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30 Anos e 45 dias de serviço no
     Exército Brasileiro




     “Na manhã do dia 31 de março de 1964, ao transpor
o portão principal da EsSA, pisei pela primeira vez em
solo de um quartel... Era o prenúncio de uma carreira
militar. Da carreira que teria início no dia 15 de fevereiro
de 1965 e encerrar-se-ia em 31 de março de 1995.”
                                   Antonio Carlos de Carvalho
Autor: Antonio Carlos de Carvalho
      antccmt@gmail.com
Revisor: José Paulo Bueno de Carvalho
Capa: Foto do Portão Principal da EsSA – 1965:




                     Foto atual do Portão:




Contra-capa: Foto do Aluno nº 705 Antonio Carlos
Diagramação e Impressão: ACCarvalho
Fotos: Acervo do autor, do museu do 9º BEC e algumas cedidas por amigos.
                                 2ª Edição 2013
           A edição desse livro é um trabalho artesanal do autor,
                sem fins comerciais. Distribuição gratuita.

Apoio:
     PORTAL DA ADMINISTRAÇÃO PARA CONCURSOS PÚBLICOS




                        www.lacconcursos.com.br

                                       2
Dedicatória
     Dedico a todos os meus amigos, companheiros da longa caminhada
no Exército Brasileiro, de modo muito especial aos da Equipe de Conserva
e Manutenção do Trânsito (3º B Rv) e Revestimento Primário
(Cascalheira – 9º BEC), posso não me lembrar do seu nome, porém ao
relembrar o nosso feito, você está presente no meu pensamento.

     Uma dedicatória especial:
       À minha Mãe querida, Maria Aparecida Bueno de Carvalho, que
moveu “céus e terras” para que meus irmãos e eu pudéssemos estudar.
      Ao meu Pai, José Oliveira de Carvalho, quem me conduziu à
carreira militar. Sou feliz na vida militar porque fiz a vontade do meu
querido Pai!
      A minha querida esposa, Edna Esteves Carvalho, que há 39 anos
me acompanha nessa caminhada pela vida a fora!
      Ao querido filho Luiz, a sua esposa Ana Lúcia, aos seus filhos Luiz
Vinícius e Ana Luiza.
       A querida filha Ediane, o seu esposo Sílvio, aos seus filhos Samuel
e Ana Vitória.
      A querida filha Nádia.




                                    3
4
Agradecimentos
      Primeiro agradeço a Deus por tudo; pela coragem, disposição e
aptidão, para narrar os meandros da minha vida...
      Agradeço ao meu irmão José Paulo Bueno de Carvalho, “Paulinho”,
conselheiro e revisor deste trabalho. Sua participação com
intelectualidade, dedicação, esmero e sua pertinência muito contribuíram
para o enriquecimento desse livro.
       Agradeço a todos os Comandantes e Chefes que ao longo da carreira
reconheceram e valorizaram o meu trabalho.
      Agradeço, também, aos meus pares e subordinados, que me ajudaram
a cumprir as mais diversas missões, e pela confiança e amizade.
      Agradeço, ainda, a colaboração dos “velhos companheiros” da Arma
Azul Turquesa: Tenente Coronel Júlio de Augusto de Oliveira Soares,
pela participação no primeiro livro, e os Capitães Ubyrajar de Oliveira
Henriques e Emerson Rogério de Oliveira, pela participação na 2ª Edição
desse livro.
      Meu agradecimento especial a toda equipe do site:
www.lacconcursos.com.br, que possibilitou a disponibilidade desse livro
na internet.
      Muito obrigado!




                                   5
6
Após vários anos na reserva, me atrevi a realizar a remota
aspiração de escrever um livro, na narrativa da história da minha vida
convivida entre familiares, amigos e companheiros que sugiram ao
acaso nesta caminhada pela a vida afora. À medida que ia
recordando e ordenando aquele emaranhado de lembranças iam
surgindo outras e outras, que formaram o livro – “Até parece que
foi ontem...” Sem dúvida uma experiência singular, valeu!
      Concluído o livro avaliei que o intervalo vivido no Exército,
deveria ser compartilhado com os amigos da caserna, companheiros
de tantas aventuras. Pois, nos trinta anos de quartel, vivi uma grande
diversidade de funções, missões e situações, algumas “sui generis”!
Tive o privilégio de conhecer, trabalhar e conviver com pessoas
especiais, notáveis, educadas, gentis, e, também, com aquelas tidas
como “difíceis” de se relacionar. Todavia, todas elas ajudaram a
aprimorar o meu espírito! E, também, porque observei que a história
das grandiosas obras realizadas pela Engenharia Militar, pouco a
pouco, vai se apagando, sendo esquecida.
      Decidi, então, publicar, o primeiro livro, “Reminiscências de
um Pioneiro da Cuiabá – Santarém”. Com 144 páginas, narro,
sem dúvida, a melhor fase da minha vida militar. Foi a oportunidade
de participar, talvez, da maior obra realizada pela Engenharia Militar e
foi também a minha afirmação da capacidade de liderar uma equipe
de construção de obra rodoviária.
      Não é a história do 9º Batalhão de Engenharia de Construção, é
apenas a narrativa dos fatos vividos, principalmente, na chefia da
Equipe de Revestimento Primário e alguns fatos do meu
conhecimento, relacionados à Unidade Militar ou aos seus
Integrantes.
      Espero ter tido a sensibilidade para passar, para o papel,
determinadas situações não conhecidas ou que às vezes passam
despercebidas aos olhares de muitos, mas, que fazem a diferença no
cumprimento da missão.
      No segundo livro publicado, “30 Anos e 45 dias de serviço
no Exército Brasileiro”, (1ª Edição), com 300 páginas, narro, além
do conteúdo do primeiro livro, toda a minha trajetória no Exército,
desde a minha inscrição na EsSA até a transferência para a Reserva
Remunerada.
      O difícil não é escrever o livro em si, mas, sim, em publicá-lo.
Razão pela qual comecei pelo menor e foi a minha sorte, pois,
contratei uma gráfica para editar o livro e o resultado foi um
                                   7
desastre, a gráfica não entregou o produto na qualidade combinada.
Assim, decidi eu mesmo fazer a diagramação e a impressão,
contratei apenas a encadernação. O trabalho artesanal ficou bom.
     Mesmo assim, o custo para produzir um livro é alto. Sem
incentivo e patrocínio, a solução encontrada, para maior divulgação e
atender a grande solicitação dos amigos, companheiros e
conhecidos, foi a internet e a criação de um site para disponibilizar
gratuitamente, o livro “30 Anos e 45 dias de serviço no Exército
Brasileiro”, (2ª Edição).
     Os fatos narrados, em ambos os livros, são verídicos, não há
ficção. São lembranças que ficaram armazenadas por décadas na
minha memória. É natural que alguma “coisa” tenha se perdido entre
os meus neurônios!
     E, assim reuni e publiquei episódios vividos no quartel e nos
canteiros de trabalho. São muitas lembranças – algumas
proeminentes, outras nem tanto, situações alegres, às vezes tristes
ou até banais. Mas, muitas vezes do banal surgiu o significativo!
Tudo são peças que se encaixam e formam o “mosaico” de uma vida
de muita intensidade, da qual muito me orgulho! Ao contemplar esse
“mosaico” certifico que tudo foi importante! No momento em que
foram vividos determinados fatos, não pude aperceber que seus
valores seriam o diferencial na posteridade!
     Nesta vida terrena tudo pode ser passageiro! Entretanto, as
amizades verdadeiras são duradouras, persistem para sempre,
vencem o tempo, à distância e as adversidades! Dá sentido à vida!
     A amizade foi e é a minha maior conquista!

                                                         O Autor.




                                  8
Ao aceitar o honroso convite do autor ANTONIO CARLOS DE
CARVALHO -Cap Ref EB, dileto amigo e companheiro de lutas nos
campos da nossa Engenharia Militar, para que apreciasse e registrasse
comentários sobre seu livro “30 Anos e 45 dias de serviço no Exército
Brasileiro”, intentei transmitir como segue:

      O LIVRO
      Chama atenção, à primeira vista, a peculiar feitura do livro. De
forma artesanal, caseira, desassistida de quaisquer recursos
sofisticados e técnicas de editoração, ela admira pelo primoroso
acabamento; pela beleza da capa que atende as principais funções
básicas de “proteção”, “identidade” e “apelo à leitura” e, também, pela
excelente gramatura das páginas.

      A OBRA
      Constata-se, já nos primeiros capítulos, a incomum e firme
determinação do autor em historiar sua jornada pelos caminhos da vida
militar, o que termina por fazê-lo através desta bela obra.       Os
acontecimentos marcantes de sua vivência são dispostos em relatos
minuciosos, com muita simplicidade e sem ornamentos desnecessários.
A hábil exposição dos Capítulos e suas subdivisões, distribuídos
cronologicamente e ornados, muitas vezes, com documentos e
fotografias acumulados através dos tempos, torna a obra, bastante
esclarecedora e de fácil e agradável leitura.

     A INTENÇÃO
     Embora os relatos do autor se fixem primitivamente em sua vida
pessoal, cabe ressaltar suas fortes e vibrantes virtudes cívicas quando
descreve, com orgulho e desenvoltura, sua profissão de militar do
EXÉRCITO BRASILEIRO e, em destaque, sua eficiente participação,
quando integrando a Arma de Engenharia de Construção, na nobre
missão de desenvolvimento e integração da Pátria.

                                         Campo Grande-MS – NOV 2012

                                     Ubyrajar de Oliveira Henriques
                                              Cap Ref EB
                                 9
10
No      final de 2011, com agradável surpresa, recebi do meu
amigo e irmão da Arma de Engenharia, Capitão Reformado, Antonio
Carlos de Carvalho, um exemplar do seu livro: “30 Anos e 45 Dias de
Serviço no Exército Brasileiro” – que ele define como “o mosaico de
uma vida de muita intensidade, da qual muito me orgulho”. E
verdadeiramente o é. Li de uma só pegada, as trezentas páginas, a
maioria ilustrada com fotos. O livro, uma produção independente, de
feitio artesanal e sem fins lucrativos, é desses que a gente começa a
ler e não quer mais parar. Achei-o maravilhoso, pelo conteúdo, pela
forma e pelo estilo. Autêntico “tocador de serviços”, primeiro no
pampa gaúcho e depois na floresta amazônica, o autor,
compromissado com a veracidade do relato, usa uma linguagem
clara e transparente, para resgatar histórias importantíssimas,
vivenciadas por ele e seus companheiros de trabalho, além de
registrar valiosos dados históricos e sociológicos das décadas de
1960/1970 . Até me vali de alguns deles, para realinhar um capítulo do
livro que escrevia no momento (Muito Além dos Caminhos),
creditando-o na minha referência bibliográfica.
       O título da obra e a leitura das suas primeiras páginas poderão
dar a impressão de que se trata da autobiografia do autor. Mas à
medida que avança a leitura, percebe-se que ele não é tão somente o
narrador e o personagem principal das suas próprias histórias.
Contadas de forma brilhante, tirando-se o caráter particular e
sabendo-se avaliar os graus de dificuldades e de riscos de cada uma,
elas são quase as mesmas do universo dos “tocadores de serviço”
do 3.º Batalhão Rodoviário, de Vacaria (3.º BRv), depois transformado
em 9.º Batalhão de Engenharia de Construção, de Cuiabá (9.º BEC,
quando empreenderam uma epopeia na construção das grandes
obras da nossa Engenharia Militar. Todos tiveram as suas histórias.
Daí, que o “Truquinho” – apelido carinhoso dado pelos amigos que
fez ao longo da vida, ao dar lume a esses registros, presta um
serviço à História, um tributo ao ex- 3.º BRv, e uma homenagem aos
que integraram o “velho batalhão de Vacaria”, cuja fidelidade e amor
continuam até os dias de hoje. Além do que, comunga com todos os
seus amigos, pois como ele mesmo diz: “A amizade foi e é a minha
maior conquista!”.
       A outra surpresa veio pelo convite, no início deste ano de 2013,
para prefaciar o livro revisado, ampliado e com projeto para
                                  11
disponibilizá-lo na Internet, o que me deixou honrado e feliz. Para
melhor orientar-me, li-o novamente, com o mesmo entusiasmo e
prazer de antes. Prefaciar um livro equivale a dar-lhe o aval, pois, ao
cumprimentar o autor naquela primeira leitura, já o avalizara
declaradamente.
      Na manhã do dia 31 de Março de 1964, quando o jovem
Carvalho transpôs o portão principal da EsSA, em Três
Corações/MG, para fazer sua inscrição para o curso de Sargento das
Armas, eu ocupava uma trincheira à margem gaúcha do Rio Pelotas,
divisa dos estados RS/SC, armado com uma metralhadora INA, com
o meu Grupo de Combate em posição. Era o Movimento
Revolucionário, que evitou que o Brasil fosse entregue nas mãos dos
comunistas. Eu havia me formado na mesma Escola, em 1963, e
estava mais de um mês da minha apresentação no 3.º BRv.
      Em fevereiro de 1966, o pica-fumo 3.º Sargento Carvalho,
mineiro da cidade da Campanha, chegou a Vacaria, pronto para o
serviço na Unidade. As obras de arte da ferrovia do Tronco Principal
Sul (TPS), estavam sendo ultimadas e o batalhão iniciava a
construção da BR-285 – Vacaria São Borja (587 km). Com as diversas
frentes de trabalho e com a transferência de pessoal e equipamento
da ferrovia para a rodovia, a azáfama era intensa naquelas paragens.
Havia um efetivo civil e militar, contando os familiares, de
aproximadamente dez mil pessoas.
      Sem mais demora, o Carvalho foi destacado para trabalhar no
trecho da BR-285, assumindo a chefia da “Equipe de Revestimento
Primário, Conservação e Manutenção de Trânsito”, com atuação
entre Lagoa Vermelha e Passo Fundo.
      Serviço desgastante, pois tinha a tarefa de manter a
trafegabilidade dos trechos abertos, que exigia sacrifício, e não havia
descanso nos finais de semana. Com a equipe volante, ocupava
instalações de beira de estrada, deixadas pelos que seguiam em
frente, como as turmas de bueiros, pontes, Equipamento Pesado...
Eram barracões rústicos, sem banheiro e sem luz elétrica. Muitas
vezes sem água por perto. Apesar dessas dificuldades e da sua falta
de experiência, esse foi o grande palco de atuação e de destaque do
jovem militar, que iniciava a carreira. Superou todos os entraves com
coragem, dedicação e, acima de tudo, liderança e capacidade de
trabalho. Foi naquele chão gaúcho, de estrada poeirenta e de barro
vermelho, que se forjou o profissional da QMG 05 - Engenheiro de
Campanha, legítimo trecheiro, chamado de tocador de serviço. Ainda
haveria de ser testado em outras missões no chão mato-grossense,
com novos riscos e desafios.
      Longe da BR 285, num lugar chamado Fim do Trecho, à beira do
Rio Pelotas, eu tocava dois túneis e as cavas de um viaduto – últimas
obras do TPS, a cargo do batalhão. Mesmo enfurnado naqueles
                                  12
fundões, tomei conhecimento de que “...um Sargento, chegado da
EsSA... um tal de Carvalho, se desempenhava com muita iniciativa...
tinha a turma na mão...” E coisa e tal. Ouvi elogios de várias pessoas
que chegavam àquelas paradas em visita às Obras. O Major Uiara,
oficial da Seção Técnica, na sede, foi um deles a fazer referências ao
pica-fumo mineiro.
       Estava curioso para conhecê-lo, mas não lembro quando isso
aconteceu. Acho que foi na sede, em Vacaria, no Clube dos
Sargentos. Dali nasceu a nossa amizade. Até hoje. Em 1967,
enquanto a sede do 3.º BRv se fixava em Carazinho/RS, cursei o CAS.
Voltei transferido para a 2.ª Cia E Cnst, em Panambi, noroeste do
Estado gaúcho. Nessa ocasião trabalhei na BR-285, junto com o
Carvalho, cada um na sua missão, eu como fiscal de uma construtora
civil, que fazia a terraplenagem, e depois na construção das pontes
dos rios Ibicuá e Moinho, nas bandas da Região das Missões, e ele
continuava com a Equipe de Revestimento Primário, nas
proximidades de Carazinho.
       Logo em seguida, o 3.º Batalhão Rodoviário foi transformado
em 9.º Batalhão de Engenharia de Construção, com sede em Cuiabá,
com a missão de implantar a BR–163 Cuiabá – Santarém, até a Serra
do Cachimbo, no Estado do Pará, e nós nos reencontramos em 1971,
quando lá aportei. Ele chegara um ano antes.
       A CER/4 ficou encarregada da conclusão da BR-285.
       Pioneiro do “Escalão Avançado do 9º BEC”, o Carvalho
desembarcou em novembro de 1970, de uma aeronave C 130
Hércules, em Cuiabá. Chegou para ficar. Casou, constituiu família,
serviu no 9.º BEC em todas as graduações e postos – de 3.° Sargento
a Capitão – e fixou residência, onde mora até hoje. E ainda por cima,
diz que quebrou uma tradição cuiabana, quando afirma que não
comeu “cabeça de pacu” – segundo a lenda: condição para nunca
mais deixar o lugar.
       Em pouco tempo foi destacado para trabalhar na construção da
BR–163, na chefia da Equipe de Revestimento Primário, o mesmo
nome da equipe que liderara no Sul. Os trabalhos estavam no início.
       Como lá no Sul, o ritmo intenso obrigava o Sargento Carvalho a
mudanças constantes de acampamentos: Piúva, Castanhal, Córrego
da Onça, Rio Lira, Teles Pires, Rio dos Patos... Também como lá,
precários, sem condições sanitárias e sem energia elétrica. O
suprimento de alimentos vinha dos céus, em volumes largados em
clareiras no mato, por aviões de pequeno porte, fretados ou do apoio
da FAB. No atraso ou na falta, o “quebra-torto”, feito de carne de sol
com farinha, servia para mitigar a fome.
       O longo tempo de paragem por aquelas bandas amazônica,
embrenhado na selva, com a sua equipe, também chamada de
“Equipe da Cascalheira”, atesta que o livro que escreveu tem causos
                                  13
do “arco da velha”. A citação dos nomes dos participantes nas
histórias e as fotos que ilustram as páginas são as testemunhas dos
acontecimentos, alguns impressionantes, como o capítulo: “Três
dias perdido”.
      A narrativa do livro é clara e objetiva, segue o traçado da
estrada, na mesma velocidade das equipes de terraplenagem,
Disparada e Arrastão, cujas máquinas, conduzidas por operadores
obstinados, avançam, derrubando a mata e deixando atrás de si a
estrada aberta, pronta para receber o cascalho da Equipe do
Sargento Carvalho, que vem logo atrás, ainda no cheiro do vergel
ceifado e da terra fresca revolvida. Há relatos de passagens heroicas
desses homens intrépidos, de quem eram exigidos coragem e
sacrifício, dadas as condições e a agressividade da área. E
abnegação, pois trocavam dois meses na floresta, por uma semana
junto à família.
      Os servidores civis e os militares, em sua maioria, vieram
juntos com a mudança do batalhão para Cuiabá. “O pessoal
empregado nas atividades do Batalhão é composto de militares
(Oficiais e Praças), em sua maior parte oriundos do extinto 3.°
Batalhão Rodoviário. Civis: funcionários públicos federais e
contratados, num efetivo que hoje atinge 1.800 servidores”.
(Suplemento 9.º BEC – Integração, Desenvolvimento e Segurança –
1971)
       Depois de alguns anos embrenhados na selva amazônica, em
arrojadas e sacrificantes missões, submetidos a ataques de índios e
a doenças tropicais, cumpriram suas missões e se dispersaram.
Como o autor, muitos permanecem por lá até hoje.
      Sobre a malária, o maior desafio da área de saúde do batalhão,
há um relato impressionante do Carvalho, à página 158 do livro: “[...]
Além das dificuldades técnicas, havia o terrível fantasma da malária...
Lembro-me que quando o Dr. João (médico da Unidade) chegou ao
acampamento [...], no final da tarde, em que a malária ataca [...]
convidei-o para me acompanhar até ao alojamento maior coberto de
lona e mostrei a ele, quase que um terço da equipe,
aproximadamente 50 homens deitados, tremendo de febre. O Dr.
João teve aquela momentânea reação de espanto [...]. Mais adiante.
Continua o autor: “Algumas mortes eram repentinas. O trabalhador ia
bom para Cuiabá na debandada, quando não retornava, ao informar
sua falta, recebia como resposta a triste notícia de seu falecimento
ocorrido no fim de semana. Causa da morte: malária”.
      Na sede, lotado no Órgão Central de Apropriação (OCA),
encarregado de apurar a produção e os custos dos trabalhos
realizados na BR -163 e na manutenção da BR-364, eu acompanhava
toda a movimentação das equipes naqueles trechos. Ainda guardo
comigo um exemplar do Boletim Informativo n.º 2, onde consta, além
                                  14
dessa apuração, uma estatística, demonstrada em números e
gráficos, das obras realizadas no 3.º trimestre de 1972. Verifica-se
que o efetivo civil empregado nas diversas frentes nesse período era
de 1.390 servidores. Desses, 1.127 trabalhavam na BR-163 (2.ª Cia e
Cia Eq). Nos dados fornecidos pelo Laboratório Farmacêutico do
batalhão, consta ter havido nesse período uma incidência de malária
em 12,24% desse efetivo.
      Orgulha-me registrar que o Carvalho e tantos outros
companheiros, entre os quais também me incluo, pertenceram à
safra dos velhos trecheiros, militares e civis, das décadas de
1960/1970, do saudoso ex-3.º Batalhão Rodoviário, de Vacaria.
Seguiram o exemplo deixado pelos que os precederam, desde a
criação do batalhão, em 1917, no tempo da pá e da picareta. A garra e
a vontade desses engenheiros precursores, que abriram os
caminhos por enfiadas dentro do mato, deixando lugares de
paragens, que depois viraram freguesias e cidades, são as mesmas
dos que peregrinaram pelos canteiros de serviços e acampamentos
naquele cenário das grandes obras da Arma azul-turquesa, no início
do Governo Militar, em 1964, empenhado no processo de
desenvolvimento do Brasil, estabelecido pelo Plano de Integração
Nacional (PIN). A próspera cidade Lucas do Rio Verde é um desses
exemplos. Formou-se ao redor das instalações do batalhão.
      Inexoravelmente, o tempo passa, as gerações se sucedem e as
coisas mudam. Mas, a História continua a mesma. E deve ser
lembrada e deve constar da ata, sob pena de ficar sepultada sem o
símbolo da cruz, na cova do esquecimento.
      Assim, procura-se entender por que não constam no Acervo
Histórico do 9.º BEC as obras do passado, construídas pelo 3.º
Batalhão Rodoviário. Não estão no site daquela OM, as expressivas
obras da ferrovia do Tronco Principal Sul e da rodovia BR- 285 –
Vacaria São Borja. É lamentável.
      Daí vai a importância e a valorização que devem ser dadas a
companheiros, como o Capitão Carvalho que, corajosamente, sem
medo de se expor, puxou da memória e desencavou, lá do fundo, a
história da sua vida militar de 30 anos e 45 dias, preenchendo
trezentas páginas com as vivências da sua caminhada no Exército
Brasileiro. Em uma entrevista para o projeto de História Oral do
Exército na Engenharia Militar, o General Enzo Martins Peri, atual
Comandante do Exército, diz: “É muito relevante que se resgate a
história de todos os que participaram de tantas situações que não
podem cair no esquecimento. [...] São muitas experiências que
merecem sair do anonimato para fazer parte da História.” O General
Enzo serviu no 9.º BEC como capitão e depois foi o seu comandante.
      Com essa mesma disposição do Carvalho poderia citar tantos
outros escritores militares. São eles que estão gravando em ata a
                                 15
epopeia daqueles rudes tempos de antanho. É bom que se registre,
também, que muitos desses livros publicados e postos à disposição
do público, vêm com o timbre do idealismo e do sacrifício pecuniário,
pois sem incentivo e patrocínio, os custos saem do soldo do autor.
      Apesar disso, quando menos se espera surge um resgate
fabuloso de histórias de luta, de fé e de coragem. Ilustradas com
fotos antigas, elas conseguem reavivar na memória desbotada a
efervescência dos grandes canteiros de obras e o entusiasmo dos
homens que neles labutaram e deixaram a sua marca, como um
legado aos que viriam atrás, na batida, no rastro dos homens que
ajudaram a construir este país. Ainda é assim, hoje, comprovada pela
brilhante atuação da nossa Arma de Engenharia no atual cenário
brasileiro. São outros tempos, outras gerações e com tecnologia
avançada, mas a saga continua no mesmo passo firme dos “velhos
trecheiros”. Para o nosso orgulho.
      Parabéns, “Truquinho”!
      Prossiga!
                                      Emerson Rogério de Oliveira
                                    Cap Ref Eng/63 – ex- “Tocador de Serviço”




