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PRÓLOGO

7 a.m, e além do triturar do limpador de ruas lá fora, eu ainda podia ouvi-los no quarto dela.
Ela tentava abafar o barulho, porém não havia dúvida do que estavam fazendo. Como ela
podia fazer isso comigo?

Isso não é real. Não pode ser real.

Eu me deito pela metade em cima dos lençóis, uma mão acariciando meu estômago. Todo o
meu corpo ficou paralisado, congelado. Se eu pudesse sentir isso. Queria sentir.

Eu parei de me acariciar, puxei o lençol sobre mim e rolei para meu lado da cama. Fiquei
encarando para fora da minha janela a manhã nascendo – apenas começando a brilhar. Eu
senti o suor escorrer por trás do meu pescoço – já estava muito quente – e minha cabeça
latejava. Minha felicidade estava murcha e estremecida dentro de mim. Ela não me amava. Ela
nunca teria feito isso comigo se me amasse.

Então pararam.

“Muito obrigado por isso, porra.”

Olhando para o teto, eu franzi o cenho, meus lábios se partiram ao meio para que eu pudesse
soltar um silencioso e incrédulo suspiro.

Me senti como se fosse o fim do mundo. A pior coisa que já aconteceu comigo. Se eu pudesse
imaginar por um segundo que eu poderia acreditar no amor, eu percebi agora que eu estaria
me iludindo. Porque tudo termina do mesmo jeito, mesmo você o amando ou não.

Todo mundo te trai no final.

AGOSTO – SEMANA 1

Effy

Dia 1, sábado, agosto.

Veneza

Então ela escolheu Veneza. Eu posso ver o porquê. É como um castelo gigante da Disney, mas
muito surreal de certa forma. E é um bom longo caminho de Bristol para lá, do meu pai e de
toda porcaria de lá. Então bom trabalho mãe. Qualquer coisa que bote algum distância entre
mim e todo mundo. JJ, Cook e Freddie. A porra dos três mosqueteiros.
Eu começara algo e não conseguia continuar com isso.

E estar cercada por água – como um fosso gigante nos separando do inimigo. Eu e minha mãe
tínhamos de fugir.

Nós alugamos um apartamento pequeno longe do centro e dos turistas. Os donos tinham ido
embora da cidade pelo verão todo. É um prédio de quatro lados com um grande pátio no
meio. Fantástico. Tão pitoresco. Até as paredes rosas descascadas, elas me lembram de
milkshake de morango. Tem uma varanda também. Azul enferrujado. Perfeita para se sentar,
observar e fumar. Ver sem ser vista.

Meu quarto, de qualquer jeito, é um espetáculo de aberrações. Barbies por todo o lugar. Uma
cama de solteiro. Uma imagem de Jesus e Maria com os seus jeitos virginais. Naomi e Cook
mijariam nas calças se pudessem me ver agora, eu pensei, enquanto jogava a minha mala na
cama e olhei em minha volta. Não tinha computador. Eu achei uma Lan house depois de
algumas horas, assim poderia manter contato. Se eu quisesse.

Minha mãe estava deprimida assim que chegamos lá. Estava nublado, chovendo muito, úmido
e fedia mas, Deus, tudo em que ela pensa ultimamente é nela. Ela e a porra de seus
problemas. Que ela criou, por sinal. Talvez eu devesse ser mais simpática considerando toda a
merda que eu tenho me metido nos últimos meses, mas minha mãe nem ligou ou pareceu se
importar.

E eu?

“Qual é o seu problema?” Eu perguntei.

“Nenhum. Eu não sei.” Ela disse cansada. “Não era realmente o que eu esperava... talvez foi
um erro vir para cá?”

“Talvez” Eu fechei os olhos, irritada.

Faça um esforço, Effy, você sabe como é se sentir uma merda.

Eu abri as persianas. A chuva tinha parado. Os raios de sol me fizeram piscar. E sorrir. “Viu?” eu
me virei pra minha mãe. “Transformado.”

Um patético e fraco sorriso. “É, isso ajuda.” Ela tirou os cigarros de sua bolsa e acendeu um.
“Então, o que deveríamos fazer agora?”

“Eu vou tomar banho” eu disse. “Depois eu vou explorar o lugar. Achar uma Lan house”.
“Ah, espere” ela me entregou um envelope marrom. “Isso é do seu pai”.

Eu rasguei para abrir. Contei cinco notas de cem euros.

“Para gastar” disse mamãe. “Isso deve ser o bastante, se precisar de mais fale comigo”.

“Certo, obrigada” eu disse ingrata.

Vai precisar mais do que merda de dinheiro.

“Bem” ela suspirou. “Eu vou arrumar esse lugar e deixar mais como um lar”.

Lar? Se isso a deixa feliz, acho.

Assim que eu cheguei lá fora, acendi um cigarro, peguei meu telefone e o liguei, esperei que
ele captasse sinal e deletei a mensagem da operadora. Dez minutos depois recebi uma
mensagem da Pandora. Alguma coisa sobre o Thomas e a mãe dela. Pediu para que eu
mandasse fotos para ela. Sim, Panda.

A tarde estava na metade e silenciosa. Na esquina da rua, alguns velhinhos sentavam-se em
frente a uma lanchonete jogando dominó. Um cachorro sarnento cheirava o chão ao redor de
seus pés. Uma mulher parecendo exausta com um avental de corpo inteiro estava esfregando
o chão do prédio perto do nosso. Ela parou por um minuto para descansar e me notou, em pé
com o meu telefone. Ela me olhou de cabo a rabo com um tom desaprovador, talvez com
inveja. Essa era a vida dela todo dia esfregar, esfregar, deixar limpo. Ela botou seu esfregão de
volta ao seu balde e seguiu em frente.

Eu acendi outro cigarro e fui em direção a um muro baixo, oposto ao nosso prédio. Eu sentei,
fumando, fazendo meu lance de observar as pessoas. Encarando. Três garotos, da minha idade
talvez, cruzaram a esquina. Um deles, o alto, com um chapéu, parecia o Freddie. Lindo. Meio
cheio de si. Me chamou a atenção.

“Signorina... ciao... ciao” ele assobiou. Os dois perto dele começaram a fazer macacadas,
assobiando, gritando coisas que eu não entendia, chegando perto de mim.

“Você sabe o que ‘cai fora’ significa?” eu perguntei ao mais alto quando se acalmaram. “Cai.
Fora.”

“Ooooh. Inglese.” Ele começou a vir. “Legal. Está de férias?”

“Quoi?”, Soltei um anel de fumaça perfeito.
Os dois racharam. Eu suspirei em minha mente e descruzei as pernas. Meus pés estavam
queimando, estava muito quente. Minhas pernas estavam nuas. Eu olhei para elas e depois
para os três garotos. Eles haviam parado de rir. Silenciou-se. Minha respiração começou a
acelerar, mas eu não iria deixá-los cheirar o medo. Eu joguei meu cigarro no chão à minha
frente e começamos a nos encarar.

“Então, quando quiserem ir se foder, está tudo bem para”

“Como é que é?” disse o mais alto “Nós só estávamos sendo amigáveis. Talvez seja você que
deveria ‘se foder’ agora” Ele olhou para seus amigos. “Você esta vestida que nem uma puta”
ele complementou. “A porra de uma puta.”

Eu queria vomitar. Vomitar todinha neles. Eu queria meu pai, minha mãe, Freddie.

Eu começara algo que eu não podia terminar.

“Eh Che fate?!” uma voz gritou. Um sujeito mais velho vindo em minha direção, com aquele
visual caro dele. Terno, camisa, sapatos italianos Poncy. Ele olhou bruscamente para os três
idiotas e soltou a correnteza de italiano bravo.

O mais alto saltou no ar e uivou que nem um lobo. Eu sorri com desdém. Cook. Que nem o
Cook. Os outros dois fizeram o mesmo e foram embora correndo.

“Ciao, bella” um deles me gritou obscenamente enquanto corriam “Vadia inglesa”. Então eles
já estavam na esquina. Foram embora.

O que me deixou sozinha com a porra do George Clooney.

“Sta bene?” ele perguntou. “Você está bem?” ele chacoalhou a cabeça “Não ligue para esses
rapazes”.

“Eu não estava” eu disse sorrindo. “Mas tudo bem”.

Eu me levantei, já sem vontade de explorar e entrei em nosso prédio.

“Ah, você está morando aqui?” ele disse. “Eu também” ele estendeu sua mão “Meu nome é
Alfredo, mas meus amigos me chamam de Aldo”.

Eu dei minha mão. “Effy.”

Nós fizemos aquela coisa de sorrir estranhamente.
“Você não deveria fumar” ele disse, olhando para o maço de cigarros em minhas mãos. “Faz
mal para pele”.

“Obrigada pelo conselho” eu educadamente disse dando o meu sorriso mais charmoso. “Eu
vou carregar isso em mente”.

Ele abriu a porta de madeira gigante e a segurou para mim. Nós estávamos na entrada, a qual
cheirava a umidade, como uma caverna. Eu olhei para todas as antigas entradas de quem já
viveu por lá.

Eu queria uma, eu pensei. Eu gostaria de entrar em uma e ficar lá escondida para sempre.

“Então...” disse o Aldo. Ele começou a subir a escada de pedras e se virou para mim “Você está
com seus pais?”

“Minha mãe” eu disse “Ficaremos aqui por um mês”.

“Ah, vocês alugaram o apartamento dos Tropeas? Bem nós deveriamos beber um Grappa
juntos, talvez? Uma bebida de boas-vindas!”.

“Grappa?”

“Uma bebida italiana, Effy. Queima a alma.”

Com o despeito de não querer, eu sorri. “Seu inglês é muito bom.”

“Obrigado. Eu passei um ano estudando em Londres. Eu estava esperando há muito tempo
alguém dizer isso. Eu não pratico muito hoje em dia”.

Nós chegamos ao topo do segundo lance de escada e Aldo sentiu seu bolso de trás.

“Droga” ele disse. “Eu deixei minhas chaves na casa da minha mãe”. Ele esfregou a testa.
“Estou trancado para fora do meu apartamento”.

“Tudo bem.” Eu mordi meus lábios e pensei a respeito “Você está com sua carteira?”

“Sim, mas –“

“Eu preciso de um cartão de crédito. Só preciso disso”. Eu observei sua expressão, que estava
confusa. “Para abrir a porta?”

Ele me encarou, não entendendo por um segundo, depois sorriu um sorriso perfeito pra
caralho. Ele não parecia tão mal. Eu não tinha percebido antes.
“Garota esperta. Agora, como, e o mais importante, por que você aprendeu a fazer isso?”

“Por que talvez eu achasse que fosse útil?” eu disse olhando mordazmente para a fechadura
de sua porta.

“Então isso acabou de ser provado” Aldo disse, me entregando sua carteira.

Eu ignorei os vários cartões de crédito à disposição, incluindo o Amex platinum, e peguei o
cartão mais frágil e laminado. Cartão de filiação ou alguma coisa assim. Eu me ajoelhei no chão
e deslizei o cartão o mais longe que podia no espaço acima da fechadura, o inclinei até
encostar na maçaneta, então o dobrei de volta ao outro caminho e o inclinei sobre a porta.
Pronto. Eu me levantei e esfreguei meu joelhos.

“Muito obrigado pela ajuda” ele disse. “Você gostaria de entrar para tomar um drink?”

“Não” eu respondi. “Obrigada”.

Por que eu disse isso? Porque minha resposta padrão é sempre “Não”.

Eu o esperei insistir, mas ele não o fez. “Tudo bem, Effy” ele estendeu a mão para alcançar a
minha. Era quente e seca, não pegajosa. Grande, forte. “Eu estou endividado com você”.

Nós sorrimos um para o outro.

Deixe-o aí, pensei. Não vá. Botei uma mecha de meu cabelo entre meus dedos e acariciei
lentamente. Eu li uma vez em uma revista que homens odeiam quando as mulheres brincam
com seu cabelo. Que se foda.

“Bem, te vejo então” eu disse devagar. “Outra hora”.

Sem esperar que ele falasse, eu subi para nosso apartamento, contando o tempo com cuidado.
Quando eu cheguei no topo da escada eu olhei pra trás. Ele tinha ido embora.

Naomi

Domingo, 2 de Agosto.

Boate Ritzy

A música estava ensurdecedora. O braço do Cook surgiu e bateu no meu rosto.

“Ei! Idiota desastrado” eu bati em suas costelas.
Ele se moveu mais para perto de mim. Pressionou seu maldito rosto sobre o meu. “Ah,
princesa. O Monstro Cook está apenas sendo amigável...” ele acariciou minha bochecha.

Eu tirei sua mão de mim, mas lutei comigo mesma para não sorrir, só um pouco. O lance do
Cook é que ele é malditamente irresistível. Eu não gosto dele. Digo, estou em outro time
agora, por assim dizer. Ele está descontrolado pra porra. O oposto de mim. Mas às vezes, é, eu
não ligaria de ser capaz de fazer e dizer qualquer merda que eu quisesse. Eu morreria antes de
dizer isso a ele, mas eu secretamente invejo o Cook. De um jeito doentio, obviamente.

“Cook”. Olhei pra ele com o olhar de irmã mais velha desesperada. “Só se aquiete, pode ser?”

Ele riu que nem um maníaco “Eu não me aquieto, Naomi. Você sabe disso”. Ele deu um beijo
molhado no meu nariz. “Certeza de que eu não posso te tentar a voltar para o trem dos
pintos?”

Eu limpei sua baba. “Trem dos pintos?”

“É, talvez não”. Cook tinha seus olhos grudados em alguma coisa atrás de mim. Eu virei. Emily
estava parada lá. Tinha olhos grandes, parecendo duvidosa. “Sua parceira em colar velcro te
chama”.

Eu estendi a mão e segurei a mão da Ems puxando-a para perto de mim. “Nós vamos ignorar
essa observação” eu disse a ele asperamente. “Vou deixar passar. E só –“ eu belisquei sua
bochecha “- porque você é um marica por dentro”.

Cook riu em silêncio, suando por causa dos efeitos da ecstasy. “Justo o bastante, Naomikins”.
Ele tomou um gole de Lager e balançou a lata para nós. “Vejo vocês depois, sapas”.

Emily mexeu seu nariz. “O que ele queria?”, ela perguntou, tentando não soar incomodada
que o Cook flerta comigo. Bem, flerta em seu jeito maluco.

“Nada, querida”. Eu botei meus braços em volta dela e deslizei uma mão por debaixo de sua
blusa, acariciando sua coluna. “Vamos lá, vamos ir embora e fazer alguma coisa depravada em
algum lugar”.

“Aqui?”. Emily disse sorrindo um sorriso doce e vulgar ao mesmo tempo.

“Aqui”. Eu segurei as mãos dela e a puxei atrás de mim em direção ao banheiro. Ela me seguiu
entre um grupo gigante de silhuetas coladas em direção ao banheiro feminino. Quando
chegamos à porta, eu a beijei delicadamente, então firmemente achei sua língua. Emily gemeu
e puxou seus quadris para perto de mim.

“Eu estou tão feliz agora” ela disse, afastando-se temporariamente. “Se eu morresse hoje a
noite estaria tudo bem”.

“Para mim também”. Eu beijei Emily na testa.

Eu vi Cook levantando sua lata pra mim sobre a pista de dança. Um sorriso safado estava em
seu rosto. “Encantador” , ele disse fazendo mímica labial e piscou para mim.

Eu segurei a mão da Emily e a puxei rapidamente pela porta.

Segunda, dia 3 de agosto.

