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O Sistema Preventivo Salesiano - A Assistência Salesiana

                                          A EDUCAÇÃO É OBRA DO CORAÇÃO ( D. BOSCO).

1. Significado da Assistência Salesiana

A assistência salesiana é estar presente em meios aos alunos, isto é, trabalhar com e para
o outro, para as crianças, para os adolescentes e a juventude. Ou seja, ser assistente
salesiano não é apenas trabalhar junto, mas é compactuar, comprometer-se com a
atividade comum, assumir como seus os objetivos da pessoa ou da instituição com a qual
colabora. Na linguagem comum significa assumir a causa da instituição, no nosso caso os
educandos, deixando de ser um mero executor de ordens e rotinas burocráticas.

Como a missão da Congregação salesiana é a educação, em suas obras/escolas todos os
assistentes são educadores e vice-versa. Por isso, além dos requisitos comuns a outras
profissões, eles possuem algumas exigências próprias para atuarem nessa área:

> Coerência na relação com os jovens - harmonia entre o dizer, o ser e o fazer,
lembrando que o ser e o fazer são sempre mais importantes que o dizer.
 Compromisso
com a ação profissional voltada para o bem do jovem, sobretudo ajudando-o a tornar-se
capaz de exercer a cidadania. O educador-assistente salesiano é mais que um assalariado.
Não é facil, mas é possível, quando essa assistência está mesclada no amor. Para o cristão
essa atitude pode tornar-se mais viável.

> Afeto pedagógico - aceitação dos educandos como são, sem perder de vista o potencial
de cada um.

> Responsabilidade - exige que o educador fundamente seus atos nos fins sociais da
educação, nas exigências do bem comum e no respeito à condição peculiar de pessoas em
desenvolvimento.

> Bom senso na ação - capacidade de discernimento prático na interpretação e na
intervenção nos acontecimentos reais que transcorrem na ação educativa. É o saber ler,
interpretar os sinais dos tempos.

Vigilancia constante frente ao seu agir - avaliação de seus próprios atos e do modo
como eles se articulam na seqüência dos acontecimentos, principalmente no que diz
respeito às repercussões de seu agir sobre o desenvolvimento pessoal e social dos
educandos. Em educação não se pode usar pavio curto. O agir de um educador tem
consequências positivas ou negativas para toda a vida do educando.

Equilíbrio no agir - capacidade de agir com discernimento, tranqüilidade e sabedoria,
frente a situações complexas e/ou de extrema gravidade. Bom senso.
2



2. A Assistência Salesiana: presença no patio, na recreação e na vida

O educador salesiano é alguém que ama aquilo que agrada aos jovens, mas, ao mesmo
tempo, orienta para que eles também possam amar aquilo de que ele gosta. A palavra
“assistência”, hoje, poderíamos traduzi-la por “animação”. Um modo de participar e de
intervir. O educador do Sistema Preventivo se encontra no pátio para ser o animador dos
jogos. Ele não é alguém que observa de longe.
O joem deve ter ampla liberdade de pular, correr, gritar à vontade, mas ao mesmo temo
devemos sempre acompanhá-lo”. Inclusive no “pátio” deve valer aquele princípio que
recomenda colocar o educando “na moral impossibilidade de cometer faltas.
A presença contínua é, com efeito; a norma fundamental da assistência o educador.


3. A Assistência salesiana

Fundamentos

A assistencia salesiana manifesta a preocupação e o cuidado do educador-assistente em
proporcionar ao educando a experiência de uma relação pessoal, acolhedora e fraterna, de
modo a fazê-lo sentir-se amado e a favorecer o seu crescimento como pessoa. Tal relação
se concretiza na sala de aula, no pátio e/ou em qualquer ambiente (no Colégio ou fora
dele) onde se desenvolvam atividades religiosas, culturais, sociais, esportivas, recreativas
e de ensino-aprendizagem.

O educador assistente desenvolve seu trabalho, sua ação educativa, tendo como
referenciais a razão, a religião e a amorevolezza, que exige motivação e qualificação
específicas:

• Assistência como presença gratuita: o êxito da comunicação educativa não depende
tanto de habilidades técnicas de abordagem, mas principalmente das motivações e
intenções que transparecem na relação que se estabelece.

• Assistência como presença ativa: a presença do educador não deve ser centralizadora,
impositiva e controladora. Também não pode ser de mero espectador da atividade do
jovem. Presença ativa significa atuar junto com o educando, intervindo de forma discreta,
envolvente, amorosa, estimulando e facilitando seu protagonismo.

• Assistência individualizada: centrada nas situações particulares dos jovens,
especialmente em suas necessidades. É diferenciada de acordo com a idade e as
características pessoais de cada um. É personalizadora.


