa
portuguesa no período colonial.
As relações sociais mudaram, pois, agora, não são mais escravistas. Os atuais trabalhadores recebem um salário,
e a propriedade da terra geralmente é de uma empresa, que, por sua vez, possui outras propriedades. Embora
alteradas as relações de produção, as diferenças sociais do passado permanecem no presente.
Nesse processo, o espaço também se modificou: as culturas, muitas vezes, não são as mesmas de antigamente, e
o uso da terra foi modernizado com a utilização de novas técnicas e novos instrumentos de trabalho. Apesar das
modificações, as marcas do passado escravista ainda estão presentes no espaço, por exemplo, na estrutura fundiária,
na desigualdade social e nas relações de trabalho.
<imagem>
Frans Post/Coleção Beatriz e Mario Pimenta Camargo, São Paulo
Frans Post. Engenho, 1661. Óleo sobre madeira. Dimensões: 45 cm × 56,5 cm. A obra reproduz instalações
humanas em uma grande propriedade canavieira no Brasil colônia.
Determinado espaço, portanto, ao mesmo tempo que reflete a sociedade que o utiliza, é resultado de um processo
histórico. Por esse processo, o espaço foi progressivamente moldado, conforme as relações sociais que predominaram
no passado e envolveram constantes conflitos entre os diferentes segmentos de cada época. Como o espaço mantém
algumas marcas do passado, ele pode, de algum modo, interferir nas sucessivas organizações sociais. Com relação a
isso, pode-se dizer que o espaço é um produto e um produtor da História.
São Paulo Antiga
<http://www.saopauloantiga.com.br>. Acesso em: 22 out. 2015.
Reúne curiosidadessobre a cidade de São Paulo antigamente e sobre construções (casas, monumentos, etc.)que persistemnos dias de hoje. Ao
acessaro item“Antes & Depois”, é possívelcompararfotosantigas comatuais e perceberas mudançasno espaço.
Texto & contexto
1. De modo geral, como se davam as relações sociais entre povos antigos? Essas relações ainda existem?
2. Como esses tipos de relações sociais se refletem na organização do espaço?
3. Quando surgiram as práticas urbanísticas modernas? O que buscavam?
4. Com base na ideia de construção do espaço, cite exemplos de áreas no município onde você mora que parecem
ter sido planejadas e de outras que transmitem a impressão de desorganização.
Espaço e poder
O espaço é a base material do exercício do poder do Estado. Em uma sociedade de desigualdades como a nossa,
é também a expressão da hegemonia de determinados grupos ou segmentos sociais.
Hegemonia: supremacia; domínio exercido por uma nação, uma cidade ou um grupo socialsobre outra nação, outra cidade ou outro grupo social.
Para melhor compreender essas ideias, é importante “voltar no tempo”. Nos séculos XV e XVI, desenvolveu -se o
Estado moderno. Para que issoacontecesse, foram essenciais a delimitação de um território e o exercício da soberania
sobre ele, além da existência de uma cultura, uma língua e tradições em comum. Somente um poder único, comum a
todos, e soberano poderia agregar indivíduos isolados e diferentes, tornando-os iguais.
Para garantir a coesão interna e a própria sobrevivência da sociedade, o Estado teria a exclusividade do uso da
força – fundamento básico do poder político. Assim já entendiam os juristas do fim da Idade Média, para quem estava
claro que o Estado tinha o privilégio do uso da força, enquanto à Igreja caberia a utilização de todos os meios
psicológicos necessários para ensinar a religião e a moral.
Jurista: pessoa especializada em leis e que, por profissão, se dedica a emitir pareceres sobre questõesde direito.
Desde então, duas são as razões da existência do Estado, com sua prerrogativa:
Prerrogativa: privilégio ou faculdade de que usufruemos seresde determinado grupo ou espécie. No caso, considera-se o privilégio do uso da força
atributo do Estado na Idade Média.
▸ externa – a força, com sua expressão máxima nos organismos militares, tem a missão de proteger as fronteiras do
Estado, resguardando a soberania nacional;
▸ interna – o uso da força é feito pelo grupo ou segmento politicamente dominante para garantir a coesão interna e a
segurança da sociedade.
Cabe ressaltar, no entanto, que o uso da força por parte exclusiva do aparelho de Estado, para ser considerado
legítimo, deve ser justificado eticamente. No decorrer da História, as sociedades construíram diferentes fundamentos
para legitimar o poder político: a legitimidade pela vontade de Deus ou do povo; pelas chamadas leis naturais – a razão,
por exemplo; pela tradição; entre outras. Hoje em dia, o fundamento é dado por meio do reconhecimento de um Estado
pela comunidade internacional, ou seja, pela Organização das Nações Unidas (ONU).
O surgimento do chamado Estado-Nação, no século XIX, exacerbou o sentimento nacional, reforçando a
consciência de que o Estado precisava ser forte para preservar a nação e de que seu poderio dependia da extensão
do território que controlava. Daí a militarização dos territórios, o desenvolvimento tecnológico posto a serviço da
guerra e as constantes disputas territoriais.
Nessas condições, das quais resultaram as duas guerras mundiais, foi procedente a afirmação do geógrafo alemão
Friedrich Ratzel – considerado o pai da geografia política –, feita no início do século XX: “Espaço é poder”.
<imagem>
©iStockphoto.com/EunikaSopotnicka
Sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York, Estados Unidos, feita em parceria com Oscar
Niemeyer. Foto de 2012.
Texto & contexto
1. As transformações das sociedades são sempre acompanhadas por mudanças na produção do espaço. Qual é o
papel do tempo histórico nos processos que envolvem transformações espaciais?
2. Na paisagem do município onde você mora, há marcas que expressam relações sociais do passado? Em caso
afirmativo, cite exemplos.
3. Explique a frase “Espaço é poder”, de Friedrich Ratzel.
Domínio do espaço
O poder do Estado implica o domínio do espaço, embora, hoje, a hegemonia política esteja muito ligada às
dominações econômico-financeira e tecnológica. Por isso, os arranjos de fronteiras, os acordos e as alianças entre
países comumente expressam relações de poder e dominação, que envolvem interesses no controle do espaço. Por
exemplo: o mapa político que surgiu no território da antiga Iugoslávia, após quase quatro anos de guerra (1992-
1996), foi um arranjo resultante de um jogo de poder entre países interessados – Estados Unidos, Rússia, Alemanha
– e nacionalidades diretamente envolvidas na disputa do espaço: sérvios, croatas, bósnios, eslovenos, macedônios,
montenegrinos e kosovares.
<imagem>
Iugoslávia: 1989
João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora
Fonte dos mapas: Adaptado de ATLAS-historique.net. Disponível em: <http://www.atlas-historique.net/1989-
aujourdhui/cartes_popups/Yougoslavie2002GF.html>. Acesso em: 16 nov. 2015.
<imagem>
Iugoslávia: atual
João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora
Fonte dos mapas: Adaptado de ATLAS-historique.net. Disponível em: <http://www.atlas-historique.net/1989-
aujourdhui/cartes_popups/Yougoslavie2002GF.html>. Acesso em: 16 nov. 2015.
No interior de um país, também existem relações de dominação ou hegemonia de uma região sobre outra. No
Brasil, por exemplo, os estados economicamente mais poderosos, como São Paulo e Minas Gerais, têm certa
preponderância política e econômica sobre os outros.
Para saber mais
Convivência e respeito
Território é uma porção da superfície terrestre delimitada por uma fronteira política ou submetida a um poder
político. É construído pela formação social.
“[...] Compreender o que é um território implica também compreender a complexidade, a convivência em um
mesmo espaço, nem sempre harmônica, da diversidade de tendências, ideias, crenças, sistemas de
pensamento e tradições de diferentes povos e etnias. É reconhecer que, apesar de uma convivência comum,
múltiplas identidades coexistem e por vezes se influenciam reciprocamente, definindo e redefinindo aquilo que
poderia ser chamado de uma identidade nacional. No caso específico do Brasil, o sentimento de pertinência ao
território nacional envolve a compreensão da diversidade de culturas que aqui convivem e, mais do que nunca,
buscam o reconhecimento de suas especificidades, daquilo que lhes é próprio.”
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: História e Geografia. Brasília: MEC/SEF, 1997. p. 125.
O espaço atual: um meio técnico-científico-informacional
Durante muito tempo, os elementos naturais foram predominantes nas paisagens; portanto, o ambiente de vida do
ser humano era um meio natural.
A partir do século XV, com o advento do capitalismo, as técnicas foram se desenvolvendo pouco a pouco; com isso,
a natureza apropriada ficava cada vez mais transformada. No século XIX, com a intensificação da Revolução
Industrial, aceleraram-se as inovações técnicas. As transformações da natureza atingiram tamanha intensidade que
o espaço produzido passou a ser um meio técnico. No século XX, notadamente em sua segunda metade, o processo
histórico-social assumiu características que deram nova configuração ao ambiente de vida dos seres humanos.
<imagem>
LatinStock/Album/akg/North Wind Picture Archives
Chaminés de siderúrgica em Sheffield, de autor desconhecido. Ilustração colorida à mão, século XIX. A imagem
retrata uma cidade da Inglaterra, durante a Revolução Industrial. Esse processo transformou a paisagem de muitas
localidades.
A ciência, em especial a pesquisa, é posta cada vez mais a serviço da descoberta de novas técnicas, quase
exclusivamente voltadas para a produção. A tecnologia – ciência das técnicas – floresce como nunca. De modo geral,
a ciência direciona-se ao setor produtivo: produção de agrotóxicos, armas, medicamentos, brinquedos e um sem-
número de bens nem sempre necessários à vida humana. Em suma, ciência e técnica jamais estiveram tão interligadas
como agora – o pragmatismo científico dirigindo a inteligência humana.
Fomentada por uma verdadeira corrida tecnológica e objetivando a acumulação de riqueza, a produção diversifica -
se extraordinariamente, e os bens produzidos, inclusive os instrumentos de trabalho, tornam-se obsoletos em prazo
cada vez mais curto, impondo sua substituição por outros mais “modernos”. Isso leva a um consumo maior de recursos
naturais, reforçado pela visão da natureza como manancial à disposição dos seres humanos.
Quanto mais a natureza é usada – às vezes, esgotada e, não raro, destruída em alguns locais –, mais artificializado
torna-se o espaço produzido pelos seres humanos. Isso acontece principalmente nas grandes cidades, que
materializam na paisagem o melhor modelo do atual estágio da civilização.
Os alimentos quase sempre têm a presença intermediária da ciência e da técnica, passando por transformações
genéticas dos mais variados tipos. A habitação, muitas vezes, está a dezenas de metros do solo, como um apartamento
em um andar elevado. O trabalho frequentemente é realizado sob iluminação artificial e ar-condicionado. O transporte
pode ser feito por circulação subterrânea, como o metrô.
Outra revolução diz respeito às comunicações, que alteraram profundamente as noções de tempo e de distância.
A quase instantaneidade nas transmissões de palavras, sons e imagens, por cabo, fibra óptica ou satélite, parece
tornar o mundo muito menor, com uma aparente proximidade entre as pessoas. Isso é facilitado pela generalização
do uso do computador e dos smartphones, que, conectados a uma rede, permitem a seus milhões de usuários
comunicarem-se diretamente entre si a qualquer hora do dia. O computador, entre suas múltiplas serventias, enseja
a vivência da chamada realidade virtual.
Esse mundo dominado pela ciência e pela técnica exige das pessoas um conhecimento cada vez maior, pelo
menos para poderem operar aparelhos essenciais a atividades relacionadas a trabalho, estudo, transporte e lazer.
Nessas condições, o atual espaço produzido pelo ser humano constitui um ambiente de vida que pode ser chamado
de meio técnico-científico-informacional.
Texto & contexto
1. Qual é a sua opinião sobre a comunicação via internet?
2. O que seria o meio técnico-científico-informacional?
Conexões
Milton Santos (1926-2001) foi um importante geógrafo brasileiro. Ele se formou em Direito em 1948, na
Universidade da Bahia e, em 1958, concluiu o doutorado em Geografia, na Universidade de Estrasburgo, França.
Foi professor em renomadas universidades do Brasil e do mundo e publicou vários livros, entre eles A natureza do
espaço: técnica e tempo, razão e emoção, escrito em 1966. Nessa obra, Santos apresenta a definição de espaço
geográfico. Sobre esse conceito, leia o trecho abaixo para ampliar o que você aprendeu neste capítulo.
<imagem>
Agência O Globo/Marcos Issa
Milton Santos em 1994.
Espaço geográfico
[...] Nossa proposta atual de definição da Geografia considera que a essa disciplina cabe estudar o conjunto
indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ação que formam o espaço. Não se trata
de sistemas de objetos nem de sistemas de ações tomados separadamente. [...]
O espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório de sistemas de objetos e
sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá. No começo
era a natureza selvagem, formada por objetos naturais, que ao longo da história vão sendo substituídos por objetos
fabricados, objetos técnicos, mecanizados e, depois, cibernéticos, fazendo com que a natureza artificial tenda a
funcionar como uma máquina. Através da presença desses objetos técnicos: hidroelétricas, fábricas, fazendas
modernas, portos, estradas de rodagem, estradas de ferro, cidades, o espaço é marcado por esses acréscimos, que
lhe dão um conteúdo extremamente técnico.
O espaço é hoje um sistema de objetos cada vez mais artificiais, povoado por sistemas de ações igualmente
imbuídos de artificialidade e cada vez mais tendentes a fins estranhos ao lugar e a seus habitantes.
[...]
Sistemas de objetos e sistemas de ações interagem. De um lado, os sistemas de objetos condicionam a forma
como se dão as ações e, de outro lado, o sistema de ações leva à criação de objetos novos ou se realiza sobre
objetos preexistentes. É assim que o espaço encontra a sua dinâmica e se transforma.
[...] Considerar o espaço como esse conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações, assim
como estamos propondo, permite, a um só tempo, trabalhar o resultado conjunto dessa interação, como processo e
como resultado [...].
[...]
Os objetos que interessam à Geografia não são apenas objetos móveis, mas também imóveis, tal como uma
cidade, uma barragem, uma estrada de rodagem, um porto, uma floresta, uma plantação, um lago, uma montanha.
Tudo isso são objetos geográficos. Esses objetos geográficos são do domínio tanto do que s e chama a Geografia
física como do domínio do que se chama a Geografia humana e, através da história desses objetos, isto é, da forma
como foram produzidos e mudam, essa Geografia física e essa Geografia humana se encontram.
Para os geógrafos, os objetos são tudo o que existe na superfície da Terra, toda herança da história natural e todo
resultado da ação humana que se objetivou. [...]
SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Pa ulo, 2006. p. 39 e 46.
Responda no caderno
▸ Considerando os ensinamentos de Milton Santos, escreva um texto que especifique o foco da Geografia e que
contenha também seu entendimento sobre o espaço geográfico. Lembre-se de acrescentar exemplos de objetos
geográficos. Ao terminar, compartilhe suas conclusões com o professor e os colegas.
Pensando bem
Responda no caderno
1. Você já ouviu falar em obsolescência programada ou planejada? Leia um trecho do artigo a seguir.
Obsolescência planejada: armadilha silenciosa na sociedade de consumo
<imagem>
ALVES/Acervo do artista
Charge de Evandro Alves, publicada no Le Monde Diplomatique Brasil, em 2013. Nos dias atuais, aparelhos como
celulares e computadores são rapidamente substituídos por outros com tecnologia mais avançada.
É comum um telefone celular ir ao lixo com menos de oito meses de uso ou uma impressora nova durar apenas
um ano. Em 2005, mais de 100 milhões de telefones celulares foram descartados nos Estados Unidos. Uma CPU de
computador, que nos anos 1990 durava até sete anos, hoje dura dois anos. Telefones celulares, computadores,
aparelhos de televisão, câmeras fotográficas caem em desuso e são descartados com uma velocidade assustadora.
Bem-vindo ao mundo da obsolescência planejada!
Na sociedade de consumo, as estratégias publicitárias e a obsolescência planejada mantêm os consumidores
presos em uma espécie de armadilha silenciosa, num modelo de crescimento econômico pautado na aceleração
do ciclo de acumulação do capital (produção-
-consumo-mais produção). [...]
