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PROBLEMAS DE COMUNICAÇÃO
      INTERDIALETAL
DIALETO

Dialetos são variedades do emprego linguístico de uma
língua, que exprimem tendências empreendidas
coletivamente, havendo constituição coerente de um
domínio sociocultural presente na articulação
comunicativa por padrões de norma internos à
compreensão de seus falantes; configura-se assim, uma
especificidade linguística que é composta por variações
à conferir-lhe identidade.
Verificamos peculiaridades em determinado modo de
manifestação de língua segundo fatores determinantes;
os falantes podem expressar-se linguisticamente
diferentes, por uma qualificação regional, situação ou
condição socioeconômica aptas a configurar um dialeto;
uma vertente interna de língua majoritária. A existência
dialetal é fundamento para aqueles que a exercem, e
converge-lhes comunidade, por grupo que compartilhe
destes fatores comuns.

É necessário atentar-se às implicações que cercam tal
fenômeno, e suas potenciais problemáticas em âmbito
externo, nas relações sociais.
Considerações
A variedade de uma língua, advinda de determinada
condição, é empreendida por comunidades falantes que
explicitam determinado domínio de uso e expressão
cultural interna; seu entendimento.

Formam expressão de mundo em configuração
representativa específica, dialetos suscitam potencial
problema de choque entre diferenças quanto à visão de
mundo e aplicação de recursos semânticos e
lexicais, dadas relações entre falantes distintos em
variedade de domínio.
Contexto brasileiro
País amplo, com grande variabilidade regional e padrões
culturais distintos; propicia formação de estruturas dialetais.

Controvérsia à denominação destas variedades enquanto
dialetos, uma vez dito não haver barreiras de inteligibilidade
mediante os falantes de território nacional, tida unidade de
idioma Português.

No entanto, há variabilidade de termos específicos em
determinada região, grupos, ou expressões por designar
referentes diversos conforme local, que podem de
fato, propiciar mal entendimento.
Proposta
É danoso o não reconhecimento de problemáticas
comunicativas no território nacional, à medida que não
vistas, tornam-se prejudiciais por não serem resolvidas.
(Stella M. Bortoni-Ricardo).
Há presença de grande variedade de natureza do fenômeno:
Regionalismos,       parcelas     sociais,    deslocamento;
exemplificam não somente um domínio cultural original de
meio de fala específico, mas o configurar de identidade de
seus falantes; indicadores de condição social e determinado
perfil que comprometem-se mediante dificuldades de
interação, advindas de fatores diversos.
Rural - Urbano
Em análise:
Dificuldade de comunicação entre minorias migrantes de zonas
rurais, em contexto urbano.
( Brazlândia, cidade-satélite de Brasília).

Estrutura Metodológica de Análise:
• Estrutura de formação dialetal diversa, mas foco em oposição rural-
   urbana, fatores de minorias urbanas decorrentes, e grau de
   instrução, proximidade à norma culta.
• Dificuldades entre falantes de variedades com falantes de uso
   linguístico padrão e convívio cultural com o meio urbano.
• Corpus de análise composto por problemas de comunicação
   registrados em entrevista com migrantes de zona rural, residentes em
   cidade satélite de Brasília; Brazlandia.
• Identificação de natureza da dificuldade comunicativa, bem como
   estratégias possíveis de esclarecimento.
Posicionamento dos
      falantes, comportamento de
       entrevista e estratégias de
                   dissimulação.
   A contextualização do falante na entrevista, e o comportamento
Entrevista: Evento de fala caracterizado por entrevista como uma
estrutura sequencia mais fixa e a importância das determinações
rituais)

•Conceito de determinação ritual: Abstrações referentes aos
componentes da relação comunicativa em formação de imagens
mentais de posicionamento social segundo referência que se tem da
pessoa alheia, propondo assim equiparações e divergências de papel
social, e importância atribuída por associações àquela.

•Assimetria: Distanciamento dos falantes em suas qualificações
sociais.
Quebra de assimetria: intenção de informalização e destituição de progressão formal
da entrevista para melhor retrato das facetas do emprego linguísticas comumente
empreendidas no contexto social cotidiano:

• Estratégia de Convergência: acomodo de linguagem em patamar de entendimento
   para dissimulação das divergências de fala (todo tipo de alteração, para clarificação
   mediante não-entendimento).
• Reformulações de enunciado: seleção de termos equivalentes;
  “Participar, frequentar, ir: termos específicos para os de domínio popular.”