N R: O Capitão Emerson Rogério de Oliveira, formado em Ciências e em
     Letras é autor de quatro livros:
          - Pote de Barro (1979 – crônicas):
          - Peregrino do Universo (2000 – crônicas);
          -Trincheiras Abertas (2007 – histórias/opiniões); e
          - Muito além dos Caminhos (2012).
                                    16
Apresentação

     Esta   obra, “Reminiscências de um Pioneiro da Cuiabá –
Santarém”, certamente é a essência da lembrança daqueles que, nas
frentes de serviço dos Batalhões de Construções, em especial o
glorioso 9º Batalhão de Engenharia de Construção, do nosso
Exército, que delinearam uma epopéia de glória nos diversos rincões
da nossa pátria. Em especial na integração da nossa Amazônia.
      Originário dos pampas gaúchos, o sempre aplaudido 9º BEC
teve sua origem com a extinção do 3º Batalhão Rodoviário, cuja sede
era em Carazinho-RS. Chegou às terras do Mato Grosso com a
honrosa missão de implantar a BR-163, Cuiabá – Santarém, trecho
Cuiabá - 321 km ao norte da Serra do Cachimbo (1.114 km), nos idos
dos anos 70.
      Sobre os passos dos heróis do passado que conquistaram a
Amazônia, vieram os “modernos bandeirantes bequeanos” que, ao
implantarem rodovias como a BR-163, tornaram-na verdadeiramente
brasileira. Pois estas veias de penetração permitiram a ocupação
destes vastos territórios, por levas de brasileiros, sonhadores, que
se tornaram grandes empreendedores ao longo dos anos, ao
transformarem o “inferno verde” num dos maiores celeiros de
alimentos do mundo, em uma perfeita conjunção de sístole e diástole
desenvolvimentista. A posse verdadeira da Amazônia, só foi possível
pela integração das diversas malhas viárias, cujas artérias principais
foram as construções do porte da BR-163. Espantaram a cobiça
externa que, de tempos em tempos, questionam esta posse pelo
nosso povo, dessa imensidão verde que temos por obrigação
conhecer o seu valor para as gerações futuras.
      O autor, em linguajar simples de soldado, traz das
reminiscências de sua memória, feitos dos bravos homens das
frentes de serviço, sendo o próprio um dos atores principais. Cria a
certeza de que suas existências não foram em vão. As histórias
urdidas no labor nas inóspitas paragens se entrelaçam onde o
soldado e o servidor civil tomam consciência do dia a dia do árduo
serviço de suas responsabilidades, pelo desenvolvimento da nossa
grandiosa nação, generosamente legada pelo sangue e suor dos
heróis pretéritos.
      O então jovem Sargento Carvalho nos proporciona uma aula
dos principais atributos que se espera de um soldado de engenharia,
do mais jovem recruta ao mais ilustre general, que são – “a lealdade
                                  17
como mola impulsora do cumprimento da missão e a iniciativa que
diferencia os mais capazes”.
      Quem se deleitar com a leitura desta obra, certamente ouvirá o
ronco dos motores, saberá que a extremada dedicação ao serviço
leva a superação das deficiências. Dá-nos a perfeita dimensão que a
liderança é conquistada na confiança e certeza do subordinado de
que nunca estará só nos momentos cruciais. Em hipótese alguma
sentirá a dor da incerteza no reconhecimento dos seus feitos. Esta
dor será maior no seu líder, sempre pronto a sair em defesa dos seus
liderados, sobrepujando os seus próprios interesses pessoais.
      A glória da liderança reside em tirar o máximo do subordinado,
que por sua vez, faz da confiança no seu líder a sua profissão de fé.
Superando todas as vicissitudes a despontar no horizonte, focando
apenas no sagrado cumprimento da missão, sobrepondo-se acima
daqueles, que não trazem no peito o verdadeiro ardor patriótico
modelador do caráter dos grandes homens de uma nação.

                                  Júlio Augusto de Oliveira Soares
                               Tenente Coronel da Arma de Engenharia

 NR.: O Tenente Coronel Soares serviu nas frentes de serviço: do 6º BE Cnst (Boa Vista-RR) e do 9º BE
Cnst (Cuiabá-MT), respectivamente nos idos de 1989 e 1994. A republicação dessa apresentação é para o
leitor que não teve a oportunidade de ler o 1º livro.




                       Reminiscências de um Pioneiro da
                         BR-163, Cuiabá – Santarém




                                                Antonio Carlos de Carvalho




                                                 18
Sumário
               Capítulo I – Escola de Sargentos das Armas
                             Introdução... 023
                        A Matrícula na EsSA... 026
             O Curso de Formação de Sargentos (CFS)... 027
                  A Escolha da 1ª Unidade Militar... 037
            A viagem com destino ao Rio Grande do Sul... 038

                      Capítulo II – Rio Grande do Sul
                       3º Batalhão Rodoviário... 039
               A primeira equipe – Lagoa Vermelha-RS... 43
                  A vida social em Lagoa Vermelha... 48
As primeiras experiências com o convívio com pessoas tão diferentes... 49
                    As atividades “extra campo”... 52
                     As parcerias com Prefeitos... 54
             Em Santa Bárbara do Sul, queimei a “cara”... 55
                 De acampamento em acampamento... 58
                    Amizada ao longo da estrada... 60
                           Alguns “Atritos”... 62
                Trabalho é trabalho, amizade à parte... 64
                     A volta do Chefe de Campo... 65
                          Passo Fundo – RS... 66
                          Os Aprendizes (1)... 71
                      O melhor asfalto do Brasil... 73
                   Você está parecendo um suíno!... 74
               A mudança de subordinação da Equipe... 75
                        A quebra de confiança... 78
    Carazinho a Vacaria ida e volta de Patrol, que viagem maluca!... 79
                           Esquina Gaúcha... 80
 Curso de Aperfeiçoamento de Sargento (CAS) – Três Corações-MG... 83
          Dr. Bozano, fim da missão no Rio Grande do Sul... 87
        A revisão do equipamento com destino a Cuiabá-MT... 91
                      Fim da temporada no Sul... 93

Capítulo VI – Mato Grosso/MT - 9º Batalhão de Engenharia de Construção
                               Introdução... 95
                            Destino: Cuiabá... 96
                 Os Pioneiros do Escalão Avançado... 098
                           Assim era Cuiabá... 101
                 Destino: a Frente de Serviço (mato)... 104
                  Os Pioneiros da Frente de Serviço... 107
                         A Balsa do Rio Verde... 109
                           Três dias perdido... 111
              A Retirada do Acampamento do Rio Verde... 117
   Abertura do Caminho seco que contornava a Várzea da Piúva... 122
          O nascimento da cidade de Lucas do Rio Verde... 126
             O trator que ficou atolado por cinco meses... 128
       Os primeiros ocupantes das terras ao longo da BR-163... 130
                   Acampamento do Rio dos Patos... 131
                       Acampamento da Piúva... 134
                    Férias, motorista de 1ª viagem... 135
             O primeiro desfile do 9º BEC em Cuiabá-MT... 137
               Transferência para a Sede do Batalhão... 139

                                   19
A vida de solteiro... 141
                              O namoro... 143
               O passaporte de retorno para o mato... 144
               As Equipes de Trabalho do Batalhão... 145
          O retorno à Equipe de revestimento Primário... 150
                 Acampamento do Rio Teles Pires... 153
                           Missão impossível... 154
                     A falta de motorista de FNM... 155
                       Para que Embreagem? ...156
          “... foi compactada com pneu de Fé Ne Me” ... 157
       Acampamento do Rio Lira, a estruturação da Equipe... 158
                      Material de acampamento... 158
                           Mecânica Pesada... 159
                            Mecânica Leve... 159
                      Depósito de combustível... 161
                             O Enfermeiro... 162
                              A Logística... 163
                               A Viatura... 164

                 Manda Brasa e Senta Pua! ... 167
          Pagamento da Gratificação de Produção... 168
                Disciplina com regras simples... 170
                         “Seo” Waldemar... 172
                             “O Onça”... 172
                             O Primo... 174
   Acampamento do Córrego da Onça, período complicado! ... 175
                              Malária... 177
                 O Comandante não acreditou! ... 177
                  Novo Chefe da “Cascalheira”... 180
Acampamento do Castanhal, a hora da verdade! Decisões difíceis! ... 181
                                Sabotagem... 182
                          Cortar o mal pela raiz! ...183
                          Do “Motim” ao Recorde!... 184
                          Xeque-mate na cozinha!... 185
                            A falta de combustível... 188
                       Acampamento do Rio Pardo... 190
                          A reunião de final de ano... 190
                           Motorista e Caçador! ... 192
                    Acampamento da Serra do Sinal... 194
                               Você é um ateu! ... 195
                               O Soldado Cruz... 195
                                O casamento... 197
          A dificuldade para transportar um Trator de Esteira... 199
                     Acampamento do Rio Braço Sul... 200
             Acampamento do Córrego XV de Novembro... 201
                   A lei é dura, mas tem que ser seguida... 203
                    Ideias diferentes! De onde saíram? ... 204
                 Dois acampamentos ao mesmo tempo... 205
                              Os Profissionais... 207
                             Os Aprendizes (2)... 209
                   Casos Diversos de Acampamento... 211
            Não me deixe morrer sem uma vela acesa na mão... 211
                          Não gostei, vou devolver! ... 212
                              Não bato na farda! ... 212
                                A Sobremesa! ... 213
                                A Gratificação... 213
                          Sargento! Não sei nadar! ... 214
                Caetano estas panelas estão muito pretas! ... 215
                                  20
O Gato do Acampamento... 216
                        O Lavador de Elefante... 216
                               O trote... 217
                       Acidentes e acidentes... 219
                Autonomia na condução da Equipe... 222
                              Os Índios... 223
                            O Fotógrafo... 226
                         Missão cumprida... 227
                  Vida nova na Sede do Batalhão... 231
                           Vida de casado... 232
                 A promoção de Segundo Sargento... 233
                 A troca de Comando do Batalhão... 234
          A transferência para o Estado-Maior do Exército... 235
                Os “endeusados” e os injustiçados! ... 236
          Capítulo VII – Brasília/DF – Estado-Maior do Exército
                        Introdução... 237
                 A troca de apartamento... 237
              Pronto para o serviço no EME... 239
          2ª Seção do Gabinete do EME – SG/2... 240
              A mudança de chefia da SG/2... 243
             As glórias e os ossos da função... 245
                      O General “RO”... 251
                A vida familiar em Brasília... 253
                     A onde fica isto? ... 256
                  Vi! Mas fiz que não vi! ... 257
        A transferência de volta para Cuiabá-MT ... 258
             A viagem de regresso a Cuiabá... 260
          Capítulo VIII – O retorno ao Mato Grosso
            De volta a Cuiabá e ao 9º BEC... 261
      Novamente destacado, BR-70, Cuiabá-Cáceres... 261
           O trabalho na sede do Batalhão... 265
                   O Soldado Alípio... 269
              A mão poderosa de Deus... 273
                  Promoção a oficial... 274
Capítulo IX – Rosário Oeste-MT, 10ª Delegacia do Serviço Militar
                       Introdução... 275
               Delegado do Serviço Militar... 276
                Chefe do SFPC/10ª Del SM... 278
          Parou a Fábrica de Cimento de Nobres... 280
               Fim da Missão de Delegado... 281
          Capítulo X – Novamente de volta ao 9º BEC
                 O acumulo de funções... 282
      A Equipe “Menina dos olhos do comandante”... 286
             Missão cumprida no Exército... 287
                Palavras de despedidas... 289
             Capítulo XI – A vida depois do quartel
     A vida na reserva Remunerada (aposentadoria)... 293
               Conceituação de uma vida... 307
                 Transcrição de Elogios... 309
                        O autor... 325.




                              21
22
Capítulo I
   Escola de Sargentos das Armas
               EsSA
                       Introdução
     No mês de janeiro de 1964 fiz o meu alistamento militar,
deveria fazer o Serviço Militar em 1965. Rubens Ramos, nosso
vizinho, estava servindo o Exército, era cabo em Pouso Alegre, ao
encontrar o papai comentou:
      “Por que o Antonio não faz inscrição para a EsSA (Escola de
Sargentos das Armas), em Três Corações. Ele terminou o Ginásio e
está preparado. Se passar no concurso para a EsSA, em 1965 vai
fazer o Curso de Sargento e, em dez meses, será promovido a 3º
Sargento.”
      Papai ficou entusiasmado com a ideia e falou comigo. Fiquei
surpreso e assustado, respondi:
      - Ah, pai! Eu não tenho jeito para isso.
       Papai não comentou mais nada comigo, mas se informou de
tudo e, na véspera do dia 31 de março de 1964, falou:
      - Amanhã é último dia para fazer a inscrição para EsSA. Cedo
vamos a Três Corações para fazer sua inscrição.
      Na manhã do dia 31 de março de 1964, ao transpor o portão
principal da EsSA, pisei pela primeira vez em solo de um quartel...
Era o prenúncio de uma carreira militar. Da carreira que teria início
no dia 15 de fevereiro de 1965 e encerrar-se-ia em 31 de março de
1995.




                     Portão Principal da EsSA – 1965.

                                   23
O Sargento que nos atendeu informou que a inscrição tinha
encerrado no dia anterior. Fiquei até aliviado, mas o papai
argumentou:
      - Viemos de longe (38 km), da Campanha e a informação que
recebemos do Cabo estava errada.
       Foi aí que começou a funcionar a força do destino. Estava
escrito que eu deveria ser militar.
      O Sargento disse:
      - Minha esposa é de Campanha!
       Não é que o Sargento era casado com a prima da mamãe! Para
resumir, o Sargento conseguiu fazer minha inscrição com data de 30
de março.
      Outra coincidência! Era a primeira vez que pisava no solo de um
quartel, justamente, no dia da Revolução de 31 de Março. O quartel
estava tranquilo, na verdade o movimento revolucionário começaria
na madrugada.
      Por ocasião da realização do exame intelectual, papai me deu
dinheiro para hospedagem em Três Corações. Foi a primeira vez que
me hospedei em um hotel. Não me preparei para a prova. Para mim,
era com se fosse fazer uma prova final do Ginásio. Talvez esta
despreocupação tenha feito com que eu fosse aprovado. A prova era
diferente do que estava acostumado. Fui surpreendido e fiquei
preocupado! No Ginásio, queriam saber o que nós sabíamos; na
EsSA, queriam saber o que nós não sabíamos! Só depois fui saber
que as provas da EsSA eram temidas, justamente por essa
mentalidade.
      Nessa semana que fiquei fazendo prova encontrei o meu amigo
Dirson (Tiquira), que estava servindo na EsSA. Dirson foi meu
cicerone, mostrando-me o quartel e explicando alguma coisa sobre a
Escola. Explicou, por exemplo, que “arma” no nome da Escola se
referia    à:   Infantaria,  Cavalaria,   Artilharia, Engenharia    e
Comunicações. Quando ele falou da Arma de Engenharia fiquei
entusiasmado e falei:
      - Quero ir para a Engenharia.
      Dirson retrucou:
      - Não é assim: “Eu quero ir”. Engenharia é a arma mais difícil!
Só os que tiverem as melhores notas no exame de seleção é que vão
para lá!
      Passado algum tempo de expectativa, no dia 31 de agosto de
1964, recebi o resultado, fui aprovado e convocado para realizar o
teste físico e médico.
      No teste físico fui bem, aprovado com facilidade. No exame de
saúde tive problemas com exame odontológico, pois estava com
vários dentes cariados. Num prazo de 30 dias, tinha que retornar
com os dentes arrumados. Assim, fiz o tratamento dentário com o
                                 24
Dr. Toninho Furtado e, dentro do prazo, retornei, fui aprovado e o
trabalho de restauração feito pelo Dr. Toninho foi elogiado.
     Agora era só esperar para ser chamado para fazer a matrícula,
enfrentar e vencer as adversidades que com certeza teria durante o
curso! Com fé em Deus e com o pensamento positivo estava pronto
para a “batalha”.




  Guardo até hoje o telegrama que informa a minha aprovação no exame intelectual para a
                                          EsSA.




                EsSA – Escola de Sargentos das Armas. Três Corações – MG.

                                           25
Matrícula na EsSA
     Na manhã do dia 09 de fevereiro de 1965, apresentei-me na
EsSA para matrícula. Após ultrapassar o portão de entrada olhei
para trás e vi o letreiro da EsSA, que ficava em cima do antigo porão,
invertido. Ainda tenho essa visão gravada em minha memória. Meu
pensamento voou, perguntei-me:
      “Onde estou me metendo?”
       Tive uma sensação esquisita de temor e preocupação. Aquele
portão era a divisa do mundo conhecido, daquele pequeno
“universo” que conhecia de uma pequena cidade. Sabia que da
minha vida ingênua e tímida, trazia pouca vivência para enfrentar
aquela mudança repentina. Sem dúvida, a vida ali seria difícil.
Balancei a cabeça para espantar aqueles pensamentos negativos,
olhei para frente e mudei de pensamento:
     “Se outros conseguem, eu também consigo...”
      “Vamos em frente e fé em Deus!”
      Aquele primeiro dia no quartel seria complicado e cheio de
novidades. Pelo menos, de chegada, tive uma boa notícia: estava
relacionado para o Curso de Engenharia. Comecei bem. Era o que
queria e isso ajudou aliviar a pressão e angústia.
      Fui mandado entregar a documentação na Seção Técnica, no
segundo andar do Pavilhão Principal. Não tive dúvida! Fui pelo
caminho mais curto, pelo saguão principal e pela escadaria central.
Quando comecei a subir observei que um militar que tinha iniciado a
descer, voltou e ficou parado no topo da escada. Quando lá cheguei
o militar falou:
      - Escada de aluno é aquela lá no fundo. Esta aqui é só para
oficiais. Desça e volte pela escada certa.
      Fiz conforme determinado e lá estava o militar, no mesmo lugar,
para verificar o meu comportamento.
      Quando andava pelo pátio escutei:
      - Antonio! Antonio! Olha para cá, venha aqui!
      Fiquei surpreso. Olhei e vi meus companheiros de ginásio e
conhecidos que tinham incorporado em janeiro, atrás das grades.
Não tive dúvida e fui ver o que tinha ocorrido. Conversamos
bastante, fui comprar cigarros e lanches na cantina. A conversa
estava animada, quando apareceu o comandante da guarda e disse:
      - Quer ficar conversando com seus amigos, vou colocá-lo
dentro da cela.
       Saí rápido e, depois dessa, não voltei mais, apesar dos apelos
dos amigos encarcerados. A cadeia ficava perto da engenharia, no
canto do pavilhão principal, hoje, deve ser onde funciona a
Biblioteca.
                                  26
O dia transcorreu sempre ouvindo um sargento gritando:
      - Rápido! Rápido! “Mocorongo” atrasado.
       Intencionalmente, tinha deixado para me apresentar no
penúltimo dia do prazo, razão porque era considerado atrasado e
“mocorongo”.
      Os dias que se seguiram, até o dia da matricula foram infernais
para todos... Muita correria, gritos, castigos e trabalho. Tudo aquilo
tinha dois propósitos: testar os candidatos e fazer com que os mais
fracos desistissem antes da matrícula.
      Realmente, o método funcionava. Houve desistências.
      Nem pensei em desistência e continuava com o pensamento
fixo: “Se outros conseguem, também consigo.”
        Em 15 de fevereiro de 1965 fui matriculado no Curso de
Formação de Sargentos. Recebi o número 705 e o nome de “guerra”
de Antonio Carlos.