Para mover esta sociedade de consumo precisamos consumir o tempo todo e desejar novos produtos para
substituir os que já temos – seja por falha, por acharmos que surgiu outro exemplar mais desenvolvido
tecnologicamente ou simplesmente porque saíram de moda. Serge Latouche, no documentário A história secreta da
obsolescência planejada, diz que nossa necessidade de consumir é alimentada a todo o momento por um trio
infalível: publicidade, crédito e obsolescência.
Planejar quando um produto vai falhar ou se tornar velho, programando seu fim antes mesmo da ação da natureza
e do tempo de uso, é a obsolescência planejada. Trata-se da estratégia de estabelecer uma data de morte de um
produto, seja por meio de mau funcionamento ou envelhecimento perante as tecnologias mais recentes. Essa
estratégia foi discutida como solução para a crise de 1929. O conceito teve início por volta de 1920, quando
fabricantes começaram a reduzir de propósito a vida de seus produtos para aumentar venda e lucro. [...]
Em 1928, o lema era: “Aquilo que não se desgasta não é bom para os negócios”. Como solução para a crise,
Bernard London propôs, num panfleto de 1932, que fosse obrigatória a obsolescência planejada, aparecendo assim
pela primeira vez o termo por escrito. London pregava que os produtos deveriam ter uma data para expirar,
acreditando que, com a obsolescência planejada, as fábricas continuariam produzindo, as pessoas, consumindo e,
portanto, haveria trabalho para todos, que trabalhando poderiam consumir e assim fazer o ciclo de acumulação de
capital se manter. Nos anos 1930, a durabilidade começou a ser propagada como antiquada e não correspondente
às necessidades da época. Nos anos 1950, a obsolescência planejada ressurgiu com o enfoque de criar um
consumidor insatisfeito, fazendo assim com que ele sempre desejasse algo novo. Ainda no pós-guerra assentaram-
se as bases da sociedade de consumo atual, por meio do estilo de vida norte-americano (American way of life),
baseado na liberdade, na felicidade e na ideia de abundância em substituição à ideia do suficiente. [...]
PADILHA, Valquíria; BONIFÁCIO, Renata Cristina A. Obsolescência planejada: armadilha silenciosa na sociedade de consumo.
Le Monde Diplomatique Brasil, 2 set. 2013. Disponível em: <http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=1489>. Acesso em: 22 out. 2015.
a) Explique o que é obsolescência planejada.
b) Qual é a mensagem transmitida pela charge?
c) Você já descartou algum objeto mesmo achando que poderia usá-lo mais? Converse sobre isso com os colegas.
2. Atualmente, na América do Sul, existe uma área de litígio entre a Bolívia e o Chile. Na Guerra do Pacífico
(1879-1883), a Bolívia e o Peru perderam para o Chile parte de seus territórios em virtude do acordo de paz
firmado em 1904. Com essa perda, a Bolívia deixou de ter acesso ao oceano; desde então, reclama o retorno desse
acesso. Observe o mapa a seguir e, depois, responda às questões.
a) Por que é tão importante para a Bolívia ter novamente acesso ao mar?
b) Relacione esse fato com a afirmação de Friedrich Ratzel: “Espaço é poder”.
<imagem>
Chile: territórios anexados (1904)
João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora
Fonte: FERRER, Isabel. Chile e Bolívia revivem em Haia seu conflito por uma saída para o mar. El País, 5 maio
2015. Internacional. Disponível em:
<http://brasil.elpais.com/brasil/2015/05/04/internacional/1430744745_182951.html>. Acesso em: 22 out. 2015.
3. Observe as fotos a seguir.
<imagem>
Gerson Gerloff/pulsar imagens
Dança do pau de fitas em Santa Maria (RS), 2015.
<imagem>
Fotoarena/Veetmano Prem
Dançarinos de frevo em Olinda (PE), 2015.
<imagem>
Pulsar Imagens/Mario Friedlander
Indígenas Paresi dançando em Tangará da Serra (MT), 2013.
▸ As fotos acima retratam manifestações culturais distintas que ocorrem no Brasil. Elabore um texto sobre a
importância da aceitação e da compreensão da diversidade de ideias, culturas, tradições, crenças, povos e etnias
em um país como o nosso.
4. Enem (2013) No dia 1º de julho de 2012, a cidade do Rio de Janeiro tornou-se a primeira do mundo a receber o
título da Unesco de Patrimônio Mundial como Paisagem Cultural. A candidatura, apresentada pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), foi aprovada durante a 36ª Sessão do Comitê do Patrimônio
Mundial. O presidente do Iphan explicou que “a paisagem carioca é a imagem mais explícita do que podemos
chamar de civilização brasileira, com sua originalidade, desafios, contradições e possibilidades”. A partir de agora,
os locais da cidade valorizados com o título da Unesco serão alvo de ações integradas visando à preservação da
sua paisagem cultural.
Disponível em: <www.cultura.gov.br>. Acesso em: 7 mar. 2013 (adaptado).
O reconhecimento da paisagem em questão como patrimônio mundial deriva da
a) presença do corpo artístico local.
b) imagem internacional da metrópole.
c) herança de prédios da ex-capital do país.
d) diversidade de culturas presente na cidade.
e) relação sociedade-natureza de caráter singular.
Desafios & debates
Em grupo
Em sua obra Pensando o espaço do homem, Milton Santos (2007, p. 54) nos ensina que “uma paisagem representa
diferentes momentos do desenvolvimento de uma sociedade. A paisagem é o resultado de uma acumulação de
tempos”.
Comparar fotos da mesma paisagem em momentos históricos diferentes é uma forma de refletir sobre as
transformações dessa paisagem ao longo do tempo. Esse é o desafio desta atividade. Para começar, leiam o poema
abaixo. Depois, observem as imagens e façam o que se pede.
Memória
<imagem>
Rodval Matias/Arquivo da editora
Há pouco tempo atrás,
aqui havia uma padaria.
Pronto – não há mais.
Há pouco tempo atrás,
aqui havia uma casa,
cheia de cantos, recantos,
corredores impregnados
de infância e encanto.
Pronto – não há mais.
Uma farmácia,
uma quitanda.
Pronto – não há mais.
A cidade destrói, constrói, reconstrói.
Uma árvore, um bosque.
Pronto – nunca mais.
MURRAY, Roseana. Paisagens. Belo Horizonte: Lê, 1996.
<imagem>
Coleção Gilberto Ferrez/Instituto Moreira Salles
Vista da praia de Botafogo, no Rio de Janeiro (RJ), em 1865.
<imagem>
Pulsar Imagens/Rubens Chaves
Vista da praia de Botafogo, no Rio de Janeiro (RJ), em 2012.
<imagem>
Acervo Instituto Moreira Salles/Marcel Gautherot
Vista do Teatro Amazonas, em Manaus (AM), por volta de 1945.
<imagem>
Pulsar Imagens/Ernesto Reghran
Vista do Teatro Amazonas, em Manaus (AM), em 2015.
▸ O que mudou e o que permaneceu nas paisagens retratadas? Como poderíamos explicar as transformações? Com
base no poema, nas imagens e nos ensinamentos de Milton Santos, reflitam sobre essas questões e elaborem um
pequeno texto com suas conclusões. Ao terminar, comentem-no com os outros colegas e o professor.
Em debate
Sob orientação do professor, formem uma roda de conversa na sala e discutam os conceitos de paisagem e espaço
geográfico com base no texto a seguir.
A paisagem, à semelhança de uma foto, é a materialização de um momento da sociedade.
Já o espaço geográfico é a paisagem acrescida da sociedade que a anima e que lhe causa transformações,
conforme as relações sociais se modificam.
Capítulo
3
Espaço e conhecimento cartográfico
<imagem>
Opção Brasil Imagens/G. Evangelista
Aplicativo de mapa em um smartphone. Esse recurso tem se tornado cada vez mais popular entre as pessoas. Foto
de 2015.
O uso de mapas e de imagens de satélite está cada vez mais presente em nosso cotidiano. Porém, a correta leitura
e interpretação de mapas exige o domínio de alguns conhecimentos básicos, que serão estudados neste capítulo.
Atualmente, aplicativos de mapas instalados em aparelhos celulares e smartphones são muito usados pelos
motoristas. Além de sugerir o caminho mais curto ou mais rápido, por exemplo, esses aplicativos indicam a existência
de obras nas vias, acidentes e a intensidade do trânsito nas imediações.
Há, ainda, uma ferramenta disponível para computador ou aparelho celular que permite ao usuário observar o mundo
por meio de imagens panorâmicas, em 360 graus, ao nível da rua. Ao fazer uso dessa ferramenta, o usuário pode, por
exemplo, visualizar a rua a que deseja ir, onde há espaços para estacionar, se determinado restaurante é simples ou
sofisticado, etc. É como dar uma volta pelo local sem estar lá.
A linguagem dos mapas
Observe a imagem do planeta Terra. Será que você consegue enxergar todos os detalhes da superfície terrestre?
Certamente, não. Com o mapa, acontece algo parecido, pois, como qualquer representação gráfica, consiste em uma
reprodução incompleta da realidade. Falta-lhe, no mínimo, tridimensionalidade.
Nascido da necessidade humana de representar e conhecer seu ambiente, o mapa é uma representação gráfica
plana de toda a superfície terrestre ou de parte dela.
Como não é possível inserir toda a realidade no papel, dizemos que o mapa é uma representação seletiva do terreno,
pois envolve a escolha dos elementos que se quer representar. E essa escolha é feita com determinados objetivos. Cada
sociedade, em cada época, elabora mapas de acordo com suas necessidades de conhecimento e localização dos
recursos essenciais para sua sobrevivência. Mas os mapas também são muito usados com a finalidade de exploração e
dominação, ou seja, com fins geopolíticos.
Além de representação plana e seletiva, o mapa é uma representação convencional, pois utiliza símbolos, cores,
pontos e linhas para identificar as formas e características do terreno representado. A compreensão dos signos de
um mapa é indispensável para sua leitura e interpretação. Como você lê o mapa abaixo?
<imagem>
NASA
Imagem de satélite mostrando a Terra vista do espaço em 2014.
<imagem>
Mundo: urbanização (2012)
João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora
Fonte: Adaptado de FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial. 4. ed. São Paulo: Moderna,
2013. p. 45.
Texto & contexto
1. Com base no mapa acima, o que você diria sobre a distribuição mundial das taxas de urbanização?
2. Por que o mapa é uma representação seletiva e convencional do terreno que ele representa?
3. Com que frequência e em que situações você costuma utilizar mapas? Você, geralmente, usa mapas em papel ou
mapas disponibilizados na internet?
A representação da Terra
Há várias maneiras de representar o espaço em que vivemos, por exemplo, por meio de fotos, filmes, etc. Para
representar a Terra, o meio mais preciso é o globo terrestre artificial, pois é o que guarda maior fidelidade à forma
esférica do planeta. No entanto, por sua praticidade, o mapa é o modo mais usado para a representação do espaço.
Como já foi dito, um mapa, ou uma carta geográfica, é uma representação gráfica plana – total ou parcial – da
superfície terrestre.
A Cartografia moderna dispõe de recursos técnicos muito avançados que se baseiam em informações coletadas por
sensoriamento remoto e processadas por computadores. Por constituir uma reprodução de uma superfície curva ou
esférica em uma superfície plana, o mapa, por mais preciso que seja, implica uma maior ou menor distorção, certa
infidelidade da representação gráfica em relação à realidade retratada. A superação desse problema depende da
adequada utilização das projeções cartográficas.
A volta ao mundo em 80 dias
Júlio Verne. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2012.
Esse clássico da literatura mundial conta a jornada do inglês Phileas Fogg depois de apostar que conseguiria dar a volta ao mundo em 80 dias.
Projeçõescartográficas
Pode-se dizer que projeções cartográficas são artifícios e procedimentos usados para projetar a superfície esférica
da Terra em uma superfície plana, tendo em vista a produção do mapa desejado.
Diversas questões estão envolvidas em uma projeção, a serem decididas pelo cartógrafo encarregado de elaborar
o mapa. Por exemplo: Que forma ou figura geométrica assumirá a folha de papel sobre a qual será feita a projeção? O
que se pretende distorcer ou deformar menos: as áreas, as formas ou as distâncias?
A Terra apresenta o formato de um geoide e sua superfície é irregular, o que impossibilita sua representação em um
plano sem incorrer em extensões ou contrações das áreas representadas.
Geoide: forma esférica achatada nos polos; esse achatamento faz comque não seja uma esfera perfeita.
Projetar é fazer aparecer a sombra de objetos em um plano. Imagine um filme a que você assiste no cinema. Quando
a luz passa pelo filme, ele emite sombras em uma tela. Algo parecido acontece com a representação da Terra no papel.
É como se o cartógrafo a envolvesse em folhas de papel transparentes e iluminasse o seu interior. A sombra dos
contornos dos continentes e das ilhas apareceria no papel e poderia ser desenhada. Ao abrir o papel, haveria um
desenho de todo o planeta em uma folha plana.
<imagem>
João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora
<imagem>
Desdobramento do globo terrestre
João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora
Fonte: Adaptado de FITZ, Paulo Roberto. Cartografia básica. São Paulo: Oficina de Textos, 2008. p. 42.
Tipos de projeção
As projeções cartográficas podem ser classificadas de acordo com diferentes metodologias, que sempre buscam
um melhor ajuste para representar a superfície terrestre.
Uma dessas classificações se refere à superfície de projeção. Segundo essa classificação, as projeções podem ser:
▸ Cilíndricas – consistem em envolver a esfera terrestre em um cilindro de papel, sobre o qual será feita a projeção,
a partir de um foco no interior do globo. Desenrolando o cilindro, tem-se um mapa-múndi, ou planisfério. As
diferenças entre as projeções cilíndricas dependem do ponto em que é colocado o foco da projeção, já que
comumente tangencia a linha do equador. Caracterizam-se por apresentar paralelos e meridianos retos.
<imagem>
Projeção cilíndrica
João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora
Fonte: Adaptado de IBGE. Atlas geográfico escolar. 5. ed. Rio de Janeiro, 2009. p. 21.
▸ Cônicas – projeções em que a figura geométrica sobre a qual é reproduzida a superfície do globo tem a forma de um
cone. De quase todas as projeções cônicas, resultam mapas com meridianos retos e paralelos curvos. Na projeção
cônica simples, por exemplo, a representação é fiel apenas sobre o paralelo tangente à esfera e sobre o meridiano
central; afastando-se daí, surgem as deformações, que são maiores nas bordas do mapa.
<imagem>
Projeção cônica
João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora
Fonte: Adaptado de IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro, 2012. p. 21.
▸ Azimutais ou planas – são feitas sobre um plano, e o ponto de contato com o globo varia conforme a área que se
quer representar com alguma fidedignidade, já que as distorções aumentam a partir do centro do mapa. Em uma
projeção azimutal polar, os meridianos aparecem retos, e os paralelos, curvos.
<imagem>
Projeção azimutal ou plana
João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora
Fonte: Adaptado de IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro, 2012. p. 21.
As projeções cartográficas também podem ser classificadas quanto às deformações apresentadas. Vale
lembrar que podemos reduzir as deformações com relação a áreas, distâncias ou ângulos, mas nunca
conseguiremos minimizar as três simultaneamente.
▸ Projeções conformes – priorizam a manutenção das formas terrestres em detrimento das áreas, que ficam
distorcidas. Os ângulos, no planisfério, são mantidos idênticos aos do globo terrestre, mas a escala só guarda
verdadeira correspondência nas proximidades do centro da projeção, geralmente na linha do equador. A partir daí,
as distorções aumentam progressivamente. A rigor, diversas escalas são usadas.
<imagem>
Projeção conforme
João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora
Fonte: Adaptado de IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro, 2012. p. 22.
▸ Projeções equivalentes – preservam as áreas dos espaços representados, com o uso de uma única escala, mas os
ângulos ficam deformados, e as formas, distorcidas.
<imagem>
Projeção equivalente
João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora
Fonte: Adaptado de IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro, 2012. p. 22.
▸ Projeções equidistantes – alteram tanto as formas quanto as áreas do espaço representado em benefício da
preservação das distâncias e das direções, que são mantidas com precisão a partir do centro da projeção.
<imagem>
Projeção equidistante
João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora
Fonte: Adaptado de IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro, 2012. p. 22.