• Canais de Retorno-Interesse e envolvimento para melhor participação, inserção e
  diálogo.

• Ainda houveram complicações. Externalidade de não entendimento, omissão de
  informação ou incoerência, fornecimento de resposta e não complemento
  informacional posterior. Insegurança linguística dos informantes.
• Clarificação por sequências laterais, mediante o
  desconhecimento do item lexical(repertório), e
  manobras interpretativas que o entrevistado
  empreende, podendo articular termos recém
  decodificados        ou     substitui-los,     se
  desconfortável, posteriormente por familiares.
• Não     há    articulação   de    metalinguagem
  explicativa, como referência direta ao vocábulo
  incompreendido.
Manifestação de problemas
Há comunicação bem sucedida quando verifica-se equivalência de competência;
gramatical, pragmática, interpretativa e inferência intertextual para articulação
dos elementos constituintes de relação comunicativa.

É ocorrente nas entrevistas divergências dialetais de cunho fonológico, gramatical e
semântico, motivados por falta de familiarização com:
a) Determinadas regras fonológicas
b) Determinada variante gramatical
c) Significado de determinada palavra para um dialeto
d) Objeto ou estado de coisas a que a palavra se refere

Os problemas de nível semântico e pragmático pela manifestação da palavra são
causados por regras morfológicas e sintáticas que geraram interpretação errônea do
vocábulo, ou como ele é pronunciado internamente à comunidade, havendo aí, outro
sentido.

Inexistência de termos em uso pelo entrevistador no léxico do entrevistado
Compreensão de itens lexicais: Desconhecimento do entrevistado
frente à determinado termo, ou construção.

Casos polissêmicos: quando uma palavra possui amplitude de sentidos.
• Associação da palavra a um significado específico, que mediante
polissemia do termo, destoa ou limita sua intencionalidade, ao ser
empregado pelo entrevistador

 Ex: Sucesso; desejo
•. Sentidos usuais no dialeto : Sucesso o senso de fama.

Reconhecimento de um único significado:
“Presente apenas assimilado como ganho, em detrimento de estar ali.”
Transcrições

Mediante a coleta de material originário de falantes que
representem o foco de análise abordado, o pesquisador
visa o registro de ocorrências que comprovem sua
perspectiva, referente à manifestação de possíveis
problemas de comunicação entre falantes de dialetos
distintos.
“1.E:Você participa de alguma associação aqui em Brazlandia: os
Vicentinos, clube de oração, clube de mães, grupo de
dança, associação de moradores...Você participa e alguma delas ?
2.MO: Se tá...
3.E: Você está frequentando essas reuniões? Você está
frequentando, você está indo nessas reuniões?
4.MO: Eu sempre vô lá no São Vicente.”

• Verifica-se claramente como maior dificuldade deste trecho, o
  desconhecimento por parte do morador em referência ao item lexical
  empregado pelo entrevistador, quando utilizado; frequentar. Ocorre
  que não há presença comum deste item, na comunidade, e, ou seu
  emprego é restrito. É notável que não ocorre demonstração direta na
  falha de entendimento dada ao dialogo, ainda que haja, não verifica-
  se linguisticamente por parte dos moradores, citação direta ao objeto
  que lhes é desconhecido. Assim, o entrevistador parte para
  estratégias de convergência, que aqui manifestam-se na mudança de
  registro, para um termo compatível com o vocabulário do falante.
“1.E: A senhora num ouviu falá na televisão do ministro que caiu, tiraru
ele du...
2.MD: (71) (68): Não senhora. A, mia fia, eu num tô dizenu pa senhora, eu
sô surda; aqui passa as coisa, tá falanu lá, eu tô escutano, tô escutano, mas
num to entendenu, eu num tô entednenu cumé que é.
1.MR (59) (37): O qu’eu tô compreendenu de poco tempo pra cá é negoçu
de reporti. Qu, eu cumpanhu nutiça, reporti nu radio e televisão, que
agora qu’eu tô aprendenu, nunca tinha usado nem televisão, que a gente
morava na roça, e mesmo aqui né, mesmo aqui, é de pocos tempo pra cá
que os menino deu conta de comprá um radio.”

