As festas juninas têm suas origens em rituais de fertilidade praticados por diversas culturas para estimular o crescimento da vegetação e a fartura das colheitas. Estes rituais eram realizados principalmente no mês de junho, época do solstício de verão no Hemisfério Norte, quando ocorre a transição da primavera para o verão e a natureza renasce após o inverno. Muitas tradições foram apropriadas e transformadas pelos brasileiros, que passaram a celebrar nesse período festas em homen
3. Apresentação
“ O balão vai subindo, vem caindo a
garoa. O céu é tão lindo e a noite é
cheirinho do cravo, da canela e do gengibre.
O fato é que as festas juninas são come-
tão boa. São João, São João, acende a moradas em todo o país e representam
fogueira no meu coração.” uma das mais ricas manifestações culturais
Quem não cantou e se encantou com brasileiras. No entanto, na mesma medida
essa música de Carlos Braga e Alberto em que essas tradições culturais perma-
Ribeiro? Ou não colocou chapéu de palha necem, apesar das profundas mudanças
e dançou a quadrilha com o balancê e o estruturais do Brasil — que em pouco mais
caminho da roça? Ou ainda resistiu às de meio século passou de eminentemente
delícias dessa festa? rural à condição de urbano —, começam a
Aliás, a culinária junina é um capítulo à se esgarçar na memória das novas gera-
parte. A canjiquinha e o munguzá no ções de brasileiros as origens desses feste-
Nordeste, o curau e o bolo de fubá com erva- jos. As crianças continuam dançando a qua-
doce no Sudeste, o amendoim torradinho ou drilha no mês de junho, porém não conhe-
em suas variações, como a paçoquinha, o cem mais a história da festa e de seus santos,
pé-de-moleque e o gibi. Além, é claro, da o significado de seus rituais, as letras das
pipoca, sem dúvida uma unanimidade músicas mais tradicionais.
nacional. E o cheirinho dessa época... Festa Este livro, patrocinado pela Yoki, em-
junina sem quentão, quem já viu? No ar o presa ligada às tradições brasileiras e, em
5
4. especial, a essa festa, uma vez que está variados das comemorações. Narra sua his-
envolvida na produção de ingredientes e tória, que remonta a períodos anteriores à era
quitutes juninos há mais de quarenta anos, cristã, e o papel dos santos juninos nos fes-
é uma colaboração no sentido de manter tejos; fala das diversidades regionais, da re-
vivo na memória nacional esse verdadeiro presentação do boi-bumbá no Norte à tra-
patrimônio cultural. Na decisão de publicá- dição caipira no Sudeste; explica as origens
lo pesou também o compromisso da em- da quadrilha e das roupas usadas na festa.
presa com as novas gerações, pois a idéia Contém também o roteiro do casamento
é que o livro possa servir de subsídio para caipira e da dança da quadrilha, reproduz
a pesquisa escolar. as letras das músicas mais representativas e
Para desenvolver um trabalho com o nível ensina a fazer os quitutes típicos de todas as
de profundidade adequado, a Yoki contratou regiões de nosso país.
a antropóloga Lúcia Helena Vitalli Rangel, Esperamos que você, leitor, aprecie a
especialista no assunto, que foi auxiliada por nossa contribuição e tenha tanto prazer em
Vivian Catenacci. O conteúdo dessa pesquisa ler este livro quanto nós, da Yoki, tivemos
é agora lançado em forma de livro. Festas em editá-lo.
Juninas, Festas de São João abrange aspectos Bom proveito!
GABRIEL JOÃO CHERUBINI
VICE-PRESIDENTE – YOKI ALIMENTOS S.A.
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5. Apresentação à 3a Edição
C om o sucesso das edições ante-rio
res, estamos apresentando a 3a
edição de Festas Juninas, Festas de São João
como tema a Festa Junina. Nesta 3a edição
estamos acrescentando um capítulo de
poesias juninas, onde publicamos as
– Origens, Tradições e Histórias, totalizando poesias vencedoras do Concurso de Poesia
180.000 exemplares publicados. O de Dois Córregos, cidade do interior de São
resultado da pesquisa elaborada por Lúcia Paulo. Não deixe de ler!
Helena Vitalli Rangel mostra-se oportuna e O livro tem como objetivo ajudar na
atual. Os festejos juninos estão enraizados perpetuação dessa tradição cultural tão
em nossas memórias, com suas melodias e importante. Para isso pretende ser um
aromas característicos. subsídio à pesquisa do tema, princi-
Esta edição apresenta nova diagra- palmente às crianças em idade escolar. Em
mação e apresentação gráfica. Facilitar o seu conteúdo encontramos, simpatias ju-
acesso ao conteúdo da obra é nosso intuito. ninas, adivinhas, letras de músicas cantadas
Buscamos uma aparência mais leve. No nas festas juninas, representação de casa-
projeto gráfico note-se o destaque dado aos mento matuto e evolução da quadrilha
elementos ícones das festas juninas. Tudo caipira. E como não poderia deixar de
para estimular a leitura desse material de faltar, as saborosas comidas típicas en-
pesquisa tão bem aceito, nas escolas e contradas em qualquer festa junina.
bibliotecas brasileiras. Convido você, leitor, a entrar neste
A Yoki participa dessas festas tão bra- mundo maravilhoso.
sileiras, estimulando ações que dêem con-
tinuidade a essas vivências e também pa- GABRIEL JOÃO CHERUBINI
trocinando eventos culturais que tenham VICE-PRESIDENTE – YOKI ALIMENTOS S.A.
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6. Sumário
11 NOTA INTRODUTÓRIA
15 1 Origem das Festas Juninas
16 A coleta e o cultivo
18 Rituais de fertilidade
18 O dia de São João na Sardenha
21 2 As Comemorações Juninas no Brasil
22 As relações sociais e o compadrio
24 São João em Caruaru e Campina Grande
25 Na Região Norte
25 No Sudeste
27 3 Santo Antônio, São João e São Pedro
27 Santo Antônio: camarada e casamenteiro
29 Simpatias, sortes e adivinhas para Santo Antônio
32 A festa de Santo Antônio
34 São João, a purificação pelo batismo
36 Simpatias, sortes e adivinhas para São João
39 A festa de São João
42 São Pedro, fundador da Igreja Católica
43 A festa de São Pedro
8
7. 47 4 Casamento Caipira ou Matuto
47 Sugestão para a representação do casamento caipira ou matuto
51 5 Danças Juninas
51 Origem da quadrilha
52 Trajes usados na dança
53 Sugestão para a evolução da quadrilha caipira
55 Fandango
57 Bumba-meu-boi
58 Lundu
58 Cateretê
61 6 Jogos Juninos
61 Jogos de terreiro
62 Jogos de barracas
65 7 Músicas Juninas
73 8 O Mastro
77 9 Comidas e Bebidas Juninas
97 Concurso de redações
119 Concurso de Poesias
127 Bibliografia
9
9. Nota Introdutória
E ste livro é resultado de uma pes-
quisa realizada a pedido da Yoki,
o que gerou uma troca fecunda entre
não apenas porque a pesquisa a respeito
da realidade social contribui para o
conhecimento da vida de um povo e das
universidade e empresa. questões sociais, políticas, econômicas e
O tema festas juninas proporciona um culturais que o configuram, mas também
campo fértil de análise do significado desse porque sua prática revela o prazer de
período tão importante na cultura brasi- conhecer.
leira: sua origem, sua transformação na O ato de conhecer conduz ao desco-
história européia e suas redefinições no brimento, à ampliação da capacidade de
contexto brasileiro, desde os tempos analisar, de sistematizar, de explicar.
coloniais até a atualidade. Conhecer, portanto, amplia os horizontes
A pesquisa, concebida por mim, foi rea- da consciência, da cidadania e da crítica.
lizada em conjunto com Vivian Catenacci, Tudo isso fornece bases consistentes
na ocasião minha aluna no curso de para as instituições de ensino e, particu-
graduação em Ciências Sociais da PUC-SP . larmente, para a universidade, centro de
A prática da pesquisa representa um ensino, pesquisa e extensão.
dos pilares fundamentais do conhecimento Outro aspecto importante a ressaltar
sobre a vida social. Aprender fazendo é é que a atividade de pesquisa enriquece
muito importante na formação do aluno, de modo muito especial a relação pro-
11
10. fessor/aluno. Produzir em conjunto é Sendo assim, este livro tem caráter
estimulante para ambos porque ensinar didático e constitui um convite à pesquisa.
e aprender são dimensões do mesmo ato, Agradeço à Yoki a oportunidade de realizar
cuja base pode estar assentada na um trabalho prazeroso e importante e a
reciprocidade. Vivian a saudável prática da partilha.
LÚCIA HELENA VITALLI RANGEL
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13. 1 Origem das Festas Juninas
O calendário das festas católicas
é marcado por diversas come-
morações de dias de santos. Seu ciclo mais
desse, outros santos reverenciados em
junho: Santo Antônio (dia 13) e São Pedro e
São Paulo (dia 29).
importante se inicia com o nascimento de Se pesquisarmos a origem dessas
Jesus Cristo e se encerra com sua paixão e festividades, perceberemos que elas
morte. Na tradição brasileira, as maiores remontam a um tempo muito antigo, ante-
festas são Natal, Páscoa e São João. As rior ao surgimento da era cristã. De acordo
comemorações de cunho religioso foram com o livro O ramo de ouro, de sir James
apropriadas de tal forma pelo povo George Frazer, o mês de junho, tempo do
brasileiro que ele transformou o Carnaval solstício de verão (no dia 21 ou 22 de junho
— ritual de folia que marca o início da o Sol, ao meio-dia, atinge seu ponto mais
Quaresma, período que vai da quarta-feira alto no céu; esse é o dia mais longo e a noite
de Cinzas ao domingo de Páscoa — em mais curta do ano) no Hemisfério Norte, era
uma das maiores expressões festivas do a época do ano em que diversos povos —
Brasil no decorrer do século XX. celtas, bretões, bascos, sardenhos, egípcios,
Do mesmo modo, as comemorações persas, sírios, sumérios — faziam rituais de
de São João (24 de junho) fazem parte de invocação de fertilidade para estimular o
um ciclo festivo que passou a ser conhecido crescimento da vegetação, promover a
como festas juninas e homenageia, além fartura nas colheitas e trazer chuvas.