Quarto da Naomi

“Que horas são?”. Eu rolei e pausei o iPod que estava em seu dispositivo. Parecia estar no
meio da noite para mim. Emily e eu não havíamos voltado pra casa antes das 2 da manhã. Nós
ficamos acordadas sem querer que a noite acabasse. Nossa última noite. Nós dormimos na
frente da sessão de compras, um pouco chapadas, um pouco bêbadas. Felizes.

Mas essa manhã eu me senti irritadiça, para dizer o mínimo.

“Oito e meia, mais ou menos?”, Em disse. Ela estava pintando as unhas do pé. Na minha cama.

“Emily! Você não pode fazer isso no banheiro ou coisa assim? Você vai deixar manchas roxas
sobre a minha colcha.”

“Tá bom, tá bom, Jesus”. Ela se levantou mancando em direção à porta. Ela virou em minha
direção quando chegou lá. “O que há de errado com você essa manhã?”

“Nada”, eu disse automaticamente. Eu estava carrancuda, como é de costume. Eu não me
orgulho disso, mas velhos hábitos não morrem cedo. “Só é... cedo”. Me apoiei em um braço.
“Eu não sou legal nas manhãs”.

Ela não estva caindo nessa. “Certo... Mas... Eu estou indo pra França de tarde e do nada você
começa a agir como... Como tudo o que eu faço está lhe dando nos nervos”, ela disse. “Você
está querendo que eu vá, né?”.
Eu revirei os olhos. “Eu mal posso esperar para me livrar de você para eu começar a viver os
melhores tempos da minha vida nas próximas semanas. Eu estou contando a porra dos
segundos para você entrar naquele navio”.

Merda, os olhos dela começaram a ter aquele jeito de choro. Ela é uma flor sensível. Estranho
porque Emily Fitch era mais durona do que eu poderia ser. Eu lato, mas não mordo.
Obviamente eu sou o cara do relacionamento.

Sim Naomi, relacionamento.

“Não... Em”, eu estendi meu braço e acariciei suas costas. “Desculpa. Olha, você sabe que eu
vou sentir sua falta. Muito”. Emily sorriu e assim mau humor desapareceu. Ela é como um
anjo. Um anjo ruivo e adorável. Eu queria segurá-la e nunca deixá-la ir.

“Vem cá”, eu disse.

Eu a encontrei no meio do caminho e a agarrei pela sua blusa, levantando-a e atirandao-a em
algum canto. Eu encarei seus peitos perfeitos. Suave, linda Emily.

“Eu te amo, Emily”, eu disse acariciando seu estômago. Eu me ajoelhei e a beijei. Senti seu
cheiro. Emily acariciou meu cabelo e ficamos assim por alguns minutos. Eu não queria me
separar dela. Nunca.

“Naomi”, Em disse eventualmente.

“O quê?”, eu me levantei e botei meu braço em volta dela.

Ela descansou sua cabeça sobre meu ombro e disse “Você não vai fazer alguma coisa boba,
vai?”

“Como o quê?”

“Como... eu não sei. O que os olhos não vêem, o coração não sente”.

Eu a segurei mais apertado. “Como se eu fosse”.

“Nem com o Cook... Eu sei que você –“

“Escuta, Emily”, eu me distanciei para poder olhar ela propriamente. “O que aconteceu comigo
e Cook foi um momento totalmente insano na minha outra vida sana. Eu estava tentando
fingir que eu era... Que eu não gostava de você.”
Os olhos de Emily ainda estavam meio que brilhando.

“Que eu te amava. Amo. Tudo bem?”

Ela relaxou. Covinhas voltaram a ser a perfeição de uma pele como pêssego. “Bom. Porque eu
tenho certeza em relação a isso. Em relação a nós. Para mim não é um casinho da porra e
acabou.”

“Nem para mim”. Eu disse sem saber direito o que isso era realmente. Eu sei que a amo. Eu
não consigo não me imaginar segurando, beijando e fodendo ela. Mas cabe ao júri decidir se
eu sou lésbica ou hétero.

“Que seja, você poderia comentar”, eu disse tirando o cabelo do rosto dela, “sobre o grande
caso amoroso entre você e o JJ?”

“Naomi!” Emily me empurrou em direção à cama. “Eu já te expliquei o que aconteceu comigo
e o JJ. Você sabe muito bem que transei por pena. EU SOU LÉSBICA.”

“Sshh”, eu disse rindo. Eu a puxei comigo pra cama. “Você pode dizer isso um pouco mais alto?
Acho que não ouviram no interior da Austrália”.

O som de alguém andando na sala em direção ao banheiro nos fez parar. Kieran ou minha
mãe. Emily rolou de costas. E deitamos em silêncio. Dedinhos entrelaçados.

Emily

Segunda, 3 de Agosto.

Quarto da Naomi, mais tarde.

“Naomi”, eu sussurrei. Toquei seu pescoço com a ponta dos meus dedos. Acariciei lentamente
sua pele desde atrás de sua orelha até seu suave e pálido ombro.

“Naomi... acorda”.

Naomi fez um barulho parecendo um grunhido e mexeu seu nariz. Eu sorri. Eu tenho sorrido
muito ultimamente. Eu fiquei de costas e olhei para o teto e depois para seu quarto. O quarto
da Naomi é maneiro. Muito mais legal que o meu. Ou melhor dizendo: do que eu divido com a
Katie. Com a porra de jogadores de futebol e boybands nas paredes. Os My Little Ponies dela
continuam no peitoral da janela, e com todas suas jóias e correias com estampa de leopardo
perto deles. Eu só deixei a Katie tomar o quarto porque, bem... É o que ela faz. E eu também
nunca liguei. Mas finalmente eu criei colhões comecei a enfrentá-la. E não parece ter um jeito
de voltar atrás.

Eu continuei a observar o quarto e a sorri. Não conseguia acreditar na minha sorte. Não
conseguia acreditar que a menina que eu amava me amava também. Por um tempo eu pensei
que isso nunca ia acontecer. Eu gostava da Naomi desde o ensino fundamental. Ela é
apaixonante e inteligente. Contagiante. E seus olhos... Parece a rainha do gelo. Alguns pensam
que ela é fria. Só porque ela não fica de conversinhas superficiais e estúpidas. Ela não é que
nem a Katie que abre a boca e só sai merda. A Naomi é sincera. Se as pessoas acham que isso
significa “fria”, elas estão erradas.

Elas estão muito erradas.

Eu bocejei alto. Depois senti a mão da Naomi no meu braço.

“Merda. Que horas são?”, ela disse sonolenta. “Você tem de ir?”

Eu rolei para poder encará-la. Ela estava esfregando os olhos. Então ela parou e ficamos nos
encarando. Sorrisinhos surgiram em nossos rostos.

“Oi, linda”, eu disse. “Já é tarde e eu estou com fome. O que você quer de café da manhã?”

“Você”, disse Naomi me puxando em sua direção e me beijando primeiro gentilmente e depois
mais forte. Eu estava formigando de prazer. Eu peguei sua mão e a guiei até onde eu a queria.
Ela hesitou e depois seus dedos começaram a fazer seu trabalho.

Ah meu Deus, essa é a porra do paraíso, eu pensei. Eu estou no paraíso.

Duas horas depois nós estávamos na cafeteria, tomando café da manhã. Naomi, granola,
comida de coelho. Eu, um sanduíche gigante de salsicha e ketchup. Naomi estava olhando
minha comida com um sorriso em seu rosto.

“O quê?”

Ela engoliu um pouco da granola e do iogurte. “Você”, ela disse. “Gostando da sua salsicha,
né?”

Eu mastiguei e bufei, quase respingando comida mastigada nela.

“Ah, sim” , eu disse para me defender “Eu amo salsicha. Você deveria experimentar, Naomi...
Não tem idéia do que está perdendo.”
“Ah, eu acho que tenho” ela estendeu sua língua e a balançou para mim.

Um sujeito mais velho tomando um café da manhã tradicional olhou para nós com um olhar
severo. Ele pegou seu jornal e segurou severamente na frente de seu rosto.

“Vá se foder”, eu disse para o seu jornal, sem emitir nenhuma voz. Naomi revirou seus olhos e
empurrou sua comida de coelho. Ela ficou mal humorada do nada.

“O que foi, docinho?” eu disse limpando minha boca com um guardanapo.

Naomi fez um beicinho. “Você vai entrar naquele navio”, ela disse naturalmente. “É isso”.

“Você vai sentir minha falta, não vai, querida?”, eu disse parecendo um disco arranhado. “É
melhor você sentir mesmo”.

“Hm... Primeiramente” ela disse séria “Depois eu vou provavelmente perder o interesse”.

“Naomi!” , eu disse com um grito agudo. “Vadia”.

“Quantas vezes eu vou ter de te dizer?” ela sorriu. Ela parecia tão gostosa. Eu queria mordê-la.
Meu estômago estava dando voltas e voltas.

“Não deveria ser agora”, eu disse “E minha mãe vai ser um pé no saco.”

Naomi concordou com a cabeça. “Ah é”, ela disse “A sua mãe tão liberal”.

“É, bem. Nem todo mundo pode ter uma mãe que nem a sua”.

“Você deveria estar agradecida por isso”, disse Naomi com um suspiro. “Eu sei que sua mãe
precisa de tempo para compreender isso. Nós, eu digo. Eu também precisei de tempo pra
porra para compreender. Eu acho que não posso culpá-la. Não completamente”

“Ela é um pesadelo ultimamente”, eu disse. “Nós só vamos ter de transar na frente dela, é o
único jeito dela entender”.

“Isso sim que seria um pesadelo”, Naomi se deliciou. “Eu preferiria fazer um ménage com o
Cook e a Katie”.

“Ugh. Naomi! Ela é minha irmã, sua vadia safada”. Eu pensei sobre o que disse. “Porra! Você
não gosta dela também, ou gosta?”

Naomi ficou séria.
“Sim, claro, ela disse. “Quer dizer, vocês são idênticas, não são?”.




Naomi

Segunda, 3 de agosto.

Em casa, à noite.

Após dar tchau para Emily à tarde, eu fiquei um pouco à deriva em uma nuvem de felicidade e
amor, mas à noite eu voltei a Rabugentrópolis. Eu tinha três semanas para ficar de molho e
obcecada com o que a Emily estava fazendo e com quem. Eu pensei em sua mãe que estaria
totalmente num ataque anti-gay. E na Katie, aquela vadiazinha. Provavelmente ela estaria
treinando suas falas malvadas. Emily pareceu pensar que Katie não seria mais uma vadia
conosco, mas eu não estou tão certa. Eu estava tirando a sua gêmea. É assim que ela vê. Ela
não consegue me agüentar. E esse sentimento é mútuo.

Minha mãe e Kieran estavam comendo na cozinha quando eu desci as escadas depois de duas
horas depressivas na minha cama escutando thrash metal alto em meu iPod.

Se anime, Naomi, talvez isso nunca aconteça.

Minha mãe olhou pra cima quando entrei. Ela me deu um de seus olhares meios que
simpáticos e exasperados para mim. “Oi, amor” ela disse. “Está bem?”.

Eu dei um grunhido e puxei uma cadeira. Kieran me olhou cautelosamente. Ele nunca estava
certo quando eu iria derrubá-lo com o infortuno incidente na sala de aula quando ele tentou
me dar uns amassos. Naquela hora eu fiquei ofendida porque aquilo era ilegal pra começar,
caralho. Mas o Kieran é legal. Eu nunca pensei que ia dizer isso, mas ele a deixa feliz. E,
indiretamente, isso significa que todos aqueles perdedores infelizes que ocupavam minha casa
como se fosse uma maldita comunidade iriam finalmente sair daqui.

“Sente-se. Coma alguma coisa” disse minha mãe. “Ocorreu tudo bem com a Emily?”
Uma visão de mim e de Emily mais cedo surgiu na minha cabeça. Eu não pude evitar um
sorriso surgir no meu rosto.

“Sim, ocorreu tudo bem”. Eu inspecionei as caçarolas em minha frente, mas decidi contrariar.
“Agora eu preciso de um emprego de férias, eu não posso ficar sentada aqui o dia todo”.

Mamãe trocou olhares preocupados com Kieran. Eles também não me queriam circulando pela
casa. Sem julgar pelo tempo que eles passavam no quarto da minha mãe, de qualquer jeito.
Tipo uma estraga-prazeres, com Naomi-Sem-Amigos olhando para o nada tristemente.

Vê, é precisamente isso que eu odeio em relacionamentos. Conexão. Você não pertence a
você mesmo. Você está se dividindo com outra pessoa. Então quando não estão com você,
uma parte de você some junto.

Mas eu consegui o que eu queria, não consegui?

“Bem,” minha mãe disse vivamente “Um emprego talvez desvie sua mente de Emily. Melhor
do que fazer faxina?”.

“Talvez eu não queira desviar minha mente de Emily”,eu rosnei. “Você só me quer fora do seu
caminho”.

“Naomi, isso não é verdade”, disse Kieran em pânico com o desenrolar da conversa.

“Não é?”.

“Ah, cresce”, disse minha mãe empilhando tigelas e pratos. “Poxa, Naomi, você não é assim.
Normalmente é tão madura”.

“Eu estou cansada disso”, eu disse. “Morando numa casa de abrigados por todos esses anos.
Superando os seus atos de caridade. Sendo ‘madura’. O que você acha de eu agir como eu
quero para variar? Se você não gostar, imagino”

Silêncio. Kieran olhou desesperadamente para o teto. Pobre súdito.

“Eu acho que está na hora de todos irmos para a cama”, disse minha mãe. “Falaremos nisso de
manhã”.

Eram nove da manhã. “Certo, tudo bem. Você vai pra cama”. “Você parece estar apta depois
disso”.

Minha mãe me ignorou, enquanto Kieran foi trocando as pernas até o quarto.
Eu a vi entupindo a louça de lavar enquanto pensava se eu não tinha ido um pouco longe
demais. Não que eu fosse me desculpar.

Finalmente minha mãe desligou as luzes da cozinha fingindo que não sabia que eu estava a
acompanhado com os olhos. Enquanto ela atravessou minha cadeira, curvou-se na altura do
meu queixo.

“Não fique tão nervosa, Naomi”, ela sussurrou. “É só amor”.

Pandora

Terça, 4 de agosto.

Em casa.

Desde o meu dia favorito no mundo todo, o dia do baile, eu e Thomas estamos como dois
pintos no lixo. Eu fiquei tão feliz que ele ainda me amava. Eu achei que eu realmente tivesse
estragado tudo. E eu sei que eu contei a Emily e a Katie que eu nunca queria transar com mais
ninguém depois do Cookie porque isso só deixa tudo muito estranho, mas eu não quis dizer
isso. Eu queria ter o serviço completo com o Tom como você nunca imaginaria.

Claro que manter minha mãe desatualizada sobre eu virando uma mulher seria difícil. Minha
mãe parece saber de tudo o que acontece comigo. Eu sempre ando até o final da nossa rua
para ligar para o Thomas. Ela não gosta que eu fique perto de garotos. Que caralhos voadores
ela iria dizer se soubesse o que anda se passando pela minha cabeça atualmente?

Se Effy não tivesse viajado com sua mãe nessa férias, eu poderia conversar com ela sobre
meus sentimentos e tal. Ela sabe tudo sobre garotos. Ela deve saber, ela tem metade deles
babando por ela. Garotos nunca será um problema para a Effy. Ao menos antes dela foder com
o Freddie. Effy ficou um pouco estranha com isso, e eu fiquei um pouco estranha com a Eff. Ela
acertou Katie com uma pedra. Isso não é bom. Eu estava contrariada com ela depois disso. Eu
vou sempre amar a Effy, acho, mas eu tenho de me virar sozinha.

Eu liguei para meu adorável garoto no ponto de ônibus.

