Racismo e preconceito enfrentados por estudante negro
1. Prólogo Oi gente, estamos aqui para falar do nosso projeto para a Semana de Consciência Negra. O lançamento do mangá ‘‘Marcos Monogatari’’ que significa ‘‘A História De Marcos’’. Esta história conta a vida de um jovem quer mora na cidade de São Tadeu (cidade fictícia) e que acabou de passar no vestibular para a faculdade que tanto queria entrar. Só que ele começa a ver que as coisas não são tão boas assim. Um rapaz chamado Félix começa a se aproximar de Marcos de um modo negativo, começa a tratá-lo com descaso só por causa da cor de sua pele e isso não é só por parte dele. Esta estória não fala só sobre o racismo, mas também fala muito sobre a personagem, a sua família, a sua vida amorosa, os seus problemas, que não são poucos, além de outras coisas mais. O mangá será lançado uma semana depois deste Novel (Mangá escrito), na página do Facebook ‘‘A Tal Democracia’’ e no blog www.ataldemocracia.blogspot.com. Esperamos que vocês gostem da estória e que leiam o mangá daqui a uma semana. Boa leitura!
Bruno Nascimento, Erika Cavalcanti, José Santos, Keila Sousa e Filipe Mendes
2. Meu nome é Marcos Santos. Eu tenho 19 anos. Tenho 1 metro e 78 centímetros de altura. Eu sou como qualquer garoto. Vocês devem estar se perguntando o que eu estou fazendo aqui. Logo não os perturbarei, mas antes eu vou contar minha história. Vocês podem me ouvir ou não. Bem tudo começou quando eu passei no vestibular da FFSJ. O mais irônico é que sou o único negro da minha sala. E não existem muitos outros negros na minha escola. Bem para mim foi difícil acreditar que fiquei entre os dez melhores na prova do vestibular do ano retrasado. Foi uma grande surpresa. No início achei legal, pelo menos até o primeiro dia de aula… Vou lhes contar como tudo aconteceu, foi mais ou menos assim: Segunda-feira, 15 de Janeiro, 8 horas da manha Dona Rosa – Marcos, acorda filho. Marcos – Que foi mãe? Dona Rosa – Chegou uma carta pra você. É da faculdade. Marcos – O quê! Sério? Levantei tão rápido que cai da cama. Dona Rosa – Calma filho ela não vai fugir! – ela ri as alturas. Rasguei a envelope às pressas e li: “PARABÉNS! VOCÊ FOI APROVADO” Dona Rosa – E ai? Marcos – Caralhoooo!!! E-eu passei! Tomei um tapa da minha mãe. Dona Rosa – Se respeite! Marcos – Desculpa... Depois que ela se acalmou ela disse: Dona Rosa – Tudo bem. Eu estou muito orgulhosa. E quando começam as inscrições? Marcos – Fevereiro.
3. Passaram-se 3 meses... Hoje é meu primeiro dia de aula. Como será aqui na faculdade? Me lembro que no IFBA era bem difícil, muito puxado. Eu me esbarrei com um cara alto e aparentando ser mais velho que eu. Félix – Hey! Qual o seu problema? Olha pra onde anda saci! Marcos fica meio confuso, mas entende o recado. Escutamos uma voz vindo dos alto-falantes. Diretor – Novos alunos, por favor venham ao auditório. Logo depois longo discurso longo e chato do diretor, que me deixou sonolento, nós fizemos um tour pela faculdade. E eu encontrei o mesmo garoto de antes com uns caras que pareciam veteranos. Félix – Olha quem eu encontrei de novo pessoal. O pretinho que eu falei. .. Ele se aproximava de mim de modo intimidador. Félix – Vou lhe passar a real, toda vez que você me ver passar abaixe sua cabeça e não terá muitos problemas neguinho. Ele chegou muito próximo de mim apontando o dedo na minha cara.