Aqui verifica-se claramente o posicionamento de desvantagem dos falantes
quanto à linguagem empregada em meios de comunicação, oque promove
afastamento social e ausência destas comunidades no meio de diálogo amplo.
Quando ocorre referência ao não entendimento, não se reconhece ineficácia
propriamente linguística, mas atribui-se à outras justificativas, como má
audição.
A assimetria verifica-se também, por próprio posicionamento do
falante, quando diretamente diz-se inapto a responder uma
questão, inferiorizando-se e externando sua simplicidade no comportamento
diante do entrevistador.
“1.B(Benzedeira): Outros traz um agradinho, um sabão assim...não é ?
2.P(Pesquisadora): Traz o quê ?
3.B: Traz um agradinho de - alimento, né ?
4.P: Como é que a senhora chama ?
5.B: Conceição Moreira!
6.P: Não !
7.B: Ah !”

Aqui há falha pragmática, ocorre mal entendido diretamente referente ao
emprego de determinada construção, e seu contexto de uso não familiar.
Verifica-se ambiguidade, e seleção da entrevistada pelo sentido não intencional
à fala da entrevistadora, que entende uma dúvida sobre seu próprio nome, em
detrimento de como fora nomeado, o “agrado”.
Ainda que fosse provável que ambas já tivessem sido apresentadas, a não
familiaridade com aquela construção de fala por parte do falante, gerou
desentendimento.
Se a entrevistadora tivesse optado por formas mais familiares que
dissimulassem as diferenças gramáticas e lexicais presentes no uso de língua
entre ela e o falante;
“Como a senhora fala isso ?”, a relação da questão com o objeto seria
esclarecida, havendo resposta coerente.
“1.E: depende de que o sucesso da gente? Pra gente conseguir alguma
coisa, depende de que? De quem ?
2.MP(47)(32):Uai, depedende da...da sistença da gente e da boa vontade
né? Num disisti daquilo, i sempri...
3.E: Mas que tipo de assistência seria essa ? Assistência assim, de alguém
?
4.MP: Não, assistença assim da gente mesmo falá: i’eu vô fazê
aquilo, aquilo qui i’eu tenho vontade, né, de trabalhá pra...pra se consegui
aquilo, a gente trabalha e consegue, o faiz aquilo que a gente tem vontade
de fazê, né ?”

Aqui verifica-se primeiramente um mal entendimento em aplicação
fonológica, que atribui incoerência semântica ao termo empregado. Estas
construções características são internamente viáveis na comunidade, mas
produzem ambiguidade e potencial substituição do termo intencional por
outro, quando há dialogo entre falantes de variedades distintas. “
Insistência”, é pronunciado como sistença, pelo falante; o
entrevistador, deslocado da familiaridade deste emprego, entende-o
unicamente como “assistência”. Na segunda fala, o falante entrevistado retoma
o termo como dito pelo entrevistador, mais ainda assim não altera seu
significado inicialmente utilizado, pois não reconhece o significado
característico nesta forma tal qual utilizada pelo entrevistador.
1.E: O senhor já tinha ganho prêmio antes, ou não ?
2.V (Vaqueiro):Cuma ?
3.E: É o primeiro prêmio que o senhor ganha, ou já
ganho outro antes ?
4.V: Não o primeiro foi este.

Aqui verifica-se o mal entendido, advindo de variantes
sintáticas inexistentes no vocabulário do falante, as
quais     uma      vez     retomadas      por     termos
familiares,    promovem       uma     recodificação    e
entendimento de sentido.(ganho; não usual ao emprego
coloquial do falante, e ganhado; mais comum).
“1.FD(31)(24)(apontando para a bochecha): Isso
aqui, ó, eu num tô aguentanu falá direito, tá duro. Isso
aqui inchô tanto que nem...nem agua. Agora já tô
conseguindo cumê, assim, comida.
2.E: O antibiótico tá fazendo efeito, né?
3.FD: Uhm ?
4.E: O remédio que você tá tomando...
5.FD:Tá, tá desinchanu.”

O entrevistador empregou termo advindo de variedade mais
formal, que inexiste no vocabulário do falante.
Mediante desconhecimento de “antibiótico”, o entrevistador
opta por mudar o registro, fazendo uso de um termo mais
familiar; “remédio”.
“1.E: E pra ter sucesso na vida, o que o senhor acha
que a pessoa precisa ?
2.BS(42)(29): Eu acho que tem que tê sorte
também, né, porque artista já nasce com aquele
dom. A pessoa que não nasceu pra cantá, ela tenta
cantá e não consegue nunca, né? E assim é otas arte
também.”