4. Um ponto chave da pedagogia Salesiana: a convivência

É fundamental sabermos, conhecermos quem estamos educando e para issso é
imprescindível a covivência.
3


A tradição salesiana chama a convivência de Assistência-presença. Sem esta attitude do
educador não há conhecimento nem amor. Quem ama quer estar sempre ao lado da
pessoa amada. O amor é o centro da praxis educativa salesiana. Dom Bosco nos ensinava
que não basta amar, mas é necessário que o garoto sinta-se amado. Como vai o aluno
sentir-se amado sem a convivência constante, aberta e próxima de alguém que lhe quer
bem?
Deveríamos estar ao alcance de todos sem mediações e nem burocracias. Neste particular
não deve existir, entre os educadores jovens e crianças gabinetes escondidos, salas e
portas fechadas. Devemos ainda estar prontos a darmos o primeiro passo o da acolhida e
da escuta. Dom Bosco prezava esta aproximação, esta “vizinhança”, uma familiaridade
partilhada.
Um educador em nossas obras e que se dispõe ao trabalho educativo com os jovens e as
crianças, deve ter por inclinação e dom estas aptidões.

5. A Carta de Roma (10 de maio de 1884)

D. Bosco nos fala de um sonho que ele teve. Na 1a noite houve um diálogo com um
antigo aluno (Valfré) sobre o Oratório antes de 1870. Na 2a, a conversa foi com outro
antigo alunos do Oratório (Buzzetti). Aborda os problemas, soluções e conselhos para
que o Oratório volte aos antigos tempos). Vide: salesianos.blogspot.com
Neste escrito podemos ver como na Assistência salesiana, o educador/a exercem a função
de PAI e MÃE
Estamos na Primavera de 1884. Dom Bosco está em Roma preocupado com diversos
problemas:
        A construção da Igreja do Sagrado Coração exige grandes somas que ele tem que
        conseguir através de pedidos e doações.
        O pensamento de conseguir um Estatuto jurídico para sua Congregação não lhe
        sai da mente.
        Uma de suas grandes preocupações era também o desejo de estabilizar e dar
        unidade às sua obras e concretizar o estilo de educação, próprio de seu sistema
        preventivo.
        Todas estas dificuldade parecem aumentar, e ele o sabe e sente, face ao crescente
        estado de debilidade de sua saúde.
A Carta de Roma foi escrita aos jovens e educadores de Valdocco, a quem ele chama de
Caríssimos filhos em Jesus Cristo.
Figuras de proa da Congregação, como Don Álbera e Pietro Stella referiram-se a este
documento afirmando que é “o comentário mais autêntico do Sistema Preventivo” (Dom
Álbera); e P. Stella escreveu que “o seu conteúdo é de se considerar como um dos mais
ricos documentos pedagógicos de Dom Bosco”.
Ao refletirmos sobre o hino da caridade, composto por S. Paulo1 e a Carta de Roma, creio
que não estaremos equivocados se dissermos como Gianni Ghiglione que Dom Bosco fez
quase um comentário perfeitamente educativo ao hino de S. Paulo. Para Aubry a Carta é
como um testamento. Deve ser encarado com seriedade, pois o que um testamento pede
deve ser cumprido.

1
    1 Cor, 13.
4


Pe. Bartolomeu Fascie, quando Conselheiro escolástico, em uma apresentação sobre o
texto escrevia:

                   «O senhor nos dê a graça de lê-la com filial e devota atenção para extrair
                   dela aquele fruto de verdadeira caridade que é alma e vida do Sistema
                   preventivo».2


                   O sentimento de paternidade na Carta de Roma

      Amar e ser amado são dos sentimentos mais nobres do coração do homem:
      materializados na paternidade e na filiação. Não faz muito houve quem tentasse
      eliminar estas características existentes entre filiação e paternidade.
      Freud anunciou “a morte do pai”, procurando anular desautorizar a autoridade:
             O pai cultural>os professores;
             O pai político> a coronelança, triste fenômeno ainda hoje encontradiço no
             Brasil;
             O pai capitalista> os patrões;
             O pai biológico> os genitores;
             O pai religioso> os padres;
             O Pai de todos os pais>Deus.

