O documento discute a prevenção e diagnóstico precoce do cancro gástrico. Apresenta informações sobre a anatomia do estômago, tipos de cancro gástrico, fatores de risco como a bactéria Helicobacter pylori, sintomas, métodos de diagnóstico como a endoscopia, e formas de prevenção.
Saúde Intestinal - 5 práticas possíveis para manter-se saudável
Prevenção e Diagnóstico Precoce do Cancro Gástrico
1. Prevenção e Diagnóstico Precoce do Cancro Gástrico
B R A G A N Ç A – 1 4 D E J U N H O D E 2 0 1 9
D R . R I C A R D O V E LO S O
R I C A R D O .V E LO S O .G A S T R O @ G M A I L .C O M
2. Algumas bases anatómicas
• Órgão do tubo digestivo situado entre o esófago e
o duodeno
• É responsável pelo processo de digestão de vários
alimentos
• É um órgão com várias camadas, sendo que a
maioria dos cancros se desenvolve na sua camada
superficial
• É perfeitamente possível viver sem estômago,
apesar de este desempenhar vários papéis muito
importantes no nosso organismo
3. O que é o cancro
do estômago?
• É um tumor que ocorre no estômago, habitualmente na camada mais
“superficial” do estômago (mucosa)
• A maioria são adenocarcinomas (90% dos casos)
• Muitas vezes utilizados como sinónimos
• É um tipo de cancro muitas vezes difícil de diagnosticar porque os sintomas
são tardios e inespecíficos
• 50% diagnosticados numa fase em que já há metástases para outros
órgãos
• Em 1975 era o cancro mais frequente a nível mundial
• Preservação da comida em sal
• Helicobacter pylori
• Dificuldade na realização de endoscopias
4. Apenas há um tipo de
cancro do estômago?
• Há, na realidade, múltiplos tipos de cancros do estômago
• De longe os mais frequentes são os adenocarcinomas (90% dos casos)
• CONTUDO, ter cancro gástrico não é igual a ter um adenocarcinoma e o tipo
de cancro gástrico duma pessoa pode ser totalmente diferente do cancro
gástricos doutra pessoa
• Tratamentos e prognósticos muito diferentes
• Os adenocarcinomas são mais frequentes nos homens, especialmente a partir
dos 55 anos
• Enorme variabilidade mundial na distribuição do cancro gástrico
5. Uma perspectiva
histórica
• Em 1975 era o cancro mais frequente a nível
mundial
• Atualmente é o quarto cancro mais
frequente mundialmente. Contudo, é o
terceiro cancro que mais pessoas mata em
todo o mundo
• É mais frequente nos países asiáticos e na
Europa do Leste mas Portugal tem das
maiores incidências deste cancro dentro dos
países da União Europeia
6. O cancro do estômago é assim um problema tão grave?
7. O cancro do estômago é assim um problema tão grave?
8. O cancro do estômago é assim um problema tão grave?
9. O cancro do estômago é assim um problema tão grave?
IA 71%
IB 57%
IIA 46%
IIB –> 33%
IIIA 20%
IIIB 14%
IV 4%
10. Há muito cancro do estômago em Portugal?
• Portugal é um dos países da Europa com maior incidência de
cancro gástrico
• Apesar do declínio da incidência nas últimas décadas, a previsão
é que a incidência do cancro gástrico comece novamente a
aumentar
• Helicobacter pylori
• Envelhecimento da população
• Mais diagnóstico?
• Hábitos alimentares
12. O que causa o cancro do estômago?
• Não há um único factor que provoque cancro gástrico
13. Quais são os sintomas mais frequentes do cancro gástrico?
• Os sintomas são, na maioria, tardios e inespecíficos!!
Cancro
gástrico
Dor
abdominal
Perda de
peso
Náuseas
persistentes
Disfagia
(dificuldade
em engolir)
Enfartamento
Anemia
por perda
de ferro
Hemorragia
digestiva
Etc.,
etc.,
etc…
15. O que é “essa coisa” do
Helicobacter pylori?
