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217RFO, Passo Fundo, v. 18, n. 2, p. 217-223, maio/ago. 2013
*
Graduanda em Odontologia, Departamento de Saúde, Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Feira de Santana, BA, Brasil.
**
Graduanda em Odontologia, Departamento de Saúde, UEFS, Feira de Santana, BA, Brasil.
***
Graduanda em Odontologia, Departamento de Saúde, UEFS, Feira de Santana, BA, Brasil.
****
Graduanda em Odontologia, Departamento de Saúde, UEFS, Feira de Santana, BA, Brasil.
*****
Professor do Departamento de Saúde da UEFS, Faculdade de Odontologia, mestre em Odontologia – Deontologia e Odontologia Legal.
O papel do odontolegista nas
perícias criminais
The role of the forensic dentist in criminal reports
Carine Gomes Valois Coutinho*
Caroline Araújo Ferreira**
Laís Ramos Queiroz***
Luanda Oliveira Gomes****
Ulisses Anselmo da Silva*****
Objetivo: o presente trabalho foi realizado com o ob-
jetivo de discutir a atuação do odontolegista no âmbito
criminal, com intuito de trazer à comunidade acadê-
mica informações relevantes sobre o assunto. Revisão
de literatura: a atuação do profissional especialista em
Odontologia Legal restringe-se à análise, perícia e ava-
liação de eventos relacionados com a área de compe-
tência do cirurgião-dentista e é regulada pelos artigos
63 e 64 da Resolução CFO – 63/2005. O odontolegis-
ta pode atuar, no âmbito criminal, na identificação no
vivo, no cadáver e em perícias antropológicas. A cavi-
dade oral apresenta um grande potencial para a iden-
tificação, e a atuação do especialista em Odontologia
Legal é de extrema importância, na medida em que o
exame de um corpo por meio da boca e das arcadas
dentárias pode ser fundamental em uma perícia crimi-
nal, sendo a análise odontológica um meio muito uti-
lizado. Considerações finais: o cirurgião-dentista deve
ser cuidadoso ao guardar o prontuário, as radiografias e
os modelos em gesso dos pacientes, além de anotar to-
das as informações, pois podem servir futuramente para
a identificação positiva de vítimas.
Palavras-chave: Odontolegista. Perícia criminal. Ar-
cada dentária.
Introdução
A Odontologia Legal é estabelecida pela Reso-
lução CFO-185/93, que, no artigo 54, define-a como
uma especialidade odontológica cujo objetivo consis-
te na pesquisa de fenômenos psíquicos, físicos, quí-
micos e biológicos que podem atingir ou ter atingido
o homem, vivo, morto ou sua ossada, e mesmo frag-
mentos ou vestígios, resultando em lesões parciais
ou totais reversíveis ou irreversíveis1
.
A atuação do profissional em Odontologia Le-
gal restringe-se à análise, perícia e avaliação de
eventos relacionados com a área de competência do
cirurgião-dentista, podendo estender-se a outras
áreas, se as circunstâncias o exigirem1
.
As áreas de competência para a atuação do es-
pecialista em Odontologia Legal incluem: identifi-
cação humana; perícia em foro civil, criminal e tra-
balhista; perícia em área administrativa; perícia,
avaliação e planejamento em infortunística; tana-
tologia forense; elaboração de autos, laudos e pare-
ceres, relatórios e atestados; traumatologia odon-
tolegal; balística forense; perícia logística no vivo,
no morto, íntegro ou em suas partes fragmentadas;
perícias em vestígios correlatos, inclusive de man-
chas ou líquidos oriundos da cavidade bucal ou nela
http://dx.doi.org/10.5335/rfo.v18i2.3399
RFO, Passo Fundo, v. 18, n. 2, p. 217-223, maio/ago. 2013218
presentes; exames por imagem para fins periciais;
deontologia odontológica; orientação odontolegal
para o exercício profissional e exames por imagens
para fins odontolegais (Res. do CFO-185/93)1,2
.
No âmbito criminal, o odontolegista pode atuar
na identificação no vivo, no cadáver e em perícias
antropológicas (no crânio esqueletizado). Sua atua-
ção também pode ser dar em perícias de lesões
corporais, determinação da idade, perícias de man-
chas, determinação da embriaguez alcoólica e em
outros exames periciais2
.
Sobre a elaboração de documentos, compete ape-
nas ao perito oficial cirurgião-dentista emitir laudo
conclusivo quanto à capacidade ou incapacidade
laboral. Ainda, cabe à junta odontológica oficial,
sempre que julgar necessário, solicitar pareceres
de cirurgiões-dentistas especialistas, ou mesmo de
profissionais de outras áreas para esclarecimentos
de diagnósticos, para opinar em assuntos de suas
competências ou para fundamentar laudos odonto-
periciais3
.
Diante disso, este trabalho tem como objetivo
discutir a atuação do odontolegista no âmbito crimi-
nal com intuito de trazer à comunidade acadêmica
informações relevantes sobre o assunto.
Revisão de literatura
A atuação do odontolegista é regulada pelos ar-
tigos 63 e 64 da Resolução CFO – 63/2005, que é
intitulada “Consolidação das normas para procedi-
mentos nos Conselhos de Odontologia”. De acordo
com essa resolução, a atuação do profissional espe-
cialista em Odontologia Legal restringe-se à análi-
se, perícia e avaliação de eventos relacionados com
a área de competência do cirurgião-dentista, poden-
do estender-se a outras áreas, se disso depender a
busca da verdade, no estrito interesse da justiça e
da administração4
.
Dentre as áreas de competência do odontolegis-
ta, vale ressaltar a atuação em perícias criminais,
tanatologia forense e identificação humana, meios
pelos quais o cirurgião-dentista pode auxiliar a so-
lucionar crimes e identificar vítimas.
Perícia em foro criminal
O cirurgião-dentista pode atuar em perícias
criminais desde que seja solicitado e tenha conhe-
cimento adequado para desempenhar a função de
perito. De acordo com Almeida Júnior5
, perito é a
pessoa que realiza exames técnicos de sua especia-
lidade ou competência para esclarecimento de fatos
que são objeto de inquérito policial ou processo judi-
cial. O perito é encarregado de servir como auxiliar
da justiça, esclarecendo pontos específicos distantes
do conhecimento jurídico do magistrado.
Os peritos devem possuir conhecimentos bioló-
gicos específicos e noções do pensamento jurídico,
visto que auxiliam em uma decisão judicial e seu
laudo pode determinar a resolução de um caso. No
entanto, a atuação do perito é limitada, pois ele não
julga, não defende e não acusa; seu dever é exami-
nar e relatar os fatos necessários para o esclareci-
mento de um processo2
.
Os peritos podem ser oficiais e não oficiais. Os
peritos oficiais exercem a função por atribuição de
cargo público (médicos legistas, peritos criminais e
odontolegistas), realizam os exames de corpo de de-
lito e outras perícias requisitadas, cabendo-lhes os
exames, a elaboração e a assinatura dos laudos cor-
respondentes. Já os peritos não oficiais são aqueles
designados para suprirem a falta de peritos oficiais,
ou para substituí-los, quando, por qualquer motivo,
estiverem estes impedidos ou impossibilitados de
trabalhar2
.
Entende-se como perícia o conjunto de procedi-
mentos médicos/odontológicos e técnicos que têm
como finalidade o esclarecimento de um fato de in-
teresse da justiça. A perícia médico-odontolegal con-
siste em procedimentos que auxiliam a justiça, ten-
do como finalidade produzir uma prova que vai ser
materializada com o laudo. Tal perícia é praticada
por médico ou cirurgião-dentista por meio de exa-
mes clínicos, radiográficos, laboratoriais, necroscó-
picos ou outros2
.
As perícias criminais são aquelas decorrentes
de um evento delituoso, de modo que deve haver um
suposto crime. O cirurgião-dentista pode atuar nes-
ses casos, auxiliando no esclarecimento dos fatos,
basicamente elucidando a materialidade, a dinâmi-
ca e autoria do crime.