Dentro do domínio do falante, o termo “sucesso” está
associado apenas ao significado relativo de meio
artístico.
A relação feita aqui, para tanto, não é a mesma que a
mais usualmente empreendida no uso linguístico do
entrevistador.
Foram verificadas diversas estratégias de esclarecimento
demostradas por falantes entrevistados mediante o objeto de
incompreensão.
Pode-se referenciar procedimentos destinados à expor esta
dúvida;      pelo     silêncio     mediante     pergunta    do
entrevistador, repetição do termo estranho, ainda que não
plenamente entendido, interpreta-lo, arriscar uma composição
que o articule, expectativa de que o entrevistador complete o
sentido oracional expondo o significado da palavra, ou recurso
de alternativas dentro da própria construção de diálogo
(ou, você diz...).

Como já dito, não há usos propriamente metalinguísticos que
tratem da palavra desconhecida, como é aplicado pelo
entrevistador mediante um termo interno à comunidade que ele
desconheça.
Perspectiva do autor
O autor empreendeu pesquisa com intuito de desfazer
afirmação que, mediante unidade linguística, não
existem problemas de comunicação interdialetal no
Brasil, e demonstrando que estes, de fato
existindo, podem implicar sérias problemáticas sociais
que devem ser contornadas conforme possíveis
abordagem destas diferenças linguísticas.
Conclusão no social
• Processo de ininteligibilidade como fator de afastamento social e
  restrição à mobilidade de determinada massa, ou classe
  populacional.
• Acesso ao contexto público sofre limitação.
• Restrição de entendimentos, e participação social mediante recursos
  linguístico de meios de comunicação.
• Falantes de dialetos estigmatizados são desfavorecidos, oque
  contribui para que o emprego de patrimônio linguístico torne-se
  mecanismo de retração social no cenário amplo em que repercutem
  as formas padrões.
• Não entendimento de processos de intercomunicação e
  interpretação, inclusive diante do ensino do normativo padrão.
• Deve haver procedimento de ensino que reconheça esta
  variabilidade dialetal e opte por abordagem que permita identificar;
  mediante relação entre professore, aluno e recepção de material
  didático, os problemas de comunicação advindos de tal
  variabilidade, prevendo assim consequências sociais.
RICARDO-BORTONI, S.M. Problemas de comunicação
interdialetal. Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, v. 78-79, p. 9-
32, 1984