“Oi, Thommo, é a Panda. Quer vir ao Brandon Hill para ficarmos nos beijando?”

“Eu não posso, Panda. Eu tenho de ir trabalhar. Não são férias pra mim, sabe?”

“Que isso, Thomas... Vamos lá. Nós podemos visitar tia Lizzie e tomar chá. Vai ser bombástico.”
“Pandora, não. Eu tenho de pagar o aluguel.”

Eu suspirei. Coitado do Thomas, ele não vai para o colégio porque tem de pagar todas essas
coisas pra ele, sua mãe, sua irmã e seu irmão. Ele tem de trabalhar, tipo, toda hora. Não é
justo porque não tenho tempo para me jogar em cima dele. Thomas disse que não preciso
fazer isso ainda, ele disse quer que seja perfeito, romântico e tal. Eu só quero que nós
façamos. Propriamente. Thomas será meu namorado para sempre. Não como Cookie que não
queria me conhecer melhor quando não estava botando sua coisa em mim. Eu não quero mais
pensar no que eu e Cookie fizemos. Faz com que eu me sinta envergonhada.

“Ok, Thomas, você venceu. Te encontro no ponto de ônibus da rua Granger depois do trabalho
então?

“Oui, Panda. Vou esperar por isso ansiosamente” disse Thomas, eu podia ver seu sorriso pelo
telefone. “Je t’aime.”

“Je t’aime, aussi.”

Voltando pra casa eu fiz um plano. Primeiro de tudo eu e mamãe precisávamos cair na real. Eu
sei que eu não poderia ficar guardando segredo para sempre. Sobre pensamentos sensuais. Eu
ainda quero fazer bolinhos vestida em meus pijamas e eu não acho que roupas que nem as da
Katie caem bem em mim. Nunca serei uma tarada ambulante. Mas eu quero sexo. E eu quero
com o Thomas. Eu quero mais do que tudo. Eu tinha que contar à minha mãe sobre o
Thommo. Uma vez que ela o conhecer, eu acho que ela vai amá-lo também. Só que... Ela não
gostaria que eu tivesse um amigo homem. Sem mencionar um namorado. Mamãe estava
meditando quando eu entrei em nossa sala. Eu sentei no sofá e fiquei encarando ela.

“Mãe”, eu disse. “Mãe, eu preciso te contar uma coisa.”

“Hmm”, mamãe me deu um olhar severo. “Panda Poo, estou meditando.”

“Eu sei, mas... mãe, eu realmente preciso te contar uma coisa.”

Mamãe suspirou. “O que é, Pandora?”

Eu esperei um pouco. Eu tinha que dizer agora ou eu iria amarelar e não dizer nunca.

“Você sabe... Você sabe que eu nunca tive um namorado?”

O rosto celestial da minha mãe se tornou num rosto de cão chupando manga. Seus olhos
tomaram uma forma malvada e estreita.
“Claro que você não tem, Pandora. Garotos ficam para depois. Muito depois. Quando você
crescer.”

Eu lhe dei um olhar severo. “Vê? É isso, mãe, eu sou tipo crescida agora.”

Minha mãe riu e isso me incomodou.

“Isso não é engraçado, mãe. Você não me leva a sério. Eu não sou mais pequena. Olha-“ eu
levantei minha blusa e mostrei a ela meu sutiã 44. “Meus peitos são super enormes.”

A boca da minha mãe se abriu na forma de um circulo perfeito. “Pandora! Abaixe a blusa!
Nunca mais faça isso. Nunca.” Ela se levantou e começou a enrolar seu tapete de yoga
rapidamente. “Agora, eu sugiro que nós tomemos uma xícara de chá e esquecermos que isso
aconteceu.” Ela segurou minha mão e me levou a cozinha. Ela botou a chaleira pra ferver
enquanto eu sentei na mesa.

Tudo deu errado. Eu deveria ter pensado nisso melhor. Eu sou tão inútil em me virar sozinha.

“Agora, Pandora” disse minha mãe. “Chá? Ou o que você acha de leite com chocolate?”

Thomas

Terça, 4 de Agosto.

A caminho para encontrar a Panda.

Depois do trabalho eu fui à loja do Sr. Sharma para comprar uma rosquinha para a Panda. Ele
estava inclinado no balcão lendo jornal e cutucando seu nariz. O barulho da porta o fez pular.
Eu fingi estar procurando alguma coisa no meu bolso e quando olhei para cima ele estava
arrumando os cigarros.

“Tudo bem, Thomas?”, ele disse.

“Muito bem, obrigado Sr. Sharma. E com você?”

“Aproveitando o clima, de qualquer jeito. O de sempre?”

Eu afirmei com a cabeça. Sr. Sharma é um pessimista de verdade. Para ele as coisas boas eram
meramente uma consolação pequena para uma vida horrível.

“Aonde a Pandora está hoje?”, ele disse botando uma rosquinha de doce de manteiga e creme
numa sacola de papel.
“Eu estou a caminho para encontrá-la.”

“Eu aposto que está. Você é um sortudo da porra, não é?”

“Sim, eu sou”, eu não pude conter um sorriso.

“Bem, não faça nada que eu não faria.”

Eu ignorei isso. Mr. Sharma no quesito paixão não é uma imagem que eu queria em mente.
Até ele presumiu que eu e Pandora tínhamos uma relação sexual. Todos meus amigos
presumem que eu e Panda temos uma relação sexual. Acho que as únicas pessoas que não
presumem que estávamos comme les lapins como dizemos aqui, eram minha mãe e a mãe de
Pandora e não acho que elas estavam convictas.

Não é que eu não queira transar com a Pandora. Eu só quero que seja parfait. Eu não estou
interessado em fazer em qualquer canto como animais. Esse é o gosto do Cook, não o meu.

Eu caminhei para encontrar Pandora com uma convicção renovada. Essa menina que eu amo
merece algo melhor do que uma transa rápida embaixo de um banco. Mas quando me
aproximei do nosso local de encontro no ponto de ônibus eu podia ver Panda andando pra
cima e pra baixo que nem uma pessoa louca e apertei o passo.

“Olá, Panda”, eu abri um sorriso largo para minha garota, mas eu não conseguia fazer com que
ela sorrisse, ela estava realmente triste. “O que aconteceu?”

“Não é bom, Thomas”, disse Pandora secando lágrimas de suas bochechas. “Não é bom,
porra.”

“O que acontecera?”, eu sentei no banco protegido e acenei para Pandora sentar-se perto de
mim. “Você brigou com sua mãe?”

“Não, para falar a verdade”. Panda fungou. “Bem, mais ou menos. Eu quero dizer...”, ela
fechou seus olhos. “Ela não me escuta, eu tentei contar a ela sobre você. Sobre como sou
crescida agora. Crescida o bastante para ter um namorado e fazer coisas com ele, entende?”.

“Pandora! Você falou com sua mãe sobre sexo?”.

“Eu quis”, Pandora segurou minha mão. “Mas eu nem consegui chegar tão longe assim.”

“Obrigado, Deus por isso”, eu suspirei alto. “Não é muito respeitoso da sua parte falar com a
sua mãe sobre essas coisas. Ela não quer saber disso”.
“Bem, ela deveria!”, Pandora gritou. Ela soltou a minha mão. “Já está na hora, Thomas. Eu
estou pronta.”

Eu olhei pra baixo e a rosquinha em sua sacola. “A questão é. Pandora, que eu não sei se estou
pronto para isso ainda. Não com você. Você é especial. Eu não quero estragar isso”.

“Você não me ama, então?”. Pandora pareceu petrificada. “Você não pode me amar”.

“Não, é precisamente porque eu te amo que não quero pressionar para fazer isso”, eu
respondi. “Nós temos tempo, Panda. A hora será em breve”.

Effy

Quarta, 5 de Agosto.

Numa cafeteria em Veneza.

Porra, está quente aqui. Eu finalmente tirei minhas botas e botei meus chinelos ontem. Umas
Havaianas verdes que minha mãe me comprou por uma estúpida quantidade de dinheiro.
Primeiro eu me sentia nua com elas. Minhas botas e eu passamos por um monte de merda
juntas. Tipo, elas são minha armadura.

Eu me levantei muito cedo essa manhã. Eu não consigo encarar sentar numa mesa com sua
estranha superfície de plástico, comendo aquele pão duro italiano com geléia, junto com
minha mãe fingindo estar alegre tentando pensar em coisas para fazermos juntas. Ela deve ter
lido aquela porra de Guia de passar o tempo em Veneza de ponta a ponta e agora ela quer que
nós vamos para um tour cultural, ter certeza de que nenhuma parte de Veneza não foi
revirada.

Ela está tentando, eu sei que está, mas tudo o que ela faz está me dando nos nervos.

Desde nosso primeiro dia eu estava esperando dar de cara com Aldo de novo. Eu até passei em
seu andar super devagar e parei na escada, tentando escutar sua porta abrir. Eu não tenho
colhões para bater na porta.

Mas essa manhã nós nos encontramos nas caixas de correio. Ele estava mexendo em sua
correspondência. Meus chinelos estavam fazendo mais barulho do que minhas botas,
enquanto eu andava em sua direção. Não passo por envergonhada, então fui para perto dele.
Aldo olhou pra mim e sorriu.

“Bom dia”, ele disse. “Como você e sua mãe estão?”
“Bem, obrigada”. Eu olhei para a correspondência em suas mãos. “Você tem um monte de
cartas aí.”

Aldo suspirou. “Sim, sim. Sempre contas apra pagar, dinheiro para os advogados de minha
esposa. Dinheiro para meus filhos... E para esse apartamento. Nunca acaba”.

Minha esposa. Quem teria traído com outra pessoa?, eu pensei. Ele ou ela?

“Você tem filhos?”, eu perguntei inocentemente, para ganhar tempo. “Você não mora com
eles?”

“Eu estou me divorciando da mãe deles”, ele disse. “É necessário me afastar deles também,
embora eu não queira. É difícil.”, ele balançou um envelope marrom na minha frente. “E é
muito caro!”

“Desculpa”, eu disse. “Deve ser meio que uma merda”.

Aldo deu de ombros e botou as cartas no bolso de sua jaqueta e me deu um olhar longo.

“E aonde está seu pai?”, ele disse sendo direto.

“Eu não faço idéia”, minha vez de dar de ombros. “Eles estão separados.”

“Desculpe-me. Coitada de você”, ele disse. “É mais difícil para as crianças”.

Nós fizemos silêncio. Sujeito legal, eu pensei. Generoso, mas nem tanto intrometido.

“Então, Effy”, ele disse depois de um momento. “O que você vai fazer hoje?”.

“Sei lá. Talvez explorar mais um pouco”, eu disse. “E me perder, provavelmente”.

“É uma cidade labirinto, há definitivamente o risco de se perder se não conhecê-la”, ele fez
uma pausa. “Mas algumas vezes pode ser... libertador estar perdido”, ele me olhou nos olhos
enquanto falava. “Não acha?”.

Venha comigo.

“Talvez você possa vir... me mostrá-la?”.

Ele olhou seu relógio e então, bem naquela hora, eu vi seus olhos trêmulos sobre meu corpo.
Ele parou.
“Por que não?”, ele disse. “Vai me fazer bem também”, ele me gesticulou primeiro a porta.
“Vamos lá.”

“Aonde vamos?”, eu perguntei.

“Santa Maria Del Miracoli” ele disse enrolando as palavras em sua língua.

Eu imaginei sua língua em outros lugares. Meus peitos, para começar.

“E isso é?”

“Uma igreja.”

“Ótimo.”

“Você irá amá-la.”, ele disse.

“Eu sou atéia”, eu disse.

Ele balançou a cabeça, me dando um pequeno olhar decepcionado. “Vamos lá, você com
certeza é mais inteligente que isso.”

Jesus, até parece que eu me tornei Katie Fitch, a rainha da grosseria e superficialidade.

“Foi uma piada”,. eu disse debilmente. “Mais ou menos”.

Aldo me sorriu encorajadoramente.

“Ah, o senso de humor inglês! Eu preciso tempo para me adaptar, acho”.

Nós entramos num labirinto de ruas de pedras e becos onde, em cima, as roupas se secavam
nos parapeitos das varandas. Nós enxotamos os gatos famintos para pararmos num pequeno e
mal tratado quadrado. Um sino soava alto.

“Aqui”, disse Aldo, apontando para um estranho prédio com uma fachada plana. “O lugar mais
bonito em Veneza”.

Não parecia nada para mim. Não como a igreja que meu pai me arrastava com meu irmão
Tony todo domingo quando éramos crianças. Nos tempos em que meu pai se taxava de
‘espiritual’. Idiotice total, obviamente. Aquela igreja era grande, gótica, majestosa. Essa
parecia com nada, vista externamente.
Aldo sentiu que eu não estava impressionada. “Só espere”, ele sussurrou como se fosse
compartilhar um segredo fantástico.

Eu senti uma faísca quando ele pegou minha mão e me levou silenciosamente até as portas de
madeira e por lajes de mármore, e então eu o pude entender. As paredes estavam
literalmente cobertas com mármores marrons e marfim, nos levando a uma altura louca, um
teto de madeira entalhada. Era fantástica. Eu poderia estar mais imersa se eu não tivesse
consciente da mão de Aldo nas minhas costas, bem no meio de minhas omoplatas.

“Bem”, ele disse. “O que você acha?”.

“Eu acho que é fantástico pra porra”, eu sussurrei.

Aldo inclinou-se e sussurrou no meu ouvido: “Sua linguagem é um de certa forma
inapropriada, Effy, mas o seu coração está no lugar certo”.

“Obrigada”, eu disse, estranhamente emocionada.

Mas ele estava errado. O meu coração com certeza não estava no lugar certo.

Cook

Quinta, 6 de agosto.

Em um ponto de ônibus.

“Puta que o pariu”, eu tirei o baseado da minha boca e dei para o Freddie. “Mais fraco do que
mijo, isso. Quem te deu isso, cara? É horrível.”

Freddie me deu uma daquelas caras de cachorrinho perdido. Deu de ombros com aqueles seus
ombros de skatista idiota. “Não sei. Um amigo da Karen, acho.” Ele examinou meu rosto, que
estava incrédulo pra porra. “Não, não o Johnny White. Eu não sou tão burro.” Ele deixou o
baseado na sarjeta.

“Bom ouvir isso, meu amigo”, eu bati em seu braço, levantei a mão e a balancei no ar. “Você
andou levantando empilhadeiras, Fredster? Seus bíceps: mais fortes do que um tijolo”.

JJ deu aquele seu sorriso sereno. Não bebe, não fuma de verdade. Nosso Looney Tune da casa.
O que ele usa para agüentar as coisas? Ele olhou para o baseado encharcado. “Vocês são
perspicazes o bastante para brigar com esses dois policiais com olhares bravos vindo em nossa
direção? Ou vocês são maricas? Literalmente ou de outra forma.”,ele se curvou, pegou o
baseado e jogou sobre seu ombro.

“Seu retardado,” surgiu uma voz irritantemente velha . “Caiu bem em cima das compras que
fiz”.

Freds, JJ e eu demos de ombro. Fred e eu sorrimos. Não a conhecíamos, não ligávamos.

“Vocês têm nenhum respeito a nada nos dias de hoje”, a bruxa continuou. Ela deu uma
cotovelada nas costas de JJ. “Você, rapazinho, eu conheço sua mãe... ela busca meus livros da
biblioteca para mim. Ah, eu vi você no carro dela. Não pense que eu não falarei a ela o que
você anda fazendo.”

“Eu não. Eu não estava-“ balbuciou JJ vermelho que nem a porra de uma beterraba. Fred e eu
bufamos com uma risada. E eu não conseguia me conter, me virei.

