O autor envia uma carta ao poeta agradecendo o envio de seu livro de estréia e fornecendo um breve feedback. Ele elogia a habilidade do poeta com as palavras e a fluidez de suas frases, mas sugere que o poeta pode ter mais aptidão para a prosa do que para a poesia e que seu futuro caminho dependerá de encontrar sua própria problemática na vida.

1. são Paulo, 8 de janeiro de 1997
Caro poeta-ficcionista,
Johnny Batista Guimarães
Antes que o tempo passe demasiado, apresso-me a acusar e
agradecer o envio de seu livro de estréia, Dentre outras coi
sas. Como estou atolada em trabalho (escrevendo uma série de
livros para professores da pré-escola ao superior, para o en
sino da literatura) apenas pude passar os olhos "em diagonal"
em seus textos. (Chegam-me às mãos pelo menos um ou dois li-
vros novos por dia...tinha idéia de que se publica tanto as-
sim no Brasil? pois é...) Dessa leitura nada critica, resul
t~algumas intuições: v~cê tem o "dom"...sabe trabalhar com
a palavra, a frase flui com facilidade; vê a realidade pelo
prisma irõnico; estã sintonizado com a "carnavalização" que
impera em nosso mundo-em-mudança-de-pele; tem em seu horizon
te um leque de problemãticas, mas ainda não encontrou a "sua"...
Foi bom que tivesse publicado este livro. É só quando nos vemos
concretizados em livro, que podemos avaliar realmente o que es-
crevemos. Pode ser que me engane, mas sinto em seu fluxo verbal
muito mais tendência à prosa do que à poesia. Jã experimentou
escrever contos? Ou talvez eu esteja enganada, pois você ten
de para a concisão exigida pela poesia. No fundo, talvez, seu
futuro caminho dependa apen,as do encontro com a "sua" problemã
tica em face da vida... É o que eu posso dizer, numa leitura
super-rãpida...pois para mais, não hã espaço nem tempo...
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