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  • 2. DIALETO Dialetos são variedades do emprego linguístico de uma língua, que exprimem tendências empreendidas coletivamente, havendo constituição coerente de um domínio sociocultural presente na articulação comunicativa por padrões de norma internos à compreensão de seus falantes; configura-se assim, uma especificidade linguística que é composta por variações à conferir-lhe identidade.
  • 3. Verificamos peculiaridades em determinado modo de manifestação de língua segundo fatores determinantes; os falantes podem expressar-se linguisticamente diferentes, por uma qualificação regional, situação ou condição socioeconômica aptas a configurar um dialeto; uma vertente interna de língua majoritária. A existência dialetal é fundamento para aqueles que a exercem, e converge-lhes comunidade, por grupo que compartilhe destes fatores comuns. É necessário atentar-se às implicações que cercam tal fenômeno, e suas potenciais problemáticas em âmbito externo, nas relações sociais.
  • 4. Considerações A variedade de uma língua, advinda de determinada condição, é empreendida por comunidades falantes que explicitam determinado domínio de uso e expressão cultural interna; seu entendimento. Formam expressão de mundo em configuração representativa específica, dialetos suscitam potencial problema de choque entre diferenças quanto à visão de mundo e aplicação de recursos semânticos e lexicais, dadas relações entre falantes distintos em variedade de domínio.
  • 5. Contexto brasileiro País amplo, com grande variabilidade regional e padrões culturais distintos; propicia formação de estruturas dialetais. Controvérsia à denominação destas variedades enquanto dialetos, uma vez dito não haver barreiras de inteligibilidade mediante os falantes de território nacional, tida unidade de idioma Português. No entanto, há variabilidade de termos específicos em determinada região, grupos, ou expressões por designar referentes diversos conforme local, que podem de fato, propiciar mal entendimento.
  • 6. Proposta É danoso o não reconhecimento de problemáticas comunicativas no território nacional, à medida que não vistas, tornam-se prejudiciais por não serem resolvidas. (Stella M. Bortoni-Ricardo). Há presença de grande variedade de natureza do fenômeno: Regionalismos, parcelas sociais, deslocamento; exemplificam não somente um domínio cultural original de meio de fala específico, mas o configurar de identidade de seus falantes; indicadores de condição social e determinado perfil que comprometem-se mediante dificuldades de interação, advindas de fatores diversos.
  • 7. Rural - Urbano Em análise: Dificuldade de comunicação entre minorias migrantes de zonas rurais, em contexto urbano. ( Brazlândia, cidade-satélite de Brasília). Estrutura Metodológica de Análise: • Estrutura de formação dialetal diversa, mas foco em oposição rural- urbana, fatores de minorias urbanas decorrentes, e grau de instrução, proximidade à norma culta. • Dificuldades entre falantes de variedades com falantes de uso linguístico padrão e convívio cultural com o meio urbano. • Corpus de análise composto por problemas de comunicação registrados em entrevista com migrantes de zona rural, residentes em cidade satélite de Brasília; Brazlandia. • Identificação de natureza da dificuldade comunicativa, bem como estratégias possíveis de esclarecimento.
  • 8. Posicionamento dos falantes, comportamento de entrevista e estratégias de dissimulação. A contextualização do falante na entrevista, e o comportamento Entrevista: Evento de fala caracterizado por entrevista como uma estrutura sequencia mais fixa e a importância das determinações rituais) •Conceito de determinação ritual: Abstrações referentes aos componentes da relação comunicativa em formação de imagens mentais de posicionamento social segundo referência que se tem da pessoa alheia, propondo assim equiparações e divergências de papel social, e importância atribuída por associações àquela. •Assimetria: Distanciamento dos falantes em suas qualificações sociais.
  • 9. Quebra de assimetria: intenção de informalização e destituição de progressão formal da entrevista para melhor retrato das facetas do emprego linguísticas comumente empreendidas no contexto social cotidiano: • Estratégia de Convergência: acomodo de linguagem em patamar de entendimento para dissimulação das divergências de fala (todo tipo de alteração, para clarificação mediante não-entendimento). • Reformulações de enunciado: seleção de termos equivalentes; “Participar, frequentar, ir: termos específicos para os de domínio popular.” • Canais de Retorno-Interesse e envolvimento para melhor participação, inserção e diálogo. • Ainda houveram complicações. Externalidade de não entendimento, omissão de informação ou incoerência, fornecimento de resposta e não complemento informacional posterior. Insegurança linguística dos informantes.
