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Resumo: Poesia Marginal foi um acontecimento cultural dos anos 70, que em um ambiente de medo e
repressão militar que dominava o país naquela época de ditadura, teve o intuito de se expressar
livremente. Com um grande número de adeptos jovens buscaram caminhos alternativos para
contestar com a censura e transmitir a indignição e os seus sentimentos em relação à situação política
do Brasil. A leitura da poesia marginal há de apontar para as possibilidades abertas ao pensamento
filosófico pela literatura brasileira contemporânea.
Palavras-chave: Poesia marginal, repressão militar e expressar livremente

Influenciada pela primeira fase do Modernismo brasileiro, pelo Tropicalismo e por
movimentos de contracultura, tais como o rock, o movimento hippie, histórias em quadrinhos
e o cinema. A poesia marginal é tendente à coloquialidade, à espontaneidade, à
experimentação rítmica e musical, ao humor, à paródia e à representação do cotidiano urbano.
É uma exceção a algumas destas tendências o poeta Roberto Piva, mais tendente ao
Surrealismo e próximo à poesia da Geração Beat, demonstrando grande erudição em seus
poemas, tal qual o faz Geraldo Carneiro, que, no entanto, utiliza frequentemente recursos
semelhantes aos da poesia concreta.No Brasil, poesia marginal é a designação dada à poesia
produzida pela geração mimeógrafo, incluindo aí poetas absolutamente desconhecidos que
produziram suas obras fora do eixo Rio-São Paulo, embora ao redor do mundo se use o termo
para referir-se à tendências que funcionam independentemente de uma poesía "oficial",
canonicamente aceita.
O gênero de poesia que foi denominado de "marginal" no Brasil se tornou conhecido por este
nome porque seus poetas abandonaram os meios tradicionais de circulação das obras, através
de (editoras e livrarias), e buscaram meios alternativos, realizando cópias mimeografadas de
seus trabalhos, comercializados a baixo custo, vendidos de mão em mão, nas ruas, em praças
e nas universidades. Através dela, os poetas da geração mimeografada queriam se expressar
livremente em pleno regime da ditadura militar, bem como revelar novas vozes poéticas.
Esta tradição marginal se estendeu pelos anos de 1980, tendo utilizado também o recurso da
fotocópia e a produção de fanzines.
Possivelmente, possa-se considerar uma continuidade desta tendência na poesia que se
encontra apenas na Internet, sendo produzida por poetas que não usam outro meio de
divulgação, à parte de um mercado literário propriamente dito, ou da indústria cultural, por
postura ou exclusão, estando à margem não por motivos políticos, como a poesia marginal
dos anos de 1970, mas, principalmente, econômicos. A poesia marginal sempre foi do povo
do gueto, a dos participantes da antologia 26 Poetas Hoje, apresenta também, no geral,
tendência à oposição ao concretismo, pelo menos à sua forma mais usual, sendo a exploração
da subjetividade a principal característica a opô-los àquele movimento.
Historicamente, os primeiros sinais editoriais da poesia marginal foram os
folhetosmimeografados Travessa Bertalha de Charles Peixoto e Muito Prazer de Chacal,
ambosde 1971. Duas outras publicações também marcaram as fronteiras desse novo
territórioliterário. São elas: Me Segura qu¶eu vou dar um troço de Waly Salomão (1972) e
aedição póstuma de Últimos Dias de Paupéria, de Torquato Neto, (1972). Em 1973, a poesia
marginal já aparece como categoria poética nos encontros Expoesia I, na PUC RJe Expoesia
II em Curitiba. No ano seguinte, o evento PoemAção, três dias de mostras edebates, no MAM
RJ, com grande afluência de público, comprovou a presença literáriados marginais na cena
poética da época.O termo marginal (ou magistral como dizia o poeta Chacal), ambíguo desde
o início,oscilou numa gama inesgotável de sentidos: marginais da vida política do
país,marginais do mercado editorial, e, sobretudo, marginais do cânone literário. Foi uma
poesia que surgiu com perfil despretensioso e aparentemente superficial mas quecolocava em
pauta uma questão tão grave quanto relevante: o ethos de uma geraçãotraumatizada pelo
cerceamento de suas possibilidades de expressão pelo crivo violentoda censura e da repressão
militar. Em cada poema-piada, em cada improviso, em cadarima quebrada, além das marcas
de estilo da poesia marginal, pode-se entrever umaaguda sensibilidade para registrar ± com
maior ou menor lucidez, com maior ou menor destreza literária ± o dia-a-dia do momento
político em que viviam os poetas dachamada geração AI5.Determinados em não deixar o
³silêncio´ se instalar, os poetas marginais definiramuma poesia com fortes traços antiliterários que se chocava com o experimentalismoerudito das vanguardas daquele momento.
