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NOVA FASE Nº 25 | ABRIL 2017
TRIBUNA CLASSISTAwww.tribunaclassista.blogspot.com | e-mail: tribunaclassista@hotmail.com Edição Impressa R$ 3,00 Valor solidário R$ 5,00
SUMÁRIO: OS TRABALHADORES
SAEM ÀS RUAS
O regime político está sob uma forte crise. Acobertado apenas
por seus acólitos e pelos setores que são privilegiados, o governo
Temer, fruto de um golpe parlamentar, tem sua popularidade abaixo
dos 10%, a economia estagnada, em recessão, ou melhor, em
depressão, com -3,6 de queda no PIB em 2016.
Sua legalidade está sub judice no TSE, com o julgamento da
chapa Dilma-Temer, o judiciário apenas reflete a pugna entre as
diversas classes de nossa sociedade.
Suas reformas reacionárias, que contam com amplo apoio na
Câmara, no Senado, do grande capital e da grande imprensa
(burguesa) são cada vez mais impopulares, não só entre a classe
trabalhadora, mas até mesmo no seio da classe média e da
pequena burguesia.
Além disso tudo temos a Operação Carne Fraca, que coloca
um dos pilares do governo e do grande capital, o agronegócio,
sob o torniquete das disputas políticas e econômicas que
polarizam todo o país.
O governo Temer, a cada dia que passa, mostra seu
verdadeiro rosto para os setores mais amplos da população,
setores que ainda não tinham compreendido o significado mais
profundo desse novo governo, e o seu reflexo real no espelho da
política é algo verdadeiramente monstruoso. O que para muitos é
obvio, para a grande maioria da população é um pesadelo sem
fim. O ódio popular a esse governo é epidêmico, apesar dos
esforços conjuntos de amplos setores da política e da imprensa
burguesa para contê-lo.
De outro lado os trabalhadores iniciam, ainda de forma lenta, mas
vigorosa, sua organização e mobilização contra as reformas em curso.
Ainda de forma desorganizada, inconstante e até mesmo
confusa, a revolta popular e as manifestações contra o governo
tendem a se organizarem rapidamente e a politizar a classe
trabalhadora no próximo período.
A única classe que pode modificar o atual quadro reacionário
que impera sobre o pais é a classe trabalhadora, em especial os
assalariados, a classe operária. É nisso que apostamos, é nessa
estratégia que está contida nossa perspectiva de luta.
Um congresso que elabore um programa, dê organização,
consciência de classe e de luta, essa é a nossa bandeira principal,
diante da crise que abala o nosso país. Propomos a toda esquerda
classista, a juventude e aos trabalhadores esta proposta.
EDITORIAL
Os Trabalhadores Saem Às
Ruas
Capa
A Radiografia De Um
Regime
Hernán Gurian / Guilherme
Giordano
Pag. 2
Por Uma Grande
Paralisação Nacional De
15M
Pag. 4
Trabalhadores Ganham As
Ruas Para Lutar Contra
A Reforma Da Previdência E
O Governo Temer
David Lucius
Pag.5
Greve Rechaça O Pacote :
Vitória Dos Trabalhadores E
Da População DeFlorianópolis
Alfeu Goulart
Pag.6
Moção De Apoio Aos
Trabalhadores Da AGR-
Clarin
Guilherme Giordano
Pag.7
Entrevista com Militante do
Tribuna Classista
Pag. 8
Não À privatização do
Banrisul
Pag. 12
1
TRIBUNA CLASSISTA
A RADIOGRAFIA
DE UM REGIME
Por um Congresso de bases
do movimento operário para
enfrentar o ajuste
Hernán Gurian
com colaboração de
Guilherme Giordano
A brutal crise capitalista que assola
o Brasil, há mais de 2 anos, ameaça a
desagregação total dos estados, a
crises políticas cada vez mais
acentuadas e a uma enorme miséria
social da sua população.
Ainda que se registrem dados
oficiais de desemprego, na cifra de 12
milhões de desempregados, existe
uma quantidade maior de 20 milhões,
contados aqueles que abandonaram
a busca de empregos por desistência
ou que vivem na informalidade (bico)
para sobreviver (CNI, O Globo,
08/02).
E finalmente chega uma notícia
bombástica, uma espécie de crônica
de uma tragédia anunciada: “PIB
recua 3,6% em 2016, e Brasil tem pior
recessão da história - Essa
sequência, de dois anos seguidos de
baixa, só foi verificada no Brasil em
1930 e 1931; ritmo de corte em 2015
e 2016 foi o maior. Pela 1ª vez, todos
os setores se contraíram. Como a
retração nos anos de 2015 e 2016
superou a dos anos 30, essa é a pior
crise já registrada na economia
brasileira. O IBGE e o Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)
dispõem de dados sobre o PIB desde
1901. Pela primeira vez desde 1996,
todos os setores da economia
registraram taxas negativas. ‘Se a
gente olhar o biênio, a retração foi de
7,2%. A gente nunca teve um biênio
com uma queda acumulada destas’,
disse Rebeca de La Rocque Palis,
coordenadora de Contas Nacionais
do IBGE. A série histórica do IBGE vai
até 1948. Em valores correntes, o
Produto Interno Bruto Brasileiro (PIB)
chegou a R$ 6,266 trilhões em 2016,
e o PIB per capita ficou em R$ 30.407
– uma redução de 4,4% diante de
2015. A crise foi generalizada e os
três setores que entram no cálculo do
PIB recuaram no ano - agropecuária
(-6,6%), indústria (-3,8%) e serviços (-
2,7%). ‘Em 2014, a gente já tinha a
indústria caindo, mas os serviços
continuavam crescendo. Em 2015,
caíram a indústria e os serviços. Já
em 2016, a agropecuária. Desde
1996, isso nunca ocorreu. A situação
peculiar desta vez é justamente essa
queda generalizada’, afirmou. Os
investimentos também pesaram
contra o PIB. A chamada Formação
Bruta de Capital Fixo (FBCF), como o
indicador de investimentos é
conhecido, teve uma retração pelo
terceiro ano seguido e caiu 10,2% em
2016. De acordo com o IBGE, esse
resultado negativo pode ser
explicado, principalmente, pela queda
da produção interna e da importação
de bens de capital. Nesse cenário, a
taxa de investimento no ano de 2016
caiu para 16,4% do PIB, abaixo do
observado no ano anterior (18,1%).
Trata-se do menor nível de
investimento na economia já
registrado pela série histórica do
IBGE, que começa em 1996. O
consumo das famílias, que por muitos
anos sustentou o crescimento do PIB
do Brasil, também seguiu ladeira
abaixo em 2016. Em 2016, as famílias
consumiram 4,2% a menos do que
em 2015, acima da queda registrada
entre 2014 e 2015, de 3,9%. Segundo
o IBGE, a alta dos juros, a restrição
ao crédito, o aumento do
desempenho e a queda da renda
explicam esse resultado. Também
recuou, mas de forma menos intensa,
a despesa do consumo do governo:
0,6% sobre 2015. De 2014 para 2015,
a retração havia sido de 1,1%.
Seguindo o que já havia sido visto em
2015, com a valorização do dólar, as
exportações de bens e serviços
cresceram 1,9%, e as importações de
bens e serviços caíram, 10,3%. ‘A
gente teve uma contribuição positiva
do setor externo na economia, com o
aumento das exportações de bens e
serviço.’ ‘Se a gente não tivesse
nenhuma ligação com o setor externo,
a gente teria uma queda de 5,3% no
PIB’, destacou Rebeca, enfatizando a
relevância de o país ter exportado
mais do que importado no ano.”
(http://g1.globo.com/economia/noticia/
pib-brasileiro-recua-36-em-2016-e-
tem-pior-recessao-da-historia.ghtml)
O outro lado da moeda são os
trabalhadores que suportaram níveis
de superexploração e
empobrecimento intoleráveis, que se
agravarão no futuro com a aprovação
pelo Congresso Nacional das
“Reformas Trabalhistas e
Previdenciária”, às quais contemplam
a flexibilização dos direitos
trabalhistas, a generalização das
terceirizações e o aumento da idade
das aposentadorias para 65 anos
para ambos os sexos, entre outros.
Este verdadeiro plano de guerra
contra os trabalhadores é uma
exigência de toda a classe capitalista
golpeada pela crise mundial. O
parlamento votou no final de 2016 um
pacote de austeridade, congelando os
gastos do orçamento federal para a
saúde, educação e obras públicas em
20 anos. Temer pretende resgatar a
falida economia capitalista sobre a
base de ataques sem precedentes às
conquistas sociais e trabalhistas das
massas pauperizadas, as quais
remontam aos meados do século XX.
O governo Dilma, PT/PMDB, já
havia implementado previamente a
“Lei de Proteção do Emprego” que
assegurava ao grande capital a
redução da jornada de trabalho
proporcionalmente à diminuição de
30% do salário em empresas que
provassem estar passando
dificuldades ou crises, enquanto, por
outro lado, ofereciam todo tipo de
isenções e renúncias fiscais, bem
como subsídios estatais a esta
mesma indústria pesada e aos
latifundiários do agronegócio, criou o
FUNPRESP (previdência
complementar) para os servidores
públicos federais com efeito cascata
para os estados e municípios,
atacando na calada da noite, no final
de 2014, através de MP’s, aos
desempregados, dificultando o
acesso ao seguro-desemprego, aos
trabalhadores que ganham em média
até dois salários mínimos no exercício
anterior para poderem ganhar o
abono salarial, aos pescadores,
dificultando o acesso ao seguro-
defeso, e ao auxílio-doença. Antes,
Lula havia promovido a “reforma” da
previdência para os servidores
públicos federais, a qual acabou com
a integralidade das aposentadorias,
instituiu a contribuição dos inativos e
desconto nas pensões, acabou com a
paridade nos reajustes entre ativos e
inativos, modificando os Fundos de
Pensão para fechados, ou seja,
ficando a contribuição previamente
definida, mas sem saber qual o valor
do benefício.
O aumento da miséria popular
ocasionou o consequente incremento
da demanda do plano social “Bolsa
Família” (uma esmola de R$ 340,00)
2
NOVA FASE Nº 25 | ABRIL 2017
em 35% no ano de 2016. Recente
informe do Banco Mundial, a quem
não se pode acusar de ser
catastrofista, assinala que se não for
revertido o quadro recessivo do país
“o número de pobres chegará a 21
milhões de pessoas, em 2017, dos
quais cerca de 10 milhões, nos níveis
de extrema pobreza”. (O GLOBO,
13/02)
A recessão dos estados mais
industrializados levou à diminuição
dos seus respectivos PIB’s, a um
retrocesso a níveis de 6 anos atrás. A
construção civil e a indústria
paralisaram suas atividades e os
bancos com enormes carteiras de
créditos atrasados e impagáveis (57%
das famílias estão endividados e
milhares de empresas e comércios
quebraram com créditos
inadimplentes). São cerca de 59
milhões de inadimplentes, somando
quase 40% da população adulta. Isso
significa que a cada 10 adultos no
país, 4 estão endividados.
Enquanto isso, um regime político,
produto de um golpe institucional,
enlameado diariamente por uma
enxurrada de denúncias de corrupção
e saque das finanças e empresas
públicas, que envolvem ao próprio
Temer (citado 43 vezes na delação
premiada de executivos da
Odebrecht), junto a 1/3 de senadores
e deputados federais, que estão
sendo investigados. Vale ressaltar
que Temer perdeu 8 ministros por
denúncias de corrupção em 9 meses
e outros 4 encontram-se
processados. O outrora presidente da
Câmara Federal, Eduardo Cunha
(PMDB), comandante do
impeachment contra Dilma, está
preso por desfalque à Petrobrás. A
partir dos três poderes do Estado se
colocou em marcha uma operação de
impunidade para frear as
investigações, proteger aos políticos
penalizados e anistiar aos
funcionários e empresários presos.
Por outro lado, as massas
golpeadas pelas políticas impopulares
de Temer tentam abrir um caminho:
greve dos servidores municipais de
Florianópolis, que ultrapassou um
mês de manifestações constantes, no
Rio de Janeiro, por salário e contra a
privatização da água, ou como no
final de 2016 com as ocupações de
1.200 escolas e faculdades pelos
estudantes contra o corte do
orçamento e as reformas contra a
educação. O dia 08/03 marcou
uma mobilização de milhares de
mulheres pelo país, acompanhando
uma tendência mundial e um
chamado internacional a partir do
coração do capitalismo, os EUA. O
governo Temer não descansou nem
sequer no período de carnaval,
porque o FORA TEMER ecoou país
afora. No dia 15/03 está prevista uma
grande mobilização contra a Reforma
da Previdência, e categorias como os
professores do Rio do Grande do Sul
já aprovaram indicativo de greve por
tempo indeterminado a partir desse
dia. Frente a um quadro
potencialmente convulsivo, Temer se
apressa em aprovar um decreto de
“Garantia da lei e da ordem”, o qual
lhe dá atribuições para tomar medidas
de segurança excepcionais, como a
de mobilizar o exército no âmbito
interno para exercer o controle social,
utilizar a repressão quando a ordem
se encontre ameaçada por pessoas,
grupos, ou organizações, assim como
realizar tarefas de “inteligência”
(espionagem) e infiltração nos
mesmos. No mesmo sentido, o PT já
havia implementado a “Lei
antiterrorismo” em meio às
multitudinárias mobilizações contra o
aumento do transporte público e a
malversação do orçamento em
benefício das grandes empreiteiras.
Frente à ameaça das greves
policiais em alguns estados e depois
dos brutais massacres nos presídios
da região Norte, Temer decretou a
mobilização do Exército e da Força
Nacional de Segurança, enviando 9
mil soldados ao RJ, 3.200 ao ES, e
outros milhares ao Amazonas,
Rondônia e Natal, colocando a
intervenção militar como único
recurso disponível para enfrentar
cada crise que se abre nos estados
falidos pela bancarrota capitalista.
Estamos na presença de um regime
político extremamente débil e
antipopular (13% de aprovação da
população) que deve levar a cabo um
Plano de Guerra contra as massas e
que para isso começa a empregar as
forças armadas para amedrontar e
intimidar àqueles que saem a lutar por
salário, em defesa do emprego e
contra a carestia de vida.
Em várias cidades proliferam-se os
terríveis e temíveis grupos de
extermínios (GO, PA, SP, RO) e as
milícias paramilitares que dominam
parte da capital do RJ.
A burguesia desencadeou uma
sangrenta guerra civil contra as
massas empobrecidas que resultou
em nada menos que a perda da vida
de 60 mil pessoas no último ano e
mantém em condições desumanas a
640 mil presos, a quarta população
carcerária do mundo.
Lula começou uma campanha
dentro do PT para que se abandone a
tese do golpe e assim concentrar-se
na campanha eleitoral de 2018 que o
levaria à candidatura presidencial,
isso se a operação Lava-Jato antes
não o leve também à prisão. Outro
dos quadros partidários do PT, o ex-
prefeito de São Paulo, Fernando
Haddad, já havia se manifestado à
imprensa que “sustentar que houve
um golpe (de Temer) é um pouco
forte”. Esta posição se fez pública na
edição da revista direitista Veja, do
dia 18/03, na qual em uma entrevista
feita ao senador petista e ex-ministro
de Lula, Humberto Costa, o mesmo
confessou que existe um importante
número de quadros partidários que
propõem diretamente “abandonar o
discurso da denúncia de golpe” e
preparar-se para as eleições
presidenciais de 2018. Na Assembleia
Legislativa do RJ, deputados do PT
aprovaram a privatização da água a
pedido do governador cassado,
Pezão do PMDB.
Vários deputados do PT e o bloco
de 12 deputados do PC do B, seu
histórico aliado, votaram
recentemente pelo candidato de
Temer, Rodrigo Maia (do oligarca
DEM), para presidir a câmara de
deputados. Maia é o homem chave
que comandará a votação nas
próximas semanas de todas as
reformas e medidas reacionárias que
o Executivo enviou ao parlamento
(trabalhista, previdenciária, ajustes e
impostaços).
A CUT petista e o resto das centrais
sindicais (na sua maioria, diga-se de
passagem, abertamente patronais e
cartoriais) nem sequer ameaçam em
convocar uma greve geral para
enfrentar a catástrofe social que se
anuncia sobre a classe trabalhadora e
as poucas medidas de luta que
convoca são isoladas e de aparato.