Para proceder à perícia, os peritos contam com o
exame médico-legal, que é realizado sobre os vivos;
exame de necroscopia, feito sobre cadáveres; exame
de exumação, realizado mediante a retirada do ca-
dáver da sepultura; e exame laboratorial, para veri-
ficar toxicologia e identificação de DNA2
.
As perícias odontolegais na área criminal in-
cluem: identificação no vivo (idade não comprovada
de delinquentes, marcas de mordida em alimentos
ou na vítima), no cadáver (corpos carbonizados, di-
lacerados, estado avançado de putrefação, afogados,
acidentes de massa), antropológicas (no crânio es-
queletizado para verificar espécie, sexo, idade, esta-
tura, biótipo); lesões corporais ou perícias de trau-
matologia; determinação da idade; perícia de man-
chas (diagnóstico diferencial de manchas de saliva);
exame de embriaguez (saliva)6
.
O odontolegista deve, na perícia, utilizar as vias
de cabeça e pescoço e fazer anotações, desenhos, es-
quemas, fotografias e tudo que for necessário para
que o exame fique bem descrito. O ideal é que não
sejam necessários esclarecimentos posteriores, por
meio de um segundo exame com o corpo já em de-
219RFO, Passo Fundo, v. 18, n. 2, p. 217-223, maio/ago. 2013
composição ou esqueletizado, na medida em que
não trará as mesmas informações.
O exame do cadáver inicia-se, geralmente, ana-
lisando as características extraorais. Em seguida,
possíveis detritos encontrados na cavidade oral
devem ser eliminados. O exame intraoral é, então,
realizado, observando-se as condições anátomo-fi-
siológicas7
.
Para realizar exame intraoral, o profissional
deve utilizar roupas protetoras, instrumentos den-
tários, material de impressão, material para regis-
tro dos dados e uma máquina fotográfica, de forma
a recolher toda a informação necessária7
.
Muitas vezes, porém, o acesso adequado à cavi-
dade oral torna-se difícil e comprometido. Por isso,
em alguns casos, recomenda-se a remoção dos ma-
xilares para a realização da autópsia oral, possibili-
tando, assim, a preservação dos dentes, melhorando
a visualização da cavidade oral e facilitando a reali-
zação de radiografias7
.
Todas as informações obtidas no exame dentá-
rio devem ser registradas em odontograma próprio,
preferencialmente em um modelo internacional,
para permitir a troca de dados entre países7
.
A perícia odontológica tem grande importância
em casos em que há corpos carbonizados e mutila-
dos. O exame do DNA é um método de alta confiabi-
lidade, porém possui algumas limitações, como alto
custo, possibilidade de degradação e dificuldade de
localizar os parentes próximos das vítimas para es-
tabelecer o vínculo genético. A datiloscopia é outro
método eficaz e bastante utilizado; entretanto, em
algumas situações, os dados das impressões digitais
não estão disponíveis no local onde ocorreu o crime,
ou ainda, pode ocorrer a destruição das impressões
digitais por putrefação ou carbonização, o que invia-
biliza o uso desse método7
.
Sendo assim, o exame de um corpo por meio da
boca e das arcadas dentárias pode ser fundamental
em uma perícia criminal, já que não existem denti-
ções análogas, os dentes são estruturas altamente
resistentes e fornecem informações individuais que
podem auxiliar nas investigações.
Identificação humana
A identificação humana é o processo pelo qual
se determina a identidade de uma pessoa, sendo a
análise odontológica um dos métodos rotineiramen-
te utilizados, juntamente com outros parâmetros
biológicos, como a análise papiloscópica, a análise
da íris e a análise genética. Vale ressaltar que a con-
dição em que o corpo da pessoa é encontrado deter-
mina a metodologia a ser empregada8
.
A identificação pode ser feita no vivo, em casos
de dentadas ou mordeduras na vítima, no agressor
ou em alimentos; no cadáver em adiantado estado
de putrefação, quando a identificação datiloscópi-
ca é impossível; em carbonizados; em afogados nos
quais as polpas digitais tenham sido destruídas; em
grandes catástrofes; em casos de dilaceração do cor-
po e em perícias antropológicas (no crânio esquele-
tizado)1
.
A identificação de cadáveres carbonizados, pu-
trefeitos ou esqueletizados, por meio das caracterís-
ticas odontológicas, pode ser classificada como uma
metodologia do tipo comparativa9
, pois confronta
informações obtidas de documentação ante-mortem
com dados coletados post-mortem10
e, didaticamen-
te, é dividida em três etapas: exame dos arcos den-
tários do cadáver, exame da documentação odonto-
lógica e confronto odontolegal11
.
A primeira fase envolve a análise de todas as
particularidades odontológicas presentes nos re-
manescentes dentários e nas demais estruturas do
complexo bucomaxilofacial do corpo examinado, re-
lacionadas com a presença e/ou ausência de dentes,
cáries, restaurações (faces e materiais), tratamen-
tos endodônticos, próteses, anomalias, giroversões,
apinhamentos, etc. No exame da documentação
odontológica, são coletadas todas as informações
pertinentes ao tratamento efetuado que foram ano-
tadas pelo clínico no prontuário odontológico, asso-
ciando-as às informações analisadas nos exames
complementares (radiografias, fotografias, modelos,
dentre outros). A última etapa é a comparação dos
dados obtidos nas duas primeiras, considerando-se
o mesmo ponto de referência (face, dente) e tendo
como base uma análise qualitativa e quantitativa
das particularidades odontológicas evidenciadas10,11
.
Independentemente do método utilizado para
identificação do cadáver, os resultados da compara-
ção de ante-mortem e post-mortem levam a uma das
quatro situações seguintes: identificação positiva –
existe singularidade suficiente entre os itens com-
paráveis nos bancos de dados; identificação presu-
mível (possível) – existem características em comum
entre os itens comparáveis nos dados ante-mortem
e post-mortem, entretanto, informações oriundas de
ambas as fontes podem ser insuficientes; evidência
insuficiente para identificação – não existe evidên-
cia suficiente disponível; e exclusão das evidências
de identificação – existem tanto discrepâncias ex-
plicáveis como inexplicáveis entre os itens compará-
veis nos dados ante-mortem e post-mortem12
.
A Odontologia Legal é útil na identificação de
vítimas mortais, principalmente nas situações de
catástrofes e de conflitos armados que ocorrem fre-
quentemente, na identificação de agressores em
processos criminais, passando por avaliação e repa-
ração de danos corporais, e até na identificação de
alguns tipos de intoxicações7
.
RFO, Passo Fundo, v. 18, n. 2, p. 217-223, maio/ago. 2013220
Recursos odontológicos para
identificação humana
Utilização de registros odontológicos
A documentação produzida em decorrência dos
atendimentos odontológicos, geralmente, possui fi-
nalidade clínica e propicia ao profissional, a qual-
quer momento, a consulta sobre o estágio em que se
encontra o tratamento de seu paciente, bem como
a análise dos procedimentos efetuados10
. Além da
possibilidade de acompanhamento clínico, a docu-
mentação serve como prova passível de ser utiliza-
da com finalidade jurídica ou perícial3
, como impu-
tação de erro profissional e identificação humana14
,
utilizando-se as informações registradas em fichas
clínicas, podendo estar associadas a exames radio-
gráficos, modelos de gesso ou imagens intrabucais10
.
O cirurgião-dentista deve ser detalhista ao re-
gistrar dados referentes à identificação do pacien-
te, anamnese, exame físico geral, extra e intrabucal
com preenchimento de odontograma (ausências den-
tárias, restaurações, tratamentos endodônticos, im-
plantes, giroversões, próteses, dentre outras carac-
terísticas), plano de tratamento com opções terapêu-
ticas e valores correspondentes, bem como no que
concerne à evolução do tratamento. As anotações
presentes em fichas clínicas sobre os procedimentos
efetuados, associados aos materiais restauradores e
às particularidades morforradiográficas dos elemen-
tos dentários e áreas circundantes, podem permitir
uma identificação positiva de vítimas10,11
.
