Simpósio AGATEF 2023
Caminhos da Parentalidade:
A Terapia de Família e o Jurídico na mesma estrada
“Um Tio em Casa – O Amigo da Minha Mãe”
A Monoparentalidade e os Desafios do Apego na Cultura Familiar e na Sociedade
Vincenzo Di Nicola
A Monoparentalidade e Os Desafios do Apego
Objetivos:
Na conclusão da palestra, os participantes saberão como …
Definir e descrever as necessidades das crianças
Conhecer outras formas de família nas transições socioculturais
Entender as etapas do novo ciclo da vida familiar
Terapia Celular: Legislação, Evidências e Aplicabilidades
Necessidades das crianças em famílias monoparentais
1.
2.
3. Prof. Dr. Vincenzo Di Nicola
vincenzodinicola@gmail.com
Professor titular de psiquiatria
Universidade de Montreal, CANADÁ
Universidade George Washington, DC, EUA
Presidente
Associação Mundial de Psiquiatria Social
4. A arte do encontro
A vida é a arte do
encontro,
embora haja tanto
desencontro pela vida.
- Vinícius de Moraes,
Samba da Benção
5.
6.
7.
8. Necessidades das crianças
s As crianças precisam de duas coisas –
segurança e estabilidade
s Isso se traduz em vida diária em
calor e controle
s Vamos examinar alguns padrões
parentais com esses dois fatores –
calor e controle
9. Necessidades das crianças
s Muitos pais acham difícil equilibrar o calor com o
controle
s Atender às necessidades emocionais da criança, ao
mesmo tempo que lhe ensina sobre os limites, é uma
tarefa contínua para a qual a família tradicional
desenvolveu simples receitas comportamentais
s Você conhece as receitas: O que fazer quando ...
seu filho chora, quando ele exige algo ou se recusa a
fazer o que lhe é dito ... e assim por diante ...
10. Necessidades das crianças
s Agora, essas receitas para criar um filho são mais
difíceis quando se está agindo sozinho como pai
solteiro
s É muito mais difícil ser a pessoa que dá tanto calor
como controle
s Esta divisão de papéis foi a força da família
tradicional – havia duas ou mais pessoas para
compartilhar as tarefas dos pais
11. O calor e o controle
O Calor O Controle
+ +
+ –
– +
– –
12. O calor e o controle
O Calor O Controle
O ideal - um equilíbrio + +
A família emaranhada
de Minuchin - Famílias
Psicossomáticas /
Pais permissivos,
sociedade liberal
+ –
“O amor duro”
Pais estritos, sociedade
autoritária
– +
A família desconectada
de Minuchin –
Famílias das Favelas
Cf. Cidade de Deus
– –
13. Pesquisa de Saúde Mental
Infantil de Quebec
s Pesquisa na provinça de Quebec desde
1992
s Análise secundária de famílias
monoparentais desde 2000
s Este é um grupo de mães em famílias
monoparentais com filhos de 6 a 14
anos
14. Pesquisa de Saúde Mental
Infantil de Quebec
s Resultados
s Quando a mãe tem a guarda exclusiva da criança:
s a criança é significativamente mais propensa a relatar
um distúrbio internalizante
s a mãe é significativamente mais propensa a perceber
um distúrbio externalizante na criança
15. Pesquisa de Saúde Mental
Infantil de Quebec
s Resultados
s Níveis mais baixos de educação de mães solteiras
estão significativamente associados a uma maior
probabilidade de perceber a criança como tendo um
transtorno internalizante
s Quando mães solteiras estão deprimidas, elas
percebem que seus filhos têm mais problemas –
internalizantes e externalizantes – nos últimos 6
meses
16. Pesquisa de Saúde Mental
Infantil de Quebec
s Resultados
s Punição e externalização são
significativamente associados
s Quanto mais punição é dada, maior a
probabilidade de que a criança em uma
família monoparental tenha um
transtorno externalizante – tanto por
auto-relato quanto por relato dos pais
17. Pesquisa de Saúde Mental
Infantil de Quebec
s Resultados
s A doença física crônica da criança está
significativamente associada a
transtornos internalizantes pelo auto-
relato da criança e com ambos os
transtornos internalizantes e
externalizantes pelo relato dos pais
18. Pesquisa de Saúde Mental
Infantil de Quebec
s Discussão
s Viver em uma família monoparental
afeta significativamente a saúde
mental das crianças em uma série de
consequências profundas e interligadas
s O que eu chamo de
“cascata de consequências”
19. Outras formas de família
s A família tradicional é apenas uma possibilidade
s Vivemos em uma época de muitas configurações
familiares, de famílias monoparentais a grupos
familiares multigeracionais