  • 10. • Clarificação por sequências laterais, mediante o desconhecimento do item lexical(repertório), e manobras interpretativas que o entrevistado empreende, podendo articular termos recém decodificados ou substitui-los, se desconfortável, posteriormente por familiares. • Não há articulação de metalinguagem explicativa, como referência direta ao vocábulo incompreendido.
  • 11. Manifestação de problemas Há comunicação bem sucedida quando verifica-se equivalência de competência; gramatical, pragmática, interpretativa e inferência intertextual para articulação dos elementos constituintes de relação comunicativa. É ocorrente nas entrevistas divergências dialetais de cunho fonológico, gramatical e semântico, motivados por falta de familiarização com: a) Determinadas regras fonológicas b) Determinada variante gramatical c) Significado de determinada palavra para um dialeto d) Objeto ou estado de coisas a que a palavra se refere Os problemas de nível semântico e pragmático pela manifestação da palavra são causados por regras morfológicas e sintáticas que geraram interpretação errônea do vocábulo, ou como ele é pronunciado internamente à comunidade, havendo aí, outro sentido. Inexistência de termos em uso pelo entrevistador no léxico do entrevistado
  • 12. Compreensão de itens lexicais: Desconhecimento do entrevistado frente à determinado termo, ou construção. Casos polissêmicos: quando uma palavra possui amplitude de sentidos. • Associação da palavra a um significado específico, que mediante polissemia do termo, destoa ou limita sua intencionalidade, ao ser empregado pelo entrevistador Ex: Sucesso; desejo •. Sentidos usuais no dialeto : Sucesso o senso de fama. Reconhecimento de um único significado: “Presente apenas assimilado como ganho, em detrimento de estar ali.”
  • 13. Transcrições Mediante a coleta de material originário de falantes que representem o foco de análise abordado, o pesquisador visa o registro de ocorrências que comprovem sua perspectiva, referente à manifestação de possíveis problemas de comunicação entre falantes de dialetos distintos.
  • 14. “1.E:Você participa de alguma associação aqui em Brazlandia: os Vicentinos, clube de oração, clube de mães, grupo de dança, associação de moradores...Você participa e alguma delas ? 2.MO: Se tá... 3.E: Você está frequentando essas reuniões? Você está frequentando, você está indo nessas reuniões? 4.MO: Eu sempre vô lá no São Vicente.” • Verifica-se claramente como maior dificuldade deste trecho, o desconhecimento por parte do morador em referência ao item lexical empregado pelo entrevistador, quando utilizado; frequentar. Ocorre que não há presença comum deste item, na comunidade, e, ou seu emprego é restrito. É notável que não ocorre demonstração direta na falha de entendimento dada ao dialogo, ainda que haja, não verifica- se linguisticamente por parte dos moradores, citação direta ao objeto que lhes é desconhecido. Assim, o entrevistador parte para estratégias de convergência, que aqui manifestam-se na mudança de registro, para um termo compatível com o vocabulário do falante.
  • 15. “1.E: A senhora num ouviu falá na televisão do ministro que caiu, tiraru ele du... 2.MD: (71) (68): Não senhora. A, mia fia, eu num tô dizenu pa senhora, eu sô surda; aqui passa as coisa, tá falanu lá, eu tô escutano, tô escutano, mas num to entendenu, eu num tô entednenu cumé que é. 1.MR (59) (37): O qu’eu tô compreendenu de poco tempo pra cá é negoçu de reporti. Qu, eu cumpanhu nutiça, reporti nu radio e televisão, que agora qu’eu tô aprendenu, nunca tinha usado nem televisão, que a gente morava na roça, e mesmo aqui né, mesmo aqui, é de pocos tempo pra cá que os menino deu conta de comprá um radio.” Aqui verifica-se claramente o posicionamento de desvantagem dos falantes quanto à linguagem empregada em meios de comunicação, oque promove afastamento social e ausência destas comunidades no meio de diálogo amplo. Quando ocorre referência ao não entendimento, não se reconhece ineficácia propriamente linguística, mas atribui-se à outras justificativas, como má audição. A assimetria verifica-se também, por próprio posicionamento do falante, quando diretamente diz-se inapto a responder uma questão, inferiorizando-se e externando sua simplicidade no comportamento diante do entrevistador.
  • 16. “1.B(Benzedeira): Outros traz um agradinho, um sabão assim...não é ? 2.P(Pesquisadora): Traz o quê ? 3.B: Traz um agradinho de - alimento, né ? 4.P: Como é que a senhora chama ? 5.B: Conceição Moreira! 6.P: Não ! 7.B: Ah !” Aqui há falha pragmática, ocorre mal entendido diretamente referente ao emprego de determinada construção, e seu contexto de uso não familiar. Verifica-se ambiguidade, e seleção da entrevistada pelo sentido não intencional à fala da entrevistadora, que entende uma dúvida sobre seu próprio nome, em detrimento de como fora nomeado, o “agrado”. Ainda que fosse provável que ambas já tivessem sido apresentadas, a não familiaridade com aquela construção de fala por parte do falante, gerou desentendimento. Se a entrevistadora tivesse optado por formas mais familiares que dissimulassem as diferenças gramáticas e lexicais presentes no uso de língua entre ela e o falante; “Como a senhora fala isso ?”, a relação da questão com o objeto seria esclarecida, havendo resposta coerente.