Deixaram passar milhões de
demissões sem se importarem. Das
bravatas de seu presidente Vagner
Freitas de que iria resistir com as
armas na mão ao golpe parlamentar
passaram ao mais completo
imobilismo frente ao ataque ao ataque
em regra do governo golpista e anti-
operário. Aos trabalhadores urge
3
TRIBUNA CLASSISTA
como uma necessidade vital a
recuperação de suas organizações
sindicais para não continuar pagando
a crise do capitalismo com seus
insuportáveis sacrifícios.
O PT, depois de ter sido expulso do
governo pelos aliados da direita,
ainda pretende se habilitar como um
fator de estabilização política através
de seus parlamentares
“colaboracionistas” e de contenção
dos trabalhadores por meio das
organizações sociais e sindicais que
ainda influencia.
O PSOL começou a negociar com o
PT algum tipo de acordo político para
a eleição presidencial do próximo
ano. Sua direção lançou uma
convocação no dia 12/02 à
conformação de um reagrupamento
da esquerda sobre a base de uma
frente que já existe e que eles
mesmos integram, a “Frente do Povo
Sem Medo”, que é dirigida nada
menos que pela CUT, dezenas de
movimentos sociais cooptados em
seu momento com prebendas pelo PT
e aonde também militam a juventude
do PC do B e a UNE. A esta frente, é
bom lembrar, que o PT caracteriza
como “uma construção de uma
ferramenta ampla e inovadora”. Já,
nas eleições municipais passadas, o
PSOL de São Paulo lançou como
candidata a prefeita, nada menos do
que Luiza Erundina, ex-ministra de
Itamar Franco, expulsa do PT
acusada de “neoliberal”, enquanto
que Marcelo Freixo, no RJ, chamava
a não “demonizar ao capital privado”,
e Luciana Genro, no RS, propunha
um maior efetivo repressivo nas ruas
de Porto Alegre. Impulsiona uma
palavra de ordem de “FORA TEMER,
por um plebiscito solicitando a
antecipação das eleições”, uma saída
eleitoreira, quando o que
corresponderia na atual situação seria
fazer um chamamento pela
organização, preparação e
convocação de um Congresso de
trabalhadores que discuta um Plano
de Luta imediato, a ocupação das
ruas e locais de trabalho, e a
exigência que as centrais sindicais
convoquem a Greve Geral, para
derrotar as reformas anti-operárias
que estão sendo cozinhadas por
estes dias no reacionário Congresso
Nacional.
O PT, depois de co-governar por 15
anos junto com o PMDB e os partidos
evangélicos, alimentando as grandes
negociatas do capital financeiro, do
agronegócio e da pátria construtora e
industrial como Odebrecht, Camargo
Correa, Andrade Gutierres, Itaú,
Bradesco, etc. (Lula se vangloriou
que “nunca os bancos ganharam
tanto dinheiro como durante meu
governo”), agora propõe armar uma
“frente de esquerda”. Expulsos do
governo mediante um golpe por seus
ex-aliados de direita e com vários
dirigentes presos por corrupção e
outros desertando de suas fileiras,
agora buscam sua sobrevivência
política mediante uma aliança com os
partidos da pequena burguesia como
a REDE (da evangélica Marina Silva),
do PDT (uma parte de seus
parlamentares apoiaram o golpe) e do
PSOL.
A esquerda brasileira só pode
reconstruir-se sobre bases socialistas
e revolucionárias, delimitando-se do
PT e dos partidos democratizantes
para colocar-se como uma alternativa
política independente. Como tarefa
imediata deveria convocar um
CONGRESSO DE
TRABALHADORES que discuta um
programa e um plano de ação para
enfrentar a catástrofe social
capitalista que assola nossa classe
com a miséria e a barbárie.
Esta é a radiografia de um regime
econômico, político e social, incapaz
de oferecer uma saída às massas
trabalhadoras pauperizadas e à
juventude no quadro de maior crise
capitalista da História deste país.
Somente um governo dos
trabalhadores da cidade e do campo
poderá por fim a esta catástrofe de
violência, desemprego e pobreza
extrema que ameaça a dissolução de
todo o sistema sobre as próprias
bases do capitalismo a nível mundial.
■
POR UMA GRANDE
PARALISAÇÃO
NACIONAL DE 15M
PARA DERROTAR
O GOVERNO
TEMER E A
REFORMA DA
PREVIDÊNCIA
Panfleto publicado por
Tribuna Classista no 15M
No dia de hoje, 15 de março,
haverá uma grande paralisação em
inúmeras e diversas categorias
nacionais para lutar contra o governo
Temer e contra a Reforma da
Previdência, que se encontra em
votação no Congresso Nacional, onde
o governo tem uma ampla maioria, e
onde procura levar a cabo inúmeras
reformas que, de conjunto,
representam o maior ataque desferido
contra a classe trabalhadora
brasileira, realizados por um único
governo.
Se esse pode ser considerado o
preço a ser cobrado (pela burguesia)
pela fatura (pelo custo) total do golpe
parlamentar, nunca podemos deixar
de lembrar que o governo Temer foi
formado de dentro do Governo Dilma,
de dentro do governo do PT, e que se
ele é resultado de um golpe, também
é o resultado das inescrupulosas
alianças que o PT realizou com os
partidos burgueses mais nefastos.
Grande parte dos atuais governantes
nem precisaram abandonar o governo
Dilma para assumir seus novos
ministérios ou seus novos cargos, já
estavam no governo desde Dilma, ou
até mesmo desde o governo Lula,
para admiração sincera dos ingênuos
e para desilusão dissimulada dos
incrédulos.
Diversas categorias importantes
confirmaram adesão à paralisação de
hoje: rodoviários (motoristas e
cobradores de ônibus) de São Paulo,
metroviários de São Paulo e de Belo
Horizonte, professores do estado de
São Paulo e capital paulista. A CNTE
também já havia aprovado uma
paralisação da categoria para o dia
15/ 03. Estão previstas paralisações
4
NOVA FASE Nº 25 | ABRIL 2017
do Sintusp (trabalhadores da USP),
Sindisef (servidores federais),
Sintrajud (judiciário), bancários,
eletricitários, correios, metalúrgicos e
químicos e outras inúmeras
categorias e setores sociais sairão às
ruas no dia de hoje por todo o Brasil.
De forma geral, tanto os sindicatos,
quanto as centrais sindicais e os
movimentos populares, sem falar das
frentes que reúnem partidos de
esquerda (entre eles o PT) utilizam as
paralisações e mobilizações dos
trabalhadores como uma forma de
barganha e pressão política e não
como uma ferramenta de luta dos
trabalhadores. Nossa perspectiva
deve ser o oposto: organizar a luta,
defender um Congresso nacional dos
trabalhadores e chamar a construção
e organização de uma Greve Geral
que seja discutida em toda a classe
trabalhadora, nos sindicatos, nos
movimentos populares e na
juventude.
As mobilizações e paralisações,
como a de hoje, são
(conscientemente) sempre
descentralizadas, atomizadas, sem
uma organização central, sem um
programa político classista
(independente orgânica e
programaticamente da burguesia e da
pequena burguesia) e sem nenhuma
discussão prévia no seio da classe
trabalhadora. Quando muito são
discutidas apenas em assembleias
dos setores mais organizados. Os
trabalhadores não são convocados
(em sua grande maioria, apenas as
categorias mais organizadas) e
quando são não há discussão nem
organização de sua base. Não são
utilizados os inúmeros instrumentos
que os sindicatos, as centrais, os
movimentos populares e até mesmo
os partidos de esquerda possuem,
desde sua militância até seus
recursos materiais (imprensa, carros
de som, etc) para convocar uma
paralisação massiva. Quanto mais
desorganizada uma luta, tanto melhor
para a burocracia, de um lado, e para
o governo e a burguesia, do outro.
Diante do maior ataque à classe
trabalhadora em toda sua história a
burocracia impede a centralização de
todos os setores (sindicatos, centrais,
movimentos populares, juventude,
mulheres, etc) em um movimento de
envergadura que aponte para a
organização e construção de uma
greve contra o governo Temer.
Os diversos setores da burocracia
sindical e dos partidos de esquerda
(principalmente o PT) tentam desse
modo controlar as lutas e
manifestações populares e dos
trabalhadores. Impedem que a
mobilização tenha um caráter
independente ou palavras de ordem e
programas próprios. Desse modo
preparam hoje as derrotas políticas
do amanhã.
A simples possibilidade de que os
trabalhadores organizem uma greve
geral contra o governo e suas
reformas antioperárias é bloqueada
pela quase totalidade das correntes
da esquerda e dos movimentos
populares ou sindicais. Esse bloqueio
é feito tanto de forma direta, quanto
de forma indireta, ou seja,
defendendo de forma abstrata a greve
geral, mas abortando-a na luta
concreta.
A organização dos trabalhadores,
tanto para lutar contra o governo
Temer e suas reformas, como para
colocar em pé uma greve geral, como
uma arma de defesa contra os
ataques que a burguesia e seu
governo estão deferindo contra toda
população, é o primeiro passo para
podermos enfrentar a atual situação.
Tribuna Classista defende um
Congresso dos Trabalhadores,
organizado nacionalmente, para
discutir um programa de luta contra o
atual governo e de saída para a crise
atual. Defendemos também que a
atual paralisação de 15 de Março seja
vitoriosa e seja um impulso para que
os trabalhadores ultrapassem as suas
atuais direções (da esquerda e dos
sindicatos) e comecem a lutar pela
organização de uma greve geral
contra o governo Temer e
consequentemente suas reformas
reacionárias, levadas cabo pela
burguesia (e sua imprensa) e pelo
Congresso Nacional.
Uma greve geral que seja
organizada metodicamente em cada
categoria e sindicato. Com plenárias,
apoiada pelos movimentos populares
e da juventude e que impulsione a
organização de um Congresso
nacional da classe trabalhadora.
Em síntese, defendemos que a
organização e a luta dos
trabalhadores seja uma forma de
conscientização política. Não
podemos concordar que numa
situação de gravidade como a atual a
luta dos trabalhadores seja
manipulada como barganha de
interesses, precisamos da total
independência dos trabalhadores
diante da burguesia para podermos
avançar na luta e na organização dos
trabalhadores.
A independência dos trabalhadores
é o primeiro passo para sua
organização. Um Congresso dos
trabalhadores é necessário para
organizar a luta, discutir e aprovar um
programa que aponte uma superação
classista para a crise atual. E uma
greve geral nacional e massiva é a
única arma imediata para iniciar a luta
contra o governo Temer, governo que
representa o grande capital e a
grande burguesia.
Organizar as lutas, clarificar o
debate político e construir um
programa político dos trabalhadores e
consequentemente um partido político
que o defenda é uma tarefa árdua,
porém urgente e necessária.
Que a classe trabalhadora entre em
cena no dia de hoje e lute claramente
pelos seus interesses, imediatos e
históricos. ■
TRABALHADORES
GANHAM AS RUAS
PARA LUTAR
CONTRA
A REFORMA DA
PREVIDÊNCIA E O
GOVERNO TEMER
David Lucius
Um protesto de grande
envergadura, com mobilizações em
todas as capitais do país e que
paralisou São Paulo, onde quase 200
mil pessoas foram às ruas na Avenida
Paulista (principal avenida da cidade),
Rio de janeiro, onde cerca de 100 mil
pessoas protestaram, Belo Horizonte,
onde mais de 50 mil pessoas foram
se manifestar contra a reforma na
previdência social, Curitiba, onde
cerca de 50 mil pessoas tomaram o
Centro Cívico, no Recife, onde 40 mil
manifestantes foram às ruas, e em
Salvador onde se reuniram quase 30
5
TRIBUNA CLASSISTA
mil pessoas. Outras capitais como
Belém, Porto Alegre, Natal, Brasília,
Goiânia tiveram atos menores.
As manifestações ocorreram por
todo país sem exceção. Além disso
houveram manifestações de peso em
cidades menores, como Juíz de Fora,
que reuniu 30 mil pessoas, São José
dos Campos, ABC paulista, Santos e
outras cidades também tiveram
manifestações expressivas. O total de
manifestantes ultrapassou o número
de 500 mil pessoas. Em sua grande e
esmagadora maioria foram os setores
mais organizados dos trabalhadores
que saíram às ruas.
Destaque para os professores
municipais e estaduais em São Paulo,
professores universitários (com
destaque para a USP), servidores
públicos e judiciário, metroviários e
rodoviários (condutores e cobradores
de ônibus urbanos), bancários,
metalúrgicos, petroleiros,
eletricitários, correios, os movimentos
de moradia (MLB e MTST).
Os atos foram convocados de forma
tímida (para dizer o mínimo) pela
burocracia sindical, pelos sindicatos,
pelas centrais sindicais e pela
esquerda. Não houve plenárias
abertas para organização da
paralisação ou coisas do gênero. Os
sindicatos não colocaram seu peso na
mobilização e nem mesmo as centrais
sindicais. Não houve panfletagens ou
cartazes convocando a paralisação e
mesmo nas redes sociais não houve
uma grande campanha de divulgação.
Houve uma grande adesão das
categorias mais organizadas
enquanto a burocracia procurou
"controlar" sua base para para que
nada saia de seu "controle".
A discussão de organizar uma
grande greve geral para barrar as
reformas reacionárias do governo
Temer (com destaque para a reforma
previdenciária) e para os
trabalhadores lutarem pela
manutenção de seus direitos (sob os
ataques da reforma trabalhista e da
terceirização) não foi discutida
amplamente ou apresentada pela
esmagadora maioria dos sindicatos,
centrais sindicais e até mesmo na
esquerda. Raras foram as exceções.
Por detrás dessa política de
desarmar a classe trabalhadora
diante do maior ataque já desferido
por um governo aos seus direitos
adquiridos, está o medo de que haja
mobilizações de envergadura
multitudinária, como as de 2013, que
ainda assombram a burocracia e
burguesia. A estratégia calculada pela
burocracia é mobilizar até o ponto de
incomodar o governo e a burguesia,
mas não ao ponto de derrotar o
governo.
Apesar disso tudo as mobilizações
tiveram um grande apoio das
categorias mais organizadas dos
trabalhadores, principalmente dos
setores de servidores públicos.
O grande ponto positivo das
mobilizações ocorridas foram que
quem foi as ruas foi a classe
trabalhadora, uma parcela pequena,
mais organizada, mais mobilizada,
mas quem foi às ruas foi a classe
trabalhadora. Isso colocou o governo
e a burguesia na defensiva de um
lado, e, do outro, a burocracia sindical
acendeu o seu sinal de alerta.
A imprensa burguesa, grande
organizadora e instigadora do golpe
parlamentar, tentou a todo custo jogar
a realidade para "debaixo do tapete".
As mobilizações tiveram pouca
cobertura da mídia, tentaram a todo
custo não jogar gasolina em plena
fogueira.
A esmagadora maioria dos setores
chave da burguesia estão apoiando
todas reformas do governo Temer,
com destaque para a imprensa que
tenta a todo custo passar a imagem
de que a população apoia essas
reformas. Há divergências e
diferenças entre seus setores
intestinos, mas de um modo geral o
grande capital ataca de foma conjunta
e tira suas diferenças internas na
política particular.
Diga-se de passagem que o apoio
popular ao governo Temer é de
menos de 10%, menor ainda que o de
Dilma. A burguesia e sua imprensa
sabem que estão numa situação com
muito pouca margem de manobra. O
governo detém o apoio de cerca de
dois terços do Congresso, somente
uma mobilização que atingisse
profundamente a classe trabalhadora
e a esmagadora maioria da
população poderia colocar o governo
e o Congresso contra a parede.
A estratégia do governo Temer, em
primeiro plano, é a de aprovar todas as
reformas reacionárias, com o apoio do
Congresso, se ocorrerem mobilizações
como as de 2013, que possam derrotar o
governo, o próprio governo estaria
acabado, literalmente falando.
De qualquer forma o impacto de
mobilizações fortes como a de 15 de
março ainda não está dado. O único
caminho de vitória para os
trabalhadores é desvencilhar-se de
suas antigas direções e procurar um
caminho próprio, formar uma nova
direção.
Não haverá vitórias contra o
governo Temer sem uma organização
massiva que coloque a grande
maioria da população nas ruas.
