O documento descreve a trajetória do entrevistado que o levou a viver e estudar na União Soviética na década de 1960, onde desenvolveu interesse pela língua e literatura russas. Ele foi enviado para um curso de formação política em Moscou em 1963 e permaneceu no país após o golpe militar de 1964 no Brasil. Estudou tradução e trabalhou em uma rádio, o que aprofundou seu conhecimento da língua e cultura russas.
O artigo versa sobre alguns aspectos da obra de Dorival Caymmi em relação de aproximação com a poesia brasileira.Foi produzido para o curso de graduação em Letras,Literatura brasileira,sobre poesia na UFRJ.Posteriormente,foi apresentado como comunicação em Colóquio sobre poesia e contemporaneidade,2010.
O artigo versa sobre alguns aspectos da obra de Dorival Caymmi em relação de aproximação com a poesia brasileira.Foi produzido para o curso de graduação em Letras,Literatura brasileira,sobre poesia na UFRJ.Posteriormente,foi apresentado como comunicação em Colóquio sobre poesia e contemporaneidade,2010.
Oniris a dádiva dos deuses de Rita VilelaRita Vilela
Oníris mudou, voltou a ser um só, caíram as barreiras. Mas as sete raças humanas ainda não estão preparadas para viver juntas. Lutas, conflitos e disputas de poder marcam a nova realidade. Diz a profecia que dois irmãos irão governar Oníris. De noite e de dia, na sombra e na luz, eles conseguem equilíbrio onde domina o caos, e o seu reinado trará de novo a paz. Bigo, Seara, Norma, Kanel e os gémeos Lyra e Aryl, na companhia de Erik e da jovem Suci, têm agora de enfrentar novos desafios. Está nas suas mãos garantir a segurança dos futuros governantes, para que a profecia seja cumprida e a paz regresse.
Monografia: A constituição do espaço em "Vastas emoções e pensamentos imperfe...Pedro Lima
Este arquivo contém a minha monografia, intitulada "A constituição do espaço em 'Vastas emoções e pensamentos imperfeitos', de Rubem Fonseca." Tal trabalho foi apresentado ao final da minha graduação em Letras (Licenciatura em Português e Espanhol) na Universidade Federal do Paraná (UFPR).
1. Gostaria que nos contasse, de forma breve, como surgiu
seu interesse pela língua e literatura russas, e quais
as circunstâncias pessoais, históricas e políticas que o
levaram a viver e estudar na então União Soviética.
Em 1963, eu morava em São Paulo e mili-
tava no PCB [Partido Comunista Brasileiro].
O Partido me propôs um curso de formação
política de seis meses na escola de formação
de quadros do PCUS [Partido Comunista da
União Soviética] em Moscou. Era a realiza-
ção de um sonho. Eu cursava desenho mecâ-
nico na Escola Semog e, no dia 16 de agosto
desse ano, houve a festa de colação de grau.
Recebi o diploma e, no dia 19, viajei para
Moscou. Uma vez em Moscou e em contato
com a língua russa, percebi que tinha faci-
lidade para entendê-la e daí veio a intenção
de estudá-la pra valer.
Meses depois, fomos surpreendidos pelo
golpe civil-militar de 1964 e, como ficamos
sem condições de retornar ao Brasil, o curso
que deveria durar seis meses foi estendido
para dois anos. Terminado esse período, in-
gressei no curso de tradução da Universida-
de Lomonóssov em 1965.