“O que acham de uma rapidinha?”, eu disse correndo minha língua sobre meus lábios. “O
ônibus não vai chegar aqui tão cedo”, eu disse enquanto a velhinha armava e desarmava sua
armadilha, os três mosqueteiros andavam até a casa do Fred.

Eu tinha uma aposta para ele.

Freddie

No galpão

“Certo, Freds”, disse Cook esfregando suas mãos como um homem velho e safado. “Eu tenho
uma oferta que você não vai recusar”. Não gostei como isso soou, porque ele estaria certo
provavelmente. Cook tem um jeito de conseguir tudo o que quer.

“Você vai amar essa, um joguinho pra passar o tempo, só eu e você”.

“E o JJ?”, eu disse.

“Jay já está curtindo o mundo dele, não é Jaykins?”. Cook se inclinou pra frente na cadeira que
ele gostava de chamar de sua – ficava no meu galpão, mas que seja – e apontou seu cigarro
para mim.

“Você fez ontem à noite, né?”

“Sim. E daí?”
“Foi bom, não foi?”

“Foi divertido. Isso vai chegar a algum lugar?”

“Bom, então: quatro semanas, eu e você, quem conseguir mais xoxotas ganha. Tem de ter
penetração profunda, cara, e acertar duas vezes o mesmo passarinho não conta”.

“Legal”, eu disse sarcasticamente. Mas a idéia do Cook não era tão ruim. Não envolvia nada
ilegal para começar. E por várias razões eu estava querendo variedade sexual. Que se foda.

“É, tudo bem então.”

“Resposta certa, meu amigo. Gayjay vai marcar os pontos, mas vamos ter que roubar algumas
evidências para dar para ele. Calcinha grudenta, camisinha gozada... esse tipo de coisa”.

“Isso realmente não parece sórdido”, eu disse secamente.

Mas realmente não importava pra mim. Como eu disse, eu já cansei de fazer
significativamente. Eu amei uma garota, ela caiu fora e me deixou. Eu não vou cair nessa
armadilha de novo.

Eu ainda checava meu telefone de hora em hora, para falar a verdade.

O que ela estaria fazendo agora?

“Então,” Cook estendeu sua mão. “Que o melhor homem ganhe.”

Eu apertei meus olhos. Então esse é seu jogo, não é? Eu pensei. Que se foda então.

“Absolutamente”, eu disse ignorando sua mão. “O jogo começou.”

JJ

Loja de Kebab

“Cai fora, frutinha”, disse Cook. “Isso tem nada a ver com a Effy. Então, você vai marcar a
pontuação?”

Eram 2 da manhã e eu e Cook estávamos num canto do Abrakebabra. Nós tínhamos ido no
Caves, onde Fred e Cook transaram (não um com o outro, o Cook também dispôs essa regra
em algum canto. E não no clube literalmente, o que eu acho que é desaprovado: Cook fez em
um beco e Freddie saiu para a casa da menina). Pandora, Thomas e Naomi estavam lá também
então foi uma boa noite mesmo que eu só tenha dançado sozinho e tentando não pensar no
fato de que eu era o único sem a opção de sexo pós clube. Eu estava sentado durante uma
canção tomando minha água com gás quando Cook reapareceu.

“Eu pensei que você estava transando”, eu gritei.

“Sim, terminei. Escuta Jay, eu tenho um plano. Vamos” e ele me levou à loja de Kebabs e me
comprou uma espécie de batatinhas.

Ele me explicou as regras no qual meio que fazia sentido. Num jeito totalmente moralmente
duvidoso, obviamente.

Há uma razão do Cook fazer esse jogo. Eu não sou fã de psicologia não autêntica e atualmente
eu sou um lixo em coisas com um lado de compromisso empático/emocional, mas nesse caso
até eu conseguia perceber. Effy queria o Freddie todo o tempo que ela ficava com o Cook:
Cook perdeu o jogo. Então ele inventou um onde poderia ganhar, o que provavelmente vai,
como relações sexuais para o Cook é tipo o sol amarelo da Terra para o Super Homem: sem
ele, eles não tem poderes ou acham que não têm (onde a analogiacom super homem se
quebra a menos que você conte encarnações pré-1986, ele realmente não tem poderes sem
energia solar, enquanto estou quase certo de que o sangue vai continuar sendo bombeado
pelo coração para o corpo de Cook mesmo que se ele não tivesse uma exposição regular às
partes safadas de uma garota).

Eu demonstrei minha análise ao Cook. Ele não parecia impressionado, por isso o comentário
de babaca.

“Ok, eu vou marcar os pontos”, eu disse finalmente. “Mas, sem interesse nenhum, por que
você não quis que eu fizesse parte do jogo?”.

Cook sorriu de uma maneira infantil. “Porque você iria perder, Jaykins”.

“Eu pensei que o que importasse fosse competir”, eu disse ficando um pouco carrancudo.

“E é sim. Que é outra área onde você não se dá bem, meu amiguinho virgem”.

“Sai fora. Eu não sou virgem”.

“Poderia passar por um, amigo”.

Um ponto justo onde eu não podia argumentar.
Considerando tudo, eu estava grato pelo Cook ter criado esse jogo. Significava que ele e
Freddie eram amigos novamente, que eles ficariam felizes, e portanto eu ficaria feliz também.
Relativamente falando, obviamente.

Effy

Quinta, 6 de agosto.

Veneza, à noite.

“Então, Effy, o que você acha de Vivaldi?”

Aldo e eu estávamos voltando de uma caminhada. Eu estava fazendo o que o Tony chamava de
caminhada amadora e instável, esbarrando levemente nele. Ele estava com as duas mãos nos
bolsos.

Que seja, ele iria se aquecer eventualmente.

“Vivaldi”, eu repeti lentamente. “Four seasons, né?”

“Isso mesmo”, ele disse. “Ele era de Veneza. Há concertos dele todo o tempo aqui, mas tem
um hoje à noite que eu sei que vai ser excelente. Talvez você queira ir. E sua mãe, claro?”

“Eu acho que ela odeia todas essas coisas clássicas”, eu disse. O que era verdade, por sorte.
“Mas eu vou dar uma chance e ir.”

Merda. Igrejas velhas e Vivaldi, nem Pandora acreditaria nisso.

“Excelente”, disse Aldo. “É a sua música, Gloria. Um pequeno trabalho de um coral. Lindo”.

Nós caminhamos em silêncio por um instante. Eu sentindo sua presença como a porra de um
brilho de um Ready Brek. Na entrada do prédio, Aldo parou para pegar uma carta que havia
deixado para trás antes.

“Até essa noite, Effy. Eu te encontro no seu apartamentos às sete”.

Minha mãe pareceu confusa quando eu disse a ela que iria a um concerto com um homem de
meia idade.

“Diz quem ele é de novo?”, ela disse com um olhar de soslaio para mim por trás da fumaça de
seu cigarro.
“Ele mora nesse prédio. Eu o ajudei a abrir seu apê quando ele ficou trancado para fora”, eu
disse. “Olha, é só algo para fazer, nada do além.”

“Certo. Fico imaginando qual interesse ele possivelmente poderia ter em você”, ela disse mais
dura do que a porra de um osso.

“Eu não sei. Um culto ao demônio? Pergunte a ele quando vier me buscar”, eu sabia que ela
não iria, ainda bem.

Quando Aldo chegou eu tinha acabado de sair do banho, então eu gritei para minha mãe
deixá-lo entrar. Eu me deparei com eles conversando na mesa da cozinha, cada um com uma
taça de vinho. Ele tomou o seu drink e se levantou.

“Foi um prazer te conhecer, Anthea”, ele disse. “Você tem certeza de que eu não posso te
persuadir a se juntar a nós?”.

“Eu tenho certeza”, disse minha mãe. “Obrigado, de qualquer jeito.”

Eu segui Aldo pelo sala e a olhei sentada na mesa com seu livro de guia turístico aberto.

Pobre vaca.

Eu não estava muito esperançosa para o concerto, e quando terminou, eu já não estava
ouvindo. Foi difícil com Aldo perto de mim, cheirando a Dolce e Gabanna ou Versace ou o que
seja. Seu braço estava tocando no meu. Só isso. Mas ele nunca olhou para nenhum lugar a não
ser sua frente. Nem mesmo quando eu cruzei e descruzei minhas pernas provocativamente.

Mas no começo, quando a orquestra tocou, a música começou e o coral começou a cantar de
repente, eu podia escutar o som ecoando pelo teto, bem; foi estranho. Era tocante.

Lembre-se, Effy, eu pensei, tu não deves se emocionar.

“Maravilhoso”, ele disse enquanto saíamos na umidade. Eram dez e meia e 28 graus. Ele me
recompensou com um sorrisinho em seu rosto. “Eu espero que você não tenha odiado cada
minuto daquilo?”

“Não, eu...gostei”, eu disse. “Eu achei a experiência divertida”. Era verdade. Eu gostara de
sentar perto dele. Eu teria preferido se ele botasse a sua mão na minha coxa e deslizasse por
entre minhas pernas, mas pelo visto sujeitos mais velhos não são tão diretos em avançar.
“Fico contente por isso.” Aldo disse. “Agora, o que você quer fazer? Uma caminhada de volta
ao apartamento?”

“De boa”, eu não queria voltar, acho. Eu estava me divertindo.

“Nós devemos pensar em algo para fazer da próxima vez, que sua mãe achasse divertido”,
Aldo teve esse devaneio enquanto andava devagar pra cima e pra baixo por pequenas pontes.

Devemos?

“A coisa é que ela não está muito...sóciavel atualmente”, eu disse deslealmente. “Coisas
pessoais a estressando. Você sabe”.

“Ah”, ele me olhou. “Eu posso simpatizar com isso”.

Legal.

“Coisas pessoais muito complicadas”, eu acrescentei. “Você não vai querer saber.”

“Entendo. Você é protetora com ela, eu posso ver. Deve ser difícil para vocês duas.”

“O quê?”

“Bem”, ele pareceu estranho. “Seu pai não estar por perto.”

“Eu não acho que seja nem um pouco difícil pra ela”, eu disse.

Eu podia sentir seus olhos em mim. “E por quê?”.

“Porque é o que ela queria. Ela sempre consegue o que quer. E então vira uma bagunça
gigante e ela começa a reclamar disso”, eu olhei através dele calmamente. “Eu não tenho nem
um pouco de pena dela.”

Se Aldo estava surpreso com a minha falta de coração, ele não demonstrou. Ele puxou meus
braços porque um casal quase nos acertou e eu me achei temporariamente sendo puxada para
seu peito. Senti o calor vindo dele. “Por experiência as coisas raramente são facéis assim”, ele
disse quietamente. “Talvez seja digno tentar entender.”

Que se foda. Eu quase ri na cara dele. Invés disso eu botei a mão na minha testa e fechei os
olhos.

“Effy? Você está bem?”
“Só um pouco tonta”, eu menti. “É o calor”.

Ele sentiu minha bochecha com as costas da mão. “Você está um pouco quente”. E le balançou
a cabeça. “Vocês, mulheres inglesas. Criaturas tão fragéis”.

Nossos olhos se prenderam um no outro.

Eu prendi seu olhar. Olhei para sua boca aberta e macia, bochechas bronzeadas e seus cílios
negros.

Eu queria que você me beijasse.

Em vez disso ele pegou meu braço e me guiou por sobre a ponte e pelos becos pavimentados
com godo de volta ao nosso apartamento.

Eu voltei e andei até a cozinha para me deparar com minha mãe sentada na mesa tomando
Sambucca com uma velhinha. “Essa é Florence”, disse minha mãe. “Ela mora no apartamento
vizinho. Florence, essa é minha filha, Effy”.

Ela parecia uma anciã (a velhinha, não minha mãe, embora os últimos meses tenham tirado
um poucoseu brilho), sua pele coberta por rugas, mas com postura ereta, sua mão firme
enquanto segurava sua caneca. Ela era magra como um rodo, com cabelos brancos e
brilhantes retorcidos e presos em sua nuca. Ela estava usando uma camisa-vestido azul
petróleo com uma vertente tripla de continhas pretas até a rachadura, onde seus peitos
estariam se ela tivesse algum.

“Prazer em conhecê-la”, disse Florence. Inglesa.

“Igualmente”, eu disse. “Eu gostei de suas continhas.”

Ela as tocou. “Ah, obrigado” ela disse. “Elas são adoráveis, não são? Ébano genuíno, claro, o
que eu acho que estaria enrugado agora se eu não tivesse comprado aos setenta. Não tem
substituto para o genuíno, tem, Effy?”

“Acho que não”, eu disse. Brilhante pra porra, nós viajamos centenas de quilometros para
Itália e minha mãe fica amiga com uma velhinha senil inglesa e tagarela.

“Florence se mudou de Londres para cá dez anos atrás”, disse minha mãe.

“Meu marido era italiano, mas nós vivíamos em Winbledom” disse Florence. “Quando ele
morreu, eu senti uma urgência tremenda de voltar para a Itália. Realmente perversa”.
“Sim.”

“Eu decidi vir a Veneza porque foi o lugar que fizemos amor pela primeira vez. Dois de
setembro de 1939, o dia antes da guerra ser declarada. A ecstasy antes da agonia, por assim
dizer. Benito era um amante estupendo. Dedos bonitos”

Ok, talvez eu fosse passar a gostar dela.

“Você tem um amante?”, Florence me perguntou enquanto eu sentava na mesa. Mamãe
soltou um riso fraco. Eu estudei o rosto da senhora por um momento. Ela era real?

“Não na verdade, Florence”, eu disse. “Você tem?”

Florence começou a rir e terminou tossindo emitindo aquele som como se estivesse liberando
anos de fumaça de cigarro. Ela bateu em seu próprio peito e disse “Ha ha! Touché, Effy! Ai,
esses dias estão acabados para mim. Sinto em dizer que é um caso em que nem o espírito,
nem a carne querem. Hoje em dia eu uso Sudoku para dormir.”

“Boa dica, Florence”, eu disse sem conseguir tirar um sorriso genuíno do meu rosto. “Eu vou
tentar isso quando a hora chegar.”

Aquela noite de sono demorou a chegar. Eu deitei acordada por horas, um híbrido de Aldo,
Freddie e Cook invadindo minha mente e meu corpo. Eu trabalhei com os meus dedos dentro
de mim. Eu o queria em todo canto.

Eu queria acordar perto dele.

Emily

Sexta, 7 de Agosto.

Hotel Bonjour France Vacance! perto de Bordeaux, França.

“Aaah, oi” disse Katie alto, sacudindo o cabelo como um rabo de cavalo bagunçado. “O que
temos aqui?”

Era o quarto dia de nossas alegres férias em família, mas o primeiro dia aqui no Butlins de La
Mer. Nós havíamos passado alguns dias na casa de Cecile e Ed (amigos de nossos pais) em Lyon
por alguns dias e Katie e eu fizemos um bom trabalho em evitar uma a outra, ajudado pelo
fato de Fabien, o filho de dezenove anos de Cecile, ter transado com ela no quarto dele na
maior parte do tempo. James não é uma companhia muito melhor, mas pelo menos eu posso
bater nele toda vez que ele abrir a boca.

Então agora eu e Katie estávamos tolerando um momento raro de ocupar a mesma
proximidade, sentadas no monte de pedras decorativas do lado de fora do nosso chalé
observando uma família chegar subindo os degraus até os deles. Um rapaz em boa forma com
cabelo cacheado e escuro e membros longos e marrons estava trazendo um carregador de
Linux e uma mochila enorme. Katie inclinou-se em seus braços, colocando suas pernas numa
posição em que elas pareciam mais longas e magras do que elas realmente são.