Em situações nas quais os vestígios humanos
tornam-se escassos, a identificação por meio dos
elementos dentários justifica-se, dentre outros fato-
res, por estes apresentarem inúmeras característi-
cas peculiares, que tornam impossível a existência
de duas pessoas com as mesmas características,
mesmo os gêmeos monozigóticos. Os elementos den-
tários e as estruturas de suporte podem fornecer
diversos dados sobre o cadáver e restos cadavéri-
cos, como a espécie, a estatura, fenótipo, genótipo,
gênero e idade, estigmas resultantes de profissões
ou hábitos pessoais, entre outros7,10
. Além disso, os
dentes e materiais odontológicos possuem conside-
rável resistência física e química à ação do calor, de
traumatismos e alguns agentes químicos7,10,11
.
A resistência dos dentes e dos materiais restau-
radores é fator que viabiliza a utilização do método
odontológico nas identificações post-mortem, princi-
palmente nos corpos carbonizados e/ou calcinados,
putrefeitos e esqueletizados. Com efeito, a indestru-
tibilidade é uma característica que confere maior
resistência ao dente do que ao próprio osso a altas
temperaturas (600-650° C)8
.
Tendo em vista a diversidade de procedimentos
reabilitadores que podem ser efetuados durante a
prática clínica, torna-se importante que o cirurgião-
-dentista esteja atento para o correto registro, acon-
dicionamento e arquivamento das peças que com-
põem a documentação odontológica: o prontuário
odontológico, exames por imagem, modelos de gesso
e fotografias14
. Além disso, marcas para identifica-
ção em próteses dentárias são importantes porque,
ainda que possam ser obtidos, os registros odontoló-
gicos de um paciente edêntulo têm chances de não
reproduzir o estado atual dos rebordos e osso alveo-
lar. Informações comumente utilizadas para marcas
de identificação em próteses dentárias removíveis
incluem o nome da pessoa, número da carteira de
motorista e/ou outra informação numérica12
.
Por saber da importância clínica e legal do pron-
tuário odontológico para resguardar o exercício da
Odontologia, o CFO disponibiliza um modelo de
prontuário, devendo o cirurgião-dentista observar o
seu conteúdo e adaptá-lo à sua rotina clínica10
.
Marcas de mordida
A Odontologia Legal é uma ciência que coloca
seu conhecimento e sua experiência à disposição da
justiça. Um importante campo de estudo e análise
nessa especialidade é o reconhecimento e a inter-
pretação de sinais e lesões produzidas por mordidas
humanas em alimentos e na pele1
.
A ciência da identificação de marca de mordida
pode ser usada para vincular um suspeito a um cri-
me. Essa análise pode elucidar o tipo de violência e
o tempo decorrido entre a sua produção e identifica-
ção, o que permite mostrar se a marca foi produzida
em vida ou pós-morte e, no caso de várias mordi-
das, identificar a sua sequência. Embora nem toda
marca de mordida apresente quantidade suficiente
de detalhes, em situações em que estes existem, a
identificação das marcas pode ser extremamente
útil para estabelecer uma ligação entre a pessoa
mordida e o mordedor ou excluir os inocentes15
.
A dentição humana possui uma singularida-
de de indivíduo para indivíduo, ou seja, é única e
possui diferenças entre as pessoas. Até mesmo nos
casos de gêmeos homozigóticos, diferenças são ob-
servadas, de acordo com estudos que comprovaram
não haver dois indivíduos com a mesma dentição16
.
A marca de mordida constitui uma lesão produ-
zida pelos dentes humanos e/ou animais, na pele,
em alimentos, vestuário ou em outro tipo de objeto,
que resulta da aplicação de forma acentuada dos
dentes numa base que é passível de ser deforma-
da16
. Geralmente, são observadas em casos de abu-
so sexual, homicídios, violência doméstica, assaltos,
abuso infantil, entre outros17
.
O recolhimento das impressões da marca da
mordida deve ser feito por um odontolegista ou
com a sua supervisão. A tomada das impressões é
realizada por meio dos polivinilsiloxanos, que são
221RFO, Passo Fundo, v. 18, n. 2, p. 217-223, maio/ago. 2013
materiais de eleição pela estabilidade dimensional.
Materiais como alginato não são recomendados de-
vido aos problemas com sua estabilidade. Os mode-
los deverão ser obtidos por meio de gesso tipo IV16
.
O protocolo para análise de comparação de mar-
cas de mordida é feito por meio de duas categorias.
A primeira refere-se às mensurações de locais es-
pecíficos, como distância intercanina, chamada de
análise métrica. Os dentes anteriores são os mais
comumente observados nas marcas de mordida,
mas podem ser encontradas, eventualmente, mar-
cas de pré-molares e molares, sendo a distância
intercanina muito significativa nesse processo de
identificação5,18
.
A segunda categoria do protocolo para análise de
comparação de marcas de mordida refere-se ao em-
parelhamento físico, também denominado de com-
paração da forma da injúria ou associação padrão. A
associação padrão tem como principal instrumento
a sobreposição das imagens. Diversas técnicas de
sobreposição utilizam a imagem do objeto conhecido
diretamente sobre a imagem do objeto em questão,
avaliando os pontos coincidentes e os divergentes18
.
A análise das marcas de mordida pode ser fei-
ta por meio das suas evidências físicas e biológicas.
No que diz respeito às evidências físicas, seu estudo
contempla a comparação das características indivi-
duais do suspeito com a marca de mordida presen-
te na vítima. A análise da evidência biológica, por
sua vez, é realizada por meio da saliva existente no
objeto que foi alvo da agressão, registrando-se que
uma marca de mordida é acompanhada pela pre-
sença de saliva16
.
A tecnologia pode ser utilizada para ajudar nas
investigações criminais por meio de reprodução de
objetos mordidos nas cenas de crimes. Quando a
moldagem do local da marca da mordida é impos-
sibilitada (marcas de mordida em alguns tipos ali-
mentos), a reprodução desses objetos pode ser feita
utilizando-se a prototipagem rápida. Além disso, os
avanços tecnológicos podem ser empregados para
a identificação do agressor por meio da análise do
DNA presente na saliva encontrada na marca da
mordida18
.
O conhecimento da análise das marcas de mor-
dida por parte do odontolegista é de extrema impor-
tância no âmbito criminal. Essa é uma ferramenta
interessante que pode ser utilizada pelo odontole-
gista em investigações criminais.
Queiloscopia
A queiloscopia é o estudo das impressões labiais
com base em características como espessura e dis-
posição das comissuras dos lábios. O lábio possui
marcas exclusivas de uma pessoa, permanentes e
imutáveis, assim como a impressão digital, por isso
a importância desse tipo de estudo19
. Acredita-se
que apenas as patologias capazes de causar perdas
substanciais de tecido mole e, assim, alterar as im-
pressões labiais impossibilitam esse método13,19
.
Todas as cópias labiais são importantes, mesmo
que não sejam visíveis como em uma marca de ba-
tom. O vermelhão do lábio possui glândulas saliva-
res menores e glândulas sebáceas que, juntamente
com o efeito lubrificante da língua, podem gerar
impressões invisíveis ou latentes, as quais têm sido
de extrema importância para se chegar à resolução
final de um crime. Pode-se facilmente identificar
esse tipo de impressão labial com o uso de técnicas
fluorescentes19
.
Rugoscopia palatina
A técnica de rugoscopia palatina é o estudo ba-
seado nas rugas palatinas (forma, tamanho e posi-
ção), levando em conta que aspetos como compri-
mento, orientação e configuração variam de forma
significativa em indivíduos diferentes21
. Por serem
imutáveis, em condições normais, por toda a vida,
inclusive até certo período após a morte, as rugas
palatinas são eficientes na identificação humana em
cadáveres recentes, mas não correspondem a uma
técnica útil na investigação de suspeitos na cena de
um crime. Entretanto, alguns eventos, como extre-
ma sucção digital e constante pressão devido ao tra-
tamento ortodôntico, podem provocar alterações nos
padrões das rugas palatinas20
.
A cavidade oral possui grande potencial para a
identificação, mas, no caso de vítimas desdentadas,
limitam-se os recursos para identificação na Odon-
tologia Legal, tornando as rugosidades palatinas
um dos únicos elementos disponíveis20
.
