REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
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1. REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228
Volume 24 - Número 1 - 1º Semestre 2024
ESTOQUE DO BANCO DE SEMENTES PARA RESTAURAÇÃO FLORESTAL EM
ÁREAS CILIARES DOMINADAS POR PASTAGENS
Rubens Marques Rondon Neto1
RESUMO
O estudo teve como objetivo analisar o estoque de sementes no banco de sementes de duas áreas
ciliares, dominadas por pastagens artificiais com diferentes idades de formação, a fim de avaliar suas
potencialidades de restauração natural. As áreas eram ocupadas por pastagem com três e 16 anos de
formação, denominadas área 1 e 2, respectivamente. Em cada área foram coletadas 12 amostras do
banco de sementes de solo em parcelas de 0,5 x 0,5 x 0,05 m. Foram estimadas as respectivas
densidades de 684 e 1.054 plantas m-2
regenerando na área 1 e 2, distribuídos em 57 e 27 espécies,
sendo que cerca de 90,3 e 99,2% do total de indivíduos amostrados tinham hábito herbáceo.
Independentemente das idades das pastagens os estoques de sementes no solo tiveram baixa
diversidade de espécies arbóreas, necessitando também do uso de outras estratégias de restauração
ativa, juntamente com o controle da competição com as plantas herbáceas regeneradas pelo banco de
sementes.
Palavras-chave: Área degradada, Regeneração florestal, Regeneração natural, Restauração passiva.
SEED BANK STOCK FOR FOREST RESTORATION IN AREAS DOMINATED BY
PASTURES
ABSTRACT
The study aimed to analyze the seed stock in the seed bank of two riparian areas, dominated by
artificial pastures with different ages of formation, in order to evaluate their potential for natural
restoration. The areas were occupied by pasture with three and 16 years of formation, called area 1
and 2, respectively. In each area, 12 samples were collected from the soil seed bank in plots measuring
0.5 x 0.5 x 0.05 m. The respective densities of 684 and 1,054 plants m-2
regenerating in area 1 and 2
were estimated, distributed in 57 and 27 species, with around 90.3 and 99.2% of the total individuals
sampled having herbaceous habits. Regardless of the age of the pastures, seed stocks in the soil had
a low diversity of tree species, also requiring the use of other active restoration strategies, together
with the control of competition with herbaceous plants regenerated by the seed bank.
Keywords: Disturbed land, Forest regeneration, Natural regeneration, Passive restauration.
01
2. INTRODUÇÃO
A restauração florestal de uma área
degradada pode ocorrer naturalmente,
denominada de restauração passiva, e/ou através
da interferência humana (restauração florestal
ativa). O processo natural ocorre através da
regeneração natural de indivíduos oriundos de
fontes de propágulos existentes no local ou
proximidades (RONDON NETO et al., 2021). A
regeneração arbustiva e arbórea em uma área
degradada pode surgir pela dispersão de
sementes por agentes bióticos ou abióticos,
chuva de sementes e o banco de sementes
presente no solo.
A fim de obter informações sobre o
processo de restauração de uma área degradada e
a sua capacidade de resiliência, utiliza-se como
indicador a avaliação do banco de sementes.
Assim sendo, torna-se possível inferir sobre o
potencial de regeneração da área degradada e a
sua futura comunidade de plântulas (FREITAS et
al., 2021). Os estudos dos estoques de sementes
no banco de sementes permitem prever a futura
composição florística e estimativa da densidade
de espécies na área. Essas informações ajudam a
prever o possível potencial regenerativo do local
degradado, sendo importante nas decisões das
técnicas de restauração florestal a serem
adotadas.
Diversas pesquisas científicas foram
realizadas com o objetivo de avaliar o potencial
regenerativo do banco de sementes em áreas
degradadas, a fim de verificar a possibilidade de
ocorrer restauração florestal passiva. Nesse
sentido, algumas pesquisas já foram feitas para
isso, como: Cabral et al. (2012); Costa et al.
(2013); Cielo Filho e Souza (2016); Miranda
Neto et al. (2017); Rosalin et al. (2019), Arêas et
al. (2022), Saraiva et al. (2023) entre outras. No
entanto, ainda é preciso ter mais conhecimento
em relação ao banco de sementes do solo,
sobretudo em áreas com pastagens e lavouras
degradadas, as quais necessitam de restauração
florestal.
