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135
1. Doutora em Medicina pela Faculdade de Medina da Universidade de São
Paulo (USP). Médica assistente da Unidade de Nutrição e Metabolismo
do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medi-
cina da USP.
2. Professor Doutor do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medi-
cina da USP.
3. Doutor em Medicina pela Faculdade de Medina da USP. Chefe da
Unidade de Nutrologia do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da USP.
4. Professor livre-docente pela Faculdade de Medicina da USP. Instituto do
Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
5. Professora assistente Doutora da Disciplina de Cardiologia da Faculdade
de Medicina da USP.
Artigo submetido em 25.03.03, aceito em 29.10.03.
Abstract
Objectives: To identify the prevalence of dyslipidemia in a group
of 109 children and adolescents with a family history of premature
coronary artery disease and to investigate the association between
dyslipidemia and other risk factors for atherosclerosis.
Methods: Total cholesterol, low density lipoprotein cholesterol
(LDL-C), high density lipoprotein cholesterol (HDL-C), triglycerides,
body mass index, blood pressure, physical activity, smoking, per capita
income and maternal schooling were investigated.
Results: Total cholesterol and LDL-C levels were higher than
desirable in 27.5% and 19.3%, respectively, of our patients; 13.8% had
lower HDL-C values and 13.0% presented hypertriglyceridemia. Obesity
and excess weight were observed in 25.7% of the cases. Out of these,
57.1% had abnormal lipid values. Dyslipidemia was observed in 38.5%,
either alone or in combination with other risk factors. Smoking was
observed in 3.6%, hypertension in 2.7% and physical inactivity in
72.5%. There was no relationship between dyslipidemia and per capita
income, maternal schooling and physical inactivity. However, obesity
and excess weight were identified as significantly associated with the
occurrence of dyslipidemia (p = 0.02; odds ratio = 2.82, 95% CI = 1.6-
6.81).
Conclusion: In children and adolescents with a family history of
premature coronary artery disease, early identification of the risk
factors for atherosclerosis is essential to allow the implementation of
preventive measures.
J Pediatr (Rio J). 2004;80(2):135-40: Hypercholesterolemia,
dyslipidemia, coronary artery disease, atherosclerosis, lipoproteins.
Resumo
Objetivos: Analisar a prevalência de dislipidemia em 109 crian-
ças e adolescentes com história familiar de doença arterial corona-
riana prematura e a associação com outros fatores de risco para
aterosclerose.
Métodos: Foram determinados valores séricos de colesterol total,
lipoproteínas de baixa densidade (LDL-C), alta densidade (HDL-C),
triglicérides, índice de massa corpórea e pressão arterial. Foram
também avaliados: prática de atividade física, tabagismo, renda fami-
liar e escolaridade da mãe.
Resultados: Do total, 27,5 e 19,3% apresentaram, respectiva-
mente, valores de colesterol total e LDL-C acima do normal, 13,8%
valores de HDL-C diminuídos e 13,0% trigliceridemia elevada. Excesso
de peso (obesidade e sobrepeso) foi detectado em 25,7% dos casos;
destes, 57,1% apresentavam valores anormais de lipídios. A prevalên-
cia de dislipidemia, isolada ou concomitante com outros fatores de
risco, foi de 38,5%. Hábito de fumar ocorreu em 3,6% dos casos,
hipertensão arterial em 2,7%, e 72,5% não praticavam atividade física.
Não houve associação entre as variáveis renda familiar, escolaridade da
mãe e prática de atividade física e dislipidemia. Entretanto, observou-
se associação significativa entre dislipidemia e excesso de peso (p =
0,02; odds ratio = 2,82; IC 95% = 1,16-6,81).
Conclusão: Fatores de risco para aterosclerose em crianças e
adolescentes com história familiar de doença arterial coronariana
prematura devem ser identificados o mais cedo possível para que sejam
adotados programas preventivos de saúde.
J Pediatr (Rio J). 2004;80(2):135-40: Hipercolesterolemia, dislipi-
demia, doença arterial coronariana, aterosclerose, lipoproteínas.
Fatores de risco para aterosclerose
em crianças e adolescentes com história familiar
de doença arterial coronariana prematura
Risk factors for atherosclerosis in children and adolescents
with family history of premature coronary artery disease
Ceres C. Romaldini1, Hugo Issler2, Ary L. Cardoso3, Jayme Diament4, Neusa Forti5
0021-7557/04/80-02/135
Jornal de Pediatria
Copyright © 2004 by Sociedade Brasileira de Pediatria
ARTIGO ORIGINAL
Introdução
A doença arterial coronariana (DAC) secundária à ate-
rosclerose destaca-se nos dias atuais como a principal
causa de morbidade e mortalidade nas sociedades industri-
alizadas. Nos Estados Unidos foi responsável por um terço
dos óbitos ocorridos em 19981. Dados brasileiros mostram
que a situação no nosso meio é semelhante. Naquele
mesmo ano, 32,6% dos óbitos por causas determinadas
ocorreram por doenças do aparelho circulatório2.
Em geral, as manifestações clínicas da DAC, como
infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e doença
136 Jornal de Pediatria - Vol. 80, Nº2, 2004 Fatores de risco para aterosclerose em crianças – Romaldini CC et alii
vascular periférica, têm início a partir da meia idade. No
entanto, estudos indicam que o processo aterosclerótico
começa a se desenvolver na infância. Estrias gordurosas,
precursoras das placas ateroscleróticas, começam a apare-
cer na camada íntima da aorta aos 3 anos de idade3 e nas
coronárias durante a adolescência, podendo progredir sig-
nificativamente na terceira e quarta décadas de vida4. O
desenvolvimento da DAC sintomática tem sido correlacio-
nado a fatores de risco para a aterosclerose. Entre os
principais fatores estão a história familiar de DAC, dislipide-
mia, hipertensão arterial, diabetes melito, obesidade, taba-
gismo e sedentarismo5,6.
Estudos documentam a associação entre história fami-
liar de DAC e a presença de fatores de risco para ateroscle-
rose em crianças e adolescentes7-9. Considera-se que a
ocorrência de DAC prematura, isto é, em ascendentes antes
dos 55 e 65 anos de idade, respectivamente, para o sexo
masculino e feminino, confere um risco significativo para a
doença10,11.
A dislipidemia, condição na qual há concentrações anor-
mais de lipídios ou lipoproteínas no sangue, é um fator de
risco importante para o desenvolvimento de complicações
da aterosclerose. Em diferentes populações, estão bem
estabelecidas as correlações entre o risco para DAC e
concentrações séricas elevadas de colesterol total (CT),
particularmente de lipoproteínas de baixa densidade (LDL-
C), assim como concentrações reduzidas de lipoproteínas
de alta densidade (HDL-C)12,13. Vários estudos relacionam
as concentrações de colesterol presentes na infância com as
encontradas na vida adulta14,15.