Curso de Formação de Sargentos (CFS)
     1ª Fase
     Depois da matrícula, a “coisa” ficou mais tranquila com o
começo das aulas. Todavia, para mim, a “coisa” complicou com a
apresentação de um Tenente. O referido oficial instrutor ao ser
apresentado encarou um a um os alunos. Quando os olhos dele
bateram nos meus olhos, senti algo estranho e percebi que tinha
encontrado o meu desafeto, nosso sangue não combinou. Só não
sabia que aquilo seria a maior dificuldade que teria durante o curso!
      A maioria da nossa turma era constituída de cabos e soldados
antigos, experientes com a vida do quartel. Eu fazia parte da minoria
de origem civil. Seria lógico que os de origem civil levassem uma
grande desvantagem no início do Curso, principalmente, nas
instruções de ordem unida e educação física. Nas instruções de sala
de aula não havia disparidade. No meu caso tinha uma agravante,
podia ser considerado “mocorongo” e, ainda, tinha o meu desafeto, o
Tenente, a perturbar.
      Na ordem unida, que exige muita atenção e concentração,
sempre estava preocupado com o Tenente.              Muitas vezes ele
chegava por trás e passava o pé para que eu errasse o passo.
Acredito que ele queria que eu até caísse.               Certo dia o
subcomandante da EsSA, o Tenente Coronel Mario Miranda Santa
Rosa, que era da Arma de Engenharia, deve ter visto alguma coisa de
que não gostou, pois ele tirou a mim e mais dois colegas de forma e


                                  27
passou dar a instrução de ordem unida para nós. Isso aconteceu
mais de uma vez.
      Na instrução de campo, apesar da perseguição, me saía muito
bem. Aquelas longas caminhadas pelo mato nos arredores da
Campanha foram de grande valia. O Sargento Cruz era meu amigo e
certo dia me disse:
      - Não se preocupe! Os pontos que lhe são tirados aqui na
Escola, na instrução de campo você recupera em dobro.
       Por ser sabedor que a instrução de campo tinha peso maior,
fiquei mais tranquilo.
      Em determinada instrução de maneabilidade, em que o
exercício seria atravessar rastejando um terreno lamacento, eu
estava deitado no chão, na linha de largada aguardando o início,
quando senti nas minhas costas um par de coturnos e ouvi uma voz
muito conhecida:
      - Se me derrubar, você vai ver.
       Com muita força e raiva, apesar daquele peso nas costas,
realizei o exercício até com certa facilidade. Percebi que o meu
silêncio e a demonstração de força irritavam o Tenente. Ao tirar o
uniforme, na gandola, estava a marca dos coturnos.
      Todas as sextas-feiras havia instrução de campo na fazenda
Atalaia, próxima de Três Corações. Em uma grande instrução de
patrulha, o Tenente (desafeto) era instrutor-chefe, para separar as
patrulhas disse:
      - Eu vou escolher duas patrulhas, a dos peixes positivos e a dos
peixes negativos. As outras, a escolha é livre. O resultado eu já vou
anunciar, primeiro lugar os peixes positivos e em último lugar os
peixes negativos.
      Óbvio! Fazia eu parte dos peixes negativos. Aliás, fui o primeiro
a ser escolhido!
      O Tenente tinha cometido um grande erro, feriu o amor próprio,
o brio de cada um. Falei aos companheiros Fonseca, Bermudez,
Roberto, “Coreano”, “Gato Murinha”, Breno e etc.:
      - Vamos ganhar esta missão na marra.
      A primeira patrulha a largar foi a dos peixes positivos, a
seguinte foi a nossa. No segundo obstáculo era um banhado, onde a
cavalaria fazia instrução, lugar medonho, fedia estrebaria. Foi lá que
alcançamos os peixes positivos, atolados até o pescoço. Eles
haviam cometido um grave erro, pularam em pé. Nós pulamos
pranchados, literalmente nadamos e passamos por cima dos
concorrentes. A briga foi feia. Houve “agarra-agarra”, socos e
“coices”. Passamos a frente e ninguém mais nos alcançou, fomos
os mais rápidos em todos os obstáculos. Nosso comandante era o
Fonseca e, no obstáculo do tiro ao alvo, era ele o atirador. Para que
ele não chegasse ofegante, um foi na frente para preparar a arma, o
                                  28
restante carregou o Fonseca. Deu certo! Com um único tiro
derrubou todos os alvos (latas). Foi incrível! O único a realizar tal
façanha.
      A última etapa do exercício era subir um morro, uma rampa
forte, mais ou menos 1.500 metros. Corri... Além de ganhar a
competição, queria ser o primeiro a chegar. Cheguei primeiro,
demonstrando ter ainda fôlego para muito mais. Corrida de
resistência era o meu “forte”, pois tinha passado uma infância e
juventude correndo!
      Ganhamos com muita folga, para maior decepção do Tenente,
que ainda teve que dar a recompensa prometida - uma semana de
dispensa da revista da noite. Apesar de ser uma semana de provas
escritas, fiz questão de ir ao cinema quase todas as noites. Só para
ter o gosto de entrar no cinema depois do Tenente e me apresentar
com toda altivez possível.
      Foram muitas pressões. Muitas vezes chorei aquele choro
recolhido que ninguém vê. Meu propósito era derrotar o Tenente,
estava decidido! Ia terminar o curso com sucesso.
      Nessa primeira fase não fui nenhuma vez para casa. Para matar
a saudade e ver como eu estava o papai ou a mamãe vinha até a
Escola trazendo bolo e doces. Uma vez foi o Fernando que veio.
Essas visitas eram muito importantes. Um alento e a certeza de que
no mundo fora daqueles muros, tinha uma família preocupada
comigo. Papai também sempre dava algum dinheiro, pois o aluno
recebia menos que um soldado. Eles descontavam o material de
estudo, ainda tinha que pagar a lavadeira de roupa e, no final, só
sobravam 6,00 cruzeiros novos.
      O contingente de campanhenses servindo, naquele ano, na
EsSA, era grande. No rancho, tinha o Fernando, irmão do Romeu e
do Renner. Tinha dia que a comida era “difícil” de ser engolida. O
aluno comia porque não tinha outra opção e a fome era grande.
      Porém, fui privilegiado! O Fernando, ele era o líder dos
rancheiros. Quando me via na fila já avisava os outros rancheiros
que serviam – “Aquele é o meu amigo”. Fernando era quem pagava a
carne, ele sempre tinha um pedaço especial reservado para mim.
Lembro muito bem – ele remexia o fundo da panela e lá vinha um
“pedação” de carne sem osso ou pelanca! Graças ao Fernando, fui
bem alimentado na EsSA!
      Os meus colegas ficavam encabulados e perguntavam:
       – O que você tem com estes rancheiros?
      A resposta era a pergunta: – Para que servem os amigos?
      No Curso de Engenharia, tinha o meu amigo de ginásio, o Luis
Antonio Lemes dos Reis. Portanto, estávamos sempre próximos,
principalmente nas instruções de campo.

                                 29
O Luis Antonio tinha um perfil parecido com o meu; também
muito tímido. Só que, inexplicavelmente, era “peixe” do Tenente
(meu desafeto). O tratamento do Tenente, em relação a ele era o
inverso do que tinha para comigo. O super protegia em qualquer
situação! Penso que foi por incentivo do Tenente, que ele fez o Curso
de Sargento de Engenharia, em 1967, com êxito. Serviu em Unidades
Militares do Mato Grosso do Sul; em 1989, tive a grata oportunidade
de encontrá-lo em Campo Grande-MS, estava servindo no Comando
da Região.
      Terminou a primeira fase do curso, me saí muito bem nos testes
psicotécnicos, fui atendido na primeira opção e continuei na
Engenharia. Depois de quatro meses pude ir para casa, para um
descanso e começar a segunda fase do curso.




                      A primeira carteira de identidade




           Alunos: Silva Filho, Antonio Carlos e Araújo. EsSA 27/07/1965
                                          30
2ª Fase
     Na segunda fase as matérias eram especificas da Arma de
Engenharia, além da ordem unida, de educação física, que eram
continuidade da 1ª fase.
      Foi então que meu desafeto levou desvantagem. Ele era
instrutor de Topografia, Nós e Aparelhos de Força. Matérias que
tinham tudo a ver com matemática, desenho e física. Era tudo o que
queria, era o meu forte.
      As aulas de Topografia muitas vezes eram ministradas no
refeitório, para utilização das mesas grandes para os exercícios
realizados em cartas topográficas. O Tenente vinha pulando de mesa
em mesa e verificando o trabalho de cada um. Na maioria das vezes,
“xingava” o aluno e chutava o material. Quando ele pulava na minha
mesa, eu parava, ele examinava e chegava a bufar. Nunca dei a ele o
gosto de corrigir uma vírgula, pois era o meu forte e ainda me
esforçava ao máximo.
      Outra matéria importante era a construção de pontes e
similares. Na sala de aula era matemática pura; nas aulas práticas,
era exigida grande resistência e boa estrutura física.         Sendo
acostumado ao trabalho pesado, isso não era problema para mim.
Sempre era escalado para as equipes de trabalho mais pesado,
vigotas, pranchões, painéis, treliças e etc. Fazia parte de uma turma
muito valorizada pelo Instrutor. Nosso efetivo era pequeno, menos
da metade do previsto para maioria dos lançamentos de pontes que
obrigava um esforço dobrado de cada um. Por exemplo, as vigotas
eram projetadas para serem transportadas por dois homens. Na hora
do apuro nós transportávamos sozinhos. O ótimo desempenho na
construção me valeu muitos pontos positivos para o conceito geral.
      Na segunda, fase os alunos do Curso de Aperfeiçoamento de
Sargentos (CAS), por ser uma turma pequena, faziam as instruções
de Educação Física e de Campos junto com nosso Curso de
Formação de Sargentos (CFS).
      Os sargentos do CAS eram boas pessoas, porém havia uma
exceção: um “cara xucro”, abrutalhado. Durante uma sessão de
Educação Física, em um jogo de Futebol Americano, quando passei
pelo “dito cujo,” correndo com a bola, ele, que estava parado,
simplesmente colocou a mão fechada na altura do meu rosto. O
impacto foi grande, um verdadeiro e certeiro murro. Fui a nocaute!
Caí! Por alguns segundos tudo ficou escuro. Levantei-me... Tomei
consciência do que tinha acontecido, decidi ir à forra!
      Quando o “cara” passou correndo por mim, não tive dúvida,
passei o pé nele. A queda foi violenta, caiu de boca no chão e,
literalmente, comeu capim. Ainda caído, ele olhou para mim em
estado de fúria, estava ali o “desafeto nº 02”.
      Fui alertado pelos colegas:
                                 31
- Cuidado! Este cara é mau, ele vai se vingar!
       Fiquei esperto, não dava as costas para o “cara”. Não foi o
suficiente... Envolvido pelo jogo, descuidei-me por alguns segundos.
Mas o sexto sentido fez com que eu olhasse rapidamente para trás e
visse aquele par de solas de tênis vindo em minha direção. Abaixei-
me instintivamente e o “cara” passou por cima de mim e caiu à
frente. Ele tentara me acertar nas costa com uma voadora! Se
tivesse sido atingido, com certeza, as consequências seriam sérias.
      O “cara”, em estado de fúria, totalmente descontrolado, saiu
correndo e atacou um colega que estava com a bola fora do campo
para bater um lateral. O Instrutor parou o jogo e o expulsou.
      A situação estava ficando ruim para mim. Agora eram dois
desafetos, só que este era covarde e traiçoeiro. Mas no dia seguinte
veio uma decisão do Comandante do Curso, que amenizou a
situação. A partir daquela data o “fera” não mais participaria de
jogos coletivos e nem faria parte de equipes nos exercícios de
campo. Porém, não poderia descuidar nas instruções onde era
usada munição real e explosivos.
      Com relação ao Tenente (desafeto), a maior vitória foi no mês
de agosto, quando realizamos o segundo exercício de longa duração,
no Pico do Gavião, ao lado da cidade de São Tomé das Letras. Os
cursos de Engenharia e de Comunicações se uniram para a
realização da pista de cordas. O obstáculo maior era a travessia de
um riacho de leito rochoso e margens altas, através de um cabo de
aço esticado de uma margem à outra. O exercício era de grande
dificuldade e, quando o aluno conseguia chegar no meio do riacho,
onde o cabo fazia a barriga, era detonado um petardo de TNT
(dinamite). O infeliz do aluno subia junto com a coluna de água e
pedra e, na descida, quando o cabo esticava, não aguentava o
solavanco, caía na água e voltava para a margem para tentar até
conseguir a travessia, através do cabo.
      Aguardava na fila a minha vez, quando o Tenente se aproximou
e disse:
       - É hoje sete, zero, cinco!
      O Capitão do curso de Comunicação dava dicas para a
travessia utilizando um método diferente, mas ninguém tentava.
Pensei comigo, vou fazer o que o Capitão esta ensinando. Primeiro
colocar o fuzil atravessado nas costas, com a bandoleira bem
apertada para não girar, depois deitar por cima do cabo, trançar uma
perna no cabo, deixar a outra livre para fazer o equilíbrio e com as
mãos puxar o cabo de aço. O resto seria equilíbrio e acompanhar o
movimento. O Capitão, ao ver que eu estava seguindo à risca suas
instruções, ficou entusiasmado e começou a me incentivar. O
famigerado desafeto, com o pé começou a balançar o cabo. Como
eu continuava firme, agarrou o cabo com as mãos e o balançava com
                                 32
muita fúria. Como o Tenente estava agarrado ao cabo, impedia que
outros alunos seguissem atrás de mim. Fiquei sozinho, o cabo já
balançava com muita força numa grande amplitude. Eu ia e voltava
agarrado ao cabo numa boa. O Tenente, na margem, se deu muito
mal... Ele não conseguiu acompanhar a força e velocidade do cabo,
escorregou e caiu barranceira abaixo... Foi parar dentro d’água!
       Aproveitei a distração do pessoal dos explosivos com a queda
espetacular do Tenente e atravessei o riacho. Cheguei à outra
margem “sequinho da silva”. Não é nem necessário dizer que a
torcida era toda minha, só não houve aplausos e gritos porque era
uma instrução militar. Aplausos só do Capitão!
       Todavia o melhor estava por vir. A noite sempre havia uma
reunião com a participação de todos: instrutores, monitores e alunos
para avaliação e comentários.          O Tenente Façanha ( foi o
encarregado de fazer avaliação daquele dia de instrução. Ele
começou dizendo:
       - O Antonio Carlos foi o destaque do dia! Na pista de cordas foi
surpreendente, supimpa... Era tal a sua elegância que parecia um
noivo a desfilar!
       O Tenente não conseguia esconder sua irritação, durante a
reunião não falou nada.
       Mas ainda faltava uma vitória esmagadora no tocante ao
intelectual! Última prova para o encerramento da matéria, peso 4 (o
maior) – Nós e Aparelhos de Força. Nessa prova o exercício de
maior valor, era achar o valor da força resultante de um complexo
sistema de roldanas (carretilhas). Estava aí a minha chance,
caprichei!
       Quando o gabarito foi apresentado, ninguém tinha acertado!
Impossível, nem o gênio Zilmar tinha acertado. Confusão geral. A
maioria da turma, que não conseguiu fazer o exercício, queria
anulação da questão. O Zilmar afirmava que ele era o único certo; eu
e mais alguns companheiros, talvez uma meia dúzia, afirmávamos
que a nossa resposta era a certa; o Tenente, por sua vez, não
conseguiu provar que estava certo. Para acabar com a confusão, o
Tenente pediu um tempo.
       Dois dias depois fomos levados para um galpão do Parque de
Pontes. O Tenente realmente era profissional e competente! Lá
estava montado o sistema de roldanas com a resposta certa. Não
havia o que contestar, o meu grupo estava certo. O Tenente teve que
retificar a nossa nota. No meu embate com o Tenente, eu era
vencedor na instrução de campo e na instrução de sala de aula.
Estava confirmada a escrita: “Os humilhados serão exaltados.”
       Para encerrar o curso em novembro foi realizada uma manobra
no Pico do Gavião, fiz parte da figuração inimiga, fiquei a semana
inteira acampado no cume do Pico. No último dia da manobra o
                                  33
grupo de engenharia recebeu a missão de lançar um campo minado.
Às cinco horas da manhã, estávamos lançando o campo minado
quando, ouvimos o chiado característico de deslocamento de ar
produzido por granadas de artilharia. O monitor, imediatamente,
gritou:
      - Escondam debaixo das pedras que lá vem fogo!
       Foi a conta de escondermos e só foram granadas caindo bem
em cima de nós. Vimos de pertinho os estilhaços, em brasa,
ricochetear por todos os lados... Era bonito, mas extremamente
perigoso. Sorte que o local era rochoso e oferecia bons abrigos e
ninguém foi ferido. Tinha acontecido que a Artilharia confundiu e
abriu fogo uma hora antes do combinado. Ficamos sabendo que o
comandante da artilharia foi transferido.
      Depois de todo o flagelo consegui chegar ao final do curso e
ser aprovado. Sem a tribulação sofrida, o curso teria sido um
passeio! A superação valorizou a vitória e também ganhei
autoconfiança que foi de grande valia para caminhada que teria na
vida militar. Não tenho mágoa do Tenente, apesar de toda sua
“ojeriza” comigo, nunca foi desonesto com relação às notas.
Sempre recebi a menção merecida nas provas escritas.
      Ainda teria que sofrer mais uma provação, por ocasião da
revista do uniforme para a formatura de promoção a sargento. A loja
que vendeu os uniformes não me entregou a tempo os meus
sapatos. Fui para revista geral (toda a Escola) com os sapatos que
usava como aluno, aquele modelo “mercedinho”. Quando um dos
monitores de outro curso bateu os olhos nos meus sapatos, fez o
maior escândalo:
      “Olha só o tipo de sapato que esse pão-duro vai usar na
formatura de sargento.”
      Outros vieram, cada um mais sarcástico que o outro.
Verdadeiro assédio moral e execração pública, que me machucou no
fundo da minha alma! Fiquei arrasado! Não tive a oportunidade de
esclarecer a situação. Até hoje me pergunto: qual a razão para
submeter o subordinado a tão grande constrangimento? Após a
revista, ainda, tive que aguentar a gozação de alguns colegas.
      Quatro de dezembro de 1965, dia da formatura da promoção a
terceiro sargento. Na revista final os “babacas” dos sargentos
monitores vieram direto para cima de mim... Quebraram a cara! A
loja não recebeu a tempo os sapatos que eu tinha comprado. O dono
da loja então me deu um par de sapatos da marca “Terra”, a melhor
marca de sapatos da época. Poucos eram os oficiais que usavam
sapatos daquela marca. A maioria usava mesmo era o “Passo
Doble”. Os “babacas” olharam para meus sapatos e ficaram
espantados, sem jeito... E ainda tiveram de engolirem a expressão
estampada em meu rosto, daquele sorriso recolhido (que não mostra
                                34
os dentes) de deboche, desafiador e vitorioso. Saíram quietinhos e
com os rabos no meio das pernas. Fiquei satisfeito, pois mais uma
vez o humilhado foi exaltado!
      Assistiram à formatura papai, mamãe, Fernando, Paulinho e a
Maria Heloísa. Minha madrinha foi a Gladys (prima).
      Estava com a alma lavada, com a graça de Deus tinha cumprido
a missão, o sucesso era o resultado do meu esforço, persistência,
muita tolerância e renúncia.
       Era o primeiro passo de uma carreira que seria bem sucedida,
dentro do programado e de acordo com o regulamento. No primeiro
dia de aula, o comandante do curso, o Capitão Novais (José Gilberto
de Lima Novais), disse:
      “Com a realização do Curso de Formação de Sargentos e
depois o Curso de Aperfeiçoamento de Sargentos, ao final de trinta
anos de serviços prestados, vocês têm a possibilidade de atingir o
posto de capitão e passar para reserva com os proventos de major.”
       Portanto, estava garantida uma carreira que, para época, era de
grande valia. A partir daquela data estava em condições de ajudar
meu pai e a família, realizar o desejo daquele menino que, no
passado diante da doença do pai, ficara angustiado. Só dependeria
de mim! Apesar dessa boa perspectiva, a minha intenção era
permanecer no Exército somente os cinco anos obrigatórios e
depois, pedir baixa. Definitivamente, a minha vocação não era a de
ser militar. Nesses cinco anos queria continuar os estudos, fazer um
pé de meia e seguir uma carreira civil, talvez engenharia ou
contabilidade. Todavia estava escrito que seguiria a carreira militar
iniciada até ao fim!




                                  35
Instrutores, monitores, CAS e a Turma de Engenharia - EsSA 1965




                      Desfile de Formatura




                              36
A escolha da 1ª Unidade Militar
     Naquele ano, vagas só nas unidades militares do nordeste, do
sul e Porto Velho – RO, para formação do 5º Batalhão de Engenharia
de Construção, a primeira Unidade de Engenharia na Amazônia. A
minha opção era o sul.
      Dentro do critério de escolha por classificação, por ter sido o
18º/41, na minha vez ainda havia vagas abertas em todas as unidades
relacionadas. Por ser a mais perto, escolhi Lages–SC. Depois para
atender ao pedido do Bruno, troquei Lages por Vacaria-RS, pois para
mim fazia pouca diferença. Era o meu destino ir para o Rio Grande
do Sul. O Fonseca (Armando Fonseca) e o Bermudez (Nilton Celente
Bermudez) eram os meus companheiros designados para a mesma
Unidade Militar, o 3º Batalhão Rodoviário, que tinha a missão de
construir um trecho da Ferrovia Tronco Sul.
      Esta troca da primeira unidade militar mudou muito o meu
futuro no Exército. Passados cinco anos, o Batalhão de Vacaria seria
transferido para Cuiabá-MT e o de Lages para Santarém-PA. Meu
colega Bruno, com quem trocara de Batalhão, morreu em acidente de
serviço no Pará. Promovido a 3º Sargento, feita a escolha da 1ª
Unidade Militar onde iria servir, entrei em férias.
      Terminadas as férias ficamos encostados na EsSA aguardando
recursos financeiros para o deslocamento. Foi um período de muita
ansiedade e preocupação. Como seria aquela nova etapa da minha
vida militar? A expectativa era de que fosse muito diferente da EsSA,
pois se fosse uma continuidade daquela vida, seria insuportável.




                                Engenharia 1965
                  No centro o Major Novais, eu sou o 1º da direita.



                                         37
A viagem com destino ao
               Rio Grande do Sul

     No final do mês de fevereiro de 1966, o pessoal de Minas, São
Paulo e Rio, que permaneceu na EsSA aguardando recursos, pôde
seguir destino à Unidade a qual fora classificado. Éramos três com
destino ao Rio Grande do Sul - Vacaria, Bento Gonçalves e
Cachoeira.
      Por não ter experiência na realização de uma viagem tão longa,
a escolha do itinerário, da empresa de ônibus, horários e etc. ficaram
por conta dos ditos experientes, o paulista (Roberto) e o carioca
(Sílvio). A minha missão era tomar conta da bagagem. Para resumir,
foi a pior viagem que já fiz, é bom que se diga. Era fim de carnaval,
havia falta de passagens, o fluxo de passageiros era muito grande.
Os dois só complicaram, pois não conseguiram comprar passagens
diretas e foram comprando de trecho em trecho.
      Uma coisa de que não me esqueço foi a primeira visão da
cidade de São Paulo, do alto da Serra, logo depois do túnel. Fiquei
admirado com o tamanho da cidade! Do pé da serra até a onde a
vista alcançava, tudo era cidade. Grandiosa e assustadora! Confesso
que tive também um pouco de receio. Mas logo me tranquilizei, pois
estava acompanhado de um paulista e um carioca!
      De São Paulo à Curitiba o ônibus quebrou, ficamos muito tempo
na estrada esperando por outro. De Curitiba à Lages foi o pior trecho
porque pegamos o famoso “pega jeca” que parava em qualquer
lugar, pegava “todo mundo”, tinha passageiro que embarcava com
galinha, pato e etc.
      Depois de dois dias de viagem, numa noite fria de domingo,
chegamos à Lages-SC. Cansados, fomos diretos para um hotel.
Separei-me dos companheiros e segui destino sozinho. De Lages
para Vacaria peguei um ônibus direto. Foi o melhor trecho da
viagem.
      Só tive a verdadeira dimensão das bobeiras dos meus
companheiros quando um ano depois, em férias, fiz a mesma
viagem. De Vacaria-RS direto a São Paulo-SP, pela Empresa Pluma.
De São Paulo a Campanha - MG também em um único ônibus.




                                  38
Capítulo II
                    Rio Grande do Sul

             3º Batalhão Rodoviário

     Na manhã do dia 28 de fevereiro de 1966 cheguei em Vacaria-
RS. Hospedei-me num hotel próximo da Estação Rodoviária.
Aprontei-me, vesti o uniforme de passeio e, a pé, segui para o
Batalhão. Na metade do caminho fui alcançado pelo Jipe da PE e o
Comandante da Patrulha, Sargento Amaral, me deu uma carona até o
Batalhão.
      A princípio pensei que o Amaral estivesse me aplicando um
trote. O que ele me apresentou como sendo o 3º Batalhão Rodoviário
(3º B Rv), não era nada parecido com outros quartéis conhecidos.
Era um conjunto de prédios de madeira, pátio sem calçamento, tinha
mais paisano (civis) do que militares e muitas viaturas civis, mal
estacionadas por todos os cantos. Acreditem! Aquilo era mesmo o
Batalhão!




 Quartel do 3º Batalhão Rodoviário, Vacaria-RS – 1966. (Foto cedida pelo museu do 9º BEC)




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Fiz as apresentações regulamentares. Gazola, o Sargento
Brigada, sugeriu que adotasse o nome de guerra CARVALHO. A
sugestão foi aceita e eu passei a ser chamado de Sargento Carvalho.
Na verdade não gostava do nome de guerra Antonio Carlos, era um
nome muito “charmoso”, dava rima com Roberto Carlos. Carvalho
impunha mais respeito. Realmente a mudança de nome combinou
com a mudança de atitude, saí da defensiva e pouco a pouco passei
a determinar a minha personalidade, maneira de pensar, agir e
trabalhar.
      Não foi necessário ficar no hotel, pois fiquei instalado na Casa
de Hóspede, em companhia do Bermudez                   e do Fonseca,
companheiros da EsSA. A Casa de Hóspede funcionava junto com o
Clube dos Subtenentes e Sargentos. O Clube era bem frequentado e
famoso por seus bailes, que contava com grande participação da
sociedade Vacariana.
      A Presidência do Clube era bem disputada. Chegamos em
época de eleição para a nova diretoria e pudemos sentir o trabalho
dessas lideranças, na busca da adesão dos recém-chegados.
      Um grupo fechado de “antigões”, muito respeitado, me
convidou para uma buchada. Dos recém-chegados fui o único a ser
convidado, o que causou até certo “ciúme”. O que fazer? Não podia
faltar de maneira alguma, se o fizesse estaria fechando as portas da
boa convivência. Porém, havia um problema – eu não gosto de
buchada! A minha sorte foi que a buchada era acompanhada de pão
e um molho de tomate muito bom e gostoso. Disfarçadamente só
comi pão com molho.