Em áreas degradadas que podem ser
restauradas, mas que estão dominadas por
pastagens ou cultivos agrícolas, é frequente a
eliminação de plantas consideradas daninhas que
se regeneram naturalmente. Tal fato ocorre por
meio de revolvimento mecânico do solo, capinas
e roçadas manuais e/ou mecânicas e aplicação
direta ou deriva de herbicidas, além da predação
por animais domésticos. Tais práticas podem
contribuir decisivamente com a redução gradual
do potencial de regeneração natural da área
degradada via banco de sementes, inviabilizando
a restauração florestal passiva.
O presente trabalho teve como objetivo
analisar o estoque de sementes no banco de
sementes de duas áreas ciliares, dominadas por
pastagens artificiais com diferentes idades de
formação, a fim de avaliar suas potencialidades
de recolonização natural.
MATERIAL E MÉTODOS
A coleta de amostras do banco de
sementes do solo ocorreu em duas áreas ciliares
ocupadas por pastagens de capim-brizantão
(Urochloa decumbens (Stapf) R.D. Webster),
localizadas no município de Alta Floresta –
extremo norte de Mato Grosso. As idades de
formação dos pastos no momento das retiradas
das amostras de solo eram de 3 e 16 anos,
denominadas de área 1 e 2, respectivamente,
separadas por cerca de 200 m de distância. A
localização geográfica das áreas é: área 1
(10°
04’56” S e 56°
09’13” W) e área 2 (10°
05’58”
S e 56°
09’25” W), ambas as áreas estão a 190 m
de altitude. Pela classificação de Köppen, o clima
da região da área experimental é do tipo Am com
temperatura média de 26 ºC e precipitação anual
em torno de 2200 mm (ALVARES et al., 2013).
O solo predominante na região é classificado
como Argissolo e relevo suave ondulado. A
vegetação original é caracterizada como Floresta
Ombrófila Aberta.
As coletas das amostras dos bancos de
sementes em ambas as áreas de pesquisa foram
realizadas em pontos distribuídos
sistematicamente, distantes a cerca de 20 m uma
da outra. Foram coletadas 12 amostras do banco
de sementes do solo em cada área de pastagem,
com auxílio de um molde de madeira de 0,5 x 0,5
x 0,05 m (0,25 m2
), totalizando-se 3 m2
amostrado por cada área. Após a eliminação da
vegetação na parte superior com o uso de uma
enxada, foi coletado o solo dentro do molde, com
auxílio de uma pá reta e colher de pedreiro.
As amostras dos bancos de sementes
foram acondicionadas em sacos plásticos,
devidamente identificados e levados para uma
3. casa de vegetação da Universidade do Estado de
Mato Grosso (UNEMAT) – Campus de Alta
Floresta, em Alta Floresta/MT. O ambiente era
coberto com filme plástico agrícola incolor de
100 µm e forro superior e laterais revestido com
tela de sombreamento (50%). Cada amostra do
banco de sementes foi depositada em uma caixa
de madeira de 0,5 x 0,5 m, a qual tinha no fundo
uma camada de aproximadamente 1,5 cm de
espessura de areia esterilizada em autoclave a
120°C por 1 hora, a fim de proporcionar a
drenagem das amostras. Logo acima dessa
camada de areia foram depositadas as amostras
do banco de sementes do solo. Todas as amostras
de solo coletadas eram irrigadas uma vez ao dia
por um período de cinco meses de avaliação.
Assim que cada planta era identificada e
contabilizada como regenerante ela era retirada
da caixa de germinação, disponibilizando
espaços ao desenvolvimento de outras plantas
que viessem a surgir. A identificação botânica e
a classificação quanto ao hábito das plantas
foram feitas com auxílio de consultas em
bibliografias especializadas, como: Kissmann
(2000); Kissmann e Groth (2000); Lorenzi
(2008); Moreira e Bragança (2010 e 2011).
Posteriormente, foram estimados os parâmetros
fitossociológicos absolutos e relativos de
frequência e densidade, através das equações:
𝐹𝐴 =
𝑝𝑖
𝑃
× 100
𝐹𝑅 =
𝐹𝐴𝑖
𝑃
× 100
𝐷𝐴 =
𝑛
Á𝑟𝑒𝑎
𝐷𝑅 =
𝑛𝑖
𝑁
× 100
Sendo:
FA = Frequência absoluta;
FR = Frequência relativa;
pi = Número de parcelas com ocorrência
da espécie i;
P = Número total de parcelas;
n = Número de indivíduos da espécie i;
N = Número total de indivíduos.