• Bacilo microaerofílico Gram –
• Forma espiral com cerca de 3,5-0,5 µm
• 2-7 flagelos com bainha unipolar melhor mobilidade
• Capaz de formar formas cocóides (quiescentes) quando as condições não são
favoráveis
• Estrategicamente concebido para sobreviver ao ambiente gástrico hostil
• Flagelos, forma espiral
• Urease
• Ilha de patogenecidade cag-PAI; vacA, adesinas, …
16. O que é “essa coisa”
do Helicobacter pylori?
• Infecta os humanos desde há 58.000 anos
• Descoberta em 1982 pelos investigadores
Marshall e Warren
• Prémio Nobel da Medicina em 2005
• Considerado Carcinogénio tipo 1 pela
International Agency on Research on Cancer desde
1998
• Tal como o amianto, substâncias radioactivas,
VHC, VHB, poluição atmosférica, …
• Responsável por 50-80% dos cancros gástricos!
17. Todas as pessoas têm
esta bactéria?
• Caso ímpar de sucesso bacteriano
• Uma das infecções bacterianas mais frequentes do mundo (a mais?)
• Infecta mais de 50% da população mundial (mais de 80% da população
de países em vias de denvolvimento… e Portugal…)
• Habitualmente adquirida em idade pediátrica
• Mais nos países em vias de desenvolvimento
• Re-infecção e aquisição da infecção em idade adulta pouco frequente
• Método provável de infecção feco-oral / oral-oral
• Humanos como maior reservatório da doença
• Mais facilmente transmissível em familias numerosas, de baixo nível
sócio-económico, com baixo nível de instrução, habitando um país em
vias de desenvolvimento e com más condições sanitárias
18. Como é que esta bactéria
provoca cancro?
• Não se acorda um dia com cancro…
• Processo demorado (7-10 anos)
• Influência de múltiplos factores
• Do hospedeiro
• Da bactéria
• Do meio ambiente
19. Todas as pessoas devem ser tratadas?
Estabelecidos
• DUP (úlceras) activa ou passada
(não tratada)
• MALToma (baixo grau)
• Após resseção endoscópica de
cancro gástrico precoce
• Dispepsia não previamente
investigada
Controversos
• Dispepsia funcional
• DRGE
• Toma frequente de AINEs
• Anemia ferropénica inexplicável / PTI /
rosácea
• Populações de alto risco de cancro
gástrico
• Metaplasia/atrofia/displasia
20. Todas as pessoas devem ser tratadas?
• Opinião pessoal...
• SIM!
H.p.
Carcinogénio
tipo 1
Responsável
por 50-80%
dos ca
gástricos
Sem
função
biológica
Relação
com
múltiplas
doenças
Vários estudos
a demonstrar
eficácia na
diminuição do
cancro gástrico
após
erradicação
21. O tratamento é fácil e 100% eficaz?
• Infelizmente… Não…
• Em Portugal temos elevadas taxas de
resistências aos antibióticos que fazem com
que o tratamento não seja 100% eficaz…
22. Há mesmo benefícios em tratar o H.pylori?
Comprovados
• Úlceras gástricas e duodenais H.p. +
• MALToma
• Cancro gástrico precoce após
tratamento endoscópico
• Dispepsia não investigada
Prováveis
• História familiar de cancro gástrico
• Gastrite atrófica
• Dispepsia funcional
• Uso persistente de anti-
inflamatórios não esteroides
• Anemia ferropénica
• PTI
• Gastrite linfocítica / Doença de
Menetrier / Pólipos Hiperplásicos
• Doença do Refluxo Gastro-Esofágico
Eventuais riscos
• Gastrite predominante no corpo
gástrico
• Cancro esofágico
• Asma e rinite alérgica
• Resistência aos antibióticos
• TODOS ELES NÃO COMPROVADOS
26. Como podemos
diagnosticar o cancro do
estômago?