Projeções mais conhecidas
Há centenas de projeções cartográficas utilizadas na representação do espaço geográfico, entre elas:
Projeção de Mercator
▸ Projeção de Mercator – a Cartografia moderna teve início em 1569, quando o cartógrafo e matemático flamengo
Gerhard Kremer, que se consagrou pelo codinome Mercator, elaborou um mapa‑múndi usando uma projeção
cilíndrica conforme. Com o foco de projeção no centro do globo, a projeção de Mercator é fiel à realidade apenas na
faixa equatorial; à medida que a latitude aumenta, os paralelos se afastam cada vez mais uns dos outros, o que
significa um aumento exagerado das áreas nas proximidades dos polos. A Groenlândia, por exemplo, aparece com
uma área semelhante à da América do Sul; porém, na realidade, é oito vezes menor.
<imagem>
João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora
Fonte: Adaptado de FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial. 4. ed. São Paulo: Moderna,
2013. p. 12.
▸ Projeção de Peters – projeção cilíndrica equivalente, publicada pela primeira vez em 1973, que distorce formas, mas
preserva as áreas dos continentes e dos países.
<imagem>
Projeção de Peters
João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora
Fonte: Adaptado de FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial. 4. ed. São Paulo: Moderna,
2013. p. 12.
▸ Projeção de Mollweide – muito usada na confecção de planisférios, distorce as áreas sem os exageros das projeções
de Mercator e de Peters.
O meridiano central e os paralelos são retos, ao passo que os demais meridianos são curvos.
<imagem>
Projeção de Mollweide
João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora
Fonte: Adaptado de FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial. 4. ed. São Paulo: Moderna,
2013. p. 13.
▸ Projeções de Bertin e de Fuller – são empregadas com frequência para retratar aspectos do mundo globalizado de
hoje, como os fluxos comerciais. A do francês Jacques Bertin, de 1953, preserva a fidelidade da superfície dos
continentes, e as coordenadas não têm configuração perpendicular, pois os meridianos são curvos, dirigindo-se para
uma representação do polo localizada no meio do mapa. A projeção do estadunidense
Buckminster Fuller, de 1967, centrada geralmente no polo norte, favorece a manutenção das formas e da
proporcionalidade das terras emersas em detrimento dos oceanos.
<imagem>
Projeção de Bertin
João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora
Fonte: Adaptado de DURAND, Marie-Françoise. Geografia e relações internacionais: globalização, territórios e redes
na perspectiva da escola geográfica francesa. Caderno CRH, Salvador, v. 19, n. 48, p. 439, set./dez. 2006.
<imagem>
Projeção de Fuller
João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora
Fonte: Adaptado de DURAND, Marie-Françoise. Geografia e relações internacionais: globalização, territórios e redes
na perspectiva da escola geográfica francesa. Caderno CRH, Salvador, v. 19, n. 48, p. 439, set./dez. 2006.
Texto & contexto
1. Explique a seguinte frase: “O mapa, por mais preciso que seja, implica uma maior ou menor distorção, certa
infidelidade da representação gráfica em relação à realidade retratada”.
2. Por que não existe projeção cartográfica perfeita?
3. Identifique as diferenças entre as projeções cilíndricas, cônicas e azimutais ou planas, considerando a disposição
dos paralelos e dos meridianos.
4. Identifique as diferenças entre as projeções conformes, equivalentes e equidistantes, considerando as deformações
com relação a áreas, distâncias ou ângulos.
5. Ao analisar o mapa-múndi de acordo com a projeção de Peters, o que chama sua atenção? Que tipo de projeção é
essa?
6. Qual é a vantagem da projeção de Mollweide em relação à de Peters e à de Mercator?
Cartografia e visões de mundo
A construção de um mapa, além de estar sujeita ao tipo de projeção a ser usado e aos recursos técnicos disponíveis,
depende dos interesses em jogo e da visão de mundo à época, isto é, da ideologia dominante, que se expressa no
trabalho cartográfico.
Na Idade Média ocidental, por exemplo, a profunda religiosidade, própria do teocentrismo então dominante,
favoreceu até mesmo a concepção de que o mundo era um disco, com Jerusalém no centro. Mapas da época
colocavam o paraíso no leste, na direção da cidade sagrada. Assim, homens e mulheres deveriam buscar a salvação
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  • 1. Vivá Geografia VOLUME 1 | ENSINO MÉDIO IGOR MOREIRA Licenciado em Geografia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professor no núcleo de pós - graduação da Faculdade Porto-Alegrense (Fapa-RS). Manual do Professor 1a edição Curitiba, 2016 Vivá Geografia - Volume 1 © 2016 - Igor Moreira Direitos de publicação © 2016 Editora Positivo Ltda. Direção de programas de governo e governança editorial Márcia Takeuchi Gerência editorial Sandra Cristina Fernandez Supervisão editorial Cláudia Carvalho Neves Coordenação editorial e edição Jaqueline Paiva Cesar Edição Flávia Garcia Penna Elaboração de conteúdo Angélica Campos Nakamura, Elizabeth Auricchio, Ivana Pansera Leitura crítica Nádia Gilma Beserra de Lima Autoria Igor Moreira. Reformulação dos originais de Igor Moreira e Elizabeth Auricchio Assistência editorial Emilia Yamada, Karina Miquelini Revisão Kátia Scaff Marques (superv.), Maya Indra Souarthes Oliveira, Edilene Rodrigues Supervisão de arte Juliano de Arruda Fernandes Edição de arte Alexandre Francisco da Silva Pereira, Juliana Medeiros de Albuquerque Capa Megalodesign Projeto gráfico Pedro Gentile com ilustrações de Daniel Cabral Editoração eletrônica Muiraquitã Editoração Gráfica Supervisão de iconografia Janine Perucci Iconografia Tassiane Tokarski, Jéssica Miara Produção gráfica Danilo Marques da Silva Dados Internacionais para Catalogação na Publicação (CIP) (Maria Teresa A. Gonzati / CRB 9-1584 / Curitiba, PR, Brasil) M838 Moreira, Igor. Vivá : geografia : volume 1 : ensino médio / Igor Moreira – Curitiba : Positivo, 2016. : il. (Coleção Vivá) 1. Geografia. 2. Ensino médio – Currículos. I. Título. CDD 373.33 ISBN 978-85-467-0710-2 (Livro do estudante) ISBN 978-85-467-0711-9 (Manual do professor) 1ª edição 2016 Todos os direitos reservados à Editora Positivo Ltda. R. Major Heitor Guimarães, 174 80440-120 – Curitiba – PR Fale com a gente: 0800 723 6868 Site: www.editorapositivo.com.br Impressão e acabamento: Gráfica Posigraf S.A. R. Senador Accioly Filho, 500 81310-000 – Curitiba – PR
  • 2. E-mail: posigraf@positivo.com.br Apresentação Caro estudante, Vivemos num mundo cada vez mais complexo em todas as áreas: Relações Internacionais, Ciência, Tecnologia, Economia. Hoje, um acontecimento particular se inscreve numa teia de relações de alcance globalizado. Estamos na era do conhecimento, usado de modo intensivo em todas as esferas sociais, seja na escola, seja no trabalho, seja na convivência cotidiana. Como decifrar uma atualidade tão múltipla e em constante transformação? Como saber o que é mundo e como ele funciona? Como formar alunos-cidadãos conscientes, capazes de atuar no presente e construir o futuro? O objetivo desta coleção é contribuir com referências essenciais para que você possa ampliar seus conhecimentos, de modo que compreenda as transformações do espaço geográfico como produto das relações socioeconômicas, culturais e de poder. Este primeiro volume aborda os fenômenos e processos responsáveis pela formação e transformação do espaço de vida dos seres humanos. Trata-se de uma proposta de Geografia Geral em que se desenvolvem conceitos como espaço geográfico, sociedade e natureza. Aborda a escala geológica, que diz respeito às transformações da Terra; a dinâmica dos fenômenos físicos, com ênfase na discussão sobre os impactos causados pelas sociedades e as possíveis soluções; as atividades econômicas e a transformação do espaço. Além disso, o livro apresenta elementos de cartografia como mais uma linguagem para ajudá-lo a compreender o mundo em que vivemos. O autor Conheça seu livro <imagem> Abertura de unidade Apresenta uma imagem ampla, relacionada com os assuntos que serão estudados na unidade. Contém um texto introdutório e algumas questões para você refletir. <imagem> Abertura de capítulo Os capítulos começam com uma imagem e um texto introdutório sobre os principais assuntos que serão abordados. <imagem> Ampliando o conhecimento Apresenta infográficos que ampliam alguns temas relacionados aos conteúdos estudados ao longo dos capítulos. <imagem> Pensando bem Propõe atividades para você checar o que aprendeu, retomar os conteúdos estudados e aprofundar seus conhecimentos. <imagem> Para saber mais Oferece informações complementares e interessantes sobre um conteúdo estudado no capítulo. <imagem> Conexões Possibilita o aprofundamento de seus conhecimentos por meio de textos relacionados aos temas estudados no capítulo. <imagem> Para ler, pesquisar e assistir Apresenta sugestões de livros, sites e filmes sobre os assuntos estudados. Glossário Apresenta o significado de palavras e expressões de difícil compreensão. Texto & contexto Traz questões para serem respondidas no caderno. Elas incentivam a interpretação de textos, fotografias, mapas, tabelas e gráficos. <imagem> Desafios & debates Contém atividades diferenciadas para pesquisa, reflexão e debate sobre um tema. <imagem> Projeto No final do volume, há um projeto que valoriza práticas de pesquisa associadas ao conhecimento geográfico e suas relações com outras áreas do saber.
  • 3. <imagem> Índice remissivo No final do volume, você encontra uma relação de conceitos, categorias e termos importantes para a Geografia e as respectivas páginas em que as ocorrências são mais significativas. Ícone Interdisciplinaridade Indica atividades e propostas interdisciplinares, para que você possa estudá-las de modo integrado com as demais áreas. Sumário Unidade 1 Espaço e sociedade CAPÍTULO 1 Sociedade, natureza e trabalho 10 A relação sociedade-natureza 11 As transformações técnicas e científicas 12 Concepção de natureza 14 A divisão do trabalho 16 Conexões 19 Pensando bem 20 Desafios & debates 22 CAPÍTULO 2 O espaço geográfico 24 Sociedade e trabalho 25 Espaço e poder 28 O espaço atual: um meio técnico-científico-informacional 30 Conexões 31 Pensando bem 32 Desafios & debates 34 CAPÍTULO 3 Espaço e conhecimento cartográfico 36 A linguagem dos mapas 37 A representação da Terra 38 Cartografia e visões de mundo 43 Tipos de mapa 45 Escalas cartográficas 45 Símbolos e convenções cartográficas 47 Cartografia temática 48 Posição e orientação 49 Coordenadas geográficas 51 Sistema de fusos horários 54 A Cartografia em um mundo digitalizado 57 Conexões 61 Pensando bem 62 Desafios & debates 64 <imagem> © Wikimedia Commons/Ghedoghedo Unidade 2 Natureza e espaço geográfico CAPÍTULO 4 Terra, tempo e transformações 68 Big-bang: a teoria da grande explosão 69 Teoria da Acreção 69 Em busca de respostas: o estudo da Terra 70 Marcos da história da Terra 70 Descobrindo as camadas da Terra 72 Sociedade, natureza e recursos 77 Teoria da Deriva Continental 80 Quebra-cabeça planetário: as placas tectônicas 81 Conexões 83
  • 4. Pensando bem 84 Desafios & debates 86 CAPÍTULO 5 A dinâmica da crosta terrestre 87 O deslocamento das placas 88 Os limites entre as placas 89 A crosta terrestre: grandes estruturas 94 Processos esculpidores do relevo terrestre 97 Solo: fonte de vida 103 A sociedade transforma o relevo 106 Classificação das formas de relevo 107 Conexões 109 Pensando bem 110 Desafios & debates 112 CAPÍTULO 6 Atmosfera e clima 114 Tempo e clima na Terra 115 A atmosfera 116 Água na atmosfera 122 Pressão atmosférica 124 A movimentação do ar 125 Dinâmica das massas de ar 127 Correntes oceânicas e climas 129 Climas da Terra 131 Climas do passado 134 Conexões 135 Pensando bem 136 Desafios & debates 138 <imagem> Getty Images/Perspectives CAPÍTULO 7 Biomas e paisagens vegetais 139 Bioma e ecossistema: há diferenças? 140 As paisagens vegetais 142 Processos e causas do desmatamento 148 Ampliando o conhecimento – Desmatamento no mundo 150 Mudanças globais na vegetação 152 Conexões 155 Pensando bem 156 Desafios & debates 158 Unidade 3 Impactos ambientais CAPÍTULO 8 Impactos ambientais e globalização 162 Cadê o ozônio? 163 Virando deserto 165 Perigo! Lixo radioativo 166 A água no planeta 168 Ampliando o conhecimento – Água 170 Conexões 175 Pensando bem 176 Desafios & debates 178 CAPÍTULO 9 Mudanças climáticas 179 Causas naturais da mudança climática 180 Refugiados do clima 185 Conexões 189 Pensando bem 190 Desafios & debates 192 CAPÍTULO 10
  • 5. Problemas ambientais urbanos e rurais 193 Desigualdades no campo e na cidade 194 Impactos ambientais urbanos 195 Impactos ambientais no campo 202 Conexões 205 Pensando bem 206 Desafios & debates 208 Unidade As atividades econômicas e a transformação do espaço 4 CAPÍTULO 11 Agropecuária, natureza e tecnologia 212 Plantar e colher: os primórdios 213 Um período de mudanças 214 Agropecuária no mundo atual 216 Agronegócio 224 Organismos transgênicos 226 Agricultura orgânica 229 Alterações climáticas e agropecuária 231 Conexões 233 Pensando bem 234 Desafios & debates 236 CAPÍTULO 12 Indústria e produção do espaço geográfico 237 Evolução da indústria 238 Indústria e cidades 239 Tipos de indústria 239 Classificação da indústria 240 Formas de organização do trabalho 241 A indústria no mundo 244 A nova divisão internacional do trabalho 252 Conexões 253 Pensando bem 254 Desafios & debates 256 CAPÍTULO 13 Comércio e serviços na economia global 257 Importância do setor terciário 258 Economia global e comércio 260 Fluxos comerciais no mundo 262 Comércio internacional: algumas tendências 265 Circulação de capitais 270 Conexões 273 Pensando bem 274 Desafios & debates 276 Projeto: Pegada ecológica 277 Índice remissivo 282 Referências bibliográficas 285 unidade 1 Espaço e sociedade A partir do momento em que o ser humano começou a modificar a natureza, o planeta Terra deixou de ter apenas
  • 6. paisagens naturais para se transformar em espaço geográfico: um espaço humanizado, construído por meio do trabalho. À medida que mudam os instrumentos de trabalho, a sociedade também se modifica: surgem novas formas de pensar, de morar, de se relacionar, entre outras. Por isso, ao olhar uma paisagem, é importante refletir sobre o modo como vive a sociedade que a construiu e discutir as novas formas de organização social que surgem com o avanço tecnológico. Esse é o desafio da primeira unidade deste livro. <imagem> ©iStockphoto.com/AYOTOGRAPHY Vista parcial de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, em 2012. Um primeiro olhar Uma região produtora de algodão, de café ou de trigo. [...] Um centro urbano de negócios e as diferentes periferias urbanas. Tudo isso são paisagens, formas mais ou menos duráveis. O seu traço comum é ser a combinação de objetos naturais e de objetos fabricados, isto é, objetos sociais, e ser o resultado da acumulação da atividade de muitas gerações. SANTOS, Milton. Pensando o espaço do homem. 5. ed. São Paulo: Edusp, 2007. p. 53. ▸ Como e por que a ação humana transforma as paisagens? ▸ No lugar onde você vive, houve algum tipo de transformação na paisagem? Em caso afirmativo, cite um exemplo. ▸ Em sua opinião, como será , daqui a 20 anos, a paisagem do lugar onde você vive? ▸ Cite um exemplo de como o trabalho pode transformar a paisagem. ▸ De que modo o texto de Milton Santos está relacionado à imagem acima? ▸ Em sua opinião, por que a paisagem é “o resultado da acumulação da atividade de muitas gerações”? Capítulo 1 Sociedade, natureza e trabalho <imagem> ©GOOGLE EARTH/IMA G E ©2015 DIGITALGLO B E/D A TA SIO, NOAA, U.S. NAVY, NGA, GEBCO Imagem de satélite do arquipélago artificial The World, com cerca de 300 ilhas organizadas à semelhança do mapa- múndi, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, 2015. A natureza é um patrimônio comum da humanidade, pois é fonte de vida para todos os seres humanos. Mas, dependendo da sociedade, a natureza e o próprio trabalho podem ser encarados de maneiras absolutamente diversas. Os grupos humanos, assim como todos os animais, agem sobre a natureza para obter alimento, abrigo e proteção, satisfazendo suas necessidades. No entanto, há uma grande diferença entre a ação do ser humano e a dos demais animais. Estes têm apenas necessidades básicas, que permanecem sempre as mesmas, e já nascem intuindo o modo de agir. Os grupos humanos, ao contrário, por terem razão (ou inteligência avançada), refletem sobre sua ação, planejam, inventam, preveem resultados e, com isso, criam conhecimento e desenvolvem cultura. Nessa medida, as necessidades humanas aumentam, diversificam-se e variam no tempo e no espaço, bem como a maneira de satisfazê-las. Daí a diversidade de formas nas paisagens. A relação sociedade-natureza