No nosso meio, são poucos os estudos16-18 que discu-
tem a associação da prevalência de dislipidemia com outros
fatores de risco para a aterosclerose em crianças e adoles-
centes com história familiar de DAC prematura. Nesse
sentido, determinamos as concentrações séricas de CT,
LDL-C, HDL-C e triglicérides (TG) em uma amostra de
crianças e adolescentes com história familiar de DAC com
manifestação antes dos 55 anos de idade para o sexo
masculino e dos 65 anos para o feminino, e avaliamos sua
associação com outros fatores de risco para DAC.
Casuística e métodos
No período de março de 1998 a fevereiro de 2000, foram
estudadas 109 crianças e adolescentes matriculados na
Unidade de Nutrição e Metabolismo do Instituto da Criança
do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo (FMUSP), que foram encaminha-
dos do Instituto do Coração do HC da FMUSP por pertence-
rem a grupo de risco para aterosclerose em vista de os
ascendentes serem portadores de DAC prematura.
Foram incluídas no estudo as crianças e adolescentes
com idades entre 2 anos completos e 20 anos incompletos
cujos pais ou avós com idade inferior a 55 e 65 anos para o
sexo masculino e feminino, respectivamente, tinham sido
submetidos à cirurgia de revascularização miocárdica no
Instituto do Coração do HC da FMUSP e eram residentes na
cidade de São Paulo.
O critério de exclusão foi a presença de diabetes melito,
hipotiroidismo, síndrome nefrótica, insuficiência renal crô-
nica, hepatopatias colestáticas crônicas ou uso de corticos-
teróides, beta-bloqueadores, anabolizantes ou anticoncep-
cionais11.
Foi um estudo transversal em que se avaliaram as
variáveis socioeconômicas (anos de escolaridade da mãe e
renda familiar), atividade física e hábito de fumar, e foram
considerados, ainda, peso, altura e pressão arterial.
O índice de massa corpórea (IMC), expresso em kg/m2,
foi calculado para cada criança ou adolescente. Utilizando
como referência as curvas de IMC para idade e sexo do
National Center for Health Statistics (NCHS)19, foram con-
siderados presença de obesidade (IMC igual ou superior ao
percentil 95), sobrepeso (IMC igual ou superior ao percentil
85 e inferior ao percentil 95), peso adequado (IMC igual ou
superior ao percentil 5 e inferior ao percentil 85) e baixo
peso (IMC inferior ao percentil 5). Incluímos na definição de
excesso de peso tanto sobrepeso quanto obesidade.
As pressões sistólica e diastólica foram consideradas
normais quando abaixo do percentil 95, de acordo com o
Report of the Second Task Force on Blood Pressure Control
in Children (1987)20.
As amostras de sangue venoso para a determinação
das concentrações séricas de CT, LDL-C, HDL-C e TG
foram colhidas após jejum mínimo de 12 horas. As
dosagens foram realizadas por métodos de rotina no
Laboratório Central do HC da FMUSP. Os valores de
referência foram os indicados no National Cholesterol
Education Program10 e referidos nas III Diretrizes Brasi-
leiras sobre Dislipidemias11 (Tabela 1). Diante de resul-
tados iniciais anormais, as dosagens foram repetidas, e a
média dos dois valores foi considerada.
Tabela 1 - Valores de referência dos lipídios para crianças e
adolescentes entre 2 e 19 anos de idade20
* CT = colesterol total.
† LDL-C = lipoproteínas de baixa densidade.
‡ HDL-C = lipoproteínas de alta densidade.
§ TG = triglicérides.
Lipídios Idade Valores (mg/dl)
(anos) Desejáveis Limítrofes Aumentados
CT * 2–19 < 170 170–199 > 200
LDL-C † 2–19 < 110 110–129 >130
HDL-C ‡ < 10 > 40
10–19 > 35
TG § < 10 < 100 > 100
10–19 < 130 > 130
De acordo com a classificação laboratorial das dislipide-
mias, foram consideradas: 1) hipercolesterolemia isolada
(elevação isolada de CT, em geral representada por aumen-
Jornal de Pediatria - Vol. 80, Nº2, 2004 137
to de LDL-C); 2) hipertrigliceridemia isolada (valores eleva-
dos de TG); 3) hiperlipidemia mista (valores elevados de CT
e TG); 4) redução de HDL-C isolada ou em associação com
aumento de LDL-C e/ou de TG11.
Para verificar a prática de atividade física, observamos
as seguintes categorias: diária, duas a três vezes por
semana, ocasional e nenhuma atividade física. Foi definido
como fumante aquele adolescente que informou fumar no
mínimo cinco cigarros por dia16. A renda familiar foi avaliada
em salários mínimos per capita por mês. Em relação à
escolaridade da mãe, foram examinados dois grupos: até a
7ª série completa e superior à 8ª série.
Na análise estatística dos dados, para a medida de
associação entre variáveis, foi aplicado o teste qui-quadra-
do ou de Fisher quando necessário. Para a estimativa do
risco, foi utilizado o odds ratio (OC), considerando-se a
dislipidemia como variável dependente. O nível de signifi-
cância foi fixado em 5% (p < 0,05). Todos os cálculos foram
feitos utilizando-se o programa GraphPad InStat versão
3.01 para Windows 95 da GraphPad Software Inc. (San
Diego, CA, EUA).
O projeto do presente estudo teve a aprovação da
Comissão de Pesquisa e Ética da Instituição. Todos os pais
ou responsáveis legais das crianças e adolescentes assina-
ram o consentimento escrito após esclarecimento quanto
aos objetivos do estudo, métodos e necessidades de exa-
mes laboratoriais.
Resultados
Das 109 crianças e adolescentes que participaram do
estudo, 47,7% eram do sexo masculino e 52,3% do sexo
feminino. A idade do conjunto variou de 2,1 a 19,6 anos,
com idade média de 12,2±4,9 anos e mediana de 12 anos.
As médias, desvios padrão, medianas e limites de
variação dos valores séricos de CT, LDL-C, HDL-C e TG
estão expostos na Tabela 2. A Tabela 3 mostra a distribui-
ção de casos de acordo com os valores de referência para
concentrações séricas de CT, LDL-C, HDL-C e TG. Obser-
vamos que 72,5, 20,2 e 7,3% das crianças e adolescentes
apresentaram, respectivamente, valores séricos de CT
considerados desejáveis, limítrofes e aumentados. Em
relação aos valores de LDL-C, os mesmos foram desejá-
veis em 80,7%, limítrofes em 12% e elevados em 7,3%.
Dentre os casos com valores elevados de LDL-C, dois
apresentaram valores entre 160 e 189 mg/dl, considera-
dos altos para indivíduos com idade superior a 20 anos11.