Em 1966, comecei a trabalhar na Rádio
Paz e Progresso, um segmento da Rádio
Moscou dedicado quase exclusivamente a
questões políticas. Aí fui tradutor, locutor,
autor, entrevistei Gregório Bezerra, Marco
Antônio Coelho e Luís Carlos Prestes. A
tradução de artigos jornalísticos, combina-
da com o estudo da língua e da literatura
russas, foi uma experiência essencial para
minha formação de tradutor. Outra ques-
tão fundamental foi o convívio exclusivo
com a língua russa falada no dia a dia. Tão
logo comecei a trabalhar na rádio, passei a
alugar quartos em casas de famílias russas,
mesmo tendo meu quarto no alojamento
da universidade. O convívio com os rus-
sos e com a língua em seu estado natural
foi determinante para a aquisição da ple-
na fluência na língua e a assimilação da
linguagem coloquial, quesitos de primeira
essência sem os quais nenhum tradutor
consegue dar conta da tradução das falas
das personagens literárias e da oralidade
da narrativa. Além disso, esse convívio foi
fundamental para conhecer melhor a reali-
dade soviética, escamoteada tanto nas des-
crições do Partidão quanto na propaganda
soviética. Por meio dos meus senhorios,
conheci outras famílias russas, e todas,
sem exceção, tinham parentes próximos
ou distantes que haviam sido vítimas do
stalinismo.
E como foi sua trajetória até chegar a traduzir
historiadores e filósofos russos? Qual foi sua primeira
obra traduzida diretamente do russo?
Na Lomonóssov, estudei língua russa, teoria
e prática da tradução técnico-científica e li-
terária, além de literatura russa e disciplinas
correlatas. Também assisti a aulas e pales-
tras, na Lomonóssov e no Instituto Gorki,
de importantes pensadores russos, como o
crítico e historiador da literatura russa Dmi-
tri Likhatchóv, a filósofa Polina Gaidenko,
o grande crítico e especialista em Tolstói e
Dostoiévski Borís Búrtsov (autor do extraor-
dinário livro A personalidade de Dostoiévski)
e de vários outros intelectuais importantes.
Em função disso, minha primeira tradução
do russo para o português foi um livro de
filosofia: Fundamentos lógicos da ciência, do
filósofo ucraniano Pável V. Kopnin, publica-
do no Brasil pela editora Civilização Brasi-
leira, em 1972.
Quando começou a traduzir Dostoiévski?
Em que circunstâncias?
Bem, comecei a traduzir Dostoiévski quan-
do já havia traduzido cerca de 40 obras para
o português, mais de 10 das quais obras de
ficção. O primeiro livro de Dostoiévski que
traduzi, Crime e castigo, foi também o pri-
meiro que li.
Quais os problemas, a seu ver, das traduções indiretas?
O tradutor de texto original é um mediador
entre o autor e o leitor de sua tradução, e
esta é uma interação entre duas línguas,
Entrevista Paulo Bezerra
Repetições de palavras, falas ásperas e até deselegantes podem parecer gafes de
interpretação aos leitores mais desavisados. Grave engano. Sobretudo quando se
trata das obras do escritor russo Fiódor Dostoiévski. Para o tradutor e crítico literário
brasileiro Paulo Bezerra, suprimir palavras ou amaneirar o texto é sinal profundo de
desrespeito com o autor. “Estilizá-lo e torná-lo palatável às chamadas regras do bem
escrever significa trair uma peculiaridade essencial de seu estilo”, assegura.
Aos 76 anos e com mais de 50 obras traduzidas diretamente do russo para o
português, Bezerra acaba de concluir O adolescente, o último dos cinco grandes
romances da maturidade de Dostoiévski, publicado pela editora 34. Aposentado da
universidade, dedica-se agora integralmente à tradução. No momento, encara a Teoria
do romance, de Miklhail Bakhtin, que sairá em três volumes – o primeiro já
está impresso –, e uma nova tradução da Estética da criação verbal.
Ler Dostoiévski conduzido por esse exímio mediador é mergulhar no universo
narrativo do autor sem rodeios, sabendo que se respeitam com franca honestidade o
estilo literário e as peculiaridades das personagens.
Nesta entrevista ao SobreCultura, Bezerra conta um pouco da sua trajetória,
destaca a tradução como trabalho poético e fala da ética que deve nortear o tradutor
e dos reveses da profissão.