  • 7. Nos primórdios da humanidade, a natureza era pouco modificada pelos grupos humanos, pois eles viviam da coleta, da caça e da pesca. Muito dependentes das condições naturais, andavam de um lugar para outro à procura de meios para sua sobrevivência. Atualmente, a natureza tem sido cada vez mais modificada. Os seres humanos derrubam florestas e semeiam lavouras, removem morros e abrem túneis, aterram enseadas e constroem cidades, entre outras ações. A ação humana exige um saber cada vez maior sobre a natureza, tanto com relação aos elementos que a constituem quanto aos mecanismos do seu funcionamento. Daí o avanço do conhecimento, que alimenta a ideia de domínio da sociedade sobre a natureza. Hoje em dia, essa ideia parece estar consagrada por muitas pessoas, pois ainda predomina uma concepção de mundo na qual ser humano e natureza estão desvinculados um do outro, absolutamente separados e contrapostos: o ser humano, dotado de inteligência, é capaz de dominar a natureza para dela retirar tudo de que necessita. Por sua vez, como simples fonte de recursos, a natureza oferece todos os elementos necessários à sobrevivência do ser humano – os chamados recursos naturais. Vista dessa maneira, a relação do ser humano com a natureza é sempre mediada pelo trabalho, entendido como a atividade de transformar os elementos naturais em bens capazes de satisfazer as necessidades humanas. Um exemplo dessa transformação pode ser observado nas fotos a seguir. Nesse sentido, qualquer ação dos seres humanos é um trabalho, seja o simples gesto de colher um fruto, seja a complexa operação de montar um computador, cujas peças são feitas com material extraído da natureza. Assim concebido, o trabalho define-se como o “fazer produtivo”. O que é natureza? Marcos Bernardino de Carvalho. São Paulo: Brasiliense, 1999. O livro aborda as relações, ao longo da História, entre os seres humanos e deles com o meio ambiente. Recurso natural: elemento da natureza aproveitado pelas sociedades para suprir suas necessidadesemdeterminado tempo e espaço. Pode ser de dois tipos: renovável(que se multiplica por si ou não se esgota facilmente) ou não renovável(que se esgota depois de aproveitado pelo ser humano). <imagem> Getty Images/Bloomberg/Simon Dawson Trabalhadoras em fábrica de computadores em Pencoed, País de Gales, 2013. humano). <imagem> Glowimages/AFP Colheita manual de caju em Kapa, perto de Farim, Guiné Bissau, 2012. As transformações técnicas e científicas As intervenções na natureza e as consequentes modificações nela introduzidas pelas sociedades dependem das técnicas. Por sua vez, a técnica, isto é, o modo de fazer algo, envolve os instrumentos de trabalho a serem usados na ação. Instrumentos simples, como o machado e o arado, propiciam alterações modestas na natureza. Já instrumentos aperfeiçoados, como a motosserra e o trator, provocam alterações mais expressivas. Movida por interesse ou por alguma necessidade, a sociedade pode conceber novas técnicas e construir outros instrumentos para aumentar o rendimento de seu trabalho. O fim da Idade Média foi um tempo de importantes progressos e descobertas. Muitas das invenções desse período continuam presentes nos dias atuais, como os óculos e o botão. Nessa época, na Europa, diante da necessidade de aumentar a produtividade e das constantes crises advindas da falta de alimentos, foram promovidas importantes inovações técnicas: a adoção de novo mecanismo de tracionar o arado, a prática da rotação trienal de cultivos e a difusão do moinho de água, conhecido desde a Antiguidade. <imagem> LatinStock/Science Photo Library/King’s College London Georg Andreas Böckler. Theatrum machinarum novum, 1662. Nessa gravura, produzida no século XVII, é possível observar um moleiro moendo grãos em um moinho de água. Ciência Hoje <http://cienciahoje.org.br>. Acesso em: 29 jun. 2017. Divulga, por meio de reportagens e notícias, a produção científica brasileira. Trata das mais variadas áreas da ciência, como Geografia, Biologia, Astronomia, Engenharia e Física. Idade Média: período da História entre a Antiguidade e a Idade Moderna, ou seja, o intervalo que compreende o século V ao XV.
  • 8. <imagem> ilustrações: Getulio Delphim/Arquivo da editora Rotação trienal é o sistema agrícola que consiste em dividir a terra em três lotes, usando-os, alternada e sucessivamente, com culturas diferentes, como trigo e centeio, e o pousio – período de descanso de um dos lotes ou parcelas, enquanto os outros dois continuam a produzir. O objetivo desse sistema é poupar o solo do esgotamento, sobretudo das culturas que exaurem muito a terra. Completa-se um rodízio a cada três anos. Elaborado pelo autor para fins didáticos. Desafios e necessidades As inovações técnicas trazem, em geral, novos problemas à sociedade, representando novos desafios e a consequente necessidade de resolvê-los. Disso resulta a evolução da técnica, ou seja, a sucessão de novas formulações do fazer humano. A invenção do automóvel, no século XIX, por exemplo, trouxe a necessidade de uma roda compatível com esse meio de transporte: o pneu foi inventado dois anos depois. Atualmente, os instrumentos de trabalho tornam-se mais complexos e, em muitos casos, deixam de ser prolongamentos da mão do ser humano para constituírem verdadeiras próteses impostas à natureza. Assim, por exemplo, para obter a força hidráulica necessária ao funcionamento das turbinas de uma usina hidrelétrica, as águas de um rio são represadas e formam um lago e uma queda-d’água artificiais. Portanto, as inovações técnicas e o aperfeiçoamento dos instrumentos de trabalho imprimem progresso aos mecanismos de apropriação da natureza, o que significa maiores modificações e domínio mais intenso sobre o mundo natural. A concepção de domínio do ser humano sobre a natureza teve como marco fundamental o advento do capitalismo, nos séculos XV e XVI. A partir daí, as atividades passaram a se voltar à venda dos produtos, com o objetivo de obter lucro. Esse sistema econômico baseia-se na influência ou no predomínio do capital, isto é, todo bem passível de ser aplicado na produção ou capaz de gerar renda a ser usada para obter nova produção. Tradicionalmente, o capitalismo é caracterizado pela existência de dois grandes segmentos: os donos do capital (equipamentos, máquinas, etc.) e aqueles que só dispõem de sua força de trabalho para sobreviver. <imagem> Natureza Brasileira/Zig Koch Sobradinho, situado nos municípios de Sobradinho e Casa Nova, é o principal reservatório de água da Bahia e um dos maiores lagos artificiais do mundo. Foto de 2012. Para saber mais História do pneu Quando se fala de pneu, tem-se a impressão de que ele mudou pouco [...]. No início os automóveis seguiam o princípio das carruagens, que usavam aros de ferro ou madeira, até que, [...] em 1843, começaram a ganhar aros revestidos de borracha. Ainda assim, eram duros e se quebravam com facilidade. A solução só surgiu três anos depois [...]. Robert William Thomson criou em 1846 a bolsa de ar sobre a qual os carros se deslocariam no futuro, o pneumático. Tornava os pneus mais duráveis e resolvia de vez o problema da falta de conforto. Mas, por falta de matéria-prima de qualidade, Thomson desistiu da ideia e passou a recobrir as rodas com aros de borracha maciça. “Imagine um pneu que não se adapta a uma pedra na estrada, por exemplo. Em vez de absorver seu formato, ele sobe nela, deslocando toda a massa do veículo. Era isso que tornava a rolagem mais difícil”, diz Argemiro Luís de Aragão Costa, engenheiro da SAE, instituição que congrega os engenheiros automotivos. Em 1888, o veterinário escocês John Boyd Dunlop adaptou pneus no triciclo do seu filho (na verdade, um t ubo cheio de ar atado ao aro por fitas) e fez tanto sucesso que fundou a primeira fábrica de pneus do mundo. [...] RUFFO, Gustavo Henrique. A história do pneu. Quatro Rodas, São Paulo, abr. 2009. Disponível em: <http://quatrorodas.abril.com.br/autoservico/reportagens/historia- pneu-476615.shtml>. Acesso em: 20 out. 2015. Concepção de natureza O aumento da produtividade, com o consequente incremento da oferta de mercadorias, e a formação de um mercado mundial foram fatores importantes para o desenvolvimento inicial do capitalismo. O mercado mundial constituiu-se a partir das Grandes Navegações, que se tornaram possíveis graças a inovações técnicas ocorridas na navegação
  • 9. marítima da época (leia o boxe Para saber mais, abaixo). A descoberta de novos continentes – novas áreas a serem exploradas – e a sobrevalorização da inteligência a serviço da técnica contribuíram para a ideia de que o controle do ser humano sobre a natureza tinha possibilidades ilimitadas. Cada vez mais o mundo natural era visto somente como fonte de recursos para as atividades econômicas e, ainda, como manancial inesgotável. O desenvolvimento da chamada ciência moderna, nos séculos XVI e XVII, contribuiu igualmente para a construção dessa concepção pragmática de natureza, na medida em que o saber científico, prático, era aceito como a única forma de conhecimento, e o conhecimento de tudo o que fosse externo ao ser humano significava controle e domínio, principalmente sobre o mundo natural. Ciência moderna: nos séculos XVIe XVII, por meio de vários estudosrealizadosnas áreasde Astronomia, Medicina, Matemática e Física, construiu-se a concepção de que o verdadeiro conhecimento é realizado pela observação,pela experimentação e pela demonstração de umobjeto de estudo, com o emprego de um método adequado a tais finalidades. Oser humano, o sujeito que conhece, aplica determinado método sobre o objeto a ser conhecido. Rompia-se, assim, coma ideia anterior de conhecimento, o qualderivava, sobretudo, da especulação filosófica. Entre os principais expoentes da época, cabe destacar Nicolau Copérnico, Galileu Galilei, Roger Bacon e René Descartes. Pragmático: aquilo que pode ter um efeito prático qualquer. Opragmatismo, doutrina filosófica do fimdo século XIX e início do século XX, caracteriza- se por enfatizara necessidadede aplicar as ideias comumpropósito, por encarara verdade do ponto de vista da utilidade e por considerar o pensamento um guia para a ação. Para saber mais O mapa do céu espelhado no mar A navegação baseada na observação astronômica – a astronáutica – era indispensável para a navegação no Atlântico, especialmente no retorno a Portugal no fim das longas viagens inauguradas na segunda metade do século XV. [...] Orientar-se numa Terra ainda sem mapas dependia diretamente de saber ler e usar o mapa do céu espelhado no mar, caminho que apenas a experiência, associada ao conhecimento, poderia estabelecer. Assim, ao partir, os navegadores tomavam a altura mediana de uma estrela. Depois de fixar essa altura, calculavam a distância vencida a partir de nova observação do mesmo astro, feita mais adiante, equivalendo cada grau a 16 léguas e dois terços. [...] [A observação] dos astros dependia de vários instrumentos, entre os quais se destacava o astrolábio. O astrolábio, cuja invenção tem sido atribuída aos gregos (Apolônio de Perga, séculos II-III a.C., ou Eudoxo de Cnido, século IV a.C.), chegou através dos árabes aos astrólogos medievais. Depois de várias adaptações, o astrolábio plano acabou se transformando no principal instrumento usado pelos navegadores portugueses [...]. MICELI, Paulo. A oficina do cartógrafo. In: O tesouro dos mapas: a Cartografia na formação do Brasil. São Paulo: Instituto Cultural Banco Santos, 2002. p. 130-131. <imagem> LATINSTOCK/ALBUM/AKG-IMAGES/RABATI – DOMINGIE Astrolábio árabe produzido no século IX. Esse instrumento, usado pelos navegantes em suas viagens a partir do século XV, cons iste em um disco de metal ou madeira. Era utilizado para determinar a altura do Sol e de outros corpos celestes A ideia de que a única relação sociedade-natureza é aquela intermediada pelo trabalho e que este representa o processo de transformação dos elementos naturais em coisas úteis para a vida humana tem uma origem histórica conhecida. O fato de grande parte da humanidade ter desenvolvido essa concepção explica-se pela universalização dos valores ocidentais, impostos há vários séculos. Mas não se deve desconsiderar as culturas que, ainda hoje, apresentam uma concepção de natureza absolutamente diversa da nossa. Há membros de algumas sociedades, por exemplo, que se sentem completamente integrados ao mundo natural, não cabendo entre eles sequer a distinção ser humano versus natureza. Para determinadas sociedades antigas, ou mesmo para algumas culturas ainda existentes, a natureza é fonte de vida, mas não somente no que diz respeito ao fornecimento de recursos para a subsistência. Para elas, a natureza apresenta-se sacralizada, o que significa que tais povos moldaram sua cultura, sua ideia de religião e sua visão de mundo com base nos elementos naturais. Tomemos, por exemplo, uma aldeia indígena cujos membros trabalhavam seis horas por dia para obter o necessário à sua sobrevivência. Com a utilização do machado, passaram a trabalhar apenas três horas, aproveitando as demais para aumentar o tempo dedicado a jogos, cantos e outras atividades de recreação. Isso porque os indígenas concebem o trabalho somente como um meio de satisfazer suas necessidades básicas. Além disso, suas atividades são
  • 10. desenvolvidas, muitas vezes, de maneira lúdica, e não somente como imposição ou obrigação da vida em sociedade. No entanto, se a inovação ocorresse em outra sociedade, o uso do novo instrumento garantiria a subsistência com três horas de trabalho, e as outras três seriam destinadas a aumentar a produção, com o intuito de obter um excedente para venda. Afinal, a concepção de trabalho que está por trás da busca pelo excedente é justamente aquela do trabalho produtivo. Pelos exemplos, pode-se perceber uma grande diferença entre uma sociedade e outra no que se refere à transformação da natureza: enquanto muitos indígenas a modificam pouco, outras sociedades a alteram cada vez mais, chegando a destruí-la em alguns aspectos. A construção de barragens, por exemplo, implica a inundação de grandes extensões de terra, que, na maioria dos casos, fic-arão submersas para sempre. <imagem> Pulsar Imagens/Renato Soares Abertura dos VIII Jogos Indígenas Pataxó, em Porto Seguro (BA), 2014 Texto & contexto 1. Imagine duas situações: um grupo de indígenas trabalhando em uma aldeia da Amazônia para produzir farinha de mandioca e uma linha de montagem de aparelhos eletrônicos na Zona Franca de Manaus. Que concepções de trabalho e de natureza estão por trás de cada uma dessas situações? 2. Em sua opinião, onde ainda é possível encontrar sociedades em que diferentes modos de vida se integram harmoniosamente com a natureza? Justifique. A divisão do trabalho A primeira grande inovação do capitalismo foi promover a divisão do trabalho para melhorar a produtividade e aumentar a produção de bens, agora entendidos como mercadorias, uma vez que se destinam ao mercado. Ao contrário do que ocorre no artesanato, em que um mesmo trabalhador realiza todas as operações produtivas, na divisão do trabalho, há uma decomposição do processo de produção, ou seja, cada operação ou tarefa é feita por um ou mais trabalhadores. Ao ser introduzida, inicialmente em várias localidades da Europa, a divisão do trabalho propiciou o aumento da produtividade porque: ▸ poupou o tempo desperdiçado pelo trabalhador ao passar de uma tarefa para outra; ▸ possibilitou a especialização do trabalhador, agora dedicado a uma só tarefa; ▸ estimulou a invenção de ferramentas especialmente adaptadas a cada tipo de trabalho. Mercado: reduto ou instância da sociedade em que se processamoferta e procura (demanda) de bens e serviços, inclusive capitais e mão de obra. Pode ser local, regional, nacional ou internacionale, ao mesmo tempo, é dividido em setores: mercado de capitais, de trabalho, de produtos agropecuários, etc. <imagem> Fotoarena/La Imagem/Rodolfo Buhrer O uso da tecnologia e a especialização da mão de obra estão presentes na moderna divisão do trabalho. Na foto, linha de produção de indústria automobilística em São José dos Pinhais (PR), 2015. Samsara Direção de Ron Fricke. Estados Unidos: Mark Magidson, 2011. 102 minutos. Documentário que mostra o mundo e sua diversidade por meio de belas imagens e paisagens. Nele, há também cenas instigantes que levam ao questionamento dos padrões de produção e consumo da sociedade atual. Para saber mais Divisão territorial do trabalho A divisão do trabalho que ocorre no interior de uma fábrica ou na sociedade como um todo (operários, professores, comerciantes, pedreiros, etc.) acontece também no espaço geográfico, ou seja, no espaço produzido pela sociedade. Se você observar mapas econômicos de determinados países, verá que há áreas do território mais utilizadas para a pecuária; em outras, predomina a agricultura; outras, ainda, apresentam grande concentração de indústrias; etc. Existe, enfim, uma repartição espacial das atividades econômicas, que implica na chamada divisão territorial do trabalho. Em geral, essa diferenciação regional ocorre por motivos históricos e vinculados a interesses econômicos. Tais