A rugoscopia palatina como sistema de classifi-
cação foi proposta em 1930 pelo pesquisador espa-
nhol Trobo-Hermosa20
, mas várias formas de clas-
sificação foram sugeridas nos anos seguintes. Uma
delas é a elaborada por Cormoy, que criou um siste-
ma que classifica as rugas palatinas, de acordo com
as suas dimensões, em três categorias: ruga princi-
pal (acima de 5 mm), ruga acessória (variando de 3
a 4 mm) e fragmentos (com menos de 3 mm). Aliado
com a forma em linha, curva e angulada, aponta-se,
também, a origem, a direção de cada ruga e a possi-
bilidade de ramificações20
.
A análise e a classificação das rugas palatinas
podem ser feitas de modo a se preservarem as pro-
vas que podem ser usadas no futuro, por meio de
modelos de gesso ou de fotografia do palato20
regis-
trados ante-mortem21
.
Análise genética no âmbito forense
Com os avanços da biologia molecular, a análise
do DNA em amostras forenses tem sido crescente-
mente utilizada nos processos de identificação hu-
RFO, Passo Fundo, v. 18, n. 2, p. 217-223, maio/ago. 2013222
mana, e a Odontologia Legal vem participando cada
vez mais desses processos, tendo em vista que os
dentes (principalmente a polpa dentária) são impor-
tantes fontes de DNA6,21
.
De acordo com Silveira6
, os métodos de análise
de DNA vêm sendo utilizados mundialmente para
solucionar identidades em crimes violentos, atenta-
dos terroristas, desastres em massa e para encon-
trar pessoas desaparecidas.
A análise do DNA é feita a partir do perfil gené-
tico, que é obtido por meio da decodificação do DNA
nuclear ou mitocondrial. Os gêmeos monozigóticos
são os únicos que possuem perfis genéticos iguais,
portanto, quando estes são suspeitos de um crime, a
análise do DNA não pode ser utilizada no esclareci-
mento dos fatos7
.
O DNA pode ser recuperado e utilizado a partir
de amostras biológicas, como sangue, sêmen, cabe-
lo, ossos, dentes, unhas, saliva, urina e fluídos bio-
lógicos7
. Essa análise pode ser feita até mesmo no
elemento dental submetido a altas temperaturas
(500
o
C e 600
o
C pelo período de 60 minutos)22
. Em si-
tuações nas quais ocorrem incêndio, explosões, que
restringem a recuperação de informações a partir de
restos mortais, os dentes apresentam-se como ma-
terial eletivo para análise de DNA21
. Dessa forma,
torna-se imprescindível a atuação do odontolegista
na coleta do material genético que será analisado.
Aanálise genética pode, ainda, ser feita por meio
da saliva humana, pois o DNA salivar mantém-se
estável e pode ser recuperado sobre a vítima viva
ou no cadáver, dependendo do tempo em que ocor-
reu a lesão. A análise da saliva pode ser feita, por
exemplo, em casos de violência em que restaram na
vítima marcas de mordida. Nessas circunstâncias, o
DNA salivar encontrado na marca de mordida pode
ser fundamental para a descoberta do agressor. As
investigações criminais podem contar, também, com
a análise de DNA salivar deixado em objetos e res-
tos de alimentos na cena do crime, o que pode levar
à identificação do criminoso6
.
Considerações finais
A atuação do especialista em Odontologia Legal
é de extrema importância, e a análise odontológica é
um meio muito utilizado, sendo o principal uso des-
sa especialidade voltado à identificação de agresso-
res em processos criminais e vítimas mortais nos
casos de catástrofes e conflitos. Os dentes e mate-
riais restauradores têm alta resistência, inclusive
a temperaturas elevadas. Além disso, o lábio possui
marcas exclusivas do indivíduo, e as rugas do pala-
to são imutáveis durante toda a vida, inclusive até
certo período após a morte. Esses são alguns fatores
que fazem a cavidade oral apresentar um grande
potencial para a identificação. O cirurgião-dentis-
ta deve ser cuidadoso ao guardar o prontuário, as
radiografias e os modelos em gesso dos pacientes,
cabendo-lhe anotar todas as informações, pois estas
podem servir para a identificação positiva de víti-
mas.
Abstract
Objective: the present work was conducted with the
purpose of discussing the performance of the forensic
dentist in the criminal scope, with the intention of ex-
posing the academic community to relevant informa-
tion about this subject. Literature review: the perfor-
mance of the specialist in forensic dentistry is restricted
to analysis, report, and evaluation of events related to
the dentist’s area of competence, and sections 63 and
64 of Resolution CFO - 63/2005 regulate it. The forensic
dentist may perform in the criminal scope, live identi-
fication, as well as on the body, and in anthropological
reports. The oral cavity has great identification potential
and the forensic dentist performance is very important
since examining the body through the mouth and dental
arches might be essential for the criminal report, hence
dental analysis is widely used. Final considerations: the
dentist must be careful in keeping medical records, ra-
diographs, and dental casts of patients by writing down
all relevant information, for they may be useful in the
future for positive identification of victims.
Keywords: Forensic dentist. Criminal report. Dental
arches.
Referências
1. Silva M. Compêndio de Odontologia Legal. São Paulo: Medsi;
1997.
2. Peres AS, Peres SHCS, Nishida CL, Grandizoli DK, Ribeiro
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vista de Odontologia da Universidade Cidade de São Paulo
2007; 19(3):320-4.
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de maio de 2009.
4. Conselho Federal de Odontologia. Consolidação das normas
para procedimentos nos Conselhos de Odontologia. Aprovada
pela Resolução CFO 63/2005.
5. Almeida Júnior E, Reis FP, Galvão LCC, Alves MC, Campos
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sua aplicação na identificação e interpretação de marcas de
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223RFO, Passo Fundo, v. 18, n. 2, p. 217-223, maio/ago. 2013
9. Silva RF, Prado MM, Barbieri AA, Daruge Júnior E. Utili-
zação de registros odontológicos para identificação humana.
Rev Sul-Brasileira de Odontologia 2009; 6(1):95-9.
10. Terada ASSD, Leite NLP, Silveira TCP, Secchieri JM, Gui-
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12. Neville BW, Damm DD, Allen CM, Bouquot JE. Patologia
oral e maxilofacial. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2009.
13. Neville BW, Damm DD, Allen CM, Bouquot JE. Patologia
oral e maxilofacial. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan;
2004.
14. Silva RF, Benta NG, Daruge Júnior E, Prado MM, Melo M.
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de tratamento protético. Revista Odonto 2008; 16(32):137-43.
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Paraíba [Monografia de Graduação em Odontologia]. João
Pessoa: Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciên-
cias da Saúde; 2010.
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de literatura. Saúde, Ética & Justiça 2010; 15(1):28-34.
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de Ciências da Saúde, Universidade Fernando Pessoa; 2012.
22. Santos UDD. Principais meios de identificação humana em
Odontologia Legal [Monografia de Especialização em Odon-
tologia Legal]. Contagem: Funorte Núcleo Contagem; 2011.
Endereço para correspondência:
Laís Ramos Queiroz
Rua Rio Parnaíba, 157, Bairro Brasília
44088-312 Feira de Santana, BA
Fone/Fax: (75) 3221-0853/9222-9666
E-mail: lai_queiroz@yahoo.com.br
Recebido: 08/08/2013. Aceito: 19/09/2013.