s Agora estamos vendo um número significativo de
famílias monoparentais ou, em outras palavras,
crianças criadas por um pai biológico de cada vez e
vivendo com uma sucessão de casas de pais e
parceiros de pais
20. “Um tio em casa”
s É cada vez mais comum a criança morar com a mãe e a
criança falar de “marido da minha mãe”, “namorado
da minha mãe” ou “amigo da minha mãe”
s Para sobreviver, as novas formas de família que estão
surgindo terão que desenvolver suas forças
s As gerações de transição, no entanto, podem achar a
vida muito difícil, especialmente na área de educação
infantil
21. Transições
s Quando as pessoas sofrem mudanças
culturais, elas estão estressadas
s Estados transitórios podem mascarar
problemas de transição
s Dois exemplos –
s Mudança vem da migração: Mutismo seletivo
s A sociedade está em rápida mudança cultural:
Suicídio
22. Transições
s Na transição da família tradicional para a família
contemporânea, o pai biológico da criança não
desenvolveu as receitas de como integrar parceiros
adultos significativos como um parceiro parental
s Em termos relacionais, o que isto significa é que nem
o novo parceiro adulto nem a criança são
adequadamente apresentados uns aos outros
s O novo relacionamento não é definido, as
expectativas não são esclarecidas e novas formas de
convivência são deixadas não identificadas e
inexploradas
23. Transições
s Em termos socioculturais, as receitas de como fazer
as coisas - como conviver e criar os filhos - estão
ausentes ou inadequadas
s Em termos de sistemas familiares, não há criação real
de uma nova família, apenas a adição de outra
pessoa
s O verdadeiro sistema emocional continua sendo mãe
e filho
24. Transições
s O terceiro é um fantasma
s Às vezes é o pai biológico que a criança vê nos finais
de semana e feriados
s Às vezes está presente apenas como uma imagem
idealizada ou, no outro extremo, um trauma temido
s E o novo parceiro na vida da mãe é um substituto
para este fantasma
28. O novo ciclo da vida familiar
A PERMISSÃO
DA MÃE
1
29. A permissão
s Psicologicamente, o conceito chave que precisamos
é de permissão
s A mãe é a realidade da criança, a pessoa que é ao
mesmo tempo o objeto do apego da criança e o
sujeito que dá substância ao seu senso diário de
quem ele é
s Qualquer pessoa que entre nesse espaço
privilegiado entre a mãe e o filho precisa da
permissão da mãe para estar lá
30. A permissão da mãe
s Esse espaço privilegiado não pode ser
exigido
s Talvez não possa ser conquistado
s A mãe da criança deve dar-lhe
permissão tanto para a criança como
para o homem
31. A permissão da mãe
s Para a criança, ela abre o processo de apego para
outro adulto dizendo:
s “Esta é uma pessoa boa o suficiente, boa o suficiente
para eu compartilhar minha vida, e boa o suficiente para
ser sua nova figura paterna”
s Para o homem, ela deve dar-lhe permissão para
entrar neste espaço privilegiado que chamamos de
relacionamentos
s Ele nunca será o pai biológico da criança, mas ele
pode se tornar seu pai em um sentido psicológico
profundo
32. A permissão da mãe
s A permissão – este é o presente profundo e
necessário de uma mãe para seu filho e de uma
mulher para seu novo parceiro
s A permissão para ter um relacionamento deles,
mediada por seu calor e aprovação
s E quando isso não acontece ...
s O homem não se torna um pai ou mesmo um
padrasto, mas permanece apenas o parceiro da minha
mãe
34. O novo ciclo da vida familiar
A BENÇÃO
DO PAI
A PERMISSÃO
DA MÃE
1
2
35. A benção do pai
s A bênção do pai é a bênção de sua presença e seu
carinho
s O pai ajuda com as tarefas em família, sobretudo as
necessidades das crianças ... o calor e o controle
s Quando não acontece ...
s O homem não pode ser pai, não pode ter autoridade e
presença parental, pois ele esta em risco de
ultrapassar a permissão, e pode ser percebido ou até
atuar com força e violência, ou do outro lado, de ter
uma presença episódica, imprevisível
s Os filhos não se sentem aceitas em família e ficam
estranhos na família e na sociedade
38. O novo ciclo da vida familiar
A BENÇÃO
DO PAI
O PERDÃO
DOS FILHOS
A PERMISSÃO
DA MÃE
1
2
3
39. O perdão
s O perdão é algo muito complexo e com muitos lados
s Existe um lado filosófico – O que significa perdoar?
s Um lado ético – Devemos perdoar?
s Um lado psicológico – Precisamos perdoar?