15
14. Na verdade, os rituais de fertilidade sidade e a vegetação renasce, brota e flo-
associados ao cultivo das plantas, incluindo resce para oferecer as sementes do novo
todo o ciclo agrícola — a preparação do ciclo, cujos frutos estarão maduros no verão.
terreno, o plantio e a colheita —, sempre No Hemisfério Norte, as quatro estações
foram praticados pelas mais diversas do ano estão demarcadas nitidamente; na
sociedades e culturas em todos os tempos. região equatorial e nas tropicais do Hemis-
Das tradições estudadas por Frazer fério Sul, o movimento cíclico alterna os perío-
destacam-se os ritos celebrados nas terras dos de chuva e de estiagem, mas ainda assim
do Mediterrâneo oriental (Egito, Síria, o ciclo vegetativo pode ser observado da
Grécia, Babilônia) com o objetivo de regu- mesma maneira — alteração na coloração e
lar as estações do ano, especialmente a perda das folhas, seca e renascimento.
passagem da primavera para o verão, que O que ocorre com a natureza é algo
sela a superação do inverno. semelhante à saga de Tamuz e Adônis, que
submergem do mundo subterrâneo e
A Coleta e o Cultivo retornam todos os anos para viver com
suas amadas Istar e Afrodite e com elas
O ciclo anual da natureza prevê a morte fertilizar a vida.
e o ressurgimento da vegetação. Todos os
anos as plantas passam por um processo de As lendas de Tamuz e Adônis
transformação: no outono, as folhas mudam
de cor, tornando-se amareladas e murchas; “Na literatura religiosa da Babilônia,
no inverno, elas caem e deixam a planta sem Tamuz surge como o jovem esposo ou
folhas até que chega a primavera. O sol amante de Istar, a grande deusa-mãe, a
então começa a brilhar com mais inten- personificação das energias reprodutivas da
16
15. natureza. [...] Tamuz morria anualmente [...] que confiou a Perséfone, rainha dos infer-
e todos os anos sua amante divina viajava, nos. Mas, quando Perséfone abriu a arca e
em busca dele, ‘para a terra de onde não viu a beleza da criança, recusou-se a
há retorno, para a mansão das trevas, onde devolvê-la a Afrodite [...]. A disputa entre as
o pó se acumula na porta e no ferrolho’. Du- deusas do amor e da morte foi resolvida por
rante sua ausência, a paixão do amor deixa- Zeus, que determinou que Adônis devia viver
va de atuar: homens e animais esqueciam parte do ano com Perséfone no mundo infe-
de reproduzir-se, toda a vida ficava amea- rior, e com Afrodite, no mundo superior ou
çada de extinção. Tão intimamente ligadas na terra, durante a outra parte. [...] a luta
à deusa estavam as funções sexuais de todo entre Afrodite e Perséfone pela posse de
o reino animal que, sem a sua presença, elas Adônis reflete claramente a luta entre Istar
não podiam ser realizadas. [...] A inflexível e Alatu na terra dos mortos, ao passo que a
rainha das regiões infernais, Alatu ou Eresh- decisão de Zeus de que Adônis devia passar
Kigal, permitia, não sem relutância, que Istar parte do ano no mundo inferior e parte do
fosse aspergida com a água da vida e ano no mundo superior é apenas uma versão
partisse, provavelmente em companhia do grega do desaparecimento e reapareci-
amante Tamuz, para o mundo superior e que, mento anual de Tamuz.”
com esse retorno, toda a natureza revivesse.” (Frazer, 1978, p. 123)
Com o tempo os homens, além de
“Refletida no espelho da mitologia desfrutar o ciclo da natureza coletando seus
grega a divindade oriental, Adônis surge frutos, passaram a domesticar animais e a
como um belo jovem, amado de Afrodite. Em cultivar plantas para sua alimentação. O
sua infância, a deusa o ocultou numa arca, cultivo de raízes e legumes, juntamente com
17
16. a caça, a pesca e a coleta, representa o rituais mais expressivos que o homena-
conjunto das atividades produtivas que geavam estão os jardins de Adônis: na prima-
tornaram possível a adaptação da espécie vera, durante oito dias, as mulheres plantavam
humana em todas as regiões do planeta, em vasos ou cestos sementes de trigo, cevada,
mas foi a produção de grãos e a domes- alface, funcho e vários tipos de flores. Com o
ticação de animais que ampliaram essa calor do sol, as plantas cresciam rapidamente
capacidade adaptativa. e, como não tinham raízes, murchavam ao
Imitando o ciclo anual da natureza, o final dos oito dias, quando então os pequenos
homem descobriu as sementes que podia jardins eram levados, juntamente com as
guardar a cada colheita e replantar no ano imagens de Adônis morto, para ser lançados
seguinte, quando seriam fertilizadas pela ao mar ou em outras águas.
incidência solar e irrigadas pelas chuvas. As Os rituais de fertilidade perduraram
sementes dos grãos germinam e crescem. O através dos tempos. Na era cristã, mesmo
homem colhe, debulha, seca e tritura os que fossem considerados pagãos, não era
grãos para que eles se tornem seu alimento. mais possível acabar com eles. Segundo
Frazer, é por esse motivo que a Igreja
Rituais de Fertilidade Católica, em vez de condená-los, os adapta
às comemorações do dia de São João, que
Com o cultivo da terra pelo homem, teria nascido em 24 de junho, dia do solstício.
surgiram os rituais de invocação de fertili-
dade para ajudar o crescimento das plan- O Dia de São João na Sardenha
tas e proporcionar uma boa colheita.
Na Grécia, por exemplo, Adônis era Conta Frazer que, no início do século XX,
considerado o espírito dos cereais. Entre os na Sardenha, os jardins de Adônis ainda eram
18
17. plantados na festa do solstício de verão, que lançando-o contra a porta do templo.
lá tem o nome de festa de São João: Sentam-se em seguida em círculo na grama
e comem ovos e verduras ao som da música
“No final de março ou 1o de abril, um de flautas. O vinho é misturado numa taça
jovem da aldeia se apresenta a uma moça, servida a todos, que dela vão bebendo,
pede-lhe para ser a sua comare (comadre passando-a adiante. Em seguida dão-se as
ou namorada) e oferece-se para ser o seu mãos e cantam ‘Namorados de São João’
compare. O convite é considerado como (Compare e comare di San Giovanni) várias
honra pela família da moça e aceito com vezes, enquanto as flautas tocam durante
satisfação. No fim de maio, a moça faz um todo o tempo. Quando se cansam de cantar,
vaso com a casca de um sobreiro, enche-o levantam-se e dançam alegremente em
de terra e nele semeia um punhado de trigo círculo até a noite”.
e cevada. Como o vaso é colocado ao sol e (Frazer, 1978, p. 133)
regado com freqüência, os grãos brotam
com rapidez e, na véspera do solstício Outro aspecto que aproxima a festa de
(véspera de São João, 23 de junho), já está São João às de Adônis e Tamuz é o costume
bem desenvolvido. [...] No dia de São João, de tomar banhos no mar, em rios, nascentes
o rapaz e a moça, vestidos com suas me- ou no sereno na noite da véspera. Também
lhores roupas, acompanhados por uma perdura, desde os tempos antigos, o costume
grande comitiva e precedidos de crianças de acender fogueiras e tochas, que devem
que correm e brincam, vão em procissão até livrar as plantas e colheitas dos espíritos maus
uma igreja da aldeia. Ali quebram o vaso, que podem impedir a fertilidade.
19
19. 2 As Comemorações Juninas no Brasil
N a Europa, os festejos do solstício
de verão foram adaptados à
cultura local, de modo que em Portugal foi
a realização dos rituais mais importantes
para os povos que aqui viviam, referentes
à preparação dos novos plantios e às
incluída a festa de Santo Antônio de Lisboa colheitas. O período que vai de junho a
ou de Pádua, em 13 de junho. A tradição setembro é a época da seca em muitas
cristã completou o ciclo com os festejos de regiões do Brasil, quando os rios estão
São Pedro e São Paulo, ambos apóstolos baixos e o solo pronto para enfrentar o
da maior importância, homenageados em plantio. Derruba-se a mata, queimam-se
29 de junho. as ramagens para limpar o terreno, que é
Quando os portugueses iniciaram o adubado com as cinzas, e a seguir começa
empreendimento colonial no Brasil, a partir o plantio. É a técnica da oivara, tão
de 1500, as festas de São João eram ainda difundida entre os povos do continente
o centro das comemorações de junho. americano.
Alguns cronistas contam que os jesuítas Nessa época os roçados velhos, do
acendiam fogueiras e tochas em junho, ano anterior, ainda estão em pleno vigor,
provocando grande atração sobre os repletos de mandioca, cará, inhame,
indígenas. batata-doce, banana, abóbora, abacaxi,
Mesmo que no Brasil essa época mar- e a colheita de milho, feijão e amendoim
casse o início do inverno, ela coincidia com ainda se encontra em período de consumo.