Uma dicção poética empenhada em ³brincar´com os padrões vigentes de qualidade literária,
de densidade hermenêutica do texto poético, da exigência de um leitor qualificado para a
plena fruição do poema e seussubtextos. Assim, os marginais, com um só gesto, desafiaram
não apenas a crítica, mastambém a instituição literária oferecendo uma poesia biodegradável
que não pareciaimportar-se nem com a permanência de sua produção, nem com o
reconhecimento dacrítica informada pelos padrões canônicos da historiografia literária. Ao
contrário,marcavam sua posição ao não explicitar qualquer projeto literário ou político e
aoapresentar-se claramente como não-programática, mostrando-se avessa à escolas e
aenquadramentos formais. Neste sentido, poderíamos considerar hoje os marginais
comoestruturalmente marcados por experiências que refletem uma quebra geral de certezas e
fórmulas sejam elas políticas, literárias ou existenciais.
O termo "marginal" foi cunhado pela própria professora e não remete à noção de fora-da-lei,
como poderia supor o leitor mais desavisado. Na verdade, ele se aplica a autores que tinham
dificuldade para emplacar suas obras em editoras de grande porte. Não é à toa, portanto, que
eles foram imortalizados pela expressão "geração do mimeógrafo", já que se valiam dessa
máquina para levar ao público consumidor, de forma ágil e barata, livros de pequena tiragem
bancados por conta própria. Entretanto, "26 poetas hoje" é emblemático porque fez justamente o
contrário: abriu as portas do mercado editorial para a maioria dos que participaram da antologia.
Além disso, marginal era aquele que traduzia em versos de postura anti-intelectual os problemas
do seu cotidiano, revelando sintonia com as mudanças políticas e comportamentais por que
passava o país. Uma época de repressão e censura impostas pelo governo militar, mas também
um período de assimilação da cultura pop, que o Tropicalismo de Caetano Veloso e Gilberto Gil
ajudou a introduzir.
É necessário fazer uma importante ressalva ao se analisar essa produção literária que marcou
os anos 70. Falar de poesia marginal não implica falar apenas de jovens inebriados por cinema,
cartoons e shows de rock. Ela não diz respeito somente a pessoas como Chacal e Charles, que
organizavam bem freqüentados recitais – as famosas "artimanhas" – e mergulhavam de cabeça
no ambiente de psicodelia típico daquela década. A antologia lançada por Heloisa Buarque de
Hollanda é prova disso. Constam dela escritores de pelo menos três gerações diferentes, com
valores e ideais distintos, mas que se irmanavam pela insatisfação com os anos de chumbo da
ditadura. Também se aproximavam pela utilização de "uma comunicabilidade direta, uma
linguagem cotidiana e nada rebuscada para expressar aquela realidade", explica Flávio Aguiar,
professor de literatura da Universidade de São Paulo (USP), que também participou dos "26
poetas hoje".
Por essa razão, soaria falso caracterizar a poesia marginal como um movimento. Até porque não
se percebe uma unidade ideológica, muito menos a manifestação de receitas sobre o modo de
se fazer literatura – como propunham os modernistas de 1922, encabeçados por Mario e Oswald
de Andrade, por exemplo. Tratava-se da partilha de um sentimento comum sobre uma realidade
hostil. "A grande qualidade da antologia da Heloisa foi revelar alguns poetas, mas o defeito
consistiu em colocar um rótulo em pessoas muito diferentes que estavam produzindo na mesma
época. Eles não se vêem como um grupo", garante Viviana Bosi, professora da USP.
Liberdade e repressão
Há quem diga que o ano de 1968 não acabou até hoje. Em Paris, durante o mês de maio,
centenas de milhares de jovens europeus tomaram as ruas da cidade com um objetivo no
mínimo ambicioso: mudar o mundo. Protestavam contra a manipulação exercida pelos meios de
comunicação de massa, lutavam pelo fim das discrepâncias entre homens e mulheres,
defendiam a preservação do meio ambiente. Enfim, clamavam por uma sociedade mais justa e,
acima de tudo, livre.
No Brasil, as manifestações de Paris também ecoaram para valer e apimentaram o já temperado
caldeirão político da época. O país havia completado quatro anos sob o domínio da ditadura, e a
pressão social pela redemocratização se acentuava. No campo das artes, Chico Buarque, com
sua peça de teatro "Roda Viva", e Caetano Veloso, através de sua canção "É proibido proibir",
funcionavam como porta-vozes dos críticos do regime militar. Entretanto, em reação à crescente
insatisfação popular, o general e presidente da república Costa e Silva assinou o Ato Institucional
de n°5 (AI5), no apagar das luzes de 1968. Imediatamente, começou um nebuloso período de
perseguições e repressão aos inimigos do governo.