A missiva de Dom Bosco trata de um tema que hoje se tenta renovar, reconquistar. E
também neste ponto está sua atualidade. Os nossos tempos procuram redescobrir a figura
paterna, sente-se a necessidade de sua presença, da figura paterna. Muito embora tantos
genitores vivam separados, ou por motivos vários (emprego, viagens de negócio etc.) se
encontrem com os filhos apenas nos finais de semana; não obstante, o pai de nossos dias
não é mais visto como alguém a ser removido do caminho dos filhos e sim uma figura
necessário para a formação e educação da prole. Alguém vizinho ao filho em quem ele
confie, imite, tenha como um ídolo.
Não se pode negar que uma das características da personalidade de Dom Bosco era
precisamente a paternidade. Pode-se afirmar que era uma de suas originalidades. Parece
até que a perda do pai aos dois anos veio reforçar este sentimento, tão explícito e notório
que a Igreja o chama de Pai e Mestre dos jovens. Sua bondade paterna não pode ser
separada de seu estilo educativo.
O educador dos jovens de Turim soube ser para eles um pai bondoso, terno e ao mesmo
tempo firme. Corrigia-os amando-os com um ilimitado sentido de responsabilidade e
dedicação. Não se cansava de estar com eles, não reclamava. Estava sempre alegre
mesmo quando sua enorme resistência ao trabalho, encontrava-se combalida pela
enfermidade. Somente se ausentou fisicamente dos seus jovens quando por eles deu seu
último suspiro. Amou-os até o fim, seguindo o exemplo do mártir do Gólgota de quem
foi perfeito imitador. Basta que sejais jovens para que eu vos ame.

           Chamai-me sempre pai e eu serei feliz

2
    Cf. G. GHIGLIONE, Lettera da Roma..., p. 4.
5



Toda paternidade no céu e na terra vem do Pai.3
A vida de Dom Bosco e sua Carta romana mostram uma sensibilidade que não é
simplesmente uma característica da bondade humana. Sua maneira de ser e agir era fruto
do convencimento de que só através do amor paterno aos jovens ele poderia conquistá-los
para o verdadeiro Pai, fonte de toda paternidade no céu e na terra.
Vejamos o que nos diz o Padre Aubry que intuiu no educador de Valdocco duas
paternidades:

                             «Dom Bosco me aparece assim: um padre educador, cujo coração
                             se anima dos sentimentos e das dedicações de um verdadeiro pai
                             de família da terra; mas também dos mesmos sentimentos de Deus
                             Pai. Estamos aqui em um dos pontos mais claros da figura também
                             espiritual de Dom Bosco, talvez ao centro de sua santidade pessoal
                             como também de seu êxito educativo. Nele vida espiritual e
                             método educativo fazem parte de um só e mesmo movimento do
                             coração e da vida. Se esta paternidade ativa é autêntica e plena, só
                             imitando e prolongando a paternidade infinita de Deus, exige que o
                             educador se mantenha em contacto com aquele Pai supremo, que
                             conheça os costumes do seu coração infinitamente paterno e deixe
                             o Coração divino difundir alguma coisa deste amor no seu coração
                             para fazê-lo extravasar os limites. Verdadeiramente não se é pai se
                             não com Deus e como Ele. Exercitar a autêntica paternidade é,
                             portanto unir-se a Deus, é cumprir o seu dever providencial e ao
                             mesmo tempo empenhar-se na vida da santidade».4

A mensagem que Dom Bosco parece querer passar à Igreja e a todos os educadores que
exercem qualquer tipo de paternidade material ou espiritual é que sua riqueza e grandeza
devem estar próximas a Deus. Ambas devem conduzir a Ele. Para G. Ghiglione, o
fundador dos Salesianos assume as duas expressões do Evangelho de João: como o Pai
me amou, assim eu também vos amo (Jo. 15, 9); e como o Pai me enviou eu também vos
envio (Jo. 20, 21).
A paternidade vivida por nosso Santo fundador foi a execução prática da paternidade
invisível de Deus Pai. Ele a traduziu no mundo para felicidade de muitos, especialmente
dos jovens.Não compreenderá verdadeiramente Dom Bosco quem não conseguir vê-lo
como um pai no meio de seus filhos.

Podemos observar na Carta de Roma algumas características do amor de Dom Bosco que
são as mesmas do amor do Pai.

           Um amor que não espera, mas tem a iniciativa, é preventivo

São João nos avisa que foi Deus quem nos amor por primeiro e não nós e S. Paulo reforça
a afirmação, dizendo que este fato aconteceu antes mesmo da criação do mundo(Ef. 1, 4).

3
    Cf. Ef. 3, 15.
4
    Cf. G. GHIGLIONI, op. cit. pp. 7, 8.
6


As parábolas da ovelha perdida, do pai que sai de casa para abraçar o filho que retorna da
miséria são entre outras, provas de que Deus na maioria dos casos é quem dá o primeiro
passo.
Dom Bosco nos ensina que o amor deve ser preventivo. São sua palavras:

                            «Não esperai que os jovens venham a vós. Ide a eles, daí o
                            primeiro passo. E para serem acolhidos, descei da vossa altura.
                            Colocai-vos no seu nível, do lado deles».

É certamente com tristeza que o santo da juventude relembra, nos tempos de menino e
mais tarde no Seminário de Chieri, fatos acontecidos com alguns reverendos.

