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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
Departamento de Ensino e Currículo
EDU 02X11 – ESTÁGIO DE DOCÊNCIA EM HISTÓRIA II – ENSINO MÉDIO
Regente responsável: Professora Carla Beatriz Meinerz
Nome: Luiz Paulo Oliveira Arruda
Estabelecimento de Ensino do estágio: Colégio Mlitar de Porto Alegre
TEXTO PARA REFLEXÃO
É fato bem conhecido que as estatísticas podem provar qualquer coisa. Nunca nos proporcionaram
um quadro mais falso do que o relativo ao período de infância da Revolução Industrial na Inglaterra. Toda
a tabela de números mostrava progressos tremendos. A produção de algodão, ferro, carvão, de qualquer
mercadoria, multiplicou-se por dez. O volume e o total de vendas, os lucros dos proprietários – tudo isso
subiu aos céus. Lendo tais números ficamos surpreendidos. A Inglaterra, ao que tudo indica, devia ter sido
então o paraíso que os autores de canções mencionam sempre. Foi, realmente – para uns poucos.
Para muitos, podia ser qualquer coisa, menos um paraíso. Em termos de felicidade e bem-estar dos
trabalhadores, aquelas estatísticas róseas diziam mentiras horríveis. Um autor mostrou isso num livro
publicado em 1836:
“Mais de um milhão de seres humanos estão realmente morrendo de fome, e esse número aumenta
constantemente ...É uma nova era na História que um comércio ativo e próspero seja índice não de
melhoramento da situação das classes trabalhadoras, mas sim de sua pobreza e degredação: é a era a
que chegou a Grã-Betranha.”
Se um marciano tivesse caído naquela ocupada ilha da Inglaterra teria considerado loucos todos os
habitantes da Terra. Pois teria visto de um lado a grande massa do povo trabalhando duramente, voltando
à noite para os miseráveis e doentios buracos onde moravam, que não serviam nem para os porcos; de
outro lado, algumas pessoas que nunca sujaram as mãos com o trabalho, mas não obstantes faziam as leis
que governavam as massas, e viviam como reis, cada qual num palácio individual. (…)
Essa divisão não era nova. Mas com a chegada das máquinas e do sistema fabril, a linha divisória se
tornou mais acentuada ainda. Os ricos ficaram mais ricos e os pobres, desligados dos meios de produção,
mais pobres. Particularmente ruim era a situação dos artesãos, que ganhavam antes o bastante para uma
vida decente e que agora, devido à competição das mercadorias feitas pela máquina, viram-se na miséria.
Temos uma ideia de como era desesperada a sua situação pelo testemunho de um deles, Thomas Health,
tecelão manual:
“Pergunta: Tem filhos?
Resposta: Não. Tinha dois, mas estão mortos, graças a Deus!
Pergunta: Expressa satisfação pela morte de seus filhos?
Resposta: Sim. Agradeço a Deus por isso. Estou livre do peso de sustentá-los, e eles, pobres
criaturas, estão livres dos problemas desta vida mortal.”
O leitor há de concordar que, para falar desse modo, o homem devia realmente estar deprimido e
na miséria.
O que acontecia aos homens que, reduzidos ao estado de fome absoluta, já não podiam lutar contra
a máquina, e finalmente iam buscar emprego na fábrica? Quais eram as condições de trabalho nessas
primeiras fábricas?
As máquinas, que podiam ter tornado mais leve o trabalho, na realidade o fizeram pior. Eram tão
eficientes que tinham de fazer sua mágica durante o maior tempo possível. Para seus donos, representavam
tamanho capital que não podiam parar – tinham de trabalhar, trabalhar sempre. Além disso, o proprietário
inteligente sabia que arrancar tudo da máquina, o mais depressa possível, era essencial porque, com as
novas invenções, elas podiam tornar-se logo obsoletas. Por isso os dias trabalho erma longos, de 16 horas.