As mídias de grande circulação e as manifestações culturais de massa, como o cinema e a
música, sofreram mais com a censura dos órgãos militares do que a literatura. "A poesia nunca
foi formadora de opinião, e não tinha o poder de fogo das outras artes. Por isso, não existia tanto
controle. De qualquer maneira, ela agregou muita gente nos anos 70. Os recitais eram muito
concorridos. Hoje isso é impensável", analisa Heloisa. A poesia marginal também seguiu a trilha
aberta pela imprensa alternativa, de que se destacam os jornais "Opinião", "Movimento" e
"Pasquim". "Havia um clima muito receptivo no país a esse tipo de publicação devido à censura.
Era uma forma de resistência cultural contra um mercado editorial considerado anacrônico e
contra o controle imposto pelo regime militar", conta Flávio Aguiar.
O florescimento da poesia marginal é fruto do choque entre a atmosfera repressiva, no plano
político interno, e a metamorfose comportamental que se verificava em esfera mundial. "Imagine
o que é ter 17 anos em 1968, com a ditadura comendo solta? Meu pai foi preso depois do AI5. Aí
aparecem o movimento hippie, o festival de Woodstock. Eu precisava de um canal para
responder a todas essas informações, e o canal foi a palavra", conta Chacal. Havia um tom de
desilusão no ar com relação aos métodos tradicionais de luta pregados pela esquerda – que não
pareciam a resposta adequada à violência dos novos tempos. Por outro lado, a liberdade
individual defendida pelos jovens de Paris era um convite à rebeldia, não à revolução.
"Foi um momento de demolição de dogmas, uma resposta aos que acreditavam, com a melhor
das intenções, que o intelectual era irmão do operário para fazer a revolução. O que os dois
tinham em comum? Ambos estavam fora do centro social, mas cada um se encontrava isolado
no seu mundo", argumenta Viviana Bosi. O clima de desilusão e de crítica a esse discurso em
certa medida populista é evidenciado por um poema de Charles intitulado "Perpétuo Socorro":
"O operário não tem nada com a minha dor
Bebemos a mesma cachaça por uma questão de gosto
ri do meu cabelo
minha cara estúpida de vagabundo
dopado de manhã no meio do trânsito
torrando o dinheirinho miúdo a tomar cachaça
pelo que aconteceu
pelo que não aconteceu
por uma agulha gelada furando o peito"
A ânsia de viver desregradamente, com cara de vagabundo dopado de manhã, rendeu à
geração de 70 o adjetivo de "desbundada" – trocando em miúdos, um grupo que queria tão
somente curtir a vida. Mas não eram apenas os jovens que enxergavam a necessidade de
repensar os métodos de militância política, ao fazer do próprio cotidiano a arma de protesto
contra o status quo. Na verdade, a poesia marginal nasceu da aliança entre esses poetas
influenciados pelo modo de vida alternativo da contracultura americana e os escritores que
vivenciaram o clima de disputa política profundamente ideologizada da década anterior. "Ao ler
Chico Alvim (um dos "26 poetas hoje"), que era marxista convicto, percebe-se que ele acha que
a retórica do Partido Comunista não tinha mais eficácia para a situação que se armou. Enxergase a vontade de buscar uma saída, mas não a saída da revolução comportamental, como fez a
geração do desbunde", afirma Heloisa.
Traços estilísticos
À primeira leitura, a poesia marginal dos anos 70 parece resgatar propostas formuladas pelos
escritores que redefiniram os rumos da literatura nacional na Semana de Arte Moderna de 1922,
realizada em São Paulo: versos com toque humorístico e linguagem coloquial, que revelam
pouca preocupação com a métrica ou com a rima, e que retratam situações bastante cotidianas.
Entretanto, os marginais foram além nessa vontade de casar poesia e vida, deixando de lado o
politicamente correto e se valendo do efeito libidinoso e dos palavrões – tão corriqueiros, diga-se
de passagem, nas conversas entre as pessoas. É o que se pode ver nos versos de "Epopéia",
de Cacaso, professor universitário que exerceu uma certa liderança entre os marginais,
conquistando admiradores e popularizando esse tipo de produção no meio acadêmico:
"O poeta mostra o pinto para a namorada
E proclama: eis o reino animal!
Pupilas fascinadas fazem jejum"
Abordar temas terrenos e subjetivos consistia numa crítica ao que era considerado cânone na
época, como a poesia de João Cabral de Mello Neto, por exemplo. Na concepção de alguns
marginais, a literatura do mestre pernambucano tinha um caráter muito maquinal e tecnicista,
com versos bem acabados, porém pouco antenados ao dia-a-dia. Também representava uma
alfinetada no projeto estético do concretismo, criado pelos irmãos Haroldo e Augusto de Campos
e por Décio Pignatari, que defendiam a "morte" do verso convencional ao darem mais
importância para a espacialização das palavras na transmissão de uma mensagem – uma
poesia que privilegiava os efeitos de caráter visual. Além disso, os marginais não se
enquadravam no engajamento político-partidário da poesia produzida nos moldes prescritos pelo
Centro de Cultura Popular, da União Nacional dos Estudantes (UNE), durante a década de 60.