                            «Quantas vezes quis falar, pedir-lhes conselhos ou soluções de
                            dúvidas e não podia. Antes, acontecendo que algum superior
                            passasse no meio dos seminaristas, sem saber a razão, cada um
                            fugia precipitadamente para a direita e para a esquerda... Aquilo
                            inflamava sempre mais meu coração para ser logo padre para
                            entreter-me no meio dos jovenzinhos, para atendê-los, para ouvi-
                            los em cada necessidade».


           Um amor que se aproxima das pessoas

A vida de Jesus Cristo nos mostra como Ele se fazia próximo, às pessoas, de modo
especial daquelas mais carentes, sofridas, abandonadas. Para o Filho de Deus não há
diferenças, nem distâncias, Ele veio para todos, é o bom Samaritano universal. Ide ao
mundo e conquistai-o pelo amor, ajudando-o, servindo-o. É o que Jesus nos pede, o amor
ao próximo é a nossa alforria.
É o que o apóstolo dos jovens fez e nos pede que façamos: aproximar-nos deles, acolhê-
los sem prejulgamentos. Não nos escandalizarmos com seu modo de encarar a vida, com
suas limitações ou falhas, mas desculpá-los5. Assim eles serão conquistados pelo coração,
pois educação é coisa do coração. Amai as coisas que os jovens amam, estejais sempre no
meio deles.
Quantos jovens, nós educadores não encontramos em nossa vida e que nos deram a
oportunidade de vivermos com eles esta experiência de nosso fundador. Um deles me
dizia: “muito obrigado, pelo que me disse, não tenho fé, mas reze ao seu Deus por mim.
Gostei do senhor”.

           Um amor personalizado

Na parábola do Bom Pastor cada ovelha é conhecida pessoalmente pelo seu dono. O bom
pastor conhece suas ovelhas... as chama pelo nome e elas o seguem, porque conhecem
sua voz. Como é bonito e como seria maravilhoso se em todos os redis acontecesse essa
afirmação do Senhor. Contudo, é assim que o Pai celeste age, conhecendo e amando cada

5
    Diante da horta arruinada o filho dizia a Mamãe Margarida: “são jovens”.
7


uma de suas criaturas pessoalmente e pedindo que façamos o mesmo. Chega mesmo a
contar os fios de nossos cabelos, a saber quantas são as estrelas e o nome de cada uma.
O amor, sob esta característica é a constância na vida de Jesus, a todos acolheu e ajudou,
como o sol e a chuva descem também sobre todos.
O fundador do Oratório de Valdocco conhecia e amava cada um de seus jovens. E eles
sabiam e gostavam dessa atitude e a retribuíam. Desta maneira educador e educandos
realizaram naquele bairro de Turim o milagre educativo de transformação de muitos
jovens do perfil daqueles do Sonho dos nove anos.

       A prática de um amor positivo

Olhando novamente para o Senhor Jesus, a Fonte de todas as fontes, notamos como Ele
acredita nas pessoas que encontra em seu caminho. Foi assim com os pescadores de
Tiberíades, com o baixinho e tímido Zaqueo, com a escorregadia Samaritana e tantos
outros.
Cristo confiou nos pequenos, nos simples, nos pobres, porque sabia que eles não fariam
objeções ao Reino dos Céus; eles seriam os donos daquele Reino.
O otimismo bosquiano baseia-se nessa fé, nesse amor trasnformador. Ele sabia e
acreditava quer cada um tem um ponto positivo, acessível ao bem. Seu mestre S.
Francisco de Sales também pensava o mesmo: cada um tem pelo menos uma zona
positiva dentro de si. O educador, o pastor tem que encontrá-la.
Dom Bosco era um ingênuo? Ele sabia que tanto o bem como o mal agem no mundo.
Não era adepto de Rousseau, muito pelo contrário. Sua inabalável confiança em
transformar pela educação fundava-se em três fontes poderosas que fortificam e
conduzem o jovem à casa do Pai. Estas riquezas são: a Palavra, a Reconciliação e a
Eucaristia. Toda sua vida foi uma contínua dedicação à Catequese, à Penitência e ao
Sacerdócio. Como se transformava e se sentia feliz, como vivia sua paternidade
espiritual, quando distribuía o Pão da Vida aos seus meninos. E não se cansava de dizer-
lhes: meus filhos, todos juntos caminhamos em direção a Deus.

       Uma mensagem para o mundo

Dom Bosco envia de Roma uma preciosa mensagem a todos os homens e mulheres de
boa vontade ou não. Ele nos recorda que não há nada mais sublime do que ser pai ou
mãe, filho ou filha. Duas atitudes devem acompanhar toda a vida de um vocacionado, de
quem foi chamado para viver eternamente nas mansões celestes, na Casa eterna do Pai
comum: a primeira é a de viver como filho para com Deus Pai e segunda, a de cultivar
uma postura de pai bondoso e compreensivo diante dos filhos ou destinatários que forem
confiados a cada um.’