21
20. Esse é um tempo bom para pescar e caçar. As Relações Sociais e o Compadrio
Uma série ritual, que dura todo o período,
inclui um conjunto muito variado de festas Outro fato que ajuda a compreender a
que congregam as comunidades indígenas importância desses festejos está relacionado
em danças, cantos, rezas e muita fartura com a forma de sociabilidade que foi
de comida. Deve-se agradecer a abun- característica da sociedade brasileira. Desde
dância, reforçar os laços de parentesco (as o período colonial até meados do século XX,
festas são uma ótima ocasião para ali- a maioria da população de todas as regiões
anças matrimoniais), reverenciar as divin- do Brasil vivia no campo (até 1950, 70% da
dades aliadas e rezar forte para que os população brasileira vivia na zona rural;
espíritos malignos não impeçam a fer- hoje, mais de 70% vive nas cidades). Fossem
tilidade. O ato de atear fogo para limpar colonos e agregados das fazendas agrícolas
o mato, além de fertilizar o solo, serve ou vaqueiros em grandes fazendas de gado,
principalmente para afastar esses espíritos fossem pescadores nas regiões litorâneas ou
malignos. seringueiros na Amazônia, fossem sitiantes
Houve, portanto, certa coincidência por esse Brasil afora, os brasileiros viviam
entre o propósito católico de atrair os índios integrados em grupos familiares, enten-
ao convívio missionário catequético e as dendo-se como família o conjunto de pais e
práticas rituais indígenas, simbolizadas filhos, tios e primos, avós e sogros.
pelas fogueiras de São João. Talvez seja por As relações familiares eram comple-
causa disso que os festejos juninos tenham mentadas pela instituição do compadrio,
tomado as proporções e a importância que que servia para integrar outras pessoas à
adquiriram no calendário das festas família, estreitando assim os laços entre vizi-
brasileiras. nhos e entre patrões e empregados. Até
22
21. mesmo os escravos podiam ser apadri- Os laços de compadrio
nhados pelos senhores de terra. eram muito importantes,
Havia duas formas principais de tornar- pois os padrinhos po-
se compadre e comadre, padrinho e diam substituir os pais na
madrinha: uma era, e ainda é, pelo batismo; ausência ou na morte
a outra, por meio da fogueira. Nas festas de destes, os compadres inte-
São João, os homens, principalmente, gravam grupos de coope-
formavam duplas de compadres de fogueira: ração no trabalho agrícola e os
ficavam um de cada lado da fogueira e afilhados eram devedores de
deveriam pular as brasas dando-se as mãos obrigações aos padrinhos. A instituição
em sentido cruzado. Era comum recitarem beneficiava os patrões, que tinham um
versos como estes: séquito de compadres e afilhados leais
São João dormiu, tanto nas relações de trabalho como nas
São Pedro acordô, campanhas políticas, quando se benefi-
vamo sê cumpadre ciavam do voto de cabresto.
que São João mandô. O compadrio ainda vigora em muitas
(Nordeste sertanejo) localidades, mas o processo de urbanização
Ou: que hoje atinge todas as regiões do país
São João disse, enfraquece essa instituição e promove
São Pedro confirmou, diversas mudanças nas formas de sociabili-
que nosso Senhor Jesus Cristo mandou dade. Atualmente, os favores (doações,
a gente ser compadre pagamentos, promessas) têm sido mais
nesta vida e na outra também. importantes nas eleições do que a lealdade
(Amazônia cabocla) advinda dos laços de compadrio.
23
22. São João em Caruaru e rainha do milho, pela rezadeira, pela
Campina Grande rendeira, pela parteira. Ali há também
correio, posto bancário, delegacia, igreja,
Hoje as festas juninas possuem cor lo- restaurantes, teatro de mamulengo. Atores
cal. De acordo com a região do país, encenam nas ruas o cotidiano dos habitan-
variam os tipos de dança, indumentária e tes da região. O maior cuscuz do mundo,
comida. A tônica é a fogueira, o foguetório, segundo o Livro Guinness de Recordes, é
o milho, a pinga, o mastro e as rezas dos feito lá, numa cuscuzeira que mede 3,3
santos. metros de altura e 1,5 metro de diâmetro e
No Nordeste sertanejo, o São João é comporta 700 quilos de massa.
comemorado nos sítios, nas paróquias, nos Uma das grandes atrações da festa é o
arraiais, nas casas e nas cidades. A impor- desfile junino na véspera de São João de
tância dessa festa pode ser avaliada pelo mais de vinte carros alegóricos, carroças
número de nordestinos e turistas que ornamentadas com cortejo de bacamar-
escolhem essa época do ano para sair de teiros, bandas de pífaros, quadrilhas,
férias e participar dos festejos juninos. As casamentos matutos e grupos folclóricos.
cidades de Caruaru, em Pernambuco, e Campina Grande construiu um Forró-
Campina Grande, na Paraíba, são as que dromo que recebe todos os anos milhões
mais atraem gente curiosa em conhecer as de pessoas. Elas se divertem assistindo a
maiores festas de São João do mundo. apresentações do tradicional forró pé-de-
Caruaru criou uma cidade cenográfica, serra, de quadrilhas, cantores, bandas e
a Vila do Forró, que é a réplica de uma desfiles de jegues, participam de jogos e
cidade típica do sertão, com casas coloridas brincadeiras e deleitam-se com as comidas
de arquitetura simples habitadas pela típicas vendidas nas barracas.
24
23. Na Região Norte No Sudeste
Na Amazônia cabocla, a tradição de A tradição caipira, especialmente a do
homenagear os santos possui um calendário Sudeste do Brasil, caracteriza-se pelas festas
que tem início em junho, com Santo Antônio, e realizadas em terreiros rurais, onde não
termina em dezembro, com São Benedito. Cada faltam os elementos típicos dos três santos
comunidade homenageia seus santos preferidos de junho. Mas elas também se espalharam
e padroeiros, com destaque para os santos pelas cidades e hoje as festas juninas
juninos. São festas de arraial que começam no acontecem, principalmente, em escolas,
décimo dia depois das novenas e nas quais clubes e bairros.
estão presentes as fogueiras, o foguetório, o Como em outras partes do Brasil, o
mastro, banhos, muita comida e folia. calendário das festas paulistas destaca os
No eixo Belém/Parintins/Manaus, desde os rodeios e as festas de peão boiadeiro
tempos coloniais, a criação do boi, introduzida como eventos ou espetáculos mais
pelos portugueses, deu lugar a manifestações importantes, que se realizam de março a
culturais que lhe são típicas: o boi-bumbá, dezembro.
dançado em diversas ocasiões, transformou-se As festas juninas, com maior ou menor
atualmente em grande espetáculo, cujo ápice destaque, ainda são realizadas em todas as
é a disputa entre os grupos Caprichoso e regiões do Brasil e representam uma das
Garantido no Bumbódromo de Parintins, nos manifestações culturais brasileiras mais
dias 28, 29 e 30 de junho. expressivas.
25
25. 3 Santo Antônio, São João e São Pedro
Santo Antônio: o padre Antônio Vieira em um sermão de
Camarada e Casamenteiro 1663 realizado no Maranhão: “Se vos
adoece o filho, Santo Antônio; se vos foge
F estejado no dia 13 de junho, Santo
Antônio é um dos santos de maior
devoção popular tanto no Brasil como em
um escravo, Santo Antônio; se requereis o
despacho, Santo Antônio; se aguardais a
sentença, Santo Antônio; se perdeis a
Portugal. Fernando de Bulhões nasceu em menor miudeza de vossa casa, Santo
Lisboa em 15 de agosto de 1195 e faleceu Antônio; e, talvez se quereis os bens
em Pádua, na Itália, em 13 de junho de alheios, Santo Antônio”.
1231. Recebeu o nome de Antônio ao É o santo familiar e protetor dos
passar, em 1220, da Ordem de Santo varejistas em geral, por isso é comum
Agostinho para a Ordem de São Francisco encontrar sua figura em estabelecimentos
e é conhecido como Santo Antônio de comerciais. É também o padroeiro das
Lisboa ou Santo Antônio de Pádua. povoações e dos soldados, pois enfrentou
Santo Antônio era admirado por seus em vida aventuras guerreiras como soldado
dotes de ótimo orador, pois quando pre- português. Sua figura aparece com des-
gava a palavra de Deus ela era entendida taque em episódios da História do Brasil:
até mesmo por estrangeiros. É por assim teria desempenhado o papel de heróico
dizer o “santo dos milagres”, como afirmou defensor da integridade do solo brasileiro,
27
26. como explicam os cronistas que relatam a Os devotos mais exagerados só
libertação de Pernambuco dos holandeses, confiam seu pedido à imagem do Santo
assim como os que falam da defesa da Antônio das igrejas franciscanas, pro-
colônia do Sacramento, ao Sul, e do Rio de curadas especialmente nas terças-feiras e
Janeiro com relação aos franceses, atri- de modo particular no dia 13 de junho.
buindo a vitória à proteção deste santo. Todos são devotos desse santo
Sua influência é marcante entre o povo “camarada”. Os cantadores se apegam
brasileiro. Seus devotos, em geral, não têm muito a Santo Antônio para tentar vencer
em casa uma imagem grande do santo e os desafios, pois o consideram o mais fiel e
preferem levar no bolso uma pequena para o maior intercessor; os vaqueiros pedem
se proteger. É a ele que as moças ansiosas proteção contra o estouro da boiada e os
pedem um noivo. A prática de colocar o santo pescadores acreditam que no dia 13 de
de cabeça para baixo no sereno, amarrada junho as redes se enchem de peixes. Basta
num esteio, ou de jogá-lo no fundo do poço lançá-las dizendo:
até que o pedido seja atendido, por exemplo,
é bastante comum entre os devotos. No dia 13 de junho
Dos santos juninos, somente Santo Antônio é pô a rede e tirá:
é feito de madeira. Em geral, é esculpido em os peixes ’stão na fiúza
nó de pinho, daí terem surgido os versos: de Santo Antônio falá.
Meu querido Santo Antônio Em homenagem a Santo Antônio,
feito de nó de pinho, geralmente realizam-se duas espécies de
com vós arranjo o que quero, rezas e festas: os responsos, quando ele é
porque peço com jeitinho. invocado para achar objetos perdidos, e a
28
27. trezena, cerimônia que se prolonga com estar sendo usados pela primeira vez,
cânticos, foguetório e comes e bebes de 1o senão… nada de a simpatia funcionar!
a 13 de junho de cada ano.