Somente a classe trabalhadora, a
classe operária tem condições impor
uma derrota à burguesia e ao seu
governo. Só esse caminho poderá
abrir uma nova perspectiva de vitórias
para a classe operária e ultrapassar
os limites impostos pela imensa crise
que se abate nesse país. ■
GREVE RECHAÇA
O PACOTE :
VITÓRIA DOS
TRABALHADORES
E DA POPULAÇÃO
DE FLORIANÓPOLIS
Alfeu Goulart
TC Santa Catarina
Foi encerrada no dia vinte e três de
fevereiro, ao completar trinta e oito
dias, a greve de maior adesão dos
trabalhadores da história do serviço
público de Florianópolis, alcançando
cerca de 90% da categoria, que
possui um contingente total em torno
de doze mil trabalhadores; ou seja,
aderiram ao movimento em torno de
dez mil servidoras e servidores. Em
resposta ao pacotaço do prefeito
Gean Loureiro (PMDB), o movimento
iniciado em 17 de janeiro pelos
trabalhadores da Saúde, Obras e
Assistência Social contou com a
adesão dos professores do magistério
e ACTs (contratados) a partir de 8 de
fevereiro. 80% do contingente
grevista formado por aguerridas
mulheres lutadoras, aposentados e
aposentadas. Pessoas que estavam
em férias também vieram lutar contra
o projeto de ajuste , unificando a luta
e impondo a primeira derrota política
do prefeito ajustador que foi obrigado
a recuar e restituir os direitos
6
NOVA FASE Nº 25 | ABRIL 2017
retirados dos servidores com a
votação fraudulenta do dia 24 de
janeiro sob forte aparato policial e a
guarda municipal que atacaram os
manifestantes com bombas de gás,
spray de pimenta e cachorros,
transformando os arredores da
Câmara Municipal no centro da Ilha
em verdadeira zona de guerra.
Mas não adiantou, os trabalhadores
juntamente com o comando de greve
e a direção do SINTRASEM
organizaram a resistência aos
covardes ataques do aparato
repressivo, que incluiu o pedido de
prisão da diretoria do sindicato e sua
destituição, decretação de ilegalidade
da greve, etc., e derrubaram o
pacotaço de verão do aliado de
Michel Temer em Santa Catarina, que
foi obrigado pela força da greve a
negociar a restituição dos direitos,
senão em sua totalidade, na pior da
hipóteses, os mais importantes para a
categoria como o PCCS ( Plano de
Cargos e Salários), anuenio e trienio,
adicional noturno , pagamento de
horas extras, férias de 65 dias das
auxiliares de sala, o que constitui
quase a totalidade do que havia sido
retirado. No entanto houveram perdas
como a redução da licença premio de
noventa dias para quarenta e cinco e
licença não remunerada de dois anos
para um com possibilidade de mais
um . Há que se ressaltar a
fundamental importância da
participação das comunidades e da
população em geral que apoiaram a
luta em defesa do serviço público,
ficando ao lado dos grevistas e
entenderam que o que estava em
jogo era a liquidação dos serviços de
saúde, educação e obras públicas.
Pressionado, o prefeito que se
escondeu e se negava a negociar a
revogação do seu "pacote" aprovado
em tempo recorde em meados de
janeiro, foi pessoalmente em reunião
de conciliação proposta pelo Tribunal
de Justiça às vésperas do Carnaval e
negociou com a comissão de
negociação composta pelos
representantes das forças políticas
que atuam na categoria a
reincorporação da maioria dos direitos
históricos. A proposta foi levada ao
comando de greve que debateu e
deliberou pelo indicativo de aceitação
para a assembleia realizada no dia
vinte três na praça Tancredo Neves,
onde compareceram cerca de oito mil
pessoa que deliberaram pelo
encerramento da greve, com oito
votos contra e três abstenções.
Também votou-se a participação na
greve mundial do Dia Internacional da
Mulher, 8 de março e na paralisação
do dia 15 de março que está sendo
convocada pela CUT além de manter
vigília permanente até a aprovação do
acordo pela câmara de vereadores, o
que deve acontecer em até 30 dias,
bem como Estado de Greve e a
retomada do movimento em caso de
descumprimento do por parte do
executivo. Houve acordo em torno
destes encaminhamentos pelas
forças políticas, avaliou-se que a
categoria saiu unida e fortalecida e já
se prepara para a próxima batalha: a
data base, que prenuncia o dissídio
coletivo, em maio.
Nós do Tribuna Classista
entendemos que foi uma vitória diante
das circunstancias e da conjuntura
nacional o recuo do prefeito, pois
Florianópolis foi o laboratório
experimental do ajuste do governo
federal após as eleições municipais
de outubro de 2016, a primeira capital
a levar adiante o projeto de liquidação
do Serviço Publico contido na
aprovação da PEC 55 pelo congresso
nacional em novembro, que congela
por vinte anos o orçamento na
saúde , educação e onde o PMDB de
Temer venceu as eleições.
A greve da ilha mostra o caminho
aos trabalhadores de outras
prefeituras de Santa Catarina: em
assembleia realizada em Jaraguá do
Sul, um importante polo industrial de
Santa Catarina, os trabalhadores
votaram para iniciar a greve dia 06 de
março contra o pacote do prefeito
daquela cidade também do PMDB ,
assim como em Joinville também
estão acontecendo assembleias. A
direção do SINTRASEM esteve
presente em Jaraguá do Sul. Está
colocada a perspectiva concreta da
convocação de um Congresso
Nacional da Classe Trabalhadora com
delegados eleitos nos locais de
trabalho para organizar a resistência
aos ataques dos capitalistas com a
elaboração de um plano de lutas
visando a construção de uma GREVE
GERAL, a arma maior que a CLASSE
TRABALHADORA dispõe para lutar
contra a exploração dos capitalistas .
QUE OS CAPITALISTAS PAGUEM
PELA CRISE!
Nota: Na ocasião da criminalização
do movimento com pedido de prisões
dos diretores , entidades e pessoas
do mundo todo enviaram cartas de
solidariedade ao movimento grevista
de Florianópolis, pelas liberdades
democráticas e sindicais: desde a
Espanha, Canadá, França, Bélgica, El
Salvador, Iraque, Alemanha, Grã-
Bretanha, Dinamarca, entre outras
localidades. Importantes entidades no
Brasil se pronunciaram como: MST,
CONFETAM, CNQ-CUT Sindicato dos
Petroleiros-RJ, CUT-SC, SINTE-SC,
SINSEJ Joinville, Fábrica ocupada
Flaskô, Ocupação Vila Soma Sumaré
SP, Associação de Moradores
Adhemar Garcia (Joinville), DCE do
IELUSC, além de diretores do
Sindicato dos Ferroviários da Bahia ,
Sindicato dos Ferroviários de Bauru e
Mato Grosso do Sul, Sindicato dos
Vidreiros de São Paulo, Federação
Nacional dos Petroleiros, PCB,
Partido Obrero da Argentina,
CSPCONLUTAS, CTB entre outros.
■
400 BANCÁRIOS
DO BANRISUL
VOTAM MOÇÃO DE
APOIO AOS
TRABALHADORES
DA AGR
*
MOÇÃO DE APOIO
AOS
TRABALHADORES
DA AGR-CLARIN
Guilherme Giordano
No dia 18/03 ocorreu uma
Assembleia Nacional dos bancários
do Banrisul, convocada e dirigida pela
Federação dos Trabalhadores em
Instituições Financeiras - FETRAFI-
RS, Sindicato dos bancários de Porto
7
TRIBUNA CLASSISTA
Alegre e região e sindicatos do
interior para discutirem e deliberarem
contra a privatização do banco
estadual por parte do governo Sartori
do PMDB que está na ordem do dia,
tendo em vista a situação de falência
que se encontra não somente o
Estado do Rio Grande do Sul, mas o
estado capitalista em todas as suas
unidades da federação. A
privatização, nesse sentido,
corresponde a uma tentativa da
burguesia em recuperar essa situação
falimentar entregando as empresas
estatais para a chamada iniciativa
privada.
Os militantes apresentaram uma
moção de apoio para o plenário de
400 bancários presentes em defesa
dos 380 operários-gráficos demitidos
da AGR-CLARIN, tendo sido a
mesma aprovada unanimemente.
Assim uma das mais importantes
categorias de trabalhadores, a
categoria bancária, incorpora-se à
campanha internacional de apoio e
solidariedade para que aconteça a
reincorporação imediata dos 380
trabalhadores demitidos.
Viva a unidade internacionalista dos
trabalhadores da América Latina!
MOÇÃO DE APOIO AOS
TRABALHADORES DA AGR-CLARIN
A Assembleia Nacional dos bancários
do Banrisul, a FETRAFI-RS,
Sindbancários de Porto Alegre e
região e sindicatos do interior reunida
no dia 18/03, incorpora-se às adesões
ao apoio e solidariedade internacional
aos 380 operários-gráficos demitidos
da AGR-CLARIN, na Argentina.
MOÇÃO DE APOIO AOS
TRABALHADORES DA AGR-CLARIN
Propomos que a Assembleia
Nacional dos bancários do Banrisul, a
FETRAFI-RS, Sindbancários de Porto
Alegre e região e sindicatos do
interior ocorrida no dia 18/03, se
incorpore às adesões ao apoio e
solidariedade internacional aos 380
operários-gráficos demitidos da AGR-
CLARIN, na Argentina.
A solidariedade com a luta dos
trabalhadores argentinos da AGR-
Clarín ultrapassou as fronteiras do
nosso país hermano e vizinho, e
passou a somar importantes apoios
internacionais. A partir da convocação
feita pelos trabalhadores depois de
dois meses de ocupação da fábrica,
organizações e personalidades de
diferentes países estão se
pronunciando. Além disso, estão
sendo organizadas ações de
denúncia frente às embaixadas e
consulados argentinos reclamando
que se atenda a reivindicação dos
trabalhadores.
No Chile, aonde a patronal vem
substituindo a produção da unidade
de Pompeya, a campanha tem uma
importância especial. Ali, os
trabalhadores pedem à CUT (a
central operária) e aos sindicatos
gráficos chilenos uma colaboração
fundamental: rechaçar a elaboração e
transferência da revista “Viva” e em
geral de toda a produção que envia o
Clarín com o único objetivo de
destruir a organização e luta que vem
desenvolvendo os trabalhadores da
AGR-CLARIN.
As primeiras adesões de dirigentes
sindicais e estudantis no Chile (da
Confederação de Trabalhadores do
Setor Privado-CEPCH, do Sindicato
de Trabalhadores Universitários de
Santo Tomás, do Centro de
Estudantes da UTEM, etc.), e o ato de
denúncia dos companheiros do POR -
Partido Operário Revolucionário
frente à embaixada, são o princípio de
uma campanha que se une ao
ascenso das lutas do movimento
operário naquele país latino-
americano.
A solidariedade das organizações
de outros países da região também é
de vital importância, já que não se
descarta que a empresa utilize
futuramente gráficas de algum país
vizinho. Tanto em Montevidéu, como
em Brasília estão sendo preparados
atos em frente à embaixada
argentina. Além disso, no Uruguai, o
Sindicato de Artes Gráficas junto com
ADEOM (do PIT-CNT) enviaram uma
reivindicação ao embaixador exigindo
a reincorporação dos trabalhadores.
Na mesma linha se pronunciou a
Federação Unitária de Sindicatos
Bolivarianos do Estado de Carabobo
(Venezuela), o Sindicato de
servidores públicos da previdência,
saúde e trabalho do Estado de Rio
Grande do Sul (Brasil), e os principais
dirigentes sindicais da imprensa na
Grécia. Companheiros do sindicato da
borracha do México e outras figuras e
ativistas internacionais também se
solidarizaram.
A colaboração com o fundo de luta
é outra contribuição vital com que
muitos companheiros e organizações
de outros países podem ajudar.
O chamado a internacionalizar esta
luta é um exemplo de consciência de
classe. “Com o que não conta o Clarin
é que os capitalistas sempre
concorreram em todo o mundo, e
quem temos a tradição de
solidariedade internacional somos
nós, os próprios trabalhadores”.
Se os trabalhadores da AGR-Clarín
ganham esta luta, será um duro golpe
na tentativa de ajuste que o governo
de Macri, na mesma linha que os
governos capitalistas de todo o
mundo, de descarregar a crise
capitalista contra a classe
trabalhadora.
VIVA A UNIDADE
INTERNACIONAL DOS
TRABALHADORES!
■
ENTREVISTA
COM FREDY ZAPELLONI,
MILITANTE DO
COLETIVO TRIBUNA
CLASSISTA
Concedida ao jornalista
Renato Dias, de Goiás, que está
reunindo um vasto material de
diversas organizações trostkistas
no Brasil para um futuro livro
sobre o assunto
P - O que é o Tribuna Classista?
Qual sua história, como foi
formado?
R - O Tribuna Classista, TC, foi
formado por militantes que tiveram
várias experiências políticas
anteriores, no movimento operário e
popular, em especial por militantes
que tem como referência a trajetória
do Partido Obrero da Argentina, de
quem os membros do TC são
simpatizantes, acompanhando sua
trajetória e sua luta de longa data,
tentando estruturar um pequeno
núcleo a partir das experiências que o
trotskismo teve na América Latina
nesses últimos 50 anos. Para nós, o
PO é um dos resultados mais
significativos da experiência
acumulada pela esquerda classista e
revolucionária, assim como da luta
dos trabalhadores nesse continente.
Lógico que não somos uma seita e
sendo assim toda essa experiência
deve ser estudada, debatida e
8
NOVA FASE Nº 25 | ABRIL 2017
discutida a partir da práxis no
movimento real das massas, e do
movimento operário, social e popular
internacional e brasileiro, o qual tem
diversas matizes e no qual tentamos
dialogar de forma crítica, colocando
nosso ponto de vista programático.
Tentamos fazer um balanço crítico
da trajetória do trotskismo e do
marxismo para utilizar essa análise
como ferramenta em nossa
elaboração programática e em nossa
interpretação da realidade. O PO para
nós acaba sendo uma referência
política por ter conseguido tirar as
conclusões necessárias do difícil
processo histórico que a América
Latina atravessou nesses últimos 50
ou 60 anos.
Somos internacionalistas e para nós
as experiências acumuladas desse
partido conseguiram dar um norte, um
escopo a diversos problemas teóricos
e práticos que se apresentam para a
esquerda. Por outro lado temos que
seguir nosso caminho e somente
aprofundando a análise do marxismo
sobre a realidade brasileira e mundial
é que vamos conseguir elaborar uma
política concreta para a difícil e
peculiar realidade nacional, primeiro
passo se quisermos nos transformar
em uma grande corrente ou
organização de esquerda. Por
enquanto somos apenas um pequeno
embrião, um pequeno coletivo que
engatinha na dura selva da luta de
classes, num dos períodos mais
complexos da história política
brasileira.
P - Como vocês tiveram contato
com o PO da Argentina?
R - No inicio da sangrenta ditadura
militar argentina, por volta de
1977/1978, uma parcela significativa
de militantes do Partido Obrero
(naquela época Política Obrera) se
desloca clandestinamente para o
Brasil na tentativa de salvar as vidas
de seus militantes, de sua direção e
manter a estrutura partidária que
estava ameaçada. Naquela época
participavam do CORQI (uma
tendência internacional trotskista),
depois houve um racha internacional
e formaram a TQI junto a outros
partidos latino-americanos (década de
80) e posteriormente a CRQI (ano
2004 em diante) com partidos da
América Latina e da Europa.
Durante todo esse período, o PO
sempre teve uma constante relação
com a esquerda classista brasileira,
participando de inúmeros debates,
congressos e atividades nacionais e
internacionais.
Mais recentemente, o Partido
Obrero e o PT do Uruguai
convocaram uma Conferência Latino-
Americana de partidos da esquerda.
Por essa época (ano passado) o TC
já estava engatinhando seus
primeiros passos e participamos
diretamente dessa atividade
internacional, debatemos e
assinamos a tese final da
Conferência.
O PO atua na Argentina construindo
e impulsionando a FIT (Frente de
Esquerda e dos Trabalhadores) que
reúne os principais partidos da
esquerda classista (e trotskista) em
seu pais. A FIT é hoje uma frente
única massiva da esquerda que
reuniu no final do ano passado quase
trinta mil trabalhadores no estádio de
Atlanta, num ato político totalmente
independente dos vários matizes da
burguesia, tanto da direita
(macrismo), como o de esquerda
nacionalista (kirchnerismo,
peronismo, etc).
Se pensarmos em fazer uma
analogia com o que há aqui no Brasil:
a esquerda nacional até hoje não
conseguiu se organizar de forma
massiva e independente do PT (um
partido de origem pequeno-burguesa
que efetua na prática uma política
burguesa pró-imperialista em seus
governos, com privatização do pré-
sal, manutenção de altos juros para o
pagamento dos títulos dívida pública,
e diversas políticas que sempre foram
de encontro aos interesses do
imperialismo, etc.) e de sua influência
nos sindicatos, movimentos populares
e sociais.