   Da esquerda p/ direita: Mascarello, Corrêa, José Maria, Pascoal, Carvalho e Chagas.
     Despedida do General Venitius Nazareth Notare. A primeira participação em uma
   atividade social no Clube dos Subtenentes e Sargentos – Vacaria-RS, Março de 1966.


                                           40
Sem dúvida a mudança de qualidade de vida era imensa, muito
acima daquela imaginada por aquele menino ingênuo e humilde do
bairro do Chororó. Boa comida, muito bem instalado e, o que era
melhor, um bom salário - 180 cruzeiros novos. Mandava 100
cruzeiros novos para casa todos os meses, o restante era suficiente
para um alto padrão de vida de solteiro.
      Passados 40 dias em Vacaria, trabalhando na instrução dos
recrutas, o Bermudez foi indicado para ser transferido para Passo
Fundo. Na EsSA tínhamos feito um trato, caso fosse necessário
faríamos uma troca para ele ficar na sede do Batalhão e eu ir para
Companhia destacada em seu lugar. O trato foi mantido. Falamos
com o Major Iara, da Seção Técnica, e a troca foi feita.
      Anteriormente, em conversa com um Sargento antigo no
Batalhão sobre as frentes de serviços, fiquei sabendo que a missão
da construção da Ferrovia Tronco Principal Sul (TPS) estava no fim e
que, em Passo Fundo, estava sendo instalada a Primeira Companhia
para iniciar a nova missão: construir a rodovia BR-285, Vacaria – São
Borja. Na oportunidade manifestei a minha vontade de ir para Passo
Fundo e ouvi a seguinte frase:
      “Ir para lá é muito difícil! O pessoal é escolhido a dedo, há
muitos voluntários, você é novato... Vai ser muito difícil conseguir.”
      Não foi tão difícil assim para conseguir o meu primeiro desejo.
Em 15 de abril fui transferido para Passo Fundo. Começava ali minha
missão na frente de trabalho do Batalhão. Missão gratificante da
qual tenho muito orgulho de ter tido a oportunidade de realizar. Nesta
missão tive a chance também de demonstrar a capacidade de chefia
de equipe destacada, na realização de qualquer trabalho de
construção e conservação rodoviária.




BR – 285, Vacaria a São Borja, 569 km (Vacaria, Lagoa Vermelha, Passo Fundo, Carazinho,
     Saldanha Marinho, Santa Bárbara do Sul, Panambi, Ijui, Santo Ângelo e São Borja)




                                          41
Ponte Ferroviária sobre o Rio Santana, construída pelo 3º B Rv.




Cinqüenta anos depois de construída a mesma ponte da foto anterior está em pleno
   uso. O Exército não tem obras inacabadas ou inúteis! (Foto cedida pelo Cap Ubyrajar)


                                          42
A primeira equipe -
               Lagoa Vermelha-RS
     Na manhã do dia seguinte da transferência, segui viagem em
companhia do Major Iara e o motorista era o Soldado Vezário.
Almoçamos em Lagoa Vermelha e à noite chegamos a Passo Fundo.
Fiquei hospedado na Casa de Hóspede. O efetivo da Residência era
pequeno, apenas dois oficiais: Capitão Fagundes e Tenente Corrêa;
os Sargentos: Adão Rodrigues de Oliveira, Onofre Tondo, Ernestro
Fabro e Edmar Neys, poucos cabos, soldados e civis.
      De manhã me apresentei ao Capitão Fagundes, comandante da
Residência, que me recebeu de uma maneira muito fria, não desejou
nem as boas vindas! Apenas falou:
       - Não desmanche as malas. Você vai voltar para Lagoa
Vermelha. O Tenente Corrêa vai-te levar e, durante a viagem, ele
explicará a sua missão. Você vai assumir a Equipe de Revestimento
Primário, Conserva e Manutenção de Trânsito.
      O Tenente Corrêa, muito mais amistoso, antes de falar da
missão deu algumas dicas sobre os costumes da região,
principalmente, do linguajar, pois algumas palavras, para o gaúcho,
tinham um significado diferente.
       A Equipe estava fazendo o encascalhamento, no trecho de
Lagoa Vermelha até a entrada para Erechim e também era
responsável pela manutenção do trânsito até Passo Fundo, 100 km
de estrada de terra com muitos problemas.
      Das informações recebidas do Tenente Corrêa, o que mais
causou preocupação foi saber que a Equipe tinha respondido a um
IPM (Inquérito Policial Militar). O chefe estava aguardando a minha
chegada para cumprir uma punição de 30 dias de prisão. Sem dúvida
era uma equipe problemática e ao mesmo tempo era a “menina dos
olhos” do Batalhão, primeira e única equipe trabalhando na nova
missão.
      A Equipe era pequena, o efetivo era em torno de vinte homens,
cinco caminhões basculantes (marca FNM), uma motoniveladora,
duas pás carregadeiras de rodas, um trator de esteira e dois rolos
compactadores. Depois recebi um jipe, uma motoniveladora, uma pá
carregadeira de esteira, um trator de esteira e um rolo.
      Fiquei hospedado no Hotel Avenida, por conta do Batalhão. No
início o pessoal fazia as refeições no hotel e dormia no
acampamento. Com a montagem da cozinha todos passaram a fazer
suas refeições no acampamento, inclusive eu. Passei só a dormir no
hotel.
      Sem experiência alguma sobre o trabalho rodoviário, recebi a
chefia de uma equipe destacada, isto é, isolada do Comando da
                                43
Residência e com uma série de problemas. Decidi, inicialmente, ficar
simplesmente na posição de observador. Deixei tudo correr sem a
minha interferência. Praticamente o “chefe” era o Encarregado de
Campo, “Seo Antenor”, um funcionário público “antigão”, cheio de
direitos, dono da verdade e autoritário.
       Todo o pessoal da equipe já devia estar comentando:
      “Esse Sargento não quer nada com nada, a “coisa” está por
nossa conta.”
       Muito pelo contrário, eu estava atento a tudo e a todos,
observando o perfil - profissional e pessoal - de cada um.
Estudando quais medidas administrativas deveriam ser tomadas.
       No trigésimo dia, na hora da pegada, reuni toda a Equipe e com
toda autoridade e firmeza falei:
      - A partir de hoje, eu sou o Chefe.
       Em seguida ditei as novas regras, muito diferente do que era
praticado. Era o fruto de trinta dias de observação.
      O “Seo Antenor” perdeu toda a autonomia. Ficou encarregado
pelos trabalhos na cabeceira da pista e lá deveria permanecer o dia
todo, não mais ficaria passeando para baixo e para cima nos
caminhões basculantes.
      Dentre as novas regras, determinei:
      - Os basculantes seriam abastecidos ao final do expediente, no
retorno para o acampamento e não a critério do motorista a qualquer
hora do expediente. O combustível do Batalhão ficava depositado
em um posto particular, do Sr. Lima;
      - Criei um calendário para manutenção dos equipamentos e
viaturas;
      - Ficou estabelecido o itinerário para as viaturas irem ao posto
de combustível e à oficina mecânica. Acabava com o desfile pelas
ruas centrais da cidade;
      - Eu ficara responsável pela extração do cascalho,
carregamento e transporte. Resumindo, a equipe passava, de fato,
para minhas mãos.
      O espanto foi geral. Surpreendidos pela mudança radical, o
impacto foi tão grande que não houve qualquer questionamento. A
equipe se ajustou às novas regras, sem traumas, de maneira até bem
mais fácil do que imaginado. O mais importante foi que a produção
dobrou.
      Paralelamente as medidas administrativas, comecei a
desenvolver um trabalho social. A equipe era um grupo de boas
pessoas. Para melhorar o entrosamento, formamos um time de
futebol de salão. Pelo menos uma vez por semana, à noite,
alugávamos uma quadra para treinamento. Sempre que possível
dava apoio, principalmente, aos casados e ajudava a resolver os

                                  44
problemas familiares. Rapidamente conquistei a confiança e a
estima de todos.
      A falta de experiência era compensada pela facilidade no trato
com as pessoas e da assimilação rápida da problemática dos
trabalhos da construção rodoviária. Em pouco tempo tinha domínio
total de todos os setores da equipe e decidi dispensar os trabalhos
do Chefe de Campo. “Seo” Antenor, apesar de ser funcionário
público, durante muito tempo fora “gato” (agenciador de mão-de-
obra) e ainda mantinha algumas características daquela atividade.
Portanto, seu estilo não combinava com o meu. Essa minha decisão
foi de grande agrado a todos da Equipe. Pelo conjunto das minhas
ações, deixei de ser chefe e passei a ser líder!
      Tinha observado que a Equipe não tinha motivação para fazer
um serviço de qualidade e nem se preocupava com a produtividade.
A qualidade estava relacionada diretamente aos operadores de
motoniveladoras, mais conhecidas como “patrol” ou “magrela”. A
produção da equipe dependia dos motoristas das basculantes.
      Para melhorar a qualidade da pista passamos a fazer a super
elevação nas curvas e, para escoamento da água de chuva,
passamos a fazer o abaulamento nas retas. O cascalho, que era
sempre depositado no centro da pista, tanto nas retas como nas
curvas; para facilitar o trabalho da “patrol”, nas curvas, passou a ser
descarregado na borda externa.
      Pouco a pouco fui mudando o padrão de trabalho e ao mesmo
tempo criando o “espírito de corpo”, transformando aquela “turma”,
de fato, em uma equipe.
      Com o início do período de chuvas a equipe passou a prestar
socorro aos caminhoneiros que ficavam bloqueados nos atoleiros.
Aquela estrada, por ser um corredor de escoamento da produção da
região, tinha o trânsito pesado e intenso. Muitas vezes, quando
chegávamos ao local da interrupção, havia centenas de caminhões
parados. Era o “caos”! Era necessária muita cautela e disciplina
para não criar um grande tumulto.
      A equipe era bem experiente e impunha respeito. Minhas
ordens eram fielmente cumpridas, inclusive pelos motoristas
usuários da rodovia que seguiam a prioridade de passagem por mim
imposta. Certa vez um motorista exaltado avançou fora da vez, ficou
atravessado na estrada piorando a situação. Deve ter pensado que
com aquela atitude seria o primeiro a ser puxado para o outro lado
do atoleiro, o famoso “jeitinho brasileiro”. Como estava enganado!
      Dei ordem aos operadores das máquinas que fizessem com que
o caminhão ficasse na valeta encostado ao talude do corte,
desobstruindo a pista. Assim foi feito e de maneira tão sutil que
pareceu uma causalidade. Quando atravessamos o último caminhão
avisei o motorista afoito:
                                  45
- Seu caminhão está difícil de ser rebocado, vai demorar.
Estamos com fome, vamos para o restaurante para comer e depois
voltamos.
       Realmente estávamos com fome, era tarde e ainda não
tínhamos almoçado. Mas... Não tinha a intenção de voltar tão rápido.
O dito caminhoneiro seria punido exemplarmente!
        Aguardei no restaurante até que o caminhoneiro viesse pedir
clemência para que a operação fosse executada. Em pouco tempo
na realização de operações deste tipo aprendi que, além de mandar,
era necessário demonstrar quem realmente mandava! Porém, sem
truculência e nunca dar ordens acima da força que possuía! Em
certas ocasiões, quando ocorria a intenção de manifestação de
protesto, os próprios motoristas usuários da rodovia, se
encarregavam de abafar o ato.
      Meu pessoal não era “santo”, tinha que ficar de “de olho”,
principalmente, para evitar que pegassem dinheiro. Quando algum
caminhoneiro oferecia pagamento, eu dizia:
      - Este trabalho é de graça.
       Muitos motoristas, de livre iniciativa, para fazer um agrado ao
pessoal, deixavam pagos no restaurante, refrigerantes ou outras
melhorias. O IPM que a equipe respondeu foi, justamente, por
receber dinheiro. A “coisa” não era nada fácil... Todo cuidado era
pouco!
      O socorro aos caminhões atolados, anteriormente, era um
trabalho paliativo. Os caminhões eram arrastados para fora dos
atoleiros e depois era feita uma raspagem com a “patrol” para a
retirada superficial do barro. Nada mais era feito, só restava,
portanto, esperar uma chuva mais forte para ter outra interrupção da
estrada. Com o recebimento de uma carregadeira de esteira,
Caterpillar modelo 933, que tanto podia ser usada como carregadeira
ou como trator com lâmina e ainda era dotada de um poderoso
guincho, passei a dispor de uma máquina ideal para o serviço
necessário para acabar com os atoleiros.
       Por ser pequena, a CAT 933 podia ser facilmente transportada
na caçamba do FNM. Independentemente de ordem expressa, tomei
a iniciativa de sempre levar a CAT 933 para socorrer os caminhões
atolados. Enquanto era realizada a operação de desatolar os
caminhões com o uso das “patrolas”, a CAT 933 estava na pedreira
ou cascalheira mais próxima escavando material. Terminado o
“desatolamento”, a CAT 933 era trazida para o atoleiro e retirava todo
o material ruim (barro) da pista. Depois era levada de volta para a
pedreira para carregar os basculantes com o material, anteriormente
extraído para preencher a cratera de onde fora tirado o barro do
atoleiro, recompondo a estrada. Com esse tipo de operação, pouco a
pouco os atoleiros foram sendo eliminados.
                                  46
Essa pequena máquina (CAT 933), pela sua versatilidade,
tornou-se a mascote da equipe e, para mim, a “menina dos olhos”
que estava presente em todas as missões. Só mesmo quem
trabalhou com equipe de manutenção de trânsito sabe avaliar como
uma máquina dessa magnitude é importante e passa a ser tratada
como “um ser vivo”! Outra coisa importante, na CAT 933, foi que
veio acompanhada de uma preciosa “peça”- seu operador, o Ângelo,
apelidado de “Pica-Pau”.
     Terminada a missão, na cidade de Lagoa Vermelha, a equipe foi
transferida para a cidade de Santa Bárbara do Sul.




                            Outra maravilha do Sul, o trigo!




                        Sgt Carvalho, Arelino, Godinho,
                              Ernesto, Celso e ...
                                     47
A vida social em
                     Lagoa Vermelha
     A minha vida social teve uma mudança radical, um fim de
semana ficava em Lagoa Vermelha e outro em Passo Fundo. Era
como se morasse em duas cidades.
      Lagoa Vermelha era uma cidade pequena, porém muito mais
movimentada do que a “velha” Campanha. Município rico, ponto de
passagem obrigatória para o médio norte do Estado, região das
Missões, e também com parte da fronteira com Argentina. O fluxo de
caminhões pela rodovia, que passava por dentro da cidade, era
grande.
      Vários soldados que conhecera em Vacaria, durante o período
que ficara na Instrução, eram de Lagoa Vermelha e, com isso, sempre
tinha alguém me convidando para almoçar ou jantar na casa de seus
pais. A maioria tinha irmã bonita e solteira... Muitas davam aquela
“bola”. Às vezes, até achava que eram elas que faziam com que eu
fosse convidado.       Porém, a timidez e aquele complexo de
inferioridade de menino pobre impediam que eu tirasse proveito da
situação. Na verdade, naquela cidade, não arrumei nenhuma
namorada. A maior aproximação que tive foi com uma bonita jovem,
filha de um italiano, dono de um bar, por sinal muito severo. Apesar
da simpatia mútua, o namoro não chegou a acontecer.
      Foi em Lagoa Vermelha que realmente fui conhecer a vida
noturna, um mundo novo. O meu guia foi o Godinho, um soldado
engajado, natural daquela cidade, gente boa, educado, bom
companheiro. Godinho também era companhia para jogar bingo no
Clube Lagoense.
      Por influência do Vezário, morador daquela cidade, o Major Iara,
muitas vezes passava o fim de semana em Lagoa Vermelha e sempre
me convidava para fazer parte do grupo. O Major era solteiro e
gostava de uma noitada. Pessoa discreta, não gostava de bagunça
ou baixaria. Motivo pelo qual, selecionava as pessoas que o
acompanhava.
      Em razão da minha recente formação da EsSA, ficava
encabulado e pouco à vontade com a companhia de um oficial
superior. Nunca tinha imaginado tal situação. Às vezes me escondia
para não ser convidado.
      Através da convivência com esse pessoal conheci o Mario
Vanzim e tornamo-nos grandes amigos. Durante a semana em sua
companhia, frequentava vários ambientes, principalmente, o boliche.
Realmente um bom amigo que também era amigo da minha amiga.


                                  48
As primeiras experiências com
 convívio com pessoas tão diferentes
     Lagoa Vermelha foi um verdadeiro laboratório para começar a
aprender sobre os diversos “tipos” de pessoas com as quais
passaria a trabalhar e também a conviver. Aqueles trinta dias que só
fiquei observando foram importantes. Pude fazer uma avaliação de
cada membro da equipe, seguindo uma lição da minha mãe que dizia:
     “Temos que aproveitar o que toda pessoa tem de bom!”
     Realmente, toda pessoa tem algo de bom e foi isso que procurei
em cada uma daquelas pessoas, pois seriam meus parceiros no
cumprimento da missão.
     No geral, o grupo era bom. Era questão de saber conduzi-los,
não poderia ser truculento e nem marionete. Tinha que encontrar o
momento certo de ser severo e a hora de ser flexível, sem nunca
deixar dúvida da minha autoridade de decidir e comandar, sem nunca
deixar de praticar a justiça e não me esquecer do social, da qualidade
de vida e do bem estar no ambiente de trabalho. Seguindo esta
metodologia a liderança viria naturalmente.
     Naqueles primeiros trinta dias teve uma pessoa, um soldado,
com o qual não consegui uma aproximação. O Soldado era uma
pessoa arredia, não se “enturmava” e era esquisito. Fazia questão
de estar sempre diferente, por exemplo: dia frio e todos estavam de
japona ou outro agasalho, ele estava de camiseta; dia quente e todos
estavam de camiseta, ele de japona. Era bom operador de máquina,
mas... Não era nada cooperativo.
     Tinha outra pessoa difícil de qualificar, era de trato fácil,
educado, agradável, porém tinha um “senão”... Era “porco”, não
tomava banho e por isso dormia na cabine do FNM. No alojamento o
pessoal não suportava o seu “fedor”. O “Sujismundo” era casado e
o pessoal falava:
     “Como uma mulher pode aguentar um homem fedorento como
esse?”
      Passado algum tempo, ele trouxe sua família para Lagoa
Vermelha. Quando o pessoal conheceu a senhora, disse:
     “Como um homem pode aguentar uma mulher “porca” como
essa?”
     Ela conseguia ser mais “porca” que o marido! Algumas vezes
ele vinha conversar comigo e se queixava que as crianças dele
sempre estavam doentes!
      Pensei comigo:
     “Pobres crianças... Como ter saúde com tanta sujeira!”

                                  49
Não tinha como falar a realidade. Com muito cuidado falava
que alguma coisa estava errada, deveria levar as crianças ao médico
ou ao posto médico.
      Mas a experiência maior ainda estava para acontecer! Certo dia
alguém veio me avisar:
      - O motorista do caminhão da Sede quer entregar um material
para o Senhor.
      Quando vi o motorista, tive uma má impressão do cidadão.
Sujeito muito sério, cara de bravo e de pouca conversa. Pensei
comigo:
      “Ainda bem que esse motorista não é da minha equipe!”
      Passados poucos dias, para meu espanto, o dito motorista veio
transferido para minha equipe. Eu o recebi de maneira educada e
sem deixar transparecer a minha preocupação.           Como estava
enganado! A máxima popular é verdade:
       “Quem vê cara não vê coração”.
       O “Seo” Ângelo foi, sem dúvida, uma das pessoas mais
especiais com quem tive a oportunidade de trabalhar e conviver.
Além de tudo, excelente motorista de FNM. Ele sempre dizia:
      “Eu dirigi o primeiro FNM que chegou ao Brasil! Eu o
descarreguei do navio no porto do Rio de Janeiro.”
       Era de pouca conversa... Muito reservado, porém uma fineza de
pessoa. Que pessoa sensata! Era pessoa que pensava para falar.
Ele, vendo que eu não tinha grande conhecimento sobre a
manutenção e cuidados com o FNM, com muito jeito, de maneira
reservada, passava todas as “dicas” que só um profissional
conhecia. Sem dúvida, essa ajuda foi importante para o meu sucesso
no comando da equipe.
      No desempenho da missão de manutenção do trânsito, eu
andava para baixo e para cima no trecho sobre minha
responsabilidade. Meu jipe (prefixo W-7) era o mais velho do
Batalhão e passava a maior parte do tempo indisponível, então eu
fazia a maioria dos deslocamentos de FNM e o motorista escolhido
passou a ser o “Seo” Ângelo, que além de ser ótimo motorista,
impunha respeito. Muitas vezes fazia as refeições nos restaurantes à
beira da estrada. Quando eu chegava, com aquela cara de menino e
fardado de sargento do Exército, notava que o pessoal fazia alguns
comentários e ficava olhando com certa desconfiança e desdém.
Mas quando se sentava à mesa, em companhia do “Seo” Ângelo,
cessavam cochicho e olhares. Minha pouca idade (cara de menino)
causava estranheza, pois o gaúcho sempre foi muito ligado à carreira
militar. Alguns não aguentavam e, com muito jeito, vinham até mim
para saber como era possível ser sargento com tão pouca idade.



                                 50
Com o passar do tempo, tomei conhecimento de algumas
dificuldades vividas pelo “Seo” Ângelo e a superação delas, fizeram
com que o admirasse ainda mais.
      A Equipe já estava sob meu comando, quando veio transferido
o Bortoloto, o “Soldadão”, apelido dado em razão de seu tamanho.
Era operador do trator de esteira, marca Einco, transferido para
minha Equipe. O Comandante da Companhia de Equipamento só
gostava da marca Caterpillar, equipamento de outras marcas ele
distribuía para as equipes menores!
      O Soldadão, de origem italiana, era um soldado estilo
“Catarina” que servia na PE em Brasília. Era uma pessoa
descontraída, com um linguajar muito peculiar, às vezes beirava a
ingenuidade, de fácil trato, era amigo de todos. Na montagem de
barreiras para interrupção da BR era peça fundamental, nessas
ocasiões vinha à tona o estilo “Catarina”, de obediência extremada!
      Certo dia apareceu transferido para a equipe o soldado recruta
Paulo Celso, operando uma patrol.           Fiquei surpreso!    Havia
conhecido o Paulo Celso em Vacaria, no período em que ficara na
instrução e ele era o oposto do “Soldadão”. Como era possível um
soldado recruta ser operador de patrol, um das máquinas mais
difíceis de operar? A explicação era simples: Paulo Celso era filho
do “Seo” Pedro, o operador de patrol mais antigo e experiente do
Batalhão, que praticamente criara o filho em cima da máquina, ao seu
lado.
      Com a chegada do Paulo Celso foi possível colocar em prática a
ideia de fazer um trabalho de boa quantidade e apresentação. O
Paulo Celso, na verdade, sabia pilotar muito bem a patrol, porém
pouco sabia da técnica de acabamento de revestimento primário. Ali
estava a oportunidade de formar um novo modelo de operador. Os
antigos tinham dificuldades de adaptação à nova técnica e tinham a
natural resistência à mudança.
      No decorrer dos anos seguintes teria a oportunidade de
conhecer muitas outras pessoas especiais e diferentes. Desde o
começo entendi que, para bem comandar, tinha que bem conhecer
os subordinados.