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Odontologia legal

  • 1. 217RFO, Passo Fundo, v. 18, n. 2, p. 217-223, maio/ago. 2013 * Graduanda em Odontologia, Departamento de Saúde, Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Feira de Santana, BA, Brasil. ** Graduanda em Odontologia, Departamento de Saúde, UEFS, Feira de Santana, BA, Brasil. *** Graduanda em Odontologia, Departamento de Saúde, UEFS, Feira de Santana, BA, Brasil. **** Graduanda em Odontologia, Departamento de Saúde, UEFS, Feira de Santana, BA, Brasil. ***** Professor do Departamento de Saúde da UEFS, Faculdade de Odontologia, mestre em Odontologia – Deontologia e Odontologia Legal. O papel do odontolegista nas perícias criminais The role of the forensic dentist in criminal reports Carine Gomes Valois Coutinho* Caroline Araújo Ferreira** Laís Ramos Queiroz*** Luanda Oliveira Gomes**** Ulisses Anselmo da Silva***** Objetivo: o presente trabalho foi realizado com o ob- jetivo de discutir a atuação do odontolegista no âmbito criminal, com intuito de trazer à comunidade acadê- mica informações relevantes sobre o assunto. Revisão de literatura: a atuação do profissional especialista em Odontologia Legal restringe-se à análise, perícia e ava- liação de eventos relacionados com a área de compe- tência do cirurgião-dentista e é regulada pelos artigos 63 e 64 da Resolução CFO – 63/2005. O odontolegis- ta pode atuar, no âmbito criminal, na identificação no vivo, no cadáver e em perícias antropológicas. A cavi- dade oral apresenta um grande potencial para a iden- tificação, e a atuação do especialista em Odontologia Legal é de extrema importância, na medida em que o exame de um corpo por meio da boca e das arcadas dentárias pode ser fundamental em uma perícia crimi- nal, sendo a análise odontológica um meio muito uti- lizado. Considerações finais: o cirurgião-dentista deve ser cuidadoso ao guardar o prontuário, as radiografias e os modelos em gesso dos pacientes, além de anotar to- das as informações, pois podem servir futuramente para a identificação positiva de vítimas. Palavras-chave: Odontolegista. Perícia criminal. Ar- cada dentária. Introdução A Odontologia Legal é estabelecida pela Reso- lução CFO-185/93, que, no artigo 54, define-a como uma especialidade odontológica cujo objetivo consis- te na pesquisa de fenômenos psíquicos, físicos, quí- micos e biológicos que podem atingir ou ter atingido o homem, vivo, morto ou sua ossada, e mesmo frag- mentos ou vestígios, resultando em lesões parciais ou totais reversíveis ou irreversíveis1 . A atuação do profissional em Odontologia Le- gal restringe-se à análise, perícia e avaliação de eventos relacionados com a área de competência do cirurgião-dentista, podendo estender-se a outras áreas, se as circunstâncias o exigirem1 . As áreas de competência para a atuação do es- pecialista em Odontologia Legal incluem: identifi- cação humana; perícia em foro civil, criminal e tra- balhista; perícia em área administrativa; perícia, avaliação e planejamento em infortunística; tana- tologia forense; elaboração de autos, laudos e pare- ceres, relatórios e atestados; traumatologia odon- tolegal; balística forense; perícia logística no vivo, no morto, íntegro ou em suas partes fragmentadas; perícias em vestígios correlatos, inclusive de man- chas ou líquidos oriundos da cavidade bucal ou nela http://dx.doi.org/10.5335/rfo.v18i2.3399
  • 2. RFO, Passo Fundo, v. 18, n. 2, p. 217-223, maio/ago. 2013218 presentes; exames por imagem para fins periciais; deontologia odontológica; orientação odontolegal para o exercício profissional e exames por imagens para fins odontolegais (Res. do CFO-185/93)1,2 . No âmbito criminal, o odontolegista pode atuar na identificação no vivo, no cadáver e em perícias antropológicas (no crânio esqueletizado). Sua atua- ção também pode ser dar em perícias de lesões corporais, determinação da idade, perícias de man- chas, determinação da embriaguez alcoólica e em outros exames periciais2 . Sobre a elaboração de documentos, compete ape- nas ao perito oficial cirurgião-dentista emitir laudo conclusivo quanto à capacidade ou incapacidade laboral. Ainda, cabe à junta odontológica oficial, sempre que julgar necessário, solicitar pareceres de cirurgiões-dentistas especialistas, ou mesmo de profissionais de outras áreas para esclarecimentos de diagnósticos, para opinar em assuntos de suas competências ou para fundamentar laudos odonto- periciais3 . Diante disso, este trabalho tem como objetivo discutir a atuação do odontolegista no âmbito crimi- nal com intuito de trazer à comunidade acadêmica informações relevantes sobre o assunto. Revisão de literatura A atuação do odontolegista é regulada pelos ar- tigos 63 e 64 da Resolução CFO – 63/2005, que é intitulada “Consolidação das normas para procedi- mentos nos Conselhos de Odontologia”. De acordo com essa resolução, a atuação do profissional espe- cialista em Odontologia Legal restringe-se à análi- se, perícia e avaliação de eventos relacionados com a área de competência do cirurgião-dentista, poden- do estender-se a outras áreas, se disso depender a busca da verdade, no estrito interesse da justiça e da administração4 . Dentre as áreas de competência do odontolegis- ta, vale ressaltar a atuação em perícias criminais, tanatologia forense e identificação humana, meios pelos quais o cirurgião-dentista pode auxiliar a so- lucionar crimes e identificar vítimas. Perícia em foro criminal O cirurgião-dentista pode atuar em perícias criminais desde que seja solicitado e tenha conhe- cimento adequado para desempenhar a função de perito. De acordo com Almeida Júnior5 , perito é a pessoa que realiza exames técnicos de sua especia- lidade ou competência para esclarecimento de fatos que são objeto de inquérito policial ou processo judi- cial. O perito é encarregado de servir como auxiliar da justiça, esclarecendo pontos específicos distantes do conhecimento jurídico do magistrado. Os peritos devem possuir conhecimentos bioló- gicos específicos e noções do pensamento jurídico, visto que auxiliam em uma decisão judicial e seu laudo pode determinar a resolução de um caso. No entanto, a atuação do perito é limitada, pois ele não julga, não defende e não acusa; seu dever é exami- nar e relatar os fatos necessários para o esclareci- mento de um processo2 . Os peritos podem ser oficiais e não oficiais. Os peritos oficiais exercem a função por atribuição de cargo público (médicos legistas, peritos criminais e odontolegistas), realizam os exames de corpo de de- lito e outras perícias requisitadas, cabendo-lhes os exames, a elaboração e a assinatura dos laudos cor- respondentes. Já os peritos não oficiais são aqueles designados para suprirem a falta de peritos oficiais, ou para substituí-los, quando, por qualquer motivo, estiverem estes impedidos ou impossibilitados de trabalhar2 . Entende-se como perícia o conjunto de procedi- mentos médicos/odontológicos e técnicos que têm como finalidade o esclarecimento de um fato de in- teresse da justiça. A perícia médico-odontolegal con- siste em procedimentos que auxiliam a justiça, ten- do como finalidade produzir uma prova que vai ser materializada com o laudo. Tal perícia é praticada por médico ou cirurgião-dentista por meio de exa- mes clínicos, radiográficos, laboratoriais, necroscó- picos ou outros2 . As perícias criminais são aquelas decorrentes de um evento delituoso, de modo que deve haver um suposto crime. O cirurgião-dentista pode atuar nes- ses casos, auxiliando no esclarecimento dos fatos, basicamente elucidando a materialidade, a dinâmi- ca e autoria do crime. Para proceder à perícia, os peritos contam com o exame médico-legal, que é realizado sobre os vivos; exame de necroscopia, feito sobre cadáveres; exame de exumação, realizado mediante a retirada do ca- dáver da sepultura; e exame laboratorial, para veri- ficar toxicologia e identificação de DNA2 . As perícias odontolegais na área criminal in- cluem: identificação no vivo (idade não comprovada de delinquentes, marcas de mordida em alimentos ou na vítima), no cadáver (corpos carbonizados, di- lacerados, estado avançado de putrefação, afogados, acidentes de massa), antropológicas (no crânio es- queletizado para verificar espécie, sexo, idade, esta- tura, biótipo); lesões corporais ou perícias de trau- matologia; determinação da idade; perícia de man- chas (diagnóstico diferencial de manchas de saliva); exame de embriaguez (saliva)6 . O odontolegista deve, na perícia, utilizar as vias de cabeça e pescoço e fazer anotações, desenhos, es- quemas, fotografias e tudo que for necessário para que o exame fique bem descrito. O ideal é que não sejam necessários esclarecimentos posteriores, por meio de um segundo exame com o corpo já em de-