4. Carla – Félix para com isso! Que criancice. Ela me defendeu. Eu nem a tinha notado mas ela o afastou de mim. Félix – Qualé Carlinha... morzinho... Depois disso abaixei minha cabeça e fui embora sem nem pelo menos olhar pra trás. Apesar de não ser o único negro daqui, por ser tímido e não saber me enturmar rapidamente sou um alvo fácil. Não só aqui na faculdade, toda a minha vida fui assim. Já estou meio acostumado a essas provocações. Algumas semanas depois as intimidações não cessaram. Apesar disso eu estava indo bem na faculdade. E acabei descobrindo que Carla era uma garota bem legal, apesar do namorado insuportável. Ela fazia aula de física comigo e as vezes trocávamos ideias. Estávamos andando no corredor e conversando sobre o novo assunto. E nem percebi, Félix se aproximava. Ele nos assustou quando agarrou o braço de Carla. Félix – Tá doida Carla? Para de andar com esse neguinho! Carla – Me solta Félix você tá me machucando. Marcos – Solta ela, cara! Félix – Não se mete! Com você, eu me resolvo depois. Eu não soube o que fazer enquanto ele a arrastava pra longe. Naquela tarde eu estava voltando pra casa já era tarde e eu andava apressado e distraído com meus fones no último volume. Nem vi o que atingiu meu queixo me derrubando. – Isso e para você não se meter a não se meter com a garota dos outros. Aquela voz me era familiar, era ele, o babaca do Félix. “Não acredito que alguém como a Carla namora alguém como você!!!”; era isso que eu queria gritar enquanto diversos chutes acertavam minhas costelas. Após algumas dúzias dos mesmos veio a escuridão...
5. Acordei algum tempo depois. As luzes dos postes já estavam acesas. “Não posso deixar que minha mãe veja que isso aconteceu”, pensei. Me levantei. A dor era gritante em meu tórax, mais o jeito era seguir em frente... Chego em casa tentando ser discreto até chegar ao meu quarto mas... Dona Rosa – Filho, o que houve? Marcos – Não foi nada mãe, estou bem. Dona Rosa – Não, não está, me conte o que aconteceu? Ela segurou meu rosto e o virou, notando a marca roxa próxima ao meu queixo. Dona Rosa – Quem fez isso? Marcos – Eu entrei em uma briga e.... Dona Rosa (cortando a fala do filho) – Briga? Mas você nunca foi de brigar! Marcos – É que aqueles caras são uns babacas e eu não pude me conter... Dona Rosa – E você tem certeza de que foi só esse machucado que você conseguiu nessa tal briga? Marcos – Na verdade não. Levantei a camisa apreensivo, mostrando os hematomas. Marcos – Mas eles acabaram muito piores do que eu. Dona Rosa – Está tudo bem venha vamos colocar um pouco de gelo nisso tudo. Depois de pôr gelo em minhas vergonhas fui dormir, sentindo uma dor que facilmente superava aquela infligida por Félix, a dor de ter mentido para minha mãe... “Mas amanhã é um novo dia” era nisso que eu tentava acreditar, eu estava com medo isso é inegável e o meu amanhã não prometia coisas muito boas, me mudaria para a república e provavelmente encararia ele todos os dias... Foi com essas coisas em mente que eu apaguei naquela noite.
6. E lá estava eu na manhã seguinte, carregava comigo um caderno, uma lapiseira, uma borracha e um par de canetas, uma azul e uma preta. Durante as aulas tudo ocorreu normalmente. Conheci diversos professores, quase todos eles pareciam legais, mas um deles, o único professor negro como eu, me encarava de um jeito estranho. Após o fim do último período eu estava pegando minhas coisas para ir embora quando algo acertou minha nuca. Félix – Então carvão, já viu que isso aqui não é pro seu bico? Encarei o chão por algum tempo e devido ao barulho percebi que ele não estava sozinho, fiquei calado, aturei tudo aquilo quieto, logo eles logo se cansaram e foram embora. Era fim de tarde eu estava voltando para casa, só me perguntava se teria que encarar aquilo todos os dias. Choveu à noite, ainda bem, a pomada que eu passava para que saíssem os hematomas esquentava a pele demais e a queda de temperatura aliviava aquela sensação. Apesar do que aconteceu mais cedo, eu dormi muito bem aquela noite. Outra manhã começava. A dor no tórax tinha diminuído. Já havia me esquecido do que teria que encarar mais uma vez. Após me arrumar, peguei minhas coisas. Olhei para o caderno, ele estava quase intacto, quase, lembrei-me que o havia jogado contra a parede, sentindo raiva. Algo fez com que aquela raiva voltasse. Pensei em não encarar aquilo de novo, para afastar aqueles pensamentos de minha cabeça e minha mãe bateu na porta. Dona Rosa – Marcos, anda rápido ou você vai acabar se atrasando! Marcos – Tudo bem mãe eu já estou indo! Saí correndo, apesar da chuva noturna a manhã estava bonita. As plantas estavam com pequenas gotas d’água que se iluminavam com a luz do sol. Elas me chamavam a atenção, mas algo que brilhava muito mais do que aquilo era ela, ela que me protegera outrora, lá estava Carla. Me aproximei dela lentamente. Marcos – É realmente uma bela visão não é? Carla (virando-se) – Sim. Realmente é.