O rapaz subiu as escadas, ele não parecia tê-la escutado, nem ao menos dado uma olhada
nela. Má sorte, Katie.

“Ei”, ela disse bruscamente. “Você é surdo cego ou alguma coisa?”

Ele parou e olhou para ela. “Quê?”

“Esqueça”, disse Katie levantando e tirando areia de sua bunda. “Perdedor”, ela escalou
arrogantemente as pedras até a praia.

“Encantadora”. Ele olhou pra mim, reagiu e levantou suas sobrancelhas. “Jesus, tem duas de
você?”

Eu ri pela primeira vez em quatro dias. “Ignore-a”, eu disse, estendendo minha mão. “Nós nem
somos tão idênticas. Meu nome é Emily.”

“Josh”. Ele era doce, eu tinha de admitir. Katie ia estragar tudo com seus ataques. Ele olhou de
volta pra ela, andando furiosamente pela areia.

“Sua irmã sabe que sua mini saia está enfiada em sua calcinha?”, ele disse.

Eu passei a gostar dele. “Ah, ela sabe com certeza”, eu disse, enquanto minha mãe saia do
chalé radiante como um radar hétero. Eu me levantei rapidamente. “Melhor ir, te vejo
depois.” Eu saltei por trás de minha mãe que provavelmente estava planejando sua roupa para
o casamento.

“Definitivamente”, disse Josh “Até mais tarde, Emily.”

“Então?”, disse minha mãe quando nos sentamos para jantar. “Você fez um novo amigo então,
querida?”. Boa jogada, ela estava se segurando por uma hora inteira enquanto deixava a
comida pronta.
“Que? Quem?”, eu disse inocentemente e comi uma garfada de carne de cordeiro.

“O garoto Josh, não é? Ele é muito bonito.”

“Ah, ele”. Eu alcancei o vinho tinto para me servir mais uma taça. “Sim, mãe, ele tem uma boa
aparência. Acho que a Katie está de olho nele. Né, Katie?”

“De jeito nenhum”, Katie rosnou, empurrando sua comida em seu prato. “Meninos bonitos
que nem ele não são meu tipo”.

Que nem uma porra louca eles não são.

“Nem o meu”, eu disse claramente pra minha mãe. “Obviamente.”

Minha mãe revirou os olhos e deu um sorrisinho totalmente enfurecido. “Isso que vamos ver.”

“Ah, mas vocês poderiam conquistar muito mais”, ela disse. “As duas”, ela começou a recolher
os pratos e levá-los ao balcão da cozinha. “Alguém está afim de torta de maçã?”

Aqui vamos nós.

“ALÔ? EU SOU LÉSBICA!”, eu sibilei alto.

“O que quer que você diga, querida!”, cantarolou minha mãe distribuindo porções de torta.

Jesus. Eu preferia quando ela negava furiosamente. Seriam duas semanas inteiras só dessa
merda.

“Sem sobremesa para mim”, eu disse pegando meu telefone. “Eu tenho uma ligação pra
fazer.”

Eu passei por minha mãe que ofegou, desesperada pra ser a última a falar.

“É”, disse Katie. “Nada pra mim também. Tenho de tomar cuidado com meu corpo fabuloso.”

“Mesmo que ninguém tome”, eu fiz uma observação. Eu fui direto para o quarto batendo a
porta na cara da Katie quando ela chegou lá.

“Porra de vadia coladora de velcro”, ela disse batendo na maçaneta agressivamente.

Eu a deixei entrar depois de minutos de socos e batidas na porta e decidi ligar pra Naomi em
um lugar mais privado. Na praia daria. Eu deixei Katie se amarrando nela mesma, como a
irmãzinha do Jordan. Cílios postiços, base como cimento, saia indo até sua xoxota. Mas o que
eu estou falando... Eu tinha certeza de que ela ia encontrar um idiota pra transar com ela. Eu
não imaginei que o pessoal se agitaria tanto por conta do Foam Nite – uma balada da vila
organizada pelos resorts. Eu preferiria me matar a ir àquela pequena aglomeração.

Estava uma noite clara enquanto eu caminhava até a praia. Céu ficando mais escuro de um
tom azul. As estrelas estavam começando a aparecer. Eu deitei na areia olhei pra cima e pensei
na Naomi. Eu sentia muito falta dela. Chequei as horas no meu celular: nem tão tarde para
ligar. Ela atendeu imediatamente.

“Oi, amor”. Era tão bom ouvir sua voz que eu poderia ter chorado.

“Oi, você. Como andam as coisas?”, eu disse.

“Ah, você sabe. Fantásticas. Ver minha mãe e seu namorado se amando não pode ser
subestimado como uma forma de incrível entretenimento. Eu nunca soube como é
estimulante ver dois desesperados apalpar um ao outro a cada segundo da porra do dia
inteiro.”

“Porra, docinho. Isso é malvadeza.”

“Sim. É uma merda. Mas hoje seria uma merda de qualquer jeito”, ela suspirou. “E você?”

“Mesma coisa. Estou ficando louca. Minha mãe está tentando fazer com que eu saia com um
garoto”.

“Oh, Deus. Com quem?”

“Um rapaz do chalé vizinho. Ele é OK.”

Silêncio.

“Eu obviamente não estou interessada”.

“Tanto faz. Acha que eu ligo?”

“Eu mais que espero que sim!”

Eu sabia que ela estava sorrindo, porque ela não respondeu.

“Eu queria que você estivesse aqui comigo, agora.”

Naomi soltou um gemido. “Eu também, não consigo parar de pensar em nós na minha cama.”
“Eu sei.” Eu hesitei. “Me lembre...o que nós estávamos fazendo na sua cama?”

“Bem...”, Naomi começou, mas ouvi passos atrás de mim.

“Porra, alguém está vindo”, eu sibilei no telefone. “Eu te ligo depois.”

Eu virei para ver quem estava me assustando. Era Josh.

“Quem é você? Algum tipo de pervertido?”, eu disse olhando para ele. Eu não podia ver muito
no escuro, mas eu poderia dizer que ele estava sorrindo.

“Hã, não”, ele disse. “Não, eu sou alguém com orelhas. Não tem mistério: o som viaja.”

“Tudo bem”, eu disse a ele, agarrando meu telefone.

“De boa. Bem, desculpa. Eu vou te deixar sozinha”, ele disse. Ele marchou para fora da praia.

Eu me senti um pouco má.

“Ei”, eu o chamei. “Se você estiver sem nada pra fazer amanhã... nós poderíamos, você sabe,
sair juntos ou algo assim”.

Josh sorriu. “Claro”, ele disse agora andando de costas. “Eu iria gostar disso. Só dê uma batida
na nossa porta.”

“Excelente”, eu disse dando um tchauzinho alegre.

Eu o olhei até entrar em seu chalé, então peguei meu telefone e apertei rediscar.

“Ei, você”, eu disse. “Eu estava com medo que você tivesse ido dormir.”

“Sem chance. Não enquanto eu estiver pensando em te despir.”

“É?”

“Você esta com sua calcinha branca de algodão e eu estou beijando o interior de suas
adoráveis coxas.”

“Eu deveria tirar minha calcinha?”

“Não... eu estou fazendo isso. Então eu vou me mover mais para cima... Primeiro devagar,
depois...”

“Rápido”, eu disse sem ar. “Faça mais rápido.”
“Você ama isso”, ela disse.

“Eu amo pra caralho. Você pode ver meus peitos?”

“Sim, e você está tocando neles. Seus mamilos estão durinhos. E eu estou me esfregando para
cima e para baixo na sua coxa”.

“Jesus...”, meu coração estava pulando, ficando mais rápido. Eu tinha minha mão na minha
calcinha, minhas mãos sondando enquanto eu imaginava que era a língua da Naomi. “Eu vou
gozar”, eu disse. “Eu quero te beijar-“.

Com um ímpeto eufórico, eu gozei, com uma mão trêmula agarrando o telefone para perto do
meu ouvido.

“Eu te amo”, eu disse ao mesmo tempo que Naomi. “Eu te amo muito.”

Katie

Sexta, 7 de Agosto.

Eu desci do pinto cada vez mais mole do garoto.

“Transa excelente pra porra, querida. Você é gostosa”, ele disse puxando a camisinha pra fora
e descendo para puxar seus shorts que estavam em seus tornozelos.

Eu tirei a areia das minhas roupas e me vesti. “Sim, brilhante. Te vejo por aí.” Eu me inclinei,
beijei-o e dei uma acariciada rápida em suas bolas, só para ele se lembrar de mim. E saí da
praia indo em direção ao mar. Eu não tenho intenção de vê-lo de novo, mas era legal sair
deixando uma nota alta.

O Foam Nite da vila era obviamente idiota pra caralho, mas pelo menos eu transei. Para ser
honesta, eu poderia até escolher com quem. Eu estava usando meu vestido novo verde limão
por cima do sutiã e calcinhas com estampa de leopardo. E me depilei quase toda com cera
antes de sairmos de Bristol. Quando cheguei ao clube eu fui direto para o bar. Antes de eu ter
a chance de fazer o pedido, alguém estava me oferecendo um drink, mas não fazia o meu tipo,
então educadamente neguei. O próximo a chegar em mim era melhor. Alto, boa aparência,
sorriso atrevido.

“Posso te pagar uma bebida?”, ele gritou por causa do barulho. Eu o olhei de cima a baixo,
captei uma amostra de sua cueca branca e brilhante acima de seus jeans, camisa azul
desgastado, cabelo preto despenteado e sorri meu sorriso mais fofo. “Claro. Vou querer um V
‘n’ T, obrigada”. Ele sorriu e se inclinou por cima de mim para fazer o pedido. Ele cheirava bem.

“Como você está aqui sozinha?”, ele disse, entregando meu drink. “Onde está seu namorado?”

“Eu não tenho um namorado”, eu disse. “E eu não vim aqui pra ficar só dançando”, eu olhei
para ele, piscando bastante.

“Garota safada”, ele disse passando a mão no meu traseiro.

Meia hora depois estávamos na praia. Ele não era um amante dos mais sensíveis, mas esse
raramente é o x da questão. Sexo é sexo. E sexo era a única coisa que estava deixando essas
férias idiotas de doer aceitáveis. Isso e o pensamento sobre tudo o que eu deixei para trás.
Não tinha nada em Bristol me esperando, a menos que você conte humilhações e memórias
dolorosas. O que eu não conto, por mais que pareça engraçado. Duas semanas que eu não
poderia de jeito nenhum dar de cara com o Freddie só poderia ser boa coisa, mesmo que fosse
em um hotel de merda que seria como a porra de Blackpool, se não tivesse tanto sol.

Tomando banho de sol o dia todo e transando a noite toda. Há jeitos piores de se passar o
tempo. Eu comecei como eu pretendia seguir, transando com um cara elegante de uma
despedida de solteiro numa cabine vazia de uma balsa. Ele era vil, na verdade, vestido em sua
camisa polo e berrando “Oh deus, sim” quando gozou.

Depois Fabien na casa de Cecile e Ed. Meio nerd, mas gostava de mim, o que era o objetivo e
ele me fodeu gostoso em seu quarto por quase oito horas. Eu estou certa que seus pais sabiam
por causa do barulho, mas ninguém disse nada. Deve ser normal na França. Eles se sentem
mais confortáveis com relação ao sexo. Na verdade, foi doloroso depois de um tempo, mas eu
já me acostumei com a dor. Não me afetava. Melhor do que não sentir nada.

Emily não aprova, claro, mas ela podia ir se foder. Ela não consegue lidar com o fato de que eu
sou mais pegável do que ela. É, ela esta andando por aí agora com aquele olhar convencido em
seu rosto, como se o sonho do amor jovem tivesse dado um soco em sua cara. Mas eu tenho
uma notícia para ela: não conta se você for uma sapa. Não é a mesma coisa, porra.

Quando eu cheguei a Emily já tinha adormecido. Eu sentei na minha cama e tirei minhas
roupas. Meu corpo se sentia como estivesse ferido, machucado. Eu quase sempre durmo
pelada, mas eu roubei uma das blusas gigantes de lésbica da Emily, deitei na cama e botei
meus joelhos perto de meu peito.
E tentei não chorar.

Emily

Sábado, 8 de Agosto.

No chalé.

Já passara da uma da manhã quando fui para a cama e só Deus sabe quando a Katie foi, então
nenhuma de nós estava interessada quando nosso pai tentou nos acordar às oito e meia. Eu o
mandei pra fora, mas consegui captar as palavras ‘família’ e ‘aulas de surfe’. O bastante para
garantir que eu ficasse em estado de coma até meio dia. Quando eu acordei Katie tinha ido
embora e eu tinha a casa só para mim. Euforia. Eu fui até a cozinha em meus pijamas e
preparei um copo de chá. Eu estava passando geléia no pão quando minha mãe, meu pai e
James voltaram da manhã de esportes aquáticos, grudados.

“Ahá, ela acordou!”, disse meu pai. Continuava jovial então. Perfeito.

“Estou feliz que você já está de pé”, disse minha mãe, pegando a chaleira para encher de novo.
“Eu pensei que você, Katie e eu poderíamos passar a noite no SPA. Um pouco de tempo só
para as garotas. Eu disse que iria encontrar Katie na cidade daqui a pouco.”

Eu realmente, realmente preferiria não ir.

“Obrigada, mãe. Parece legal, acho, mas eu não estou querendo ir. Eu iria dar um passeio.
Sozinha.”

“Vamos lá, Emily. Sai dessa.”

Pelo amor de Deus.

“Sair do que? Eu estou bem. Eu só estou querendo uma tarde pra mim mesma.”

Minha mãe suspirou. “Tudo bem. Talvez amanhã, então”.

“É. Talvez.”

Ela continuou tagarelando no meu quarto. Tudo bem se ela não tivesse feito a proposta, mas
fez tudo parecer falso pra porra.
Eu não me incomodei em dizer que eu tinha planos pra sair com o Josh hoje. Eu iria escutar até
não ter fim. Eu esperei todo mundo ir embora antes de pegar minhas coisas pra ir para praia e
parar em seu chalé.

Eu bati em sua porta e ela abriu quase que imediatamente.

“Obrigado, Deus, por isso”, disse Josh. Eu podia ouvir uma voz alta de mulher no fundo quando
ele puxou a porta por trás dele. Eu levantei minhas sobrancelhas.

“Minha mãe” ele disse. “Ela sabe como falar muito, Deus a abençoe. Eu convidaria você a
entrar, mas ela já está ficando molhadinha em suas calcinhas com o pensamento de uma
colega em potencial pra seu filho depravado.”

“Então”, eu pressionei. “Depravado?”.

“Longa história, Emily. Vamos dizer que mamãe não é a mulher mais progressiva do mundo.”

Uma pequena luz surgiu. “Ahá”, eu disse. “Você é gay.”

Josh tinha escovado os cabelos para trás exageradamente.

“Eu, querida? Por que você pensaria isso?”

“Só um chute.”

“Bom trabalho, Sherlock” ele olhou pra mim. “E você?”

“Também”, eu disse. “É agora que batemos um na mão do outro pra criar laços?”

Ele sorriu. “Sim, se nós fôssemos uns idiotas retardados”, ele me olhou de cima a baixo. “Eu
achei que tinha alguma coisa em você. Meu gaydar infalível, como sempre.” Ele olhou de volta
para meu chalé. “Seus pais aceitam isso normalmente?”

“Não. Eles estão fingindo que não é verdade. Você sabe, negando totalmente, esse tipo de
coisa.”

Nós chegamos ao topo das pedras. Josh tirou seus chinelos e os colocou em sua mochila.
Estava muito quente, nenhuma nuvem em nenhum canto. A praia já estava lotando.