                                 51
As atividades “extracampo”!
     O Chefe de uma Equipe isolada (destacada) para o
cumprimento da missão tem seu expediente de 24 horas por dia!
Resolve tudo que envolva seu pessoal e material, dentro e fora do
horário de expediente! E ainda têm as atividades “extracampo”!
      Em Lagoa Vermelha uma dessas atividades era com relação ao
Delegado Regional da Polícia Civil. Com frequência recebia através
de seu mensageiro, um Guarda Civil, convite para comparecer à
Delegacia. Sempre para tratar de assuntos banais tais como:
moradores que estavam reclamando do barulho dos FNM ou da
poeira e etc.
      Sempre respeitei o horário de silêncio. Tinha estabelecido um
itinerário para o deslocamento dos caminhões basculantes dentro da
cidade. Diante de tais fatos eu perguntava para o Delegado:
      - Qual era o delito cometido?
       Não tendo resposta! Eu complementava:
      - Esse é ônus que se paga pelo o progresso!
      Nos fim de semana, por qualquer motivo, alguém da minha
equipe era preso. Bastava o cidadão estar no balcão de um bar para
ser preso. Lá ia eu, tirar o cidadão da cadeia. Quando eu não era
encontrado, o preso passava a noite ou noites na cadeia!
      Certa tarde, no encerramento do expediente, recebi a
informação de que um basculante, no deslocamento para o
acampamento, tinha se envolvido em um acidente. Quando cheguei
ao local do acidente verifiquei que estava em andamento uma
“armação”! O motorista do carro particular, por “barbeiragem” ou
por estar embriagado, tinha capotado. O caminhão do Batalhão não
teve nenhum envolvimento, apenas estava passado naquele
momento por aquele cruzamento.
      Ao examinar o levantamento feito pelo perito da Polícia Técnica,
constatei que foram cometidos alguns “equívocos” que
incriminavam o motorista do Batalhão. Com jeito, para não ferir
suscetibilidades, consegui que outro levantamento fosse feito com
meu acompanhamento. Ainda fiz um pedido formal de exame de
sangue da dosagem do teor de álcool na corrente sanguínea do
condutor do carro particular.       De madrugada, quando saiu o
resultado do exame de sangue, fui procurado pelo advogado da outra
parte, propondo que eu retirasse a ação.
       Respondi:
      - Não entrei com ação alguma. Estou apenas resguardando os
interesses do Batalhão e, portanto, não há nada a ser retirado.
      Morreu ali o caso!

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Mas com essa ocorrência, decidi que medidas enérgicas
deveriam ser tomadas em relação ao Delegado Regional. Na mesma
semana recebi outro convite para comparecer à Delegacia. Pelo
mesmo portador mandei o seguinte recado:
      “Qualquer intimação ou “convite” deverá ser feito por escrito,
dirigido ao meu Comandante, em Vacaria, conforme previsto em lei.”
      Informei aos meus superiores os fatos ocorridos. Coincidência
ou não, na semana seguinte o referido Delegado foi transferido.
Nunca mais fui incomodado por outro delegado!




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30 Anos e 45 dias no Exército Brasileiro