7. Carla – Ehh... E-eu... Marcos – O que? Carla – Me desculpe por aquilo. Félix é muito ciumento. E por isso... Ela falou tocando no seu rosto. Estava tão sem graça. Parecia realmente arrependida. Marcos – Não. Você não tem culpa disso. E eu nem lhe agradeci pelo outro dia. Você sabe? Aquele que você me ajudou com o Félix. Carla – Sempre o Félix, não é? O idiota do meu namorado costuma incomodar as pessoas, me desculpe por ele. Marcos – Não, está tudo bem, mas se continuarmos aqui vamos nos atrasar... Carla – Tem razão. Eu vou indo. Te vejo na aula. Marcos – Tchau! Ela acenou e se foi. Aquele dia foi bem mais normal do que eu esperava. Nem vi o Félix.
Dois meses depois... Minha amizade com Carla só aumentou, mas ainda é segredo. Carla não confiava em Félix depois do que ele fez. Eles pareciam muitos afastados. Era difícil vê-los juntos. Só por isso nossa aproximação foi possível.
Três meses depois... Eu continuava sendo insultado pelos meus colegas, principalmente Félix que continuava a me discriminar. Naquela manhã recebi um chamado do diretor. Fui o caminho todo para a sala do diretor me perguntando que eu tinha feito de errado dessa vez. Entrei na sala do diretor ele aparentava estar nervoso.
8. Diretor – Marcos, sente-se. Eu tenho uma má notícia para lhe dar. Seu pai acaba de ligar. Marcos – Meu pai... – fazia muito tempo que eu tinha falado com meu pai, ele tinha ficado distante depois da separação. – O que houve? Diretor – Sua mãe... a sua mãe está no hospital Rychester em estado muito grave. Um carro... Eu nem parei para escutar o que ele disse. Saí correndo daquela sala e peguei o primeiro táxi que achei. Quando cheguei lá, meu pai estava me esperando com cara de pesar. Pai – Marcos... Ele me abraçou. Ele falava com a voz embargada. Eu já tinha começado a chorar a essa hora. Pai – A sua mãe... ela não resistiu aos ferimentos. Naquele momento eu não pude dizer nada. Nem saberia o que falar se pudesse. O choque me abalou muito. E meu sofrimento se arrastou por muito tempo.
Um mês depois... Eu não conseguia ver a vida do mesmo jeito que antes, tive que começar a morar com o pai, e a madrasta infernal. O resultado não foi diferente... Entrei em depressão aguda. Meu pai me obrigou a voltar a faculdade mesmo eu não querendo ir, nem ligava pra Félix e Cia. Carla – O que tá acontecendo? Você perdeu muitas aulas e não tá prestando atenção em nada? Marco – Nada aconteceu. – falei sem olhar pra ela. Carla – Você não sabe mentir, é melhor me dizer e não adianta tentar me afastar.
9. Eu já estava irritado. Ela me fez recordar ainda mais meu pesar. Marcos – Você quer saber a verdade?! Durante esses últimos meses minha vida foi um INFERNO! – Eu não tinha percebido mais acabei gritando Carla – Me desculpa por não saber ler mentes... – falou irada, já indo embora. Marcos – CARLA... – corri pegando no braço dela e a beijei. Continuamos nos beijando por alguns segundos, até perdemos o folego e eu a soltei. Ficamos nos encarando e então sem dizer nada, ela foi embora. Semanas se passaram e Carla não falou uma palavra se quer dirigida a mim. Só podia imaginar o que se passava em sua cabeça e acredite: não eram coisas boas. Estava saindo naquele dia, voltando pra casa infernal do meu pai. Como sempre: com meus fones. Mas ainda assim consegui escutar aquela voz. Como não poderia? Carla – ... MARCOS! Parei na hora e logo olhei pra traz. Lá estava ela correndo até mim. Ela minha pessoa favorita do mundo todo e estava agora na minha frente. Marcos – Sim? O que foi?