Os valores desejáveis de HDL-C foram encontrados em
86,2% da amostra, e os não-desejáveis, em 13,8%. A
trigliceridemia estava normal em 87,2% dos casos e
elevada em 12,8%, incluindo quatro casos (3,6% da
amostra) que apresentaram valores acima daqueles con-
siderados de risco para adultos (> 200 mg/dl)11.
Na amostra, 20,1% dos casos apresentaram hiperco-
lesterolemia isolada, 0,9% hipertrigliceridemia isolada,
3,7% hiperlipidemia mista e 13,8 % valor de HDL-C baixo,
isolado ou em associação com aumento de LDL-C e/ou TG.
Deste modo, das 109 crianças e adolescentes com histó-
Tabela 2 - Valores dos lipídios das 109 crianças e adolescentes
com história familiar de doença arterial coronariana
prematura
* DP = desvio padrão.
† CT = colesterol total.
‡ LDL-C = lipoproteínas de baixa densidade.
§ HDL-C = lipoproteínas de alta densidade.
¦ TG = triglicérides.
Lipídios Média±DP* Mediana Limites de variação
CT † 155,4±26,6 151 106–230
LDL-C ‡ 92,0±24,7 92 45–184
HDL-C § 48,8±13,6 47 21–98
TG ¦ 78,4±50,1 65 27–362
Tabela 3 - Distribuição percentual das 109 crianças e adolescen-
tes com história familiar de doença arterial coronari-
ana prematura de acordo com os valores de referência
para lipídios entre 2 e 19 anos de idade20
* CT = colesterol total.
† LDL-C = lipoproteínas de baixa densidade.
‡ HDL-C = lipoproteínas de alta densidade.
§ TG = triglicérides.
Lipídios Valores (mg/dl) N %
CT* Desejáveis 79 72,5
Limítrofes 22 20,2
Aumentados 8 7,3
LDL-C † Desejáveis 88 80,7
Limítrofes 13 12,0
Aumentados 8 7,3
HDL-C ‡ Desejáveis 94 86,2
Não-desejáveis 15 13,8
TG § Desejáveis 95 87,2
Aumentados 14 12,8
ria familiar de DAC prematura, 42 (38,5%) apresentaram
dislipidemia (Figura 1).
A análise dos valores do IMC mostrou que 10,1% das
crianças e adolescentes eram obesos, 15,6% apresentavam
sobrepeso, 66,9% peso adequado e 7,4% baixo peso. As
alterações lipídicas estavam presentes em 57,1% (16/28)
dos casos com excesso de peso (obesos e sobrepesos) e em
32% (26/55) dos com peso normal ou baixo peso. Observa-
mos associação significativa entre excesso de peso e disli-
pidemia (p = 0,02; OC 2,82; IC 95% = 1,16-6,81).
A renda familiar foi obtida em 104 casos e mostrou que
76% das famílias ganhavam menos que dois salários míni-
mos per capita. Considerando a escolaridade da mãe, de
106 casos, 52% haviam cursado até a 7ª série completa e
48% além da 8ª série. Somente 27,5% (30/109) das
crianças e adolescentes praticavam atividade física diária
ou duas a três vezes por semana. Não foram observadas
associações entre dislipidemia e as variáveis renda familiar,
escolaridade da mãe e prática de atividade física.
Fatores de risco para aterosclerose em crianças – Romaldini CC et alii
138 Jornal de Pediatria - Vol. 80, Nº2, 2004
O hábito de fumar foi constatado em 3,6% (4/109) da
amostra, e hipertensão arterial sistólica em 2,7% (3/109).
Como o número de casos com hipertensão arterial e com
hábito de fumar foi pequeno, não foi possível avaliar a
associação entre dislipidemia e estes fatores.
A Tabela 4 mostra que 12,8% das crianças e adoles-
centes apresentaram um único fator de risco para ateros-
clerose e que 14,6, 12,8 e 0,9%, respectivamente, apre-
sentaram dois, três e quatro fatores concomitantes à
história familiar de DAC. Observou-se que a prevalência
de dislipidemia isolada ou concomitante com outros fato-
res de risco foi de 38,5%.
Discussão
A doença aterosclerótica, de origem multifatorial, é
influenciada por diferentes variáveis genéticas e ambien-
tais. No nosso estudo, as crianças e adolescentes apresen-
tavam susceptibilidade genética para o desenvolvimento de
DAC, considerada um dos maiores indicadores para se
realizar o perfil lipídico em crianças acima de 2 anos de
idade9,10. Está bem estabelecido que a dislipidemia tem um
importante papel no desenvolvimento da doença cardiovas-
cular no adulto21 e que a diminuição das concentrações
séricas de lípides levam a uma redução significativa dos
eventos cardiovasculares e da mortalidade22.
Observamos que 27,5 e 19,3% da amostra estudada
apresentaram, respectivamente, valores de CT e de LDL-
C não-desejáveis. Em trabalho realizado também em São
Paulo, Forti et al.16 encontraram freqüências bem mais
elevadas. Esses autores estudaram crianças e adolescen-
tes de 2 a 19 anos, filhos de indivíduos portadores de DAC
com menos de 55 anos de idade, que foram revasculari-
zados no Instituto do Coração do HC da FMUSP, e obser-
varam que 48,2 e 44,6% apresentaram, respectivamen-
te, valores de CT e LDL-C acima dos considerados ideais.
Em Campinas, Moura & Coronelli17, em uma amostra de
escolares de 7 a 10 anos de idade que apresentavam
valores de CT iguais ou superiores a 200 mg/dl, encontra-
ram história familiar positiva de doença cardiovascular
em 53,5% dos casos. Em investigação realizada no sul do
país, Gerber & Zielinsky18 constataram uma freqüência
de valores elevados de CT superior àquela encontrada no
nosso trabalho. Em Bento Gonçalves, analisando 1.501
escolares de 6 a 16 anos incompletos, esses autores
detectaram 38,3% com história familiar positiva para
DAC e hipercolesterolemia concomitante. Entretanto, em
ambos os estudos, os autores não mencionam a idade de
aparecimento da DAC nos ascendentes.
Pesquisas de outros países mostraram uma variação de
14 a 21,5% de escolares com hipercolesterolemia que
apresentavam história familiar de DAC prematura23-25. Um
estudo realizado na Dinamarca com crianças cujos pais
faleceram de doença cardíaca isquêmica antes dos 45 anos
de idade mostrou que somente 6% apresentavam valores
altos de CT26. Beigel et al.27, estudando descendentes de
pacientes portadores de DAC diagnosticada aos 40 anos de
idade, não encontraram diferenças significativas nas con-
centrações séricas de CT e LDL-C, mas somente nas
concentrações de apoproteínas, quando comparadas com
um grupo controle.