   Partilhando:
   1. Você acha que o Sist. Prev. Salesiano é ainda viável em nossos dias? Sim, Não,
      Por que?
   2. Se D. Bosco retornasse pessoalmente ao nosso meio, que diria aos seus SDB,
      FMA e colaboradores leigos a respeito dos jovens de hoje?
   3. Que significa: “ educação é obra do coração”?
8

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Sistema salesiano de educação

  • 1. 1 O Sistema Preventivo Salesiano - A Assistência Salesiana A EDUCAÇÃO É OBRA DO CORAÇÃO ( D. BOSCO). 1. Significado da Assistência Salesiana A assistência salesiana é estar presente em meios aos alunos, isto é, trabalhar com e para o outro, para as crianças, para os adolescentes e a juventude. Ou seja, ser assistente salesiano não é apenas trabalhar junto, mas é compactuar, comprometer-se com a atividade comum, assumir como seus os objetivos da pessoa ou da instituição com a qual colabora. Na linguagem comum significa assumir a causa da instituição, no nosso caso os educandos, deixando de ser um mero executor de ordens e rotinas burocráticas. Como a missão da Congregação salesiana é a educação, em suas obras/escolas todos os assistentes são educadores e vice-versa. Por isso, além dos requisitos comuns a outras profissões, eles possuem algumas exigências próprias para atuarem nessa área: > Coerência na relação com os jovens - harmonia entre o dizer, o ser e o fazer, lembrando que o ser e o fazer são sempre mais importantes que o dizer.
 Compromisso com a ação profissional voltada para o bem do jovem, sobretudo ajudando-o a tornar-se capaz de exercer a cidadania. O educador-assistente salesiano é mais que um assalariado. Não é facil, mas é possível, quando essa assistência está mesclada no amor. Para o cristão essa atitude pode tornar-se mais viável. > Afeto pedagógico - aceitação dos educandos como são, sem perder de vista o potencial de cada um. > Responsabilidade - exige que o educador fundamente seus atos nos fins sociais da educação, nas exigências do bem comum e no respeito à condição peculiar de pessoas em desenvolvimento. > Bom senso na ação - capacidade de discernimento prático na interpretação e na intervenção nos acontecimentos reais que transcorrem na ação educativa. É o saber ler, interpretar os sinais dos tempos. Vigilancia constante frente ao seu agir - avaliação de seus próprios atos e do modo como eles se articulam na seqüência dos acontecimentos, principalmente no que diz respeito às repercussões de seu agir sobre o desenvolvimento pessoal e social dos educandos. Em educação não se pode usar pavio curto. O agir de um educador tem consequências positivas ou negativas para toda a vida do educando. Equilíbrio no agir - capacidade de agir com discernimento, tranqüilidade e sabedoria, frente a situações complexas e/ou de extrema gravidade. Bom senso.
  • 2. 2 2. A Assistência Salesiana: presença no patio, na recreação e na vida O educador salesiano é alguém que ama aquilo que agrada aos jovens, mas, ao mesmo tempo, orienta para que eles também possam amar aquilo de que ele gosta. A palavra “assistência”, hoje, poderíamos traduzi-la por “animação”. Um modo de participar e de intervir. O educador do Sistema Preventivo se encontra no pátio para ser o animador dos jogos. Ele não é alguém que observa de longe. O joem deve ter ampla liberdade de pular, correr, gritar à vontade, mas ao mesmo temo devemos sempre acompanhá-lo”. Inclusive no “pátio” deve valer aquele princípio que recomenda colocar o educando “na moral impossibilidade de cometer faltas. A presença contínua é, com efeito; a norma fundamental da assistência o educador. 3. A Assistência salesiana Fundamentos A assistencia salesiana manifesta a preocupação e o cuidado do educador-assistente em proporcionar ao educando a experiência de uma relação pessoal, acolhedora e fraterna, de modo a fazê-lo sentir-se amado e a favorecer o seu crescimento como pessoa. Tal relação se concretiza na sala de aula, no pátio e/ou em qualquer ambiente (no Colégio ou fora dele) onde se desenvolvam atividades religiosas, culturais, sociais, esportivas, recreativas e de ensino-aprendizagem. O educador assistente desenvolve seu trabalho, sua ação educativa, tendo como referenciais a razão, a religião e a amorevolezza, que exige motivação e qualificação específicas: • Assistência como presença gratuita: o êxito da comunicação educativa não depende tanto de habilidades técnicas de abordagem, mas principalmente das motivações e intenções que transparecem na relação que se estabelece. • Assistência como presença ativa: a presença do educador não deve ser centralizadora, impositiva e controladora. Também não pode ser de mero espectador da atividade do jovem. Presença ativa significa atuar junto com o educando, intervindo de forma discreta, envolvente, amorosa, estimulando e facilitando seu protagonismo. • Assistência individualizada: centrada nas situações particulares dos jovens, especialmente em suas necessidades. É diferenciada de acordo com a idade e as características pessoais de cada um. É personalizadora. 4. Um ponto chave da pedagogia Salesiana: a convivência É fundamental sabermos, conhecermos quem estamos educando e para issso é imprescindível a covivência.