  • 1. 30 Anos e 45 dias de serviço no Exército Brasileiro “Na manhã do dia 31 de março de 1964, ao transpor o portão principal da EsSA, pisei pela primeira vez em solo de um quartel... Era o prenúncio de uma carreira militar. Da carreira que teria início no dia 15 de fevereiro de 1965 e encerrar-se-ia em 31 de março de 1995.” Antonio Carlos de Carvalho
  • 2. Autor: Antonio Carlos de Carvalho antccmt@gmail.com Revisor: José Paulo Bueno de Carvalho Capa: Foto do Portão Principal da EsSA – 1965: Foto atual do Portão: Contra-capa: Foto do Aluno nº 705 Antonio Carlos Diagramação e Impressão: ACCarvalho Fotos: Acervo do autor, do museu do 9º BEC e algumas cedidas por amigos. 2ª Edição 2013 A edição desse livro é um trabalho artesanal do autor, sem fins comerciais. Distribuição gratuita. Apoio: PORTAL DA ADMINISTRAÇÃO PARA CONCURSOS PÚBLICOS www.lacconcursos.com.br 2
  • 3. Dedicatória Dedico a todos os meus amigos, companheiros da longa caminhada no Exército Brasileiro, de modo muito especial aos da Equipe de Conserva e Manutenção do Trânsito (3º B Rv) e Revestimento Primário (Cascalheira – 9º BEC), posso não me lembrar do seu nome, porém ao relembrar o nosso feito, você está presente no meu pensamento. Uma dedicatória especial: À minha Mãe querida, Maria Aparecida Bueno de Carvalho, que moveu “céus e terras” para que meus irmãos e eu pudéssemos estudar. Ao meu Pai, José Oliveira de Carvalho, quem me conduziu à carreira militar. Sou feliz na vida militar porque fiz a vontade do meu querido Pai! A minha querida esposa, Edna Esteves Carvalho, que há 39 anos me acompanha nessa caminhada pela vida a fora! Ao querido filho Luiz, a sua esposa Ana Lúcia, aos seus filhos Luiz Vinícius e Ana Luiza. A querida filha Ediane, o seu esposo Sílvio, aos seus filhos Samuel e Ana Vitória. A querida filha Nádia. 3
  • 4. 4
  • 5. Agradecimentos Primeiro agradeço a Deus por tudo; pela coragem, disposição e aptidão, para narrar os meandros da minha vida... Agradeço ao meu irmão José Paulo Bueno de Carvalho, “Paulinho”, conselheiro e revisor deste trabalho. Sua participação com intelectualidade, dedicação, esmero e sua pertinência muito contribuíram para o enriquecimento desse livro. Agradeço a todos os Comandantes e Chefes que ao longo da carreira reconheceram e valorizaram o meu trabalho. Agradeço, também, aos meus pares e subordinados, que me ajudaram a cumprir as mais diversas missões, e pela confiança e amizade. Agradeço, ainda, a colaboração dos “velhos companheiros” da Arma Azul Turquesa: Tenente Coronel Júlio de Augusto de Oliveira Soares, pela participação no primeiro livro, e os Capitães Ubyrajar de Oliveira Henriques e Emerson Rogério de Oliveira, pela participação na 2ª Edição desse livro. Meu agradecimento especial a toda equipe do site: www.lacconcursos.com.br, que possibilitou a disponibilidade desse livro na internet. Muito obrigado! 5
  • 6. 6
  • 7. Após vários anos na reserva, me atrevi a realizar a remota aspiração de escrever um livro, na narrativa da história da minha vida convivida entre familiares, amigos e companheiros que sugiram ao acaso nesta caminhada pela a vida afora. À medida que ia recordando e ordenando aquele emaranhado de lembranças iam surgindo outras e outras, que formaram o livro – “Até parece que foi ontem...” Sem dúvida uma experiência singular, valeu! Concluído o livro avaliei que o intervalo vivido no Exército, deveria ser compartilhado com os amigos da caserna, companheiros de tantas aventuras. Pois, nos trinta anos de quartel, vivi uma grande diversidade de funções, missões e situações, algumas “sui generis”! Tive o privilégio de conhecer, trabalhar e conviver com pessoas especiais, notáveis, educadas, gentis, e, também, com aquelas tidas como “difíceis” de se relacionar. Todavia, todas elas ajudaram a aprimorar o meu espírito! E, também, porque observei que a história das grandiosas obras realizadas pela Engenharia Militar, pouco a pouco, vai se apagando, sendo esquecida. Decidi, então, publicar, o primeiro livro, “Reminiscências de um Pioneiro da Cuiabá – Santarém”. Com 144 páginas, narro, sem dúvida, a melhor fase da minha vida militar. Foi a oportunidade de participar, talvez, da maior obra realizada pela Engenharia Militar e foi também a minha afirmação da capacidade de liderar uma equipe de construção de obra rodoviária. Não é a história do 9º Batalhão de Engenharia de Construção, é apenas a narrativa dos fatos vividos, principalmente, na chefia da Equipe de Revestimento Primário e alguns fatos do meu conhecimento, relacionados à Unidade Militar ou aos seus Integrantes. Espero ter tido a sensibilidade para passar, para o papel, determinadas situações não conhecidas ou que às vezes passam despercebidas aos olhares de muitos, mas, que fazem a diferença no cumprimento da missão. No segundo livro publicado, “30 Anos e 45 dias de serviço no Exército Brasileiro”, (1ª Edição), com 300 páginas, narro, além do conteúdo do primeiro livro, toda a minha trajetória no Exército, desde a minha inscrição na EsSA até a transferência para a Reserva Remunerada. O difícil não é escrever o livro em si, mas, sim, em publicá-lo. Razão pela qual comecei pelo menor e foi a minha sorte, pois, contratei uma gráfica para editar o livro e o resultado foi um 7
  • 8. desastre, a gráfica não entregou o produto na qualidade combinada. Assim, decidi eu mesmo fazer a diagramação e a impressão, contratei apenas a encadernação. O trabalho artesanal ficou bom. Mesmo assim, o custo para produzir um livro é alto. Sem incentivo e patrocínio, a solução encontrada, para maior divulgação e atender a grande solicitação dos amigos, companheiros e conhecidos, foi a internet e a criação de um site para disponibilizar gratuitamente, o livro “30 Anos e 45 dias de serviço no Exército Brasileiro”, (2ª Edição). Os fatos narrados, em ambos os livros, são verídicos, não há ficção. São lembranças que ficaram armazenadas por décadas na minha memória. É natural que alguma “coisa” tenha se perdido entre os meus neurônios! E, assim reuni e publiquei episódios vividos no quartel e nos canteiros de trabalho. São muitas lembranças – algumas proeminentes, outras nem tanto, situações alegres, às vezes tristes ou até banais. Mas, muitas vezes do banal surgiu o significativo! Tudo são peças que se encaixam e formam o “mosaico” de uma vida de muita intensidade, da qual muito me orgulho! Ao contemplar esse “mosaico” certifico que tudo foi importante! No momento em que foram vividos determinados fatos, não pude aperceber que seus valores seriam o diferencial na posteridade! Nesta vida terrena tudo pode ser passageiro! Entretanto, as amizades verdadeiras são duradouras, persistem para sempre, vencem o tempo, à distância e as adversidades! Dá sentido à vida! A amizade foi e é a minha maior conquista! O Autor. 8
  • 9. Ao aceitar o honroso convite do autor ANTONIO CARLOS DE CARVALHO -Cap Ref EB, dileto amigo e companheiro de lutas nos campos da nossa Engenharia Militar, para que apreciasse e registrasse comentários sobre seu livro “30 Anos e 45 dias de serviço no Exército Brasileiro”, intentei transmitir como segue: O LIVRO Chama atenção, à primeira vista, a peculiar feitura do livro. De forma artesanal, caseira, desassistida de quaisquer recursos sofisticados e técnicas de editoração, ela admira pelo primoroso acabamento; pela beleza da capa que atende as principais funções básicas de “proteção”, “identidade” e “apelo à leitura” e, também, pela excelente gramatura das páginas. A OBRA Constata-se, já nos primeiros capítulos, a incomum e firme determinação do autor em historiar sua jornada pelos caminhos da vida militar, o que termina por fazê-lo através desta bela obra. Os acontecimentos marcantes de sua vivência são dispostos em relatos minuciosos, com muita simplicidade e sem ornamentos desnecessários. A hábil exposição dos Capítulos e suas subdivisões, distribuídos cronologicamente e ornados, muitas vezes, com documentos e fotografias acumulados através dos tempos, torna a obra, bastante esclarecedora e de fácil e agradável leitura. A INTENÇÃO Embora os relatos do autor se fixem primitivamente em sua vida pessoal, cabe ressaltar suas fortes e vibrantes virtudes cívicas quando descreve, com orgulho e desenvoltura, sua profissão de militar do EXÉRCITO BRASILEIRO e, em destaque, sua eficiente participação, quando integrando a Arma de Engenharia de Construção, na nobre missão de desenvolvimento e integração da Pátria. Campo Grande-MS – NOV 2012 Ubyrajar de Oliveira Henriques Cap Ref EB 9
  • 10. 10
  • 11. No final de 2011, com agradável surpresa, recebi do meu amigo e irmão da Arma de Engenharia, Capitão Reformado, Antonio Carlos de Carvalho, um exemplar do seu livro: “30 Anos e 45 Dias de Serviço no Exército Brasileiro” – que ele define como “o mosaico de uma vida de muita intensidade, da qual muito me orgulho”. E verdadeiramente o é. Li de uma só pegada, as trezentas páginas, a maioria ilustrada com fotos. O livro, uma produção independente, de feitio artesanal e sem fins lucrativos, é desses que a gente começa a ler e não quer mais parar. Achei-o maravilhoso, pelo conteúdo, pela forma e pelo estilo. Autêntico “tocador de serviços”, primeiro no pampa gaúcho e depois na floresta amazônica, o autor, compromissado com a veracidade do relato, usa uma linguagem clara e transparente, para resgatar histórias importantíssimas, vivenciadas por ele e seus companheiros de trabalho, além de registrar valiosos dados históricos e sociológicos das décadas de 1960/1970 . Até me vali de alguns deles, para realinhar um capítulo do livro que escrevia no momento (Muito Além dos Caminhos), creditando-o na minha referência bibliográfica. O título da obra e a leitura das suas primeiras páginas poderão dar a impressão de que se trata da autobiografia do autor. Mas à medida que avança a leitura, percebe-se que ele não é tão somente o narrador e o personagem principal das suas próprias histórias. Contadas de forma brilhante, tirando-se o caráter particular e sabendo-se avaliar os graus de dificuldades e de riscos de cada uma, elas são quase as mesmas do universo dos “tocadores de serviço” do 3.º Batalhão Rodoviário, de Vacaria (3.º BRv), depois transformado em 9.º Batalhão de Engenharia de Construção, de Cuiabá (9.º BEC, quando empreenderam uma epopeia na construção das grandes obras da nossa Engenharia Militar. Todos tiveram as suas histórias. Daí, que o “Truquinho” – apelido carinhoso dado pelos amigos que fez ao longo da vida, ao dar lume a esses registros, presta um serviço à História, um tributo ao ex- 3.º BRv, e uma homenagem aos que integraram o “velho batalhão de Vacaria”, cuja fidelidade e amor continuam até os dias de hoje. Além do que, comunga com todos os seus amigos, pois como ele mesmo diz: “A amizade foi e é a minha maior conquista!”. A outra surpresa veio pelo convite, no início deste ano de 2013, para prefaciar o livro revisado, ampliado e com projeto para 11
  • 12. disponibilizá-lo na Internet, o que me deixou honrado e feliz. Para melhor orientar-me, li-o novamente, com o mesmo entusiasmo e prazer de antes. Prefaciar um livro equivale a dar-lhe o aval, pois, ao cumprimentar o autor naquela primeira leitura, já o avalizara declaradamente. Na manhã do dia 31 de Março de 1964, quando o jovem Carvalho transpôs o portão principal da EsSA, em Três Corações/MG, para fazer sua inscrição para o curso de Sargento das Armas, eu ocupava uma trincheira à margem gaúcha do Rio Pelotas, divisa dos estados RS/SC, armado com uma metralhadora INA, com o meu Grupo de Combate em posição. Era o Movimento Revolucionário, que evitou que o Brasil fosse entregue nas mãos dos comunistas. Eu havia me formado na mesma Escola, em 1963, e estava mais de um mês da minha apresentação no 3.º BRv. Em fevereiro de 1966, o pica-fumo 3.º Sargento Carvalho, mineiro da cidade da Campanha, chegou a Vacaria, pronto para o serviço na Unidade. As obras de arte da ferrovia do Tronco Principal Sul (TPS), estavam sendo ultimadas e o batalhão iniciava a construção da BR-285 – Vacaria São Borja (587 km). Com as diversas frentes de trabalho e com a transferência de pessoal e equipamento da ferrovia para a rodovia, a azáfama era intensa naquelas paragens. Havia um efetivo civil e militar, contando os familiares, de aproximadamente dez mil pessoas. Sem mais demora, o Carvalho foi destacado para trabalhar no trecho da BR-285, assumindo a chefia da “Equipe de Revestimento Primário, Conservação e Manutenção de Trânsito”, com atuação entre Lagoa Vermelha e Passo Fundo. Serviço desgastante, pois tinha a tarefa de manter a trafegabilidade dos trechos abertos, que exigia sacrifício, e não havia descanso nos finais de semana. Com a equipe volante, ocupava instalações de beira de estrada, deixadas pelos que seguiam em frente, como as turmas de bueiros, pontes, Equipamento Pesado... Eram barracões rústicos, sem banheiro e sem luz elétrica. Muitas vezes sem água por perto. Apesar dessas dificuldades e da sua falta de experiência, esse foi o grande palco de atuação e de destaque do jovem militar, que iniciava a carreira. Superou todos os entraves com coragem, dedicação e, acima de tudo, liderança e capacidade de trabalho. Foi naquele chão gaúcho, de estrada poeirenta e de barro vermelho, que se forjou o profissional da QMG 05 - Engenheiro de Campanha, legítimo trecheiro, chamado de tocador de serviço. Ainda haveria de ser testado em outras missões no chão mato-grossense, com novos riscos e desafios. Longe da BR 285, num lugar chamado Fim do Trecho, à beira do Rio Pelotas, eu tocava dois túneis e as cavas de um viaduto – últimas obras do TPS, a cargo do batalhão. Mesmo enfurnado naqueles 12
  • 13. fundões, tomei conhecimento de que “...um Sargento, chegado da EsSA... um tal de Carvalho, se desempenhava com muita iniciativa... tinha a turma na mão...” E coisa e tal. Ouvi elogios de várias pessoas que chegavam àquelas paradas em visita às Obras. O Major Uiara, oficial da Seção Técnica, na sede, foi um deles a fazer referências ao pica-fumo mineiro. Estava curioso para conhecê-lo, mas não lembro quando isso aconteceu. Acho que foi na sede, em Vacaria, no Clube dos Sargentos. Dali nasceu a nossa amizade. Até hoje. Em 1967, enquanto a sede do 3.º BRv se fixava em Carazinho/RS, cursei o CAS. Voltei transferido para a 2.ª Cia E Cnst, em Panambi, noroeste do Estado gaúcho. Nessa ocasião trabalhei na BR-285, junto com o Carvalho, cada um na sua missão, eu como fiscal de uma construtora civil, que fazia a terraplenagem, e depois na construção das pontes dos rios Ibicuá e Moinho, nas bandas da Região das Missões, e ele continuava com a Equipe de Revestimento Primário, nas proximidades de Carazinho. Logo em seguida, o 3.º Batalhão Rodoviário foi transformado em 9.º Batalhão de Engenharia de Construção, com sede em Cuiabá, com a missão de implantar a BR–163 Cuiabá – Santarém, até a Serra do Cachimbo, no Estado do Pará, e nós nos reencontramos em 1971, quando lá aportei. Ele chegara um ano antes. A CER/4 ficou encarregada da conclusão da BR-285. Pioneiro do “Escalão Avançado do 9º BEC”, o Carvalho desembarcou em novembro de 1970, de uma aeronave C 130 Hércules, em Cuiabá. Chegou para ficar. Casou, constituiu família, serviu no 9.º BEC em todas as graduações e postos – de 3.° Sargento a Capitão – e fixou residência, onde mora até hoje. E ainda por cima, diz que quebrou uma tradição cuiabana, quando afirma que não comeu “cabeça de pacu” – segundo a lenda: condição para nunca mais deixar o lugar. Em pouco tempo foi destacado para trabalhar na construção da BR–163, na chefia da Equipe de Revestimento Primário, o mesmo nome da equipe que liderara no Sul. Os trabalhos estavam no início. Como lá no Sul, o ritmo intenso obrigava o Sargento Carvalho a mudanças constantes de acampamentos: Piúva, Castanhal, Córrego da Onça, Rio Lira, Teles Pires, Rio dos Patos... Também como lá, precários, sem condições sanitárias e sem energia elétrica. O suprimento de alimentos vinha dos céus, em volumes largados em clareiras no mato, por aviões de pequeno porte, fretados ou do apoio da FAB. No atraso ou na falta, o “quebra-torto”, feito de carne de sol com farinha, servia para mitigar a fome. O longo tempo de paragem por aquelas bandas amazônica, embrenhado na selva, com a sua equipe, também chamada de “Equipe da Cascalheira”, atesta que o livro que escreveu tem causos 13
  • 14. do “arco da velha”. A citação dos nomes dos participantes nas histórias e as fotos que ilustram as páginas são as testemunhas dos acontecimentos, alguns impressionantes, como o capítulo: “Três dias perdido”. A narrativa do livro é clara e objetiva, segue o traçado da estrada, na mesma velocidade das equipes de terraplenagem, Disparada e Arrastão, cujas máquinas, conduzidas por operadores obstinados, avançam, derrubando a mata e deixando atrás de si a estrada aberta, pronta para receber o cascalho da Equipe do Sargento Carvalho, que vem logo atrás, ainda no cheiro do vergel ceifado e da terra fresca revolvida. Há relatos de passagens heroicas desses homens intrépidos, de quem eram exigidos coragem e sacrifício, dadas as condições e a agressividade da área. E abnegação, pois trocavam dois meses na floresta, por uma semana junto à família. Os servidores civis e os militares, em sua maioria, vieram juntos com a mudança do batalhão para Cuiabá. “O pessoal empregado nas atividades do Batalhão é composto de militares (Oficiais e Praças), em sua maior parte oriundos do extinto 3.° Batalhão Rodoviário. Civis: funcionários públicos federais e contratados, num efetivo que hoje atinge 1.800 servidores”. (Suplemento 9.º BEC – Integração, Desenvolvimento e Segurança – 1971) Depois de alguns anos embrenhados na selva amazônica, em arrojadas e sacrificantes missões, submetidos a ataques de índios e a doenças tropicais, cumpriram suas missões e se dispersaram. Como o autor, muitos permanecem por lá até hoje. Sobre a malária, o maior desafio da área de saúde do batalhão, há um relato impressionante do Carvalho, à página 158 do livro: “[...] Além das dificuldades técnicas, havia o terrível fantasma da malária... Lembro-me que quando o Dr. João (médico da Unidade) chegou ao acampamento [...], no final da tarde, em que a malária ataca [...] convidei-o para me acompanhar até ao alojamento maior coberto de lona e mostrei a ele, quase que um terço da equipe, aproximadamente 50 homens deitados, tremendo de febre. O Dr. João teve aquela momentânea reação de espanto [...]. Mais adiante. Continua o autor: “Algumas mortes eram repentinas. O trabalhador ia bom para Cuiabá na debandada, quando não retornava, ao informar sua falta, recebia como resposta a triste notícia de seu falecimento ocorrido no fim de semana. Causa da morte: malária”. Na sede, lotado no Órgão Central de Apropriação (OCA), encarregado de apurar a produção e os custos dos trabalhos realizados na BR -163 e na manutenção da BR-364, eu acompanhava toda a movimentação das equipes naqueles trechos. Ainda guardo comigo um exemplar do Boletim Informativo n.º 2, onde consta, além 14
  • 15. dessa apuração, uma estatística, demonstrada em números e gráficos, das obras realizadas no 3.º trimestre de 1972. Verifica-se que o efetivo civil empregado nas diversas frentes nesse período era de 1.390 servidores. Desses, 1.127 trabalhavam na BR-163 (2.ª Cia e Cia Eq). Nos dados fornecidos pelo Laboratório Farmacêutico do batalhão, consta ter havido nesse período uma incidência de malária em 12,24% desse efetivo. Orgulha-me registrar que o Carvalho e tantos outros companheiros, entre os quais também me incluo, pertenceram à safra dos velhos trecheiros, militares e civis, das décadas de 1960/1970, do saudoso ex-3.º Batalhão Rodoviário, de Vacaria. Seguiram o exemplo deixado pelos que os precederam, desde a criação do batalhão, em 1917, no tempo da pá e da picareta. A garra e a vontade desses engenheiros precursores, que abriram os caminhos por enfiadas dentro do mato, deixando lugares de paragens, que depois viraram freguesias e cidades, são as mesmas dos que peregrinaram pelos canteiros de serviços e acampamentos naquele cenário das grandes obras da Arma azul-turquesa, no início do Governo Militar, em 1964, empenhado no processo de desenvolvimento do Brasil, estabelecido pelo Plano de Integração Nacional (PIN). A próspera cidade Lucas do Rio Verde é um desses exemplos. Formou-se ao redor das instalações do batalhão. Inexoravelmente, o tempo passa, as gerações se sucedem e as coisas mudam. Mas, a História continua a mesma. E deve ser lembrada e deve constar da ata, sob pena de ficar sepultada sem o símbolo da cruz, na cova do esquecimento. Assim, procura-se entender por que não constam no Acervo Histórico do 9.º BEC as obras do passado, construídas pelo 3.º Batalhão Rodoviário. Não estão no site daquela OM, as expressivas obras da ferrovia do Tronco Principal Sul e da rodovia BR- 285 – Vacaria São Borja. É lamentável. Daí vai a importância e a valorização que devem ser dadas a companheiros, como o Capitão Carvalho que, corajosamente, sem medo de se expor, puxou da memória e desencavou, lá do fundo, a história da sua vida militar de 30 anos e 45 dias, preenchendo trezentas páginas com as vivências da sua caminhada no Exército Brasileiro. Em uma entrevista para o projeto de História Oral do Exército na Engenharia Militar, o General Enzo Martins Peri, atual Comandante do Exército, diz: “É muito relevante que se resgate a história de todos os que participaram de tantas situações que não podem cair no esquecimento. [...] São muitas experiências que merecem sair do anonimato para fazer parte da História.” O General Enzo serviu no 9.º BEC como capitão e depois foi o seu comandante. Com essa mesma disposição do Carvalho poderia citar tantos outros escritores militares. São eles que estão gravando em ata a 15
  • 16. epopeia daqueles rudes tempos de antanho. É bom que se registre, também, que muitos desses livros publicados e postos à disposição do público, vêm com o timbre do idealismo e do sacrifício pecuniário, pois sem incentivo e patrocínio, os custos saem do soldo do autor. Apesar disso, quando menos se espera surge um resgate fabuloso de histórias de luta, de fé e de coragem. Ilustradas com fotos antigas, elas conseguem reavivar na memória desbotada a efervescência dos grandes canteiros de obras e o entusiasmo dos homens que neles labutaram e deixaram a sua marca, como um legado aos que viriam atrás, na batida, no rastro dos homens que ajudaram a construir este país. Ainda é assim, hoje, comprovada pela brilhante atuação da nossa Arma de Engenharia no atual cenário brasileiro. São outros tempos, outras gerações e com tecnologia avançada, mas a saga continua no mesmo passo firme dos “velhos trecheiros”. Para o nosso orgulho. Parabéns, “Truquinho”! Prossiga! Emerson Rogério de Oliveira Cap Ref Eng/63 – ex- “Tocador de Serviço” N R: O Capitão Emerson Rogério de Oliveira, formado em Ciências e em Letras é autor de quatro livros: - Pote de Barro (1979 – crônicas): - Peregrino do Universo (2000 – crônicas); -Trincheiras Abertas (2007 – histórias/opiniões); e - Muito além dos Caminhos (2012). 16
  • 17. Apresentação Esta obra, “Reminiscências de um Pioneiro da Cuiabá – Santarém”, certamente é a essência da lembrança daqueles que, nas frentes de serviço dos Batalhões de Construções, em especial o glorioso 9º Batalhão de Engenharia de Construção, do nosso Exército, que delinearam uma epopéia de glória nos diversos rincões da nossa pátria. Em especial na integração da nossa Amazônia. Originário dos pampas gaúchos, o sempre aplaudido 9º BEC teve sua origem com a extinção do 3º Batalhão Rodoviário, cuja sede era em Carazinho-RS. Chegou às terras do Mato Grosso com a honrosa missão de implantar a BR-163, Cuiabá – Santarém, trecho Cuiabá - 321 km ao norte da Serra do Cachimbo (1.114 km), nos idos dos anos 70. Sobre os passos dos heróis do passado que conquistaram a Amazônia, vieram os “modernos bandeirantes bequeanos” que, ao implantarem rodovias como a BR-163, tornaram-na verdadeiramente brasileira. Pois estas veias de penetração permitiram a ocupação destes vastos territórios, por levas de brasileiros, sonhadores, que se tornaram grandes empreendedores ao longo dos anos, ao transformarem o “inferno verde” num dos maiores celeiros de alimentos do mundo, em uma perfeita conjunção de sístole e diástole desenvolvimentista. A posse verdadeira da Amazônia, só foi possível pela integração das diversas malhas viárias, cujas artérias principais foram as construções do porte da BR-163. Espantaram a cobiça externa que, de tempos em tempos, questionam esta posse pelo nosso povo, dessa imensidão verde que temos por obrigação conhecer o seu valor para as gerações futuras. O autor, em linguajar simples de soldado, traz das reminiscências de sua memória, feitos dos bravos homens das frentes de serviço, sendo o próprio um dos atores principais. Cria a certeza de que suas existências não foram em vão. As histórias urdidas no labor nas inóspitas paragens se entrelaçam onde o soldado e o servidor civil tomam consciência do dia a dia do árduo serviço de suas responsabilidades, pelo desenvolvimento da nossa grandiosa nação, generosamente legada pelo sangue e suor dos heróis pretéritos. O então jovem Sargento Carvalho nos proporciona uma aula dos principais atributos que se espera de um soldado de engenharia, do mais jovem recruta ao mais ilustre general, que são – “a lealdade 17
  • 18. como mola impulsora do cumprimento da missão e a iniciativa que diferencia os mais capazes”. Quem se deleitar com a leitura desta obra, certamente ouvirá o ronco dos motores, saberá que a extremada dedicação ao serviço leva a superação das deficiências. Dá-nos a perfeita dimensão que a liderança é conquistada na confiança e certeza do subordinado de que nunca estará só nos momentos cruciais. Em hipótese alguma sentirá a dor da incerteza no reconhecimento dos seus feitos. Esta dor será maior no seu líder, sempre pronto a sair em defesa dos seus liderados, sobrepujando os seus próprios interesses pessoais. A glória da liderança reside em tirar o máximo do subordinado, que por sua vez, faz da confiança no seu líder a sua profissão de fé. Superando todas as vicissitudes a despontar no horizonte, focando apenas no sagrado cumprimento da missão, sobrepondo-se acima daqueles, que não trazem no peito o verdadeiro ardor patriótico modelador do caráter dos grandes homens de uma nação. Júlio Augusto de Oliveira Soares Tenente Coronel da Arma de Engenharia NR.: O Tenente Coronel Soares serviu nas frentes de serviço: do 6º BE Cnst (Boa Vista-RR) e do 9º BE Cnst (Cuiabá-MT), respectivamente nos idos de 1989 e 1994. A republicação dessa apresentação é para o leitor que não teve a oportunidade de ler o 1º livro. Reminiscências de um Pioneiro da BR-163, Cuiabá – Santarém Antonio Carlos de Carvalho 18
  • 19. Sumário Capítulo I – Escola de Sargentos das Armas Introdução... 023 A Matrícula na EsSA... 026 O Curso de Formação de Sargentos (CFS)... 027 A Escolha da 1ª Unidade Militar... 037 A viagem com destino ao Rio Grande do Sul... 038 Capítulo II – Rio Grande do Sul 3º Batalhão Rodoviário... 039 A primeira equipe – Lagoa Vermelha-RS... 43 A vida social em Lagoa Vermelha... 48 As primeiras experiências com o convívio com pessoas tão diferentes... 49 As atividades “extra campo”... 52 As parcerias com Prefeitos... 54 Em Santa Bárbara do Sul, queimei a “cara”... 55 De acampamento em acampamento... 58 Amizada ao longo da estrada... 60 Alguns “Atritos”... 62 Trabalho é trabalho, amizade à parte... 64 A volta do Chefe de Campo... 65 Passo Fundo – RS... 66 Os Aprendizes (1)... 71 O melhor asfalto do Brasil... 73 Você está parecendo um suíno!... 74 A mudança de subordinação da Equipe... 75 A quebra de confiança... 78 Carazinho a Vacaria ida e volta de Patrol, que viagem maluca!... 79 Esquina Gaúcha... 80 Curso de Aperfeiçoamento de Sargento (CAS) – Três Corações-MG... 83 Dr. Bozano, fim da missão no Rio Grande do Sul... 87 A revisão do equipamento com destino a Cuiabá-MT... 91 Fim da temporada no Sul... 93 Capítulo VI – Mato Grosso/MT - 9º Batalhão de Engenharia de Construção Introdução... 95 Destino: Cuiabá... 96 Os Pioneiros do Escalão Avançado... 098 Assim era Cuiabá... 101 Destino: a Frente de Serviço (mato)... 104 Os Pioneiros da Frente de Serviço... 107 A Balsa do Rio Verde... 109 Três dias perdido... 111 A Retirada do Acampamento do Rio Verde... 117 Abertura do Caminho seco que contornava a Várzea da Piúva... 122 O nascimento da cidade de Lucas do Rio Verde... 126 O trator que ficou atolado por cinco meses... 128 Os primeiros ocupantes das terras ao longo da BR-163... 130 Acampamento do Rio dos Patos... 131 Acampamento da Piúva... 134 Férias, motorista de 1ª viagem... 135 O primeiro desfile do 9º BEC em Cuiabá-MT... 137 Transferência para a Sede do Batalhão... 139 19
  • 20. A vida de solteiro... 141 O namoro... 143 O passaporte de retorno para o mato... 144 As Equipes de Trabalho do Batalhão... 145 O retorno à Equipe de revestimento Primário... 150 Acampamento do Rio Teles Pires... 153 Missão impossível... 154 A falta de motorista de FNM... 155 Para que Embreagem? ...156 “... foi compactada com pneu de Fé Ne Me” ... 157 Acampamento do Rio Lira, a estruturação da Equipe... 158 Material de acampamento... 158 Mecânica Pesada... 159 Mecânica Leve... 159 Depósito de combustível... 161 O Enfermeiro... 162 A Logística... 163 A Viatura... 164 Manda Brasa e Senta Pua! ... 167 Pagamento da Gratificação de Produção... 168 Disciplina com regras simples... 170 “Seo” Waldemar... 172 “O Onça”... 172 O Primo... 174 Acampamento do Córrego da Onça, período complicado! ... 175 Malária... 177 O Comandante não acreditou! ... 177 Novo Chefe da “Cascalheira”... 180 Acampamento do Castanhal, a hora da verdade! Decisões difíceis! ... 181 Sabotagem... 182 Cortar o mal pela raiz! ...183 Do “Motim” ao Recorde!... 184 Xeque-mate na cozinha!... 185 A falta de combustível... 188 Acampamento do Rio Pardo... 190 A reunião de final de ano... 190 Motorista e Caçador! ... 192 Acampamento da Serra do Sinal... 194 Você é um ateu! ... 195 O Soldado Cruz... 195 O casamento... 197 A dificuldade para transportar um Trator de Esteira... 199 Acampamento do Rio Braço Sul... 200 Acampamento do Córrego XV de Novembro... 201 A lei é dura, mas tem que ser seguida... 203 Ideias diferentes! De onde saíram? ... 204 Dois acampamentos ao mesmo tempo... 205 Os Profissionais... 207 Os Aprendizes (2)... 209 Casos Diversos de Acampamento... 211 Não me deixe morrer sem uma vela acesa na mão... 211 Não gostei, vou devolver! ... 212 Não bato na farda! ... 212 A Sobremesa! ... 213 A Gratificação... 213 Sargento! Não sei nadar! ... 214 Caetano estas panelas estão muito pretas! ... 215 20