Conseguimos assim ver a
profundidade da política que o PO
construiu na Argentina, que procura
separar a todo custo os trabalhadores
dos movimentos burgueses ou
pequeno-burgueses que tentam, de
todos os modos, influenciar os
trabalhadores e a classe operária. A
luta pela independência política dos
trabalhadores (e de sua direção) das
outras classes sociais é o primeiro
objetivo que um partido político
revolucionário e classista procura, a
qualquer custo, realizar.
Denunciamos veementemente as
políticas de frente popular ou de
colaboração de classes na esquerda.
Essa é a raiz causadora das grandes
derrotas que os trabalhadores
sofreram e ainda sofrem no Brasil e
no mundo.
P - Onde está estruturado o TC?
R - Somos um pequeno coletivo
que ainda procura dar seus primeiros
passos. Estamos iniciando a nos
organizar em alguns estados da
federação. Temos um blog
(http://tribunaclassista.blogspot.com.b
r/) e uma pequena sede no RS
(Travessa do Ouvidor 200 / Porto
Alegre/RS) e estamos tentando nos
estruturar aos poucos, conforme
formos crescendo e nos inserindo no
movimento real das massas. Não
somos um agrupamento que tenta
vender uma propaganda enganosa
(tipo que somos grandes, ou que
dirigimos não sei quantos sindicatos,
etc., etc.). Somos pequenos, não
temos vergonha de falar que somos
um pequeno grupo com pouca
inserção nas massas, procuramos ter
uma política correta e uma análise
concreta da realidade, com isso
preparamos nosso caminho para um
crescimento sólido no futuro.
P - Em que categorias já atuam?
R - Nos professores,
previdenciários, servidores públicos,
movimentos populares, juventude.
Como disse anteriormente, somos um
pequeno coletivo e estamos iniciando
nossas modestas atividades.
P - O que diferencia vocês de
outras correntes?
R - A análise da crise histórica do
capitalismo (que o PO da Argentina já
elaborava e analisava antes mesmo
da crise de 2008 e do qual
desenvolveu uma farta elaboração
teórica da qual compartilhamos) que
desenvolve uma tendência
catastrofista, ou seja que o
capitalismo em sua fase de declínio
não oferece à humanidade nada mais
do que a sua desintegração
civilizatória, e de todo um sistema
mundial de produção, arrastando
consigo toda uma decomposição e a
barbárie que já podemos ver sem
nenhum esforço.
A máxima de Rosa Luxemburgo,
"socialismo ou barbárie" é mais atual
do que nunca, a análise de Trotski
sobre a "crise de direção do
proletariado" (contida no Programa de
Transição e em outros escritos), ou
seja, que antes de tudo só chegamos
a esse ponto de involução e
decadência devido às inúmeras
9
TRIBUNA CLASSISTA
derrotas que a esquerda e o
movimento operário sofreram, e só
sofreram essas derrotas devido a que
as direções burocráticas e pequeno-
burguesas colaboraram com a
burguesia no sentido de amarrar,
esmagar e derrotar os movimentos
sociais da esquerda e dos
trabalhadores, quebraram esse
movimento a partir da chamada frente
popular, uma frente que se expressa
na colaboração estratégica da
esquerda com a pequena burguesia
(a chamada "sombra da burguesia")
ou diretamente com o grande capital,
a burguesia (em suas diversas
matizes e setores) e, portanto, com os
setores políticos mais reacionários.
No Brasil, a frente popular inicia como
uma frente do PT com partidos
pequenos burgueses (1989) e depois
transforma-se numa aliança com
partidos do grande capital (PMDB e
seus acólitos).
Se tivesse que resumir diria que a
análise da crise mundial do
capitalismo anuncia uma grande
bancarrota, e consequentemente,
uma catástrofe histórica; o
proletariado, a classe trabalhadora,
precisa de uma nova direção, com
partidos independentes da burocracia,
da pequena-burguesia e da burguesia
nacional e internacional; é necessária
a construção de partidos classistas,
de massas e revolucionários em cada
país e a reconstrução da IV
Internacional para unificar, centralizar
e dirigir a luta mundial contra o
capitalismo.
P - Como veem a situação atual no
Brasil?
R - No Brasil somente houve um
golpe parlamentar devido a que o PT
colaborou com esses setores
burgueses e patronais. O governo
Temer nada mais é do que o Governo
do PT, o governo Dilma, sem o PT, e
com um pouco de perfumaria do
PSDB. Uma parte considerável dos
representantes burgueses que estão
nesse governo já estiveram num
governo anterior do PT. O PT utilizou
seu antigo capital político numa
aliança com partidos burgueses
reacionários, o bloco político
parlamentar que votou pelo
impeachment e pelo golpe
parlamentar foi, em grande parte,
eleito em alianças com o próprio PT,
utilizando-se do capital político do PT.
Para se chegar a um golpe assim foi
fundamental o PT desorganizar os
setores mais combativos (com o
auxílio da burocracia sindical)
desviando as lutas políticas para
meras pugnas eleitorais e a
desmoralização do partido (e
consequentemente de seus militantes
e simpatizantes) a partir de grandes
negócios de corrupção com o grande
capital (empreiteiras) e seus partidos.
A grande mídia burguesa que
manipulou informações e preparou o
golpe foi a mesma que o PT não quis
enfrentar quando chegou ao poder.
Uma política de derrotas, que foi
construída não para o enfrentamento,
mas para colaborar com o grande
capital, seus agentes e seus partidos
políticos.
Se operações da PF e do judiciário
(como a Lava-Jato) colocam as
entranhas dessas relações
promiscuas (grandes negócios
burgueses) entre a esquerda e o
grande capital, temos sempre que
questionar os interesses que estão
ocultos por detrás de tudo isso. Em
nosso país temos prisão apenas para
alguns "bois de piranha" que
realizaram negócios escusos com
empreiteiras e grandes grupos
empresariais, mas outros políticos
são "poupados" e até mesmo
"blindados", principalmente os que
participaram das privatizações. Aqui,
os torturadores e assassinos do
antigo regime militar são anistiados,
enquanto é notório que essas
empreiteiras enriqueceram e
transformaram-se no que são hoje
nos bastidores desse regime. O PT
apenas deu continuidade a um
esquema que já existia com a
burguesia e seus regimes políticos
anteriores, devemos nos questionar
porque apenas alguns personagens
são os "vilões" dessa história.
Agora, não vamos com isso poupar
o PT, o PT paga o preço histórico de
sua integração com a política
burguesa. Mas dentro de toda História
temos que saber ler e interpretar o
enredo para compreender o papel de
cada classe social no jogo político e
na sua trama.
P - Para vocês, o que é o governo
Temer?
O governo Temer, fruto de um
gigantesco golpe que agora tentam
ocultar, expressa seu raivoso ataque
às conquistas históricas e imediatas
das massas, é um governo burguês,
pró-imperialista, que governa a partir
de um acordo entre as diversas e
principais frações burguesas, que
detém a maioria parlamentar e
mesmo dentro no STF (pelo menos
por enquanto, pois há inúmeras
divergências que podem explodir a
qualquer momento, colocando os
acordos tácitos e explícitos na lata do
lixo), mas não devemos esquecer que
todas as reformas reacionárias
(previdência, trabalhista, ajustes, etc.)
foram iniciadas, em menor grau, nos
governos anteriores do PT. O golpe
parlamentar, do impeachment, é a
expressão de uma ação de classe da
burguesia para levar a cabo o que o
PT não conseguiu executar em treze
anos, a burguesia sentiu que a crise
econômica não era uma marolinha e
decidiu pedir a conta da fatura à
classe trabalhadora e aos setores da
classe média. Como o PT não tinha
capital político suficiente (devido as
inúmeras crises de corrupção, fruto
da colaboração de classes com os
setores políticos mais delinquentes e
corrompidos da antiga política
nacional), transformaram-no em bode
expiatório de toda crise da qual passa
nosso país, mas isso não livra a sua
cara. O que temos é a burguesia
fingindo-se de honesta para dar um
golpe muito mais profundo através do
governo Temer, em torno do qual
todos os partidos fundamentais do
regime político se associaram com
vistas a saquear as massas e o
Estado, preservando o sistema de
corrupção (grande negócio da
burguesia para saquear o patrimônio
público e aumentar os seus lucros).
A diferença econômica dos dois
governos é a escala: enquanto o PT
tentava utilizar o Estado para distribuir
lucros ao grande capital com uma
mão, dava migalhas às massas com a
outra. Já o governo Temer utiliza as
duas mãos para saquear as massas e
encher os bolsos da burguesia.
O governo do PT era um governo
que antes e durante a grande crise
capitalista de 2008, a burguesia podia
ainda se dar ao luxo saquear de
forma "civilizada". Agora, com o
governo Temer, a burguesia já
assumiu que a crise é profunda
demais, e está saqueando de forma
"selvagem", ou seja, abrupta. Mas é
importante ter claro que os mesmos
setores que hoje posam de inimigos
foram aliados há pouco tempo e, com
certeza, negociam nos bastidores.
O encontro de Serra, Temer,
Sarney, Renan, FHC e Lula não foi
apenas uma cordialidade de "velhos
amigos", durante a trágica morte de
10
NOVA FASE Nº 25 | ABRIL 2017
dona Marisa Letícia. Lógico que há
todo um acordo nos bastidores, com
vistas a estabilizar a crise política e
legitimar o golpe parlamentar do
governo Temer e todas as suas
reformas impopulares. Só não vê
quem não quer.
O Brasil está hoje, provavelmente,
na vanguarda mundial da retirada de
direitos e na opressão à classe
trabalhadora. O governo Temer é fruto
de um grande golpe onde estão
destruindo todas as conquistas e os
parcos direitos que as massas
conquistaram no último século.
A burguesia e seus meios de
comunicação estão unidos na defesa
desse governo e desse saque. A
esquerda não luta, apenas se opõe
(com seus interesses eleitorais
mesquinhos), oposição essa que não
contém uma defesa dos interesses
imediatos, quanto mais históricos, das
massas e da classe trabalhadora. Um
exemplo disso é que não há nenhum
setor significativo ou numeroso da
esquerda que defenda a anulação de
todas as reformas e ajustes do
governo golpista de Michel Temer e a
investigação e prisão dos que estão
negociando os direitos das massas
nos bastidores do balcão de negócios
do grande capital e de todos os seus
acólitos (que tramaram, organizaram
e aprovaram o impeachment).
A estratégia do PT é deixar o
governo Temer mostrar que o governo
do PT não era "tão ruim" (comparado
com o atual) e eleger Lula em 2018,
não para mudar algo, mas para
manter tudo que está ai, como fez o
PT com as privatizações de FHC. É a
legitimação do golpe, pela via
eleitoral.
P - Como veem toda essa crise?
R - Como marxistas só podemos
ver a crise brasileira como parte
integrante da crise mundial. Uma
crise mundial do capitalismo, que ao
se localizar num período de declínio e
decadência do sistema mundial de
relações sociais e dominação coloca
claramente que o capitalismo não tem
mais capacidade para sustentar um
"colchão social", ou seja, uma política
de reformas e seguridade social que
consiga dar uma perspectiva, mesmo
que longínqua, ao trabalhador e a
setores da pequena burguesia e da
classe média. O capitalismo está
agonizando, o Brasil apenas
demonstra isso de forma mais
profunda devido a seu
desenvolvimento desigual e
combinado (nunca concluiu sua
revolução burguesa, sua reforma
agrária e até mesmo ainda persistem
características econômicas e sociais
de seu período colonial amalgamados
com novas tecnologias e relações
sociais capitalistas).
Sem uma revolução social que
coloque abaixo o sistema capitalista
no próximo período, a sociedade
brasileira e mundial, ou seja, a
humanidade estará caminhando
abruptamente para um abismo e para
uma catástrofe social.
Toda essa polarização social que
vivenciamos nada mais é do que o
organismo social capitalista entrando
em putrefação. A transpiração que
emana o corpo social (sociedade) em
decomposição acarreta uma grande
quantidade de movimentos
reacionários que pensam unicamente
em sua sobrevivência individual, sem
conseguir refletir para onde caminha
a sociedade. São setores que
emanam moral de forma acentuada,
mas que não tem uma análise crítica,
histórica e coerente sobre a realidade
política. São setores reacionários que
querem que a roda da história volte
para trás. Órfãos da ditadura militar,
não conseguem ver que a crise
mundial é muito mais forte do que
suas vetustas ideologias. Esses
grupos são a expressão da
decadência do capitalismo, só
existem porque o capitalismo está em
uma crise profunda e já não consegue
sustenta-los com a mesma facilidade
que antes. Em vez de se voltar contra
o sistema capitalista, esses
elementos individualistas revoltam-se
contra qualquer tipo de ideologia
social. O importante é notar que são
expressão clara e ideológica de um
regime que está entrando em agonia
e que desejam preservar sua
existência, não de forma social, mas
sim de forma individualista e anti-
social.
P - Para concluir, vocês defendem
a vigência da Revolução Russa e
do Socialismo?
R - Sim, a Revolução Russa abre
um experimento social que ainda é
novo (dentro da história da
humanidade) e demonstra que é
possível uma sociedade socialista em
escala mundial, a experiência
revolucionária russa foi riquíssima e a
posterior burocratização pelo
stalinismo contrarrevolucionário
também é uma grande lição para a
classe trabalhadora, de como o
isolamento da revolução russa foi
fatal para o seu desenvolvimento
social e de como apenas
mundialmente é que pode
desenvolver-se o socialismo, e a
revolução, não de forma isolada e
nacional, mas apenas de forma
revolucionária, internacionalista e
socialista é que podemos superar a
agonia e a bancarrota do sistema
capitalista mundial.
Esse ano comemora-se 100 anos
da Revolução Russa, temos que
estudar profundamente essa
Revolução, suas lições e sua
experiência, etc. A Revolução
Russa inicia uma etapa, ela não se
fechou de forma alguma, está
vigente. Assim como a Revolução
burguesa da Inglaterra não
terminou em 1640, mas
desenvolveu-se, 150 anos depois,
na Revolução Francesa, etc., etc. A
Revolução Russa nos mostrou que
outra sociedade é possível. Sem
ela, a humanidade ficaria sem um
norte diante da crise atual. Com ela
podemos estudar profundamente
suas engrenagens, aprender com
suas contradições e a partir da
analogia e da peculiaridade
histórica de cada nação, podemos
desenvolver novamente a ideia de
revolução, seu programa e seu
partido. A Revolução Russa é um
marco na história da humanidade
e, com a crise mundial do
capitalismo, está mais vigente e
atual do que nunca. Mas somente a
práxis revolucionária poderá
mostrar para as gerações futuras o
seu devido lugar na história. ■
11
TRIBUNA CLASSISTA
NÃO
À PRIVATIZAÇÃO
DO BANRISUL
NÃO À PRIVATIZAÇÃO DA
CEEE, CRM E SULGÁS -
PELA REVOGAÇÃO DO
PACOTAÇO DE SARTORI -
COLOCAR O BANRISUL,
CEEE, CRM E SULGÁS E O
SERVIÇO PÚBLICO SOB
CONTROLE DOS
TRABALHADORES
O governo Sartori do PMDB já
recebeu um aviso-prévio quando nem
havia completado o primeiro ano do
seu mandato, ao “aplicar” o primeiro
parcelamento dos salários, leia-se
sequestro dos salários, e milhares de
servidores públicos estaduais
marcharam em uma grande
manifestação que provocou um susto
inclusive na burocracia sindical. Como
se não bastasse encaminhou um
pacotaço para a Assembleia
Legislativa que constituiu-se no maior
ataque às condições de vida dos
servidores públicos estaduais e ao
conjunto da classe trabalhadora,
concentrando num só pacote
inúmeras medidas que podem ser
comparadas ao lançamento de um
míssil na cabeça dos que foram
atingidos, porque são medidas de
cunho letal. Por isso, não foi de se
estranhar a aplicação de um estado
de sítio de fato em que o governador
Sartori transformou a cidade de Porto
Alegre nos dias em que foi realizada a
votação do verdadeiro veneno letal
nas veias dos trabalhadores, com a
cumplicidade dos deputados da sua
“base aliada” e a complacência de
uma oposição formal no interior da
Assembleia Legislativa. O velho e
surrado método da ditadura militar e
todos os governos capitalistas foi
utilizado contra os trabalhadores e a
juventude indefesos. Uma fórmula
que demonstra a total incapacidade
do capitalismo em atender às
mínimas necessidades dos
trabalhadores, e que só conseguirá se
manter, retirando o pouco do que
ainda resta do que foi conquistado
com muita luta: tropa de choque,
cavalaria, cães, helicópteros, bombas
de gás lacrimogêneo, gás de pimenta,
algemas, balas de borracha, etc. etc.
etc. É isso que o estado capitalista
tem a oferecer para os trabalhadores
para continuar, em condições que
lhes são cada vez mais adversas,
sendo a teta dos grandes capitalistas
nacionais e internacionais,
verdadeiros parasitas que viveram
historicamente e vivem sugando a
riqueza construída às custas dos
suor, dos braços, dos músculos, do
sangue da classe trabalhadora. Um
governo que continua
sistematicamente reincidindo na sua
sanha criminosa. O sequestro dos
salários continua, tratando os
servidores públicos como verdadeiros
reféns em cárcere privado num
grande campo de concentração, que
é a condição geral que o sistema
capitalista está levando cada vez
mais os trabalhadores no mundo
inteiro, em sua etapa de total
senilidade.
