O documento discute como o corpo é tratado na educação e na dança. Argumenta que o corpo deve ser compreendido como um todo através do conhecimento de cada parte, respeitando suas particularidades e limitações. A dança pode ser usada pelo professor para educar o corpo de forma a obter domínio sobre ele, trazendo benefícios ao longo da vida.
1. O Corpo como Instrumento Educativo
Por Ana Lídia Lopes do Carmo
O corpo na dança tem que passar por um processo de desconstrução, para que possa perder todas
as marcas e vícios deixados durante o tempo. Como se fosse um quebra-cabeça em que temos de
compreender cada parte e sua função para que possamos usá-las de forma mais correta e sempre
respeitando as particularidades de que é dotado cada indivíduo. Da mesma forma deve ser tratado
o corpo na educação, respeitando sua dinâmica de desenvolvimento, que por sinal não é a mesma
para todas as crianças; respeitando também suas limitações a serem trabalhadas; conhecendo
cada membro, cada músculo, cada sentido, assim como também a complexidade da unidade do
corpo humano.
A dança se coloca como consequência desses conhecimentos de si que se transmite em formas de
expressão. Tal recurso pode ser utilizado pelo professor, não só para descontrair e divertir, mas
também para educar o corpo de forma que se obtenha domínio e conseqüências sobre o mesmo.
Tais ganhos se acarretarão por toda a vida de forma positiva e em todos os momentos de forma
mais apropriada.
Formas de conhecer o corpo
Segundo Moreira (2003), existe formas diferenciadas de conhecer o corpo, são elas: corpo objeto
manipulável; corpo objeto mecânico; corpo objeto de rendimento; corpo objeto especializado e
corpo objeto burro (corpo alienado).
Dentre essas vamos no deter apenas a três formas de conhecer:
- A primeira, corpo objeto mecânico, é caracterizado como algo sem subjetividade; e é até
comparado a um relógio por ser tratado da mesma forma. Como, por exemplo, o relógio está com
uma peça danificada ou não realizando bem suas funções, então se substitui essa peça. Assim
como o corpo, quando temos uma simples dor de cabeça tomamos logo um remédio para
solucionar o problema, sem se preocupar com a causa dessa dor.
- A segunda, corpo objeto de rendimento, é um dos que mais se vê na sociedade atual. Ele tem
como um de seus principais princípios que “uma pessoas vale o que rende”, então se você não
rende também não tem valor. Outro ponto importante para esse tipo de corpo é a constante busca
pela perfeição, pois se você não se adequar a esse modelo de perfeição não estará dentro do grupo
das pessoas bem sucedidas e felizes. E isso se reflete não só no corpo, mas nas atividades a serem
realizadas. E aqueles que não rendem são automaticamente descartados. Como por exemplo, o
caso dos idosos que por não terem rentabilidade máxima são excluídos.
- A terceira e ultima, o corpo objeto especializado, é aquele que se especializa em uma função
ou conhecimento apenas. Como por exemplo, os médicos especialistas.
Tais concepções de corpo vêm influenciando a prática pedagógica há anos. As crianças antes eram
tratadas como seres mecânicos e sem anseios ou privações, o conteúdo restrito era passado de
forma passiva e mecânica. Essa educação tinha como objetivo obter um maior rendimento sem a
interferência da subjetividade. Como bem podemos perceber no método tradicional, tal prática que
ocorre ate os dias de hoje só que de forma mascarada.
2. Pedagogia postural e corporal
A pedagogia postural e corporal tem como objetivo moldar a criança nos padrões de uma
postura ereta, rígida e perfeita; para que dessa maneira ele estivesse sempre com o olhar voltado
para Deus. Não era admitida outra postura que não fosse essa ensinada desde pequenos em casa e
na escola como os professores.
Essa referencia a Deus se dá pelo fato de que a educação antigamente era ministrada em escolas
católicas, por serem os padres detentores de conhecimento. Tal conhecimento estava nos livros
que tinham um acesso restrito à igreja católica. Nessas escolas as crianças eram sujeitadas a
castigos, repressões e maus tratos se não obedecessem ao padrão idealizado.
Na família é da mesma forma reforçada a postura e o trato como corpo, com castigos e tortura
psicológica faziam como que as crianças ficassem oprimidas pelo medo e acabassem obedecendo
à vontade da igreja que fala em nome de Deus. Mesmo quando recém nascida à criança era
enfaixada de maneira a ficar com a coluna reta. Nem mesmo ao alcançar certa estatura não era
permitido que a deixasse engatinhar, por que dessa forma sua postura estaria curvada para Deus.
Por conta disso alguns estágios do desenvolvimento da criança não eram vivenciados.
Referências:
LEVIN, Esteban. A infância em cena: constituição do sujeito e desenvolvimento psicomotor.
Petrópolis (RJ). Vozes, 1997.
MARZANO-PARISOLI, Maria Michela. Pensar o corpo. Tradução de Lúcia M. Endlich Orth –
Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.
MOREIRA, Wagner Wey. Corporeidade e Lazer: a perda do sentimento de culpa. (Disponível em
<http://www.ucb.br/Mestradoef/RBCM/11/11%20-%203/c_11_3_13.pdf> Acesso em 11 Abr
2010)
NUNES, Clarice. Dança, terapia e educação: caminhos cruzados. (Disponível em
<http://www.terapiadoser.com.br/artigosts/Danca_Terapia_e_Educacao.pdf> Acesso em 11 Abr
2010)