Mas, se a opção por uma linguagem coloquial e temas pouco complexos já havia sido praticada
pelos modernistas, e se a crítica à conjuntura política também já tinha sido feita antes, o que de
fato singulariza os marginais? Pode-se dizer que eles "desengravataram" a poesia, que desceu
do pedestal e passou a freqüentar ambientes não tão eruditos. O público fiel, composto
principalmente de universitários que freqüentavam a zona sul do Rio de Janeiro ou os cinemas
de São Paulo, identificou-se com aquela maneira espontânea e inocente de peitar as grandes
editoras. "Era difícil entrar no mercado. Mas, com o avanço das técnicas gráficas, fazer um livro
de poucas páginas ficou barato, e o mimeógrafo se tornou a forma mais simples de reprodução.
Havia dificuldade para comercializar, e isso passou a ser feito de mão em mão, pelo próprio
autor, nas portas de restaurantes e teatros. A princípio era uma alternativa, depois virou uma
opção de recusa ao mercado tradicional", acrescenta Flávio Aguiar.
Legado
Quando Caetano Veloso, Gilberto Gil e companhia estremeceram a cena da música popular
brasileira com a Tropicália, no final da década de 60, estava claro que esse movimento
descendia diretamente da Antropofagia criada por Oswald de Andrade, quarenta anos antes. A
idéia de devorar as influências culturais vindas de fora, misturando-as ao pastiche de ritmos e
expressões genuinamente tupiniquins, demorou a ser digerida pela esquerda tradicional no país.
O som da guitarra era visto como uma verdadeira afronta aos valores nacionalistas e por isso
causou tanto alvoroço na época. Com a mesma ânsia que Caetano e Gil beberam da fonte de
um dos idealizadores da Semana de Arte Moderna de 1922, os poetas marginais da década de
70 também se apropriaram do canal de cultura pop desbravado pelos tropicalistas.
O piauiense Torquato Neto, que pertencia à linha de frente daquele movimento, é um dos
grandes responsáveis pela disseminação dos novos valores que deram o tom da produção
literária desenvolvida ao longo dos anos de chumbo da ditadura. Por essa razão, é considerado
um dos pais da poesia marginal. Entre 1971 e 1972, ele assinou a coluna "Geléia Geral" no
jornal "Última Hora", com textos que refletiam a efervescência contracultural que já havia
contaminado outras áreas, como as artes plásticas. Não é por acaso, portanto, que a
homenagem eternizada pelo slogan "seja marginal, seja herói", feita por Hélio Oiticica ao
traficante Cara de Cavalo, morto pela polícia em 1966, é considerada uma metáfora da aura
inquieta daqueles anos.
Apesar de se encontrarem autores independentes em diversas partes do Brasil, como São
Paulo, Belo Horizonte e Brasília, a poesia marginal na verdade é um fenômeno bastante
localizado, uma febre que assolou a classe média e universitária, que freqüentava a zona sul do
Rio de Janeiro. "Não acho que existisse um grupo coeso de poetas, mas pelo menos havia um
grupo. Isso também era devido à liderança exercida pelo Cacaso", afirma Flávio Aguiar. Foi
nessa região da capital fluminense que surgiram círculos de autores que se reuniam para lançar
publicações de poesia, como a revista "Navilouca" e a coleção "Frenesi", produzidas com
recursos próprios e vendidas de mão em mão. É no Rio de Janeiro também que surge a Nuvem
Cigana, um grupo formado não só por poetas, como Chacal e Ronaldo Bastos – parceiro de
Milton Nascimento em diversas composições –, mas também por pessoas como o cantor
Paulinho da Viola e o jogador de futebol Afonsinho, que se reuniam para organizar artimanhas e
eventos culturais de todo tipo.
Atualmente, o legado da poesia marginal pode ser visto sob diversos ângulos. No campo
específico das letras, o número de teses acadêmicas sobre autores como Chico Alvim e Ana
Cristina César só fazem crescer. "É bastante irônico. Na década de 70, eles não eram
considerados literatura, mas hoje são parte do cânone, viraram oficiais", afirma Heloisa. Outros
buscaram novas formas de expressão artística e acabaram migrando para a televisão, como é o
caso de Chacal e Charles, que se tornaram roteiristas da Rede Globo. Além disso, diversas
composições de sucesso, consagradas nas vozes de cantores bastante populares como Edu
Lobo, Moraes Moreira, Lulu Santos e Adriana Calcanhoto, foram feitas em parceria com os
poetas marginais.
É difícil resumir o espírito alvoroçado daquela época, em que a poesia preencheu uma parte do
vazio deixado pela repressão ostensiva aos movimentos organizados de contestação política. Os
marginais oscilam entre a necessidade de se libertar e a tensão por não se deixar controlar, mas
todos são reféns das suas individualidades, o que impossibilita qualquer generalização. "A
poesia marginal é um saco de gatos", brinca Chacal. Talvez também seja "como se todos
estivéssemos escrevendo um poema a mil mãos", como escreveu Cacaso.