  • 17. “1.E: depende de que o sucesso da gente? Pra gente conseguir alguma coisa, depende de que? De quem ? 2.MP(47)(32):Uai, depedende da...da sistença da gente e da boa vontade né? Num disisti daquilo, i sempri... 3.E: Mas que tipo de assistência seria essa ? Assistência assim, de alguém ? 4.MP: Não, assistença assim da gente mesmo falá: i’eu vô fazê aquilo, aquilo qui i’eu tenho vontade, né, de trabalhá pra...pra se consegui aquilo, a gente trabalha e consegue, o faiz aquilo que a gente tem vontade de fazê, né ?” Aqui verifica-se primeiramente um mal entendimento em aplicação fonológica, que atribui incoerência semântica ao termo empregado. Estas construções características são internamente viáveis na comunidade, mas produzem ambiguidade e potencial substituição do termo intencional por outro, quando há dialogo entre falantes de variedades distintas. “ Insistência”, é pronunciado como sistença, pelo falante; o entrevistador, deslocado da familiaridade deste emprego, entende-o unicamente como “assistência”. Na segunda fala, o falante entrevistado retoma o termo como dito pelo entrevistador, mais ainda assim não altera seu significado inicialmente utilizado, pois não reconhece o significado característico nesta forma tal qual utilizada pelo entrevistador.
  • 18. 1.E: O senhor já tinha ganho prêmio antes, ou não ? 2.V (Vaqueiro):Cuma ? 3.E: É o primeiro prêmio que o senhor ganha, ou já ganho outro antes ? 4.V: Não o primeiro foi este. Aqui verifica-se o mal entendido, advindo de variantes sintáticas inexistentes no vocabulário do falante, as quais uma vez retomadas por termos familiares, promovem uma recodificação e entendimento de sentido.(ganho; não usual ao emprego coloquial do falante, e ganhado; mais comum).
  • 19. “1.FD(31)(24)(apontando para a bochecha): Isso aqui, ó, eu num tô aguentanu falá direito, tá duro. Isso aqui inchô tanto que nem...nem agua. Agora já tô conseguindo cumê, assim, comida. 2.E: O antibiótico tá fazendo efeito, né? 3.FD: Uhm ? 4.E: O remédio que você tá tomando... 5.FD:Tá, tá desinchanu.” O entrevistador empregou termo advindo de variedade mais formal, que inexiste no vocabulário do falante. Mediante desconhecimento de “antibiótico”, o entrevistador opta por mudar o registro, fazendo uso de um termo mais familiar; “remédio”.
  • 20. “1.E: E pra ter sucesso na vida, o que o senhor acha que a pessoa precisa ? 2.BS(42)(29): Eu acho que tem que tê sorte também, né, porque artista já nasce com aquele dom. A pessoa que não nasceu pra cantá, ela tenta cantá e não consegue nunca, né? E assim é otas arte também.” Dentro do domínio do falante, o termo “sucesso” está associado apenas ao significado relativo de meio artístico. A relação feita aqui, para tanto, não é a mesma que a mais usualmente empreendida no uso linguístico do entrevistador.
  • 21. Foram verificadas diversas estratégias de esclarecimento demostradas por falantes entrevistados mediante o objeto de incompreensão. Pode-se referenciar procedimentos destinados à expor esta dúvida; pelo silêncio mediante pergunta do entrevistador, repetição do termo estranho, ainda que não plenamente entendido, interpreta-lo, arriscar uma composição que o articule, expectativa de que o entrevistador complete o sentido oracional expondo o significado da palavra, ou recurso de alternativas dentro da própria construção de diálogo (ou, você diz...). Como já dito, não há usos propriamente metalinguísticos que tratem da palavra desconhecida, como é aplicado pelo entrevistador mediante um termo interno à comunidade que ele desconheça.
  • 22. Perspectiva do autor O autor empreendeu pesquisa com intuito de desfazer afirmação que, mediante unidade linguística, não existem problemas de comunicação interdialetal no Brasil, e demonstrando que estes, de fato existindo, podem implicar sérias problemáticas sociais que devem ser contornadas conforme possíveis abordagem destas diferenças linguísticas.
  • 23. Conclusão no social • Processo de ininteligibilidade como fator de afastamento social e restrição à mobilidade de determinada massa, ou classe populacional. • Acesso ao contexto público sofre limitação. • Restrição de entendimentos, e participação social mediante recursos linguístico de meios de comunicação. • Falantes de dialetos estigmatizados são desfavorecidos, oque contribui para que o emprego de patrimônio linguístico torne-se mecanismo de retração social no cenário amplo em que repercutem as formas padrões. • Não entendimento de processos de intercomunicação e interpretação, inclusive diante do ensino do normativo padrão. • Deve haver procedimento de ensino que reconheça esta variabilidade dialetal e opte por abordagem que permita identificar; mediante relação entre professore, aluno e recepção de material didático, os problemas de comunicação advindos de tal variabilidade, prevendo assim consequências sociais.
  • 24. RICARDO-BORTONI, S.M. Problemas de comunicação interdialetal. Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, v. 78-79, p. 9- 32, 1984