• O método mais acessível, mais fiável e mais
“simples” é a Endoscopia Digestiva Alta
• Os métodos de imagem como a ecografia e a
TAC também podem oferecer um diagnóstico
provável, mas não têm a capacidade para
fazer biopsias
27. A endoscopia é aquela coisa horrível?
• Não!
• E sim só um bocado…
• É um exame invasivo e desconfortável, apesar de não ser doloroso
• Há sempre a hipótese de fazer a endoscopia sob sedação
• O MEDO DO EXAME NUNCA DEVE SER UM MOTIVO PARA NÃO O FAZER!
28. Todas as pessoas em Portugal deviam fazer uma endoscopia?
• É um tema controverso
• Ultimamente vários estudos têm reportados excelentes resultados em populações asiáticas com programas de
rastreio por endoscopia digestiva alta
• Permitem diagnóstico do cancro em fases muito precoces / assintomáticas
• Permitem a pesquisa do Helicobacter pylori e sua erradicação
• Permitem a descoberta das lesões percursoras do cancro (atrofia metaplasia displasia) e adequada vigilância das
mesmas
• MAS…
• Economicamente dispendioso
• Exame invasivos (pouca possibilidade de o fazer sempre sob sedação… Poucos recursos…)
• Ainda não temos a certeza se esta será a abordagem mais correcta nos povos ocidentais
• Efectuar ao mesmo tempo que o rastreio do cancro colorectal?...
29. E quanto a devem fazer?
• Na presença de sintomas / sinais de alarme
• Especialmente com história familiar ou > 55 anos
• 10 anos antes do caso mais precoce de cancro gástrico na família?
• Aos 50 anos em toda a população?
30. Rastreio / Deteção precoce
do cancro gástrico
•Tema ainda controverso
• Provavelmente mais eficaz e necessário em populações de alto
risco
• Como os portugueses…
• Qual a maneira melhor de o fazer? Quando o fazer?
• Diagnóstico mais precoce = melhor sobrevida
• Possibilidade até de tratamento não cirúrgico
31. Como posso prevenir o cancro gástrico?
• Não fume!
• Consumo moderado de bebidas alcoólicas
• Evite alimentos preservados em sal / enchidos
• Prefira os vegetais e frutas frescas; evite carnes vermelhas
• Tratar o Helicobacter pylori (se presente)
• Esteja atento aos seus sintomas
• Participe no seu processo de diagnóstico e tratamento
• Fale com o seu Médico de Família sobre os seus sintomas, história familiar e hábitos alimentares
• Pergunte se necessita de efectuar uma endoscopia digestiva alta e quando
32. Tenho cancro gástrico?... O que vai
acontecer?
• Tenha calma, apesar de isso ser difícil…
• Cada vez mais somos melhores no tratamento do cancro gástrico, mesmo em estádios muito
avançados
• Se detectado precocemente, há uma grande probabilidade de ser curado
• O processo é assustador… Mas necessário!
• Mesmo que não saiba (ou não veja…) há um enorme conjunto de profissionais interessados na sua
saúde
• O seu caso será discutido por múltiplos profissionais ligados à patologia oncológica
• E esse processo é normal e desejável!
• Por vezes ser tratado mais rapidamente não significa ser melhor tratado
• No processo de decisão entra a opinião/conhecimento dos cirurgiões, oncologistas,
radioterapeutas, gastrenterologistas, psicólogos, enfermeiros, etc.
• MAS
• A sua decisão é sempre a mais importante!
• Procure ajuda e seja ajudado!
33. O cancro gástrico é incurável?
• NÃO!
• Como vimos anteriormente, pode ser curado
• Contudo, é tanto mais curável quanto mais rapidamente for diagnosticado
• Um problema/sintoma não desaparece só por não pensarmos nele…
• Mesmo nos casos em que o cancro é, efectivamente, incurável, há múltiplas
terapêuticas disponíveis para prolongar a vida
• Com qualidade
• Com dignidade
• Não tenha medo de perguntar ao seu médico:
• Qual vai ser o tratamemento
• Qual vai ser a probabilidade de sucesso
• De que forma pode ajudar no processo
• Onde pode procurar ajuda
• Psicológica, financeira, etc.