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Relações entre a poesia marginal e a política dos anos 70 no brasil

  • 1. Resumo: Poesia Marginal foi um acontecimento cultural dos anos 70, que em um ambiente de medo e repressão militar que dominava o país naquela época de ditadura, teve o intuito de se expressar livremente. Com um grande número de adeptos jovens buscaram caminhos alternativos para contestar com a censura e transmitir a indignição e os seus sentimentos em relação à situação política do Brasil. A leitura da poesia marginal há de apontar para as possibilidades abertas ao pensamento filosófico pela literatura brasileira contemporânea. Palavras-chave: Poesia marginal, repressão militar e expressar livremente Influenciada pela primeira fase do Modernismo brasileiro, pelo Tropicalismo e por movimentos de contracultura, tais como o rock, o movimento hippie, histórias em quadrinhos e o cinema. A poesia marginal é tendente à coloquialidade, à espontaneidade, à experimentação rítmica e musical, ao humor, à paródia e à representação do cotidiano urbano. É uma exceção a algumas destas tendências o poeta Roberto Piva, mais tendente ao Surrealismo e próximo à poesia da Geração Beat, demonstrando grande erudição em seus poemas, tal qual o faz Geraldo Carneiro, que, no entanto, utiliza frequentemente recursos semelhantes aos da poesia concreta.No Brasil, poesia marginal é a designação dada à poesia produzida pela geração mimeógrafo, incluindo aí poetas absolutamente desconhecidos que produziram suas obras fora do eixo Rio-São Paulo, embora ao redor do mundo se use o termo para referir-se à tendências que funcionam independentemente de uma poesía "oficial", canonicamente aceita. O gênero de poesia que foi denominado de "marginal" no Brasil se tornou conhecido por este nome porque seus poetas abandonaram os meios tradicionais de circulação das obras, através de (editoras e livrarias), e buscaram meios alternativos, realizando cópias mimeografadas de seus trabalhos, comercializados a baixo custo, vendidos de mão em mão, nas ruas, em praças e nas universidades. Através dela, os poetas da geração mimeografada queriam se expressar livremente em pleno regime da ditadura militar, bem como revelar novas vozes poéticas. Esta tradição marginal se estendeu pelos anos de 1980, tendo utilizado também o recurso da fotocópia e a produção de fanzines. Possivelmente, possa-se considerar uma continuidade desta tendência na poesia que se encontra apenas na Internet, sendo produzida por poetas que não usam outro meio de
  • 2. divulgação, à parte de um mercado literário propriamente dito, ou da indústria cultural, por postura ou exclusão, estando à margem não por motivos políticos, como a poesia marginal dos anos de 1970, mas, principalmente, econômicos. A poesia marginal sempre foi do povo do gueto, a dos participantes da antologia 26 Poetas Hoje, apresenta também, no geral, tendência à oposição ao concretismo, pelo menos à sua forma mais usual, sendo a exploração da subjetividade a principal característica a opô-los àquele movimento. Historicamente, os primeiros sinais editoriais da poesia marginal foram os folhetosmimeografados Travessa Bertalha de Charles Peixoto e Muito Prazer de Chacal, ambosde 1971. Duas outras publicações também marcaram as fronteiras desse novo territórioliterário. São elas: Me Segura qu¶eu vou dar um troço de Waly Salomão (1972) e aedição póstuma de Últimos Dias de Paupéria, de Torquato Neto, (1972). Em 1973, a poesia marginal já aparece como categoria poética nos encontros Expoesia I, na PUC RJe Expoesia II em Curitiba. No ano seguinte, o evento PoemAção, três dias de mostras edebates, no MAM RJ, com grande afluência de público, comprovou a presença literáriados marginais na cena poética da época.O termo marginal (ou magistral como dizia o poeta Chacal), ambíguo desde o início,oscilou numa gama inesgotável de sentidos: marginais da vida política do país,marginais do mercado editorial, e, sobretudo, marginais do cânone literário. Foi uma poesia que surgiu com perfil despretensioso e aparentemente superficial mas quecolocava em pauta uma questão tão grave quanto relevante: o ethos de uma geraçãotraumatizada pelo cerceamento de suas possibilidades de expressão pelo crivo violentoda censura e da repressão militar. Em cada poema-piada, em cada improviso, em cadarima quebrada, além das marcas de estilo da poesia marginal, pode-se entrever umaaguda sensibilidade para registrar ± com maior ou menor lucidez, com maior ou menor destreza literária ± o dia-a-dia do momento político em que viviam os poetas dachamada geração AI5.Determinados em não deixar o ³silêncio´ se instalar, os poetas marginais definiramuma poesia com fortes traços antiliterários que se chocava com o experimentalismoerudito das vanguardas daquele momento. Uma dicção poética empenhada em ³brincar´com os padrões vigentes de qualidade literária, de densidade hermenêutica do texto poético, da exigência de um leitor qualificado para a plena fruição do poema e seussubtextos. Assim, os marginais, com um só gesto, desafiaram não apenas a crítica, mastambém a instituição literária oferecendo uma poesia biodegradável que não pareciaimportar-se nem com a permanência de sua produção, nem com o reconhecimento dacrítica informada pelos padrões canônicos da historiografia literária. Ao contrário,marcavam sua posição ao não explicitar qualquer projeto literário ou político e