Simpatias, Sortes e Adivinhas A seguir, algumas simpatias feitas para
para Santo Antônio Santo Antônio:
O relacionamento entre os devotos e Em certas zonas paulistas, como na
os santos juninos, principalmente Santo Serrana e na Mantiqueira, Santo Antônio
Antônio e São João, é quase familiar: recebe um vintém para achar os animais
cheio de intimidades, chega a ser, por perdidos nas matas e uma pequena moeda
vezes, irreverente, debochado e quase de cobre para o porco voltar ao chiqueiro.
obsceno. Esse caráter fica bastante Moças solteiras, desejosas de se casar,
evidente quando se entra em contato com em várias regiões do Brasil, colocam-no de
as simpatias, sortes, adivinhas e acalantos cabeça para baixo atrás da porta ou dentro
feitos a esses santos: do poço ou enterram-no até o pescoço.
Fazem o pedido e, enquanto não são
Confessei-me a Santo Antônio, atendidas, lá fica a imagem de cabeça para
confessei que estava amando. baixo. E elas pedem:
Ele deu-me por penitência
que fosse continuando. Meu Santo Antônio querido,
meu santo de carne e osso,
Os objetos utilizados nas simpatias e se tu não me dás marido,
adivinhações devem ser virgens, ou seja, não tiro você do poço.
29
28. Meu querido Santo Antônio, vem amansar minha sogra,
feito de nó de pinho, que é levada do diabo.
me arranje um casamento
com um moço bonitinho (ou bonzinho).
Para arrumar namorado ou marido,
Santo Antônio, casamenteiro, basta amarrar uma fita vermelha e outra
não deixe a (dizer o nome) ficar solteira. branca no braço da imagem de Santo
Santo Antônio, me case já, Antônio, fazendo a ele o pedido. Rezar um
enquanto sou moça e viva. Pai-Nosso e uma Salve-Rainha. Pendurar a
imagem de cabeça para baixo sob a cama.
O milho colhido tarde Ela só deve ser desvirada quando a pessoa
não dá palha nem espiga. alcançar o pedido.
Minha avó tem lá em casa
um Santo Antônio velhinho.
Em os moços não me querendo Para sonhar com o noivo, basta colocar
dou pancadas no santinho. três rosas vermelhas debaixo do travesseiro
na véspera de Santo Antônio.
Santo Antônio, Santo Antônio,
abaixai-me esta barriga,
que não sei que tem dentro, A moça quer saber com quem vai se
se é rapaz ou rapariga. casar? Então, no dia de Santo Antônio, em
cada refeição que fizer, deve deixar um pouco
Santo Antônio pequenino, de comida no prato. No final do dia, ela
mansador de burro brabo, precisa rezar para Nossa Senhora e pedir
30
29. para que o homem amado venha comer os no meio, Nossa Senhora,
restos que deixou durante o dia. Depois é só com seu raminho na mão.
adormecer, e o amado aparecerá em seus
sonhos comendo a comida.
Se o noivado não vai muito bem ou se
está se prolongando muito, as donzelas
No dia 13, é comum ir à igreja para rezam a seguinte oração:
receber o “pãozinho de Santo Antônio”, que “Padre Santo Antônio dos cativos, vós que
é dado gratuitamente pelos frades. Em sois um amarrador certo, amarrai, por vosso
troca, os fiéis costumam deixar ofertas. O amor, quem de mim quer fugir, empenhai o
pão, que é bento, deve ser deixado junto vosso hábito e o vosso santo cordão com
aos demais mantimentos para que estes algemas fortes e duros grilhões que façam
não faltem jamais. impedir os passos de (nome do amado), que
Feito um pedido a Santo Antônio, caso de mim quer fugir, e fazei, ó meu bem-
a pessoa tenha pressa em ser atendida, deve aventurado Santo Antônio, que ele case
rezar um Pai-Nosso pela metade que o santo comigo sem demora!
a atenderá logo, para que o suplicante Pelos vossos milagres; pela palavra
termine a oração. quando a Jesus faláveis; pela defesa do
vosso pai, um pedido eis-me a fazer.
Abrandai a ira do mar; o sopro do vento;
Santo Antônio também é bastante o negrume da noite; a chama abrasadora
lembrado nos acalantos: do sol; a frialdade da lua; a voracidade das
Numa ponta, Santo Antônio, feras; o horror dos desertos. Depois de tudo
noutra ponta, São João, isso, abrandai o que de mais empedernido
31
30. existe sobre a terra: o coração dos homens. artigo “Santos padroeiros no domínio
Oh!, meu milagroso Santo Antônio, fazei folclórico” (Cultura Política, n. 35, dez. 1943),
com que aquele por quem meu coração descreve uma festa de Santo Antônio na
chama ouça a minha voz e, ouvindo-a, vá cidade de Guarabira (Espírito Santo): na
aos pés de Deus Nosso Senhor, comigo, vossa noite de 13 de junho, no centro de um terreiro
humilde devota. bem varrido, decorado com bambu e
Amém.” ” bandeirinhas de papel coloridas, encontra-
se um mastro com uma bandeira e a figura
A Festa de Santo Antônio de Santo Antônio em seu topo. Numa casa
em frente, há um oratório preparado com a
Nos primeiros treze dias de junho, os imagem do padroeiro da festa.
devotos de Santo Antônio rezam as trezenas Em determinado momento, começam as
com o intuito de alcançar graças através da cantorias e danças matutas/caipiras ao som
sua intervenção ou de agradecer um milagre de violas, pandeiros e tambor. Os devotos en-
que o santo tenha realizado: tram dançando no meio do terreiro e cantam:
Se queres milagres, Fui ao mato cortar lenha,
implora confiante Santo Antônio me chamou.
de Antônio o favor. Quando o santo chama a gente
Seu braço é tão forte que fará os pecador.
que do erro e da morte
destrói o furor… E todos na roda respondem:
Na porta da sala,
O folclorista Basílio de Magalhães, no tá me chamando.
32
31. Oh gente danada, Como o dia de Santo Antônio é
tá me xingando! comemorado alguns dias antes do
Eu não sou daqui, nascimento de São João, estão presentes
vou me arretirando. em suas festividades elementos próprios
Ai, ai, ai! Ai, ai, ai! das festas deste último, como os fogos e
Santo Antônio me chamou! a fogueira.
33
32. São João, e início dos festejos, é esperado com es-
a Purificação pelo Batismo pecial ansiedade. Segundo Frei Vicente do
Salvador, um dos primeiros brasileiros a
João Batista nasceu no dia 24 de escrever a história de sua terra, já no ano
junho, alguns anos antes de seu primo Jesus de 1603 os índios acudiam a todos os fes-
Cristo, e morreu em 29 de agosto do ano tejos portugueses, em especial os de São
31 d.C., na Palestina. Foi degolado por João, por causa das fogueiras e capelas.
ordem de Herodes Antipas a pedido de sua São João é muito querido por todos,
enteada Salomé, pois a pregação do filho sem distinção de sexo nem de idade.
de Santa Isabel e São Zacarias incomo- Moças, velhas, crianças e homens o fazem
dava a moral da época. Antes mesmo de de oráculo nas adivinhações e festejam o
Jesus, João Batista já pregava publicamen- seu dia com fogos de artifício, tiros e
te às margens do rio Jordão. Ele instituiu, balões coloridos, além dos banhos
pela prática de purificação através da coletivos de madrugada. Acende-se uma
imersão na água, o batismo, tendo inclu- fogueira à porta de cada casa para
sive batizado o próprio Cristo nas águas lembrar a fogueira que Santa Isabel
desse rio. acendeu para avisar Nossa Senhora do
São João ocupa papel de destaque nas nascimento do seu filho.
festas, pois, dentre os santos de junho, foi São João, segundo a tradição, ador-
ele que deu ao mês o seu nome (mês de mece no seu dia, pois se estivesse
São João) e é em sua homenagem que se acordado vendo as fogueiras que são
chamam “joaninas” as festas realizadas no acesas para homenageá-lo não resistiria:
decurso dos seus trinta dias. O dia 23 de desceria à Terra e ela correria o risco de
junho, véspera do nascimento de São João incendiar-se.
34
33. A lenda do surgimento da fogueira de São João
Dizem que Santa Isabel era muito amiga de Nossa Senhora e, por isso, costumavam visitar-
se. Uma tarde, Santa Isabel foi à casa de Nossa Senhora e aproveitou para contar-lhe que
dentro de algum tempo nasceria seu filho, que se chamaria João Batista.
Nossa Senhora então perguntou:
— Como poderei saber do nascimento dessa criança?
— Vou acender uma fogueira bem grande; assim você poderá vê-la de longe e saberá
que João nasceu. Mandarei também erguer um mastro com uma boneca sobre ele.
Santa Isabel cumpriu a promessa. Certo dia Nossa Senhora viu ao longe uma fumaceira e depois
umas chamas bem vermelhas. Foi à casa de Isabel e encontrou o menino João Batista, que mais tarde
seria um dos santos mais importantes da religião católica. Isso se deu no dia 24 de junho.
A lenda das bombas de São João
Antes de São João nascer, seu pai, São Zacarias, andava muito triste por não ter filhos.
Certa vez, um anjo de asas coloridas, envolto em uma luz misteriosa, apareceu à frente de
Zacarias e anunciou que ele seria pai.
A alegria de Zacarias foi tão grande que ele perdeu a voz desse momento em diante. No
dia do nascimento do filho, perguntaram a Zacarias como a criança se chamaria. Fazendo um
grande esforço, ele respondeu “João” e a partir daí recuperou a voz. Todos fizeram um barulhão
enorme. Foram vivas para todos os lados.
Vem daí o costume de as bombinhas, tão apreciadas pelas crianças, fazerem parte
dos festejos juninos.
35
34. Simpatias, Sortes e seguir, enfiar a faca numa bananeira. No
Adivinhas para São João outro dia, pela manhã, retirá-la e interpretar
o desenho, ou melhor, as iniciais do nome
A moça deve apanhar pimentas num pé da pessoa com quem vai se casar.
de pimenteira com os olhos vendados.
Caso ela colha pimenta verde, seu noivo
será jovem; se for madura, o casamento será Na noite de São João, escrever o nome de
com um velho ou viúvo; se a pimenta for de quatro pretendentes em cada ponta do lençol
verde para madura, o casamento será com e dar um nó em cada uma delas. De manhã, o
um homem de meia-idade. nó que estiver desmanchado tem o nome
daquele com quem a pessoa vai se casar.