Com o intuito de avaliar a semelhança
florística entre as duas áreas ciliares estudadas foi
calculado o índice de similaridade de Sørensen,
seguindo as indicações de Matteucci e Colma,
(1982), através da fórmula:
𝐶𝐶𝑆 =
2 𝑐
(𝑆1+𝑆2)
Sendo:
CCS = Índice de similaridade de
Sørensen;
c = Número de espécies comuns nas duas
amostras;
S1 = Número de espécies da área 1;
S2 = Número de espécies da área 2.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As espécies vegetais regeneradas nos
bancos de sementes das áreas ciliares 1 e 2
encontram-se listadas na Tabela 1, em ordem
alfabética de famílias botânicas e gêneros,
seguidas dos nomes científicos e vulgares, hábito
das plantas e os dados dos parâmetros
fitossociológicos. Nas duas áreas estudadas
foram encontrados um total de 5.212 indivíduos,
pertencentes a 66 espécies e 46 gêneros,
distribuídos em 27 famílias botânicas, sendo que
apenas quatro espécies não foram identificadas.
Na área ciliar 1 foram mensurados 2.051
indivíduos, apresentando em média
aproximadamente 684 plantas m-2
, distribuídos
em 57 espécies e 25 famílias botânicas. Em uma
área em processo de restauração florestal,
Correia e Martins (2015) encontraram até 550
plantas m-2
no banco de sementes. As famílias
com maior número de espécies nessa área foram,
respectivamente: Poaceae (10), Asteraceae (7),
Piperaceae (5) e Cyperaceae (4), que juntas
participaram com 19,1% do total de plantas
amostradas. Na área 1 as respectivas proporções
de hábito das plantas e a quantidade de
indivíduos amostrados em relação ao total
encontrados na área, foram: herbáceas (80,7 e
90,3%), subarbustivas (12,3 e 7,4%) arbustiva
(1,7 e 0,3%) e arbórea (5,3 e 1,9%).
Enquanto que na área ciliar 2 foram
mensurados 3.161 indivíduos no total,
pertencentes a 27 espécies e distribuídas em 16
famílias, tendo em média cerca de 1.054 plantas
m-2
. As famílias Asteraceae, Cyperaceae e
Poaceae secaram por apresentar três espécies em
cada família, que juntas contribuíram com 65,8%
do total de plantas amostradas. Desse total
apenas Cyperus iria (Cyperaceae) participou
com 58,4%, acredita-se que a sua intensa
regeneração seja por conta da área ciliar 2
apresentar solos mais úmidos que na área 1.
Segundo Moreira e Bragança (2011), trata-se de
uma espécie herbácea anual, que se propaga por
meio de sementes, vegetando em ambientes
úmidos, onde forma populações consideráveis.
Quanto as proporções de hábito das plantas com
4. os respectivos números de indivíduos
regenerados na área, têm-se: herbáceas (77,8 e
99,2%), subarbustivas (14,3 e 0,1%), arbórea
(14,3 e 0,7%) e nenhuma espécie arbustiva.
As espécies que regeneraram com maior
densidade no banco de sementes da área ciliar 1
foram: Oxalis corniculata (242 plantas m-2
), não
identificada 2 (181 plantas m-2
), Emilia coccinea
(66 plantas m-2
), Ludwigia leptocarpa (48 plantas
m-2
) e Chamaesyce hirta (41 plantas m-2
). Com
exceção de Ludwigia leptocarpa as demais
espécies são consideradas herbáceas e
representaram 77,4% do total de indivíduos
amostrados. Na área ciliar 2 as espécies mais
abundantes no banco de sementes foram as
seguintes ervas: Cyperus iria (614 plantas m-2
),
Oxalis corniculata (215 plantas m-2
), não
identificada 2 (97 plantas m-2
) e Emilia coccinea
(51 plantas m-2
), as quais representam 92,7% do
total de indivíduos regenerados. No banco de
sementes de um fragmento de mata ciliar em
Itaocara/RJ, Oliveira et al. (2018) também
constataram Oxalis corniculata entre as três mais
representativas em número de indivíduos
regenerados.