  • 3. 219RFO, Passo Fundo, v. 18, n. 2, p. 217-223, maio/ago. 2013 composição ou esqueletizado, na medida em que não trará as mesmas informações. O exame do cadáver inicia-se, geralmente, ana- lisando as características extraorais. Em seguida, possíveis detritos encontrados na cavidade oral devem ser eliminados. O exame intraoral é, então, realizado, observando-se as condições anátomo-fi- siológicas7 . Para realizar exame intraoral, o profissional deve utilizar roupas protetoras, instrumentos den- tários, material de impressão, material para regis- tro dos dados e uma máquina fotográfica, de forma a recolher toda a informação necessária7 . Muitas vezes, porém, o acesso adequado à cavi- dade oral torna-se difícil e comprometido. Por isso, em alguns casos, recomenda-se a remoção dos ma- xilares para a realização da autópsia oral, possibili- tando, assim, a preservação dos dentes, melhorando a visualização da cavidade oral e facilitando a reali- zação de radiografias7 . Todas as informações obtidas no exame dentá- rio devem ser registradas em odontograma próprio, preferencialmente em um modelo internacional, para permitir a troca de dados entre países7 . A perícia odontológica tem grande importância em casos em que há corpos carbonizados e mutila- dos. O exame do DNA é um método de alta confiabi- lidade, porém possui algumas limitações, como alto custo, possibilidade de degradação e dificuldade de localizar os parentes próximos das vítimas para es- tabelecer o vínculo genético. A datiloscopia é outro método eficaz e bastante utilizado; entretanto, em algumas situações, os dados das impressões digitais não estão disponíveis no local onde ocorreu o crime, ou ainda, pode ocorrer a destruição das impressões digitais por putrefação ou carbonização, o que invia- biliza o uso desse método7 . Sendo assim, o exame de um corpo por meio da boca e das arcadas dentárias pode ser fundamental em uma perícia criminal, já que não existem denti- ções análogas, os dentes são estruturas altamente resistentes e fornecem informações individuais que podem auxiliar nas investigações. Identificação humana A identificação humana é o processo pelo qual se determina a identidade de uma pessoa, sendo a análise odontológica um dos métodos rotineiramen- te utilizados, juntamente com outros parâmetros biológicos, como a análise papiloscópica, a análise da íris e a análise genética. Vale ressaltar que a con- dição em que o corpo da pessoa é encontrado deter- mina a metodologia a ser empregada8 . A identificação pode ser feita no vivo, em casos de dentadas ou mordeduras na vítima, no agressor ou em alimentos; no cadáver em adiantado estado de putrefação, quando a identificação datiloscópi- ca é impossível; em carbonizados; em afogados nos quais as polpas digitais tenham sido destruídas; em grandes catástrofes; em casos de dilaceração do cor- po e em perícias antropológicas (no crânio esquele- tizado)1 . A identificação de cadáveres carbonizados, pu- trefeitos ou esqueletizados, por meio das caracterís- ticas odontológicas, pode ser classificada como uma metodologia do tipo comparativa9 , pois confronta informações obtidas de documentação ante-mortem com dados coletados post-mortem10 e, didaticamen- te, é dividida em três etapas: exame dos arcos den- tários do cadáver, exame da documentação odonto- lógica e confronto odontolegal11 . A primeira fase envolve a análise de todas as particularidades odontológicas presentes nos re- manescentes dentários e nas demais estruturas do complexo bucomaxilofacial do corpo examinado, re- lacionadas com a presença e/ou ausência de dentes, cáries, restaurações (faces e materiais), tratamen- tos endodônticos, próteses, anomalias, giroversões, apinhamentos, etc. No exame da documentação odontológica, são coletadas todas as informações pertinentes ao tratamento efetuado que foram ano- tadas pelo clínico no prontuário odontológico, asso- ciando-as às informações analisadas nos exames complementares (radiografias, fotografias, modelos, dentre outros). A última etapa é a comparação dos dados obtidos nas duas primeiras, considerando-se o mesmo ponto de referência (face, dente) e tendo como base uma análise qualitativa e quantitativa das particularidades odontológicas evidenciadas10,11 . Independentemente do método utilizado para identificação do cadáver, os resultados da compara- ção de ante-mortem e post-mortem levam a uma das quatro situações seguintes: identificação positiva – existe singularidade suficiente entre os itens com- paráveis nos bancos de dados; identificação presu- mível (possível) – existem características em comum entre os itens comparáveis nos dados ante-mortem e post-mortem, entretanto, informações oriundas de ambas as fontes podem ser insuficientes; evidência insuficiente para identificação – não existe evidên- cia suficiente disponível; e exclusão das evidências de identificação – existem tanto discrepâncias ex- plicáveis como inexplicáveis entre os itens compará- veis nos dados ante-mortem e post-mortem12 . A Odontologia Legal é útil na identificação de vítimas mortais, principalmente nas situações de catástrofes e de conflitos armados que ocorrem fre- quentemente, na identificação de agressores em processos criminais, passando por avaliação e repa- ração de danos corporais, e até na identificação de alguns tipos de intoxicações7 .
  • 4. RFO, Passo Fundo, v. 18, n. 2, p. 217-223, maio/ago. 2013220 Recursos odontológicos para identificação humana Utilização de registros odontológicos A documentação produzida em decorrência dos atendimentos odontológicos, geralmente, possui fi- nalidade clínica e propicia ao profissional, a qual- quer momento, a consulta sobre o estágio em que se encontra o tratamento de seu paciente, bem como a análise dos procedimentos efetuados10 . Além da possibilidade de acompanhamento clínico, a docu- mentação serve como prova passível de ser utiliza- da com finalidade jurídica ou perícial3 , como impu- tação de erro profissional e identificação humana14 , utilizando-se as informações registradas em fichas clínicas, podendo estar associadas a exames radio- gráficos, modelos de gesso ou imagens intrabucais10 . O cirurgião-dentista deve ser detalhista ao re- gistrar dados referentes à identificação do pacien- te, anamnese, exame físico geral, extra e intrabucal com preenchimento de odontograma (ausências den- tárias, restaurações, tratamentos endodônticos, im- plantes, giroversões, próteses, dentre outras carac- terísticas), plano de tratamento com opções terapêu- ticas e valores correspondentes, bem como no que concerne à evolução do tratamento. As anotações presentes em fichas clínicas sobre os procedimentos efetuados, associados aos materiais restauradores e às particularidades morforradiográficas dos elemen- tos dentários e áreas circundantes, podem permitir uma identificação positiva de vítimas10,11 . Em situações nas quais os vestígios humanos tornam-se escassos, a identificação por meio dos elementos dentários justifica-se, dentre outros fato- res, por estes apresentarem inúmeras característi- cas peculiares, que tornam impossível a existência de duas pessoas com as mesmas características, mesmo os gêmeos monozigóticos. Os elementos den- tários e as estruturas de suporte podem fornecer diversos dados sobre o cadáver e restos cadavéri- cos, como a espécie, a estatura, fenótipo, genótipo, gênero e idade, estigmas resultantes de profissões ou hábitos pessoais, entre outros7,10 . Além disso, os dentes e materiais odontológicos possuem conside- rável resistência física e química à ação do calor, de traumatismos e alguns agentes químicos7,10,11 . A resistência dos dentes e dos materiais restau- radores é fator que viabiliza a utilização do método odontológico nas identificações