Entrevista concedida a Alicia Ivanissevich |sobreCultura | RJ |
fotoMARCIONUNES/Divulgação
O tradutor de texto
original é um mediador
entre o autor e o leitor
de sua tradução, e esta é
uma interação entre duas
línguas, dois sistemas
de códigos linguísticos,
duas culturas e – acho
que não exagero –, duas
subjetividades criadoras
2. dois sistemas de códigos linguísticos, duas
culturas e – acho que não exagero –, duas
subjetividades criadoras. Na tradução indi-
reta, a mediação se dá entre dois traduto-
res, o autor é deslocado para a condição de
fonte e o leitor só chega a ele pela media-
ção de um terceiro. Parafraseando Platão, o
tradutor de texto indireto é um imitador de
terceiro grau. Ao contrário da relação dual
entre original e tradução no processo dire-
to, na tradução indireta temos a interação
entre três línguas, três sistemas de códigos
linguísticos, três culturas. Só esse fato já dá
a ideia da diferença que pode haver entre o
original e sua tradução indireta e das perdas
que inevitavelmente acarreta a versão desse
original em uma terceira língua.
Estou falando de ficção, e é desta que
tomo exemplos. Dostoiévski é o maior ar-
tífice das crises do homem. Quando suas
personagens entram em crise, esta se mani-
festa imediatamente na linguagem.
Personagens como o epiléptico príncipe
Míchkin de O idiota falam não só conforme
seu nível de escolaridade, sua cultura, mas
igualmente segundo seu estado de saúde
mental, e é este que determina a qualidade
de sua fala, a qual pode embaralhar-se, ter
o ritmo alterado, a sintaxe sinuosa, descon-
tínua, desestruturada. O mesmo ocorre com
a mulher do capitão Sneguirióv de Os ir-
mãos Karamázov, uma doente mental cuja
linguagem embaralhada, descontínua e
desestruturada traduz o tumulto e a deses
truturação de sua mente. Encontramos o
exemplo mais radical dessa linguagem de-
sestruturada no senhor Golyádkin, doente
mental e personagem central de O duplo,
cujos ritmo e sinuosidade do discurso tra-
duzem o modo de funcionamento de seu
sistema nervoso desestruturado. Em uma
perfeita homologia entre o ser e o modo de
representá-lo, Dostoiévski nivela persona-
gens e linguagem, revestindo suas obras
de uma contundente e nada convencional
verossimilhança só possível em realistas
peculiares como ele. Pois bem, nas tradu-
ções tanto do francês quanto do inglês de-
saparecem as peculiaridades das falas das
personagens dostoievskianas, ou seja, es-
fumaçam-se as próprias personagens como
unidades caracterológicas, e temos um dis-
curso linear, claro e elegante, bem ao gosto
daquilo que o grande teórico da tradução
Henri Meschonnic chama de “mito fran-
cês da clareza”, coisa totalmente oposta a
Dostoiévski. Demais, em sua obra são fre-
quentes repetições da mesma palavra pelo
narrador e até mesmo por personagens, e
eu, por uma questão de respeito ético pela
palavra do outro, que considero inviolável,
mantenho todas as repetições porque fazem
parte de seu estilo.
Muito já se disse sobre o jeito rude e direto da escrita de
Dostoiévski. Em vez de embelezar autores clássicos,
como fizeram outros, o senhor buscou respeitar esse
estilo duro e, por vezes, dissonante, ao traduzi-lo
diretamente para o português. Gostaria que nos falasse
sobre essa escolha estilística.
Alguém já disse, acho que um teórico da li-
teratura, que o estilo é o homem. Como es-
pecialista em teoria da literatura e sobretudo
como tradutor, eu afirmo: o estilo, o ritmo
das falas e a forma de sua articulação são
o modus vivendi das personagens, sua iden-
tidade caracterológica, seu jeito de estar no
mundo, até a prova de sua sanidade ou insa-
nidade mental.
Dostoiévski apresenta suas personagens
em uma espécie de díade individual-social,
falando conforme sua pertença a um meio
social definido, segundo seu nível de esco-
laridade, sua individualidade. Ele não doura
a pílula de ninguém; uns são brandos, outros
duros, outros refinados, outros rudes, dota-
dos de uma linguagem tosca, como de alguém
que brotou da terra. Dostoiévski não estiliza,
por isso suas personagens falam como são em
vida: a dureza ou suavidade de suas falas diz
muito de suas reais personalidades.