“Quer achar algum lugar mais privado?”, disse Josh. “Eu ouvi falar que tem uma praia rochosa
perto da península.”

“Você está falando daquela península a cinco quilômetros?”, eu resmunguei.
Mas meia hora depois nos encontrávamos em um trecho de areia deserto longe daquelas
crianças berrando.

Nós colocamos nossas toalhas em cima de algumas rochas e eu passei em mim mesma filtro
solar fator 50. Eu me despi para ficar em meu biquíni e me sentei.

Ele se sentou ao meu lado e pela primeira vez eu pude olhar pra ele propriamente. Cabelo
longo e marrom, olhos castanhos, ombros largos, e usando bermuda de cós baixa, cáqui.

“Escuta”, ele disse enquanto olhávamos para aquele mar perfeito e um casal de barcos
desaparecendo no horizonte. “Eu só quero me desculpar por te envergonhar ontem à noite,
quando você estava ao telefone.”

“Esquece. Me desculpe por ter sido tão grossa. Eu só estou com raiva por ter que passar as
férias com os meus pais. Você sabe, sentindo falta da minha namorada.”

Josh cutucou alguns seixos com um galho.

“Eu sei exatamente o que você está dizendo. Eu terminei com o meu namorado alguns meses
atrás. É por isso que meus pais me trouxeram aqui... me persuadiram a vir pra cá porque
acharam que iria me animar. E claro que eles pensaram que eu ia abrir meus olhos que lá no
fundo eu sou hétero de carteirinha.”

“Foda-se o que eles dizem”, eu resmunguei. “Todo mundo na minha família odeia a Naomi.
Minha namorada. Eles acham que ela me transformou numa lésbica. Se eles soubessem que
foi eu que a persuadi...”, eu ajeitei meus óculos escuros. “A pior é a Katie, minha irmã. Ela não
consegue aceitar que eu não sou que nem ela. Ela é a porra de um imã para garotos. Ela é toda
convencida, entende?”

“Para falar a verdade, ela parece bem insegura para mim” Josh disse claramente.

“Isso é uma piada?”, eu disse. “Insegura?”

“Totalmente. Ela é desesperada. Como foi provado ontem quando eu cheguei com minha mãe
e meu pai. Profundamente carente.”

Por algum motivo isso me incomodou.

“Ela não é carente!”, eu disse. “Ela sempre está confiante para porra com tudo. Ela nunca ficou
sem um namorado.”
“Claro que ela nunca ficou sem. Ela provavelmente dá pra todo mundo”, Josh se virou pra me
encarar. “Está claro, Emily. Eu conheci um monte de meninas que nem ela.”

“Tá”, eu disse baixo. “Talvez você esteja certo”.

Já estava na hora de eu e minha irmã termos uma conversa séria.




Effy

Sábado, 8 de agosto.

Veneza

Minha mãe, eu e Florence esvaziamos três garrafas de vinho ontem à noite, e mesmo assim eu
me encontrei vasculhando armários em busca de mais bebidas à meia noite. Eu encontrei uma
coalhada de limão liquida. Eu me servi com metade da garrafa em uma caneca. Nojento pra
caralho. Eu vomitei por uma hora e dormi no chão do banheiro. Minha mãe me achou.

“Jesus”, ela se ajoelhou, segurou meu queixo e chacoalhou minha cabeça.

Eu abri meus olhos. “O quê?”.

“Você não sabe quando parar?”, ela disse secamente.

“Parar com o quê?”, enquanto eu falava, eu podia sentir meu lábio se rachando.

Ela me deu um olhar severo.

“Meio litro de Limoncello depois de todo aquele vinho? Meu deus... e você vomitou em toda
minha bolsa de maquiagem”.

Ela se levantou e enxaguou uma flanela na pia.

“O que você está fazendo?”.

“Eu vou limpar toda essa bagunça. Cristo, olha o seu estado”.

Antes que eu pudesse protestar ela começou a limpar meu rosto gentilmente. Foi legal.
Relaxante. Por alguns minutos só havia o som de suas pulseiras batendo e a minha respiração.

“Está muito tarde para um banho”, ela murmurou. “Sem água quente, de qualquer jeito”. Ela
parou de limpar e tirou o cabelo do meu rosto. “Vamos lá. Hora de dormir”.
“Me deixa”.

Ela me ignorou.

“Vamos tirar isso. E sua saia”.

Ela segurou meus braços e me puxou para que eu me sentasse na ponta da banheira.

“Eu posso me despir sozinha, mãe. Eu não sou um bebê”, eu disse enquanto uma onda de dor
agonizante surgiu em minha cabeça. “Só me dá a porra de um paracetamol. Eu vou ficar bem”.

“Não se mexa”, ela disse e saiu para a sala. Dois minutos depois ela voltou com algo largo e
branco que obviamente tinha afanado de uma velhinha.

“Uma camisola? Isso deve ser uma piada”.

Eu me levantei desajeitada. Eu estava nua e tremendo agressivamente. Minha mãe deslizou a
roupa de velhinha pela minha cabeça, colocou meus braços para dentro e abotoou até a minha
garganta. Eu me senti como se tivesse cinco anos.

“Boa garota”, ela disse tranquilamente. “Boa garota”.

Ela segurou minha mão e me guiou até meu quarto, puxou o lençol da minha cama. Eu
desmoronei no travesseiro.

“Mãe”, eu disse sonolenta, observando-a fechar as persianas. “Não feche completamente”.

Ela as deixou e veio em minha direção. Me cobriu com o lençol e apagou a luz.

“Você vai ficar bem, Effy”, ela disse. “Tudo ficará bem”.




Mas ao meio dia estávamos de volta à guerra fria. Certo, eu a deixei cuidar de mim, mas eu
estava sob influência. Não significava que ficaríamos grudadas uma na outra hoje de manhã.
Todas as coisas que estavam lá antes continuavam lá.

Eu vaguei pela cozinha me sentindo uma merda. Minha mãe estava na mesa de costas para
mim. Eu fechei meus olhos. Minha cabeça cambaleou. Eu bebi suco de laranja, tomei três
aspirinas e peguei o chaveiro extra.

“Eu vou sair”.
Minha mãe me olhou por cima do livro de frases que estava estudando, inutilmente já que ela
não falou uma palavra em italiano desde que chegamos aqui. “Para onde?”.

“Só passear, tomar um ar. E eu talvez vá ver... qual é o nome dela?”.

“Florence?”, disse minha mãe. “Talvez eu vá com você”.

“Nesse caso estou indo à Lan House”, eu disse calmamente.

“O que raios há de errado com você?”, minha mãe sentou furiosamente de volta na cadeira.

“Eu só quero ficar sozinha. Entendeu?”, eu estava sendo uma vadia e ela não merecia isso, mas
eu tenho uma reputação a manter.

“Então você não está interessada a se juntar a nós mais tarde?”, ela disse claramente,
fechando seu livro e se servindo com mais café.

“Nós?”.

“Aldo me convidou – nós – a uma excursão numa pequena ilha de Veneza”, ela disse. “Eu acho
que se chama Lido”.

“Tudo bem”, eu lutei contra o estímulo de chutar sua cadeira. “Bem, sim, eu vou. Por que
não?”.

Minha mãe sorriu e acendeu um cigarro. “Legal. Vai ser bom sentir o cheiro do mar. Nós
escolhemos a época mais quente do ano para vir a uma maldita cidade no mediterrâneo. Não
é a toa que todos os nativos vão para o campo. Bem...”, ela começou a colocar suas coisas em
sua bolsa: óculos escuros, carteira, telefone, maquiagem. “Ele é um bom homem, não é?
Gentil”.

E ele é meu, eu pensei. Não seu.

Houve uma batida alta na porta.

Minha mãe olhou em seu relógio. “Merda. Eu não percebi que era tão tarde. Deve ser o
Alfredo”.

“Eu vou atender”, eu disse, me atirando para fora da cozinha.

Quando abri a porta do nosso apartamento, Aldo estava lá com Florence. Seu braço cruzado
com o dele.
“Olá, querida”, ela sorriu pra mim. “Eu espero que você não se importe com uma velhinha de
brinde”.

Eu teria ficado puta se fosse outra pessoa. Mas Florence podia encantar os passarinhos da
porra das árvores, e podia fazer companhia para minha mãe.

Isso pode acabar dando certo.

“Claro que não” eu disse. “Quanto mais, melhor”.




Enquanto todos nós descíamos as escadas, minha mãe na frente, Aldo se virou pra mim. “Lido
é um lugar extraordinário, Effy”, ele disse. “Faz parte de Veneza, mas é muito diferente.
Principalmente a arquitetura. Várias construções com decorações de arte gastas que já foram
incríveis. Agora é, acho que vocês ingleses diriam, um glamour que está desaparecendo. E é
um pouco misterioso. É aonde gravaram Death in Venice?”.

Eu fiquei sem expressão.

“Um filme dirigido por Luchino Visconti. Muito perturbador”.

“E um livro”, minha mãe observou. “Sobre uma escritora que se apaixona por um rapaz mais
novo”.

Eu aposto que ela só leu isso essa manhã na porra de seu amado guia turístico.

Mas eu estava ansiosa para ir. Lido soa como aquele tipo de lugar aonde o real se torna irreal.
E isso era perfeito pra mim.

Nós tomamos um táxi aquático e o ar salgado lentamente levou minha dor de cabeça embora.
Enquanto nos distanciávamos de Veneza, eu olhei de volta para a cidade, ardendo com o calor.

Minha mãe pensou que estava na porra do Dolce Vita ou coisa assim, com um lenço amarrado
na cabeça e óculos escuros. O vento estava bagunçando seu cabelo. Eu sorri com a parte de
trás de sua cabeça.

Quando chegamos, Aldo nos levou diretamente para almoçar em um hotel chique perto da
água. Um prédio incrível pêssego e dourado aonde as pessoas pareciam ter sido presas no
tempo. E agiam desse jeito, também. Eu juro que o sujeito que nos levou à nossa mesa se
curvou para nós.
Assim que nos sentamos, eu levantei novamente.

“Aonde você vai?”, minha mãe perguntou.

“Banheiro”, eu disse sem olhar pra ela. Eu precisava me recompor.

No banheiro eu subi em uma das pias e me sentei por um tempo, massageando minha mão
com o creme grátis e encarando todos que entravam. Todos desviavam o olhar
desconfortavelmente. Não era minha culpa se eles se assustavam comigo. Eu não estava
fazendo qualquer coisa errada.

“Ah, aqui está você!”, disse Aldo sorrindo quando voltei. “Eu estava pensando pra onde você
tinha ido”.

“Só observando o lugar”, eu disse me servindo uma taça de vinho. “Lugar legal”.

“É mesmo. Eu só estive aqui uma vez, na noite do meu casamento”.

“Eu estou surpresa que tenha coragem de voltar aqui”, disse minha mãe.

“Ao contrário, é uma lembrança feliz para mim”.

Eu tomei todo o meu vinho e coloquei mais.

Abastacendo o barco, como meu pai diria.

“Effy, sem exagerar”, disse minha mãe.

Eu a ignorei e tomei um grande gole de vinho. Assim era melhor. Eu estava começando a me
sentir bem e bêbada. Eu fiz um gesto para o garçom trazer mais do mesmo.

“Effy...”, disse minha mãe como se estivesse avisando a uma criança para ficar longe da
tomada.

“Ah, relaxa, mãe”, eu disse. “Relaxe. Tome mais vinho”, eu desastrosamente servi vinho em
seu copo, então no de Aldo, no de Florence e no meu. Eu me senti como se estivesse pairando
sobre a mesa, olhando com olhos estreitos Aldo tentando puxar conversa com minha mãe
enquanto ela comia seu espaguete à bolonhesa. Como você está aventureira, mãe. Por que
você não simplesmente pede ovos e batata e acaba com isso?

Florence percebeu meu olhar e sorriu maliciosamente.
Uma salva de palmas me trouxe de volta à terra. Do outro lado da sala um sujeito num terno
branco se curvou e sentou em um grande piano, agitando a cauda de seu casaco enquanto o
fazia. Eu ri muito alto e algumas pessoas me deram um olhar severo. Que se fodam.

Ele começou a tocar a música do Billie Holiday, ‘Lover Man, Oh Where Can You Be?’, uma das
minhas favoritas, acredite se quiser. Eu me inclinei, minhas mãos no meu colo e olhei para
minha taça, respirando o cheiro picante e cantarolei junto.

“Adorável”, disse Florence. “Me leva de volta”.

Eu revirei meus olhos para olhar para ela. Ela captou meu olhar e sorriu de novo, então
subitamente ergueu sua taça.

“Para situações estranhas, não é, Effy?”, une ela meio que murmurou.

Eu balancei meu copo precariamente, o vinho respingando em cima da mesa. Minha mãe
olhou inquieta.

“Que situação estranha?”, ela perguntou, seus olhos se ampliando.

Eu dei a ela um sorriso irritante.

“Nada para se preocupar, Anthea”, disse Florence colocando sua mão em cima da mão de
minha mãe. “Nós somos todos amigos aqui”.

Está tudo bem, Florence. Finja ser senil.

“Como está seu bife, Effy?”, disse Aldo. Eu tinha esquecido que ele estava ali.

“Certo, é isso”, disse minha mãe de repente, pegando o meu copo. “Você vai ficar doente.
Coma sua comida”.

Eu estava quase pegando minha taça de volta quando o pianista começou a tocar uma coisa
nova. Eu não reconheci, mas Florence uniu suas mãos em um êxtase musical. Eu me levantei e
comecei a me balançar e dançar, meus olhos se fecharam.

“Sente-se, pelo amor de Deus”, minha mãe me sibilou.

Ignorando-a, eu segurei as mãos de Aldo. “Dance comigo”, eu disse tentando levantá-lo. Seu
cheiro era adorável.

Aldo riu. “Eu acho que talvez você não esteja acostumada com vinho italiano”.
Ele gentilmente se desvencilhou das minhas mãos, e eu me senti balançar. Eu estava mais
bêbada do que pensava. Eu me sentei no chão e ri. Eu senti as mãos de minha mãe nos meus
ombros. Ela colocou a boca perto do meu ouvido e disse, “Você precisa levantar agora. Tudo
vai ficar bem, mas você precisa levantar. Você está se envergonhando”.

“Eu estou tentando me divertir”, eu disse. “Não estrague”.

Seus lábios, suas mãos, meu garoto de olhos castanhos.

Então Aldo veio e se ajoelhou ao meu lado. “Deixe-me te ajudar a levantar, Effy”, ele disse.
“Parece que você caiu”, ele colocou seus braços por baixo de meus cotovelos e tentou me
levantar, mas apenas conseguiu levantar meus braços sobre minha cabeça. Me fez rir.

Enquanto eu me levantava um garçom apareceu e disse, em inglês, “Posso trazer um copo de
água pra sua filha?”

Filha?! Eu ri alto e disse, “É, certo. Ele é meu papai. Ele, tipo, me espanca... quando eu sou
travessa, mas se sou uma boa garota ele me dá a porra de uma transa”.

“Effy!”, minha mãe disse. Ela cobriu seus olhos com a mão. Mortificada, ela disse, “Pelo amor
de Deus, você vai fazer com que eles nos expulsem”.

Eu olhei para Florence, que era a única que eu estava remotamente preocupada em ofender,
mas ela estava olhando pra mim com um meio sorriso em seu rosto. Qual era o jogo dela?

Então a profecia de minha mãe se tornou verdade e nós fomos expulsos. Alguns convidados
ingleses do hotel tinham se queixado, aparentemente. Como se eu ligasse.