Os bancários do BANRISUL já
deram uma demonstração de que não
vão entregar o ouro pro bandido
assim no mais. Lotaram o auditório da
FETRAFI no sábado, dia 18/03, e só
a sua ação independente unificada
com os demais bancários e com todo
os servidores públicos estaduais
poderá revogar todas as medidas já
tomadas por Sartori e barrar as suas
nefastas intenções já anunciadas e
previstas no próximo período. Assim,
uma frente parlamentar tem que ter
um caráter de classe e estar
subordinada aos métodos próprios da
classe operária.
GANHAR AS RUAS E
ORGANIZAR A GREVE
GERAL CONTRA
SARTORI E TEMER –
POR UM CONGRESSO
DE BASES DA CLASSE
TRABALHADORA –
FORA SARTORI! FORA
TEMER – POR UM
GOVERNO PRÓPRIOS
DOS TRABALHADORES
■
Conselho Editorial
Alfeu Bittencourt Goulart
Antonio Carlos Tarragô Giordano
Carlos Alberto Zapelloni
Carlos Santos
Edgardo Azevedo
Luís Guilherme Tarragô Giordano
Rosana de Morais
FORA TEMER!
TRIBUNA
CLASSISTA
SEDE:
Travessa do Ouvidor, 200
Porto Alegre / RS
CEP 90650-050
tribunaclassista@hotmail.com
tribunaclassista.blogspot.com.br
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Uma ponte para o futuro - documento do PMDB
 

Tribuna classista 25

  • 1. NOVA FASE Nº 25 | ABRIL 2017 TRIBUNA CLASSISTAwww.tribunaclassista.blogspot.com | e-mail: tribunaclassista@hotmail.com Edição Impressa R$ 3,00 Valor solidário R$ 5,00 SUMÁRIO: OS TRABALHADORES SAEM ÀS RUAS O regime político está sob uma forte crise. Acobertado apenas por seus acólitos e pelos setores que são privilegiados, o governo Temer, fruto de um golpe parlamentar, tem sua popularidade abaixo dos 10%, a economia estagnada, em recessão, ou melhor, em depressão, com -3,6 de queda no PIB em 2016. Sua legalidade está sub judice no TSE, com o julgamento da chapa Dilma-Temer, o judiciário apenas reflete a pugna entre as diversas classes de nossa sociedade. Suas reformas reacionárias, que contam com amplo apoio na Câmara, no Senado, do grande capital e da grande imprensa (burguesa) são cada vez mais impopulares, não só entre a classe trabalhadora, mas até mesmo no seio da classe média e da pequena burguesia. Além disso tudo temos a Operação Carne Fraca, que coloca um dos pilares do governo e do grande capital, o agronegócio, sob o torniquete das disputas políticas e econômicas que polarizam todo o país. O governo Temer, a cada dia que passa, mostra seu verdadeiro rosto para os setores mais amplos da população, setores que ainda não tinham compreendido o significado mais profundo desse novo governo, e o seu reflexo real no espelho da política é algo verdadeiramente monstruoso. O que para muitos é obvio, para a grande maioria da população é um pesadelo sem fim. O ódio popular a esse governo é epidêmico, apesar dos esforços conjuntos de amplos setores da política e da imprensa burguesa para contê-lo. De outro lado os trabalhadores iniciam, ainda de forma lenta, mas vigorosa, sua organização e mobilização contra as reformas em curso. Ainda de forma desorganizada, inconstante e até mesmo confusa, a revolta popular e as manifestações contra o governo tendem a se organizarem rapidamente e a politizar a classe trabalhadora no próximo período. A única classe que pode modificar o atual quadro reacionário que impera sobre o pais é a classe trabalhadora, em especial os assalariados, a classe operária. É nisso que apostamos, é nessa estratégia que está contida nossa perspectiva de luta. Um congresso que elabore um programa, dê organização, consciência de classe e de luta, essa é a nossa bandeira principal, diante da crise que abala o nosso país. Propomos a toda esquerda classista, a juventude e aos trabalhadores esta proposta. EDITORIAL Os Trabalhadores Saem Às Ruas Capa A Radiografia De Um Regime Hernán Gurian / Guilherme Giordano Pag. 2 Por Uma Grande Paralisação Nacional De 15M Pag. 4 Trabalhadores Ganham As Ruas Para Lutar Contra A Reforma Da Previdência E O Governo Temer David Lucius Pag.5 Greve Rechaça O Pacote : Vitória Dos Trabalhadores E Da População DeFlorianópolis Alfeu Goulart Pag.6 Moção De Apoio Aos Trabalhadores Da AGR- Clarin Guilherme Giordano Pag.7 Entrevista com Militante do Tribuna Classista Pag. 8 Não À privatização do Banrisul Pag. 12 1
  • 2. TRIBUNA CLASSISTA A RADIOGRAFIA DE UM REGIME Por um Congresso de bases do movimento operário para enfrentar o ajuste Hernán Gurian com colaboração de Guilherme Giordano A brutal crise capitalista que assola o Brasil, há mais de 2 anos, ameaça a desagregação total dos estados, a crises políticas cada vez mais acentuadas e a uma enorme miséria social da sua população. Ainda que se registrem dados oficiais de desemprego, na cifra de 12 milhões de desempregados, existe uma quantidade maior de 20 milhões, contados aqueles que abandonaram a busca de empregos por desistência ou que vivem na informalidade (bico) para sobreviver (CNI, O Globo, 08/02). E finalmente chega uma notícia bombástica, uma espécie de crônica de uma tragédia anunciada: “PIB recua 3,6% em 2016, e Brasil tem pior recessão da história - Essa sequência, de dois anos seguidos de baixa, só foi verificada no Brasil em 1930 e 1931; ritmo de corte em 2015 e 2016 foi o maior. Pela 1ª vez, todos os setores se contraíram. Como a retração nos anos de 2015 e 2016 superou a dos anos 30, essa é a pior crise já registrada na economia brasileira. O IBGE e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) dispõem de dados sobre o PIB desde 1901. Pela primeira vez desde 1996, todos os setores da economia registraram taxas negativas. ‘Se a gente olhar o biênio, a retração foi de 7,2%. A gente nunca teve um biênio com uma queda acumulada destas’, disse Rebeca de La Rocque Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE. A série histórica do IBGE vai até 1948. Em valores correntes, o Produto Interno Bruto Brasileiro (PIB) chegou a R$ 6,266 trilhões em 2016, e o PIB per capita ficou em R$ 30.407 – uma redução de 4,4% diante de 2015. A crise foi generalizada e os três setores que entram no cálculo do PIB recuaram no ano - agropecuária (-6,6%), indústria (-3,8%) e serviços (- 2,7%). ‘Em 2014, a gente já tinha a indústria caindo, mas os serviços continuavam crescendo. Em 2015, caíram a indústria e os serviços. Já em 2016, a agropecuária. Desde 1996, isso nunca ocorreu. A situação peculiar desta vez é justamente essa queda generalizada’, afirmou. Os investimentos também pesaram contra o PIB. A chamada Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), como o indicador de investimentos é conhecido, teve uma retração pelo terceiro ano seguido e caiu 10,2% em 2016. De acordo com o IBGE, esse resultado negativo pode ser explicado, principalmente, pela queda da produção interna e da importação de bens de capital. Nesse cenário, a taxa de investimento no ano de 2016 caiu para 16,4% do PIB, abaixo do observado no ano anterior (18,1%). Trata-se do menor nível de investimento na economia já registrado pela série histórica do IBGE, que começa em 1996. O consumo das famílias, que por muitos anos sustentou o crescimento do PIB do Brasil, também seguiu ladeira abaixo em 2016. Em 2016, as famílias consumiram 4,2% a menos do que em 2015, acima da queda registrada entre 2014 e 2015, de 3,9%. Segundo o IBGE, a alta dos juros, a restrição ao crédito, o aumento do desempenho e a queda da renda explicam esse resultado. Também recuou, mas de forma menos intensa, a despesa do consumo do governo: 0,6% sobre 2015. De 2014 para 2015, a retração havia sido de 1,1%. Seguindo o que já havia sido visto em 2015, com a valorização do dólar, as exportações de bens e serviços cresceram 1,9%, e as importações de bens e serviços caíram, 10,3%. ‘A gente teve uma contribuição positiva do setor externo na economia, com o aumento das exportações de bens e serviço.’ ‘Se a gente não tivesse nenhuma ligação com o setor externo, a gente teria uma queda de 5,3% no PIB’, destacou Rebeca, enfatizando a relevância de o país ter exportado mais do que importado no ano.” (http://g1.globo.com/economia/noticia/ pib-brasileiro-recua-36-em-2016-e- tem-pior-recessao-da-historia.ghtml) O outro lado da moeda são os trabalhadores que suportaram níveis de superexploração e empobrecimento intoleráveis, que se agravarão no futuro com a aprovação pelo Congresso Nacional das “Reformas Trabalhistas e Previdenciária”, às quais contemplam a flexibilização dos direitos trabalhistas, a generalização das terceirizações e o aumento da idade das aposentadorias para 65 anos para ambos os sexos, entre outros. Este verdadeiro plano de guerra contra os trabalhadores é uma exigência de toda a classe capitalista golpeada pela crise mundial. O parlamento votou no final de 2016 um pacote de austeridade, congelando os gastos do orçamento federal para a saúde, educação e obras públicas em 20 anos. Temer pretende resgatar a falida economia capitalista sobre a base de ataques sem precedentes às conquistas sociais e trabalhistas das massas pauperizadas, as quais remontam aos meados do século XX. O governo Dilma, PT/PMDB, já havia implementado previamente a “Lei de Proteção do Emprego” que assegurava ao grande capital a redução da jornada de trabalho proporcionalmente à diminuição de 30% do salário em empresas que provassem estar passando dificuldades ou crises, enquanto, por outro lado, ofereciam todo tipo de isenções e renúncias fiscais, bem como subsídios estatais a esta mesma indústria pesada e aos latifundiários do agronegócio, criou o FUNPRESP (previdência complementar) para os servidores públicos federais com efeito cascata para os estados e municípios, atacando na calada da noite, no final de 2014, através de MP’s, aos desempregados, dificultando o acesso ao seguro-desemprego, aos trabalhadores que ganham em média até dois salários mínimos no exercício anterior para poderem ganhar o abono salarial, aos pescadores, dificultando o acesso ao seguro- defeso, e ao auxílio-doença. Antes, Lula havia promovido a “reforma” da previdência para os servidores públicos federais, a qual acabou com a integralidade das aposentadorias, instituiu a contribuição dos inativos e desconto nas pensões, acabou com a paridade nos reajustes entre ativos e inativos, modificando os Fundos de Pensão para fechados, ou seja, ficando a contribuição previamente definida, mas sem saber qual o valor do benefício. O aumento da miséria popular ocasionou o consequente incremento da demanda do plano social “Bolsa Família” (uma esmola de R$ 340,00) 2
  • 3. NOVA FASE Nº 25 | ABRIL 2017 em 35% no ano de 2016. Recente informe do Banco Mundial, a quem não se pode acusar de ser catastrofista, assinala que se não for revertido o quadro recessivo do país “o número de pobres chegará a 21 milhões de pessoas, em 2017, dos quais cerca de 10 milhões, nos níveis de extrema pobreza”. (O GLOBO, 13/02) A recessão dos estados mais industrializados levou à diminuição dos seus respectivos PIB’s, a um retrocesso a níveis de 6 anos atrás. A construção civil e a indústria paralisaram suas atividades e os bancos com enormes carteiras de créditos atrasados e impagáveis (57% das famílias estão endividados e milhares de empresas e comércios quebraram com créditos inadimplentes). São cerca de 59 milhões de inadimplentes, somando quase 40% da população adulta. Isso significa que a cada 10 adultos no país, 4 estão endividados. Enquanto isso, um regime político, produto de um golpe institucional, enlameado diariamente por uma enxurrada de denúncias de corrupção e saque das finanças e empresas públicas, que envolvem ao próprio Temer (citado 43 vezes na delação premiada de executivos da Odebrecht), junto a 1/3 de senadores e deputados federais, que estão sendo investigados. Vale ressaltar que Temer perdeu 8 ministros por denúncias de corrupção em 9 meses e outros 4 encontram-se processados. O outrora presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha (PMDB), comandante do impeachment contra Dilma, está preso por desfalque à Petrobrás. A partir dos três poderes do Estado se colocou em marcha uma operação de impunidade para frear as investigações, proteger aos políticos penalizados e anistiar aos funcionários e empresários presos. Por outro lado, as massas golpeadas pelas políticas impopulares de Temer tentam abrir um caminho: greve dos servidores municipais de Florianópolis, que ultrapassou um mês de manifestações constantes, no Rio de Janeiro, por salário e contra a privatização da água, ou como no final de 2016 com as ocupações de 1.200 escolas e faculdades pelos estudantes contra o corte do orçamento e as reformas contra a educação. O dia 08/03 marcou uma mobilização de milhares de mulheres pelo país, acompanhando uma tendência mundial e um chamado internacional a partir do coração do capitalismo, os EUA. O governo Temer não descansou nem sequer no período de carnaval, porque o FORA TEMER ecoou país afora. No dia 15/03 está prevista uma grande mobilização contra a Reforma da Previdência, e categorias como os professores do Rio do Grande do Sul já aprovaram indicativo de greve por tempo indeterminado a partir desse dia. Frente a um quadro potencialmente convulsivo, Temer se apressa em aprovar um decreto de “Garantia da lei e da ordem”, o qual lhe dá atribuições para tomar medidas de segurança excepcionais, como a de mobilizar o exército no âmbito interno para exercer o controle social, utilizar a repressão quando a ordem se encontre ameaçada por pessoas, grupos, ou organizações, assim como realizar tarefas de “inteligência” (espionagem) e infiltração nos mesmos. No mesmo sentido, o PT já havia implementado a “Lei antiterrorismo” em meio às multitudinárias mobilizações contra o aumento do transporte público e a malversação do orçamento em benefício das grandes empreiteiras. Frente à ameaça das greves policiais em alguns estados e depois dos brutais massacres nos presídios da região Norte, Temer decretou a mobilização do Exército e da Força Nacional de Segurança, enviando 9 mil soldados ao RJ, 3.200 ao ES, e outros milhares ao Amazonas, Rondônia e Natal, colocando a intervenção militar como único recurso disponível para enfrentar cada crise que se abre nos estados falidos pela bancarrota capitalista. Estamos na presença de um regime político extremamente débil e antipopular (13% de aprovação da população) que deve levar a cabo um Plano de Guerra contra as massas e que para isso começa a empregar as forças armadas para amedrontar e intimidar àqueles que saem a lutar por salário, em defesa do emprego e contra a carestia de vida. Em várias cidades proliferam-se os terríveis e temíveis grupos de extermínios (GO, PA, SP, RO) e as milícias paramilitares que dominam parte da capital do RJ. A burguesia desencadeou uma sangrenta guerra civil contra as massas empobrecidas que resultou em nada menos que a perda da vida de 60 mil pessoas no último ano e mantém em condições desumanas a 640 mil presos, a quarta população carcerária do mundo. Lula começou uma campanha dentro do PT para que se abandone a tese do golpe e assim concentrar-se na campanha eleitoral de 2018 que o levaria à candidatura presidencial, isso se a operação Lava-Jato antes não o leve também à prisão. Outro dos quadros partidários do PT, o ex- prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, já havia se manifestado à imprensa que “sustentar que houve um golpe (de Temer) é um pouco forte”. Esta posição se fez pública na edição da revista direitista Veja, do dia 18/03, na qual em uma entrevista feita ao senador petista e ex-ministro de Lula, Humberto Costa, o mesmo confessou que existe um importante número de quadros partidários que propõem diretamente “abandonar o discurso da denúncia de golpe” e preparar-se para as eleições presidenciais de 2018. Na Assembleia Legislativa do RJ, deputados do PT aprovaram a privatização da água a pedido do governador cassado, Pezão do PMDB. Vários deputados do PT e o bloco de 12 deputados do PC do B, seu histórico aliado, votaram recentemente pelo candidato de Temer, Rodrigo Maia (do oligarca DEM), para presidir a câmara de deputados. Maia é o homem chave que comandará a votação nas próximas semanas de todas as reformas e medidas reacionárias que o Executivo enviou ao parlamento (trabalhista, previdenciária, ajustes e impostaços). A CUT petista e o resto das centrais sindicais (na sua maioria, diga-se de passagem, abertamente patronais e cartoriais) nem sequer ameaçam em convocar uma greve geral para enfrentar a catástrofe social que se anuncia sobre a classe trabalhadora e as poucas medidas de luta que convoca são isoladas e de aparato. Deixaram passar milhões de demissões sem se importarem. Das bravatas de seu presidente Vagner Freitas de que iria resistir com as armas na mão ao golpe parlamentar passaram ao mais completo imobilismo frente ao ataque ao ataque em regra do governo golpista e anti- operário. Aos trabalhadores urge 3