Provavelmente essas diferenças em relação à freqüên-
cia da hipercolesterolemia em crianças e adolescentes com
história familiar de DAC prematura, além da influência
genética e variação biológica, podem também depender de
fatores ambientais, principalmente hábitos alimentares da
família, assim como da condição socioeconômica das popu-
lações de várias regiões geográficas.
Na amostra estudada, concentrações diminuídas de
HDL-C ocorreram em 13,8% dos casos. Esses dados são
semelhantes aos de outra pesquisa que mostra valores
diminuídos de HDL-C em 13,5% de crianças de 2 a 12 anos
Fator de risco N %
Dislipidemia 11 10,1
Hipertensão arterial 1 0,9
Tabagismo 2 1,8
Dislipidemia e sedentarismo 13 11,9
Dislipidemia e hipertensão arterial 1 0,9
Dislipidemia e excesso de peso 2 1,8
Dislipidemia, sedentarismo e tabagismo 1 0,9
Dislipidemia, excesso de peso e sedentarismo 12 11,0
Dislipidemia, excesso de peso e tabagismo 1 0,9
Dislipidemia, excesso de peso,
sedentarismo e hipertensão arterial 1 0,9
Total 45 41,1
Tabela 4 - Fatores de risco nas 109 crianças e adolescentes com
história familiar de doença arterial coronariana pre-
matura
0 5 10 15 20 25
Hipercolesterolemia
isolada
Hipertrigliceridemia
isolada
Hiperlipidemia
mista
Redução de HDL-C
isolada ou em associação
com aumento de LDL-C
e/ou TG
Percentual de casos
%
Figura 1 - Distribuição percentual das crianças e adolescentes
com história familiar de doença arterial coronariana
prematura e valores alterados de lipídios de acordo
com a classificação laboratorial das dislipidemias11
Fatores de risco para aterosclerose em crianças – Romaldini CC et alii
Jornal de Pediatria - Vol. 80, Nº2, 2004 139
de idade e em 14,2% de adolescentes com história familiar
de DAC prematura16. Estudos sugerem que concentrações
diminuídas de HDL-C aceleram a progressão da aterogêne-
se. Achados de necropsia revelaram que as concentrações
de HDL-C prévias ao óbito eram menores em indivíduos que
apresentavam ateromas em relação aos que não apresen-
tavam esse tipo de lesão6. Valores de HDL-C abaixo dos
desejáveis freqüentemente estão associados com heredita-
riedade, outras lipoproteínas aterogênicas e obesidade28.
Na nossa amostra, das 11 crianças obesas, seis (54,5%)
apresentaram concentrações diminuídas de HDL-C associ-
adas com valores elevados de TG. Destas, em três os
valores de CT e/ou LDL-C também foram considerados não-
desejáveis.
Em relação aos TG, 13% dos casos apresentaram
valores acima dos desejáveis para a idade. Esses dados são
concordantes com os de outros autores, que encontraram
trigliceridemia elevada em 14% de crianças e adolescentes
com história familiar de DAC prematura15. Atualmente,
admite-se a hipótese de que algumas lipoproteínas ricas em
TG possam estar implicadas de modo independente no
desenvolvimento da aterosclerose. Estudos de necropsia
mostraram uma associação de concentrações aumentadas
de TG e lipoproteínas de muito baixa densidade com estrias
gordurosas e placas fibrosas em artérias coronárias6.
No nosso estudo, a dislipidemia foi encontrada em
38,4% dos casos (Tabela 4), e não foi possível avaliar se as
alterações lipídicas eram dependentes de fatores genéticos
e/ou ambientais. Em relação aos tipos de dislipidemia,
houve uma predominância de hipercolesterolemia isolada.
Isto provavelmente sugere uma influência dos hábitos
alimentares e do estilo de vida da família.
Observamos que as crianças e adolescentes com exces-
so de peso mostraram um risco 2,8 vezes maior de desen-
volver dislipidemia. Esses dados são concordantes com os
de Forti et al.16, que encontraram uma freqüência significa-
tivamente mais elevada de CT acima dos valores desejáveis
em crianças e adolescentes com aumento de peso e história
familiar de DAC prematura. Um estudo longitudinal realiza-
do na cidade de Bogalusa9 mostrou que descendentes de
indivíduos que apresentaram DAC antes dos 50 anos eram
mais obesos em comparação com aqueles sem história
familiar para a doença e que a obesidade tinha início na
infância. Desse modo, torna-se muito importante o controle
de peso durante a infância e adolescência, uma vez que a
obesidade, além de ser um fator de risco independente para
a aterogênese, pode estar associada a uma série de outros
fatores de risco para doença aterosclerótica, como hiper-
tensão arterial, diabetes melito tipo 2 e dislipidemia5.
Não foi possível avaliar a associação entre dislipidemia
e hipertensão arterial e hábito de fumar, considerados
importantes fatores de risco para o desenvolvimento da
aterosclerose, uma vez que foram identificados somente
três e quatro casos, respectivamente. Observamos que não
houve associação entre dislipidemia e prática de atividade
física, renda familiar ou escolaridade da mãe. Um dado que
nos chamou a atenção foi o fato de se constatar que menos
de 30% das crianças e adolescentes praticavam atividade
física regular. O sedentarismo pode facilitar o aparecimento
de obesidade, hipertensão arterial, concentrações baixas
de HDL-C e aumento de TG, que são fatores que reconhe-
cidamente se associam à doença aterosclerótica. Por outro
lado, a inatividade física, quando presente na infância,
tende a permanecer na vida adulta29.
Este estudo identificou que 41% das crianças e adoles-
centes apresentaram de um a quatro fatores de risco para
aterosclerose com manifestação simultânea à história fami-
liar de DAC prematura. Em geral, quanto maior o número ou
a gravidade dos fatores de risco, maior a probabilidade de
doença. Além disso, quando mais de um fator de risco está
presente, seus efeitos parecem ser de multiplicação, e não
apenas de adição30.
Os nossos dados apontam que o perfil lipídico e outros
fatores de risco para a aterosclerose devem ser sempre
pesquisados em crianças e adolescentes com história fami-
liar de DAC prematura.
Concluindo, podemos afirmar que é necessário que a
prevenção da doença aterosclerótica seja iniciada na
infância, e o pediatra deve estar atento para identificar e
intervir precocemente nos seus fatores de risco, para que
sejam adotados programas preventivos de saúde, que
incluem hábitos alimentares adequados e estilo de vida
saudável.
Agradecimentos
Ao Prof. Dr. Cláudio Leone, pela cooperação na análise
estatística, e à Sra. Lilia F. de Abreu Ferreira, voluntária
do Instituto do Coração do HC da FMUSP, pelo auxílio
prestado.