Quando chegamos lá fora minha mãe se virou para Aldo e disse, “Me desculpe por Effy. Eu não
sei o que aconteceu com ela”.

Eu balancei minhas mãos na frente dela, com tanta raiva que eu queria agarrar o cabelo dela e
bater sua cabeça na parede repetidamente. “Oi? Eu estou aqui”, eu gritei.

Minha mãe desviou seu rosto de mim. “Você está com bafo”, ela disse.

“Por que você liga?”, eu murmurei. “Está tentando impressionar ele, não está? Cai fora.”

“Eu adoraria”, ela disse, com o rosto vermelho. “Mas para o melhor e para o pior eu sou sua
mãe, e não posso te deixar nesse estado”.
Que tocante. Era um beco sem saída. Eu sentada na calçada desejando que ter pegado a
metade da garrafa de vinho que estava na mesa.

Um movimento me fez olhar pra cima. Florence tinha tropeçado. “Oh, Deus”, ela disse. “Eu
não estou muito bem. Muito vinho. Anthea, querida, pode me levar pra casa?”.

“Claro”, disse minha mãe. “Nós todos vamos. Mas você está bem? Deveríamos encontrar um
médico?”.

“Ah não, não precisa. Eu só preciso dos meus remédios e da minha cama. E não precisam
acabar com seu dia assim tão cedo. Eu tenho certeza de que Aldo não vai se importar de cuidar
da Effy”.

Ela olhou pra Aldo, que disse rapidamente, “Claro... Effy e eu vamos ficar e tomar muito café e
comer muito bolo”.

“Então está decidido”, disse Florence de maneira entusiasmada, até demais. E ela acabou de
piscar para mim? Espertinha pra caralho.

Minha mãe segurou o braço de Florence e virou para Aldo. “Sinto muito por hoje”, ela disse.
“Estou me sentindo terrível”.

“Não se sinta”, Aldo respondeu. “Não precisa”.

Eu podia sentir minha mãe me olhando, mas me recusei a encará-la. Quando olhei pra cima,
ela e Florence estavam indo embora.

Aldo sentou do meu lado, suas mãos descansando em seus joelhos levantados. “Isso foi uma
performance e tanto”, ele disse. Eu olhei para seus tornozelos e pés, nus em seus mocassins de
couro.

“Effy”.

“O quê?”.

“Eu disse que isso foi uma performance e tanto”.

Eu dei de ombros e acendi um cigarro e me senti imediatamente nauseada. Mas isso iria
passar.

“Você está... você está em algum tipo de encrenca?”, Aldo disse, sem noção alguma.
“Encrenca?”, eu ri sem humor algum. “Talvez essa seja uma palavra para a situação”.

“Quer me contar?”.

Você realmente não quer saber

“Não importa”, eu disse solenemente. “Eu só queria alguém para me fazer esquecer”, eu tremi
apesar do calor.

Aldo se moveu para mais perto de mim. Ele tirou sua jaqueta e botou em volta de meus
ombros.

“Álcool diminui a temperatura do seu corpo”, ele disse. Ele tirou um cigarro do meu maço.

“Eu pensei que você desaprovava o fumo”.

“Eu desaprovo. A desgraça do ex-fumante”, ele disse deixando as mãos em forma de concha
enquanto o acendia. Ele soltou o ar. Sua mão tremeu um pouco enquanto me devolvia o
isqueiro. “Eu devo dizer que estou... incerto sobre você, Effy”, ele disse, não olhando para
mim, mas sim em frente.

“O que quer dizer?”, eu soei mais inocente do que me sentia. Quando ele virou pra me encarar
meus olhos caíram para o cinto em suas calças. Eu pensei na minha boca no seu pinto e subir
nele, senti-lo preencher minha boceta.

Pare Effy. Não faça algo estúpido.

Aldo balançou sua cabeça, apagou o cigarro e se levantou. Ele estendeu sua mão para me
levantar em sua direção e colocou seus braços em mim. “Pobre Effy”, ele disse.

Eu descansei minha cabeça em seu peito, senti seu cheiro e ouvi a batida do seu coração. Eu
arqueei minhas costas para que meus peitos se pressionassem nele e, quando ele não me
soltou, movi o braço coloquei minha mão em seu pinto. Ele não me empurrou imediatamente,
ele esperou um pouco. Nesse tempo eu consegui o que precisava. Senti-lo excitado com meu
toque.

“Você está um pouco bêbada, Effy”, ele disse baixo. “Isso não é o que você quer.”

“Você não sabe o que eu quero”, eu disse rouca. “Você não sabe mesmo.”
“Talvez não”. Aldo pegou outro cigarro e acendeu. “Mas você querendo ou não, eu vou
comprar para você um café forte e algo bem doce para comer”. Ele abotoou sua jaqueta sobre
meus ombros. “Vamos lá. Você vai se sentir muito melhor, eu prometo.”

Naomi

Segunda, 10 de agosto.

The Caves, Bristol.

“Eu ouvi falar na sua maratona infantil de sexo”, eu disse à Cook, enquanto ele zumbia a minha
volta como uma vespa excitada. “E independente do fato de não estar mais interessada em
pintos, de qualquer natureza, eu nunca, nunca, nem em um milhão de anos, nem se o inferno
congelasse, nem que nós fossemos os últimos humanos vivos e só transar com você pudesse
me salvar de ser comida viva por uma bactéria medonha, nunca, NUNCA deixaria você
encostar seu pinto em mim. Ficou claro?”

“Você ama isso”, disse Cook, tirando um baseado meio fumado de seu bolso de trás. “Se eu
parasse de tentar transar com você, Campbell, você ficaria devastada.” Ele fechou o zíper de
sua jaqueta, que estava rasgada na parte inferior de um braço.

“Ah, querido. Você precisa de alguém pra cuidar de você”, eu puxei o revestimento xadrez
rasgado, “não pra transar contigo.”

“Idiotice pra caralho”, ele disse agradavelmente. “Quer se juntar a mim para fumar?”

Eu vi JJ com olhar vazio do outro lado da pista de dança.

“Não, eu acho que eu vou conversar com o Jeremiah”, eu disse. “Ter uma conversa decente e
adulta.”

“Justo, senhora Naomi”, Cook foi em direção à porta. “Mas se encontrar Frederick, diga a ele
que ele tem de me alcançar, Cookie está na frente dele com muito vapor. Facinho, como
sempre.”

“Eu não vou me envolver. Isso é imbecil e triste”, eu disse. “Mas eu vou dizer para ele aonde
você está e você pode dizer isso a ele”, eu vi Cook desaparecer pela porta antes de ir encontrar
o JJ.
Eu saí hoje para me recuperar. A parte de mim que estava ocupada em sentir falta da minha
garota. Mas o que aconteceu foi que me encontrei procurando por ela nas multidões. Ridículo
pra porra. Eu estou perdida.

Senti alguém cutucar as minhas costas. JJ apareceu atrás de mim.

“Quer ver uma mágica?”, ele começou a dizer ansiosamente, começando a colocar as mãos
nos bolsos.

“Não, JJ. Eu realmente não quero”. Peguei sua mão. “Mas vamos sentar em algum lugar.”

“Sério?”, ele parecia confuso.

“Para conversar”, eu disse rindo. “Sem gracinhas.”

JJ me seguiu para uma banqueta gasta encostada na parede. Um casal vigorosamente
esfregando o corpo um do outro estava esparramado nela. Eu bati no ombro da garota e dei a
ela o meu olhar mortal infame e os dois foram para o lado e nos deixaram sentar.

JJ estava simultaneamente impressionado e com cara de quem sentia muito.

“Então, o que há com o Cook e essa competição maluca de sexo?”, eu disse. “Ele não pode
apenas chorar como um ser humano normal?”

“Sim”, disse JJ, “passa um pouco dos limites, admito.”

Para provar o que JJ estava falando, Cook reapareceu, dessa vez com uma garota atrás dele.
Ele a levou para o sofá que estava na nossa frente, e começou a enfiar a língua em sua
garganta. Boa, Cook. Sutil.

JJ os espiou. “Ele ficou com ela quando viemos aqui semana passada. Eu estou reconhecendo a
tatuagem de serpente no pé dela. Devemos sentar em outro lugar?”

“Eu não vou sair agora. Só vamos fingir que eles não estão aqui”. Eu ainda tinha um copo de
plástico quase cheio com vodka e água tônica. Tomei um grande gole. JJ tomou um gole de sua
água.

“Por que você não bebe, JJ?”, eu perguntei a ele.

Ele olhou pra mim e rapidamente desviou o olhar de novo. “Eu não gosto muito do sabor”, ele
disse.
“Esse é realmente o motivo?”

JJ sorriu nervosamente. “Um deles”, ele tomou um gole de sua água. “Então, Naomi...”

Eu o interrompi, tentando acabar com seu tormento. “JJ, você sabe que eu não ligo para o que
aconteceu entre você e Emily.”

Ele olhou para a garrafa em suas mãos e começou a tirar o rótulo. “Não liga? Digo... bom, fico
feliz. Foi só um ato de caridade. Da parte dela, obviamente.”

Eu o vi brincar nervosamente com a garrafa. “Ela gosta de você”, eu disse. “Eu não ouvi
nenhuma reclamação, também... você sabe, sobre o-”

O rosto de JJ de repente estava banhado em uma coloração rosa avermelhado.

“Que seja”, ele murmurou. “Sei quando vocês estão sendo condescendentes comigo, Naomi.”

“Porra. Não, JJ. Eu não estou sendo condescendente com você. Você é mais inteligente do que
todos nós”, eu disse, me sentindo mais desajeitada a cada segundo. “Você realmente acha que
transar com qualquer coisa que se mova te faz especial?”, meus olhos voaram para Cook
brevemente. “Ou te faz feliz?”

“Me faria muito feliz”, disse JJ, finalmente soltando a garrafa. “Me sentir normal.”

Eu concordei com a cabeça. Eu sei como era sentir que todo mundo estava rindo de uma piada
que eu não conseguia entender. Senti isso por quase toda a minha vida.

“Você vai ficar bem”, eu disse. “Eu prometo.”

JJ aceitou isso com um meio sorriso. “Enquanto isso”, ele suspirou, gesticulando para nosso
oposto. “Estou aqui meramente para observar...”

Cook estava se satisfazendo com afagos completamente exagerados. Sua mão estava dentro
do zíper da calça da garota enquanto ela se contorcia ruidosamente em seu colo.

JJ e eu trocamos olhares entretidos. Eu senti uma presença ao meu lado.

“Tudo bem?”, Freddie caiu pesadamente no nosso meio. “Aonde está o Cook?”

“Bem na sua frente”, respondeu JJ.

“Merda, já?”, Freddie suspirou e jogou a cabeça para trás enquanto olhava para o teto.
“Ah, Freddie”, eu disse. “Cook disse que você teria que mexer o seu traseiro se você quiser ter
alguma chance de ganhar esse joguinho”, eu disse a ele. “Apenas repassando.”

“Obrigado.” Freddie olhava para todo lado, menos para o que estava na nossa frente.

Mas que lindo grupo de macacos nós formávamos.

Depois de um tempo, Freddie sentou-se direito de repente, bateu em seus joelhos com as
mãos e disse, “Então... como está indo com a Emily?”

“Bem. Ela está de férias com o resto da porra da família Addams.”

Ele levantou as sobrancelhas.

“Eles me odeiam. Particularmente a gêmea do mal.”

JJ se inclinou na direção do Freddie. “É estranho. Mesmo elas sendo idênticas, às vezes
esqueço que Katie é irmã da Emily”, ele disse. Sua face se iluminou: “Ei, Freds, tivemos
relações sexuais com gêmeas! É como em um filme pornô...”. Seu sorriso se desmanchou.
“Digo, pelo o que ouvi dizer.”

Freddie esfregou a mão em seu rosto. “Não tem graça”, ele disse. “Ainda me sinto mal por
causa disso.”

“Eu não me incomodaria”, eu disse. “Katie é uma vadia total. Ela mereceu tudo o que
aconteceu.”

“Ela não é tão má assim”, Freddie respondeu. Então, vendo minha expressão: “Quer dizer,
talvez ela tenha alguns problemas e tal...”

“Certo. Enquanto a Effy é um ser humano bem ajustado”, eu disse sem pensar.

Freddie cruzou seus braços em seu peito e curvou os ombros. “Que porra isso quer dizer?”

“Nada. Tem-se que questionar a saúde mental de alguém que deixaria uma garota
inconsciente para poder transar com o namorado dela numa barraca...” eu aspirei. “Só isso.”

“Você não sabe de tudo”, disse Freddie furiosamente. “Só cuide da porra da sua vida.”

JJ encarou o rótulo de sua garrafa atentamente.

“Tudo bem”, eu levantei meu copo pra ele. “Tchau então.”
Quando fui embora meia hora depois, vi Freddie com uma garota chamada Ashley, que é
minha vizinha e corta o cabelo da minha mãe. Eles estavam inclinados contra a parede lateral
do clube. Ela estava com a saia na cintura, suas pernas ao redor dele, seus peitos a mostra. Ele
estava fodendo-a gostoso. Suas nádegas indo e voltando enquanto ela ofegava para o ar.

“Jesus”, eu resmunguei para mim mesma. “Me tira daqui.”

Emily

Terça, 11 de agosto.

Na cama, tarde da noite.

A porta se abriu e sua silhueta surgiu. Ela se moveu descalça até a cama.

“Katie?”, eu sussurrei.

Ela olhou para mim. “Você ainda está acordada?”

“Não consegui dormir. Pensando em coisas.”

Primeiro ela não respondeu, só tirou seu vestido e seu sutiã e foi para baixo do lençol. Eu
fiquei a observando.

“Por que você está tão estranha?”, ela disse.

“Eu só estava tentando conversar com você”, eu disse, cansada. “Não vou te incomodar de
novo.”

Katie se contorceu um pouco embaixo do lençol. “Está fervendo aqui”. Ela se contorceu para
ficar mais confortável e bateu agressivamente em seu travesseiro, eventualmente me
encarando.

“Então”, ela disse. “Vamos conversar.”

“Eu estava pensando em você hoje, só isso. Sabe, não estamos exatamente nos dando bem
atualmente.”

“E a culpa é de quem?”, ela disse na defensiva. “Você se voltou totalmente contra mim agora
que está com ela. E ela odeia meu jeito de ser.”