5. Tabela 1: Relação das espécies vegetais regenerantes nas amostras do banco de sementes de duas áreas ciliares dominadas por pastagens com diferentes idades de formação,
classificadas quanto família, espécie, hábito, área de ocorrência, número de indivíduos amostrados e estimativas dos parâmetros fitossociológicos.
Família/Espécie Nome vulgar Hábito
Área de ocorrência Área ciliar 1 Área ciliar 2
1 2 n FA FR DA DR n FA FR DA DR
Amaranthaceae
Alternanthera sp. Herbácea x - 1 8,33 0,58 0,33 0,04 - - - - -
Amaranthus deflexus L. Caruru-rasteiro Herbácea x - 4 25,0 1,74 1,33 0,19 - - - - -
Amaranthus retroflexus L. Caruru Herbácea x - 1 8,33 0,58 0,33 0,04 - - - - -
Asteraceae
Conyza sp. Buva Herbácea x x 9 66,66 4,65 3,00 0,43 8 41,66 4,76 2,66 0,25
Emilia coccinea (Sins) G. Don Serralha-mirim Herbácea x x 199 91,66 6,39 66,33 9,70 152 16,66 1,90 50,66 4,81
Eupatorium sp. Arbustiva x - 6 16,66 1,16 2,00 0,29 - - - - -
Hypochoeris brasiliensis (Dess) Griseb. Vento-me-leva Herbácea x - 1 8,33 0,58 0,33 0,04 - - - - -
Pluchea sagittalis (Lam.) Cabrera Lucera Herbácea - x - - - - - 6 16,66 1,90 2,00 0,18
Pterocaulon lanatum Kuntze Verbasco Herbácea x - 1 8,33 0,58 0,33 0,04 - - - - -
Pterocaulon virgatum (L.) DC. Barbasco Herbácea x - 1 8,33 0,58 0,33 0,04 - - - - -
Synedrellopsis grisebachii Hieron. & Kuntze. Puejinho Herbácea x - 1 8,33 0,58 0,33 0,04 - - - - -
Cleomaceae
Cleome sp. Herbácea x - 1 8,33 0,58 0,33 0,04 - - - - -
Commelinaceae
Commelina benghalensis L. Trapoeraba Herbácea - x - - - - - 1 8,33 0,95 0,33 0,03
Convolvulaceae
Ipomoea ramosissima (Poir.) Choisy Corda-de-viola Herbácea x - 2 16,66 1,16 0,66 0,09 1 8,33 0,95 0,33 0,03
Cyperaceae
Cyperus distans L. f. Junquinho Herbácea x - 1 8,33 0,58 0,33 0,04 - - - - -
Cyperus iria L. Tiririca Herbácea x x 58 66,66 4,65 19,33 2,82 1842 100 11,42 614 58,29
Cyperus luzulae Hochst. ex Steud. Tiririca Herbácea x x 12 41,66 2,90 4,00 0,58 5 8,33 0,95 1,66 0,15
Scleria pterota C. Presl. Capa-cachorro Herbácea x x 2 16,66 1,16 0,66 0,09 1 8,33 0,95 0,33 0,03
Euphorbiaceae
Acalypha communis Mull. Arg. Algodãozinho Herbácea x x 9 41,66 2,90 3,00 0,43 19 58,33 6,66 6,33 0,60
Chamaesyce hirta (L.) Millsp. Erva-de-santa-luzia Herbácea x x 124 100 6,97 41,33 6,04 46 58,33 6,66 15,33 1,45
Fabaceae
Senna obtusifolia (L.) H.S. Irwin & Barneby Fedegoso Subarbustiva - x - - - - - 1 8,33 0,95 0,33 0,03
Lamiaceae
Marsypianthes chamaedrys (Vahl) Kuntze Alfavaca Herbácea x - 1 8,33 0,58 0,33 0,04 - - - - -
Hyptis sp. - Herbácea - x 1 8,33 0,58 0,33 0,04 - - - - -
Linderniaceae
Lindernia crustacea (L.) F. Muell. Mentinha Herbácea x - 2 8,33 0,58 0,66 0,09 - - - - -