Aplicar um jejum forçado a um galo por
três dias. À noite, no terreiro iluminado, No dia de São João, perguntar o nome
colocar montículos de milho nos pés de do primeiro mendigo que lhe pedir
moços e moças, que devem ter formado esmolas. Esse será o nome do futuro cônjuge.
uma grande roda. Soltar, então, o galo Na noite de São João, encher uma ba-
faminto no centro. O montículo de milho cia com água e ir com ela para a beira da
escolhido pelo galináceo será daquele(a) fogueira. Rezar então uma Ave-Maria e,
que se casará em breve. quando terminar, aparecerá na água a som-
bra do rapaz com quem a moça se casará.
Passar descalço sobre as brasas da
fogueira com uma faca nova na mão. A Escrever três nomes em pedaços de
36
35. papel. Dobrá-los bem e colocar, aleatoria- relento. Na manhã seguinte, interpretar o
mente, um no fogão, outro na rua e o últi- que está desenhado na clara: torre de
mo sob o travesseiro. Ao amanhecer, des- igreja é casamento (em algumas regiões
dobrar o que está sob o travesseiro; esse do Brasil) ou ingresso na vida religiosa
será o futuro cônjuge. (Maranhão); túmulo, caixão de defunto ou
rede de defunto significa morte na certa em
algumas regiões; em outras, a rede
Na noite de São João, passar um ramo também pode ser interpretada como
de manjericão na fogueira e jogá-lo no te- renda, de que é feito o véu de noiva;
lhado. Se na manhã seguinte ele estiver significa, portanto, casamento.
verde, a pessoa vai se casar com moço. Se
estiver murcho, o noivo será velho.
Encher uma bacia ou prato virgem com
água e levá-la para a beira da fogueira
Ainda ao pé da fogueira, segurar um na noite de São João. Acender então uma
papel branco e passá-lo por cima da fo- vela e, enquanto se vai rezando uma Ave-
gueira. Sem deixar o papel queimar, girá- Maria, deixar os pingos da cera caírem na
lo enquanto se reza uma Salve-Rainha. A água. Depois é só interpretar a inicial do
fumaça vai desenhar o rosto do futuro nome da pessoa com quem vai se casar.
marido.
Pôr três pratos sobre uma mesa: um com
Na noite de 23 de junho, quebrar um flores, outro com água e o terceiro com um
ovo dentro de um copo e deixá-lo ao terço ou rosário. Os candidatos à sorte en-
37
36. tram na sala com os olhos vendados e nhã seguinte, se ele estiver viçoso, é sinal
postam-se atrás das cadeiras à frente das de casamento; se estiver murcho, nada de
quais estão os pratos. As flores significam casamento.
casamento; o terço, ingresso na vida reli-
giosa; a água, viagem. Esta é uma sorte ca-
racterística de regiões marítimas ou fluviais. Para curar verrugas, passar sobre elas
o primeiro ramo que encontrar ao clarear
o dia de São João.
Quando estiverem soltando um balão,
pensar em algo que se deseja. Se ele subir,
acontecerá o que se pensou; caso se incen- À meia-noite de São João, aquele que
deie, certamente o “sorteiro” ficará solteiro. não enxergar sua imagem completa no rio
Prender uma fita no travesseiro e rezar morrerá logo. Quem enxergar seu corpo
para São João. No outro dia, se ela apa- apenas pela metade morrerá no decorrer
recer solta é porque a pessoa vai se casar. do ano.
Salve-Rainha
Numa bacia com água, colocar duas Esta oração está presente em muitas
agulhas. Se elas se juntarem, é sinal de que adivinhações de São João e Santo Antônio.
a pessoa deve se casar em breve.
“ Salve-Rainha, mãe de misericórdia,
vida, doçura e esperança nossa, salve!
Às 6 da tarde da véspera de São João, A vós bradamos, os degredados filhos
pôr um cravo num copo com água. Na ma- de Eva.
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37. A vós suspiramos, gemendo e chorando, des ninguém mais trabalha. Enfeitam-se
neste vale de lágrimas. sítios, fazendas e ruas com bandeirolas
Eia, pois, advogada nossa, esses vossos coloridas para a grande festa da véspera
olhos misericordiosos a nós volvei e depois de São João. Prepara-se a lenha para a
deste desterro mostrai-nos Jesus, bendito grande fogueira, onde serão assados ba-
fruto do vosso ventre, tata-doce, mandioca, cebola do reino e
Ó clemente, milho. Em torno dela sentam-se os familia-
Ó piedosa, res de sangue e de fogueira.
Ó doce sempre Virgem Maria. O formato da fogueira varia de lugar
Rogai por nós, Santa Mãe de Deus, para para lugar: pode ser quadrada, piramidal,
que sejamos dignos das promessas de Cristo. empilhada… Quanto mais alta, maior é o
Amém.” ” prestígio de quem a armou. A madeira
utilizada também varia bastante: pinho,
A Festa de São João peroba, maçaranduba, piúva. Não se
queimam cedro, imbaúba nem as ramas da
Em festa de São João, na maioria das videira, por terem uma relação estreita com
regiões brasileiras, não faltam fogos de a passagem de Jesus na terra.
artifício, fogueira, muita comida (o bolo de Os balões levam, segundo os devo-
São João, principalmente nos bairros rurais, tos, os pedidos para o santo. Quando a
é essencial), bebida e danças típicas de fogueira começa a queimar, o mastro, que
cada localidade. recebeu a bandeira do santo homenagea-
No Nordeste, por exemplo, essa festa é do, já se encontra preparado. Ele é levan-
tão tradicional que no dia 23 de junho, tado enquanto se fazem preces, pedidos
depois do meio-dia, em algumas localida- e simpatias:
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38. São João Batista, batista João, praticada em alguns lugares hoje em dia.
levanto a bandeira Os devotos se dirigem ao rio cantando
com o livro na mão. com entusiasmo:
O nosso corpo é uma podridão,
no fundo da terra, Vamos, vamos,
no centro do chão. toca a marchar,
n’água de São João
São João adormeceu vamos nos lavar.
no colo de sua tia.
Se meu São João soubesse Depois do banho coletivo, todos voltam
quando era seu dia, para o terreiro cantando:
descia do céu na terra
cum bandeira de alegria. N’água de São João me lavei.
Toda mazela que tinha deixei!
Depois do levantamento do mastro, tem
início a queima de fogos, soltam-se os busca- Ou ainda trazem na cabeça grinaldas
pés e as bombinhas. A arvorezinha, também de folhagens:
chamada de mastro, que é plantada em frente
às casas e, no lugar da festa, é plantada perto Capelinha de melão
da fogueira, está enfeitada com laranja, é de São João.
milho verde, coco, presentes, garrafas, etc. É de cravo, é de rosa,
A cerimônia do batismo simbólico de é de manjericão.
São João Batista faz parte da tradição da
festa, mesmo que ela tenha deixado de ser A cerimônia do banho varia de uma
40
39. região para outra. No Mato Grosso, por devotos lavam e esfregam o corpo com
exemplo, não são as pessoas que se ba- esses ingredientes. Acredita-se que o banho-
nham nos rios, e sim a imagem do santo. de-cheiro tenha o poder mágico de trazer
Na Região Norte, principalmente em muita felicidade às pessoas que o praticam.
Belém e Manaus, o banho-de-cheiro faz As danças regionais, o som de violas,
parte das tradições juninas. A preparação rabecas e sanfonas, o banho do santo, o
do banho de São João inicia-se alguns ato de pular a fogueira, a fartura de ali-
dias antes da festa. Trevos, ervas e cipós mentos e bebidas — tudo isso transforma a
são pisados, raízes e paus são ralados festa de São João numa noite de encanta-
dentro de uma bacia ou cuia com água e mento que inspira amores e indica a sorte
depois guardados em garrafas até o de seus participantes. No fim da festa, todos
momento do banho. pisam as brasas da fogueira para demons-
Chegada a hora da cerimônia, os trar sua devoção.
41
40. São Pedro, Pedro que está roncando” ou “ele está
Fundador da Igreja Católica mudando os móveis de lugar”.
No dia de São Pedro, todos os que
São Pedro, o apóstolo e pescador do receberam seu nome devem acender fo-
lago de Genezareth, cativa seus devotos gueiras na porta de suas casas. Além disso,
pela história pessoal. Homem de origem se alguém amarrar uma fita no braço de
humilde, ele foi apóstolo de Cristo e depois alguém chamado Pedro, ele tem a obri-
encarregado de fundar a Igreja Católica, gação de dar um presente ou pagar uma
tendo sido seu primeiro papa. bebida àquele que o amarrou, em ho-
Considerado o protetor das viúvas e menagem ao santo.
dos pescadores, São Pedro é festejado no
dia 29 de junho com a realização de Acalanto de São Pedro
grandes procissões marítimas em várias
cidades do Brasil. Em terra, os fogos e o Acalanto registrado em Cunha (São
pau-de-sebo são as principais atrações de Paulo):
sua festa.
Depois de sua morte, São Pedro, Acordei de madrugada,
segundo a tradição católica, foi nomeado fui varrê a Conceição.
chaveiro do céu. Assim, para entrar no céu, Encontrei Nossa Senhora
é necessário que São Pedro abra as portas. com dois livrinhos na mão.
Também lhe é atribuída a responsabilidade Eu pedi um com ela,
de fazer chover. Quando começa a trovejar, ela me disse que não;
e as crianças choram com medo, é costume eu tornei a lhe pedi,
acalmá-las dizendo: “É a barriga de São ela me deu um cordão.
42
41. Numa ponta tinha São Pedro, mesma empolgação presente na festa de
na outra tinha São João, São João.
no meio tinha um letreiro Também se fazem procissões terrestres,
da Virgem da Conceição. organizadas pelas viúvas, e fluviais, pois,
como vimos, São Pedro é o protetor dos
A Festa de São Pedro pescadores e das viúvas. Em várias regiões
do Brasil, a brincadeira mais comum na
Em homenagem ao santo, acendem- festa é a do pau-de-sebo.
se fogueiras, erguem-se mastros com sua Embora São Paulo também seja home-
bandeira e queimam-se fogos, porém nageado em 29 de junho, ele não é figura
não há, na noite de 29 de junho, a de destaque nas festividades desse mês.