Quando conquistaram o direito de trabalhar em dois turnos de 12 horas, os trabalhadores consideraram tal
modificação como uma bênção.
Mas os dias longos, apenas, não teriam sido tão maus. Os trabalhadores estavam acostumados a
isso. Em suas casas, no sistema doméstico, trabalhavam durante muito tempo. A dificuldade maior foi
adaptar-se à disciplina da fábrica. Começar numa hora determinada, para, noutra, começar novamente,
manter o ritmo dos movimentos da máquina – sempre sob as ordens e a supervisão rigorosa de um capataz
– isso era novo. E difícil. (…)
Perante uma comissão do Parlamento em 1816, o Sr. John Moss, antigo capataz de aprendizes
numa fábrica de tecidos de algodão, prestou o seguinte depoimento sobre as crianças obrigadas ao trabalho
fabril:
“Eram aprendizes órfãos? - Todos aprendizes órfãos.
E com que idade eram admitidos? - Os que vinham de Londres tinham entre 7 a 11 anos. Os que
vinham de Liverpool, tinham 8 a 15 anos.
Até que idade eram aprendizes? - Até 21 anos.
Qual o horário de trabalho? - De 5 da manhã até 8 da noite.
Quinze horas diárias era um horário normal? - Sim.
Quando as fábricas paravam para reparos ou falta de algodão, tinham as crianças,
posteriormente, de trabalhar mais para recuperar o tempo parado? - Sim.
As crianças ficavam de pé ou sentadas para trabalhar? - De pé.
Durante todo o tempo? - Sim.
Havia cadeiras na fábrica? - Não. Encontrei com frequência crianças pelo chão, muito depois da
hora em que deveriam estar dormindo.
Havia acidentes nas máquinas com as crianças? - Muito frequentemente”
(HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem. 18 ed., Rio de Janeiro, Zahar, 1982, pp 187 -191)
- Faça um relato de época, imaginando o Colégio Militar como uma fábrica do século XIX e você um
operário. O relato deve ser de uma página.

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  • 1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE EDUCAÇÃO Departamento de Ensino e Currículo EDU 02X11 – ESTÁGIO DE DOCÊNCIA EM HISTÓRIA II – ENSINO MÉDIO Regente responsável: Professora Carla Beatriz Meinerz Nome: Luiz Paulo Oliveira Arruda Estabelecimento de Ensino do estágio: Colégio Mlitar de Porto Alegre TEXTO PARA REFLEXÃO É fato bem conhecido que as estatísticas podem provar qualquer coisa. Nunca nos proporcionaram um quadro mais falso do que o relativo ao período de infância da Revolução Industrial na Inglaterra. Toda a tabela de números mostrava progressos tremendos. A produção de algodão, ferro, carvão, de qualquer mercadoria, multiplicou-se por dez. O volume e o total de vendas, os lucros dos proprietários – tudo isso subiu aos céus. Lendo tais números ficamos surpreendidos. A Inglaterra, ao que tudo indica, devia ter sido então o paraíso que os autores de canções mencionam sempre. Foi, realmente – para uns poucos. Para muitos, podia ser qualquer coisa, menos um paraíso. Em termos de felicidade e bem-estar dos trabalhadores, aquelas estatísticas róseas diziam mentiras horríveis. Um autor mostrou isso num livro publicado em 1836: “Mais de um milhão de seres humanos estão realmente morrendo de fome, e esse número aumenta constantemente ...É uma nova era na História que um comércio ativo e próspero seja índice não de melhoramento da situação das classes trabalhadoras, mas sim de sua pobreza e degredação: é a era a que chegou a Grã-Betranha.” Se um marciano tivesse caído naquela ocupada ilha da Inglaterra teria considerado loucos todos os habitantes da Terra. Pois teria visto de um lado a grande massa do povo trabalhando duramente, voltando à noite para os miseráveis e doentios buracos onde moravam, que não serviam nem para os porcos; de outro lado, algumas pessoas que nunca sujaram as mãos com o trabalho, mas não obstantes faziam as leis que governavam as massas, e viviam como reis, cada qual num palácio individual. (…) Essa divisão não era nova. Mas com a chegada das máquinas e do sistema fabril, a linha divisória se tornou mais acentuada ainda. Os ricos ficaram mais ricos e os pobres, desligados dos meios de produção, mais pobres. Particularmente ruim era a situação dos artesãos, que ganhavam antes o bastante para uma vida decente e que agora, devido à competição das mercadorias feitas pela máquina, viram-se na miséria.