Continua…
6. Tabela 1 – Continuação.
Família/Espécie Nome vulgar Hábito
Área de ocorrência Área ciliar 1 Área ciliar 2
1 2 n FA FR DA DR n FA FR DA DR
Lygodiaceae
Lygodium sp. - Herbácea x - 1 8,33 0,58 0,33 0,04 - - - - -
Lythraceae
Cuphea sp. - Herbácea x - 1 8,33 0,58 0,33 0,04 - - - - -
Malvaceae
Apeiba tibourbou Aubl. Escova-de-macaco Arbórea - x - - - - - 1 8,33 0,95 0,33 0,03
Triumfetta semitriloba Jacq. Carrapichão Subarbustiva x - 1 8,33 0,58 0,33 0,04 - - - - -
Melastomataceae
Bellucia gracilis (SS Renner) Penneys,
Michelang., Judd & Almeda
Figo-do-mato Arbórea x - 6 50 3,48 2,00 0,29 - - - - -
Clidemia sp. - Herbácea x - 1 8,33 0,58 0,33 0,04 - - - - -
Miconia sp. Quaresmeira Arbórea - x - - - - - 1 8,33 0,95 0,33 0,03
Não identificada 1 - Arbórea x - 1 8,33 0,58 0,33 0,04 - - - - -
Onagraceae
Ludwigia leptocarpa (Nutt.) H. Hara Cruz-de-malta Subarbustiva x - 143 41,66 2,90 47,66 6,97 - - - - -
Oxalidaceae
Oxalis corniculata L. Azedinha, trevinho Herbácea x x 726 100 6,97 242,00 35,41 645 100 11,42 215,00 20,41
Phyllanthaceae
Phyllanthus niruri L. Quebra-panela Herbácea x x 37 16,66 1,16 12,33 1,80 23 16,66 1,90 7,66 0,72
Phyllanthus benthamianus Müll. Arg. Quebra-pedra Herbácea x x 10 25 1,74 3,33 0,48 21 50 5,71 7,00 0,66
Piperaceae
Peperomia pellucida (L.) Kunth Erva-de-jabuti Herbácea x - 2 8,33 0,58 0,66 0,09 - - - - -
Piper sp.1. - Subarbustiva x - 2 8,33 0,58 0,66 0,09 - - - - -
Piper sp.2. - Subarbustiva x x 1 8,33 0,58 0,33 0,04 2 8,33 0,95 0,66 0,06
Piper sp.3. - Subarbustiva x 1 8,33 0,58 0,33 0,04 - - - - -
Pothomorphe umbellata (L.) Miq. Pariparoba Subarbustiva x x 3 8,33 0,58 1,00 0,14 1 8,33 0,95 0,33 0,03
Poaceae
Andropogon bicornis L. Rabo-de-burro Herbácea - x - - - - - 3 25 2,85 1,00 0,09
Choris barbata (L.) Sw. Capim-branco Herbácea x 5 16,66 1,16 1,66 0,24 - - - - -
Digitaria ciliaris (Retz.) Koel. Milhã Herbácea x - 1 8,33 0,58 0,33 0,04 - - - - -
Digitaria insularis (L.) Fedde Capim-amargoso Herbácea x - 28 50 3,48 9,33 1,36 - - - - -
Digitaria sp.1. - Herbácea x - 6 25 1,74 2,00 0,29 - - - - -
Digitaria sp.2. - Herbácea x - 1 8,33 0,58 0,33 0,04 - - - - -
Panicum pilosum Sw. - Herbácea x - 1 8,33 0,58 0,333 0,04 - - - - -
Panicum repens L. Capim-torpedo Herbácea x - 4 8,33 0,58 1,33 0,19 - - - - -
Paspalum compersun Schrad. Capim-milhã Herbácea x x 5 16,66 1,16 1,66 0,24 1 8,33 0,95 0,33 0,03