  • 3. aoapresentar-se claramente como não-programática, mostrando-se avessa à escolas e aenquadramentos formais. Neste sentido, poderíamos considerar hoje os marginais comoestruturalmente marcados por experiências que refletem uma quebra geral de certezas e fórmulas sejam elas políticas, literárias ou existenciais. O termo "marginal" foi cunhado pela própria professora e não remete à noção de fora-da-lei, como poderia supor o leitor mais desavisado. Na verdade, ele se aplica a autores que tinham dificuldade para emplacar suas obras em editoras de grande porte. Não é à toa, portanto, que eles foram imortalizados pela expressão "geração do mimeógrafo", já que se valiam dessa máquina para levar ao público consumidor, de forma ágil e barata, livros de pequena tiragem bancados por conta própria. Entretanto, "26 poetas hoje" é emblemático porque fez justamente o contrário: abriu as portas do mercado editorial para a maioria dos que participaram da antologia. Além disso, marginal era aquele que traduzia em versos de postura anti-intelectual os problemas do seu cotidiano, revelando sintonia com as mudanças políticas e comportamentais por que passava o país. Uma época de repressão e censura impostas pelo governo militar, mas também um período de assimilação da cultura pop, que o Tropicalismo de Caetano Veloso e Gilberto Gil ajudou a introduzir. É necessário fazer uma importante ressalva ao se analisar essa produção literária que marcou os anos 70. Falar de poesia marginal não implica falar apenas de jovens inebriados por cinema, cartoons e shows de rock. Ela não diz respeito somente a pessoas como Chacal e Charles, que organizavam bem freqüentados recitais – as famosas "artimanhas" – e mergulhavam de cabeça no ambiente de psicodelia típico daquela década. A antologia lançada por Heloisa Buarque de Hollanda é prova disso. Constam dela escritores de pelo menos três gerações diferentes, com valores e ideais distintos, mas que se irmanavam pela insatisfação com os anos de chumbo da ditadura. Também se aproximavam pela utilização de "uma comunicabilidade direta, uma linguagem cotidiana e nada rebuscada para expressar aquela realidade", explica Flávio Aguiar, professor de literatura da Universidade de São Paulo (USP), que também participou dos "26 poetas hoje". Por essa razão, soaria falso caracterizar a poesia marginal como um movimento. Até porque não se percebe uma unidade ideológica, muito menos a manifestação de receitas sobre o modo de se fazer literatura – como propunham os modernistas de 1922, encabeçados por Mario e Oswald de Andrade, por exemplo. Tratava-se da partilha de um sentimento comum sobre uma realidade hostil. "A grande qualidade da antologia da Heloisa foi revelar alguns poetas, mas o defeito consistiu em colocar um rótulo em pessoas muito diferentes que estavam produzindo na mesma época. Eles não se vêem como um grupo", garante Viviana Bosi, professora da USP. Liberdade e repressão Há quem diga que o ano de 1968 não acabou até hoje. Em Paris, durante o mês de maio, centenas de milhares de jovens europeus tomaram as ruas da cidade com um objetivo no mínimo ambicioso: mudar o mundo. Protestavam contra a manipulação exercida pelos meios de comunicação de massa, lutavam pelo fim das discrepâncias entre homens e mulheres,
  • 4. defendiam a preservação do meio ambiente. Enfim, clamavam por uma sociedade mais justa e, acima de tudo, livre. No Brasil, as manifestações de Paris também ecoaram para valer e apimentaram o já temperado caldeirão político da época. O país havia completado quatro anos sob o domínio da ditadura, e a pressão social pela redemocratização se acentuava. No campo das artes, Chico Buarque, com sua peça de teatro "Roda Viva", e Caetano Veloso, através de sua canção "É proibido proibir", funcionavam como porta-vozes dos críticos do regime militar. Entretanto, em reação à crescente insatisfação popular, o general e presidente da república Costa e Silva assinou o Ato Institucional de n°5 (AI5), no apagar das luzes de 1968. Imediatamente, começou um nebuloso período de perseguições e repressão aos inimigos do governo. As mídias de grande circulação e as manifestações culturais de massa, como o cinema e a música, sofreram mais com a censura dos órgãos militares do que a literatura. "A poesia nunca