  • 11. interesses podem estar ligados a fatores naturais e também à localização estratégica. O trabalho como mercadoria Quanto mais complexa a economia de determinado país, mais o trabalho individual torna-se insuficiente para responder às necessidades gerais do próprio indivíduo. A divisão social do trabalho faz com que a tarefa individual seja só uma pequena parcela do processo de reprodução geral da sociedade. Entre alguns povos indígenas, por exemplo, toda a divisão do trabalho é visivelment e percebida por todos, o que é impossível em outras sociedades, particularmente nas grandes cidades. Hoje, não se fala mais somente em pastores e agricultores; existem pedreiros, motoristas, médicos, advogados, professores, analistas de sistemas, web designers, empregadas domésticas e um grande número de outros profissionais. Tempos modernos Direção de Charles Chaplin. Estados Unidos: United Artists, 1936. 83 minutos. O filme retrata a vida de um operário que trabalha na linha de produção de uma fábrica no início do século XX. De forma leve e divertida, mostra a triste realidade desse trabalhador e faz uma forte crítica, ainda atual, à sociedade. <imagem> Criar Imagem/Fernando Favoretto Motorista de ônibus em São Paulo (SP), 2012. <imagem> Pulsar Imagens/Luciana Whitaker Professora em sala de aula no município de Rio das Flores (RJ), 2014. O desenvolvimento do capitalismo, que acelerou a especialização da produção, monetarizou e intensificou as relações comerciais e tornou a produção voltada quase exclusivamente para a venda. Também levou o ser humano a ser menos responsável individualmente pela satisfação de suas necessidades básicas, tornando-se, nessa condição, mais uma mercadoria, dotada de valor de troca no mercado de trabalho. Nas sociedades modernas, portanto, as pessoas, por meio do trabalho, e a natureza, pelas matérias -primas e pelos elementos que oferece, transformaram-se conjuntamente em mercadoria. Com relação a isso, as pessoas não têm mais controle direto sobre seu trabalho nem sobre o fruto dele. Tornaram-se mais dependentes e, contraditoriamente, mais isoladas e sozinhas. A atual civilização ocidental, moldada pela indústria e, sobretudo, pelo capital financeiro, fez as sociedades dependerem menos das forças naturais e mais de suas próprias criações. Monetarizar: instituir a moeda ou o dinheiro – meio de transferência de riquezas – como padrão de referência para as atividades e transações econômicas, particularmente salários e preços. Texto & contexto 1. As inovações técnicas trazem, geralmente, novas soluções e também problemas à sociedade. Você concorda com essa afirmação? Responda à questão e dê exemplos com base na observação das paisagens do município onde você vive. 2. O ser humano deve dominar a natureza e dela extrair tudo de que necessita. Que concepção de mundo está subentendida nessa afirmação? Limitações da natureza A atividade dos grupos humanos, por mais transformadora que seja, não chega a eliminar a ação das forças naturais. Em vários aspectos, a natureza se apresenta como fator limitante às atividades humanas. Por exemplo: quando se prevê a atuação devastadora de um maremoto ou de um tsunami, podem-se tomar diversas medidas para neutralizar ou reduzir seus efeitos destrutivos, porém nunca para eliminar a ação do fenômeno; as estações do ano são importantes para o ciclo das lavouras; a construção de pontes e túneis nas estradas é uma adequação às condições naturais do terreno; etc. Diante das limitações impostas por fatores naturais, várias têm sido as soluções encontradas pelas mais diferentes
  • 12. sociedades no decorrer da História. Tais soluções revelam não só o grau de desenvolvimento tecnológico, mas também a forma de agir e pensar dos agrupamentos humanos. O estudo da natureza, portanto, permite desvendar muitos aspectos da realidade social. Marcovaldo ou as estações na cidade Ítalo Calvino. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. Marcovaldo é um operário que busca a natureza a todo instante. Observa detalhes que persistem em meio à cidade e sente as mudanças das estações do ano, alheio ao ambiente urbano e à sociedade de consumo em que vive. <imagem> LatinStock/Reuters/Kyodo Em 11 de março de 2011, um enorme tsunami atingiu a costa leste do Japão, provocado por um terremoto de forte intensidade. Para saber mais Defesa civil A proteção e defesa civil no Brasil está organizada sob a forma de sistema, denominado de Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil – Sinpdec –, composto por vários órgãos. A Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil – Sedec –, no âmbito do Ministério da Integração Nacional, é o órgão central desse sistema, responsável por coordenar as ações de proteção e defesa civil em todo o território nacional. Sua atuação tem o objetivo de reduzir os riscos de desastres. Também compreende ações de prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação e se dá de forma multissetorial e nos três níveis de governo – federal, estadual e municipal –, com ampla participação da comunidade. [...] O município deve estar preparado para atender imediatamente a população atingida, reduzindo perdas materiais e humanas. Por isso, a importância de cada cidade criar um órgão que trate da redução dos riscos e da eficácia na resposta imediata aos desastres. Há uma grande diversidade de desastres naturais, humanos e mistos [...]. A realidade brasileira, neste contexto de desastres, pode ser caracterizada pela frequência dos desastres naturais cíclicos, especialmente as inundações em todo o país, seca na região Nordeste e um crescente aumento dos desastres humanos, devido ao crescimento urbano desordenado, às migrações internas e ao fenômeno da urbanização acelerada sem a disponibilidade dos serviços essenciais. Em um cenário de extensão continental, [...] o Brasil apresenta-se com características regionais de desastres, onde os mais prevalentes são: Técnico em defesa civil: atua na prevenção e na proteção contra desastres, buscando minimizar perdas materiais e, sobretudo, humanas. <imagem> Ilustrações: Edição de arte/Arquivo da editora MINISTÉRIO da Integração Nacional. Disponível em: <http://www.mi.gov.br/web/guest/sedec/apresentacao>. Acesso em: 21 out. 2015. Conexões Geógrafo e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Ruy Moreira (1941-) é considerado um dos expoentes da renovação da ciência geográfica no Brasil. Publicou vários livros dedicados à história do pensamento geográfico e aos conceitos fundamentais da Geografia. No texto a seguir, discorre sobre o espaço geográfico como produto do trabalho social. Leia-o com atenção e, depois, faça o que se pede. O espaço como produto social [...] Pelo que já se deu a entender, o espaço não é suporte, substrato ou receptáculo das ações humanas. E não se confunde com a base física. O espaço geográfico é um espaço produzido. Nele a natureza não é mera base ou parte integrante. É uma condição concreta de sua produção social. E isso porque a natureza é uma condição concreta da existência social dos homens. Conquanto a “primeira natureza” não seja o espaço geográfico, não há espaço geográfico sem ela. Sobre esse assunto, [...] vale lembrar que, de todos os objetos existentes num arranjo espacial, os de ordem natural são os únicos que não derivam do trabalho social. [...]
  • 13. O caráter social do espaço geográfico decorre do fato simples de que os homens têm fome, sede e frio, necessidades de ordem física decorrentes de pertencer ao reino animal, ponte de sua dimensão cósmica. No entanto, à diferença do animal, o homem consegue os bens de que necessita intervindo na “primeira natureza”, transformando-a. Transformando o meio natural, o homem transforma-se a si mesmo. Ora, como a obra de transformação do meio é uma realização necessariamente dependente do trabalho social (a ação organizada dos homens em coletividade), é o trabalho social o agente de transformação do homem de um ser animal para um ser social, combinando esses dois momentos em todo o decorrer da história humana. [...] Decorre disso que a formação espacial deriva de um duplo conjunto de interações, que existem de forma necessariamente articulada: a) o conjunto das interações homem-meio; e b) o conjunto das interações homem- homem. Tais interações ocorrem simultânea e articuladamente, sendo, na verdade, duas faces de um mesmo processo. O caráter simultâneo e articulado dessas interações pode ser expresso nos seguintes termos: os homens entram em relação com o meio natural através das relações sociais travadas por eles no processo de produção de bens materiais necessários à existência. Engels já observava que os homens entram em relações uns com os outros através do trabalho de transformação da natureza. Não haveria relações sociais se não houvesse a necessidade de os homens transformarem o meio natural em meio de subsistência ou de a este chegarem por meio do trabalho. [...] MOREIRA, Ruy. Pensar e ser em Geografia: ensaios de história, epistemologia e ontologia do espaço geográfico. São Paulo: Contexto, 2007. p. 65 -66. <imagem> Pulsar Imagens/Alexandre Tokitaka
  • 14. Plantação de alface orgânica no município de Ibiúna (SP), em 2015. O ser humano altera a paisagem para suprir suas necessidades, como a produção de alimentos. Responda no caderno 1. Em sua opinião, o que o autor quer dizer com a expressão “primeira natureza”? 2. Por que o espaço geográfico tem caráter social? De que depende sua transformação? 3. De que resultam as formações espaciais? Pensando bem Responda no caderno 1. O texto a seguir diz respeito à descoberta do ser humano sobre como controlar e usar o fogo. Leia-o com atenção e, depois, responda às questões. A descoberta que mudou a humanidade Há centenas de milhares de anos, nas noites frias de inverno, a escuridão era um grande inimigo. Sem a lua cheia, a negritude da noite, além de assustadora, era perigosa. Havia muitos predadores com sentidos aguçados e que poderiam atacar facilmente enquanto dormíamos. O frio intenso era outro inimigo. Não eram fáceis os primeiros passos da humanidade, dados por antepassados muito diferentes de nós. Até que, um dia, talvez ao observar uma árvore atingida por um raio, os hominídeos primitivos descobriram algo que modificaria completamente o rumo da nossa evolução: o fogo. Ao dominar essa entidade, foi possível se aquecer, proteger-se dos predadores e ainda cozinhar os alimentos. Como nenhuma outra criatura do nosso planeta, conseguimos usar a nosso favor um fenômeno natural para ajudar a vencer as dificuldades diárias. Com o fogo, a noite já não era mais tão perigosa e diminuía a necessidade de se esconder ou lutar. Acredita-se que a descoberta de seu uso tenha agido diretamente sobre a nossa forma de pensar, pois permitiu mais tempo para pensarmos. [...] A importância da utilização do fogo como instrumento de transformação da nossa sociedade se acelerou com o progresso da cultura humana. Além de fornecer conforto térmico e melhorar a preparação de alimentos, ele desde cedo foi usado em rituais dos mais diferentes povos, na fabricação de armas (até os dias atuais), na produção de novos materiais (ajudando a fundir metais, por exemplo) e como fonte de calor para máquinas térmicas. [...] OLIVEIRA, Adilson de. A descoberta que mudou a humanidade. Ciência Hoje, 16 jul. 2010. Disponível em: <http://www.cienciahoje.org.br /noticia/v/ler /id/2785/n/a_descoberta_que_mudou_a_humanidad e>. Acesso em: 29 jun. 2017. a) A qual técnica desenvolvida pelo ser humano o texto se refere? O que isso possibilitou? b) O que o autor quis dizer com a frase: “Acredita-se que a descoberta de seu uso tenha agido diretamente sobre a nossa forma de pensar, pois permitiu mais tempo para pensarmos”? c) Em sua opinião, o controle do fogo pelo ser humano ainda é importante nos dias de hoje? Por quê? d) Com relação aos objetos que fazem parte do seu cotidiano, quais deles não existiriam caso o ser humano não tivesse desenvolvido técnicas para dominar o fogo? Cite, ao menos, dois exemplos. 2. Você já imaginou como o ser humano se guiava em longas viagens sem ter à disposição equipamentos modernos de navegação? Apesar de não existir GPS, por exemplo, havia outros equipamentos que auxiliavam os exploradores em suas viagens. Além disso, eles observavam atentamente o céu, a posição do Sol, da Lua e das estrelas. Para conhecer um pouco mais sobre esses equipamentos, reúnam-se em grupos de quatro alunos e pesquisem, em livros, enciclopédias, revistas e/ou na internet, informações sobre um destes objetos: ▸ gnômon; ▸ astrolábio; ▸ sextante; ▸ quadrante mural; ▸ bússola. Sigam o roteiro abaixo.
  • 15. a) Como o objeto em questão funciona? b) Quem o utiliza? c) Qual é sua importância? d) Que conhecimentos e técnicas são necessários para sua utilização? e) Procure uma foto ou crie uma ilustração do objeto. Após a pesquisa, confeccionem cartazes para apresentar os resultados aos demais colegas de sala. 3. Leia o trecho a seguir, extraído de uma reportagem sobre as mudanças que devem ocorrer no mercado de trabalho nas próximas décadas. Em seguida, discuta com os colegas as questões propostas. As profissões condenadas a desaparecer [...] Frey [doutor em economia da Universidade de Oxford] e Michael Osborne, professor de ciência de engenharia de Oxford, avaliaram tarefas cotidianas de mais de 700 ocupações, para identificar o que uma máquina poderá fazer melhor que os humanos nas próximas duas décadas. [...] As profissões mais ameaçadas estão nas áreas de logística, escritório e produção, aquelas que envolvem tarefas intelectualmente repetitivas. Embora o estudo seja baseado no mercado de trabalho dos Estados Unidos, suas conclusões são aplicáveis mundialmente. [...] Exercícios de futurologia sobre a evolução da tecnologia existem há décadas – e, há décadas, eles costumam errar o alvo. Historicamente, os profetas pecam pelo otimismo. Agora, a realidade parece ter chegado antes do previsto. Em 2004, os economistas Frank Levy, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), e Richard Murnane, da Universidade Harvard, disseram no livro A nova divisão do trabalho que os robôs continuariam incapazes de realizar tarefas complexas, como dirigir. A previsão dos dois especialistas foi superada em 2005, quando Stanley, um carro sem motorista da Universidade Stanford, venceu um desafio proposto pela Agência de Projetos Avançados de Defesa dos Estados Unidos (Darpa). [...] A substituição do trabalho humano por ferramentas fez a humanidade evoluir desde a Idade da Pedra. Vista de perto, porém, a evolução técnica não ocorre de maneira harmônica e sincronizada. Vem acompanhada de crises, num ciclo que o economista austríaco Joseph Schumpeter (1883-1950) batizou como “destruição criadora”. “A estrutura econômica é incessantemente transformada de dentro para fora, incessantemente destruindo a anterior e incessantemente criando outra nova”, afirma no livro Capitalismo, socialismo e democracia. “Esse processo de destruição criadora é o elemento essencial do capitalismo.” [...] MOURA, Marcelo. As profissões condenadas a desaparecer – e as que resistirão às novas tecnologias. Época, 6 mar. 2014. Disponível em: <http://epoca.globo.com/vida/vida-util/carreira/noticia/2014/03/bprofissoesb-condenadas-desaparecer-e- que-resistirao-novas-tecnologias.html>. Acesso em: 21 out. 2015. a) Em suaopinião, quais são os principais desafios enfrentados pelos jovens que estão ingressando ou, daqui a algum tempo, ingressarão no mercado de trabalho? b) Como eles poderão encarar esses desafios? <imagem> Agência O Globo/Eduardo Naddar Jovens mostrando sua primeira carteira de trabalho. Rio de Janeiro (RJ), 2011. 4. Enem (2011) A introdução de novas tecnologias desencadeou uma série de efeitos sociais que afetaram os trabalhadores e sua organização. O uso de novas tecnologias trouxe a diminuição do trabalho necessário, que se traduz na economia líquida do tempo de trabalho, uma vez que, com a presença da automação microeletrônica, começou a ocorrer a diminuição dos coletivos operários e uma mudança na organização dos processos de trabalho. Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales. Universidad de Barcelona, n. 170(9). 1º ago. 2004. A utilização de novas tecnologias tem causado inúmeras alterações no mundo do trabalho. Essas mudanças são observadas em um modelo de produção caracterizado a) pelo uso intensivo do trabalho manual para desenvolver produtos autênticos e personalizados. b) pelo ingresso tardio das mulheres no mercado de trabalho no setor industrial. c) pela participação ativa das empresas e dos próprios trabalhadores no processo de qualificação laboral. d) pelo aumento na oferta de vagas para trabalhadores especializados em funções repetitivas. e) pela manutenção de estoques de larga escala em função da alta produtividade.