Faz bem perdoar?
Quais são as consequências de não perdoar?
s Um lado relacional – Quando e por que precisamos
perdoar os outros e ser perdoados?
Como o perdão ou a falta de perdão mudam um
relacionamento?
40. A psicologia do self
O psicanalista Heinz Kohut elaborou a psicologia do self nos
Estados Unidos nos anos 60, 70 e 80
A psicologia do self foi vista como uma grande ruptura com a
psicanálise tradicional e é considerada o início da abordagem
relacional da psicanálise
Os principais conceitos da psicologia do self são:
empatia, self objeto, espelhamento, idealização, alter ego /
gemelaridade e o self tripolar
42. Lacunas parentais:
Empatia e suas vicissitudes
Kohut sustentou que os fracassos dos pais em ter
empatia com seus filhos e as respostas de seus filhos a
esses fracassos estavam “na raiz de quase todas as
psicopatologias”
Kohut chamava esses fracassos lacunas parentais
Eu os chamo de empatia e suas vicissitudes
43. A Stranger
in the Family:
Culture, Families,
and Therapy
(1997)
Um Estranho
na Família:
Cultura, Famílias e
Terapia
44. Um Estranho na Família
Cultura, Famílias e Terapia (1998)
45. Pais e perdão
Somos capazes de perdoar na mesma medida em que sabemos amar.
– François de la Rochefoucauld
“Em perdoando o outro, me aproximo mais a me mesmo.
É como na canção da Zélia Duncan ... Volto pra mim ... diferente ...
mais verdadeiro, mais aparecido ao outro. Sinto-me menos só ...”
Vincenzo Di Nicola, “O poder do perdão”. Texto da entrevista.
s São Paulo, Brasil – TV Paulinas Rede Vida
s Programa “Viver e Conviver” com Marisa Montforte
s Gravado no 11 de março de 2003, ao ar no 26 março de 2003
46. Pais e perdão
1) Vincenzo Di Nicola, Estranhos nuncas mais.
Um Estranho na Família: Cultura, Famílias e Terapia.
Porto Alegre: ArtMed, 1998.
2) Vincenzo Di Nicola, Estranhos íntimos: Episódios
com meu pai.
Revista Brasileira de Terapia Familiar, 7(1),
agosto, 2018 (65-77)
s http://www.domusterapia.com.br/site/files/490_ESTRANHOS%20%
C3%8DNTIMOS%20-%20Vincenzo%20Di%20Nicola%20-
%20Revista%20ABRATEF%20-Vol7.pdf
48. O novo ciclo da vida familiar
A BENÇÃO
DO PAI
O PERDÃO
DOS FILHOS
A PERMISSÃO
DA MÃE
A GRATIDÃO
DA FAMÍLIA 1
2
3
4
49. A gratidão da família
s Quando uma mãe dá a seus filhos e a seu pai a
permissão para ter um relacionamento
s O pai pode dar-lhes a sua bênção – a bênção de sua
presença e seu carinho
s Então as crianças podem eventualmente perdoar
seus pais – o perdão por suas falhas e lacunas
s E assim, a família pode viver com gratidão – aberta
aos desafios que a vida sempre traz, vivendo no
presente ao invés de um passado congelado ou um
futuro temido
50. A gratidão da família
s Eu vejo esse processo familiar como
uma espiral, movendo-se “para fora”
em direção à comunidade e “para
cima” em direção ao futuro
51. Pai nosso
Pai nosso
Que está no céu
Santificado seja o vosso nome
Seja feita a vossa vontade
Assim na terra como no céu
O pão nosso de cada dia nos dai hoje
Perdoai as nossas ofensas
Assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido
E não nos deixai cair em tentação
Mas livrai-nos do mal – Amém
64. Texto de Dr. Vincenzo Di Nicola
Médico psiquiatra e terapeuta familiar
“Relações Pais e filhos” – vincenzodinicola@gmail.com
Imagem de Ria, reutilizadas a partir de
um arquivo de Flori Jane por Sônia Nemi em 14/05/2004
flor_jane@uol.com.br/ sonianemi@amagoterapeutico.com.br