  • 3. 3 A tradição salesiana chama a convivência de Assistência-presença. Sem esta attitude do educador não há conhecimento nem amor. Quem ama quer estar sempre ao lado da pessoa amada. O amor é o centro da praxis educativa salesiana. Dom Bosco nos ensinava que não basta amar, mas é necessário que o garoto sinta-se amado. Como vai o aluno sentir-se amado sem a convivência constante, aberta e próxima de alguém que lhe quer bem? Deveríamos estar ao alcance de todos sem mediações e nem burocracias. Neste particular não deve existir, entre os educadores jovens e crianças gabinetes escondidos, salas e portas fechadas. Devemos ainda estar prontos a darmos o primeiro passo o da acolhida e da escuta. Dom Bosco prezava esta aproximação, esta “vizinhança”, uma familiaridade partilhada. Um educador em nossas obras e que se dispõe ao trabalho educativo com os jovens e as crianças, deve ter por inclinação e dom estas aptidões. 5. A Carta de Roma (10 de maio de 1884) D. Bosco nos fala de um sonho que ele teve. Na 1a noite houve um diálogo com um antigo aluno (Valfré) sobre o Oratório antes de 1870. Na 2a, a conversa foi com outro antigo alunos do Oratório (Buzzetti). Aborda os problemas, soluções e conselhos para que o Oratório volte aos antigos tempos). Vide: salesianos.blogspot.com Neste escrito podemos ver como na Assistência salesiana, o educador/a exercem a função de PAI e MÃE Estamos na Primavera de 1884. Dom Bosco está em Roma preocupado com diversos problemas: A construção da Igreja do Sagrado Coração exige grandes somas que ele tem que conseguir através de pedidos e doações. O pensamento de conseguir um Estatuto jurídico para sua Congregação não lhe sai da mente. Uma de suas grandes preocupações era também o desejo de estabilizar e dar unidade às sua obras e concretizar o estilo de educação, próprio de seu sistema preventivo. Todas estas dificuldade parecem aumentar, e ele o sabe e sente, face ao crescente estado de debilidade de sua saúde. A Carta de Roma foi escrita aos jovens e educadores de Valdocco, a quem ele chama de Caríssimos filhos em Jesus Cristo. Figuras de proa da Congregação, como Don Álbera e Pietro Stella referiram-se a este documento afirmando que é “o comentário mais autêntico do Sistema Preventivo” (Dom Álbera); e P. Stella escreveu que “o seu conteúdo é de se considerar como um dos mais ricos documentos pedagógicos de Dom Bosco”. Ao refletirmos sobre o hino da caridade, composto por S. Paulo1 e a Carta de Roma, creio que não estaremos equivocados se dissermos como Gianni Ghiglione que Dom Bosco fez quase um comentário perfeitamente educativo ao hino de S. Paulo. Para Aubry a Carta é como um testamento. Deve ser encarado com seriedade, pois o que um testamento pede deve ser cumprido. 1 1 Cor, 13.
  • 4. 4 Pe. Bartolomeu Fascie, quando Conselheiro escolástico, em uma apresentação sobre o texto escrevia: «O senhor nos dê a graça de lê-la com filial e devota atenção para extrair dela aquele fruto de verdadeira caridade que é alma e vida do Sistema preventivo».2 O sentimento de paternidade na Carta de Roma Amar e ser amado são dos sentimentos mais nobres do coração do homem: materializados na paternidade e na filiação. Não faz muito houve quem tentasse eliminar estas características existentes entre filiação e paternidade. Freud anunciou “a morte do pai”, procurando anular desautorizar a autoridade: O pai cultural>os professores; O pai político> a coronelança, triste fenômeno ainda hoje encontradiço no Brasil; O pai capitalista> os patrões; O pai biológico> os genitores; O pai religioso> os padres; O Pai de todos os pais>Deus. A missiva de Dom Bosco trata de um tema que hoje se tenta renovar, reconquistar. E também neste ponto está sua atualidade. Os nossos tempos procuram redescobrir a figura paterna, sente-se a necessidade de sua presença, da figura paterna. Muito embora tantos genitores vivam separados, ou por motivos vários (emprego, viagens de negócio etc.) se encontrem com os filhos