  • 4. TRIBUNA CLASSISTA como uma necessidade vital a recuperação de suas organizações sindicais para não continuar pagando a crise do capitalismo com seus insuportáveis sacrifícios. O PT, depois de ter sido expulso do governo pelos aliados da direita, ainda pretende se habilitar como um fator de estabilização política através de seus parlamentares “colaboracionistas” e de contenção dos trabalhadores por meio das organizações sociais e sindicais que ainda influencia. O PSOL começou a negociar com o PT algum tipo de acordo político para a eleição presidencial do próximo ano. Sua direção lançou uma convocação no dia 12/02 à conformação de um reagrupamento da esquerda sobre a base de uma frente que já existe e que eles mesmos integram, a “Frente do Povo Sem Medo”, que é dirigida nada menos que pela CUT, dezenas de movimentos sociais cooptados em seu momento com prebendas pelo PT e aonde também militam a juventude do PC do B e a UNE. A esta frente, é bom lembrar, que o PT caracteriza como “uma construção de uma ferramenta ampla e inovadora”. Já, nas eleições municipais passadas, o PSOL de São Paulo lançou como candidata a prefeita, nada menos do que Luiza Erundina, ex-ministra de Itamar Franco, expulsa do PT acusada de “neoliberal”, enquanto que Marcelo Freixo, no RJ, chamava a não “demonizar ao capital privado”, e Luciana Genro, no RS, propunha um maior efetivo repressivo nas ruas de Porto Alegre. Impulsiona uma palavra de ordem de “FORA TEMER, por um plebiscito solicitando a antecipação das eleições”, uma saída eleitoreira, quando o que corresponderia na atual situação seria fazer um chamamento pela organização, preparação e convocação de um Congresso de trabalhadores que discuta um Plano de Luta imediato, a ocupação das ruas e locais de trabalho, e a exigência que as centrais sindicais convoquem a Greve Geral, para derrotar as reformas anti-operárias que estão sendo cozinhadas por estes dias no reacionário Congresso Nacional. O PT, depois de co-governar por 15 anos junto com o PMDB e os partidos evangélicos, alimentando as grandes negociatas do capital financeiro, do agronegócio e da pátria construtora e industrial como Odebrecht, Camargo Correa, Andrade Gutierres, Itaú, Bradesco, etc. (Lula se vangloriou que “nunca os bancos ganharam tanto dinheiro como durante meu governo”), agora propõe armar uma “frente de esquerda”. Expulsos do governo mediante um golpe por seus ex-aliados de direita e com vários dirigentes presos por corrupção e outros desertando de suas fileiras, agora buscam sua sobrevivência política mediante uma aliança com os partidos da pequena burguesia como a REDE (da evangélica Marina Silva), do PDT (uma parte de seus parlamentares apoiaram o golpe) e do PSOL. A esquerda brasileira só pode reconstruir-se sobre bases socialistas e revolucionárias, delimitando-se do PT e dos partidos democratizantes para colocar-se como uma alternativa política independente. Como tarefa imediata deveria convocar um CONGRESSO DE TRABALHADORES que discuta um programa e um plano de ação para enfrentar a catástrofe social capitalista que assola nossa classe com a miséria e a barbárie. Esta é a radiografia de um regime econômico, político e social, incapaz de oferecer uma saída às massas trabalhadoras pauperizadas e à juventude no quadro de maior crise capitalista da História deste país. Somente um governo dos trabalhadores da cidade e do campo poderá por fim a esta catástrofe de violência, desemprego e pobreza extrema que ameaça a dissolução de todo o sistema sobre as próprias bases do capitalismo a nível mundial. ■ POR UMA GRANDE PARALISAÇÃO NACIONAL DE 15M PARA DERROTAR O GOVERNO TEMER E A REFORMA DA PREVIDÊNCIA Panfleto publicado por Tribuna Classista no 15M No dia de hoje, 15 de março, haverá uma grande paralisação em inúmeras e diversas categorias nacionais para lutar contra o governo Temer e contra a Reforma da Previdência, que se encontra em votação no Congresso Nacional, onde o governo tem uma ampla maioria, e onde procura levar a cabo inúmeras reformas que, de conjunto, representam o maior ataque desferido contra a classe trabalhadora brasileira, realizados por um único governo. Se esse pode ser considerado o preço a ser cobrado (pela burguesia) pela fatura (pelo custo) total do golpe parlamentar, nunca podemos deixar de lembrar que o governo Temer foi formado de dentro do Governo Dilma, de dentro do governo do PT, e que se ele é resultado de um golpe, também é o resultado das inescrupulosas alianças que o PT realizou com os partidos burgueses mais nefastos. Grande parte dos atuais governantes nem precisaram abandonar o governo Dilma para assumir seus novos ministérios ou seus novos cargos, já estavam no governo desde Dilma, ou até mesmo desde o governo Lula, para admiração sincera dos ingênuos e para desilusão dissimulada dos incrédulos. Diversas categorias importantes confirmaram adesão à paralisação de hoje: rodoviários (motoristas e cobradores de ônibus) de São Paulo, metroviários de São Paulo e de Belo Horizonte, professores do estado de São Paulo e capital paulista. A CNTE também já havia aprovado uma paralisação da categoria para o dia 15/ 03. Estão previstas paralisações 4
  • 5. NOVA FASE Nº 25 | ABRIL 2017 do Sintusp (trabalhadores da USP), Sindisef (servidores federais), Sintrajud (judiciário), bancários, eletricitários, correios, metalúrgicos e químicos e outras inúmeras categorias e setores sociais sairão às ruas no dia de hoje por todo o Brasil. De forma geral, tanto os sindicatos, quanto as centrais sindicais e os movimentos populares, sem falar das frentes que reúnem partidos de esquerda (entre eles o PT) utilizam as paralisações e mobilizações dos trabalhadores como uma forma de barganha e pressão política e não como uma ferramenta de luta dos trabalhadores. Nossa perspectiva deve ser o oposto: organizar a luta, defender um Congresso nacional dos trabalhadores e chamar a construção e organização de uma Greve Geral que seja discutida em toda a classe trabalhadora, nos sindicatos, nos movimentos populares e na juventude. As mobilizações e paralisações, como a de hoje, são (conscientemente) sempre descentralizadas, atomizadas, sem uma organização central, sem um programa político classista (independente orgânica e programaticamente da burguesia e da pequena burguesia) e sem nenhuma discussão prévia no seio da classe trabalhadora. Quando muito são discutidas apenas em assembleias dos setores mais organizados. Os trabalhadores não são convocados (em sua grande maioria, apenas as categorias mais organizadas) e quando são não há discussão nem organização de sua base. Não são utilizados os inúmeros instrumentos que os sindicatos, as centrais, os movimentos populares e até mesmo os partidos de esquerda possuem, desde sua militância até seus recursos materiais (imprensa, carros de som, etc) para convocar uma paralisação massiva. Quanto mais desorganizada uma luta, tanto melhor para a burocracia, de um lado, e para o governo e a burguesia, do outro. Diante do maior ataque à classe trabalhadora em toda sua história a burocracia impede a centralização de todos os setores (sindicatos, centrais, movimentos populares, juventude, mulheres, etc) em um movimento de envergadura que aponte para a organização e construção de uma greve contra o governo Temer. Os diversos setores da burocracia sindical e dos partidos de esquerda (principalmente o PT) tentam desse modo controlar as lutas e manifestações populares e dos trabalhadores. Impedem que a mobilização tenha um caráter independente ou palavras de ordem e programas próprios. Desse modo preparam hoje as derrotas políticas do amanhã. A simples possibilidade de que os trabalhadores organizem uma greve geral contra o governo e suas reformas antioperárias é bloqueada pela quase totalidade das correntes da esquerda e dos movimentos populares ou sindicais. Esse bloqueio é feito tanto de forma direta, quanto de forma indireta, ou seja, defendendo de forma abstrata a greve geral, mas abortando-a na luta concreta. A organização dos trabalhadores, tanto para lutar contra o governo Temer e suas reformas, como para colocar em pé uma greve geral, como uma arma de defesa contra os ataques que a burguesia e seu governo estão deferindo contra toda população, é o primeiro passo para podermos enfrentar a atual situação. Tribuna Classista defende um Congresso dos Trabalhadores, organizado nacionalmente, para discutir um programa de luta contra o atual governo e de saída para a crise atual. Defendemos também que a atual paralisação de 15 de Março seja vitoriosa e seja um impulso para que os trabalhadores ultrapassem as suas atuais direções (da esquerda e dos sindicatos) e comecem a lutar pela organização de uma greve geral contra o governo Temer e consequentemente suas reformas reacionárias, levadas cabo pela burguesia (e sua imprensa) e pelo Congresso Nacional. Uma greve geral que seja organizada metodicamente em cada categoria e sindicato. Com plenárias, apoiada pelos movimentos populares e da juventude e que impulsione a organização de um Congresso nacional da classe trabalhadora. Em síntese, defendemos que a organização e a luta dos trabalhadores seja uma forma de conscientização política. Não podemos concordar que numa situação de gravidade como a atual a luta dos trabalhadores seja manipulada como barganha de interesses, precisamos da total independência dos trabalhadores diante da burguesia para podermos avançar na luta e na organização dos trabalhadores. A independência dos trabalhadores é o primeiro passo para sua organização. Um Congresso dos trabalhadores é necessário para organizar a luta, discutir e aprovar um programa que aponte uma superação classista para a crise atual. E uma greve geral nacional e massiva é a única arma imediata para iniciar a luta contra o governo Temer, governo que representa o grande capital e a grande burguesia. Organizar as lutas, clarificar o debate político e construir um programa político dos trabalhadores e consequentemente um partido político que o defenda é uma tarefa árdua, porém urgente e necessária. Que a classe trabalhadora entre em cena no dia de hoje e lute claramente pelos seus interesses, imediatos e históricos. ■ TRABALHADORES GANHAM AS RUAS PARA LUTAR CONTRA A REFORMA DA PREVIDÊNCIA E O GOVERNO TEMER David Lucius Um protesto de grande envergadura, com mobilizações em todas as capitais do país e que paralisou São Paulo, onde quase 200 mil pessoas foram às ruas na Avenida Paulista (principal avenida da cidade), Rio de janeiro, onde cerca de 100 mil pessoas protestaram, Belo Horizonte, onde mais de 50 mil pessoas foram se manifestar contra a reforma na previdência social, Curitiba, onde cerca de 50 mil pessoas tomaram o Centro Cívico, no Recife, onde 40 mil manifestantes foram às ruas, e em Salvador onde se reuniram quase 30 5
  • 6. TRIBUNA CLASSISTA mil pessoas. Outras capitais como Belém, Porto Alegre, Natal, Brasília, Goiânia tiveram atos menores. As manifestações ocorreram por todo país sem exceção. Além disso houveram manifestações de peso em cidades menores, como Juíz de Fora, que reuniu 30 mil pessoas, São José dos Campos, ABC paulista, Santos e outras cidades também tiveram manifestações expressivas. O total de manifestantes ultrapassou o número de 500 mil pessoas. Em sua grande e esmagadora maioria foram os setores mais organizados dos trabalhadores que saíram às ruas. Destaque para os professores municipais e estaduais em São Paulo, professores universitários (com destaque para a USP), servidores públicos e judiciário, metroviários e rodoviários (condutores e cobradores de ônibus urbanos), bancários, metalúrgicos, petroleiros, eletricitários, correios, os movimentos de moradia (MLB e MTST). Os atos foram convocados de forma tímida (para dizer o mínimo) pela burocracia sindical, pelos sindicatos, pelas centrais sindicais e pela esquerda. Não houve plenárias abertas para organização da paralisação ou coisas do gênero. Os sindicatos não colocaram seu peso na mobilização e nem mesmo as centrais sindicais. Não houve panfletagens ou cartazes convocando a paralisação e mesmo nas redes sociais não houve uma grande campanha de divulgação. Houve uma grande adesão das categorias mais organizadas enquanto a burocracia procurou "controlar" sua base para para que nada saia de seu "controle". A discussão de organizar uma grande greve geral para barrar as reformas reacionárias do governo Temer (com destaque para a reforma previdenciária) e para os trabalhadores lutarem pela manutenção de seus direitos (sob os ataques da reforma trabalhista e da terceirização) não foi discutida amplamente ou apresentada pela esmagadora maioria dos sindicatos, centrais sindicais e até mesmo na esquerda. Raras foram as exceções. Por detrás dessa política de desarmar a classe trabalhadora diante do maior ataque já desferido por um governo aos seus direitos adquiridos, está o medo de que haja mobilizações de envergadura multitudinária, como as de 2013, que ainda assombram a burocracia e burguesia. A estratégia calculada pela burocracia é mobilizar até o ponto de incomodar o governo e a burguesia, mas não ao ponto de derrotar o governo. Apesar disso tudo as mobilizações tiveram um grande apoio das categorias mais organizadas dos trabalhadores, principalmente dos setores de servidores públicos. O grande ponto positivo das mobilizações ocorridas foram que quem foi as ruas foi a classe trabalhadora, uma parcela pequena, mais organizada, mais mobilizada, mas quem foi às ruas foi a classe trabalhadora. Isso colocou o governo e a burguesia na defensiva de um lado, e, do outro, a burocracia sindical acendeu o seu sinal de alerta. A imprensa burguesa, grande organizadora e instigadora do golpe parlamentar, tentou a todo custo jogar a realidade para "debaixo do tapete". As mobilizações tiveram pouca cobertura da mídia, tentaram a todo custo não jogar gasolina em plena fogueira. A esmagadora maioria dos setores chave da burguesia estão apoiando todas reformas do governo Temer, com destaque para a imprensa que tenta a todo custo passar a imagem de que a população apoia essas reformas. Há divergências e diferenças entre seus setores intestinos, mas de um modo geral o grande capital ataca de foma conjunta e tira suas diferenças internas na política particular. Diga-se de passagem que o apoio popular ao governo Temer é de menos de 10%, menor ainda que o de Dilma. A burguesia e sua imprensa sabem que estão numa situação com muito pouca margem de manobra. O governo detém o apoio de cerca de dois terços do Congresso, somente uma mobilização que atingisse profundamente a classe trabalhadora e a esmagadora maioria da população poderia colocar o governo e o Congresso contra a parede. A estratégia do governo Temer, em primeiro plano, é a de aprovar todas as reformas reacionárias, com o apoio do Congresso, se ocorrerem mobilizações como as de 2013, que possam derrotar o governo, o próprio governo estaria acabado, literalmente falando. De qualquer forma o impacto de mobilizações fortes como a de 15 de março ainda não está dado. O único caminho de vitória para os trabalhadores é desvencilhar-se de suas antigas direções e procurar um caminho próprio, formar uma nova direção. Não haverá vitórias contra o governo Temer sem uma organização massiva que coloque a grande maioria da população nas ruas. Somente a classe trabalhadora, a classe operária tem condições impor uma derrota à burguesia e ao seu governo. Só esse caminho poderá abrir uma nova perspectiva de vitórias para a classe operária e ultrapassar os limites impostos pela imensa crise que se abate nesse país. ■ GREVE RECHAÇA O PACOTE : VITÓRIA DOS TRABALHADORES E DA POPULAÇÃO DE FLORIANÓPOLIS Alfeu Goulart TC Santa Catarina Foi encerrada no dia vinte e três de fevereiro, ao completar trinta e oito dias, a greve de maior adesão dos trabalhadores da história do serviço público de Florianópolis, alcançando cerca de 90% da categoria, que possui um contingente total em torno de doze mil trabalhadores; ou seja, aderiram ao movimento em torno de dez mil servidoras e servidores. Em resposta ao pacotaço do prefeito Gean Loureiro (PMDB), o movimento iniciado em 17 de janeiro pelos trabalhadores da Saúde, Obras e Assistência Social contou com a adesão dos professores do magistério e ACTs (contratados) a partir de 8 de fevereiro. 80% do contingente grevista formado por aguerridas mulheres lutadoras, aposentados e aposentadas. Pessoas que estavam em férias também vieram lutar contra o projeto de ajuste , unificando a luta e impondo a primeira derrota política do prefeito ajustador que foi obrigado a recuar e restituir os direitos 6