Continua…
7. Tabela 1 – Continuação.
Família/Espécie Nome vulgar Hábito
Área de ocorrência Área ciliar 1 Área ciliar 2
1 2 n FA FR DA DR n FA FR DA DR
Paspalum notatum Retz. Capim-mato-grosso Herbácea x - 3 25 1,74 1,00 0,14 - - - - -
Urochloa decumbens (Stapf) R.D. Webster Capim-brizantão Herbácea x x 27 58,33 4,06 9,00 1,31 63 91,66 10,47 21,00 1,99
Plantaginaceae
Stemodia trifoliata (Link) Rchb. Herbácea x - 1 8,33 0,58 0,33 0,04 - - - - -
Polygalaceae
Polygala spectabilis DC. - Herbácea - x - - - - - 2 16,66 1,90 0,66 0,06
Pteridaceae
Não identificada 2 Samabaia Herbácea x x 544 100 6,97 181,33 26,53 290 100 11,42 96,66 9,17
Rubiaceae
Diodia sp. - Herbácea x - 2 16,66 1,16 0,66 0,09 - - - - -
Diodia teres Walter Mata-pasto Herbácea x - 10 41,66 2,90 3,33 0,48 - - - - -
Sipanea pratensis Aubl. - Herbácea - x - - - - - 2 16,66 1,90 0,66 0,06
Não identificada 3 - Herbácea x x 3 16,66 1,16 1,00 0,14 1 8,33 0,95 0,33 0,03
Rutaceae
Zanthoxylum rhoifolium Lam. Mamica-de-porca Arbórea x - 2 8,33 0,58 0,66 0,09 - - - - -
Não identificada 4 - Herbácea x x 1 8,33 0,58 0,33 0,04 - - - - -
Solanaceae
Physalis angulata L. Balão-rajado Herbácea x - 1 8,33 0,58 0,33 0,04 - - - - -
Solanum granulosoleprosum Dunal Fumo-bravo Arbórea x x 31 100 6,98 10,33 1,51 19 66,66 7,61 6,33 0,60
Solanum viarum Dunal Juá-bravo Herbácea - x - - - - - 4 16,66 1,90 1,33 0,12
Talinacaceae
Talinum triangulare (Jacq.) Willd. Erva-gorda Herbácea x - 1 8,33 0,58 0,33 0,04 - - - - -
Urticaceae
Laportea sp. - Subarbustiva x - 1 8,33 0,58 0,33 0,04 - - - - -
Sendo: Área ciliar 1 = pastagem com 3 anos de formação; Área ciliar 2 = pastagem com 16 anos de formação; n= número total de indivíduos amostrados, FA= frequência absoluta
(%), FR = frequência relativa (%), DA = densidade absoluta (indivíduos m-2
) e DR = densidade relativa (%). Fonte: Autor (2023).
8. Oxalis corniculata teve destaque por ser
a espécie mais frequente, ou seja, esteve presente
em todas as amostras dos bancos de sementes de
ambas as áreas pesquisadas. As cinco espécies
com os maiores valores de frequência relativa na
área ciliar 1, que contribuíram com 34,3% do
total, são: Solanum granulosoleprosum,
Chamaesyce hirta, Oxalis corniculata, não
identificada 2 e Emilia coccínea. Por outro lado,
na área ciliar 2 as cinco espécies mais frequentes
foram: Cyperus iria, Oxalis corniculata, não
identificada 2, Urochloa decumbens, Solanum
granulosoleprosum, as quais juntas somaram
52,34% do total do valor relativo da frequência.
Merece evidenciar que Solanum
granulosoleprosum foi a única espécie arbórea
entre as mais frequentes nas duas áreas de estudo,
enquanto as demais são todas herbáceas.
O valor do índice de similaridade das
espécies vegetais amostradas nas duas áreas
ciliares foi de aproximadamente 0,43. De acordo
com Kent e Coker (1992), valores maiores ou
iguais a 0,50 indicam alta similaridade. Portanto,
seguindo essa indicação a similaridade florística
entre as duas áreas ciliares pode ser considerada
como baixa. Situações semelhantes também
foram observadas por Costa et al. (2013), em
quatro pastagens artificiais de capim-quicuío
(Brachiaria humidicola (Rendle) Schweick.),
com idades de 9 a 20 anos de formação,
implantadas em Manaus/AM. Suspeita-se que o
tempo de formação dos pastos e a quantidade de
atividades realizadas para o controle das plantas
daninhas, foram determinantes na redução das
fontes de sementes no pasto mais antigo
estudado. As permanências de alguns indivíduos
arbóreos nas pastagens poderiam contribuir no
enriquecimento e/ou adensamento do banco de
sementes, facilitando o processo de restauração
florestal passiva em ambas as áreas ciliares
pesquisadas.