  • 16. Desafios & debates Em grupo Como vimos ao longo deste capítulo, o trabalho tem papel fundamental na construção do espaço geográfico. Como atividade individual, orgânica do processo produtivo realizado socialmente, ele é o meio de legitimação da existência humana, na medida em que responde pela sobrevivência da sociedade. Apesar disso, o trabalho é valorizado de modos diferentes na sociedade brasileira. Muitas pesquisas indicam que, embora a participação das mulheres no mundo do trabalho tenha aumentado, boa parte delas ainda recebe salários inferiores aos dos homens, mesmo desempenhando funções iguais. 1. Leiam atentamente o texto a seguir e, com base nele, expliquem a mensagem transmitida pela charge. Mulheres são mais “multitarefa” do que os homens, diz estudo Apesar das mudanças na sociedade, as mulheres ainda são mais sobrecarregadas e desempenham mais tarefas ao mesmo tempo, em relação aos homens, quando se trata de trabalho em casa. A situação foi identificada por um estudo da Bar-Ilan University, em Israel, em parceria com a Michigan State University, nos Estados Unidos. A pesquisa, publicada no American Sociological Review, foi feita com 368 mães e 241 pais, todos com empregos fora de casa. A conclusão foi que elas trabalham quase 10 horas a mais por semana do que eles em tarefas realizadas simultaneamente, como cuidar das crianças enquanto preparam o jantar e lavam a louça. [...] Para chegar a esse resultado, os estudiosos deram aos participantes um aparelho que emitia um “bip” em sete momentos aleatórios do dia. Toda vez que ouviam o som, eles tinham que escrever quais tarefas estavam realizando no momento e como estavam se sentindo. Foi aí que descobriram que as mulheres estavam muito mais estressadas e sobrecarregadas do que os homens, que afirmaram sentir prazer ao desempenhar várias funções simultâneas. Apesar dessa diferença, a pesquisa mostrou também que tanto os homens quanto as mulheres afirmaram ter sensações positivas quando realizam multitarefas acompanhados do cônjuge e dos filhos. Já no trabalho, a multitarefa cria sentimentos negativos em ambos, mesmo com a sensação de maior produtividade. CARVALHO, Luciana. Mulheres são mais “multitarefa” do que os homens, diz estudo. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/estilo-de-vida/noticias/mulher es-sao- mais-multitarefa-do-que-os-homens-diz-estudo>. Acesso em: 25 jan. 2016. <imagem> JUNIÃO/acervo do artista Charge do artista Junião, publicada no jornal Diário do Povo, em 2011. 2. Com base no gráfico e na charge abaixo, respondam às questões. Desigualdade salarial <imagem> Ilustrações: ©ISTOCKPHOTO/RED_FROG <imagem> Edição de arte/arquivo da editora GUTIERREZ, Felipe. Desigualdade de salários entre homens e mulheres mais que dobra em 12 anos. Folha de S.Paulo, 24 maio 2015. Disponível em: <http://classificados.folha.uol.com.br/empregos/2015/05/1632713- diferenca-de-salario-de-admissao-de-homens-e-mulheres-aumenta.shtml>. Acesso em: 21 out. 2015. a) Na opinião do grupo, que mensagem o autor da charge transmite? b) A que conclusões vocês chegam ao comparar os dados sobre o salário médio de admissão de homens e mulheres no Brasil? c) Elaborem um texto sobre a participação das mulheres no mundo do trabalho e a desigualdade salarial de gênero. Pesquisem novas informações sobre o tema em revistas e/ou na internet. Ao término da atividade, troquem ideias com o professor e os colegas.
  • 17. <imagem> Gilmar/acervo do artista Charge do artista Gilmar, publicada no jornal Força Sindical, em 2013. Em debate Leia o texto abaixo. Mulher negra é a que ganha menos no mercado, diz Laeser A mulher negra, no Brasil, continua ocupando a base da pirâmide social, ganhando menos em qualquer função e tendo dificuldades de acesso aos postos de mando e comando no mercado de trabalho. É o que demonstra o Boletim de fevereiro do Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Estatísticas e Sociais das Relações Raciais do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Laeser). As diferenças de salário nas seis maiores regiões metropolitanas do país variam de R$ 904,15, no emprego doméstico com carteira, contra R$ 917,88 das mulheres brancas, a R$ 2.761,55 contra R$ 4.388,59, que são obtidos por mulheres brancas quando na situação de empregadoras. As diferenças também se repetem nas situações de emprego doméstico, com carteira e sem carteira, emprego no setor privado, no setor público, militar ou funcionário público, trabalhador por conta própria e empregador. MULHER negra é a que ganha menos no mercado, diz Laeser. Afropress, 8 mar. 2014. Disponível em: <http://www.afropress.com/post.asp?id=16217>. Acesso em: 21 out. 2015. Com base no texto e sob orientação do professor, converse com os colegas sobre a seguinte afirmativa: No Brasil, no que se refere à discriminação no mundo do trabalho, a mulher negra ocupa posição ainda pior do que a mulher branca e o homem negro. Capítulo 2 O espaço geográfico <imagem> ©iStockphoto.com/cifotart A cidade de São Paulo expressa uma profunda transformação da natureza, com a produção de um espaço marcado pela técnica avançada da sociedade que a construiu. Na foto, avenida Paulista em 2013. Ao se relacionarem com a natureza, os grupos humanos passaram a modificá-la: florestas foram derrubadas, rios tiveram seus cursos alterados, baías e enseadas foram aterradas, etc. A superfície do planeta está cada vez mais pontilhada de agrupamentos humanos, com destaque para as grandes cidades, interligadas por uma rede mais ou menos densa de vias de transporte e de comunicação. Em muitos locais, o próprio ar apresenta uma composição diferente daquela de algum tempo atrás. Desse modo, o espaço é resultado de modificações cada vez maiores na natureza pelos grupos humanos. Ações inadequadas do ser humano na natureza geralmente provocam impactos ambientais no solo, na água, na vegetação, etc. O crescimento das cidades e o estabelecimento de indústrias sem planejamento são ações que contribuem para a degradação ambiental. Embora a interferência do ser humano na natureza seja necessária para o funcionamento da sociedade, deve-se lembrar que seus recursos são esgotáveis. Por exemplo: se a média de consumo de água não diminuir em um curto período de tempo, o mundo enfrentará, em um futuro não muito distante, graves problemas de escassez. Sociedade e trabalho O ser humano é essencialmente social. Para satisfazer suas necessidades, ele não age sozinho, mesmo porque, se assim procedesse, seria impotente diante da natureza. Por isso o trabalho é uma atividade coletiva, ou seja, social. Para atuar em conjunto, as pessoas se organizam em sociedade e definem o modo como o trabalho social deve ser realizado. Com isso, estabelecem relações entre si, chamadas de relações sociais. Ao se organizarem socialmente, também organizam seu espaço de vida, o que é feito por meio do trabalho. Assim, o espaço é uma criação da sociedade e o trabalho é, por excelência, geográfico, na medida em que envolve a produção do próprio espaço. Encontro comMilton Santos ou o mundo globalvisto do lado de cá
  • 18. Direção de Silvio Tendler. Brasil: Caliban Filmes, 2006. 89 minutos. Documentário conduzido por uma entrevista comMilton Santos, um dos geógrafos mais importantes do Brasile do mundo, acerca da globalização e de seus efeitos emdiversos países. Organizaçãosocial No decorrer da História, a humanidade conheceu diferentes maneiras de organização social e de produção do espaço. Quando, entre antigos povos, as relações sociais eram de igualdade, todos trabalhavam e produziam o indispensável para viver – cabe dizer que o mesmo ainda ocorre entre alguns povos indígenas atuais. A vida era realmente comunitária, pois tudo era comum e todos compartilhavam os mesmos interesses. Eram reconhecidos e aceitos como chefes os que tinham mais experiência e conhecimento. No espaço correspondente a esse tipo de organização social, não havia cercas separando as terras cultivadas, os animais eram criados em um único cercado e todas as habitações tinham o mesmo aspecto. A introdução da divisão do trabalho em uma comunidade demonstra, em geral, a constituição de uma estrutura social marcada por desigualdades. Na antiga Mesopotâmia, por exemplo, o campo era dividido em lotes, cada qual dedicado a uma divindade, mas cultivados em conjunto. O excedente produzido destinava-se à cidade, que desempenhava um papel político e religioso. Os governantes e os sacerdotes que detinham o poder recebiam e controlavam os excedentes produzidos nas terras comuns. Separadas do campo, as cidades eram cercadas por muros e, internamente, apresentavam-se divididas em propriedades particulares. Na Idade Média, os feudos eram bons exemplos de segregação social. Eles eram divididos em várias parcelas, e o senhor feudal concedia o uso da terra ao camponês, geralmente em troca de uma renda fixa, paga em espécie ou, a partir do fim desse período, em dinheiro. Porém, com o desenvolvimento do capitalismo e a monetarização da economia, ocorrida a partir da reativação do comércio, muitas cidades medievais assumiram um papel produtivo, pois, assim como o campo, passaram a produzir mercadorias. Ao diferenciar os detentores dos meios de produção daqueles que têm para vender somente sua força de trabalho, a produção capitalista imprimiu significativas marcas no espaço. Com a grande expansão produtiva, a partir da Revolução Industrial (século XVIII), essas marcas tornaram-se ainda mais visíveis. Surgiram as fábricas, cercadas por precárias habitações de operários; os luxuosos bairros burgueses; as ruas mais largas, que ampliavam a circulação; etc. <imagem> Pulsar Imagens/Ricardo Teles Boa parte do tempo dos povos indígenas é dedicada a atividades relacionadas à alimentação. Na foto, indígenas da aldeia Kamayurá pescam na lagoa Iananpaú, no Parque Indígena do Xingu, em Canarana (MT), 2014. Organizaçãodo espaço Até o século XIX, a produção do espaço das cidades aconteceu de maneira desordenada. A oposição entre grupos ou segmentos sociais contribuía para tornar a estruturação espacial das cidades ainda mais caótica. As práticas do urbanismo moderno, que surgiram no fim do século XIX e início do século XX, visavam impor ao espaço das cidades uma organização. O objetivo era estruturá-las em zonas residenciais e comerciais, distritos industriais e áreas de lazer. Até hoje, tais funções são determinadas pelos chamados planos diretores, que procuram gerir os espaços das cidades. Um exemplo significativo da tentativa de impor uma organização ao espaço são as cidades planejadas, como Brasília, Palmas e Belo Horizonte. As construçõesde Brasília Heloisa Espada e Sergio Burgi. Rio de Janeiro: Instituto Moreira Salles, 2010. Livro de fotos de Brasília. Traz desde fotos históricas, que mostrama construção da cidade, os operários, os primeiros moradores, a pobreza, etc., até atuais, que retratam a cidade, as pessoas e seu cotidiano já estabelecidos. <imagem> ©Google earth/Image ©2015 DigitalGlobe Palmas, capital do Tocantins, é a última cidade brasileira planejada do século XX. Imagem de satélite de 2015. Transformações sociais
  • 19. A dinâmica social, impulsionada por desigualdades e conflitos existentes no interior das sociedades, muitas vezes impede a pretendida estruturação do espaço, com cada fração do território tendo uma função previamente definida. Os espaços que as sociedades tentam construir obedecendo a uma lógica predeterminada geralmente acabam transformados pela influência de agentes imobiliários, como grandes empresas construtoras, ou pela ação de segmentos sociais excluídos ou prejudicados pela estruturação espacial imposta, como é o caso dos moradores de favelas ou dos chamados sem-teto. Esses últimos são agentes sociais capazes de construir espontaneamente o espaço de acordo com suas necessidades, exercitando, para isso, sua criatividade. As transformações sociais são sempre acompanhadas por mudanças na produção do espaço. Mas, em quase todos os países, as relações sociais predominantes no passado deixaram muitas marcas no espaço, que permanecem até hoje, mais ou menos modificadas e combinadas com as marcas da sociedade atual. No Brasil, por exemplo, o latifúndio é uma herança do período colonial (século XVI ao XIX), quando predominaram no país relações escravistas. Junto à grande propriedade, não é rara a existência de casebres miseráveis para abrigar trabalhadores, em grande parte, descendentes de antigos africanos escravizados. Latifúndio: grande propriedade rural, parcialmente não aproveitada ou cultivada de maneira inadequada e com baixo investimento de capital. O latifúndio já existia na Roma antiga e foi predominante na Europa medieval. Persiste até hoje em quase todo o mundo, principalmente nos países pobres ou de industrialização tardia. No Brasil, estudiosos consideramque o latifúndio é uma herança das sesmarias distribuídas pela Coroa portuguesa no período colonial. As relações sociais mudaram, pois, agora, não são mais escravistas. Os atuais trabalhadores recebem um salário, e a propriedade da terra geralmente é de uma empresa, que, por sua vez, possui outras propriedades. Embora alteradas as relações de produção, as diferenças sociais do passado permanecem no presente. Nesse processo, o espaço também se modificou: as culturas, muitas vezes, não são as mesmas de antigamente, e o uso da terra foi modernizado com a utilização de novas técnicas e novos instrumentos de trabalho. Apesar das modificações, as marcas do passado escravista ainda estão presentes no espaço, por exemplo, na estrutura fundiária, na desigualdade social e nas relações de trabalho. <imagem> Frans Post/Coleção Beatriz e Mario Pimenta Camargo, São Paulo Frans Post. Engenho, 1661. Óleo sobre madeira. Dimensões: 45 cm × 56,5 cm. A obra reproduz instalações humanas em uma grande propriedade canavieira no Brasil colônia. Determinado espaço, portanto, ao mesmo tempo que reflete a sociedade que o utiliza, é resultado de um processo histórico. Por esse processo, o espaço foi progressivamente moldado, conforme as relações sociais que predominaram no passado e envolveram constantes conflitos entre os diferentes segmentos de cada época. Como o espaço mantém algumas marcas do passado, ele pode, de algum modo, interferir nas sucessivas organizações sociais. Com relação a isso, pode-se dizer que o espaço é um produto e um produtor da História. São Paulo Antiga <http://www.saopauloantiga.com.br>. Acesso em: 22 out. 2015. Reúne curiosidadessobre a cidade de São Paulo antigamente e sobre construções (casas, monumentos, etc.)que persistemnos dias de hoje. Ao acessaro item“Antes & Depois”, é possívelcompararfotosantigas comatuais e perceberas mudançasno espaço. Texto & contexto 1. De modo geral, como se davam as relações sociais entre povos antigos? Essas relações ainda existem? 2. Como esses tipos de relações sociais se refletem na organização do espaço? 3. Quando surgiram as práticas urbanísticas modernas? O que buscavam? 4. Com base na ideia de construção do espaço, cite exemplos de áreas no município onde você mora que parecem ter sido planejadas e de outras que transmitem a impressão de desorganização. Espaço e poder O espaço é a base material do exercício do poder do Estado. Em uma sociedade de desigualdades como a nossa, é também a expressão da hegemonia de determinados grupos ou segmentos sociais. Hegemonia: supremacia; domínio exercido por uma nação, uma cidade ou um grupo socialsobre outra nação, outra cidade ou outro grupo social. Para melhor compreender essas ideias, é importante “voltar no tempo”. Nos séculos XV e XVI, desenvolveu -se o