A mãe de São Pedro
A bondade, a simplicidade e a boa-fé desse santo estão presentes nesta história:
“ A mãe de São Pedro era uma velhinha muito má, não tinha amizades e todos fugiam
dela. Certo dia, quando estava lavando num córrego um molhe de folhinhas de cebolas,
uma delas se desprendeu, ganhou a correnteza e lá se foi água abaixo. Ao não conseguir
pegá-la, ela exclamou:
— Ora, seja tudo pelo amor de Deus!
Não levou muito tempo, ela morreu e foi apresentar-se no céu. Mas acabou indo para
43
42. o inferno, tão grande era o peso de seus pecados. O filho ainda andava pelo mundo e não
lhe podia valer.
Quando São Pedro morreu, foi nomeado chaveiro do céu. Sua mãe o viu no gozo das
glórias celestes e pediu-lhe por gestos que a salvasse. Como ele não podia resolver nada
por si, apelou ao Senhor:
— Salva minha mãe, Divino Mestre.
O Senhor lhe respondeu com essas palavras:
— Se houver, no Livro das Almas, na vida de tua mãe, ao menos uma boa ação, estará
salva caso ela saiba aproveitá-la.
Examinou-se o livro e a certa altura, nas contas da mãe de São Pedro, encontrou-se a
folhinha de cebola, nada mais! Era a mesma que motivara o comentário da velha, que ao
menos uma vez na vida se mostrara conformada:
— Seja tudo pelo amor de Deus!
Então o Senhor disse a Pedro:
— Lança uma das pontas da folhinha em direção ao inferno. Tua mãe que se agarre a
ela e tu a puxarás. Se ela conseguir subir até aqui, estará salva.
Pedro fez tudo o que o Senhor lhe ordenou.
A velhinha agarrou-se à folha, mas uma porção de almas, querendo aproveitar a
oportunidade de salvação, segurou-se às pernas da velha. Apesar disso, ela subia.
Quando o grupo já estava a certa altura, outras almas se agarravam às pernas das
primeiras.
A velha, indignada, de avara que era, esperneou e atirou novamente ao inferno as
companheiras, pois não queria levá-las para o céu. Nesse mesmo instante, porém, a
folha de cebola partiu-se, e a mãe de São Pedro ficou no espaço. Não tinha por onde
44
43. subir ao céu, e o pedacinho de folha que conservava nas mãos não a deixava voltar ao
inferno.
E até hoje ela vive assim: nem na terra nem no céu.
Costuma-se dizer que quem fica com a mãe de São Pedro não está nem com Deus nem
com o diabo.””
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45. subir ao céu, e o pedacinho de folha que conservava nas mãos não a deixava voltar ao
inferno.
E até hoje ela vive assim: nem na terra nem no céu.
Costuma-se dizer que quem fica com a mãe de São Pedro não está nem com Deus nem
com o diabo.””
45
47. 4 Casamento Caipira ou Matuto
O casamento caipira ou matuto
aborda de forma bem-humo-
rada a instituição do casamento e as re-
casar com ela. Como ele tenta fugir, o pai
pede a interferência do delegado e de
seus ajudantes. Em algumas localidades,
lações sexuais pré-nupciais e suas conse- o casamento civil é realizado após a ceri-
qüências. Seu enredo, com algumas va- mônia religiosa, sob a vigilância do
riações de uma região para outra, é o delegado e de seus auxiliares. Depois, é
seguinte: só acompanhar a sanfona, o triângulo e
A noiva fica grávida antes do casa- a zabumba e comemorar o casamento
mento e seus pais obrigam o noivo a se com a dança da quadrilha.
Sugestão para a Representação do Casamento Caipira ou Matuto
Personagens Cenário
Padre, coroinha, noiva, noivo, dele- Representação de um altar de igreja
gado, ajudantes do delegado, pais da noiva ou capela.
e padrinhos. Os convidados estão posicionados em
47
48. duas fileiras, deixando o centro para a noiva. O padre anuncia a
chegada da noiva, que entra com o pai e vai até o altar, onde
estão o padre, devidamente paramentado, seu coroinha e os
padrinhos e pais dos noivos.
Os personagens, carregando bastante no sotaque interiorano,
dizem o seguinte:
PADRE: A noiva tá chegano! Vamo batê parma pr’ela, pessoar!!!
Cadê o noivo???
N OIVA: Ai, mãe, ele num vem, acho que vou dismaiá... (E,
simulando um desmaio, é acudida pela mãe e pela madrinha.)
O pai da noiva faz um sinal para o delegado e cochicha
com ele.
D E L E G A D O : Peraí, seu padre, eu já vô buscá ele. (Sai
acompanhado por dois ajudantes, armados de espingarda e
cassetetes.)
Entra o noivo empurrado pelo delegado, que permanece no
altar, grande parte da cerimônia, atrás do noivo, para que ele
não fuja.
PADRE: Bão, vamo começá logo esse casório. Ocê, Chiquinha
48
49. Dengosa, promete, de coração, pra marido toda vida o Pedrinho
Foguetão?
NOIVA: Mas que pregunta isquisita seu vigário faz pra mim. Eu
vim aqui mais o Pedrinho num foi pra dizê que sim???
PADRE: E ocê, Pedrinho, que me olha assim tão prosa, qué mesmo
pra sua esposa a sinhá Chiquinha Dengosa?
NOIVO: Num havia de querê, num é essa minha opinião, mas,
se não caso com a Chiquinha, vô direto pro caixão... (Vira-se para
o delegado, que está com a espingarda em punho.)
P ADRE: Então, em nome do cravo e do manjericão, caso a
Chiquinha Dengosa com o Pedrinho Foguetão! E viva os noivos!
C ONVIDADOS : Viva!!! (Conforme os noivos passam pelos
convidados, pode-se jogar arroz.)
PADRE: E vamo pro baile, pessoar!!!
Com os convidados já devidamente formados, tem início a
quadrilha — o grande baile do casamento.
49
51. 5 Danças Juninas
Origem da Quadrilha Depois desceu as escadarias do palácio e
caiu no gosto do povo, que modificou suas
T ambém chamada de quadrilha
caipira ou de quadrilha matuta, é
muito comum nas festas juninas. Consta de
evoluções básicas e introduziu outras,
alterando inclusive a música.
A sanfona, o triângulo e a zabumba são
diversas evoluções em pares e é aberta pelo os instrumentos musicais que em geral
noivo e pela noiva, pois a quadrilha acompanham a quadrilha. Também são
representa o grande baile do casamento comuns a viola e o violão. Nossos com-
que hipoteticamente se realizou. positores deram um colorido brasileiro à
Esse tipo de dança (quadrille) surgiu sua música e hoje uma das canções pre-
em Paris no século XVIII, tendo como feridas para dançar a quadrilha é Festa na
origem a contredanse française, que por roça, de Mario Zan.
sua vez é uma adaptação da country dance O marcador, ou “marcante”, da qua-
inglesa, segundo os estudos de Maria drilha desempenha papel fundamental,
Amália Giffoni. pois é ele que dá a voz de comando em
A quadrilha foi introduzida no Brasil du- francês não muito correto misturado com o
rante a Regência e fez bastante sucesso nos português e dirige as evoluções da dança.
salões brasileiros do século XIX, prin- Hoje, dança-se a quadrilha apenas nas
cipalmente no Rio de Janeiro, sede da Corte. festas juninas e em comemorações festivas
51
52. no meio rural, onde apareceram outras com gola alta, cintura marcada, mangas
danças dela derivadas, como a quadrilha “presunto” e botinas de salto abotoadas do
caipira, no Estado de São Paulo, o baile lado. Os cavalheiros vestiam paletó até o
sifilítico, na Bahia e em Goiás, a saruê joelho, com três botões, colete, calças
(combina passos da quadrilha com outros estreitas, camisa de colarinho duro, gravata
de danças nacionais rurais e sua marcação de laço e botinas.
mistura francês e português), no Brasil Cen- Hoje em dia, na tradição rural brasileira,
tral, e a mana-chica (quadrilha sapateada) o vestuário típico das festas juninas não difere
em Campos, no Rio de Janeiro. do de outras festas: homens e mulheres usam
A quadrilha é mais comum no Brasil suas melhores roupas. Nos centros urbanos,
sertanejo e caipira, mas também é dançada há uma interpretação do vestuário caipira
em outras regiões de maneira muito ou sertanejo baseada no hábito de
própria, caso de Belém do Pará, onde há confeccionar roupas femininas com tecido de
mistura com outras danças regionais. Ali, chita florido e as masculinas com tecidos de
há o comando do marcador e durante a algodão listrados e escuros. Assim, as roupas
evolução da quadrilha dança-se o carimbó, usadas para dançar a quadrilha variam
o xote, o siriá e o lundum, sempre com os conforme as características culturais de cada
trajes típicos. região do país.
Os trajes mais comuns são: para os
Trajes Usados na Dança cavalheiros, camisa de estampa xadrez,
com imitação de remendos na calça e na
No fim do século XIX as damas que camisa, chapéu de palha, talvez um lenço
dançavam a quadrilha usavam vestidos até no pescoço e botas de cano; as damas
os pés, sem muita roda, no estilo blusão, geralmente usam vestidos com estampas
52
53. florais, de cores fortes, com babados e “B ALANCÊ” E “TUR” (balanceio e giro): :
rendas, mangas bufantes e laçarotes no damas e cavalheiros fazem o passo no
cabelo ou chapéu de palha. lugar, balançando os braços naturalmente,
e giram dançando juntos.
