1) A mordomia cristã refere-se ao cuidado e administração fiel daquilo que pertence a Deus, não aos privilégios e benefícios mundanos. 2) De acordo com a Bíblia, Deus constituiu o homem como mordomo de Sua criação para cuidar e cultivar a terra. 3) A doutrina da mordomia cristã deve ser aplicada a todos os aspectos da vida do crente, incluindo a mente, o corpo, o tempo, os dons e os bens materiais.
1. UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE MORDOMIA
Publicado originalmente no Blog Igreja Presbiteriana de Natal, em 1 de julho de 2018.
In Atualidade, Cultura, Doutrina, Espiritualidade, Ética, Filosofia, Política, Senhorio de
Cristo, Teologia
Quando alguém ouve a palavra mordomia logo pensa numa série de benefícios
desfrutados por políticos, altos funcionários públicos e executivos da iniciativa privada. Essa
compreensão encontra eco no dicionário Caldas Aulete, que define o verbete mordomia
como: 1. Vantagens e privilégios oferecidos a certos funcionários, por seus chefes,
especialmente no serviço público – 2. Privilégio ou conjunto de privilégios que concedem
boa vida a alguém: Tinha muitas mordomias, inclusive carro com motorista – 3. Cargo ou
função do mordomo.
A palavra mordomo deriva da expressão latina Major domus (Major ou Mor significa
maior e domus casa), assim, o significado original desta expressão é servo maior da
casa. Na antiguidade o Mordomo era um homem livre ou escravo a quem o Senhor, o dono
da casa confiava tudo o que possuía para ser cuidado e desenvolvido: terras, dinheiro,
joias, esposa, filhos, alimentação da família e administração de suas riquezas.
No sentido secular, mordomia diz respeito ao usufruto de benefícios e privilégios,
isto é, alguém sendo servido e recebendo mordomias.
2. Entretanto, na perspectiva cristã, mordomia diz respeito ao fiel exercício do ofício de
mordomo, alguém que serve com fidelidade ao seu Senhor, ou seja, mordomia é o cuidado
e a administração daquilo que pertence a outro.
A bíblia apresenta mordomos exercendo seu ofício, como por exemplo:
• ELIEZER, o damasceno, cuidava não apenas dos bens de Abraão, mas também da sua
família (Gênesis 24.2);
• JOSÉ, filho de Jacó obteve favor diante de Potifar, sendo designado o mordomo de sua
casa e de tudo o que possuía, de maneira que o seu senhor de nada sabia, além do pão
que o alimentava (Gênesis 39.4-6);
• PAULO, o apóstolo, enfatizou que devemos lembrar da verdade de que somos
mordomos dos mistérios de Deus (1 Coríntios 4.1,2).
A doutrina da mordomia está amplamente difundida nas Escrituras. Em Gênesis é
narrado que o Senhor Deus pôs o homem no jardim do Éden para cuidar dele e cultivá-lo
(Gn. 2.15); “Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e subjuguem a terra! Dominem sobre
os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem pela terra"
(Gn. 1.28).
Deus constituiu o homem como mordomo da Sua criação. Portanto, o homem tem o
dever para com Deus de utilizar aquilo que dEle recebeu de acordo com a Sua vontade.
A exemplo de José, filho de Jacó, que foi alçado pelo Faraó ao cargo principal
mordomo ou administrador sobre todo o Egito (Gn. 41.40-45). De modo semelhante, o
Senhor Deus constituiu o homem como o vice regente da sua criação.
O princípio da mordomia cristã é o reconhecimento da soberania de Deus, conforme
está escrito: “Do Senhor é a terra e tudo o que nela existe, o mundo e os que nele vivem”
(Salmo 24.1).
Neste sentido, as Escrituras ensinam que o princípio da mordomia cristã deve ser
aplicado integralmente à vida do crente, ou seja: Mente (1), Corpo (2), Tempo e
Oportunidades (3), Dons e Talentos (4), e Bens Materiais (5).
1. Mente – o crente deve manter sua Mente cativa à Cristo (2 Coríntios 10.15). Isto
significa que deve renovar a sua mente (Romanos 12.2). Deve pensar em tudo o que é
verdadeiro, honesto, justo, puro, amável, de boa fama, virtuoso e louvável (Filipenses 4.8).
2. Corpo – o crente deve apresentar seu corpo como sacrifício agradável a Deus
(Romanos 12.1). Isto significa que deve cuidar e preservar seu corpo, pois o Corpo é o
3. templo do Espírito (1 Coríntios 3.16). Deve vestir-se com decência e discrição (1 Timóteo
2.9). Deve dá-lhe a devida alimentação, descanso e repouso (Efésios 5.28,29). Deve
abster-se de fumo, álcool, drogas, alimentação inadequada e exagerada e imoralidade
sexual (Romanos 13.13 e 1 Pedro 4.3).
3. Tempo e Oportunidades (Eclesiastes 3.1-8) – o crente deve utilizar diligentemente o
tempo e as oportunidades que o Senhor lhe proporciona (Efésios 5.16), bem como utilizar
bem as oportunidades para comunicar a Verdade do Evangelho aos não crentes
(Colossenses 4.5).
4. Dons e Talentos – todo crente recebe dons (Efésios 4.12). Os talentos são
habilidades naturais ou adquiridas ao longo da vida. Já dons espirituais são concedidos
pelo Espírito para a edificação do corpo de Cristo (Romanos 12.3-8; 1 Coríntios 12.8-11 e
Efésios 4.10-12). Os Dons e Talentos devem ser aplicados para o progresso do reino.
5. Bens Materiais – a mordomia cristã dos bens materiais será tratada numa próxima
reflexão.
O verdadeiro crente ama ao Senhor com todo seu coração, alma, forças e
entendimento (Lucas 10.27). Por isso, sabe que não é dono de nada, apenas mordomo
daquilo que pertence ao seu Senhor e que prestará contas de tudo o que dEle recebeu
(Mateus 25.14-29). Por isso, devemos entender que o nosso viver deve glorificar e Deus
(1Co. 10.34).
Paul Washer na obra O Verdadeiro Evangelho1 (p. 35) nos leva e refletir:
“Por quem você foi criado? Por Deus. Entretanto, não apenas você foi criado
por Deus, mas todas as suas faculdades, a sua própria existência é
sustentada por Ele. Você Lhe deve cada respirar e cada batida do seu
coração. Aliás, sua respiração é dada apenas para retornar em adoração; e
seu coração bate somente para servi-Lo”.
Soli Deo Gloria2.
Saulo Campos
Presbítero da Igreja Presbiteriana de Natal
Secretario de Mordomia do Presbitério Potiguar (PPTG-RN)
1
O Verdadeiro Evangelho. Traduzido de um sermão de Paul Washer, proferido em 30/09/2007, em Fellowship Baptist
Church em Onaga, KS, USA. Editora Fiel, 1ª edição em Português 2012.
2
Soli Deo Gloria – Expressão latina que significa: Glória somente a Deus.