  • 20. Estado moderno. Para que issoacontecesse, foram essenciais a delimitação de um território e o exercício da soberania sobre ele, além da existência de uma cultura, uma língua e tradições em comum. Somente um poder único, comum a todos, e soberano poderia agregar indivíduos isolados e diferentes, tornando-os iguais. Para garantir a coesão interna e a própria sobrevivência da sociedade, o Estado teria a exclusividade do uso da força – fundamento básico do poder político. Assim já entendiam os juristas do fim da Idade Média, para quem estava claro que o Estado tinha o privilégio do uso da força, enquanto à Igreja caberia a utilização de todos os meios psicológicos necessários para ensinar a religião e a moral. Jurista: pessoa especializada em leis e que, por profissão, se dedica a emitir pareceres sobre questõesde direito. Desde então, duas são as razões da existência do Estado, com sua prerrogativa: Prerrogativa: privilégio ou faculdade de que usufruemos seresde determinado grupo ou espécie. No caso, considera-se o privilégio do uso da força atributo do Estado na Idade Média. ▸ externa – a força, com sua expressão máxima nos organismos militares, tem a missão de proteger as fronteiras do Estado, resguardando a soberania nacional; ▸ interna – o uso da força é feito pelo grupo ou segmento politicamente dominante para garantir a coesão interna e a segurança da sociedade. Cabe ressaltar, no entanto, que o uso da força por parte exclusiva do aparelho de Estado, para ser considerado legítimo, deve ser justificado eticamente. No decorrer da História, as sociedades construíram diferentes fundamentos para legitimar o poder político: a legitimidade pela vontade de Deus ou do povo; pelas chamadas leis naturais – a razão, por exemplo; pela tradição; entre outras. Hoje em dia, o fundamento é dado por meio do reconhecimento de um Estado pela comunidade internacional, ou seja, pela Organização das Nações Unidas (ONU). O surgimento do chamado Estado-Nação, no século XIX, exacerbou o sentimento nacional, reforçando a consciência de que o Estado precisava ser forte para preservar a nação e de que seu poderio dependia da extensão do território que controlava. Daí a militarização dos territórios, o desenvolvimento tecnológico posto a serviço da guerra e as constantes disputas territoriais. Nessas condições, das quais resultaram as duas guerras mundiais, foi procedente a afirmação do geógrafo alemão Friedrich Ratzel – considerado o pai da geografia política –, feita no início do século XX: “Espaço é poder”. <imagem> ©iStockphoto.com/EunikaSopotnicka Sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York, Estados Unidos, feita em parceria com Oscar Niemeyer. Foto de 2012. Texto & contexto 1. As transformações das sociedades são sempre acompanhadas por mudanças na produção do espaço. Qual é o papel do tempo histórico nos processos que envolvem transformações espaciais? 2. Na paisagem do município onde você mora, há marcas que expressam relações sociais do passado? Em caso afirmativo, cite exemplos. 3. Explique a frase “Espaço é poder”, de Friedrich Ratzel. Domínio do espaço O poder do Estado implica o domínio do espaço, embora, hoje, a hegemonia política esteja muito ligada às dominações econômico-financeira e tecnológica. Por isso, os arranjos de fronteiras, os acordos e as alianças entre países comumente expressam relações de poder e dominação, que envolvem interesses no controle do espaço. Por exemplo: o mapa político que surgiu no território da antiga Iugoslávia, após quase quatro anos de guerra (1992- 1996), foi um arranjo resultante de um jogo de poder entre países interessados – Estados Unidos, Rússia, Alemanha – e nacionalidades diretamente envolvidas na disputa do espaço: sérvios, croatas, bósnios, eslovenos, macedônios, montenegrinos e kosovares. <imagem> Iugoslávia: 1989 João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora
  • 21. Fonte dos mapas: Adaptado de ATLAS-historique.net. Disponível em: <http://www.atlas-historique.net/1989- aujourdhui/cartes_popups/Yougoslavie2002GF.html>. Acesso em: 16 nov. 2015. <imagem> Iugoslávia: atual João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora Fonte dos mapas: Adaptado de ATLAS-historique.net. Disponível em: <http://www.atlas-historique.net/1989- aujourdhui/cartes_popups/Yougoslavie2002GF.html>. Acesso em: 16 nov. 2015. No interior de um país, também existem relações de dominação ou hegemonia de uma região sobre outra. No Brasil, por exemplo, os estados economicamente mais poderosos, como São Paulo e Minas Gerais, têm certa preponderância política e econômica sobre os outros. Para saber mais Convivência e respeito Território é uma porção da superfície terrestre delimitada por uma fronteira política ou submetida a um poder político. É construído pela formação social. “[...] Compreender o que é um território implica também compreender a complexidade, a convivência em um mesmo espaço, nem sempre harmônica, da diversidade de tendências, ideias, crenças, sistemas de pensamento e tradições de diferentes povos e etnias. É reconhecer que, apesar de uma convivência comum, múltiplas identidades coexistem e por vezes se influenciam reciprocamente, definindo e redefinindo aquilo que poderia ser chamado de uma identidade nacional. No caso específico do Brasil, o sentimento de pertinência ao território nacional envolve a compreensão da diversidade de culturas que aqui convivem e, mais do que nunca, buscam o reconhecimento de suas especificidades, daquilo que lhes é próprio.” BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: História e Geografia. Brasília: MEC/SEF, 1997. p. 125. O espaço atual: um meio técnico-científico-informacional Durante muito tempo, os elementos naturais foram predominantes nas paisagens; portanto, o ambiente de vida do ser humano era um meio natural. A partir do século XV, com o advento do capitalismo, as técnicas foram se desenvolvendo pouco a pouco; com isso, a natureza apropriada ficava cada vez mais transformada. No século XIX, com a intensificação da Revolução Industrial, aceleraram-se as inovações técnicas. As transformações da natureza atingiram tamanha intensidade que o espaço produzido passou a ser um meio técnico. No século XX, notadamente em sua segunda metade, o processo histórico-social assumiu características que deram nova configuração ao ambiente de vida dos seres humanos. <imagem> LatinStock/Album/akg/North Wind Picture Archives Chaminés de siderúrgica em Sheffield, de autor desconhecido. Ilustração colorida à mão, século XIX. A imagem retrata uma cidade da Inglaterra, durante a Revolução Industrial. Esse processo transformou a paisagem de muitas localidades. A ciência, em especial a pesquisa, é posta cada vez mais a serviço da descoberta de novas técnicas, quase exclusivamente voltadas para a produção. A tecnologia – ciência das técnicas – floresce como nunca. De modo geral, a ciência direciona-se ao setor produtivo: produção de agrotóxicos, armas, medicamentos, brinquedos e um sem- número de bens nem sempre necessários à vida humana. Em suma, ciência e técnica jamais estiveram tão interligadas como agora – o pragmatismo científico dirigindo a inteligência humana. Fomentada por uma verdadeira corrida tecnológica e objetivando a acumulação de riqueza, a produção diversifica - se extraordinariamente, e os bens produzidos, inclusive os instrumentos de trabalho, tornam-se obsoletos em prazo cada vez mais curto, impondo sua substituição por outros mais “modernos”. Isso leva a um consumo maior de recursos naturais, reforçado pela visão da natureza como manancial à disposição dos seres humanos. Quanto mais a natureza é usada – às vezes, esgotada e, não raro, destruída em alguns locais –, mais artificializado torna-se o espaço produzido pelos seres humanos. Isso acontece principalmente nas grandes cidades, que materializam na paisagem o melhor modelo do atual estágio da civilização. Os alimentos quase sempre têm a presença intermediária da ciência e da técnica, passando por transformações genéticas dos mais variados tipos. A habitação, muitas vezes, está a dezenas de metros do solo, como um apartamento em um andar elevado. O trabalho frequentemente é realizado sob iluminação artificial e ar-condicionado. O transporte
  • 22. pode ser feito por circulação subterrânea, como o metrô. Outra revolução diz respeito às comunicações, que alteraram profundamente as noções de tempo e de distância. A quase instantaneidade nas transmissões de palavras, sons e imagens, por cabo, fibra óptica ou satélite, parece tornar o mundo muito menor, com uma aparente proximidade entre as pessoas. Isso é facilitado pela generalização do uso do computador e dos smartphones, que, conectados a uma rede, permitem a seus milhões de usuários comunicarem-se diretamente entre si a qualquer hora do dia. O computador, entre suas múltiplas serventias, enseja a vivência da chamada realidade virtual. Esse mundo dominado pela ciência e pela técnica exige das pessoas um conhecimento cada vez maior, pelo menos para poderem operar aparelhos essenciais a atividades relacionadas a trabalho, estudo, transporte e lazer. Nessas condições, o atual espaço produzido pelo ser humano constitui um ambiente de vida que pode ser chamado de meio técnico-científico-informacional. Texto & contexto 1. Qual é a sua opinião sobre a comunicação via internet? 2. O que seria o meio técnico-científico-informacional? Conexões Milton Santos (1926-2001) foi um importante geógrafo brasileiro. Ele se formou em Direito em 1948, na Universidade da Bahia e, em 1958, concluiu o doutorado em Geografia, na Universidade de Estrasburgo, França. Foi professor em renomadas universidades do Brasil e do mundo e publicou vários livros, entre eles A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção, escrito em 1966. Nessa obra, Santos apresenta a definição de espaço geográfico. Sobre esse conceito, leia o trecho abaixo para ampliar o que você aprendeu neste capítulo. <imagem> Agência O Globo/Marcos Issa Milton Santos em 1994. Espaço geográfico [...] Nossa proposta atual de definição da Geografia considera que a essa disciplina cabe estudar o conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ação que formam o espaço. Não se trata de sistemas de objetos nem de sistemas de ações tomados separadamente. [...] O espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá. No começo era a natureza selvagem, formada por objetos naturais, que ao longo da história vão sendo substituídos por objetos fabricados, objetos técnicos, mecanizados e, depois, cibernéticos, fazendo com que a natureza artificial tenda a funcionar como uma máquina. Através da presença desses objetos técnicos: hidroelétricas, fábricas, fazendas modernas, portos, estradas de rodagem, estradas de ferro, cidades, o espaço é marcado por esses acréscimos, que lhe dão um conteúdo extremamente técnico. O espaço é hoje um sistema de objetos cada vez mais artificiais, povoado por sistemas de ações igualmente imbuídos de artificialidade e cada vez mais tendentes a fins estranhos ao lugar e a seus habitantes. [...] Sistemas de objetos e sistemas de ações interagem. De um lado, os sistemas de objetos condicionam a forma como se dão as ações e, de outro lado, o sistema de ações leva à criação de objetos novos ou se realiza sobre objetos preexistentes. É assim que o espaço encontra a sua dinâmica e se transforma. [...] Considerar o espaço como esse conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações, assim como estamos propondo, permite, a um só tempo, trabalhar o resultado conjunto dessa interação, como processo e como resultado [...]. [...] Os objetos que interessam à Geografia não são apenas objetos móveis, mas também imóveis, tal como uma cidade, uma barragem, uma estrada de rodagem, um porto, uma floresta, uma plantação, um lago, uma montanha. Tudo isso são objetos geográficos. Esses objetos geográficos são do domínio tanto do que s e chama a Geografia física como do domínio do que se chama a Geografia humana e, através da história desses objetos, isto é, da forma como foram produzidos e mudam, essa Geografia física e essa Geografia humana se encontram.
  • 23. Para os geógrafos, os objetos são tudo o que existe na superfície da Terra, toda herança da história natural e todo resultado da ação humana que se objetivou. [...] SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Pa ulo, 2006. p. 39 e 46. Responda no caderno ▸ Considerando os ensinamentos de Milton Santos, escreva um texto que especifique o foco da Geografia e que contenha também seu entendimento sobre o espaço geográfico. Lembre-se de acrescentar exemplos de objetos geográficos. Ao terminar, compartilhe suas conclusões com o professor e os colegas. Pensando bem Responda no caderno 1. Você já ouviu falar em obsolescência programada ou planejada? Leia um trecho do artigo a seguir. Obsolescência planejada: armadilha silenciosa na sociedade de consumo <imagem> ALVES/Acervo do artista Charge de Evandro Alves, publicada no Le Monde Diplomatique Brasil, em 2013. Nos dias atuais, aparelhos como celulares e computadores são rapidamente substituídos por outros com tecnologia mais avançada. É comum um telefone celular ir ao lixo com menos de oito meses de uso ou uma impressora nova durar apenas um ano. Em 2005, mais de 100 milhões de telefones celulares foram descartados nos Estados Unidos. Uma CPU de computador, que nos anos 1990 durava até sete anos, hoje dura dois anos. Telefones celulares, computadores, aparelhos de televisão, câmeras fotográficas caem em desuso e são descartados com uma velocidade assustadora. Bem-vindo ao mundo da obsolescência planejada! Na sociedade de consumo, as estratégias publicitárias e a obsolescência planejada mantêm os consumidores presos em uma espécie de armadilha silenciosa, num modelo de crescimento econômico pautado na aceleração do ciclo de acumulação do capital (produção- -consumo-mais produção). [...] Para mover esta sociedade de consumo precisamos consumir o tempo todo e desejar novos produtos para substituir os que já temos – seja por falha, por acharmos que surgiu outro exemplar mais desenvolvido tecnologicamente ou simplesmente porque saíram de moda. Serge Latouche, no documentário A história secreta da obsolescência planejada, diz que nossa necessidade de consumir é alimentada a todo o momento por um trio infalível: publicidade, crédito e obsolescência. Planejar quando um produto vai falhar ou se tornar velho, programando seu fim antes mesmo da ação da natureza e do tempo de uso, é a obsolescência planejada. Trata-se da estratégia de estabelecer uma data de morte de um produto, seja por meio de mau funcionamento ou envelhecimento perante as tecnologias mais recentes. Essa estratégia foi discutida como solução para a crise de 1929. O conceito teve início por volta de 1920, quando fabricantes começaram a reduzir de propósito a vida de seus produtos para aumentar venda e lucro. [...] Em 1928, o lema era: “Aquilo que não se desgasta não é bom para os negócios”. Como solução para a crise, Bernard London propôs, num panfleto de 1932, que fosse obrigatória a obsolescência planejada, aparecendo assim pela primeira vez o termo por escrito. London pregava que os produtos deveriam ter uma data para expirar, acreditando que, com a obsolescência planejada, as fábricas continuariam produzindo, as pessoas, consumindo e, portanto, haveria trabalho para todos, que trabalhando poderiam consumir e assim fazer o ciclo de acumulação de capital se manter. Nos anos 1930, a durabilidade começou a ser propagada como antiquada e não correspondente às necessidades da época. Nos anos 1950, a obsolescência planejada ressurgiu com o enfoque de criar um consumidor insatisfeito, fazendo assim com que ele sempre desejasse algo novo. Ainda no pós-guerra assentaram- se as bases da sociedade de consumo atual, por meio do estilo de vida norte-americano (American way of life), baseado na liberdade, na felicidade e na ideia de abundância em substituição à ideia do suficiente. [...] PADILHA, Valquíria; BONIFÁCIO, Renata Cristina A. Obsolescência planejada: armadilha silenciosa na sociedade de consumo. Le Monde Diplomatique Brasil, 2 set. 2013. Disponível em: <http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=1489>. Acesso em: 22 out. 2015.