Sugestão para a Evolução da GRANDE PASSEIO: as damas colocam-se
Quadrilha Caipira à direita dos cavalheiros e os dois dão-se
os braços. Do lado de fora o outro braço
CAMINHO DA FESTA: os pares seguem atrás
ESTA continua balanceando ao longo do corpo.
dos noivos, iniciando a dança e parando em Formam um círculo e seguem dançando.
determinado momento no centro terreiro. Quando o marcador anuncia nova evolu-
ANARIÊ (do francês en arrière, para trás):
: ção, a progressão cessa e os participantes
as damas e os cavalheiros se separam (4 fazem o que foi ordenado.
metros, aproximadamente), formando duas “CHANGÊ” DE DAMAS (trocar de damas): :
colunas. no grande passeio, os cavalheiros avançam
OS CAVALHEIROS CUMPRIMENTAM AS DAMAS:
UMPRIMENTAM e colocam-se ao lado da dama imediata-
eles se aproximam das damas, cumprimen- mente à frente. Se for dito “mais uma vez”,
tando-as. Flexionam o tronco, mantendo a repetem o movimento. Os comandos
cabeça erguida, e voltam a seus lugares, “passar duas” e “passar quatro” também
caminhando de costas. são executados pelo cavalheiro.
AS DAMAS CUMPRIMENTAM OS CAVALHEIROS:
UMPRIMENTAM OLHA O TÚNEL: os noivos, que estão na
elas repetem a evolução dos cavalheiros. frente, param e elevam os braços internos
SAUDAÇÃO GERAL: tanto as damas como para cima e, de mãos dadas, fazem o túnel.
os cavalheiros andam para a frente e, O segundo par flexiona o tronco, passa pelo
quando se encontram, cumprimentam-se. túnel, coloca-se à frente dos noivos e eleva
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54. os braços, e assim sucessivamente, até que J Á C ONSERTOU! : voltam a dançar no
ONSERTOU
todos passem. Executa-se o passo no lugar outro sentido.
durante essa evolução. OLHA O CARACOL!: em coluna e com as mãos
SEGUE O PASSEIO: é a voz de comando ainda sobre os ombros de quem está à frente,
para que o grande passeio continue. todos obedecem às ordens do marcador, que
CAMINHO DA ROÇA: as fileiras de damas e começará a descrever um percurso cheio de
cavalheiros fundem-se, formando uma só co- curvas que fazem lembrar o casco de um ca-
luna. O primeiro segura, com as mãos à altura racol. Quando o marcador disser “desvirar”, o
dos ombros, as mãos de quem está atrás. Os guia deverá fazer as curvas em sentido contrário,
demais colocam as mãos nos ombros de voltando a dançar em linha reta.
quem está à sua frente. A coluna progride, FORMAR A GRANDE RODA: os participantes
fazendo curvas para um lado e para outro, da quadrilha dão as mãos formando uma
como se fosse uma serpente. O marcador da grande roda e, ao ouvir a voz de comando
quadrilha continua dando voz de comando. “à direita”, “à esquerda”, deverão se des-
OLHA A CHUVA!: todos dão meia-volta. locar no sentido determinado pelo marcador.
J Á P A S S O U ! : todos dão meia-volta DAMAS AO CENTRO: as damas formam
novamente dizendo “ehh!”. uma roda no centro e deslocam-se no
O LHA A C OBRA! : as damas gritam e sentido indicado pelo marcador.
pulam, os cavalheiros procuram segurá-las COROA DE ROSAS: os cavalheiros, de mãos
em seus braços. dadas, erguem os braços na vertical sobre a
É MENTIRA! : os “caipiras” ou “matutos” cabeça das damas, como se as coroassem,
continuam o passo e gritam “uhh!”. depois abaixam os braços passando-os pela
A PONTE QUEBROU! : todos dão meia- frente, até a altura da cintura das damas,
volta novamente. contornando-as. Fazem o passo no lugar
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55. durante a coroação. Depois podem festas juninas, o fandango tem sentidos
deslocar-se “à direita” e “à esquerda”. diferentes de acordo com a localidade.
COROA DE ESPINHOS: nesse momento, são No Sul (Paraná, Santa Catarina, Rio
as damas quem elevam os braços sobre a Grande do Sul e até em São Paulo) o fan-
cabeça dos cavalheiros, coroando-os. dango é um baile com várias danças
O LHA O GRANDE P ASSEIO! : repetem a regionais: anu, candeeiro, caranguejo,
formação descrita anteriormente. chimarrita, chula, marrafa, pericó, quero-
V AI COMEÇAR O GRANDE BAILE. OLHA A quero, cana-verde, marinheiro, polca, etc.
VALSA DOS NOIVOS!: os noivos entram no cen- A coreografia não é improvisada e segue a
tro da roda e dançam juntos. tradição.
O L H A O S P ADRINHOS ! : os padrinhos O fandango se divide em três grupos
dançam no centro da roda. nessa região:
BAILE GERAL!: todos os pares dançam no
centro da roda. 1. BATIDOS: caracterizam-se pelo forte
O GRANDE BAILE ESTÁ ACABANDO. VAMOS sapateado, barulhento, que quase abafa o
NOS DESPEDIR DO PESSOAL! : todos executam a conjunto de tocadores. Apenas os homens
evolução do grande baile e se retiram do sapateiam.
centro do terreiro, despedindo-se das pes- 2. VALSADOS: dança lenta com pares
soas que estão assistindo. fixos, do começo ao fim.
3. MISTOS: as valsas são intercaladas
ISTOS
Fandango de batidos.
Dançado em várias regiões do país em Em São Paulo, o fandango é uma
festividades católicas como o Natal e as dança que se aproxima do cateretê e às
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56. vezes é sinônimo de chula (bailado Eu plantei caninha-verde
masculino muito comum no Rio Grande do sete palmos de fundura.
Sul, de coreografia agitada e bastante Quando foi de madrugada
complexa). a cana ’stava madura.
No Norte do Brasil, o fandango não é Uai, uai, sete palmos de fundura.
baile nem dança de par ou individual. É Quando foi de madrugada
sempre um auto popular, seqüência de temas a cana ’stava madura.
com certa articulação, que tem origem na Pra cantar caninha-verde
convergência das cantigas portuguesas, não precisa imaginá.
como aponta Cascudo (1988, p. 320 e 321), De qualquer folha de mato
e está presente no nosso país desde a tiro um verso pra cantá.
primeira década do século XIX. Eu tenho um chapéu de palha,
Já no Nordeste brasileiro, o fandango de pano não posso ter.
é o auto característico dos marujos, sendo De palha eu mesmo faço,
conhecido também como chegança dos de pano não sei fazer.
marujos ou marujada. Eu tenho um chapéu de palha
A cana-verde dançada principalmente
cana-verde, que custou mil e quinhentos.
no Sul e no Centro do Brasil, apesar de fazer Quando eu ponho na cabeça
parte do fandango, também é bem popu- não me falta casamento.
lar em outras festividades. Nas festas juninas,
as quadras dessa dança são geralmente Formação
improvisadas, podendo encarregar-se des-
sa tarefa tanto os violeiros como os próprios Forma-se uma roda em fila, no sentido
dançadores. dos ponteiros do relógio. A cana-verde
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57. pode ser dançada só por homens e o bumba-meu-boi tem características dife-
também por pares. rentes e recebe inclusive denominações
distintas de acordo com a localidade em que
Movimentação é apresentado: no Piauí e no Maranhão,
chama-se bumba-meu-boi; na Amazônia,
Os participantes deslocam-se, saindo boi-bumbá; em Santa Catarina, boi-de-
com o pé esquerdo (eu); no quarto passo, mamão; no Recife, é o boi-calemba e no
batem o pé direito (verde) com uma palma Estado do Rio de Janeiro, folguedo-do-boi.
para o centro da roda. Quando cantam O enredo da dança é o seguinte: uma
“madrugada”, a palma deverá estar do mulher grávida (cujo nome varia de acordo
lado de fora, sempre junto com o pé com a região do Brasil) sente vontade de
direito. No refrão (uai, uai) a roda faz meia- comer língua de boi. O marido resolve
volta, girando no sentido contrário, e segue atender a seu desejo e mata o primeiro boi
sempre a mesma movimentação, ou seja, que encontra. Logo depois, o dono do boi,
uma palma para dentro e outra para fora, que era seu patrão, aparece e fica muito
sempre batendo com o pé direito. zangado ao ver o animal morto. Para con-
No Maranhão, essa dança é executada sertar a situação, surge um curandeiro, que
de forma bastante semelhante à da consegue ressuscitar o boi. Nesse momento,
quadrilha. todos se alegram e começam a brincar.
Os participantes do bumba-meu-boi
Bumba-meu-boi dançam e tocam instrumentos enquanto as
pessoas que assistem se divertem quando
Dança dramática presente em várias o boi ameaça correr atrás de alguém. O
festividades, como o Natal e as festas juninas, boi do espetáculo é feito de papelão ou
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58. madeira e recoberto por um pano colorido. teado, além do canto acompanhado por
Dentro da carcaça, alguém faz os movi- guitarras e violões. Em geral, a música é
mentos do boi. executada como compasso binário, com
certo predomínio de sons rebatidos.
Lundu Essa dança é típica das festas juninas
(lundum/londu/landu) nos Estados do Norte (como parte da qua-
drilha tradicional e independente desta),
De origem africana, o lundu foi trazido Nordeste e Sudeste do Brasil.
para o Brasil pelos escravos vindos prin-
cipalmente de Angola. Nessa dança, Cateretê
homens e mulheres, apesar de formar pares,
dançam soltos. Dança rural do Sul do país, o cateretê
A mulher dança no lugar e tenta seduzir foi introduzido pelos jesuítas nas comemo-
com seus encantos o parceiro. A princípio rações em homenagem a Santa Cruz, São
ela demonstra certa indiferença, mas, no Gonçalo, Espírito Santo, São João e Nossa
desenrolar da dança, passa a mostrar in- Senhora da Conceição. É uma dança bas-
teresse pelo rapaz, que a seduz e a envolve. tante difundida nos Estados de São Paulo,
Nesse momento, os movimentos são mais Rio de Janeiro e Minas Gerais e também
rápidos e revelam a paixão que passa a está presente nas festas católicas do Pará,
existir entre os dançarinos. Logo o cavalheiro Mato Grosso e Amazonas.
passa a provocar outra dama e o lundu Nas zonas litorâneas, geralmente é
recomeça com a mesma vivacidade. dançado com tamancos de madeira dura. No
O lundu é executado com o estalar dos interior desses Estados, os dançarinos dançam
dedos dos dançarinos, castanholas e sapa- descalços (Taubaté, Cunha, Lagoinha) ou usam
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59. esporas nos sapatos (Barretos, Guaratinguetá, duas fileiras, com acompanhamento de
Itararé). Em algumas cidades o cateretê é viola, cantos, sapateado e palmas. Os saltos
conhecido como catira (Araçatuba, Nazaré e a formação em círculo aparecem rapida-
Paulista, Piracaia e Pereira Barreto). mente. Os dançarinos não cantam, apenas
Em geral, o cateretê é dançado apenas batem os pés e as mãos e acompanham a
por homens, porém, em alguns Estados, evolução. As melodias são cantadas por dois
como Minas Gerais, as mulheres também violeiros, o mestre, que canta a primeira voz,
participam da dança. Os dançarinos formam e o contramestre, que faz a segunda.