post-mortem, princi- palmente nos corpos carbonizados e/ou calcinados, putrefeitos e esqueletizados. Com efeito, a indestru- tibilidade é uma característica que confere maior resistência ao dente do que ao próprio osso a altas temperaturas (600-650° C)8 . Tendo em vista a diversidade de procedimentos reabilitadores que podem ser efetuados durante a prática clínica, torna-se importante que o cirurgião- -dentista esteja atento para o correto registro, acon- dicionamento e arquivamento das peças que com- põem a documentação odontológica: o prontuário odontológico, exames por imagem, modelos de gesso e fotografias14 . Além disso, marcas para identifica- ção em próteses dentárias são importantes porque, ainda que possam ser obtidos, os registros odontoló- gicos de um paciente edêntulo têm chances de não reproduzir o estado atual dos rebordos e osso alveo- lar. Informações comumente utilizadas para marcas de identificação em próteses dentárias removíveis incluem o nome da pessoa, número da carteira de motorista e/ou outra informação numérica12 . Por saber da importância clínica e legal do pron- tuário odontológico para resguardar o exercício da Odontologia, o CFO disponibiliza um modelo de prontuário, devendo o cirurgião-dentista observar o seu conteúdo e adaptá-lo à sua rotina clínica10 . Marcas de mordida A Odontologia Legal é uma ciência que coloca seu conhecimento e sua experiência à disposição da justiça. Um importante campo de estudo e análise nessa especialidade é o reconhecimento e a inter- pretação de sinais e lesões produzidas por mordidas humanas em alimentos e na pele1 . A ciência da identificação de marca de mordida pode ser usada para vincular um suspeito a um cri- me. Essa análise pode elucidar o tipo de violência e o tempo decorrido entre a sua produção e identifica- ção, o que permite mostrar se a marca foi produzida em vida ou pós-morte e, no caso de várias mordi- das, identificar a sua sequência. Embora nem toda marca de mordida apresente quantidade suficiente de detalhes, em situações em que estes existem, a identificação das marcas pode ser extremamente útil para estabelecer uma ligação entre a pessoa mordida e o mordedor ou excluir os inocentes15 . A dentição humana possui uma singularida- de de indivíduo para indivíduo, ou seja, é única e possui diferenças entre as pessoas. Até mesmo nos casos de gêmeos homozigóticos, diferenças são ob- servadas, de acordo com estudos que comprovaram não haver dois indivíduos com a mesma dentição16 . A marca de mordida constitui uma lesão produ- zida pelos dentes humanos e/ou animais, na pele, em alimentos, vestuário ou em outro tipo de objeto, que resulta da aplicação de forma acentuada dos dentes numa base que é passível de ser deforma- da16 . Geralmente, são observadas em casos de abu- so sexual, homicídios, violência doméstica, assaltos, abuso infantil, entre outros17 . O recolhimento das impressões da marca da mordida deve ser feito por um odontolegista ou com a sua supervisão. A tomada das impressões é realizada por meio dos polivinilsiloxanos, que são
  • 5. 221RFO, Passo Fundo, v. 18, n. 2, p. 217-223, maio/ago. 2013 materiais de eleição pela estabilidade dimensional. Materiais como alginato não são recomendados de- vido aos problemas com sua estabilidade. Os mode- los deverão ser obtidos por meio de gesso tipo IV16 . O protocolo para análise de comparação de mar- cas de mordida é feito por meio de duas categorias. A primeira refere-se às mensurações de locais es- pecíficos, como distância intercanina, chamada de análise métrica. Os dentes anteriores são os mais comumente observados nas marcas de mordida, mas podem ser encontradas, eventualmente, mar- cas de pré-molares e molares, sendo a distância intercanina muito significativa nesse processo de identificação5,18 . A segunda categoria do protocolo para análise de comparação de marcas de mordida refere-se ao em- parelhamento físico, também denominado de com- paração da forma da injúria ou associação padrão. A associação padrão tem como principal instrumento a sobreposição das imagens. Diversas técnicas de sobreposição utilizam a imagem do objeto conhecido diretamente sobre a imagem do objeto em questão, avaliando os pontos coincidentes e os divergentes18 . A análise das marcas de mordida pode ser fei- ta por meio das suas evidências físicas e biológicas. No que diz respeito às evidências físicas, seu estudo contempla a comparação das características indivi- duais do suspeito com a marca de mordida presen- te na vítima. A análise da evidência biológica, por sua vez, é realizada por meio da saliva existente no objeto que foi alvo da agressão, registrando-se que uma marca de mordida é acompanhada pela pre- sença de saliva16 . A tecnologia pode ser utilizada para ajudar nas investigações criminais por meio de reprodução de objetos mordidos nas cenas de crimes. Quando a moldagem do local da marca da mordida é impos- sibilitada (marcas de mordida em alguns tipos ali- mentos), a reprodução desses objetos pode ser feita utilizando-se a prototipagem rápida. Além disso, os avanços tecnológicos podem ser empregados para a identificação do agressor por meio da análise do DNA presente na saliva encontrada na marca da mordida18 . O conhecimento da análise das marcas de mor- dida por parte do odontolegista é de extrema impor- tância no âmbito criminal. Essa é uma ferramenta interessante que pode ser utilizada pelo odontole- gista em investigações criminais. Queiloscopia A queiloscopia é o estudo das impressões labiais com base em características como espessura e dis- posição das comissuras dos lábios. O lábio possui marcas exclusivas de uma pessoa, permanentes e imutáveis, assim como a impressão digital, por isso a importância desse tipo de estudo19 . Acredita-se que apenas as patologias capazes de causar perdas substanciais de tecido mole e, assim, alterar as im- pressões labiais impossibilitam esse método13,19 . Todas as cópias labiais são importantes, mesmo que não sejam visíveis como em uma marca de ba- tom. O vermelhão do lábio possui glândulas saliva- res menores e glândulas sebáceas que, juntamente com o efeito lubrificante da língua, podem gerar impressões invisíveis ou latentes, as quais têm sido de extrema importância para se chegar à resolução final de um crime. Pode-se facilmente identificar esse tipo de impressão labial com o uso de técnicas fluorescentes19 . Rugoscopia palatina A técnica de rugoscopia palatina é o estudo ba- seado nas rugas palatinas (forma, tamanho e posi- ção), levando em conta que aspetos como compri- mento, orientação e configuração variam de forma significativa em indivíduos diferentes21 . Por serem imutáveis, em condições normais, por toda a vida, inclusive até certo período após a morte, as rugas palatinas são eficientes na identificação humana em cadáveres recentes, mas não correspondem a uma técnica útil na investigação de suspeitos na cena de um crime. Entretanto, alguns eventos, como extre- ma sucção digital e constante pressão devido ao tra- tamento ortodôntico, podem provocar alterações nos padrões das rugas palatinas20 . A cavidade oral possui grande potencial para a identificação, mas, no caso de vítimas desdentadas, limitam-se os recursos para identificação na Odon- tologia Legal, tornando as rugosidades palatinas um dos únicos elementos disponíveis20 . A rugoscopia palatina como sistema de classifi- cação foi proposta em 1930 pelo pesquisador espa- nhol Trobo-Hermosa20 , mas várias formas de clas- sificação foram sugeridas nos anos seguintes. Uma delas é a elaborada por Cormoy, que criou um siste- ma que classifica as rugas palatinas, de acordo com as suas dimensões, em três categorias: ruga princi- pal (acima de 5 mm), ruga acessória (variando de 3 a 4 mm) e fragmentos (com menos de 3 mm). Aliado com a forma em linha, curva e angulada, aponta-se, também, a origem, a direção de cada ruga e a possi- bilidade de ramificações20 . A análise e a classificação das rugas palatinas podem ser feitas de modo a se preservarem as pro- vas que podem ser usadas no futuro, por meio de modelos de gesso ou de fotografia do palato20 regis- trados ante-mortem21 . Análise genética no âmbito forense Com os avanços da biologia molecular, a análise do DNA em amostras forenses tem sido crescente- mente utilizada nos processos de identificação hu-