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Internet]. Atlanta, GA: Centers for Disease Control and Prevention
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Fatores de risco para aterosclerose em crianças – Romaldini CC et alii
140 Jornal de Pediatria - Vol. 80, Nº2, 2004
Correspondência:
Ceres C. Romaldini
Instituto da Criança do Hospital das Clínicas
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Av. Dr. Eneas Carvalho Aguiar, 647
CEP 05403-900 - São Paulo, SP
Tel.: (11) 3069.8527 – Fax: (11) 5051.2477
Email: jhroma@netpoint.com.br
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  • 1. 135 1. Doutora em Medicina pela Faculdade de Medina da Universidade de São Paulo (USP). Médica assistente da Unidade de Nutrição e Metabolismo do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medi- cina da USP. 2. Professor Doutor do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medi- cina da USP. 3. Doutor em Medicina pela Faculdade de Medina da USP. Chefe da Unidade de Nutrologia do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. 4. Professor livre-docente pela Faculdade de Medicina da USP. Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. 5. Professora assistente Doutora da Disciplina de Cardiologia da Faculdade de Medicina da USP. Artigo submetido em 25.03.03, aceito em 29.10.03. Abstract Objectives: To identify the prevalence of dyslipidemia in a group of 109 children and adolescents with a family history of premature coronary artery disease and to investigate the association between dyslipidemia and other risk factors for atherosclerosis. Methods: Total cholesterol, low density lipoprotein cholesterol (LDL-C), high density lipoprotein cholesterol (HDL-C), triglycerides, body mass index, blood pressure, physical activity, smoking, per capita income and maternal schooling were investigated. Results: Total cholesterol and LDL-C levels were higher than desirable in 27.5% and 19.3%, respectively, of our patients; 13.8% had lower HDL-C values and 13.0% presented hypertriglyceridemia. Obesity and excess weight were observed in 25.7% of the cases. Out of these, 57.1% had abnormal lipid values. Dyslipidemia was observed in 38.5%, either alone or in combination with other risk factors. Smoking was observed in 3.6%, hypertension in 2.7% and physical inactivity in 72.5%. There was no relationship between dyslipidemia and per capita income, maternal schooling and physical inactivity. However, obesity and excess weight were identified as significantly associated with the occurrence of dyslipidemia (p = 0.02; odds ratio = 2.82, 95% CI = 1.6- 6.81). Conclusion: In children and adolescents with a family history of premature coronary artery disease, early identification of the risk factors for atherosclerosis is essential to allow the implementation of preventive measures. J Pediatr (Rio J). 2004;80(2):135-40: Hypercholesterolemia, dyslipidemia, coronary artery disease, atherosclerosis, lipoproteins. Resumo Objetivos: Analisar a prevalência de dislipidemia em 109 crian- ças e adolescentes com história familiar de doença arterial corona- riana prematura e a associação com outros fatores de risco para aterosclerose. Métodos: Foram determinados valores séricos de colesterol total, lipoproteínas de baixa densidade (LDL-C), alta densidade (HDL-C), triglicérides, índice de massa corpórea e pressão arterial. Foram também avaliados: prática de atividade física, tabagismo, renda fami- liar e escolaridade da mãe. Resultados: Do total, 27,5 e 19,3% apresentaram, respectiva- mente, valores de colesterol total e LDL-C acima do normal, 13,8% valores de HDL-C diminuídos e 13,0% trigliceridemia elevada. Excesso de peso (obesidade e sobrepeso) foi detectado em 25,7% dos casos; destes, 57,1% apresentavam valores anormais de lipídios. A prevalên- cia de dislipidemia, isolada ou concomitante com outros fatores de risco, foi de 38,5%. Hábito de fumar ocorreu em 3,6% dos casos, hipertensão arterial em 2,7%, e 72,5% não praticavam atividade física. Não houve associação entre as variáveis renda familiar, escolaridade da mãe e prática de atividade física e dislipidemia. Entretanto, observou- se associação significativa entre dislipidemia e excesso de peso (p = 0,02; odds ratio = 2,82; IC 95% = 1,16-6,81). Conclusão: Fatores de risco para aterosclerose em crianças e adolescentes com história familiar de doença arterial coronariana prematura devem ser identificados o mais cedo possível para que sejam adotados programas preventivos de saúde. J Pediatr (Rio J). 2004;80(2):135-40: Hipercolesterolemia, dislipi- demia, doença arterial coronariana, aterosclerose, lipoproteínas. Fatores de risco para aterosclerose em crianças e adolescentes com história familiar de doença arterial coronariana prematura Risk factors for atherosclerosis in children and adolescents with family history of premature coronary artery disease Ceres C. Romaldini1, Hugo Issler2, Ary L. Cardoso3, Jayme Diament4, Neusa Forti5 0021-7557/04/80-02/135 Jornal de Pediatria Copyright © 2004 by Sociedade Brasileira de Pediatria ARTIGO ORIGINAL Introdução A doença arterial coronariana (DAC) secundária à ate- rosclerose destaca-se nos dias atuais como a principal causa de morbidade e mortalidade nas sociedades industri- alizadas. Nos Estados Unidos foi responsável por um terço dos óbitos ocorridos em 19981. Dados brasileiros mostram que a situação no nosso meio é semelhante. Naquele mesmo ano, 32,6% dos óbitos por causas determinadas ocorreram por doenças do aparelho circulatório2. Em geral, as manifestações clínicas da DAC, como infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e doença