Sua paixão por Dostoiévski o levou a conhecer
São Petersburgo com Crime e castigo em mãos.
Como foi essa experiência? Como lhe pareceu a cidade
que conhecia até então apenas pela literatura?
De fato, minha penúltima visita a Leningra-
do (hoje São Petersburgo, onde estive pela
última vez em 2013) se deu sob o efeito
da leitura de Crime e castigo, O duplo e O
adolescente, todos ambientados nessa cida-
de. Percorri as principais ruas que serviram
como espaço da ação: Praça Siennáya e ad-
jacências, espaço de parte da ação de Crime
e castigo, Rua Gorókhovaya, citada nas três
obras, assim como o Konogvardêiskii Bul-
var, por onde passaram todos esses heróis
dostoievskianos. Foi uma emoção indescri
tível: era como se eu estivesse acompanhan-
do as personagens ou sendo acompanhado
por elas.
Que tipo de ética deve reger a obra do tradutor? E o que
não pode faltar em uma boa tradução?
O primeiro compromisso do tradutor é o
comprometimento ético com a palavra do
outro, que é inviolável em quaisquer que
sejam as circunstâncias. Por essa razão,
procuro traduzir o discurso do autor tal
qual ele é. O tradutor que suprime palavras
de uma obra ou amaneira o estilo do autor
comete a presunção de se achar superior
a ele a ponto de poder “corrigi-lo”. Dosto
iévski é rude, áspero, deselegante quando
a forma o requer; logo, estilizá-lo e torná-lo
palatável às chamadas regras do bem escre-
ver significa trair uma peculiaridade essen-
cial de seu estilo.
Como o senhor vê hoje a profissão de tradutor? É mais
valorizada do que quando começou, ou não? O que pode
ser feito nesse sentido?
Durante muitos anos a tradução no Brasil
foi considerada ‘bico’. Mas as coisas vêm
mudando, sobretudo, depois da lei de 1999,
promulgada pelo então presidente Fernan-
do Henrique Cardoso, que dá ao tradutor
de obras de domínio público os mesmos di-
reitos autorais que antes pertenciam ao au-
tor. Isso vem estimulando o surgimento de
novos tradutores bem qualificados e o sur-
gimento de traduções de grande qualidade,
especialmente de clássicos.
Se temos editores que respeitam e valori-
zam os tradutores, também temos uma gran-
de legião de picaretas do livro, que apenas
exploram tradutores e não se preocupam
com a qualidade da tradução. Mas já temos
cursos de tradução em níveis de graduação
e pós-graduação em diversas universidades,
o que contribui para valorizar a tradução
como atividade criadora. Apesar disso, ain-
da há muito por fazer.
O senhor conseguiu conciliar suas atividades de docente
em três universidades (Uerj, USP e UFF) com as de
tradutor por muitos anos. Agora, que está aposentado
das aulas e pode se dedicar mais intensamente à
tradução, acaba de concluir O adolescente, o último dos
cinco grandes romances da maturidade de Dostoiévski
publicado pela editora 34. Com mais de 40 obras
traduzidas em seu currículo, há algo que ainda gostaria
de fazer?
Na realidade, são mais de 50 obras tradu-
zidas. Neste momento, estou traduzindo a
Teoria do romance, de Miklhail Bakhtin,
que sairá em três livros (já saiu Teoria do
romance I. A estilística), e retraduzindo a
Estética da criação verbal, que sairá em
quatro livros, todos pela Editora 34, de São
Paulo. Talvez ainda traduza Recordações da
casa dos mortos, de Dostoiévski, natural-
mente com outro título.
A tradução como trabalho poético
O primeiro compromisso
do tradutor é o
comprometimento ético
com a palavra do outro,
que é inviolável em
quaisquer que sejam as
circunstâncias