  • 2. Temos uma ideia de como era desesperada a sua situação pelo testemunho de um deles, Thomas Health, tecelão manual: “Pergunta: Tem filhos? Resposta: Não. Tinha dois, mas estão mortos, graças a Deus! Pergunta: Expressa satisfação pela morte de seus filhos? Resposta: Sim. Agradeço a Deus por isso. Estou livre do peso de sustentá-los, e eles, pobres criaturas, estão livres dos problemas desta vida mortal.” O leitor há de concordar que, para falar desse modo, o homem devia realmente estar deprimido e na miséria. O que acontecia aos homens que, reduzidos ao estado de fome absoluta, já não podiam lutar contra a máquina, e finalmente iam buscar emprego na fábrica? Quais eram as condições de trabalho nessas primeiras fábricas? As máquinas, que podiam ter tornado mais leve o trabalho, na realidade o fizeram pior. Eram tão eficientes que tinham de fazer sua mágica durante o maior tempo possível. Para seus donos, representavam tamanho capital que não podiam parar – tinham de trabalhar, trabalhar sempre. Além disso, o proprietário inteligente sabia que arrancar tudo da máquina, o mais depressa possível, era essencial porque, com as novas invenções, elas podiam tornar-se logo obsoletas. Por isso os dias trabalho erma longos, de 16 horas. Quando conquistaram o direito de trabalhar em dois turnos de 12 horas, os trabalhadores consideraram tal modificação como uma bênção. Mas os dias longos, apenas, não teriam sido tão maus. Os trabalhadores estavam acostumados a isso. Em suas casas, no sistema doméstico, trabalhavam durante muito tempo. A dificuldade maior foi adaptar-se à disciplina da fábrica. Começar numa hora determinada, para, noutra, começar novamente, manter o ritmo dos movimentos da máquina – sempre sob as ordens e a supervisão rigorosa de um capataz – isso era novo. E difícil. (…) Perante uma comissão do Parlamento em 1816, o Sr. John Moss, antigo capataz de aprendizes numa fábrica de tecidos de algodão, prestou o seguinte depoimento sobre as crianças obrigadas ao trabalho fabril: “Eram aprendizes órfãos? - Todos aprendizes órfãos. E com que idade eram admitidos? - Os que vinham de Londres tinham entre 7 a 11 anos. Os que vinham de Liverpool, tinham 8 a 15 anos. Até que idade eram aprendizes? - Até 21 anos. Qual o horário de trabalho? - De 5 da manhã até 8 da noite. Quinze horas diárias era um horário normal? - Sim.
  • 3. Quando as fábricas paravam para reparos ou falta de algodão, tinham as crianças, posteriormente, de trabalhar mais para recuperar o tempo parado? - Sim. As crianças ficavam de pé ou sentadas para trabalhar? - De pé. Durante todo o tempo? - Sim. Havia cadeiras na fábrica? - Não. Encontrei com frequência crianças pelo chão, muito depois da hora em que deveriam estar dormindo. Havia acidentes nas máquinas com as crianças? - Muito frequentemente” (HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem. 18 ed., Rio de Janeiro, Zahar, 1982, pp 187 -191)
  • 4. - Faça um relato de época, imaginando o Colégio Militar como uma fábrica do século XIX e você um operário. O relato deve ser de uma página.