34. Quais os novos
tratamentos disponíveis?
Melhores métodos
endoscópicos de deteção
e tratamento de cancros
gástricos precoces
Cromoscopia
virtual
ESD
Novos agentes
quimioterápicos
Pembrolizumab
Melhores e menos
agressivos
35. Algumas mensagem-chave
O melhor cancro é aquele que é prevenido!
Esteja atento aos seus sintomas. Fale com
o seu médico quando em dúvida
O H.p., quando presente, deve ser
erradicado
O cancro gástrico vai aumentar de
incidência nas próximas décadas
O tratamento do H.p. (precocemente)
parece prevenir o cancro gástrico
Tenha cuidado com a sua alimentação! Não
fume!
Portugal devia pensar em ter um programa
de rastreio do cancro gástrico
O cancro pode ser vencido!
37. Fazer muitas endoscopias e/ou sedações faz mal
• Naturalmente que como se trata de um
exame invasivo tem alguns (muito raros)
riscos
• Esses riscos aumentam se efectuarmos algumas
terapêuticas como exérese de pólipos / lesões
• MAS
• Exame globalmente muito seguro
• Pode ser efectuado várias vezes num ano
• A medicação utilizada para a sedação está
totalmente fora do nosso corpo em 12/24
horas
38. A bactéria do estômago nunca morre, só fica adormecida
• O objectivo do tratamento é
erradicação da bactéria
• E não “adormecê-la” ou “diminuir a infecção”
• Contudo
• Cerca de 10% das pessoas são reinfectadas
• Raramente a reinfecção ocorre em idade adulta
39. Não vale a pena tratar a bactéria porque todas as pessoas a têm
• FALSO
• Em Portugal 80% das pessoas estão infectadas
• Esta bactéria NÃO tem papel biológico benéfico
• É um factor de risco indubitável para cancro
gástrico
• Responsável por várias outras patologias
• Não se procura/testa para não tratar…
40. O cancro gástrico é contagioso
• Não há contágio do cancro gástrico
• Há, contudo, uma associação familiar
• Base genética
• Cuidados alimentares?
• Exposição a carcinogéneos semelhantes?
• O Helicobacter pylori, esse sim, é
transmissível
• Mais na infância
41. O sumo de limão faz mal ao estômago
• Os únicos alimentos que
verdadeiramente fazem mal ao estômago
são:
• Alimentos conservados/preservados em sal
• Enchidos…
• Compostos nitrogenados
• Álcool?
• O facto de alguns alimentos provocarem
sintomas não quer dizer que façam mal ao
estômago
42. Não se pode tomar sempre os “protectores” gástricos porque eles
causam cancro e demência
• Os IBPs são, provavelmente, a
classe mais segura de fármacos que
existe
• Preocupação desmesurada, provavelmente
baseada em conceitos economicistas
• Múltiplos estudos a comprovar a sua segurança
a curto, médio e longo prazo
• O verdadeiro problema é a
sobremedicação
• Não precisa de tomar um IBP apenas porque
tem gastrite ou porque toma muitos
medicamentos
• Informe-se com o seu médico se precisa mesmo de
tomar o IBP
43. A Quimioterapia faz mais mal que bem
• Mito muito perigoso…
• A QT, infelizmente, pode ter efeitos laterais…
• TODA a medicação é dada baseada numa relação
custo/benefício
• A QT foi (e é) extensivamente estudada e validada
cientificamente
• Cada vez temos mais e melhores fármacos para os mais
variados cancros
• A decisão de fazer QT é sempre do doente, mas lembre-se
• Os médicos querem o melhor para si
• São fármacos com benefícios comprovados
• Seja crítico(a) e informe-se com profissionais qualificados