Nas duas áreas ciliares estudadas
percebe-se a predominância de indivíduos de
espécies herbáceas, representando mais de 90%
das plantas amostradas, associadas a baixa
proporção de espécies arbustivas e arbóreas
presentes no banco de sementes. No banco de
sementes de uma área ciliar, em Coxim/MS,
Freitas et al. (2021) também identificaram o
predomínio de espécies herbáceas. Apenas 0,6%
e 0,4% dos indivíduos regenerados nos bancos de
sementes das áreas ciliares 1 e 2 eram
considerados arbóreos, respectivamente. A
redução do estoque de sementes florestais no
solo, com o aumento da idade de formação da
pastagem, pode ser atribuída à redução das fontes
de sementes ao longo do tempo. Novamente,
acredita-se que tal fato ocorreu por conta das
práticas de limpeza das pastagens, a fim de
controlar as plantas consideradas daninhas, entre
elas plantas arbustivas e arbóreas, por meio de
roçadas manuais e mecânicas e aplicação de
herbicidas.
Nas áreas ciliares 1 e 2 só regeneraram
seis espécies de hábito arbóreo, com as
respectivas densidades absolutas: Solanum
granulosoleprosum (103.333 e 63.333 plantas
ha-1
), Bellucia gracilis (20.000 e 0,0 plantas ha-
1
), Zanthoxylum rhoifolium (6.666 e 0,0 plantas
ha-1
), não identificada 1 (3.333 e 0,0 plantas ha-
1
), Apeiba tibourbou (0 e 3.333 plantas ha-1
) e
Miconia sp. (0 e 3.333 plantas ha-1
). Ao seguir
essa abordagem, é possível fazer uma estimativa
de 133.332 e 69.999 plantas ha-1
na área ciliar 1
e 2, respectivamente. Percebe-se que apesar da
baixa diversidade de espécies florestais presentes
no banco de sementes, entretanto, existe a
possibilidade de haver abundância de
regenerantes de forma natural, especialmente da
área ciliar 1. Conforme Lorenzi (2020 e 2022),
tais espécies arbóreas são consideradas quanto ao
grupo ecológico como pioneiras, assim sendo são
interessantes no processo de restauração florestal
passiva das áreas estudadas.
Nas duas áreas ciliares estudadas há o
predomínio de indivíduos de hábito herbáceo
regenerando intensamente, ultrapassando a 90%
do total de indivíduos amostrados. A densidade
excessiva de plantas herbáceas pode dificultar a
regeneração de espécies arbustivas e arbóreas
consideradas pioneiras, as quais são importantes
na fase inicial do processo sucessional da
vegetação. Conforme Fragoso et al. (2017) o
estabelecimento de indivíduos florestais nativos
em pastagens abandonadas é limitado em todas
as fases do início da sucessão, pois mesmo após
a dispersão das sementes e seguida da
germinação, vários fatores inter-relacionados
podem ainda limitar a sobrevivência e o
crescimento. Portanto, tais situações podem
retardar a restauração florestal passiva das áreas
ciliares degradadas estudadas, especialmente
quando baseada exclusivamente na regeneração
natural.
9. Diante desse contexto, torna-se relevante
a adoção de alternativas que possam auxiliar no
processo de restauração florestal. Especialmente,
em pontos que regeneração natural de indivíduos
arbóreos não ocorreu ou a densidade é
insatisfatória para o fechamento da área pelas
copas das árvores e arbustos. De acordo com
Calegari et al. (2013) é recomendado que sejam
utilizadas intervenções complementares, como:
plantio de mudas, semeadura direta de espécies
arbóreas e/ou implantação de poleiros artificiais,
a fim de acelerar a sucessão vegetal. Contudo,
seja qual for a origem e forma de regeneração das
arbóreas nas áreas sujeitas à restauração florestal,
é imprescindível manter a área isolada de forma
eficaz, evitando a entrada de animais domésticos,
especialmente bovinos e equinos. Ademais, é
importante manter um controle periódico da
competição entre plantas herbáceas,
especialmente com as gramíneas, e conduzir os
indivíduos arbóreos até o fechamento do dossel.
CONCLUSÃO
● Independentemente das idades das
pastagens os estoques de sementes no solo
apresentavam baixa diversidade de espécies
arbóreas.
● A restauração passiva das áreas pode
sofrer limitações por conta da competição com as
plantas herbáceas regenerantes via banco de
sementes.
● A restauração florestal das áreas pode
ser acelerada associando a regeneração natural de
forma passiva com outras estratégias de
restauração ativa.
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______________________________________
1- Rubens Marques Rondon Neto – Universidade
do Estado de Mato Grosso, Campus Alta
Floresta. Professor Adjunto, Doutor em Ciências
Florestais (Silvicultura).
rubens.marques@unemat.br
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