  • 7. NOVA FASE Nº 25 | ABRIL 2017 retirados dos servidores com a votação fraudulenta do dia 24 de janeiro sob forte aparato policial e a guarda municipal que atacaram os manifestantes com bombas de gás, spray de pimenta e cachorros, transformando os arredores da Câmara Municipal no centro da Ilha em verdadeira zona de guerra. Mas não adiantou, os trabalhadores juntamente com o comando de greve e a direção do SINTRASEM organizaram a resistência aos covardes ataques do aparato repressivo, que incluiu o pedido de prisão da diretoria do sindicato e sua destituição, decretação de ilegalidade da greve, etc., e derrubaram o pacotaço de verão do aliado de Michel Temer em Santa Catarina, que foi obrigado pela força da greve a negociar a restituição dos direitos, senão em sua totalidade, na pior da hipóteses, os mais importantes para a categoria como o PCCS ( Plano de Cargos e Salários), anuenio e trienio, adicional noturno , pagamento de horas extras, férias de 65 dias das auxiliares de sala, o que constitui quase a totalidade do que havia sido retirado. No entanto houveram perdas como a redução da licença premio de noventa dias para quarenta e cinco e licença não remunerada de dois anos para um com possibilidade de mais um . Há que se ressaltar a fundamental importância da participação das comunidades e da população em geral que apoiaram a luta em defesa do serviço público, ficando ao lado dos grevistas e entenderam que o que estava em jogo era a liquidação dos serviços de saúde, educação e obras públicas. Pressionado, o prefeito que se escondeu e se negava a negociar a revogação do seu "pacote" aprovado em tempo recorde em meados de janeiro, foi pessoalmente em reunião de conciliação proposta pelo Tribunal de Justiça às vésperas do Carnaval e negociou com a comissão de negociação composta pelos representantes das forças políticas que atuam na categoria a reincorporação da maioria dos direitos históricos. A proposta foi levada ao comando de greve que debateu e deliberou pelo indicativo de aceitação para a assembleia realizada no dia vinte três na praça Tancredo Neves, onde compareceram cerca de oito mil pessoa que deliberaram pelo encerramento da greve, com oito votos contra e três abstenções. Também votou-se a participação na greve mundial do Dia Internacional da Mulher, 8 de março e na paralisação do dia 15 de março que está sendo convocada pela CUT além de manter vigília permanente até a aprovação do acordo pela câmara de vereadores, o que deve acontecer em até 30 dias, bem como Estado de Greve e a retomada do movimento em caso de descumprimento do por parte do executivo. Houve acordo em torno destes encaminhamentos pelas forças políticas, avaliou-se que a categoria saiu unida e fortalecida e já se prepara para a próxima batalha: a data base, que prenuncia o dissídio coletivo, em maio. Nós do Tribuna Classista entendemos que foi uma vitória diante das circunstancias e da conjuntura nacional o recuo do prefeito, pois Florianópolis foi o laboratório experimental do ajuste do governo federal após as eleições municipais de outubro de 2016, a primeira capital a levar adiante o projeto de liquidação do Serviço Publico contido na aprovação da PEC 55 pelo congresso nacional em novembro, que congela por vinte anos o orçamento na saúde , educação e onde o PMDB de Temer venceu as eleições. A greve da ilha mostra o caminho aos trabalhadores de outras prefeituras de Santa Catarina: em assembleia realizada em Jaraguá do Sul, um importante polo industrial de Santa Catarina, os trabalhadores votaram para iniciar a greve dia 06 de março contra o pacote do prefeito daquela cidade também do PMDB , assim como em Joinville também estão acontecendo assembleias. A direção do SINTRASEM esteve presente em Jaraguá do Sul. Está colocada a perspectiva concreta da convocação de um Congresso Nacional da Classe Trabalhadora com delegados eleitos nos locais de trabalho para organizar a resistência aos ataques dos capitalistas com a elaboração de um plano de lutas visando a construção de uma GREVE GERAL, a arma maior que a CLASSE TRABALHADORA dispõe para lutar contra a exploração dos capitalistas . QUE OS CAPITALISTAS PAGUEM PELA CRISE! Nota: Na ocasião da criminalização do movimento com pedido de prisões dos diretores , entidades e pessoas do mundo todo enviaram cartas de solidariedade ao movimento grevista de Florianópolis, pelas liberdades democráticas e sindicais: desde a Espanha, Canadá, França, Bélgica, El Salvador, Iraque, Alemanha, Grã- Bretanha, Dinamarca, entre outras localidades. Importantes entidades no Brasil se pronunciaram como: MST, CONFETAM, CNQ-CUT Sindicato dos Petroleiros-RJ, CUT-SC, SINTE-SC, SINSEJ Joinville, Fábrica ocupada Flaskô, Ocupação Vila Soma Sumaré SP, Associação de Moradores Adhemar Garcia (Joinville), DCE do IELUSC, além de diretores do Sindicato dos Ferroviários da Bahia , Sindicato dos Ferroviários de Bauru e Mato Grosso do Sul, Sindicato dos Vidreiros de São Paulo, Federação Nacional dos Petroleiros, PCB, Partido Obrero da Argentina, CSPCONLUTAS, CTB entre outros. ■ 400 BANCÁRIOS DO BANRISUL VOTAM MOÇÃO DE APOIO AOS TRABALHADORES DA AGR * MOÇÃO DE APOIO AOS TRABALHADORES DA AGR-CLARIN Guilherme Giordano No dia 18/03 ocorreu uma Assembleia Nacional dos bancários do Banrisul, convocada e dirigida pela Federação dos Trabalhadores em Instituições Financeiras - FETRAFI- RS, Sindicato dos bancários de Porto 7
  • 8. TRIBUNA CLASSISTA Alegre e região e sindicatos do interior para discutirem e deliberarem contra a privatização do banco estadual por parte do governo Sartori do PMDB que está na ordem do dia, tendo em vista a situação de falência que se encontra não somente o Estado do Rio Grande do Sul, mas o estado capitalista em todas as suas unidades da federação. A privatização, nesse sentido, corresponde a uma tentativa da burguesia em recuperar essa situação falimentar entregando as empresas estatais para a chamada iniciativa privada. Os militantes apresentaram uma moção de apoio para o plenário de 400 bancários presentes em defesa dos 380 operários-gráficos demitidos da AGR-CLARIN, tendo sido a mesma aprovada unanimemente. Assim uma das mais importantes categorias de trabalhadores, a categoria bancária, incorpora-se à campanha internacional de apoio e solidariedade para que aconteça a reincorporação imediata dos 380 trabalhadores demitidos. Viva a unidade internacionalista dos trabalhadores da América Latina! MOÇÃO DE APOIO AOS TRABALHADORES DA AGR-CLARIN A Assembleia Nacional dos bancários do Banrisul, a FETRAFI-RS, Sindbancários de Porto Alegre e região e sindicatos do interior reunida no dia 18/03, incorpora-se às adesões ao apoio e solidariedade internacional aos 380 operários-gráficos demitidos da AGR-CLARIN, na Argentina. MOÇÃO DE APOIO AOS TRABALHADORES DA AGR-CLARIN Propomos que a Assembleia Nacional dos bancários do Banrisul, a FETRAFI-RS, Sindbancários de Porto Alegre e região e sindicatos do interior ocorrida no dia 18/03, se incorpore às adesões ao apoio e solidariedade internacional aos 380 operários-gráficos demitidos da AGR- CLARIN, na Argentina. A solidariedade com a luta dos trabalhadores argentinos da AGR- Clarín ultrapassou as fronteiras do nosso país hermano e vizinho, e passou a somar importantes apoios internacionais. A partir da convocação feita pelos trabalhadores depois de dois meses de ocupação da fábrica, organizações e personalidades de diferentes países estão se pronunciando. Além disso, estão sendo organizadas ações de denúncia frente às embaixadas e consulados argentinos reclamando que se atenda a reivindicação dos trabalhadores. No Chile, aonde a patronal vem substituindo a produção da unidade de Pompeya, a campanha tem uma importância especial. Ali, os trabalhadores pedem à CUT (a central operária) e aos sindicatos gráficos chilenos uma colaboração fundamental: rechaçar a elaboração e transferência da revista “Viva” e em geral de toda a produção que envia o Clarín com o único objetivo de destruir a organização e luta que vem desenvolvendo os trabalhadores da AGR-CLARIN. As primeiras adesões de dirigentes sindicais e estudantis no Chile (da Confederação de Trabalhadores do Setor Privado-CEPCH, do Sindicato de Trabalhadores Universitários de Santo Tomás, do Centro de Estudantes da UTEM, etc.), e o ato de denúncia dos companheiros do POR - Partido Operário Revolucionário frente à embaixada, são o princípio de uma campanha que se une ao ascenso das lutas do movimento operário naquele país latino- americano. A solidariedade das organizações de outros países da região também é de vital importância, já que não se descarta que a empresa utilize futuramente gráficas de algum país vizinho. Tanto em Montevidéu, como em Brasília estão sendo preparados atos em frente à embaixada argentina. Além disso, no Uruguai, o Sindicato de Artes Gráficas junto com ADEOM (do PIT-CNT) enviaram uma reivindicação ao embaixador exigindo a reincorporação dos trabalhadores. Na mesma linha se pronunciou a Federação Unitária de Sindicatos Bolivarianos do Estado de Carabobo (Venezuela), o Sindicato de servidores públicos da previdência, saúde e trabalho do Estado de Rio Grande do Sul (Brasil), e os principais dirigentes sindicais da imprensa na Grécia. Companheiros do sindicato da borracha do México e outras figuras e ativistas internacionais também se solidarizaram. A colaboração com o fundo de luta é outra contribuição vital com que muitos companheiros e organizações de outros países podem ajudar. O chamado a internacionalizar esta luta é um exemplo de consciência de classe. “Com o que não conta o Clarin é que os capitalistas sempre concorreram em todo o mundo, e quem temos a tradição de solidariedade internacional somos nós, os próprios trabalhadores”. Se os trabalhadores da AGR-Clarín ganham esta luta, será um duro golpe na tentativa de ajuste que o governo de Macri, na mesma linha que os governos capitalistas de todo o mundo, de descarregar a crise capitalista contra a classe trabalhadora. VIVA A UNIDADE INTERNACIONAL DOS TRABALHADORES! ■ ENTREVISTA COM FREDY ZAPELLONI, MILITANTE DO COLETIVO TRIBUNA CLASSISTA Concedida ao jornalista Renato Dias, de Goiás, que está reunindo um vasto material de diversas organizações trostkistas no Brasil para um futuro livro sobre o assunto P - O que é o Tribuna Classista? Qual sua história, como foi formado? R - O Tribuna Classista, TC, foi formado por militantes que tiveram várias experiências políticas anteriores, no movimento operário e popular, em especial por militantes que tem como referência a trajetória do Partido Obrero da Argentina, de quem os membros do TC são simpatizantes, acompanhando sua trajetória e sua luta de longa data, tentando estruturar um pequeno núcleo a partir das experiências que o trotskismo teve na América Latina nesses últimos 50 anos. Para nós, o PO é um dos resultados mais significativos da experiência acumulada pela esquerda classista e revolucionária, assim como da luta dos trabalhadores nesse continente. Lógico que não somos uma seita e sendo assim toda essa experiência deve ser estudada, debatida e 8
  • 9. NOVA FASE Nº 25 | ABRIL 2017 discutida a partir da práxis no movimento real das massas, e do movimento operário, social e popular internacional e brasileiro, o qual tem diversas matizes e no qual tentamos dialogar de forma crítica, colocando nosso ponto de vista programático. Tentamos fazer um balanço crítico da trajetória do trotskismo e do marxismo para utilizar essa análise como ferramenta em nossa elaboração programática e em nossa interpretação da realidade. O PO para nós acaba sendo uma referência política por ter conseguido tirar as conclusões necessárias do difícil processo histórico que a América Latina atravessou nesses últimos 50 ou 60 anos. Somos internacionalistas e para nós as experiências acumuladas desse partido conseguiram dar um norte, um escopo a diversos problemas teóricos e práticos que se apresentam para a esquerda. Por outro lado temos que seguir nosso caminho e somente aprofundando a análise do marxismo sobre a realidade brasileira e mundial é que vamos conseguir elaborar uma política concreta para a difícil e peculiar realidade nacional, primeiro passo se quisermos nos transformar em uma grande corrente ou organização de esquerda. Por enquanto somos apenas um pequeno embrião, um pequeno coletivo que engatinha na dura selva da luta de classes, num dos períodos mais complexos da história política brasileira. P - Como vocês tiveram contato com o PO da Argentina? R - No inicio da sangrenta ditadura militar argentina, por volta de 1977/1978, uma parcela significativa de militantes do Partido Obrero (naquela época Política Obrera) se desloca clandestinamente para o Brasil na tentativa de salvar as vidas de seus militantes, de sua direção e manter a estrutura partidária que estava ameaçada. Naquela época participavam do CORQI (uma tendência internacional trotskista), depois houve um racha internacional e formaram a TQI junto a outros partidos latino-americanos (década de 80) e posteriormente a CRQI (ano 2004 em diante) com partidos da América Latina e da Europa. Durante todo esse período, o PO sempre teve uma constante relação com a esquerda classista brasileira, participando de inúmeros debates, congressos e atividades nacionais e internacionais. Mais recentemente, o Partido Obrero e o PT do Uruguai convocaram uma Conferência Latino- Americana de partidos da esquerda. Por essa época (ano passado) o TC já estava engatinhando seus primeiros passos e participamos diretamente dessa atividade internacional, debatemos e assinamos a tese final da Conferência. O PO atua na Argentina construindo e impulsionando a FIT (Frente de Esquerda e dos Trabalhadores) que reúne os principais partidos da esquerda classista (e trotskista) em seu pais. A FIT é hoje uma frente única massiva da esquerda que reuniu no final do ano passado quase trinta mil trabalhadores no estádio de Atlanta, num ato político totalmente independente dos vários matizes da burguesia, tanto da direita (macrismo), como o de esquerda nacionalista (kirchnerismo, peronismo, etc). Se pensarmos em fazer uma analogia com o que há aqui no Brasil: a esquerda nacional até hoje não conseguiu se organizar de forma massiva e independente do PT (um partido de origem pequeno-burguesa que efetua na prática uma política burguesa pró-imperialista em seus governos, com privatização do pré- sal, manutenção de altos juros para o pagamento dos títulos dívida pública, e diversas políticas que sempre foram de encontro aos interesses do imperialismo, etc.) e de sua influência nos sindicatos, movimentos populares e sociais. Conseguimos assim ver a profundidade da política que o PO construiu na Argentina, que procura separar a todo custo os trabalhadores dos movimentos burgueses ou pequeno-burgueses que tentam, de todos os modos, influenciar os trabalhadores e a classe operária. A luta pela independência política dos trabalhadores (e de sua direção) das outras classes sociais é o primeiro objetivo que um partido político revolucionário e classista procura, a qualquer custo, realizar. Denunciamos veementemente as políticas de frente popular ou de colaboração de classes na esquerda. Essa é a raiz causadora das grandes derrotas que os trabalhadores sofreram e ainda sofrem no Brasil e no mundo. P - Onde está estruturado o TC? R - Somos um pequeno coletivo que ainda procura dar seus primeiros passos. Estamos iniciando a nos organizar em alguns estados da federação. Temos um blog (http://tribunaclassista.blogspot.com.b r/) e uma pequena sede no RS (Travessa do Ouvidor 200 / Porto Alegre/RS) e estamos tentando nos estruturar aos poucos, conforme formos crescendo e nos inserindo no movimento real das massas. Não somos um agrupamento que tenta vender uma propaganda enganosa (tipo que somos grandes, ou que dirigimos não sei quantos sindicatos, etc., etc.). Somos pequenos, não temos vergonha de falar que somos um pequeno grupo com pouca inserção nas massas, procuramos ter uma política correta e uma análise concreta da realidade, com isso preparamos nosso caminho para um crescimento sólido no futuro. P - Em que categorias já atuam? R - Nos professores, previdenciários, servidores públicos, movimentos populares, juventude. Como disse anteriormente, somos um pequeno coletivo e estamos iniciando nossas modestas atividades. P - O que diferencia vocês de outras correntes? R - A análise da crise histórica do capitalismo (que o PO da Argentina já elaborava e analisava antes mesmo da crise de 2008 e do qual desenvolveu uma farta elaboração teórica da qual compartilhamos) que desenvolve uma tendência catastrofista, ou seja que o capitalismo em sua fase de declínio não oferece à humanidade nada mais do que a sua desintegração civilizatória, e de todo um sistema mundial de produção, arrastando consigo toda uma decomposição e a barbárie que já podemos ver sem nenhum esforço. A máxima de Rosa Luxemburgo, "socialismo ou barbárie" é mais atual do que nunca, a análise de Trotski sobre a "crise de direção do proletariado" (contida no Programa de Transição e em outros escritos), ou seja, que antes de tudo só chegamos a esse ponto de involução e decadência devido às inúmeras 9