  • 2. 136 Jornal de Pediatria - Vol. 80, Nº2, 2004 Fatores de risco para aterosclerose em crianças – Romaldini CC et alii vascular periférica, têm início a partir da meia idade. No entanto, estudos indicam que o processo aterosclerótico começa a se desenvolver na infância. Estrias gordurosas, precursoras das placas ateroscleróticas, começam a apare- cer na camada íntima da aorta aos 3 anos de idade3 e nas coronárias durante a adolescência, podendo progredir sig- nificativamente na terceira e quarta décadas de vida4. O desenvolvimento da DAC sintomática tem sido correlacio- nado a fatores de risco para a aterosclerose. Entre os principais fatores estão a história familiar de DAC, dislipide- mia, hipertensão arterial, diabetes melito, obesidade, taba- gismo e sedentarismo5,6. Estudos documentam a associação entre história fami- liar de DAC e a presença de fatores de risco para ateroscle- rose em crianças e adolescentes7-9. Considera-se que a ocorrência de DAC prematura, isto é, em ascendentes antes dos 55 e 65 anos de idade, respectivamente, para o sexo masculino e feminino, confere um risco significativo para a doença10,11. A dislipidemia, condição na qual há concentrações anor- mais de lipídios ou lipoproteínas no sangue, é um fator de risco importante para o desenvolvimento de complicações da aterosclerose. Em diferentes populações, estão bem estabelecidas as correlações entre o risco para DAC e concentrações séricas elevadas de colesterol total (CT), particularmente de lipoproteínas de baixa densidade (LDL- C), assim como concentrações reduzidas de lipoproteínas de alta densidade (HDL-C)12,13. Vários estudos relacionam as concentrações de colesterol presentes na infância com as encontradas na vida adulta14,15. No nosso meio, são poucos os estudos16-18 que discu- tem a associação da prevalência de dislipidemia com outros fatores de risco para a aterosclerose em crianças e adoles- centes com história familiar de DAC prematura. Nesse sentido, determinamos as concentrações séricas de CT, LDL-C, HDL-C e triglicérides (TG) em uma amostra de crianças e adolescentes com história familiar de DAC com manifestação antes dos 55 anos de idade para o sexo masculino e dos 65 anos para o feminino, e avaliamos sua associação com outros fatores de risco para DAC. Casuística e métodos No período de março de 1998 a fevereiro de 2000, foram estudadas 109 crianças e adolescentes matriculados na Unidade de Nutrição e Metabolismo do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), que foram encaminha- dos do Instituto do Coração do HC da FMUSP por pertence- rem a grupo de risco para aterosclerose em vista de os ascendentes serem portadores de DAC prematura. Foram incluídas no estudo as crianças e adolescentes com idades entre 2 anos completos e 20 anos incompletos cujos pais ou avós com idade inferior a 55 e 65 anos para o sexo masculino e feminino, respectivamente, tinham sido submetidos à cirurgia de revascularização miocárdica no Instituto do Coração do HC da FMUSP e eram residentes na cidade de São Paulo. O critério de exclusão foi a presença de diabetes melito, hipotiroidismo, síndrome nefrótica, insuficiência renal crô- nica, hepatopatias colestáticas crônicas ou uso de corticos- teróides, beta-bloqueadores, anabolizantes ou anticoncep- cionais11. Foi um estudo transversal em que se avaliaram as variáveis socioeconômicas (anos de escolaridade da mãe e renda familiar), atividade física e hábito de fumar, e foram considerados, ainda, peso, altura e pressão arterial. O índice de massa corpórea (IMC), expresso em kg/m2, foi calculado para cada criança ou adolescente. Utilizando como referência as curvas de IMC para idade e sexo do National Center for Health Statistics (NCHS)19, foram con- siderados presença de obesidade (IMC igual ou superior ao percentil 95), sobrepeso (IMC igual ou superior ao percentil 85 e inferior ao percentil 95), peso adequado (IMC igual ou superior ao percentil 5 e inferior ao percentil 85) e baixo peso (IMC inferior ao percentil 5). Incluímos na definição de excesso de peso tanto sobrepeso quanto obesidade. As pressões sistólica e diastólica foram consideradas normais quando abaixo do percentil 95, de acordo com o Report of the Second Task Force on Blood Pressure Control in Children (1987)20. As amostras de sangue venoso para a determinação das concentrações séricas de CT, LDL-C, HDL-C e TG foram colhidas após jejum mínimo de 12 horas. As dosagens foram realizadas por métodos de rotina no Laboratório Central do HC da FMUSP. Os valores de referência foram os indicados no National Cholesterol Education Program10 e referidos nas III Diretrizes Brasi- leiras sobre Dislipidemias11 (Tabela 1). Diante de resul- tados iniciais anormais, as dosagens foram repetidas, e a média dos dois valores foi considerada. Tabela 1 - Valores de referência dos lipídios para crianças e adolescentes entre 2 e 19 anos de idade20 * CT = colesterol total. † LDL-C = lipoproteínas de baixa densidade. ‡ HDL-C = lipoproteínas de alta densidade. § TG = triglicérides. Lipídios Idade Valores (mg/dl) (anos) Desejáveis Limítrofes Aumentados CT * 2–19 < 170 170–199 > 200 LDL-C † 2–19 < 110 110–129 >130 HDL-C ‡ < 10 > 40 10–19 > 35 TG § < 10 < 100 > 100 10–19 < 130 > 130 De acordo com a classificação laboratorial das dislipide- mias, foram consideradas: 1) hipercolesterolemia isolada (elevação isolada de CT, em geral representada por aumen-
  • 3. Jornal de Pediatria - Vol. 80, Nº2, 2004 137 to de LDL-C); 2) hipertrigliceridemia isolada (valores eleva- dos de TG); 3) hiperlipidemia mista (valores elevados de CT e TG); 4) redução de HDL-C isolada ou em associação com aumento de LDL-C e/ou de TG11. Para verificar a prática de atividade física, observamos as seguintes categorias: diária, duas a três vezes por semana, ocasional e nenhuma atividade física. Foi definido como fumante aquele adolescente que informou fumar no mínimo cinco cigarros por dia16. A renda familiar foi avaliada em salários mínimos per capita por mês. Em relação à escolaridade da mãe, foram examinados dois grupos: até a 7ª série completa e superior à 8ª série. Na análise estatística dos dados, para a medida de associação entre variáveis, foi aplicado o teste qui-quadra- do ou de Fisher quando necessário. Para a estimativa do risco, foi utilizado o odds ratio (OC), considerando-se a dislipidemia como variável dependente. O nível de signifi- cância foi fixado em 5% (p < 0,05). Todos os cálculos foram feitos utilizando-se o programa GraphPad InStat versão 3.01 para Windows 95 da GraphPad Software Inc. (San Diego, CA, EUA). O projeto do presente estudo teve a aprovação da Comissão de Pesquisa e Ética da Instituição. Todos os pais ou responsáveis legais das crianças e adolescentes assina- ram o consentimento escrito após esclarecimento quanto aos objetivos do estudo, métodos e necessidades de exa- mes laboratoriais. Resultados Das 109 crianças e adolescentes que participaram do estudo, 47,7% eram do sexo masculino e 52,3% do sexo feminino. A idade do conjunto variou de 2,1 a 19,6 anos, com idade média de 12,2±4,9 anos e mediana de 12 anos. As médias, desvios padrão, medianas e limites de variação dos valores séricos de CT, LDL-C, HDL-C e TG estão expostos na Tabela 2. A Tabela 3 mostra a distribui- ção de casos de acordo com os valores de referência para concentrações séricas de CT, LDL-C, HDL-C e TG. Obser- vamos que 72,5, 20,2 e 7,3% das crianças e adolescentes apresentaram, respectivamente, valores séricos de CT considerados desejáveis, limítrofes e aumentados. Em relação aos valores de LDL-C, os mesmos foram