  • 21. O Gato do Acampamento... 216 O Lavador de Elefante... 216 O trote... 217 Acidentes e acidentes... 219 Autonomia na condução da Equipe... 222 Os Índios... 223 O Fotógrafo... 226 Missão cumprida... 227 Vida nova na Sede do Batalhão... 231 Vida de casado... 232 A promoção de Segundo Sargento... 233 A troca de Comando do Batalhão... 234 A transferência para o Estado-Maior do Exército... 235 Os “endeusados” e os injustiçados! ... 236 Capítulo VII – Brasília/DF – Estado-Maior do Exército Introdução... 237 A troca de apartamento... 237 Pronto para o serviço no EME... 239 2ª Seção do Gabinete do EME – SG/2... 240 A mudança de chefia da SG/2... 243 As glórias e os ossos da função... 245 O General “RO”... 251 A vida familiar em Brasília... 253 A onde fica isto? ... 256 Vi! Mas fiz que não vi! ... 257 A transferência de volta para Cuiabá-MT ... 258 A viagem de regresso a Cuiabá... 260 Capítulo VIII – O retorno ao Mato Grosso De volta a Cuiabá e ao 9º BEC... 261 Novamente destacado, BR-70, Cuiabá-Cáceres... 261 O trabalho na sede do Batalhão... 265 O Soldado Alípio... 269 A mão poderosa de Deus... 273 Promoção a oficial... 274 Capítulo IX – Rosário Oeste-MT, 10ª Delegacia do Serviço Militar Introdução... 275 Delegado do Serviço Militar... 276 Chefe do SFPC/10ª Del SM... 278 Parou a Fábrica de Cimento de Nobres... 280 Fim da Missão de Delegado... 281 Capítulo X – Novamente de volta ao 9º BEC O acumulo de funções... 282 A Equipe “Menina dos olhos do comandante”... 286 Missão cumprida no Exército... 287 Palavras de despedidas... 289 Capítulo XI – A vida depois do quartel A vida na reserva Remunerada (aposentadoria)... 293 Conceituação de uma vida... 307 Transcrição de Elogios... 309 O autor... 325. 21
  • 22. 22
  • 23. Capítulo I Escola de Sargentos das Armas EsSA Introdução No mês de janeiro de 1964 fiz o meu alistamento militar, deveria fazer o Serviço Militar em 1965. Rubens Ramos, nosso vizinho, estava servindo o Exército, era cabo em Pouso Alegre, ao encontrar o papai comentou: “Por que o Antonio não faz inscrição para a EsSA (Escola de Sargentos das Armas), em Três Corações. Ele terminou o Ginásio e está preparado. Se passar no concurso para a EsSA, em 1965 vai fazer o Curso de Sargento e, em dez meses, será promovido a 3º Sargento.” Papai ficou entusiasmado com a ideia e falou comigo. Fiquei surpreso e assustado, respondi: - Ah, pai! Eu não tenho jeito para isso. Papai não comentou mais nada comigo, mas se informou de tudo e, na véspera do dia 31 de março de 1964, falou: - Amanhã é último dia para fazer a inscrição para EsSA. Cedo vamos a Três Corações para fazer sua inscrição. Na manhã do dia 31 de março de 1964, ao transpor o portão principal da EsSA, pisei pela primeira vez em solo de um quartel... Era o prenúncio de uma carreira militar. Da carreira que teria início no dia 15 de fevereiro de 1965 e encerrar-se-ia em 31 de março de 1995. Portão Principal da EsSA – 1965. 23
  • 24. O Sargento que nos atendeu informou que a inscrição tinha encerrado no dia anterior. Fiquei até aliviado, mas o papai argumentou: - Viemos de longe (38 km), da Campanha e a informação que recebemos do Cabo estava errada. Foi aí que começou a funcionar a força do destino. Estava escrito que eu deveria ser militar. O Sargento disse: - Minha esposa é de Campanha! Não é que o Sargento era casado com a prima da mamãe! Para resumir, o Sargento conseguiu fazer minha inscrição com data de 30 de março. Outra coincidência! Era a primeira vez que pisava no solo de um quartel, justamente, no dia da Revolução de 31 de Março. O quartel estava tranquilo, na verdade o movimento revolucionário começaria na madrugada. Por ocasião da realização do exame intelectual, papai me deu dinheiro para hospedagem em Três Corações. Foi a primeira vez que me hospedei em um hotel. Não me preparei para a prova. Para mim, era com se fosse fazer uma prova final do Ginásio. Talvez esta despreocupação tenha feito com que eu fosse aprovado. A prova era diferente do que estava acostumado. Fui surpreendido e fiquei preocupado! No Ginásio, queriam saber o que nós sabíamos; na EsSA, queriam saber o que nós não sabíamos! Só depois fui saber que as provas da EsSA eram temidas, justamente por essa mentalidade. Nessa semana que fiquei fazendo prova encontrei o meu amigo Dirson (Tiquira), que estava servindo na EsSA. Dirson foi meu cicerone, mostrando-me o quartel e explicando alguma coisa sobre a Escola. Explicou, por exemplo, que “arma” no nome da Escola se referia à: Infantaria, Cavalaria, Artilharia, Engenharia e Comunicações. Quando ele falou da Arma de Engenharia fiquei entusiasmado e falei: - Quero ir para a Engenharia. Dirson retrucou: - Não é assim: “Eu quero ir”. Engenharia é a arma mais difícil! Só os que tiverem as melhores notas no exame de seleção é que vão para lá! Passado algum tempo de expectativa, no dia 31 de agosto de 1964, recebi o resultado, fui aprovado e convocado para realizar o teste físico e médico. No teste físico fui bem, aprovado com facilidade. No exame de saúde tive problemas com exame odontológico, pois estava com vários dentes cariados. Num prazo de 30 dias, tinha que retornar com os dentes arrumados. Assim, fiz o tratamento dentário com o 24
  • 25. Dr. Toninho Furtado e, dentro do prazo, retornei, fui aprovado e o trabalho de restauração feito pelo Dr. Toninho foi elogiado. Agora era só esperar para ser chamado para fazer a matrícula, enfrentar e vencer as adversidades que com certeza teria durante o curso! Com fé em Deus e com o pensamento positivo estava pronto para a “batalha”. Guardo até hoje o telegrama que informa a minha aprovação no exame intelectual para a EsSA. EsSA – Escola de Sargentos das Armas. Três Corações – MG. 25
  • 26. Matrícula na EsSA Na manhã do dia 09 de fevereiro de 1965, apresentei-me na EsSA para matrícula. Após ultrapassar o portão de entrada olhei para trás e vi o letreiro da EsSA, que ficava em cima do antigo porão, invertido. Ainda tenho essa visão gravada em minha memória. Meu pensamento voou, perguntei-me: “Onde estou me metendo?” Tive uma sensação esquisita de temor e preocupação. Aquele portão era a divisa do mundo conhecido, daquele pequeno “universo” que conhecia de uma pequena cidade. Sabia que da minha vida ingênua e tímida, trazia pouca vivência para enfrentar aquela mudança repentina. Sem dúvida, a vida ali seria difícil. Balancei a cabeça para espantar aqueles pensamentos negativos, olhei para frente e mudei de pensamento: “Se outros conseguem, eu também consigo...” “Vamos em frente e fé em Deus!” Aquele primeiro dia no quartel seria complicado e cheio de novidades. Pelo menos, de chegada, tive uma boa notícia: estava relacionado para o Curso de Engenharia. Comecei bem. Era o que queria e isso ajudou aliviar a pressão e angústia. Fui mandado entregar a documentação na Seção Técnica, no segundo andar do Pavilhão Principal. Não tive dúvida! Fui pelo caminho mais curto, pelo saguão principal e pela escadaria central. Quando comecei a subir observei que um militar que tinha iniciado a descer, voltou e ficou parado no topo da escada. Quando lá cheguei o militar falou: - Escada de aluno é aquela lá no fundo. Esta aqui é só para oficiais. Desça e volte pela escada certa. Fiz conforme determinado e lá estava o militar, no mesmo lugar, para verificar o meu comportamento. Quando andava pelo pátio escutei: - Antonio! Antonio! Olha para cá, venha aqui! Fiquei surpreso. Olhei e vi meus companheiros de ginásio e conhecidos que tinham incorporado em janeiro, atrás das grades. Não tive dúvida e fui ver o que tinha ocorrido. Conversamos bastante, fui comprar cigarros e lanches na cantina. A conversa estava animada, quando apareceu o comandante da guarda e disse: - Quer ficar conversando com seus amigos, vou colocá-lo dentro da cela. Saí rápido e, depois dessa, não voltei mais, apesar dos apelos dos amigos encarcerados. A cadeia ficava perto da engenharia, no canto do pavilhão principal, hoje, deve ser onde funciona a Biblioteca. 26
  • 27. O dia transcorreu sempre ouvindo um sargento gritando: - Rápido! Rápido! “Mocorongo” atrasado. Intencionalmente, tinha deixado para me apresentar no penúltimo dia do prazo, razão porque era considerado atrasado e “mocorongo”. Os dias que se seguiram, até o dia da matricula foram infernais para todos... Muita correria, gritos, castigos e trabalho. Tudo aquilo tinha dois propósitos: testar os candidatos e fazer com que os mais fracos desistissem antes da matrícula. Realmente, o método funcionava. Houve desistências. Nem pensei em desistência e continuava com o pensamento fixo: “Se outros conseguem, também consigo.” Em 15 de fevereiro de 1965 fui matriculado no Curso de Formação de Sargentos. Recebi o número 705 e o nome de “guerra” de Antonio Carlos. Curso de Formação de Sargentos (CFS) 1ª Fase Depois da matrícula, a “coisa” ficou mais tranquila com o começo das aulas. Todavia, para mim, a “coisa” complicou com a apresentação de um Tenente. O referido oficial instrutor ao ser apresentado encarou um a um os alunos. Quando os olhos dele bateram nos meus olhos, senti algo estranho e percebi que tinha encontrado o meu desafeto, nosso sangue não combinou. Só não sabia que aquilo seria a maior dificuldade que teria durante o curso! A maioria da nossa turma era constituída de cabos e soldados antigos, experientes com a vida do quartel. Eu fazia parte da minoria de origem civil. Seria lógico que os de origem civil levassem uma grande desvantagem no início do Curso, principalmente, nas instruções de ordem unida e educação física. Nas instruções de sala de aula não havia disparidade. No meu caso tinha uma agravante, podia ser considerado “mocorongo” e, ainda, tinha o meu desafeto, o Tenente, a perturbar. Na ordem unida, que exige muita atenção e concentração, sempre estava preocupado com o Tenente. Muitas vezes ele chegava por trás e passava o pé para que eu errasse o passo. Acredito que ele queria que eu até caísse. Certo dia o subcomandante da EsSA, o Tenente Coronel Mario Miranda Santa Rosa, que era da Arma de Engenharia, deve ter visto alguma coisa de que não gostou, pois ele tirou a mim e mais dois colegas de forma e 27
  • 28. passou dar a instrução de ordem unida para nós. Isso aconteceu mais de uma vez. Na instrução de campo, apesar da perseguição, me saía muito bem. Aquelas longas caminhadas pelo mato nos arredores da Campanha foram de grande valia. O Sargento Cruz era meu amigo e certo dia me disse: - Não se preocupe! Os pontos que lhe são tirados aqui na Escola, na instrução de campo você recupera em dobro. Por ser sabedor que a instrução de campo tinha peso maior, fiquei mais tranquilo. Em determinada instrução de maneabilidade, em que o exercício seria atravessar rastejando um terreno lamacento, eu estava deitado no chão, na linha de largada aguardando o início, quando senti nas minhas costas um par de coturnos e ouvi uma voz muito conhecida: - Se me derrubar, você vai ver. Com muita força e raiva, apesar daquele peso nas costas, realizei o exercício até com certa facilidade. Percebi que o meu silêncio e a demonstração de força irritavam o Tenente. Ao tirar o uniforme, na gandola, estava a marca dos coturnos. Todas as sextas-feiras havia instrução de campo na fazenda Atalaia, próxima de Três Corações. Em uma grande instrução de patrulha, o Tenente (desafeto) era instrutor-chefe, para separar as patrulhas disse: - Eu vou escolher duas patrulhas, a dos peixes positivos e a dos peixes negativos. As outras, a escolha é livre. O resultado eu já vou anunciar, primeiro lugar os peixes positivos e em último lugar os peixes negativos. Óbvio! Fazia eu parte dos peixes negativos. Aliás, fui o primeiro a ser escolhido! O Tenente tinha cometido um grande erro, feriu o amor próprio, o brio de cada um. Falei aos companheiros Fonseca, Bermudez, Roberto, “Coreano”, “Gato Murinha”, Breno e etc.: - Vamos ganhar esta missão na marra. A primeira patrulha a largar foi a dos peixes positivos, a seguinte foi a nossa. No segundo obstáculo era um banhado, onde a cavalaria fazia instrução, lugar medonho, fedia estrebaria. Foi lá que alcançamos os peixes positivos, atolados até o pescoço. Eles haviam cometido um grave erro, pularam em pé. Nós pulamos pranchados, literalmente nadamos e passamos por cima dos concorrentes. A briga foi feia. Houve “agarra-agarra”, socos e “coices”. Passamos a frente e ninguém mais nos alcançou, fomos os mais rápidos em todos os obstáculos. Nosso comandante era o Fonseca e, no obstáculo do tiro ao alvo, era ele o atirador. Para que ele não chegasse ofegante, um foi na frente para preparar a arma, o 28
  • 29. restante carregou o Fonseca. Deu certo! Com um único tiro derrubou todos os alvos (latas). Foi incrível! O único a realizar tal façanha. A última etapa do exercício era subir um morro, uma rampa forte, mais ou menos 1.500 metros. Corri... Além de ganhar a competição, queria ser o primeiro a chegar. Cheguei primeiro, demonstrando ter ainda fôlego para muito mais. Corrida de resistência era o meu “forte”, pois tinha passado uma infância e juventude correndo! Ganhamos com muita folga, para maior decepção do Tenente, que ainda teve que dar a recompensa prometida - uma semana de dispensa da revista da noite. Apesar de ser uma semana de provas escritas, fiz questão de ir ao cinema quase todas as noites. Só para ter o gosto de entrar no cinema depois do Tenente e me apresentar com toda altivez possível. Foram muitas pressões. Muitas vezes chorei aquele choro recolhido que ninguém vê. Meu propósito era derrotar o Tenente, estava decidido! Ia terminar o curso com sucesso. Nessa primeira fase não fui nenhuma vez para casa. Para matar a saudade e ver como eu estava o papai ou a mamãe vinha até a Escola trazendo bolo e doces. Uma vez foi o Fernando que veio. Essas visitas eram muito importantes. Um alento e a certeza de que no mundo fora daqueles muros, tinha uma família preocupada comigo. Papai também sempre dava algum dinheiro, pois o aluno recebia menos que um soldado. Eles descontavam o material de estudo, ainda tinha que pagar a lavadeira de roupa e, no final, só sobravam 6,00 cruzeiros novos. O contingente de campanhenses servindo, naquele ano, na EsSA, era grande. No rancho, tinha o Fernando, irmão do Romeu e do Renner. Tinha dia que a comida era “difícil” de ser engolida. O aluno comia porque não tinha outra opção e a fome era grande. Porém, fui privilegiado! O Fernando, ele era o líder dos rancheiros. Quando me via na fila já avisava os outros rancheiros que serviam – “Aquele é o meu amigo”. Fernando era quem pagava a carne, ele sempre tinha um pedaço especial reservado para mim. Lembro muito bem – ele remexia o fundo da panela e lá vinha um “pedação” de carne sem osso ou pelanca! Graças ao Fernando, fui bem alimentado na EsSA! Os meus colegas ficavam encabulados e perguntavam: – O que você tem com estes rancheiros? A resposta era a pergunta: – Para que servem os amigos? No Curso de Engenharia, tinha o meu amigo de ginásio, o Luis Antonio Lemes dos Reis. Portanto, estávamos sempre próximos, principalmente nas instruções de campo. 29
  • 30. O Luis Antonio tinha um perfil parecido com o meu; também muito tímido. Só que, inexplicavelmente, era “peixe” do Tenente (meu desafeto). O tratamento do Tenente, em relação a ele era o inverso do que tinha para comigo. O super protegia em qualquer situação! Penso que foi por incentivo do Tenente, que ele fez o Curso de Sargento de Engenharia, em 1967, com êxito. Serviu em Unidades Militares do Mato Grosso do Sul; em 1989, tive a grata oportunidade de encontrá-lo em Campo Grande-MS, estava servindo no Comando da Região. Terminou a primeira fase do curso, me saí muito bem nos testes psicotécnicos, fui atendido na primeira opção e continuei na Engenharia. Depois de quatro meses pude ir para casa, para um descanso e começar a segunda fase do curso. A primeira carteira de identidade Alunos: Silva Filho, Antonio Carlos e Araújo. EsSA 27/07/1965 30
  • 31. 2ª Fase Na segunda fase as matérias eram especificas da Arma de Engenharia, além da ordem unida, de educação física, que eram continuidade da 1ª fase. Foi então que meu desafeto levou desvantagem. Ele era instrutor de Topografia, Nós e Aparelhos de Força. Matérias que tinham tudo a ver com matemática, desenho e física. Era tudo o que queria, era o meu forte. As aulas de Topografia muitas vezes eram ministradas no refeitório, para utilização das mesas grandes para os exercícios realizados em cartas topográficas. O Tenente vinha pulando de mesa em mesa e verificando o trabalho de cada um. Na maioria das vezes, “xingava” o aluno e chutava o material. Quando ele pulava na minha mesa, eu parava, ele examinava e chegava a bufar. Nunca dei a ele o gosto de corrigir uma vírgula, pois era o meu forte e ainda me esforçava ao máximo. Outra matéria importante era a construção de pontes e similares. Na sala de aula era matemática pura; nas aulas práticas, era exigida grande resistência e boa estrutura física. Sendo acostumado ao trabalho pesado, isso não era problema para mim. Sempre era escalado para as equipes de trabalho mais pesado, vigotas, pranchões, painéis, treliças e etc. Fazia parte de uma turma muito valorizada pelo Instrutor. Nosso efetivo era pequeno, menos da metade do previsto para maioria dos lançamentos de pontes que obrigava um esforço dobrado de cada um. Por exemplo, as vigotas eram projetadas para serem transportadas por dois homens. Na hora do apuro nós transportávamos sozinhos. O ótimo desempenho na construção me valeu muitos pontos positivos para o conceito geral. Na segunda, fase os alunos do Curso de Aperfeiçoamento de Sargentos (CAS), por ser uma turma pequena, faziam as instruções de Educação Física e de Campos junto com nosso Curso de Formação de Sargentos (CFS). Os sargentos do CAS eram boas pessoas, porém havia uma exceção: um “cara xucro”, abrutalhado. Durante uma sessão de Educação Física, em um jogo de Futebol Americano, quando passei pelo “dito cujo,” correndo com a bola, ele, que estava parado, simplesmente colocou a mão fechada na altura do meu rosto. O impacto foi grande, um verdadeiro e certeiro murro. Fui a nocaute! Caí! Por alguns segundos tudo ficou escuro. Levantei-me... Tomei consciência do que tinha acontecido, decidi ir à forra! Quando o “cara” passou correndo por mim, não tive dúvida, passei o pé nele. A queda foi violenta, caiu de boca no chão e, literalmente, comeu capim. Ainda caído, ele olhou para mim em estado de fúria, estava ali o “desafeto nº 02”. Fui alertado pelos colegas: 31
  • 32. - Cuidado! Este cara é mau, ele vai se vingar! Fiquei esperto, não dava as costas para o “cara”. Não foi o suficiente... Envolvido pelo jogo, descuidei-me por alguns segundos. Mas o sexto sentido fez com que eu olhasse rapidamente para trás e visse aquele par de solas de tênis vindo em minha direção. Abaixei- me instintivamente e o “cara” passou por cima de mim e caiu à frente. Ele tentara me acertar nas costa com uma voadora! Se tivesse sido atingido, com certeza, as consequências seriam sérias. O “cara”, em estado de fúria, totalmente descontrolado, saiu correndo e atacou um colega que estava com a bola fora do campo para bater um lateral. O Instrutor parou o jogo e o expulsou. A situação estava ficando ruim para mim. Agora eram dois desafetos, só que este era covarde e traiçoeiro. Mas no dia seguinte veio uma decisão do Comandante do Curso, que amenizou a situação. A partir daquela data o “fera” não mais participaria de jogos coletivos e nem faria parte de equipes nos exercícios de campo. Porém, não poderia descuidar nas instruções onde era usada munição real e explosivos. Com relação ao Tenente (desafeto), a maior vitória foi no mês de agosto, quando realizamos o segundo exercício de longa duração, no Pico do Gavião, ao lado da cidade de São Tomé das Letras. Os cursos de Engenharia e de Comunicações se uniram para a realização da pista de cordas. O obstáculo maior era a travessia de um riacho de leito rochoso e margens altas, através de um cabo de aço esticado de uma margem à outra. O exercício era de grande dificuldade e, quando o aluno conseguia chegar no meio do riacho, onde o cabo fazia a barriga, era detonado um petardo de TNT (dinamite). O infeliz do aluno subia junto com a coluna de água e pedra e, na descida, quando o cabo esticava, não aguentava o solavanco, caía na água e voltava para a margem para tentar até conseguir a travessia, através do cabo. Aguardava na fila a minha vez, quando o Tenente se aproximou e disse: - É hoje sete, zero, cinco! O Capitão do curso de Comunicação dava dicas para a travessia utilizando um método diferente, mas ninguém tentava. Pensei comigo, vou fazer o que o Capitão esta ensinando. Primeiro colocar o fuzil atravessado nas costas, com a bandoleira bem apertada para não girar, depois deitar por cima do cabo, trançar uma perna no cabo, deixar a outra livre para fazer o equilíbrio e com as mãos puxar o cabo de aço. O resto seria equilíbrio e acompanhar o movimento. O Capitão, ao ver que eu estava seguindo à risca suas instruções, ficou entusiasmado e começou a me incentivar. O famigerado desafeto, com o pé começou a balançar o cabo. Como eu continuava firme, agarrou o cabo com as mãos e o balançava com 32
  • 33. muita fúria. Como o Tenente estava agarrado ao cabo, impedia que outros alunos seguissem atrás de mim. Fiquei sozinho, o cabo já balançava com muita força numa grande amplitude. Eu ia e voltava agarrado ao cabo numa boa. O Tenente, na margem, se deu muito mal... Ele não conseguiu acompanhar a força e velocidade do cabo, escorregou e caiu barranceira abaixo... Foi parar dentro d’água! Aproveitei a distração do pessoal dos explosivos com a queda espetacular do Tenente e atravessei o riacho. Cheguei à outra margem “sequinho da silva”. Não é nem necessário dizer que a torcida era toda minha, só não houve aplausos e gritos porque era uma instrução militar. Aplausos só do Capitão! Todavia o melhor estava por vir. A noite sempre havia uma reunião com a participação de todos: instrutores, monitores e alunos para avaliação e comentários. O Tenente Façanha ( foi o encarregado de fazer avaliação daquele dia de instrução. Ele começou dizendo: - O Antonio Carlos foi o destaque do dia! Na pista de cordas foi surpreendente, supimpa... Era tal a sua elegância que parecia um noivo a desfilar! O Tenente não conseguia esconder sua irritação, durante a reunião não falou nada. Mas ainda faltava uma vitória esmagadora no tocante ao intelectual! Última prova para o encerramento da matéria, peso 4 (o maior) – Nós e Aparelhos de Força. Nessa prova o exercício de maior valor, era achar o valor da força resultante de um complexo sistema de roldanas (carretilhas). Estava aí a minha chance, caprichei! Quando o gabarito foi apresentado, ninguém tinha acertado! Impossível, nem o gênio Zilmar tinha acertado. Confusão geral. A maioria da turma, que não conseguiu fazer o exercício, queria anulação da questão. O Zilmar afirmava que ele era o único certo; eu e mais alguns companheiros, talvez uma meia dúzia, afirmávamos que a nossa resposta era a certa; o Tenente, por sua vez, não conseguiu provar que estava certo. Para acabar com a confusão, o Tenente pediu um tempo. Dois dias depois fomos levados para um galpão do Parque de Pontes. O Tenente realmente era profissional e competente! Lá estava montado o sistema de roldanas com a resposta certa. Não havia o que contestar, o meu grupo estava certo. O Tenente teve que retificar a nossa nota. No meu embate com o Tenente, eu era vencedor na instrução de campo e na instrução de sala de aula. Estava confirmada a escrita: “Os humilhados serão exaltados.” Para encerrar o curso em novembro foi realizada uma manobra no Pico do Gavião, fiz parte da figuração inimiga, fiquei a semana inteira acampado no cume do Pico. No último dia da manobra o 33
  • 34. grupo de engenharia recebeu a missão de lançar um campo minado. Às cinco horas da manhã, estávamos lançando o campo minado quando, ouvimos o chiado característico de deslocamento de ar produzido por granadas de artilharia. O monitor, imediatamente, gritou: - Escondam debaixo das pedras que lá vem fogo! Foi a conta de escondermos e só foram granadas caindo bem em cima de nós. Vimos de pertinho os estilhaços, em brasa, ricochetear por todos os lados... Era bonito, mas extremamente perigoso. Sorte que o local era rochoso e oferecia bons abrigos e ninguém foi ferido. Tinha acontecido que a Artilharia confundiu e abriu fogo uma hora antes do combinado. Ficamos sabendo que o comandante da artilharia foi transferido. Depois de todo o flagelo consegui chegar ao final do curso e ser aprovado. Sem a tribulação sofrida, o curso teria sido um passeio! A superação valorizou a vitória e também ganhei autoconfiança que foi de grande valia para caminhada que teria na vida militar. Não tenho mágoa do Tenente, apesar de toda sua “ojeriza” comigo, nunca foi desonesto com relação às notas. Sempre recebi a menção merecida nas provas escritas. Ainda teria que sofrer mais uma provação, por ocasião da revista do uniforme para a formatura de promoção a sargento. A loja que vendeu os uniformes não me entregou a tempo os meus sapatos. Fui para revista geral (toda a Escola) com os sapatos que usava como aluno, aquele modelo “mercedinho”. Quando um dos monitores de outro curso bateu os olhos nos meus sapatos, fez o maior escândalo: “Olha só o tipo de sapato que esse pão-duro vai usar na formatura de sargento.” Outros vieram, cada um mais sarcástico que o outro. Verdadeiro assédio moral e execração pública, que me machucou no fundo da minha alma! Fiquei arrasado! Não tive a oportunidade de esclarecer a situação. Até hoje me pergunto: qual a razão para submeter o subordinado a tão grande constrangimento? Após a revista, ainda, tive que aguentar a gozação de alguns colegas. Quatro de dezembro de 1965, dia da formatura da promoção a terceiro sargento. Na revista final os “babacas” dos sargentos monitores vieram direto para cima de mim... Quebraram a cara! A loja não recebeu a tempo os sapatos que eu tinha comprado. O dono da loja então me deu um par de sapatos da marca “Terra”, a melhor marca de sapatos da época. Poucos eram os oficiais que usavam sapatos daquela marca. A maioria usava mesmo era o “Passo Doble”. Os “babacas” olharam para meus sapatos e ficaram espantados, sem jeito... E ainda tiveram de engolirem a expressão estampada em meu rosto, daquele sorriso recolhido (que não mostra 34
  • 35. os dentes) de deboche, desafiador e vitorioso. Saíram quietinhos e com os rabos no meio das pernas. Fiquei satisfeito, pois mais uma vez o humilhado foi exaltado! Assistiram à formatura papai, mamãe, Fernando, Paulinho e a Maria Heloísa. Minha madrinha foi a Gladys (prima). Estava com a alma lavada, com a graça de Deus tinha cumprido a missão, o sucesso era o resultado do meu esforço, persistência, muita tolerância e renúncia. Era o primeiro passo de uma carreira que seria bem sucedida, dentro do programado e de acordo com o regulamento. No primeiro dia de aula, o comandante do curso, o Capitão Novais (José Gilberto de Lima Novais), disse: “Com a realização do Curso de Formação de Sargentos e depois o Curso de Aperfeiçoamento de Sargentos, ao final de trinta anos de serviços prestados, vocês têm a possibilidade de atingir o posto de capitão e passar para reserva com os proventos de major.” Portanto, estava garantida uma carreira que, para época, era de grande valia. A partir daquela data estava em condições de ajudar meu pai e a família, realizar o desejo daquele menino que, no passado diante da doença do pai, ficara angustiado. Só dependeria de mim! Apesar dessa boa perspectiva, a minha intenção era permanecer no Exército somente os cinco anos obrigatórios e depois, pedir baixa. Definitivamente, a minha vocação não era a de ser militar. Nesses cinco anos queria continuar os estudos, fazer um pé de meia e seguir uma carreira civil, talvez engenharia ou contabilidade. Todavia estava escrito que seguiria a carreira militar iniciada até ao fim! 35
  • 36. Instrutores, monitores, CAS e a Turma de Engenharia - EsSA 1965 Desfile de Formatura 36