  • 24. a) Explique o que é obsolescência planejada. b) Qual é a mensagem transmitida pela charge? c) Você já descartou algum objeto mesmo achando que poderia usá-lo mais? Converse sobre isso com os colegas. 2. Atualmente, na América do Sul, existe uma área de litígio entre a Bolívia e o Chile. Na Guerra do Pacífico (1879-1883), a Bolívia e o Peru perderam para o Chile parte de seus territórios em virtude do acordo de paz firmado em 1904. Com essa perda, a Bolívia deixou de ter acesso ao oceano; desde então, reclama o retorno desse acesso. Observe o mapa a seguir e, depois, responda às questões. a) Por que é tão importante para a Bolívia ter novamente acesso ao mar? b) Relacione esse fato com a afirmação de Friedrich Ratzel: “Espaço é poder”. <imagem> Chile: territórios anexados (1904) João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora Fonte: FERRER, Isabel. Chile e Bolívia revivem em Haia seu conflito por uma saída para o mar. El País, 5 maio 2015. Internacional. Disponível em: <http://brasil.elpais.com/brasil/2015/05/04/internacional/1430744745_182951.html>. Acesso em: 22 out. 2015. 3. Observe as fotos a seguir. <imagem> Gerson Gerloff/pulsar imagens Dança do pau de fitas em Santa Maria (RS), 2015. <imagem> Fotoarena/Veetmano Prem Dançarinos de frevo em Olinda (PE), 2015. <imagem> Pulsar Imagens/Mario Friedlander Indígenas Paresi dançando em Tangará da Serra (MT), 2013. ▸ As fotos acima retratam manifestações culturais distintas que ocorrem no Brasil. Elabore um texto sobre a importância da aceitação e da compreensão da diversidade de ideias, culturas, tradições, crenças, povos e etnias em um país como o nosso. 4. Enem (2013) No dia 1º de julho de 2012, a cidade do Rio de Janeiro tornou-se a primeira do mundo a receber o título da Unesco de Patrimônio Mundial como Paisagem Cultural. A candidatura, apresentada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), foi aprovada durante a 36ª Sessão do Comitê do Patrimônio Mundial. O presidente do Iphan explicou que “a paisagem carioca é a imagem mais explícita do que podemos chamar de civilização brasileira, com sua originalidade, desafios, contradições e possibilidades”. A partir de agora, os locais da cidade valorizados com o título da Unesco serão alvo de ações integradas visando à preservação da sua paisagem cultural. Disponível em: <www.cultura.gov.br>. Acesso em: 7 mar. 2013 (adaptado). O reconhecimento da paisagem em questão como patrimônio mundial deriva da a) presença do corpo artístico local. b) imagem internacional da metrópole. c) herança de prédios da ex-capital do país. d) diversidade de culturas presente na cidade. e) relação sociedade-natureza de caráter singular. Desafios & debates Em grupo Em sua obra Pensando o espaço do homem, Milton Santos (2007, p. 54) nos ensina que “uma paisagem representa
  • 25. diferentes momentos do desenvolvimento de uma sociedade. A paisagem é o resultado de uma acumulação de tempos”. Comparar fotos da mesma paisagem em momentos históricos diferentes é uma forma de refletir sobre as transformações dessa paisagem ao longo do tempo. Esse é o desafio desta atividade. Para começar, leiam o poema abaixo. Depois, observem as imagens e façam o que se pede. Memória <imagem> Rodval Matias/Arquivo da editora Há pouco tempo atrás, aqui havia uma padaria. Pronto – não há mais. Há pouco tempo atrás, aqui havia uma casa, cheia de cantos, recantos, corredores impregnados de infância e encanto. Pronto – não há mais. Uma farmácia, uma quitanda. Pronto – não há mais. A cidade destrói, constrói, reconstrói. Uma árvore, um bosque. Pronto – nunca mais. MURRAY, Roseana. Paisagens. Belo Horizonte: Lê, 1996. <imagem> Coleção Gilberto Ferrez/Instituto Moreira Salles Vista da praia de Botafogo, no Rio de Janeiro (RJ), em 1865. <imagem> Pulsar Imagens/Rubens Chaves Vista da praia de Botafogo, no Rio de Janeiro (RJ), em 2012. <imagem> Acervo Instituto Moreira Salles/Marcel Gautherot Vista do Teatro Amazonas, em Manaus (AM), por volta de 1945. <imagem> Pulsar Imagens/Ernesto Reghran Vista do Teatro Amazonas, em Manaus (AM), em 2015. ▸ O que mudou e o que permaneceu nas paisagens retratadas? Como poderíamos explicar as transformações? Com base no poema, nas imagens e nos ensinamentos de Milton Santos, reflitam sobre essas questões e elaborem um pequeno texto com suas conclusões. Ao terminar, comentem-no com os outros colegas e o professor. Em debate Sob orientação do professor, formem uma roda de conversa na sala e discutam os conceitos de paisagem e espaço geográfico com base no texto a seguir. A paisagem, à semelhança de uma foto, é a materialização de um momento da sociedade. Já o espaço geográfico é a paisagem acrescida da sociedade que a anima e que lhe causa transformações, conforme as relações sociais se modificam.
  • 26. Capítulo 3 Espaço e conhecimento cartográfico <imagem> Opção Brasil Imagens/G. Evangelista Aplicativo de mapa em um smartphone. Esse recurso tem se tornado cada vez mais popular entre as pessoas. Foto de 2015. O uso de mapas e de imagens de satélite está cada vez mais presente em nosso cotidiano. Porém, a correta leitura e interpretação de mapas exige o domínio de alguns conhecimentos básicos, que serão estudados neste capítulo. Atualmente, aplicativos de mapas instalados em aparelhos celulares e smartphones são muito usados pelos motoristas. Além de sugerir o caminho mais curto ou mais rápido, por exemplo, esses aplicativos indicam a existência de obras nas vias, acidentes e a intensidade do trânsito nas imediações. Há, ainda, uma ferramenta disponível para computador ou aparelho celular que permite ao usuário observar o mundo por meio de imagens panorâmicas, em 360 graus, ao nível da rua. Ao fazer uso dessa ferramenta, o usuário pode, por exemplo, visualizar a rua a que deseja ir, onde há espaços para estacionar, se determinado restaurante é simples ou sofisticado, etc. É como dar uma volta pelo local sem estar lá. A linguagem dos mapas Observe a imagem do planeta Terra. Será que você consegue enxergar todos os detalhes da superfície terrestre? Certamente, não. Com o mapa, acontece algo parecido, pois, como qualquer representação gráfica, consiste em uma reprodução incompleta da realidade. Falta-lhe, no mínimo, tridimensionalidade. Nascido da necessidade humana de representar e conhecer seu ambiente, o mapa é uma representação gráfica plana de toda a superfície terrestre ou de parte dela. Como não é possível inserir toda a realidade no papel, dizemos que o mapa é uma representação seletiva do terreno, pois envolve a escolha dos elementos que se quer representar. E essa escolha é feita com determinados objetivos. Cada sociedade, em cada época, elabora mapas de acordo com suas necessidades de conhecimento e localização dos recursos essenciais para sua sobrevivência. Mas os mapas também são muito usados com a finalidade de exploração e dominação, ou seja, com fins geopolíticos. Além de representação plana e seletiva, o mapa é uma representação convencional, pois utiliza símbolos, cores, pontos e linhas para identificar as formas e características do terreno representado. A compreensão dos signos de um mapa é indispensável para sua leitura e interpretação. Como você lê o mapa abaixo? <imagem> NASA Imagem de satélite mostrando a Terra vista do espaço em 2014. <imagem> Mundo: urbanização (2012) João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora Fonte: Adaptado de FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2013. p. 45. Texto & contexto 1. Com base no mapa acima, o que você diria sobre a distribuição mundial das taxas de urbanização? 2. Por que o mapa é uma representação seletiva e convencional do terreno que ele representa? 3. Com que frequência e em que situações você costuma utilizar mapas? Você, geralmente, usa mapas em papel ou mapas disponibilizados na internet? A representação da Terra Há várias maneiras de representar o espaço em que vivemos, por exemplo, por meio de fotos, filmes, etc. Para representar a Terra, o meio mais preciso é o globo terrestre artificial, pois é o que guarda maior fidelidade à forma esférica do planeta. No entanto, por sua praticidade, o mapa é o modo mais usado para a representação do espaço.
  • 27. Como já foi dito, um mapa, ou uma carta geográfica, é uma representação gráfica plana – total ou parcial – da superfície terrestre. A Cartografia moderna dispõe de recursos técnicos muito avançados que se baseiam em informações coletadas por sensoriamento remoto e processadas por computadores. Por constituir uma reprodução de uma superfície curva ou esférica em uma superfície plana, o mapa, por mais preciso que seja, implica uma maior ou menor distorção, certa infidelidade da representação gráfica em relação à realidade retratada. A superação desse problema depende da adequada utilização das projeções cartográficas. A volta ao mundo em 80 dias Júlio Verne. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2012. Esse clássico da literatura mundial conta a jornada do inglês Phileas Fogg depois de apostar que conseguiria dar a volta ao mundo em 80 dias. Projeçõescartográficas Pode-se dizer que projeções cartográficas são artifícios e procedimentos usados para projetar a superfície esférica da Terra em uma superfície plana, tendo em vista a produção do mapa desejado. Diversas questões estão envolvidas em uma projeção, a serem decididas pelo cartógrafo encarregado de elaborar o mapa. Por exemplo: Que forma ou figura geométrica assumirá a folha de papel sobre a qual será feita a projeção? O que se pretende distorcer ou deformar menos: as áreas, as formas ou as distâncias? A Terra apresenta o formato de um geoide e sua superfície é irregular, o que impossibilita sua representação em um plano sem incorrer em extensões ou contrações das áreas representadas. Geoide: forma esférica achatada nos polos; esse achatamento faz comque não seja uma esfera perfeita. Projetar é fazer aparecer a sombra de objetos em um plano. Imagine um filme a que você assiste no cinema. Quando a luz passa pelo filme, ele emite sombras em uma tela. Algo parecido acontece com a representação da Terra no papel. É como se o cartógrafo a envolvesse em folhas de papel transparentes e iluminasse o seu interior. A sombra dos contornos dos continentes e das ilhas apareceria no papel e poderia ser desenhada. Ao abrir o papel, haveria um desenho de todo o planeta em uma folha plana. <imagem> João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora <imagem> Desdobramento do globo terrestre João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora Fonte: Adaptado de FITZ, Paulo Roberto. Cartografia básica. São Paulo: Oficina de Textos, 2008. p. 42. Tipos de projeção As projeções cartográficas podem ser classificadas de acordo com diferentes metodologias, que sempre buscam um melhor ajuste para representar a superfície terrestre. Uma dessas classificações se refere à superfície de projeção. Segundo essa classificação, as projeções podem ser: ▸ Cilíndricas – consistem em envolver a esfera terrestre em um cilindro de papel, sobre o qual será feita a projeção, a partir de um foco no interior do globo. Desenrolando o cilindro, tem-se um mapa-múndi, ou planisfério. As diferenças entre as projeções cilíndricas dependem do ponto em que é colocado o foco da projeção, já que comumente tangencia a linha do equador. Caracterizam-se por apresentar paralelos e meridianos retos. <imagem> Projeção cilíndrica João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora Fonte: Adaptado de IBGE. Atlas geográfico escolar. 5. ed. Rio de Janeiro, 2009. p. 21. ▸ Cônicas – projeções em que a figura geométrica sobre a qual é reproduzida a superfície do globo tem a forma de um cone. De quase todas as projeções cônicas, resultam mapas com meridianos retos e paralelos curvos. Na projeção cônica simples, por exemplo, a representação é fiel apenas sobre o paralelo tangente à esfera e sobre o meridiano central; afastando-se daí, surgem as deformações, que são maiores nas bordas do mapa. <imagem> Projeção cônica João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora
  • 28. Fonte: Adaptado de IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro, 2012. p. 21. ▸ Azimutais ou planas – são feitas sobre um plano, e o ponto de contato com o globo varia conforme a área que se quer representar com alguma fidedignidade, já que as distorções aumentam a partir do centro do mapa. Em uma projeção azimutal polar, os meridianos aparecem retos, e os paralelos, curvos. <imagem> Projeção azimutal ou plana João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora Fonte: Adaptado de IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro, 2012. p. 21. As projeções cartográficas também podem ser classificadas quanto às deformações apresentadas. Vale lembrar que podemos reduzir as deformações com relação a áreas, distâncias ou ângulos, mas nunca conseguiremos minimizar as três simultaneamente. ▸ Projeções conformes – priorizam a manutenção das formas terrestres em detrimento das áreas, que ficam distorcidas. Os ângulos, no planisfério, são mantidos idênticos aos do globo terrestre, mas a escala só guarda verdadeira correspondência nas proximidades do centro da projeção, geralmente na linha do equador. A partir daí, as distorções aumentam progressivamente. A rigor, diversas escalas são usadas. <imagem> Projeção conforme João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora Fonte: Adaptado de IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro, 2012. p. 22. ▸ Projeções equivalentes – preservam as áreas dos espaços representados, com o uso de uma única escala, mas os ângulos ficam deformados, e as formas, distorcidas. <imagem> Projeção equivalente João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora Fonte: Adaptado de IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro, 2012. p. 22. ▸ Projeções equidistantes – alteram tanto as formas quanto as áreas do espaço representado em benefício da preservação das distâncias e das direções, que são mantidas com precisão a partir do centro da projeção. <imagem> Projeção equidistante João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora Fonte: Adaptado de IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro, 2012. p. 22. Projeções mais conhecidas Há centenas de projeções cartográficas utilizadas na representação do espaço geográfico, entre elas: Projeção de Mercator ▸ Projeção de Mercator – a Cartografia moderna teve início em 1569, quando o cartógrafo e matemático flamengo Gerhard Kremer, que se consagrou pelo codinome Mercator, elaborou um mapa‑múndi usando uma projeção cilíndrica conforme. Com o foco de projeção no centro do globo, a projeção de Mercator é fiel à realidade apenas na faixa equatorial; à medida que a latitude aumenta, os paralelos se afastam cada vez mais uns dos outros, o que significa um aumento exagerado das áreas nas proximidades dos polos. A Groenlândia, por exemplo, aparece com uma área semelhante à da América do Sul; porém, na realidade, é oito vezes menor. <imagem> João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora Fonte: Adaptado de FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2013. p. 12. ▸ Projeção de Peters – projeção cilíndrica equivalente, publicada pela primeira vez em 1973, que distorce formas, mas preserva as áreas dos continentes e dos países.
  • 29. <imagem> Projeção de Peters João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora Fonte: Adaptado de FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2013. p. 12. ▸ Projeção de Mollweide – muito usada na confecção de planisférios, distorce as áreas sem os exageros das projeções de Mercator e de Peters. O meridiano central e os paralelos são retos, ao passo que os demais meridianos são curvos. <imagem> Projeção de Mollweide João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora Fonte: Adaptado de FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2013. p. 13. ▸ Projeções de Bertin e de Fuller – são empregadas com frequência para retratar aspectos do mundo globalizado de hoje, como os fluxos comerciais. A do francês Jacques Bertin, de 1953, preserva a fidelidade da superfície dos continentes, e as coordenadas não têm configuração perpendicular, pois os meridianos são curvos, dirigindo-se para uma representação do polo localizada no meio do mapa. A projeção do estadunidense Buckminster Fuller, de 1967, centrada geralmente no polo norte, favorece a manutenção das formas e da proporcionalidade das terras emersas em detrimento dos oceanos. <imagem> Projeção de Bertin João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora Fonte: Adaptado de DURAND, Marie-Françoise. Geografia e relações internacionais: globalização, territórios e redes na perspectiva da escola geográfica francesa. Caderno CRH, Salvador, v. 19, n. 48, p. 439, set./dez. 2006. <imagem> Projeção de Fuller João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora Fonte: Adaptado de DURAND, Marie-Françoise. Geografia e relações internacionais: globalização, territórios e redes na perspectiva da escola geográfica francesa. Caderno CRH, Salvador, v. 19, n. 48, p. 439, set./dez. 2006. Texto & contexto 1. Explique a seguinte frase: “O mapa, por mais preciso que seja, implica uma maior ou menor distorção, certa infidelidade da representação gráfica em relação à realidade retratada”. 2. Por que não existe projeção cartográfica perfeita? 3. Identifique as diferenças entre as projeções cilíndricas, cônicas e azimutais ou planas, considerando a disposição dos paralelos e dos meridianos. 4. Identifique as diferenças entre as projeções conformes, equivalentes e equidistantes, considerando as deformações com relação a áreas, distâncias ou ângulos. 5. Ao analisar o mapa-múndi de acordo com a projeção de Peters, o que chama sua atenção? Que tipo de projeção é essa? 6. Qual é a vantagem da projeção de Mollweide em relação à de Peters e à de Mercator? Cartografia e visões de mundo A construção de um mapa, além de estar sujeita ao tipo de projeção a ser usado e aos recursos técnicos disponíveis, depende dos interesses em jogo e da visão de mundo à época, isto é, da ideologia dominante, que se expressa no trabalho cartográfico. Na Idade Média ocidental, por exemplo, a profunda religiosidade, própria do teocentrismo então dominante, favoreceu até mesmo a concepção de que o mundo era um disco, com Jerusalém no centro. Mapas da época colocavam o paraíso no leste, na direção da cidade sagrada. Assim, homens e mulheres deveriam buscar a salvação