foi formadora de opinião, e não tinha o poder de fogo das outras artes. Por isso, não existia tanto controle. De qualquer maneira, ela agregou muita gente nos anos 70. Os recitais eram muito concorridos. Hoje isso é impensável", analisa Heloisa. A poesia marginal também seguiu a trilha aberta pela imprensa alternativa, de que se destacam os jornais "Opinião", "Movimento" e "Pasquim". "Havia um clima muito receptivo no país a esse tipo de publicação devido à censura. Era uma forma de resistência cultural contra um mercado editorial considerado anacrônico e contra o controle imposto pelo regime militar", conta Flávio Aguiar. O florescimento da poesia marginal é fruto do choque entre a atmosfera repressiva, no plano político interno, e a metamorfose comportamental que se verificava em esfera mundial. "Imagine o que é ter 17 anos em 1968, com a ditadura comendo solta? Meu pai foi preso depois do AI5. Aí aparecem o movimento hippie, o festival de Woodstock. Eu precisava de um canal para responder a todas essas informações, e o canal foi a palavra", conta Chacal. Havia um tom de desilusão no ar com relação aos métodos tradicionais de luta pregados pela esquerda – que não pareciam a resposta adequada à violência dos novos tempos. Por outro lado, a liberdade individual defendida pelos jovens de Paris era um convite à rebeldia, não à revolução. "Foi um momento de demolição de dogmas, uma resposta aos que acreditavam, com a melhor das intenções, que o intelectual era irmão do operário para fazer a revolução. O que os dois tinham em comum? Ambos estavam fora do centro social, mas cada um se encontrava isolado no seu mundo", argumenta Viviana Bosi. O clima de desilusão e de crítica a esse discurso em certa medida populista é evidenciado por um poema de Charles intitulado "Perpétuo Socorro": "O operário não tem nada com a minha dor Bebemos a mesma cachaça por uma questão de gosto ri do meu cabelo minha cara estúpida de vagabundo dopado de manhã no meio do trânsito torrando o dinheirinho miúdo a tomar cachaça pelo que aconteceu pelo que não aconteceu por uma agulha gelada furando o peito"
  • 5. A ânsia de viver desregradamente, com cara de vagabundo dopado de manhã, rendeu à geração de 70 o adjetivo de "desbundada" – trocando em miúdos, um grupo que queria tão somente curtir a vida. Mas não eram apenas os jovens que enxergavam a necessidade de repensar os métodos de militância política, ao fazer do próprio cotidiano a arma de protesto contra o status quo. Na verdade, a poesia marginal nasceu da aliança entre esses poetas influenciados pelo modo de vida alternativo da contracultura americana e os escritores que vivenciaram o clima de disputa política profundamente ideologizada da década anterior. "Ao ler Chico Alvim (um dos "26 poetas hoje"), que era marxista convicto, percebe-se que ele acha que a retórica do Partido Comunista não tinha mais eficácia para a situação que se armou. Enxergase a vontade de buscar uma saída, mas não a saída da revolução comportamental, como fez a geração do desbunde", afirma Heloisa. Traços estilísticos À primeira leitura, a poesia marginal dos anos 70 parece resgatar propostas formuladas pelos escritores que redefiniram os rumos da literatura nacional na Semana de Arte Moderna de 1922, realizada em São Paulo: versos com toque humorístico e linguagem coloquial, que revelam pouca preocupação com a métrica ou com a rima, e que retratam situações bastante cotidianas. Entretanto, os marginais foram além nessa vontade de casar poesia e vida, deixando de lado o politicamente correto e se valendo do efeito libidinoso e dos palavrões – tão corriqueiros, diga-se de passagem, nas conversas entre as pessoas. É o que se pode ver nos versos de "Epopéia", de Cacaso, professor universitário que exerceu uma certa liderança entre os marginais, conquistando admiradores e popularizando esse tipo de produção no meio acadêmico: "O poeta mostra o pinto para a namorada E proclama: eis o reino animal! Pupilas fascinadas fazem jejum" Abordar temas terrenos e subjetivos consistia numa crítica ao que era considerado cânone na época, como a poesia de João Cabral de Mello Neto, por exemplo. Na concepção de alguns marginais, a literatura do mestre pernambucano tinha um caráter muito maquinal e tecnicista, com versos bem acabados, porém pouco antenados ao dia-a-dia. Também representava uma alfinetada no projeto estético do concretismo, criado pelos irmãos Haroldo e Augusto de Campos e por Décio Pignatari, que defendiam a "morte" do verso convencional ao darem mais importância para a espacialização das palavras na transmissão de uma mensagem – uma poesia que privilegiava os efeitos de caráter visual. Além disso, os marginais não se enquadravam no engajamento político-partidário da poesia produzida nos moldes prescritos pelo Centro de Cultura Popular, da União Nacional dos Estudantes (UNE), durante a década de 60. Mas, se a opção por uma linguagem coloquial e temas pouco complexos já havia sido praticada pelos modernistas, e se a crítica à conjuntura política também já tinha sido feita antes, o que de fato singulariza os marginais? Pode-se dizer que eles "desengravataram" a poesia, que desceu do pedestal e passou a freqüentar ambientes não tão eruditos. O público fiel, composto principalmente de universitários que freqüentavam a zona sul do Rio de Janeiro ou os cinemas de São Paulo, identificou-se com aquela maneira espontânea e inocente de peitar as grandes editoras. "Era difícil entrar no mercado. Mas, com o avanço das técnicas gráficas, fazer um livro