  • 10. TRIBUNA CLASSISTA derrotas que a esquerda e o movimento operário sofreram, e só sofreram essas derrotas devido a que as direções burocráticas e pequeno- burguesas colaboraram com a burguesia no sentido de amarrar, esmagar e derrotar os movimentos sociais da esquerda e dos trabalhadores, quebraram esse movimento a partir da chamada frente popular, uma frente que se expressa na colaboração estratégica da esquerda com a pequena burguesia (a chamada "sombra da burguesia") ou diretamente com o grande capital, a burguesia (em suas diversas matizes e setores) e, portanto, com os setores políticos mais reacionários. No Brasil, a frente popular inicia como uma frente do PT com partidos pequenos burgueses (1989) e depois transforma-se numa aliança com partidos do grande capital (PMDB e seus acólitos). Se tivesse que resumir diria que a análise da crise mundial do capitalismo anuncia uma grande bancarrota, e consequentemente, uma catástrofe histórica; o proletariado, a classe trabalhadora, precisa de uma nova direção, com partidos independentes da burocracia, da pequena-burguesia e da burguesia nacional e internacional; é necessária a construção de partidos classistas, de massas e revolucionários em cada país e a reconstrução da IV Internacional para unificar, centralizar e dirigir a luta mundial contra o capitalismo. P - Como veem a situação atual no Brasil? R - No Brasil somente houve um golpe parlamentar devido a que o PT colaborou com esses setores burgueses e patronais. O governo Temer nada mais é do que o Governo do PT, o governo Dilma, sem o PT, e com um pouco de perfumaria do PSDB. Uma parte considerável dos representantes burgueses que estão nesse governo já estiveram num governo anterior do PT. O PT utilizou seu antigo capital político numa aliança com partidos burgueses reacionários, o bloco político parlamentar que votou pelo impeachment e pelo golpe parlamentar foi, em grande parte, eleito em alianças com o próprio PT, utilizando-se do capital político do PT. Para se chegar a um golpe assim foi fundamental o PT desorganizar os setores mais combativos (com o auxílio da burocracia sindical) desviando as lutas políticas para meras pugnas eleitorais e a desmoralização do partido (e consequentemente de seus militantes e simpatizantes) a partir de grandes negócios de corrupção com o grande capital (empreiteiras) e seus partidos. A grande mídia burguesa que manipulou informações e preparou o golpe foi a mesma que o PT não quis enfrentar quando chegou ao poder. Uma política de derrotas, que foi construída não para o enfrentamento, mas para colaborar com o grande capital, seus agentes e seus partidos políticos. Se operações da PF e do judiciário (como a Lava-Jato) colocam as entranhas dessas relações promiscuas (grandes negócios burgueses) entre a esquerda e o grande capital, temos sempre que questionar os interesses que estão ocultos por detrás de tudo isso. Em nosso país temos prisão apenas para alguns "bois de piranha" que realizaram negócios escusos com empreiteiras e grandes grupos empresariais, mas outros políticos são "poupados" e até mesmo "blindados", principalmente os que participaram das privatizações. Aqui, os torturadores e assassinos do antigo regime militar são anistiados, enquanto é notório que essas empreiteiras enriqueceram e transformaram-se no que são hoje nos bastidores desse regime. O PT apenas deu continuidade a um esquema que já existia com a burguesia e seus regimes políticos anteriores, devemos nos questionar porque apenas alguns personagens são os "vilões" dessa história. Agora, não vamos com isso poupar o PT, o PT paga o preço histórico de sua integração com a política burguesa. Mas dentro de toda História temos que saber ler e interpretar o enredo para compreender o papel de cada classe social no jogo político e na sua trama. P - Para vocês, o que é o governo Temer? O governo Temer, fruto de um gigantesco golpe que agora tentam ocultar, expressa seu raivoso ataque às conquistas históricas e imediatas das massas, é um governo burguês, pró-imperialista, que governa a partir de um acordo entre as diversas e principais frações burguesas, que detém a maioria parlamentar e mesmo dentro no STF (pelo menos por enquanto, pois há inúmeras divergências que podem explodir a qualquer momento, colocando os acordos tácitos e explícitos na lata do lixo), mas não devemos esquecer que todas as reformas reacionárias (previdência, trabalhista, ajustes, etc.) foram iniciadas, em menor grau, nos governos anteriores do PT. O golpe parlamentar, do impeachment, é a expressão de uma ação de classe da burguesia para levar a cabo o que o PT não conseguiu executar em treze anos, a burguesia sentiu que a crise econômica não era uma marolinha e decidiu pedir a conta da fatura à classe trabalhadora e aos setores da classe média. Como o PT não tinha capital político suficiente (devido as inúmeras crises de corrupção, fruto da colaboração de classes com os setores políticos mais delinquentes e corrompidos da antiga política nacional), transformaram-no em bode expiatório de toda crise da qual passa nosso país, mas isso não livra a sua cara. O que temos é a burguesia fingindo-se de honesta para dar um golpe muito mais profundo através do governo Temer, em torno do qual todos os partidos fundamentais do regime político se associaram com vistas a saquear as massas e o Estado, preservando o sistema de corrupção (grande negócio da burguesia para saquear o patrimônio público e aumentar os seus lucros). A diferença econômica dos dois governos é a escala: enquanto o PT tentava utilizar o Estado para distribuir lucros ao grande capital com uma mão, dava migalhas às massas com a outra. Já o governo Temer utiliza as duas mãos para saquear as massas e encher os bolsos da burguesia. O governo do PT era um governo que antes e durante a grande crise capitalista de 2008, a burguesia podia ainda se dar ao luxo saquear de forma "civilizada". Agora, com o governo Temer, a burguesia já assumiu que a crise é profunda demais, e está saqueando de forma "selvagem", ou seja, abrupta. Mas é importante ter claro que os mesmos setores que hoje posam de inimigos foram aliados há pouco tempo e, com certeza, negociam nos bastidores. O encontro de Serra, Temer, Sarney, Renan, FHC e Lula não foi apenas uma cordialidade de "velhos amigos", durante a trágica morte de 10
  • 11. NOVA FASE Nº 25 | ABRIL 2017 dona Marisa Letícia. Lógico que há todo um acordo nos bastidores, com vistas a estabilizar a crise política e legitimar o golpe parlamentar do governo Temer e todas as suas reformas impopulares. Só não vê quem não quer. O Brasil está hoje, provavelmente, na vanguarda mundial da retirada de direitos e na opressão à classe trabalhadora. O governo Temer é fruto de um grande golpe onde estão destruindo todas as conquistas e os parcos direitos que as massas conquistaram no último século. A burguesia e seus meios de comunicação estão unidos na defesa desse governo e desse saque. A esquerda não luta, apenas se opõe (com seus interesses eleitorais mesquinhos), oposição essa que não contém uma defesa dos interesses imediatos, quanto mais históricos, das massas e da classe trabalhadora. Um exemplo disso é que não há nenhum setor significativo ou numeroso da esquerda que defenda a anulação de todas as reformas e ajustes do governo golpista de Michel Temer e a investigação e prisão dos que estão negociando os direitos das massas nos bastidores do balcão de negócios do grande capital e de todos os seus acólitos (que tramaram, organizaram e aprovaram o impeachment). A estratégia do PT é deixar o governo Temer mostrar que o governo do PT não era "tão ruim" (comparado com o atual) e eleger Lula em 2018, não para mudar algo, mas para manter tudo que está ai, como fez o PT com as privatizações de FHC. É a legitimação do golpe, pela via eleitoral. P - Como veem toda essa crise? R - Como marxistas só podemos ver a crise brasileira como parte integrante da crise mundial. Uma crise mundial do capitalismo, que ao se localizar num período de declínio e decadência do sistema mundial de relações sociais e dominação coloca claramente que o capitalismo não tem mais capacidade para sustentar um "colchão social", ou seja, uma política de reformas e seguridade social que consiga dar uma perspectiva, mesmo que longínqua, ao trabalhador e a setores da pequena burguesia e da classe média. O capitalismo está agonizando, o Brasil apenas demonstra isso de forma mais profunda devido a seu desenvolvimento desigual e combinado (nunca concluiu sua revolução burguesa, sua reforma agrária e até mesmo ainda persistem características econômicas e sociais de seu período colonial amalgamados com novas tecnologias e relações sociais capitalistas). Sem uma revolução social que coloque abaixo o sistema capitalista no próximo período, a sociedade brasileira e mundial, ou seja, a humanidade estará caminhando abruptamente para um abismo e para uma catástrofe social. Toda essa polarização social que vivenciamos nada mais é do que o organismo social capitalista entrando em putrefação. A transpiração que emana o corpo social (sociedade) em decomposição acarreta uma grande quantidade de movimentos reacionários que pensam unicamente em sua sobrevivência individual, sem conseguir refletir para onde caminha a sociedade. São setores que emanam moral de forma acentuada, mas que não tem uma análise crítica, histórica e coerente sobre a realidade política. São setores reacionários que querem que a roda da história volte para trás. Órfãos da ditadura militar, não conseguem ver que a crise mundial é muito mais forte do que suas vetustas ideologias. Esses grupos são a expressão da decadência do capitalismo, só existem porque o capitalismo está em uma crise profunda e já não consegue sustenta-los com a mesma facilidade que antes. Em vez de se voltar contra o sistema capitalista, esses elementos individualistas revoltam-se contra qualquer tipo de ideologia social. O importante é notar que são expressão clara e ideológica de um regime que está entrando em agonia e que desejam preservar sua existência, não de forma social, mas sim de forma individualista e anti- social. P - Para concluir, vocês defendem a vigência da Revolução Russa e do Socialismo? R - Sim, a Revolução Russa abre um experimento social que ainda é novo (dentro da história da humanidade) e demonstra que é possível uma sociedade socialista em escala mundial, a experiência revolucionária russa foi riquíssima e a posterior burocratização pelo stalinismo contrarrevolucionário também é uma grande lição para a classe trabalhadora, de como o isolamento da revolução russa foi fatal para o seu desenvolvimento social e de como apenas mundialmente é que pode desenvolver-se o socialismo, e a revolução, não de forma isolada e nacional, mas apenas de forma revolucionária, internacionalista e socialista é que podemos superar a agonia e a bancarrota do sistema capitalista mundial. Esse ano comemora-se 100 anos da Revolução Russa, temos que estudar profundamente essa Revolução, suas lições e sua experiência, etc. A Revolução Russa inicia uma etapa, ela não se fechou de forma alguma, está vigente. Assim como a Revolução burguesa da Inglaterra não terminou em 1640, mas desenvolveu-se, 150 anos depois, na Revolução Francesa, etc., etc. A Revolução Russa nos mostrou que outra sociedade é possível. Sem ela, a humanidade ficaria sem um norte diante da crise atual. Com ela podemos estudar profundamente suas engrenagens, aprender com suas contradições e a partir da analogia e da peculiaridade histórica de cada nação, podemos desenvolver novamente a ideia de revolução, seu programa e seu partido. A Revolução Russa é um marco na história da humanidade e, com a crise mundial do capitalismo, está mais vigente e atual do que nunca. Mas somente a práxis revolucionária poderá mostrar para as gerações futuras o seu devido lugar na história. ■ 11
  • 12. TRIBUNA CLASSISTA NÃO À PRIVATIZAÇÃO DO BANRISUL NÃO À PRIVATIZAÇÃO DA CEEE, CRM E SULGÁS - PELA REVOGAÇÃO DO PACOTAÇO DE SARTORI - COLOCAR O BANRISUL, CEEE, CRM E SULGÁS E O SERVIÇO PÚBLICO SOB CONTROLE DOS TRABALHADORES O governo Sartori do PMDB já recebeu um aviso-prévio quando nem havia completado o primeiro ano do seu mandato, ao “aplicar” o primeiro parcelamento dos salários, leia-se sequestro dos salários, e milhares de servidores públicos estaduais marcharam em uma grande manifestação que provocou um susto inclusive na burocracia sindical. Como se não bastasse encaminhou um pacotaço para a Assembleia Legislativa que constituiu-se no maior ataque às condições de vida dos servidores públicos estaduais e ao conjunto da classe trabalhadora, concentrando num só pacote inúmeras medidas que podem ser comparadas ao lançamento de um míssil na cabeça dos que foram atingidos, porque são medidas de cunho letal. Por isso, não foi de se estranhar a aplicação de um estado de sítio de fato em que o governador Sartori transformou a cidade de Porto Alegre nos dias em que foi realizada a votação do verdadeiro veneno letal nas veias dos trabalhadores, com a cumplicidade dos deputados da sua “base aliada” e a complacência de uma oposição formal no interior da Assembleia Legislativa. O velho e surrado método da ditadura militar e todos os governos capitalistas foi utilizado contra os trabalhadores e a juventude indefesos. Uma fórmula que demonstra a total incapacidade do capitalismo em atender às mínimas necessidades dos trabalhadores, e que só conseguirá se manter, retirando o pouco do que ainda resta do que foi conquistado com muita luta: tropa de choque, cavalaria, cães, helicópteros, bombas de gás lacrimogêneo, gás de pimenta, algemas, balas de borracha, etc. etc. etc. É isso que o estado capitalista tem a oferecer para os trabalhadores para continuar, em condições que lhes são cada vez mais adversas, sendo a teta dos grandes capitalistas nacionais e internacionais, verdadeiros parasitas que viveram historicamente e vivem sugando a riqueza construída às custas dos suor, dos braços, dos músculos, do sangue da classe trabalhadora. Um governo que continua sistematicamente reincidindo na sua sanha criminosa. O sequestro dos salários continua, tratando os servidores públicos como verdadeiros reféns em cárcere privado num grande campo de concentração, que é a condição geral que o sistema capitalista está levando cada vez mais os trabalhadores no mundo inteiro, em sua etapa de total senilidade. Os bancários do BANRISUL já deram uma demonstração de que não vão entregar o ouro pro bandido assim no mais. Lotaram o auditório da FETRAFI no sábado, dia 18/03, e só a sua ação independente unificada com os demais bancários e com todo os servidores públicos estaduais poderá revogar todas as medidas já tomadas por Sartori e barrar as suas nefastas intenções já anunciadas e previstas no próximo período. Assim, uma frente parlamentar tem que ter um caráter de classe e estar subordinada aos métodos próprios da classe operária. GANHAR AS RUAS E ORGANIZAR A GREVE GERAL CONTRA SARTORI E TEMER – POR UM CONGRESSO DE BASES DA CLASSE TRABALHADORA – FORA SARTORI! FORA TEMER – POR UM GOVERNO PRÓPRIOS DOS TRABALHADORES ■ Conselho Editorial Alfeu Bittencourt Goulart Antonio Carlos Tarragô Giordano Carlos Alberto Zapelloni Carlos Santos Edgardo Azevedo Luís Guilherme Tarragô Giordano Rosana de Morais FORA TEMER! TRIBUNA CLASSISTA SEDE: Travessa do Ouvidor, 200 Porto Alegre / RS CEP 90650-050 tribunaclassista@hotmail.com tribunaclassista.blogspot.com.br /groups/TRIBUNACLASSISSTA 12