apenas nos finais de semana; não obstante, o pai de nossos dias não é mais visto como alguém a ser removido do caminho dos filhos e sim uma figura necessário para a formação e educação da prole. Alguém vizinho ao filho em quem ele confie, imite, tenha como um ídolo. Não se pode negar que uma das características da personalidade de Dom Bosco era precisamente a paternidade. Pode-se afirmar que era uma de suas originalidades. Parece até que a perda do pai aos dois anos veio reforçar este sentimento, tão explícito e notório que a Igreja o chama de Pai e Mestre dos jovens. Sua bondade paterna não pode ser separada de seu estilo educativo. O educador dos jovens de Turim soube ser para eles um pai bondoso, terno e ao mesmo tempo firme. Corrigia-os amando-os com um ilimitado sentido de responsabilidade e dedicação. Não se cansava de estar com eles, não reclamava. Estava sempre alegre mesmo quando sua enorme resistência ao trabalho, encontrava-se combalida pela enfermidade. Somente se ausentou fisicamente dos seus jovens quando por eles deu seu último suspiro. Amou-os até o fim, seguindo o exemplo do mártir do Gólgota de quem foi perfeito imitador. Basta que sejais jovens para que eu vos ame. Chamai-me sempre pai e eu serei feliz 2 Cf. G. GHIGLIONE, Lettera da Roma..., p. 4.
  • 5. 5 Toda paternidade no céu e na terra vem do Pai.3 A vida de Dom Bosco e sua Carta romana mostram uma sensibilidade que não é simplesmente uma característica da bondade humana. Sua maneira de ser e agir era fruto do convencimento de que só através do amor paterno aos jovens ele poderia conquistá-los para o verdadeiro Pai, fonte de toda paternidade no céu e na terra. Vejamos o que nos diz o Padre Aubry que intuiu no educador de Valdocco duas paternidades: «Dom Bosco me aparece assim: um padre educador, cujo coração se anima dos sentimentos e das dedicações de um verdadeiro pai de família da terra; mas também dos mesmos sentimentos de Deus Pai. Estamos aqui em um dos pontos mais claros da figura também espiritual de Dom Bosco, talvez ao centro de sua santidade pessoal como também de seu êxito educativo. Nele vida espiritual e método educativo fazem parte de um só e mesmo movimento do coração e da vida. Se esta paternidade ativa é autêntica e plena, só imitando e prolongando a paternidade infinita de Deus, exige que o educador se mantenha em contacto com aquele Pai supremo, que conheça os costumes do seu coração infinitamente paterno e deixe o Coração divino difundir alguma coisa deste amor no seu coração para fazê-lo extravasar os limites. Verdadeiramente não se é pai se não com Deus e como Ele. Exercitar a autêntica paternidade é, portanto unir-se a Deus, é cumprir o seu dever providencial e ao mesmo tempo empenhar-se na vida da santidade».4 A mensagem que Dom Bosco parece querer passar à Igreja e a todos os educadores que exercem qualquer tipo de paternidade material ou espiritual é que sua riqueza e grandeza devem estar próximas a Deus. Ambas devem conduzir a Ele. Para G. Ghiglione, o fundador dos Salesianos assume as duas expressões do Evangelho de João: como o Pai me amou, assim eu também vos amo (Jo. 15, 9); e como o Pai me enviou eu também vos envio (Jo. 20, 21). A paternidade vivida por nosso Santo fundador foi a execução prática da paternidade invisível de Deus Pai. Ele a traduziu no mundo para felicidade de muitos, especialmente dos jovens.Não compreenderá verdadeiramente Dom Bosco quem não conseguir vê-lo como um pai no meio de seus filhos. Podemos observar na Carta de Roma algumas características do amor de Dom Bosco que são as mesmas do amor do Pai. Um amor que não espera, mas tem a iniciativa, é preventivo São João nos avisa que foi Deus quem nos amor por primeiro e não nós e S. Paulo reforça a afirmação, dizendo que este fato aconteceu antes mesmo da criação do mundo(Ef. 1, 4). 3 Cf. Ef. 3, 15. 4 Cf. G. GHIGLIONI, op. cit. pp. 7, 8.
  • 6. 6 As parábolas da ovelha perdida, do pai que sai de casa para abraçar o filho que retorna da miséria são entre outras, provas de que Deus na maioria dos casos é quem dá o primeiro passo. Dom Bosco nos ensina que o amor deve ser preventivo. São sua palavras: «Não esperai que os jovens venham a vós. Ide a eles, daí o primeiro passo. E para serem acolhidos, descei da vossa altura. Colocai-vos no seu nível, do lado deles». É certamente com tristeza que o santo da juventude relembra, nos tempos de menino e mais tarde no Seminário de Chieri, fatos acontecidos com alguns reverendos. «Quantas vezes quis falar, pedir-lhes conselhos ou soluções de dúvidas e não podia. Antes, acontecendo que algum