  • 6. de poucas páginas ficou barato, e o mimeógrafo se tornou a forma mais simples de reprodução. Havia dificuldade para comercializar, e isso passou a ser feito de mão em mão, pelo próprio autor, nas portas de restaurantes e teatros. A princípio era uma alternativa, depois virou uma opção de recusa ao mercado tradicional", acrescenta Flávio Aguiar. Legado Quando Caetano Veloso, Gilberto Gil e companhia estremeceram a cena da música popular brasileira com a Tropicália, no final da década de 60, estava claro que esse movimento descendia diretamente da Antropofagia criada por Oswald de Andrade, quarenta anos antes. A idéia de devorar as influências culturais vindas de fora, misturando-as ao pastiche de ritmos e expressões genuinamente tupiniquins, demorou a ser digerida pela esquerda tradicional no país. O som da guitarra era visto como uma verdadeira afronta aos valores nacionalistas e por isso causou tanto alvoroço na época. Com a mesma ânsia que Caetano e Gil beberam da fonte de um dos idealizadores da Semana de Arte Moderna de 1922, os poetas marginais da década de 70 também se apropriaram do canal de cultura pop desbravado pelos tropicalistas. O piauiense Torquato Neto, que pertencia à linha de frente daquele movimento, é um dos grandes responsáveis pela disseminação dos novos valores que deram o tom da produção literária desenvolvida ao longo dos anos de chumbo da ditadura. Por essa razão, é considerado um dos pais da poesia marginal. Entre 1971 e 1972, ele assinou a coluna "Geléia Geral" no jornal "Última Hora", com textos que refletiam a efervescência contracultural que já havia contaminado outras áreas, como as artes plásticas. Não é por acaso, portanto, que a homenagem eternizada pelo slogan "seja marginal, seja herói", feita por Hélio Oiticica ao traficante Cara de Cavalo, morto pela polícia em 1966, é considerada uma metáfora da aura inquieta daqueles anos. Apesar de se encontrarem autores independentes em diversas partes do Brasil, como São Paulo, Belo Horizonte e Brasília, a poesia marginal na verdade é um fenômeno bastante localizado, uma febre que assolou a classe média e universitária, que freqüentava a zona sul do Rio de Janeiro. "Não acho que existisse um grupo coeso de poetas, mas pelo menos havia um grupo. Isso também era devido à liderança exercida pelo Cacaso", afirma Flávio Aguiar. Foi nessa região da capital fluminense que surgiram círculos de autores que se reuniam para lançar publicações de poesia, como a revista "Navilouca" e a coleção "Frenesi", produzidas com recursos próprios e vendidas de mão em mão. É no Rio de Janeiro também que surge a Nuvem Cigana, um grupo formado não só por poetas, como Chacal e Ronaldo Bastos – parceiro de Milton Nascimento em diversas composições –, mas também por pessoas como o cantor Paulinho da Viola e o jogador de futebol Afonsinho, que se reuniam para organizar artimanhas e eventos culturais de todo tipo. Atualmente, o legado da poesia marginal pode ser visto sob diversos ângulos. No campo específico das letras, o número de teses acadêmicas sobre autores como Chico Alvim e Ana Cristina César só fazem crescer. "É bastante irônico. Na década de 70, eles não eram considerados literatura, mas hoje são parte do cânone, viraram oficiais", afirma Heloisa. Outros buscaram novas formas de expressão artística e acabaram migrando para a televisão, como é o caso de Chacal e Charles, que se tornaram roteiristas da Rede Globo. Além disso, diversas
  • 7. composições de sucesso, consagradas nas vozes de cantores bastante populares como Edu Lobo, Moraes Moreira, Lulu Santos e Adriana Calcanhoto, foram feitas em parceria com os poetas marginais. É difícil resumir o espírito alvoroçado daquela época, em que a poesia preencheu uma parte do vazio deixado pela repressão ostensiva aos movimentos organizados de contestação política. Os marginais oscilam entre a necessidade de se libertar e a tensão por não se deixar controlar, mas todos são reféns das suas individualidades, o que impossibilita qualquer generalização. "A poesia marginal é um saco de gatos", brinca Chacal. Talvez também seja "como se todos estivéssemos escrevendo um poema a mil mãos", como escreveu Cacaso.