  • 37. A escolha da 1ª Unidade Militar Naquele ano, vagas só nas unidades militares do nordeste, do sul e Porto Velho – RO, para formação do 5º Batalhão de Engenharia de Construção, a primeira Unidade de Engenharia na Amazônia. A minha opção era o sul. Dentro do critério de escolha por classificação, por ter sido o 18º/41, na minha vez ainda havia vagas abertas em todas as unidades relacionadas. Por ser a mais perto, escolhi Lages–SC. Depois para atender ao pedido do Bruno, troquei Lages por Vacaria-RS, pois para mim fazia pouca diferença. Era o meu destino ir para o Rio Grande do Sul. O Fonseca (Armando Fonseca) e o Bermudez (Nilton Celente Bermudez) eram os meus companheiros designados para a mesma Unidade Militar, o 3º Batalhão Rodoviário, que tinha a missão de construir um trecho da Ferrovia Tronco Sul. Esta troca da primeira unidade militar mudou muito o meu futuro no Exército. Passados cinco anos, o Batalhão de Vacaria seria transferido para Cuiabá-MT e o de Lages para Santarém-PA. Meu colega Bruno, com quem trocara de Batalhão, morreu em acidente de serviço no Pará. Promovido a 3º Sargento, feita a escolha da 1ª Unidade Militar onde iria servir, entrei em férias. Terminadas as férias ficamos encostados na EsSA aguardando recursos financeiros para o deslocamento. Foi um período de muita ansiedade e preocupação. Como seria aquela nova etapa da minha vida militar? A expectativa era de que fosse muito diferente da EsSA, pois se fosse uma continuidade daquela vida, seria insuportável. Engenharia 1965 No centro o Major Novais, eu sou o 1º da direita. 37
  • 38. A viagem com destino ao Rio Grande do Sul No final do mês de fevereiro de 1966, o pessoal de Minas, São Paulo e Rio, que permaneceu na EsSA aguardando recursos, pôde seguir destino à Unidade a qual fora classificado. Éramos três com destino ao Rio Grande do Sul - Vacaria, Bento Gonçalves e Cachoeira. Por não ter experiência na realização de uma viagem tão longa, a escolha do itinerário, da empresa de ônibus, horários e etc. ficaram por conta dos ditos experientes, o paulista (Roberto) e o carioca (Sílvio). A minha missão era tomar conta da bagagem. Para resumir, foi a pior viagem que já fiz, é bom que se diga. Era fim de carnaval, havia falta de passagens, o fluxo de passageiros era muito grande. Os dois só complicaram, pois não conseguiram comprar passagens diretas e foram comprando de trecho em trecho. Uma coisa de que não me esqueço foi a primeira visão da cidade de São Paulo, do alto da Serra, logo depois do túnel. Fiquei admirado com o tamanho da cidade! Do pé da serra até a onde a vista alcançava, tudo era cidade. Grandiosa e assustadora! Confesso que tive também um pouco de receio. Mas logo me tranquilizei, pois estava acompanhado de um paulista e um carioca! De São Paulo à Curitiba o ônibus quebrou, ficamos muito tempo na estrada esperando por outro. De Curitiba à Lages foi o pior trecho porque pegamos o famoso “pega jeca” que parava em qualquer lugar, pegava “todo mundo”, tinha passageiro que embarcava com galinha, pato e etc. Depois de dois dias de viagem, numa noite fria de domingo, chegamos à Lages-SC. Cansados, fomos diretos para um hotel. Separei-me dos companheiros e segui destino sozinho. De Lages para Vacaria peguei um ônibus direto. Foi o melhor trecho da viagem. Só tive a verdadeira dimensão das bobeiras dos meus companheiros quando um ano depois, em férias, fiz a mesma viagem. De Vacaria-RS direto a São Paulo-SP, pela Empresa Pluma. De São Paulo a Campanha - MG também em um único ônibus. 38
  • 39. Capítulo II Rio Grande do Sul 3º Batalhão Rodoviário Na manhã do dia 28 de fevereiro de 1966 cheguei em Vacaria- RS. Hospedei-me num hotel próximo da Estação Rodoviária. Aprontei-me, vesti o uniforme de passeio e, a pé, segui para o Batalhão. Na metade do caminho fui alcançado pelo Jipe da PE e o Comandante da Patrulha, Sargento Amaral, me deu uma carona até o Batalhão. A princípio pensei que o Amaral estivesse me aplicando um trote. O que ele me apresentou como sendo o 3º Batalhão Rodoviário (3º B Rv), não era nada parecido com outros quartéis conhecidos. Era um conjunto de prédios de madeira, pátio sem calçamento, tinha mais paisano (civis) do que militares e muitas viaturas civis, mal estacionadas por todos os cantos. Acreditem! Aquilo era mesmo o Batalhão! Quartel do 3º Batalhão Rodoviário, Vacaria-RS – 1966. (Foto cedida pelo museu do 9º BEC) 39
  • 40. Fiz as apresentações regulamentares. Gazola, o Sargento Brigada, sugeriu que adotasse o nome de guerra CARVALHO. A sugestão foi aceita e eu passei a ser chamado de Sargento Carvalho. Na verdade não gostava do nome de guerra Antonio Carlos, era um nome muito “charmoso”, dava rima com Roberto Carlos. Carvalho impunha mais respeito. Realmente a mudança de nome combinou com a mudança de atitude, saí da defensiva e pouco a pouco passei a determinar a minha personalidade, maneira de pensar, agir e trabalhar. Não foi necessário ficar no hotel, pois fiquei instalado na Casa de Hóspede, em companhia do Bermudez e do Fonseca, companheiros da EsSA. A Casa de Hóspede funcionava junto com o Clube dos Subtenentes e Sargentos. O Clube era bem frequentado e famoso por seus bailes, que contava com grande participação da sociedade Vacariana. A Presidência do Clube era bem disputada. Chegamos em época de eleição para a nova diretoria e pudemos sentir o trabalho dessas lideranças, na busca da adesão dos recém-chegados. Um grupo fechado de “antigões”, muito respeitado, me convidou para uma buchada. Dos recém-chegados fui o único a ser convidado, o que causou até certo “ciúme”. O que fazer? Não podia faltar de maneira alguma, se o fizesse estaria fechando as portas da boa convivência. Porém, havia um problema – eu não gosto de buchada! A minha sorte foi que a buchada era acompanhada de pão e um molho de tomate muito bom e gostoso. Disfarçadamente só comi pão com molho. Da esquerda p/ direita: Mascarello, Corrêa, José Maria, Pascoal, Carvalho e Chagas. Despedida do General Venitius Nazareth Notare. A primeira participação em uma atividade social no Clube dos Subtenentes e Sargentos – Vacaria-RS, Março de 1966. 40
  • 41. Sem dúvida a mudança de qualidade de vida era imensa, muito acima daquela imaginada por aquele menino ingênuo e humilde do bairro do Chororó. Boa comida, muito bem instalado e, o que era melhor, um bom salário - 180 cruzeiros novos. Mandava 100 cruzeiros novos para casa todos os meses, o restante era suficiente para um alto padrão de vida de solteiro. Passados 40 dias em Vacaria, trabalhando na instrução dos recrutas, o Bermudez foi indicado para ser transferido para Passo Fundo. Na EsSA tínhamos feito um trato, caso fosse necessário faríamos uma troca para ele ficar na sede do Batalhão e eu ir para Companhia destacada em seu lugar. O trato foi mantido. Falamos com o Major Iara, da Seção Técnica, e a troca foi feita. Anteriormente, em conversa com um Sargento antigo no Batalhão sobre as frentes de serviços, fiquei sabendo que a missão da construção da Ferrovia Tronco Principal Sul (TPS) estava no fim e que, em Passo Fundo, estava sendo instalada a Primeira Companhia para iniciar a nova missão: construir a rodovia BR-285, Vacaria – São Borja. Na oportunidade manifestei a minha vontade de ir para Passo Fundo e ouvi a seguinte frase: “Ir para lá é muito difícil! O pessoal é escolhido a dedo, há muitos voluntários, você é novato... Vai ser muito difícil conseguir.” Não foi tão difícil assim para conseguir o meu primeiro desejo. Em 15 de abril fui transferido para Passo Fundo. Começava ali minha missão na frente de trabalho do Batalhão. Missão gratificante da qual tenho muito orgulho de ter tido a oportunidade de realizar. Nesta missão tive a chance também de demonstrar a capacidade de chefia de equipe destacada, na realização de qualquer trabalho de construção e conservação rodoviária. BR – 285, Vacaria a São Borja, 569 km (Vacaria, Lagoa Vermelha, Passo Fundo, Carazinho, Saldanha Marinho, Santa Bárbara do Sul, Panambi, Ijui, Santo Ângelo e São Borja) 41
  • 42. Ponte Ferroviária sobre o Rio Santana, construída pelo 3º B Rv. Cinqüenta anos depois de construída a mesma ponte da foto anterior está em pleno uso. O Exército não tem obras inacabadas ou inúteis! (Foto cedida pelo Cap Ubyrajar) 42
  • 43. A primeira equipe - Lagoa Vermelha-RS Na manhã do dia seguinte da transferência, segui viagem em companhia do Major Iara e o motorista era o Soldado Vezário. Almoçamos em Lagoa Vermelha e à noite chegamos a Passo Fundo. Fiquei hospedado na Casa de Hóspede. O efetivo da Residência era pequeno, apenas dois oficiais: Capitão Fagundes e Tenente Corrêa; os Sargentos: Adão Rodrigues de Oliveira, Onofre Tondo, Ernestro Fabro e Edmar Neys, poucos cabos, soldados e civis. De manhã me apresentei ao Capitão Fagundes, comandante da Residência, que me recebeu de uma maneira muito fria, não desejou nem as boas vindas! Apenas falou: - Não desmanche as malas. Você vai voltar para Lagoa Vermelha. O Tenente Corrêa vai-te levar e, durante a viagem, ele explicará a sua missão. Você vai assumir a Equipe de Revestimento Primário, Conserva e Manutenção de Trânsito. O Tenente Corrêa, muito mais amistoso, antes de falar da missão deu algumas dicas sobre os costumes da região, principalmente, do linguajar, pois algumas palavras, para o gaúcho, tinham um significado diferente. A Equipe estava fazendo o encascalhamento, no trecho de Lagoa Vermelha até a entrada para Erechim e também era responsável pela manutenção do trânsito até Passo Fundo, 100 km de estrada de terra com muitos problemas. Das informações recebidas do Tenente Corrêa, o que mais causou preocupação foi saber que a Equipe tinha respondido a um IPM (Inquérito Policial Militar). O chefe estava aguardando a minha chegada para cumprir uma punição de 30 dias de prisão. Sem dúvida era uma equipe problemática e ao mesmo tempo era a “menina dos olhos” do Batalhão, primeira e única equipe trabalhando na nova missão. A Equipe era pequena, o efetivo era em torno de vinte homens, cinco caminhões basculantes (marca FNM), uma motoniveladora, duas pás carregadeiras de rodas, um trator de esteira e dois rolos compactadores. Depois recebi um jipe, uma motoniveladora, uma pá carregadeira de esteira, um trator de esteira e um rolo. Fiquei hospedado no Hotel Avenida, por conta do Batalhão. No início o pessoal fazia as refeições no hotel e dormia no acampamento. Com a montagem da cozinha todos passaram a fazer suas refeições no acampamento, inclusive eu. Passei só a dormir no hotel. Sem experiência alguma sobre o trabalho rodoviário, recebi a chefia de uma equipe destacada, isto é, isolada do Comando da 43
  • 44. Residência e com uma série de problemas. Decidi, inicialmente, ficar simplesmente na posição de observador. Deixei tudo correr sem a minha interferência. Praticamente o “chefe” era o Encarregado de Campo, “Seo Antenor”, um funcionário público “antigão”, cheio de direitos, dono da verdade e autoritário. Todo o pessoal da equipe já devia estar comentando: “Esse Sargento não quer nada com nada, a “coisa” está por nossa conta.” Muito pelo contrário, eu estava atento a tudo e a todos, observando o perfil - profissional e pessoal - de cada um. Estudando quais medidas administrativas deveriam ser tomadas. No trigésimo dia, na hora da pegada, reuni toda a Equipe e com toda autoridade e firmeza falei: - A partir de hoje, eu sou o Chefe. Em seguida ditei as novas regras, muito diferente do que era praticado. Era o fruto de trinta dias de observação. O “Seo Antenor” perdeu toda a autonomia. Ficou encarregado pelos trabalhos na cabeceira da pista e lá deveria permanecer o dia todo, não mais ficaria passeando para baixo e para cima nos caminhões basculantes. Dentre as novas regras, determinei: - Os basculantes seriam abastecidos ao final do expediente, no retorno para o acampamento e não a critério do motorista a qualquer hora do expediente. O combustível do Batalhão ficava depositado em um posto particular, do Sr. Lima; - Criei um calendário para manutenção dos equipamentos e viaturas; - Ficou estabelecido o itinerário para as viaturas irem ao posto de combustível e à oficina mecânica. Acabava com o desfile pelas ruas centrais da cidade; - Eu ficara responsável pela extração do cascalho, carregamento e transporte. Resumindo, a equipe passava, de fato, para minhas mãos. O espanto foi geral. Surpreendidos pela mudança radical, o impacto foi tão grande que não houve qualquer questionamento. A equipe se ajustou às novas regras, sem traumas, de maneira até bem mais fácil do que imaginado. O mais importante foi que a produção dobrou. Paralelamente as medidas administrativas, comecei a desenvolver um trabalho social. A equipe era um grupo de boas pessoas. Para melhorar o entrosamento, formamos um time de futebol de salão. Pelo menos uma vez por semana, à noite, alugávamos uma quadra para treinamento. Sempre que possível dava apoio, principalmente, aos casados e ajudava a resolver os 44
  • 45. problemas familiares. Rapidamente conquistei a confiança e a estima de todos. A falta de experiência era compensada pela facilidade no trato com as pessoas e da assimilação rápida da problemática dos trabalhos da construção rodoviária. Em pouco tempo tinha domínio total de todos os setores da equipe e decidi dispensar os trabalhos do Chefe de Campo. “Seo” Antenor, apesar de ser funcionário público, durante muito tempo fora “gato” (agenciador de mão-de- obra) e ainda mantinha algumas características daquela atividade. Portanto, seu estilo não combinava com o meu. Essa minha decisão foi de grande agrado a todos da Equipe. Pelo conjunto das minhas ações, deixei de ser chefe e passei a ser líder! Tinha observado que a Equipe não tinha motivação para fazer um serviço de qualidade e nem se preocupava com a produtividade. A qualidade estava relacionada diretamente aos operadores de motoniveladoras, mais conhecidas como “patrol” ou “magrela”. A produção da equipe dependia dos motoristas das basculantes. Para melhorar a qualidade da pista passamos a fazer a super elevação nas curvas e, para escoamento da água de chuva, passamos a fazer o abaulamento nas retas. O cascalho, que era sempre depositado no centro da pista, tanto nas retas como nas curvas; para facilitar o trabalho da “patrol”, nas curvas, passou a ser descarregado na borda externa. Pouco a pouco fui mudando o padrão de trabalho e ao mesmo tempo criando o “espírito de corpo”, transformando aquela “turma”, de fato, em uma equipe. Com o início do período de chuvas a equipe passou a prestar socorro aos caminhoneiros que ficavam bloqueados nos atoleiros. Aquela estrada, por ser um corredor de escoamento da produção da região, tinha o trânsito pesado e intenso. Muitas vezes, quando chegávamos ao local da interrupção, havia centenas de caminhões parados. Era o “caos”! Era necessária muita cautela e disciplina para não criar um grande tumulto. A equipe era bem experiente e impunha respeito. Minhas ordens eram fielmente cumpridas, inclusive pelos motoristas usuários da rodovia que seguiam a prioridade de passagem por mim imposta. Certa vez um motorista exaltado avançou fora da vez, ficou atravessado na estrada piorando a situação. Deve ter pensado que com aquela atitude seria o primeiro a ser puxado para o outro lado do atoleiro, o famoso “jeitinho brasileiro”. Como estava enganado! Dei ordem aos operadores das máquinas que fizessem com que o caminhão ficasse na valeta encostado ao talude do corte, desobstruindo a pista. Assim foi feito e de maneira tão sutil que pareceu uma causalidade. Quando atravessamos o último caminhão avisei o motorista afoito: 45
  • 46. - Seu caminhão está difícil de ser rebocado, vai demorar. Estamos com fome, vamos para o restaurante para comer e depois voltamos. Realmente estávamos com fome, era tarde e ainda não tínhamos almoçado. Mas... Não tinha a intenção de voltar tão rápido. O dito caminhoneiro seria punido exemplarmente! Aguardei no restaurante até que o caminhoneiro viesse pedir clemência para que a operação fosse executada. Em pouco tempo na realização de operações deste tipo aprendi que, além de mandar, era necessário demonstrar quem realmente mandava! Porém, sem truculência e nunca dar ordens acima da força que possuía! Em certas ocasiões, quando ocorria a intenção de manifestação de protesto, os próprios motoristas usuários da rodovia, se encarregavam de abafar o ato. Meu pessoal não era “santo”, tinha que ficar de “de olho”, principalmente, para evitar que pegassem dinheiro. Quando algum caminhoneiro oferecia pagamento, eu dizia: - Este trabalho é de graça. Muitos motoristas, de livre iniciativa, para fazer um agrado ao pessoal, deixavam pagos no restaurante, refrigerantes ou outras melhorias. O IPM que a equipe respondeu foi, justamente, por receber dinheiro. A “coisa” não era nada fácil... Todo cuidado era pouco! O socorro aos caminhões atolados, anteriormente, era um trabalho paliativo. Os caminhões eram arrastados para fora dos atoleiros e depois era feita uma raspagem com a “patrol” para a retirada superficial do barro. Nada mais era feito, só restava, portanto, esperar uma chuva mais forte para ter outra interrupção da estrada. Com o recebimento de uma carregadeira de esteira, Caterpillar modelo 933, que tanto podia ser usada como carregadeira ou como trator com lâmina e ainda era dotada de um poderoso guincho, passei a dispor de uma máquina ideal para o serviço necessário para acabar com os atoleiros. Por ser pequena, a CAT 933 podia ser facilmente transportada na caçamba do FNM. Independentemente de ordem expressa, tomei a iniciativa de sempre levar a CAT 933 para socorrer os caminhões atolados. Enquanto era realizada a operação de desatolar os caminhões com o uso das “patrolas”, a CAT 933 estava na pedreira ou cascalheira mais próxima escavando material. Terminado o “desatolamento”, a CAT 933 era trazida para o atoleiro e retirava todo o material ruim (barro) da pista. Depois era levada de volta para a pedreira para carregar os basculantes com o material, anteriormente extraído para preencher a cratera de onde fora tirado o barro do atoleiro, recompondo a estrada. Com esse tipo de operação, pouco a pouco os atoleiros foram sendo eliminados. 46
  • 47. Essa pequena máquina (CAT 933), pela sua versatilidade, tornou-se a mascote da equipe e, para mim, a “menina dos olhos” que estava presente em todas as missões. Só mesmo quem trabalhou com equipe de manutenção de trânsito sabe avaliar como uma máquina dessa magnitude é importante e passa a ser tratada como “um ser vivo”! Outra coisa importante, na CAT 933, foi que veio acompanhada de uma preciosa “peça”- seu operador, o Ângelo, apelidado de “Pica-Pau”. Terminada a missão, na cidade de Lagoa Vermelha, a equipe foi transferida para a cidade de Santa Bárbara do Sul. Outra maravilha do Sul, o trigo! Sgt Carvalho, Arelino, Godinho, Ernesto, Celso e ... 47
  • 48. A vida social em Lagoa Vermelha A minha vida social teve uma mudança radical, um fim de semana ficava em Lagoa Vermelha e outro em Passo Fundo. Era como se morasse em duas cidades. Lagoa Vermelha era uma cidade pequena, porém muito mais movimentada do que a “velha” Campanha. Município rico, ponto de passagem obrigatória para o médio norte do Estado, região das Missões, e também com parte da fronteira com Argentina. O fluxo de caminhões pela rodovia, que passava por dentro da cidade, era grande. Vários soldados que conhecera em Vacaria, durante o período que ficara na Instrução, eram de Lagoa Vermelha e, com isso, sempre tinha alguém me convidando para almoçar ou jantar na casa de seus pais. A maioria tinha irmã bonita e solteira... Muitas davam aquela “bola”. Às vezes, até achava que eram elas que faziam com que eu fosse convidado. Porém, a timidez e aquele complexo de inferioridade de menino pobre impediam que eu tirasse proveito da situação. Na verdade, naquela cidade, não arrumei nenhuma namorada. A maior aproximação que tive foi com uma bonita jovem, filha de um italiano, dono de um bar, por sinal muito severo. Apesar da simpatia mútua, o namoro não chegou a acontecer. Foi em Lagoa Vermelha que realmente fui conhecer a vida noturna, um mundo novo. O meu guia foi o Godinho, um soldado engajado, natural daquela cidade, gente boa, educado, bom companheiro. Godinho também era companhia para jogar bingo no Clube Lagoense. Por influência do Vezário, morador daquela cidade, o Major Iara, muitas vezes passava o fim de semana em Lagoa Vermelha e sempre me convidava para fazer parte do grupo. O Major era solteiro e gostava de uma noitada. Pessoa discreta, não gostava de bagunça ou baixaria. Motivo pelo qual, selecionava as pessoas que o acompanhava. Em razão da minha recente formação da EsSA, ficava encabulado e pouco à vontade com a companhia de um oficial superior. Nunca tinha imaginado tal situação. Às vezes me escondia para não ser convidado. Através da convivência com esse pessoal conheci o Mario Vanzim e tornamo-nos grandes amigos. Durante a semana em sua companhia, frequentava vários ambientes, principalmente, o boliche. Realmente um bom amigo que também era amigo da minha amiga. 48
  • 49. As primeiras experiências com convívio com pessoas tão diferentes Lagoa Vermelha foi um verdadeiro laboratório para começar a aprender sobre os diversos “tipos” de pessoas com as quais passaria a trabalhar e também a conviver. Aqueles trinta dias que só fiquei observando foram importantes. Pude fazer uma avaliação de cada membro da equipe, seguindo uma lição da minha mãe que dizia: “Temos que aproveitar o que toda pessoa tem de bom!” Realmente, toda pessoa tem algo de bom e foi isso que procurei em cada uma daquelas pessoas, pois seriam meus parceiros no cumprimento da missão. No geral, o grupo era bom. Era questão de saber conduzi-los, não poderia ser truculento e nem marionete. Tinha que encontrar o momento certo de ser severo e a hora de ser flexível, sem nunca deixar dúvida da minha autoridade de decidir e comandar, sem nunca deixar de praticar a justiça e não me esquecer do social, da qualidade de vida e do bem estar no ambiente de trabalho. Seguindo esta metodologia a liderança viria naturalmente. Naqueles primeiros trinta dias teve uma pessoa, um soldado, com o qual não consegui uma aproximação. O Soldado era uma pessoa arredia, não se “enturmava” e era esquisito. Fazia questão de estar sempre diferente, por exemplo: dia frio e todos estavam de japona ou outro agasalho, ele estava de camiseta; dia quente e todos estavam de camiseta, ele de japona. Era bom operador de máquina, mas... Não era nada cooperativo. Tinha outra pessoa difícil de qualificar, era de trato fácil, educado, agradável, porém tinha um “senão”... Era “porco”, não tomava banho e por isso dormia na cabine do FNM. No alojamento o pessoal não suportava o seu “fedor”. O “Sujismundo” era casado e o pessoal falava: “Como uma mulher pode aguentar um homem fedorento como esse?” Passado algum tempo, ele trouxe sua família para Lagoa Vermelha. Quando o pessoal conheceu a senhora, disse: “Como um homem pode aguentar uma mulher “porca” como essa?” Ela conseguia ser mais “porca” que o marido! Algumas vezes ele vinha conversar comigo e se queixava que as crianças dele sempre estavam doentes! Pensei comigo: “Pobres crianças... Como ter saúde com tanta sujeira!” 49
  • 50. Não tinha como falar a realidade. Com muito cuidado falava que alguma coisa estava errada, deveria levar as crianças ao médico ou ao posto médico. Mas a experiência maior ainda estava para acontecer! Certo dia alguém veio me avisar: - O motorista do caminhão da Sede quer entregar um material para o Senhor. Quando vi o motorista, tive uma má impressão do cidadão. Sujeito muito sério, cara de bravo e de pouca conversa. Pensei comigo: “Ainda bem que esse motorista não é da minha equipe!” Passados poucos dias, para meu espanto, o dito motorista veio transferido para minha equipe. Eu o recebi de maneira educada e sem deixar transparecer a minha preocupação. Como estava enganado! A máxima popular é verdade: “Quem vê cara não vê coração”. O “Seo” Ângelo foi, sem dúvida, uma das pessoas mais especiais com quem tive a oportunidade de trabalhar e conviver. Além de tudo, excelente motorista de FNM. Ele sempre dizia: “Eu dirigi o primeiro FNM que chegou ao Brasil! Eu o descarreguei do navio no porto do Rio de Janeiro.” Era de pouca conversa... Muito reservado, porém uma fineza de pessoa. Que pessoa sensata! Era pessoa que pensava para falar. Ele, vendo que eu não tinha grande conhecimento sobre a manutenção e cuidados com o FNM, com muito jeito, de maneira reservada, passava todas as “dicas” que só um profissional conhecia. Sem dúvida, essa ajuda foi importante para o meu sucesso no comando da equipe. No desempenho da missão de manutenção do trânsito, eu andava para baixo e para cima no trecho sobre minha responsabilidade. Meu jipe (prefixo W-7) era o mais velho do Batalhão e passava a maior parte do tempo indisponível, então eu fazia a maioria dos deslocamentos de FNM e o motorista escolhido passou a ser o “Seo” Ângelo, que além de ser ótimo motorista, impunha respeito. Muitas vezes fazia as refeições nos restaurantes à beira da estrada. Quando eu chegava, com aquela cara de menino e fardado de sargento do Exército, notava que o pessoal fazia alguns comentários e ficava olhando com certa desconfiança e desdém. Mas quando se sentava à mesa, em companhia do “Seo” Ângelo, cessavam cochicho e olhares. Minha pouca idade (cara de menino) causava estranheza, pois o gaúcho sempre foi muito ligado à carreira militar. Alguns não aguentavam e, com muito jeito, vinham até mim para saber como era possível ser sargento com tão pouca idade. 50
  • 51. Com o passar do tempo, tomei conhecimento de algumas dificuldades vividas pelo “Seo” Ângelo e a superação delas, fizeram com que o admirasse ainda mais. A Equipe já estava sob meu comando, quando veio transferido o Bortoloto, o “Soldadão”, apelido dado em razão de seu tamanho. Era operador do trator de esteira, marca Einco, transferido para minha Equipe. O Comandante da Companhia de Equipamento só gostava da marca Caterpillar, equipamento de outras marcas ele distribuía para as equipes menores! O Soldadão, de origem italiana, era um soldado estilo “Catarina” que servia na PE em Brasília. Era uma pessoa descontraída, com um linguajar muito peculiar, às vezes beirava a ingenuidade, de fácil trato, era amigo de todos. Na montagem de barreiras para interrupção da BR era peça fundamental, nessas ocasiões vinha à tona o estilo “Catarina”, de obediência extremada! Certo dia apareceu transferido para a equipe o soldado recruta Paulo Celso, operando uma patrol. Fiquei surpreso! Havia conhecido o Paulo Celso em Vacaria, no período em que ficara na instrução e ele era o oposto do “Soldadão”. Como era possível um soldado recruta ser operador de patrol, um das máquinas mais difíceis de operar? A explicação era simples: Paulo Celso era filho do “Seo” Pedro, o operador de patrol mais antigo e experiente do Batalhão, que praticamente criara o filho em cima da máquina, ao seu lado. Com a chegada do Paulo Celso foi possível colocar em prática a ideia de fazer um trabalho de boa quantidade e apresentação. O Paulo Celso, na verdade, sabia pilotar muito bem a patrol, porém pouco sabia da técnica de acabamento de revestimento primário. Ali estava a oportunidade de formar um novo modelo de operador. Os antigos tinham dificuldades de adaptação à nova técnica e tinham a natural resistência à mudança. No decorrer dos anos seguintes teria a oportunidade de conhecer muitas outras pessoas especiais e diferentes. Desde o começo entendi que, para bem comandar, tinha que bem conhecer os subordinados. 51
  • 52. As atividades “extracampo”! O Chefe de uma Equipe isolada (destacada) para o cumprimento da missão tem seu expediente de 24 horas por dia! Resolve tudo que envolva seu pessoal e material, dentro e fora do horário de expediente! E ainda têm as atividades “extracampo”! Em Lagoa Vermelha uma dessas atividades era com relação ao Delegado Regional da Polícia Civil. Com frequência recebia através de seu mensageiro, um Guarda Civil, convite para comparecer à Delegacia. Sempre para tratar de assuntos banais tais como: moradores que estavam reclamando do barulho dos FNM ou da poeira e etc. Sempre respeitei o horário de silêncio. Tinha estabelecido um itinerário para o deslocamento dos caminhões basculantes dentro da cidade. Diante de tais fatos eu perguntava para o Delegado: - Qual era o delito cometido? Não tendo resposta! Eu complementava: - Esse é ônus que se paga pelo o progresso! Nos fim de semana, por qualquer motivo, alguém da minha equipe era preso. Bastava o cidadão estar no balcão de um bar para ser preso. Lá ia eu, tirar o cidadão da cadeia. Quando eu não era encontrado, o preso passava a noite ou noites na cadeia! Certa tarde, no encerramento do expediente, recebi a informação de que um basculante, no deslocamento para o acampamento, tinha se envolvido em um acidente. Quando cheguei ao local do acidente verifiquei que estava em andamento uma “armação”! O motorista do carro particular, por “barbeiragem” ou por estar embriagado, tinha capotado. O caminhão do Batalhão não teve nenhum envolvimento, apenas estava passado naquele momento por aquele cruzamento. Ao examinar o levantamento feito pelo perito da Polícia Técnica, constatei que foram cometidos alguns “equívocos” que incriminavam o motorista do Batalhão. Com jeito, para não ferir suscetibilidades, consegui que outro levantamento fosse feito com meu acompanhamento. Ainda fiz um pedido formal de exame de sangue da dosagem do teor de álcool na corrente sanguínea do condutor do carro particular. De madrugada, quando saiu o resultado do exame de sangue, fui procurado pelo advogado da outra parte, propondo que eu retirasse a ação. Respondi: - Não entrei com ação alguma. Estou apenas resguardando os interesses do Batalhão e, portanto, não há nada a ser retirado. Morreu ali o caso! 52
  • 53. Mas com essa ocorrência, decidi que medidas enérgicas deveriam ser tomadas em relação ao Delegado Regional. Na mesma semana recebi outro convite para comparecer à Delegacia. Pelo mesmo portador mandei o seguinte recado: “Qualquer intimação ou “convite” deverá ser feito por escrito, dirigido ao meu Comandante, em Vacaria, conforme previsto em lei.” Informei aos meus superiores os fatos ocorridos. Coincidência ou não, na semana seguinte o referido Delegado foi transferido. Nunca mais fui incomodado por outro delegado! 53