  • 6. RFO, Passo Fundo, v. 18, n. 2, p. 217-223, maio/ago. 2013222 mana, e a Odontologia Legal vem participando cada vez mais desses processos, tendo em vista que os dentes (principalmente a polpa dentária) são impor- tantes fontes de DNA6,21 . De acordo com Silveira6 , os métodos de análise de DNA vêm sendo utilizados mundialmente para solucionar identidades em crimes violentos, atenta- dos terroristas, desastres em massa e para encon- trar pessoas desaparecidas. A análise do DNA é feita a partir do perfil gené- tico, que é obtido por meio da decodificação do DNA nuclear ou mitocondrial. Os gêmeos monozigóticos são os únicos que possuem perfis genéticos iguais, portanto, quando estes são suspeitos de um crime, a análise do DNA não pode ser utilizada no esclareci- mento dos fatos7 . O DNA pode ser recuperado e utilizado a partir de amostras biológicas, como sangue, sêmen, cabe- lo, ossos, dentes, unhas, saliva, urina e fluídos bio- lógicos7 . Essa análise pode ser feita até mesmo no elemento dental submetido a altas temperaturas (500 o C e 600 o C pelo período de 60 minutos)22 . Em si- tuações nas quais ocorrem incêndio, explosões, que restringem a recuperação de informações a partir de restos mortais, os dentes apresentam-se como ma- terial eletivo para análise de DNA21 . Dessa forma, torna-se imprescindível a atuação do odontolegista na coleta do material genético que será analisado. Aanálise genética pode, ainda, ser feita por meio da saliva humana, pois o DNA salivar mantém-se estável e pode ser recuperado sobre a vítima viva ou no cadáver, dependendo do tempo em que ocor- reu a lesão. A análise da saliva pode ser feita, por exemplo, em casos de violência em que restaram na vítima marcas de mordida. Nessas circunstâncias, o DNA salivar encontrado na marca de mordida pode ser fundamental para a descoberta do agressor. As investigações criminais podem contar, também, com a análise de DNA salivar deixado em objetos e res- tos de alimentos na cena do crime, o que pode levar à identificação do criminoso6 . Considerações finais A atuação do especialista em Odontologia Legal é de extrema importância, e a análise odontológica é um meio muito utilizado, sendo o principal uso des- sa especialidade voltado à identificação de agresso- res em processos criminais e vítimas mortais nos casos de catástrofes e conflitos. Os dentes e mate- riais restauradores têm alta resistência, inclusive a temperaturas elevadas. Além disso, o lábio possui marcas exclusivas do indivíduo, e as rugas do pala- to são imutáveis durante toda a vida, inclusive até certo período após a morte. Esses são alguns fatores que fazem a cavidade oral apresentar um grande potencial para a identificação. O cirurgião-dentis- ta deve ser cuidadoso ao guardar o prontuário, as radiografias e os modelos em gesso dos pacientes, cabendo-lhe anotar todas as informações, pois estas podem servir para a identificação positiva de víti- mas. Abstract Objective: the present work was conducted with the purpose of discussing the performance of the forensic dentist in the criminal scope, with the intention of ex- posing the academic community to relevant informa- tion about this subject. Literature review: the perfor- mance of the specialist in forensic dentistry is restricted to analysis, report, and evaluation of events related to the dentist’s area of competence, and sections 63 and 64 of Resolution CFO - 63/2005 regulate it. The forensic dentist may perform in the criminal scope, live identi- fication, as well as on the body, and in anthropological reports. The oral cavity has great identification potential and the forensic dentist performance is very important since examining the body through the mouth and dental arches might be essential for the criminal report, hence dental analysis is widely used. Final considerations: the dentist must be careful in keeping medical records, ra- diographs, and dental casts of patients by writing down all relevant information, for they may be useful in the future for positive identification of victims. Keywords: Forensic dentist. Criminal report. Dental arches. Referências 1. Silva M. Compêndio de Odontologia Legal. São Paulo: Medsi; 1997. 2. Peres AS, Peres SHCS, Nishida CL, Grandizoli DK, Ribeiro IWJ, Gobbo LG, et al. Peritos e perícias em Odontologia. Re- vista de Odontologia da Universidade Cidade de São Paulo 2007; 19(3):320-4. 3. Conselho Federal de Odontologia. Resolução CFO- 87, de 26 de maio de 2009. 4. Conselho Federal de Odontologia. Consolidação das normas para procedimentos nos Conselhos de Odontologia. Aprovada pela Resolução CFO 63/2005. 5. Almeida Júnior E, Reis FP, Galvão LCC, Alves MC, Campos PSF. Análise da distância intercanina com relação ao sexo e sua aplicação na identificação e interpretação de marcas de mordida. RPG Rev Pós Grad 2012;19(1):14-20. 6. Silveira EMSZSF. Odontologia legal: a importância do DNA para as perícias e peritos. Saúde, Ética & Justiça 2006; 11(1/2):12-8. 7. Santos DPS. A perícia médico-dentária na identificação hu- mana [Dissertação de Mestrado]. Porto: Faculdade de Ciên- cias da Saúde, Universidade Fernando Pessoa; 2012. 8. Paranhos LR, Caldas JCF, Iwashita AR, Scanavini MA, Pas- chini RC. A importância do prontuário odontológico nas pe- rícias de identificação humana. Rev Fac Odontol Univ Passo Fundo 2009; 14(1):14-7.
  • 7. 223RFO, Passo Fundo, v. 18, n. 2, p. 217-223, maio/ago. 2013 9. Silva RF, Prado MM, Barbieri AA, Daruge Júnior E. Utili- zação de registros odontológicos para identificação humana. Rev Sul-Brasileira de Odontologia 2009; 6(1):95-9. 10. Terada ASSD, Leite NLP, Silveira TCP, Secchieri JM, Gui- marães MA, Silva RHA. Identificação humana em odontolo- gia legal por meio de registro fotográfico de sorriso: relato de caso. Rev Odontol UNESP 2011; 40(4):199-202. 11. da Silva RF, Daruge Júnior E, Pereira SDR, de Almeida SM, de Oliveira RN. Identificação de cadáver carbonizado utili- zando documentação odontológica. Rev. Odonto Ciênc 2008; 23(1):90-3. 12. Neville BW, Damm DD, Allen CM, Bouquot JE. Patologia oral e maxilofacial. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2009. 13. Neville BW, Damm DD, Allen CM, Bouquot JE. Patologia oral e maxilofacial. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2004. 14. Silva RF, Benta NG, Daruge Júnior E, Prado MM, Melo M. Importância pericial dos registros odontológicos decorrentes de tratamento protético. Revista Odonto 2008; 16(32):137-43. 15. Bhargava K, Bhargava D, Rastogi P, Paul M, Paul R, Ja- gadeesh HG, et al. Review research paper: an overview of bite mark analysis. J Indian Acad Forensic Med 2012; 34(1):971-3. 16. Almeida CVS. Marcas de mordida e a identificação humana [Dissertação de Mestrado]. Porto: Universidade Fernando Pessoa; 2012. 17. Stravianos C, Kokkos A, Eliades A, Andreopoulos E. Appli- cations of forensic dentistry – part II. Res J Med Sci 2010; 4(3):187-94. 18. Nascimento MM, Sarmento VA, Beal VE, Galvão LCC, Mar- ques JAM. Identificação de indivíduos por meio das marcas de mordida em alimentos utilizando a engenharia reversa e a prototipagem rápida: caso simulado. Arq Odontol 2012; 48(3):134-41. 19. Oliveira JA. Determinação das características queiloscópicas dos graduandos de Odontologia da Universidade Federal da Paraíba [Monografia de Graduação em Odontologia]. João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciên- cias da Saúde; 2010. 20. Tornavoi DC, Silva RHA. Rugoscopia palatina e a aplicabili- dade na identificação humana em odontologia legal: revisão de literatura. Saúde, Ética & Justiça 2010; 15(1):28-34. 21. Gomes IS. A importância da rugoscopia palatina na identifi- cação humana [Dissertação de Mestrado]. Porto: Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade Fernando Pessoa; 2012. 22. Santos UDD. Principais meios de identificação humana em Odontologia Legal [Monografia de Especialização em Odon- tologia Legal]. Contagem: Funorte Núcleo Contagem; 2011. Endereço para correspondência: Laís Ramos Queiroz Rua Rio Parnaíba, 157, Bairro Brasília 44088-312 Feira de Santana, BA Fone/Fax: (75) 3221-0853/9222-9666 E-mail: lai_queiroz@yahoo.com.br Recebido: 08/08/2013. Aceito: 19/09/2013.