desejá- veis em 80,7%, limítrofes em 12% e elevados em 7,3%. Dentre os casos com valores elevados de LDL-C, dois apresentaram valores entre 160 e 189 mg/dl, considera- dos altos para indivíduos com idade superior a 20 anos11. Os valores desejáveis de HDL-C foram encontrados em 86,2% da amostra, e os não-desejáveis, em 13,8%. A trigliceridemia estava normal em 87,2% dos casos e elevada em 12,8%, incluindo quatro casos (3,6% da amostra) que apresentaram valores acima daqueles con- siderados de risco para adultos (> 200 mg/dl)11. Na amostra, 20,1% dos casos apresentaram hiperco- lesterolemia isolada, 0,9% hipertrigliceridemia isolada, 3,7% hiperlipidemia mista e 13,8 % valor de HDL-C baixo, isolado ou em associação com aumento de LDL-C e/ou TG. Deste modo, das 109 crianças e adolescentes com histó- Tabela 2 - Valores dos lipídios das 109 crianças e adolescentes com história familiar de doença arterial coronariana prematura * DP = desvio padrão. † CT = colesterol total. ‡ LDL-C = lipoproteínas de baixa densidade. § HDL-C = lipoproteínas de alta densidade. ¦ TG = triglicérides. Lipídios Média±DP* Mediana Limites de variação CT † 155,4±26,6 151 106–230 LDL-C ‡ 92,0±24,7 92 45–184 HDL-C § 48,8±13,6 47 21–98 TG ¦ 78,4±50,1 65 27–362 Tabela 3 - Distribuição percentual das 109 crianças e adolescen- tes com história familiar de doença arterial coronari- ana prematura de acordo com os valores de referência para lipídios entre 2 e 19 anos de idade20 * CT = colesterol total. † LDL-C = lipoproteínas de baixa densidade. ‡ HDL-C = lipoproteínas de alta densidade. § TG = triglicérides. Lipídios Valores (mg/dl) N % CT* Desejáveis 79 72,5 Limítrofes 22 20,2 Aumentados 8 7,3 LDL-C † Desejáveis 88 80,7 Limítrofes 13 12,0 Aumentados 8 7,3 HDL-C ‡ Desejáveis 94 86,2 Não-desejáveis 15 13,8 TG § Desejáveis 95 87,2 Aumentados 14 12,8 ria familiar de DAC prematura, 42 (38,5%) apresentaram dislipidemia (Figura 1). A análise dos valores do IMC mostrou que 10,1% das crianças e adolescentes eram obesos, 15,6% apresentavam sobrepeso, 66,9% peso adequado e 7,4% baixo peso. As alterações lipídicas estavam presentes em 57,1% (16/28) dos casos com excesso de peso (obesos e sobrepesos) e em 32% (26/55) dos com peso normal ou baixo peso. Observa- mos associação significativa entre excesso de peso e disli- pidemia (p = 0,02; OC 2,82; IC 95% = 1,16-6,81). A renda familiar foi obtida em 104 casos e mostrou que 76% das famílias ganhavam menos que dois salários míni- mos per capita. Considerando a escolaridade da mãe, de 106 casos, 52% haviam cursado até a 7ª série completa e 48% além da 8ª série. Somente 27,5% (30/109) das crianças e adolescentes praticavam atividade física diária ou duas a três vezes por semana. Não foram observadas associações entre dislipidemia e as variáveis renda familiar, escolaridade da mãe e prática de atividade física. Fatores de risco para aterosclerose em crianças – Romaldini CC et alii
  • 4. 138 Jornal de Pediatria - Vol. 80, Nº2, 2004 O hábito de fumar foi constatado em 3,6% (4/109) da amostra, e hipertensão arterial sistólica em 2,7% (3/109). Como o número de casos com hipertensão arterial e com hábito de fumar foi pequeno, não foi possível avaliar a associação entre dislipidemia e estes fatores. A Tabela 4 mostra que 12,8% das crianças e adoles- centes apresentaram um único fator de risco para ateros- clerose e que 14,6, 12,8 e 0,9%, respectivamente, apre- sentaram dois, três e quatro fatores concomitantes à história familiar de DAC. Observou-se que a prevalência de dislipidemia isolada ou concomitante com outros fato- res de risco foi de 38,5%. Discussão A doença aterosclerótica, de origem multifatorial, é influenciada por diferentes variáveis genéticas e ambien- tais. No nosso estudo, as crianças e adolescentes apresen- tavam susceptibilidade genética para o desenvolvimento de DAC, considerada um dos maiores indicadores para se realizar o perfil lipídico em crianças acima de 2 anos de idade9,10. Está bem estabelecido que a dislipidemia tem um importante papel no desenvolvimento da doença cardiovas- cular no adulto21 e que a diminuição das concentrações séricas de lípides levam a uma redução significativa dos eventos cardiovasculares e da mortalidade22. Observamos que 27,5 e 19,3% da amostra estudada apresentaram, respectivamente, valores de CT e de LDL- C não-desejáveis. Em trabalho realizado também em São Paulo, Forti et al.16 encontraram freqüências bem mais elevadas. Esses autores estudaram crianças e adolescen- tes de 2 a 19 anos, filhos de indivíduos portadores de DAC com menos de 55 anos de idade, que foram revasculari- zados no Instituto do Coração do HC da FMUSP, e obser- varam que 48,2 e 44,6% apresentaram, respectivamen- te, valores de CT e LDL-C acima dos considerados ideais. Em Campinas, Moura & Coronelli17, em uma amostra de escolares de 7 a 10 anos de idade que apresentavam valores de CT iguais ou superiores a 200 mg/dl, encontra- ram história familiar positiva de doença cardiovascular em 53,5% dos casos. Em investigação realizada no sul do país, Gerber & Zielinsky18 constataram uma freqüência de valores elevados de CT superior àquela encontrada no nosso trabalho. Em Bento Gonçalves, analisando 1.501 escolares de 6 a 16 anos incompletos, esses autores detectaram 38,3% com história familiar positiva para DAC e hipercolesterolemia concomitante. Entretanto, em ambos os estudos, os autores não mencionam a idade de aparecimento da DAC nos ascendentes. Pesquisas de outros países mostraram uma variação de 14 a 21,5% de escolares com hipercolesterolemia que apresentavam história familiar de DAC prematura23-25. Um estudo realizado na Dinamarca com crianças cujos pais faleceram de doença cardíaca isquêmica antes dos 45 anos de idade mostrou que somente 6% apresentavam valores altos de CT26. Beigel et al.27, estudando descendentes de pacientes portadores de DAC diagnosticada aos 40 anos de idade, não encontraram diferenças significativas nas con- centrações séricas de CT e LDL-C, mas somente nas concentrações de apoproteínas, quando comparadas com um grupo controle. Provavelmente essas diferenças em relação à freqüên- cia da hipercolesterolemia em crianças e adolescentes com história familiar de DAC prematura, além da influência genética e variação biológica, podem também depender de fatores ambientais, principalmente hábitos alimentares da família, assim como da condição socioeconômica das popu- lações de várias regiões geográficas. Na amostra estudada, concentrações diminuídas de HDL-C ocorreram em 13,8% dos casos. Esses dados são semelhantes aos de outra pesquisa que mostra valores diminuídos de