superior passasse no meio dos seminaristas, sem saber a razão, cada um fugia precipitadamente para a direita e para a esquerda... Aquilo inflamava sempre mais meu coração para ser logo padre para entreter-me no meio dos jovenzinhos, para atendê-los, para ouvi- los em cada necessidade». Um amor que se aproxima das pessoas A vida de Jesus Cristo nos mostra como Ele se fazia próximo, às pessoas, de modo especial daquelas mais carentes, sofridas, abandonadas. Para o Filho de Deus não há diferenças, nem distâncias, Ele veio para todos, é o bom Samaritano universal. Ide ao mundo e conquistai-o pelo amor, ajudando-o, servindo-o. É o que Jesus nos pede, o amor ao próximo é a nossa alforria. É o que o apóstolo dos jovens fez e nos pede que façamos: aproximar-nos deles, acolhê- los sem prejulgamentos. Não nos escandalizarmos com seu modo de encarar a vida, com suas limitações ou falhas, mas desculpá-los5. Assim eles serão conquistados pelo coração, pois educação é coisa do coração. Amai as coisas que os jovens amam, estejais sempre no meio deles. Quantos jovens, nós educadores não encontramos em nossa vida e que nos deram a oportunidade de vivermos com eles esta experiência de nosso fundador. Um deles me dizia: “muito obrigado, pelo que me disse, não tenho fé, mas reze ao seu Deus por mim. Gostei do senhor”. Um amor personalizado Na parábola do Bom Pastor cada ovelha é conhecida pessoalmente pelo seu dono. O bom pastor conhece suas ovelhas... as chama pelo nome e elas o seguem, porque conhecem sua voz. Como é bonito e como seria maravilhoso se em todos os redis acontecesse essa afirmação do Senhor. Contudo, é assim que o Pai celeste age, conhecendo e amando cada 5 Diante da horta arruinada o filho dizia a Mamãe Margarida: “são jovens”.
  • 7. 7 uma de suas criaturas pessoalmente e pedindo que façamos o mesmo. Chega mesmo a contar os fios de nossos cabelos, a saber quantas são as estrelas e o nome de cada uma. O amor, sob esta característica é a constância na vida de Jesus, a todos acolheu e ajudou, como o sol e a chuva descem também sobre todos. O fundador do Oratório de Valdocco conhecia e amava cada um de seus jovens. E eles sabiam e gostavam dessa atitude e a retribuíam. Desta maneira educador e educandos realizaram naquele bairro de Turim o milagre educativo de transformação de muitos jovens do perfil daqueles do Sonho dos nove anos. A prática de um amor positivo Olhando novamente para o Senhor Jesus, a Fonte de todas as fontes, notamos como Ele acredita nas pessoas que encontra em seu caminho. Foi assim com os pescadores de Tiberíades, com o baixinho e tímido Zaqueo, com a escorregadia Samaritana e tantos outros. Cristo confiou nos pequenos, nos simples, nos pobres, porque sabia que eles não fariam objeções ao Reino dos Céus; eles seriam os donos daquele Reino. O otimismo bosquiano baseia-se nessa fé, nesse amor trasnformador. Ele sabia e acreditava quer cada um tem um ponto positivo, acessível ao bem. Seu mestre S. Francisco de Sales também pensava o mesmo: cada um tem pelo menos uma zona positiva dentro de si. O educador, o pastor tem que encontrá-la. Dom Bosco era um ingênuo? Ele sabia que tanto o bem como o mal agem no mundo. Não era adepto de Rousseau, muito pelo contrário. Sua inabalável confiança em transformar pela educação fundava-se em três fontes poderosas que fortificam e conduzem o jovem à casa do Pai. Estas riquezas são: a Palavra, a Reconciliação e a Eucaristia. Toda sua vida foi uma contínua dedicação à Catequese, à Penitência e ao Sacerdócio. Como se transformava e se sentia feliz, como vivia sua paternidade espiritual, quando distribuía o Pão da Vida aos seus meninos. E não se cansava de dizer- lhes: meus filhos, todos juntos caminhamos em direção a Deus. Uma mensagem para o mundo Dom Bosco envia de Roma uma preciosa mensagem a todos os homens e mulheres de boa vontade ou não. Ele nos recorda que não há nada mais sublime do que ser pai ou mãe, filho ou filha. Duas atitudes devem acompanhar toda a vida de um vocacionado, de quem foi chamado para viver eternamente nas mansões celestes, na Casa eterna do Pai comum: a primeira é a de viver como filho para com Deus Pai e segunda, a de cultivar uma postura de pai bondoso e compreensivo diante dos filhos ou destinatários que forem confiados a cada um.’ Partilhando: 1. Você acha que o Sist. Prev. Salesiano é ainda viável em nossos dias? Sim, Não, Por que? 2. Se D. Bosco retornasse pessoalmente ao nosso meio, que diria aos seus SDB, FMA e colaboradores leigos a respeito dos jovens de hoje? 3. Que significa: “ educação é obra do coração”?
  • 8. 8