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61. 6 Jogos Juninos
O s jogos que valem prendas são
uma atração tradicional nas
festas juninas. Dividem-se em jogos de
sebo é então solidamente plantado no chão
e muitas vezes recebe, no topo, um triângulo
de madeira ao qual se amarra dinheiro
terreiro e jogos de barracas. (uma cédula de valor alto ou um depósito
repleto de dinheiro).
Jogos de Terreiro A brincadeira consiste em, abraçado ao
pau-de-sebo, tentar subir e alcançar o
Pau-de-sebo prêmio. Como o mastro foi revestido com
Brincadeira que anima as festas juninas, cera, dificilmente os que participam da
principalmente a festa em homenagem a brincadeira conseguem subir até seu topo,
São Pedro no Sudeste, e também está Escorregam até perto do chão e voltam a
presente nas festas natalinas, no Nordeste. insistir várias vezes, até desistir ou atingir o
O pau-de-sebo é um mastro (não confundir alvo, quando recebem palmas e vivas das
com o mastro dos santos juninos) de pessoas que estão assistindo.
madeira envernizada com aproximada-
mente 5 metros de altura. É cuidadosa- Catar amendoim
mente preparado: tiram-se todos os Cada criança deve apanhar, com uma
nódulos da madeira, que depois é lixada, colher, os amendoins colocados à sua
e passa-se sebo de boi ou cera. O pau-de- frente, a uma certa distância, e levá-los
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62. para seu lugar, junto à linha de partida, Corrida de três pés
um de cada vez. Vence quem primeiro Cada jogador amarra a sua perna
reunir cinco grãos. esquerda à perna direita do parceiro e,
assim, os dois pulam até a linha de chegada.
Corrida de funis
Introduzir dois funis numa corda, com Jogos de Barracas
a parte mais estreita voltada para um laço
feito no centro. Os jogadores terão de, Acertar o Alvo
apenas soprando, levar os funis até o laço. Cada jogador recebe três bolinhas e,
de certa distância, procura jogá-las dentro
Corrida do saci da boca de um grande caipira, desenhado
Riscar no chão duas linhas paralelas, em cartolina. Em algumas regiões, um pa-
sendo uma a de chegada. Ao sinal combi- lhaço substitui o caipira no cartaz.
nado, as crianças saem pulando num pé só
em direção à linha de chegada. Jogo de argolas
Colocam-se várias garrafas estrategi-
Corrida de sacos camente no centro de uma barraca. Cada
Semelhante à corrida do Saci, cada jogador recebe determinado número de
jogador faz o percurso com o corpo enfiado argolas e tenta encaixá-las nas garrafas.
num saco bem preso à cintura.
Pescaria
Num tanque de areia, colocam-se
peixinhos feitos de lata ou papelão. Cada
um tem na boca uma argolinha, que deverá
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63. ser enganchada pelo anzol do pescador, ou
jogador. Cada peixinho tem um número que
corresponde a uma prenda.
Tiro ao Alvo
Coloca-se um alvo a certa distância; o
jogador deverá acertá-lo utilizando dardos.
Toca do Coelho
Várias tocas numeradas são espalha-
das num espaço fechado da barraca. Os
jogadores apostam em determinada
toca. Quando se solta ali um coelhinho,
vence o jogador da toca em que ele
primeiro entrar.
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65. 7 Músicas Juninas
A s músicas típicas das festas juninas
podem ser apenas cantadas ou
também dançadas. Até hoje muitas são
as de Derramando o gai (coco de Luiz
Gonzaga e Zé Dantas):
compostas especialmente pelos nordes- Eu nesse coco num vadeio mai,
tinos, e formam o repertório do forró, que apagaro o candihero,
se transformou em baile realizado não derramaro o gai
apenas no período junino. Apagaro o candihero,
Entre os compositores e cantores mais derramaro o gai.
famosos, destaca-se o pernambucano Luiz Coisa boa nesse escuro
Gonzaga. Algumas estrofes de suas músicas eu sei que não sai.
são conhecidas de todos os brasileiros,
como as de Olha pro céu, meu amor (em Já não tão mai respeitando
parceria com José Fernandes): nem eu qui sou pai,
pois me dero um beliscão,
Olha pro céu, meu amor. quase a carça cai.
Vê como ele está lindo. Não se pr’onde vai
Olha praquele balão multicor por isso nesse coco
como no céu vai sumindo num vadeio mai
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66. Capelinha de melão
(João de Barros e Adalberto Ribeiro)
Capelinha de melão
é de São João.
e as de São João na roça (em parceria É de cravo, é de rosa,
com Zé Dantas): é de manjericão.
São João está dormindo,
A fogueira tá queimando não me ouve não.
em homenagem a São João. Acordai, acordai,
O forró já começou. acordai, João.
Vamos, gente, arrasta pé nesse salão. Atirei rosas pelo caminho.
A ventania veio e levou.
Algumas das músicas juninas mais Tu me fizeste com seus espinhos
conhecidas, pelo menos na Região Sudeste, uma coroa de flor.
são as seguintes:
Cai, cai, balão Pedro, Antônio e João
(Benedito Lacerda e Oswaldo Santiago)
Cai, cai, balão.
Cai, cai, balão. Com a filha de João
Aqui na minha mão. Antônio ia se casar,
Não vou lá, não vou lá, não vou lá. mas Pedro fugiu com a noiva
Tenho medo de apanhar. na hora de ir pro altar.
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67. A fogueira está queimando, São João ficou zangado.
o balão está subindo, São João só dá cartão
Antônio estava chorando com direito a batizado.
e Pedro estava fugindo.
São João não me atendendo
E no fim dessa história, a São Pedro fui correndo.
ao apagar-se a fogueira, No portão do paraíso
João consolava Antônio, disse o velho num sorriso:
que caiu na bebedeira. ”Minha gente eu sou chaveiro,
nunca fui casamenteiro”.
Isto é lá com Santo Antônio
(Lamartine Babo)
Eu pedi numa oração
ao querido São João
que me desse um matrimônio.
São João disse que não,
São João disse que não,
isto é lá com Santo Antônio.
Implorei a São João
desse ao menos um cartão
que eu levasse a Santo Antônio.
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68. Balãozinho
Venha cá, meu balãozinho. Toda mata pega fogo.
Diga aonde você vai. Passarinhos vão morrer.
Vou subindo, vou pra longe, Se cair em nossas matas,
vou pra casa dos meus pais. o que pode acontecer.
Já estou arrependido.
Ah, ah, ah, mas que bobagem. Quanto mal faz um balão.
Nunca vi balão ter pai. Ficarei bem quietinho,
Fique quieto neste canto amarrado num cordão.
e daí você não sai.
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69. Chegou a hora da fogueira Sonho de papel
(Lamartine Babo) (Carlos Braga e Alberto Ribeiro)
Chegou a hora da fogueira. O balão vai subindo,
É noite de São João. vem caindo a garoa.
O céu fica todo iluminado, O céu é tão lindo
fica todo estrelado, e a noite é tão boa.
pintadinho de balão.
São João, São João,
Pensando na cabocla a noite acende a fogueira
também fica uma fogueira no meu coração.
dentro do meu coração.
Quando eu era pequenino, Sonho de papel
de pé no chão, a girar na escuridão
recortava papel fino soltei em seu louvor
pra fazer balão. no sonho multicor.
E o balão ia subindo
para o azul da imensidão. Oh! Meu São João.
Hoje em dia meu destino Meu balão azul
não vive em paz. foi subindo devagar.
O balão de papel fino
já não sobe mais. O vento que soprou
O balão da ilusão meu sonho carregou.
levou pedra e foi ao chão. Nem vai mais voltar.
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70. Sem título As moça dançam com o padre,
(Djalma da Silveira Allegro e Paulo Soveral) as véia com o delegado.
Uns ainda tão na mesa
A mesa tá preparada, comendo doce e salgado.
os conviva vão chegando,
o quentão vai se servido, A fogueira vai queimando
o leitão tá esturricando. que dá gos to a gente vê.
Tem pipoca, tem pamonha, As estrelas ain da piscando,
mio verde com fartura. o sol quase pra nascê.
Tem cabrito e frango assado, Tá todo mundo esperando
tem doce de rapadura. otro dia amanhe cê…
Tem tanta coisa gostosa
que barriga quase fura…
Chame o Mané Sanfoneiro
que o baile vai começá!
Vamos dançá a quadrilha,
cada um no seu lugar. Pula a fogueira
(João B. Filho)
E a festança continua,
continua o arrasta-pé. Pula a fogueira Iaiá,
Dança home com otro home pula a fogueira Ioiô.
e muié com otra muié. Cuidado para não se queimar.
Um já gastô as butinas, Olha que a fogueira
otro já sentô cansado. já queimou o meu amor.
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71. Nesta noite de festança Nesta noite de folguedo
todos caem na dança todos brincam sem medo
alegrando o coração. a soltar seu pistolão.
Foguetes, cantos e troca Morena flor do sertão,
na cidade e na roça quero saber se tu és
em louvor a São João. dona do meu coração.
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