10. Carla – Eu só queria lhe contar que eu terminei com o Felix – falou tímida olhando pro chão. Marcos – E-eu... Carla – Você não precisa dizer nada. – E então ela me beijou e eu sabia que não deixaria ela ir embora nunca mais. Mais nunca esperava ver o que vi depois dos meses mais felizes da minha vida. Depois que minha mãe morreu, nada mais importava se eu tivesse Carla.
5 meses depois... Eu estava atrasado para encontrar Carla pra voltar pra casa. Ela deveria estar muito irrita por me esperar. Sei o quanto estava pra ouvir mas ainda sempre tem a opção de a calar com um beijo. Chegando ao portão nunca esperei ver o que vi. Lá estava Carla se beijando com outro homem. Não qualquer outro homem. Era o Felix. Marcos – CARLA! ... Eu queria estar em qualquer outro lugar naquele momento, então eu corri. Minhas lágrimas escorriam e nem vi como cheguei ao prédio do meu pai. Subi as escadas com velocidade e fui a cobertura. Comecei a pensar como ela pode deve ter pensado “Como foi fácil enganar aquele neguinho, imbecil!”. Devem estar rindo de mim agora. Eu não vou aguentar vê-la todos os dias ao lado de outro. Não depois de tudo que passamos e das palavras que me disse.
11. Agora não tem mais nada que me prenda a esse mundo. A única coisa boa que me restará acaba de ser tirada de mim. Parece que tudo de bom que chega até mim sempre é retirada. Fui para o parapeito e o chão nunca pareceu tão atrativo. Meus pés estavam agora na borda. Fechei e disse a mim mesmo: Você não está deixando nada pra traz. Com apenas um passo eu fui caindo. Nunca me senti mais livre... E tudo escureceu.
12. Versão Final de Carla Era mais um dia comum pra mim estava indo de volta pra casa mas meu namorado, como sempre, estava atrasado. Carla – Onde será que ele se meteu? Felix – O carvão desistiu de você docinho. Ele me deu um susto, me fazendo dar um pulinho de surpresa Carla – Ai que susto menino! Minha vida não é da sua conta e você não tem mais essa intimidade para falar comigo. Felix – Eu não preciso ter nada para falar com você. Você vai ser sempre minha. Ele me agarrou e me deu um beijo inesperado. Tentei me afastar mais ele era forte demais. Marcos – CARLA! ... Seu grito quebrou algo dentro de mim. Só queria me soltar daquele idiota e correr pros seus braços. Mas quando ele me soltou já era tarde demais. Marcos já estava correndo pra longe. Me virei para Felix. Carla – Olha o que você fez seu idiota! – falei começando a chorar Felix – Eu sempre consigo o que quero. Dei-lhe um soco. Carla – Babaca idiota! Corri atrás do Marcos. Quando cheguei na rua de Marcos uma confusão acontecia. Sirenes de ambulância e comentários como “ele se jogou?”, fizeram meu coração gelar. Corri até prédio de Marcos, mais fui barrada por uma fita amarela e um monte de curiosos. Ser baixinha sempre foi um problema. O jeito era rezar e pergunta a alguém. Me dirigi a um estranho qualquer com esperança. Carla – O que foi que aconteceu aqui? Estranho – Um garoto pulou do prédio... tão jovem...
13. Não ouvia mais o que homem dizia. Sai empurrando todo mundo que estava na minha frente. Não importa o quanto fosse menor. Nada me impediria de chegar até lá. Mas quando consegui, tomei um choque. Não podia acreditar no que via. Lá estava ele, já sendo carregado pelo IML. Eu tinha sair dali o mais depressa possível. Não parava de pensar “Ele tinha um futuro brilhante. Um homem no corpo de um menino. Um dos seres mais gentis que eu conheci. E era meu, só meu.” O mundo girava em sombras a minha volta. Eu só ouvi o barulho alto de derrapagem quando algo me acertou com força... O mundo estava escurecendo, mas havia uma parte boa. Eu via que meu anjo, meu Marco, poderíamos ficar juntos para sempre...