HDL-C em 13,5% de crianças de 2 a 12 anos Fator de risco N % Dislipidemia 11 10,1 Hipertensão arterial 1 0,9 Tabagismo 2 1,8 Dislipidemia e sedentarismo 13 11,9 Dislipidemia e hipertensão arterial 1 0,9 Dislipidemia e excesso de peso 2 1,8 Dislipidemia, sedentarismo e tabagismo 1 0,9 Dislipidemia, excesso de peso e sedentarismo 12 11,0 Dislipidemia, excesso de peso e tabagismo 1 0,9 Dislipidemia, excesso de peso, sedentarismo e hipertensão arterial 1 0,9 Total 45 41,1 Tabela 4 - Fatores de risco nas 109 crianças e adolescentes com história familiar de doença arterial coronariana pre- matura 0 5 10 15 20 25 Hipercolesterolemia isolada Hipertrigliceridemia isolada Hiperlipidemia mista Redução de HDL-C isolada ou em associação com aumento de LDL-C e/ou TG Percentual de casos % Figura 1 - Distribuição percentual das crianças e adolescentes com história familiar de doença arterial coronariana prematura e valores alterados de lipídios de acordo com a classificação laboratorial das dislipidemias11 Fatores de risco para aterosclerose em crianças – Romaldini CC et alii
  • 5. Jornal de Pediatria - Vol. 80, Nº2, 2004 139 de idade e em 14,2% de adolescentes com história familiar de DAC prematura16. Estudos sugerem que concentrações diminuídas de HDL-C aceleram a progressão da aterogêne- se. Achados de necropsia revelaram que as concentrações de HDL-C prévias ao óbito eram menores em indivíduos que apresentavam ateromas em relação aos que não apresen- tavam esse tipo de lesão6. Valores de HDL-C abaixo dos desejáveis freqüentemente estão associados com heredita- riedade, outras lipoproteínas aterogênicas e obesidade28. Na nossa amostra, das 11 crianças obesas, seis (54,5%) apresentaram concentrações diminuídas de HDL-C associ- adas com valores elevados de TG. Destas, em três os valores de CT e/ou LDL-C também foram considerados não- desejáveis. Em relação aos TG, 13% dos casos apresentaram valores acima dos desejáveis para a idade. Esses dados são concordantes com os de outros autores, que encontraram trigliceridemia elevada em 14% de crianças e adolescentes com história familiar de DAC prematura15. Atualmente, admite-se a hipótese de que algumas lipoproteínas ricas em TG possam estar implicadas de modo independente no desenvolvimento da aterosclerose. Estudos de necropsia mostraram uma associação de concentrações aumentadas de TG e lipoproteínas de muito baixa densidade com estrias gordurosas e placas fibrosas em artérias coronárias6. No nosso estudo, a dislipidemia foi encontrada em 38,4% dos casos (Tabela 4), e não foi possível avaliar se as alterações lipídicas eram dependentes de fatores genéticos e/ou ambientais. Em relação aos tipos de dislipidemia, houve uma predominância de hipercolesterolemia isolada. Isto provavelmente sugere uma influência dos hábitos alimentares e do estilo de vida da família. Observamos que as crianças e adolescentes com exces- so de peso mostraram um risco 2,8 vezes maior de desen- volver dislipidemia. Esses dados são concordantes com os de Forti et al.16, que encontraram uma freqüência significa- tivamente mais elevada de CT acima dos valores desejáveis em crianças e adolescentes com aumento de peso e história familiar de DAC prematura. Um estudo longitudinal realiza- do na cidade de Bogalusa9 mostrou que descendentes de indivíduos que apresentaram DAC antes dos 50 anos eram mais obesos em comparação com aqueles sem história familiar para a doença e que a obesidade tinha início na infância. Desse modo, torna-se muito importante o controle de peso durante a infância e adolescência, uma vez que a obesidade, além de ser um fator de risco independente para a aterogênese, pode estar associada a uma série de outros fatores de risco para doença aterosclerótica, como hiper- tensão arterial, diabetes melito tipo 2 e dislipidemia5. Não foi possível avaliar a associação entre dislipidemia e hipertensão arterial e hábito de fumar, considerados importantes fatores de risco para o desenvolvimento da aterosclerose, uma vez que foram identificados somente três e quatro casos, respectivamente. Observamos que não houve associação entre dislipidemia e prática de atividade física, renda familiar ou escolaridade da mãe. Um dado que nos chamou a atenção foi o fato de se constatar que menos de 30% das crianças e adolescentes praticavam atividade física regular. O sedentarismo pode facilitar o aparecimento de obesidade, hipertensão arterial, concentrações baixas de HDL-C e aumento de TG, que são fatores que reconhe- cidamente se associam à doença aterosclerótica. Por outro lado, a inatividade física, quando presente na infância, tende a permanecer na vida adulta29. Este estudo identificou que 41% das crianças e adoles- centes apresentaram de um a quatro fatores de risco para aterosclerose com manifestação simultânea à história fami- liar de DAC prematura. Em geral, quanto maior o número ou a gravidade dos fatores de risco, maior a probabilidade de doença. Além disso, quando mais de um fator de risco está presente, seus efeitos parecem ser de multiplicação, e não apenas de adição30. Os nossos dados apontam que o perfil lipídico e outros fatores de risco para a aterosclerose devem ser sempre pesquisados em crianças e adolescentes com história fami- liar de DAC prematura. Concluindo, podemos afirmar que é necessário que a prevenção da doença aterosclerótica seja iniciada na infância, e o pediatra deve estar atento para identificar e intervir precocemente nos seus fatores de risco, para que sejam adotados programas preventivos de saúde, que incluem hábitos alimentares adequados e estilo de vida saudável. Agradecimentos Ao Prof. Dr. Cláudio Leone, pela cooperação na análise estatística, e à Sra. Lilia F. de Abreu Ferreira, voluntária do Instituto do Coração do HC da FMUSP, pelo auxílio prestado. Referências 1. Centers for Disease Control and Prevention [homepage on the Internet]. Atlanta, GA: Centers for Disease Control and Prevention [updated 2001 Oct 12; cited 2004 March 16]. National Vital Statistics Report 2001;49(11):8. Available from: http:// www.cdc.gov/nchs/data/nvsr/nvsr49/nvsr49_11.pdf. 2. Fundação Nacional da Saúde [site na Internet]. Ministério da Saúde; c1999-2003 [citado em 16 de março de 2004]. Disponível em: http://www.funasa.gov.br. 3. Holman RL, McGill Jr HC, Strong JP, Geer JC. The natural history of atherosclerosis. Am J Path. 1958;34:209-35. 4. Stary HC. The sequence of cell and matrix changes in atherosclerotic lesions of coronary arteries in the first forty years of life. Eur Heart J. 1990;11 Suppl E:3-19. 5. Kannel WB, Wilson PWF. 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