“É, certo, e você sempre foi a maior fã dela, não é?”
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Início em Veneza

  • 1. PRÓLOGO 7 a.m, e além do triturar do limpador de ruas lá fora, eu ainda podia ouvi-los no quarto dela. Ela tentava abafar o barulho, porém não havia dúvida do que estavam fazendo. Como ela podia fazer isso comigo? Isso não é real. Não pode ser real. Eu me deito pela metade em cima dos lençóis, uma mão acariciando meu estômago. Todo o meu corpo ficou paralisado, congelado. Se eu pudesse sentir isso. Queria sentir. Eu parei de me acariciar, puxei o lençol sobre mim e rolei para meu lado da cama. Fiquei encarando para fora da minha janela a manhã nascendo – apenas começando a brilhar. Eu senti o suor escorrer por trás do meu pescoço – já estava muito quente – e minha cabeça latejava. Minha felicidade estava murcha e estremecida dentro de mim. Ela não me amava. Ela nunca teria feito isso comigo se me amasse. Então pararam. “Muito obrigado por isso, porra.” Olhando para o teto, eu franzi o cenho, meus lábios se partiram ao meio para que eu pudesse soltar um silencioso e incrédulo suspiro. Me senti como se fosse o fim do mundo. A pior coisa que já aconteceu comigo. Se eu pudesse imaginar por um segundo que eu poderia acreditar no amor, eu percebi agora que eu estaria me iludindo. Porque tudo termina do mesmo jeito, mesmo você o amando ou não. Todo mundo te trai no final. AGOSTO – SEMANA 1 Effy Dia 1, sábado, agosto. Veneza Então ela escolheu Veneza. Eu posso ver o porquê. É como um castelo gigante da Disney, mas muito surreal de certa forma. E é um bom longo caminho de Bristol para lá, do meu pai e de toda porcaria de lá. Então bom trabalho mãe. Qualquer coisa que bote algum distância entre mim e todo mundo. JJ, Cook e Freddie. A porra dos três mosqueteiros.
  • 2. Eu começara algo e não conseguia continuar com isso. E estar cercada por água – como um fosso gigante nos separando do inimigo. Eu e minha mãe tínhamos de fugir. Nós alugamos um apartamento pequeno longe do centro e dos turistas. Os donos tinham ido embora da cidade pelo verão todo. É um prédio de quatro lados com um grande pátio no meio. Fantástico. Tão pitoresco. Até as paredes rosas descascadas, elas me lembram de milkshake de morango. Tem uma varanda também. Azul enferrujado. Perfeita para se sentar, observar e fumar. Ver sem ser vista. Meu quarto, de qualquer jeito, é um espetáculo de aberrações. Barbies por todo o lugar. Uma cama de solteiro. Uma imagem de Jesus e Maria com os seus jeitos virginais. Naomi e Cook mijariam nas calças se pudessem me ver agora, eu pensei, enquanto jogava a minha mala na cama e olhei em minha volta. Não tinha computador. Eu achei uma Lan house depois de algumas horas, assim poderia manter contato. Se eu quisesse. Minha mãe estava deprimida assim que chegamos lá. Estava nublado, chovendo muito, úmido e fedia mas, Deus, tudo em que ela pensa ultimamente é nela. Ela e a porra de seus problemas. Que ela criou, por sinal. Talvez eu devesse ser mais simpática considerando toda a merda que eu tenho me metido nos últimos meses, mas minha mãe nem ligou ou pareceu se importar. E eu? “Qual é o seu problema?” Eu perguntei. “Nenhum. Eu não sei.” Ela disse cansada. “Não era realmente o que eu esperava... talvez foi um erro vir para cá?” “Talvez” Eu fechei os olhos, irritada. Faça um esforço, Effy, você sabe como é se sentir uma merda. Eu abri as persianas. A chuva tinha parado. Os raios de sol me fizeram piscar. E sorrir. “Viu?” eu me virei pra minha mãe. “Transformado.” Um patético e fraco sorriso. “É, isso ajuda.” Ela tirou os cigarros de sua bolsa e acendeu um. “Então, o que deveríamos fazer agora?” “Eu vou tomar banho” eu disse. “Depois eu vou explorar o lugar. Achar uma Lan house”.
  • 3. “Ah, espere” ela me entregou um envelope marrom. “Isso é do seu pai”. Eu rasguei para abrir. Contei cinco notas de cem euros. “Para gastar” disse mamãe. “Isso deve ser o bastante, se precisar de mais fale comigo”. “Certo, obrigada” eu disse ingrata. Vai precisar mais do que merda de dinheiro. “Bem” ela suspirou. “Eu vou arrumar esse lugar e deixar mais como um lar”. Lar? Se isso a deixa feliz, acho. Assim que eu cheguei lá fora, acendi um cigarro, peguei meu telefone e o liguei, esperei que ele captasse sinal e deletei a mensagem da operadora. Dez minutos depois recebi uma mensagem da Pandora. Alguma coisa sobre o Thomas e a mãe dela. Pediu para que eu mandasse fotos para ela. Sim, Panda. A tarde estava na metade e silenciosa. Na esquina da rua, alguns velhinhos sentavam-se em frente a uma lanchonete jogando dominó. Um cachorro sarnento cheirava o chão ao redor de seus pés. Uma mulher parecendo exausta com um avental de corpo inteiro estava esfregando o chão do prédio perto do nosso. Ela parou por um minuto para descansar e me notou, em pé com o meu telefone. Ela me olhou de cabo a rabo com um tom desaprovador, talvez com inveja. Essa era a vida dela todo dia esfregar, esfregar, deixar limpo. Ela botou seu esfregão de volta ao seu balde e seguiu em frente. Eu acendi outro cigarro e fui em direção a um muro baixo, oposto ao nosso prédio. Eu sentei, fumando, fazendo meu lance de observar as pessoas. Encarando. Três garotos, da minha idade talvez, cruzaram a esquina. Um deles, o alto, com um chapéu, parecia o Freddie. Lindo. Meio cheio de si. Me chamou a atenção. “Signorina... ciao... ciao” ele assobiou. Os dois perto dele começaram a fazer macacadas, assobiando, gritando coisas que eu não entendia, chegando perto de mim. “Você sabe o que ‘cai fora’ significa?” eu perguntei ao mais alto quando se acalmaram. “Cai. Fora.” “Ooooh. Inglese.” Ele começou a vir. “Legal. Está de férias?” “Quoi?”, Soltei um anel de fumaça perfeito.
  • 4. Os dois racharam. Eu suspirei em minha mente e descruzei as pernas. Meus pés estavam queimando, estava muito quente. Minhas pernas estavam nuas. Eu olhei para elas e depois para os três garotos. Eles haviam parado de rir. Silenciou-se. Minha respiração começou a acelerar, mas eu não iria deixá-los cheirar o medo. Eu joguei meu cigarro no chão à minha frente e começamos a nos encarar. “Então, quando quiserem ir se foder, está tudo bem para” “Como é que é?” disse o mais alto “Nós só estávamos sendo amigáveis. Talvez seja você que deveria ‘se foder’ agora” Ele olhou para seus amigos. “Você esta vestida que nem uma puta” ele complementou. “A porra de uma puta.” Eu queria vomitar. Vomitar todinha neles. Eu queria meu pai, minha mãe, Freddie. Eu começara algo que eu não podia terminar. “Eh Che fate?!” uma voz gritou. Um sujeito mais velho vindo em minha direção, com aquele visual caro dele. Terno, camisa, sapatos italianos Poncy. Ele olhou bruscamente para os três idiotas e soltou a correnteza de italiano bravo. O mais alto saltou no ar e uivou que nem um lobo. Eu sorri com desdém. Cook. Que nem o Cook. Os outros dois fizeram o mesmo e foram embora correndo. “Ciao, bella” um deles me gritou obscenamente enquanto corriam “Vadia inglesa”. Então eles já estavam na esquina. Foram embora. O que me deixou sozinha com a porra do George Clooney. “Sta bene?” ele perguntou. “Você está bem?” ele chacoalhou a cabeça “Não ligue para esses rapazes”. “Eu não estava” eu disse sorrindo. “Mas tudo bem”. Eu me levantei, já sem vontade de explorar e entrei em nosso prédio. “Ah, você está morando aqui?” ele disse. “Eu também” ele estendeu sua mão “Meu nome é Alfredo, mas meus amigos me chamam de Aldo”. Eu dei minha mão. “Effy.” Nós fizemos aquela coisa de sorrir estranhamente.
  • 5. “Você não deveria fumar” ele disse, olhando para o maço de cigarros em minhas mãos. “Faz mal para pele”. “Obrigada pelo conselho” eu educadamente disse dando o meu sorriso mais charmoso. “Eu vou carregar isso em mente”. Ele abriu a porta de madeira gigante e a segurou para mim. Nós estávamos na entrada, a qual cheirava a umidade, como uma caverna. Eu olhei para todas as antigas entradas de quem já viveu por lá. Eu queria uma, eu pensei. Eu gostaria de entrar em uma e ficar lá escondida para sempre. “Então...” disse o Aldo. Ele começou a subir a escada de pedras e se virou para mim “Você está com seus pais?” “Minha mãe” eu disse “Ficaremos aqui por um mês”. “Ah, vocês alugaram o apartamento dos Tropeas? Bem nós deveriamos beber um Grappa juntos, talvez? Uma bebida de boas-vindas!”. “Grappa?” “Uma bebida italiana, Effy. Queima a alma.” Com o despeito de não querer, eu sorri. “Seu inglês é muito bom.” “Obrigado. Eu passei um ano estudando em Londres. Eu estava esperando há muito tempo alguém dizer isso. Eu não pratico muito hoje em dia”. Nós chegamos ao topo do segundo lance de escada e Aldo sentiu seu bolso de trás. “Droga” ele disse. “Eu deixei minhas chaves na casa da minha mãe”. Ele esfregou a testa. “Estou trancado para fora do meu apartamento”. “Tudo bem.” Eu mordi meus lábios e pensei a respeito “Você está com sua carteira?” “Sim, mas –“ “Eu preciso de um cartão de crédito. Só preciso disso”. Eu observei sua expressão, que estava confusa. “Para abrir a porta?” Ele me encarou, não entendendo por um segundo, depois sorriu um sorriso perfeito pra caralho. Ele não parecia tão mal. Eu não tinha percebido antes.
  • 6. “Garota esperta. Agora, como, e o mais importante, por que você aprendeu a fazer isso?” “Por que talvez eu achasse que fosse útil?” eu disse olhando mordazmente para a fechadura de sua porta. “Então isso acabou de ser provado” Aldo disse, me entregando sua carteira. Eu ignorei os vários cartões de crédito à disposição, incluindo o Amex platinum, e peguei o cartão mais frágil e laminado. Cartão de filiação ou alguma coisa assim. Eu me ajoelhei no chão e deslizei o cartão o mais longe que podia no espaço acima da fechadura, o inclinei até encostar na maçaneta, então o dobrei de volta ao outro caminho e o inclinei sobre a porta. Pronto. Eu me levantei e esfreguei meu joelhos. “Muito obrigado pela ajuda” ele disse. “Você gostaria de entrar para tomar um drink?” “Não” eu respondi. “Obrigada”. Por que eu disse isso? Porque minha resposta padrão é sempre “Não”. Eu o esperei insistir, mas ele não o fez. “Tudo bem, Effy” ele estendeu a mão para alcançar a minha. Era quente e seca, não pegajosa. Grande, forte. “Eu estou endividado com você”. Nós sorrimos um para o outro. Deixe-o aí, pensei. Não vá. Botei uma mecha de meu cabelo entre meus dedos e acariciei lentamente. Eu li uma vez em uma revista que homens odeiam quando as mulheres brincam com seu cabelo. Que se foda. “Bem, te vejo então” eu disse devagar. “Outra hora”. Sem esperar que ele falasse, eu subi para nosso apartamento, contando o tempo com cuidado. Quando eu cheguei no topo da escada eu olhei pra trás. Ele tinha ido embora. Naomi Domingo, 2 de Agosto. Boate Ritzy A música estava ensurdecedora. O braço do Cook surgiu e bateu no meu rosto. “Ei! Idiota desastrado” eu bati em suas costelas.
  • 7. Ele se moveu mais para perto de mim. Pressionou seu maldito rosto sobre o meu. “Ah, princesa. O Monstro Cook está apenas sendo amigável...” ele acariciou minha bochecha. Eu tirei sua mão de mim, mas lutei comigo mesma para não sorrir, só um pouco. O lance do Cook é que ele é malditamente irresistível. Eu não gosto dele. Digo, estou em outro time agora, por assim dizer. Ele está descontrolado pra porra. O oposto de mim. Mas às vezes, é, eu não ligaria de ser capaz de fazer e dizer qualquer merda que eu quisesse. Eu morreria antes de dizer isso a ele, mas eu secretamente invejo o Cook. De um jeito doentio, obviamente. “Cook”. Olhei pra ele com o olhar de irmã mais velha desesperada. “Só se aquiete, pode ser?” Ele riu que nem um maníaco “Eu não me aquieto, Naomi. Você sabe disso”. Ele deu um beijo molhado no meu nariz. “Certeza de que eu não posso te tentar a voltar para o trem dos pintos?” Eu limpei sua baba. “Trem dos pintos?” “É, talvez não”. Cook tinha seus olhos grudados em alguma coisa atrás de mim. Eu virei. Emily estava parada lá. Tinha olhos grandes, parecendo duvidosa. “Sua parceira em colar velcro te chama”. Eu estendi a mão e segurei a mão da Ems puxando-a para perto de mim. “Nós vamos ignorar essa observação” eu disse a ele asperamente. “Vou deixar passar. E só –“ eu belisquei sua bochecha “- porque você é um marica por dentro”. Cook riu em silêncio, suando por causa dos efeitos da ecstasy. “Justo o bastante, Naomikins”. Ele tomou um gole de Lager e balançou a lata para nós. “Vejo vocês depois, sapas”. Emily mexeu seu nariz. “O que ele queria?”, ela perguntou, tentando não soar incomodada que o Cook flerta comigo. Bem, flerta em seu jeito maluco. “Nada, querida”. Eu botei meus braços em volta dela e deslizei uma mão por debaixo de sua blusa, acariciando sua coluna. “Vamos lá, vamos ir embora e fazer alguma coisa depravada em algum lugar”. “Aqui?”. Emily disse sorrindo um sorriso doce e vulgar ao mesmo tempo. “Aqui”. Eu segurei as mãos dela e a puxei atrás de mim em direção ao banheiro. Ela me seguiu entre um grupo gigante de silhuetas coladas em direção ao banheiro feminino. Quando
  • 8. chegamos à porta, eu a beijei delicadamente, então firmemente achei sua língua. Emily gemeu e puxou seus quadris para perto de mim. “Eu estou tão feliz agora” ela disse, afastando-se temporariamente. “Se eu morresse hoje a noite estaria tudo bem”. “Para mim também”. Eu beijei Emily na testa. Eu vi Cook levantando sua lata pra mim sobre a pista de dança. Um sorriso safado estava em seu rosto. “Encantador” , ele disse fazendo mímica labial e piscou para mim. Eu segurei a mão da Emily e a puxei rapidamente pela porta. Segunda, dia 3 de agosto. Quarto da Naomi “Que horas são?”. Eu rolei e pausei o iPod que estava em seu dispositivo. Parecia estar no meio da noite para mim. Emily e eu não havíamos voltado pra casa antes das 2 da manhã. Nós ficamos acordadas sem querer que a noite acabasse. Nossa última noite. Nós dormimos na frente da sessão de compras, um pouco chapadas, um pouco bêbadas. Felizes. Mas essa manhã eu me senti irritadiça, para dizer o mínimo. “Oito e meia, mais ou menos?”, Em disse. Ela estava pintando as unhas do pé. Na minha cama. “Emily! Você não pode fazer isso no banheiro ou coisa assim? Você vai deixar manchas roxas sobre a minha colcha.” “Tá bom, tá bom, Jesus”. Ela se levantou mancando em direção à porta. Ela virou em minha direção quando chegou lá. “O que há de errado com você essa manhã?” “Nada”, eu disse automaticamente. Eu estava carrancuda, como é de costume. Eu não me orgulho disso, mas velhos hábitos não morrem cedo. “Só é... cedo”. Me apoiei em um braço. “Eu não sou legal nas manhãs”. Ela não estva caindo nessa. “Certo... Mas... Eu estou indo pra França de tarde e do nada você começa a agir como... Como tudo o que eu faço está lhe dando nos nervos”, ela disse. “Você está querendo que eu vá, né?”.
  • 9. Eu revirei os olhos. “Eu mal posso esperar para me livrar de você para eu começar a viver os melhores tempos da minha vida nas próximas semanas. Eu estou contando a porra dos segundos para você entrar naquele navio”. Merda, os olhos dela começaram a ter aquele jeito de choro. Ela é uma flor sensível. Estranho porque Emily Fitch era mais durona do que eu poderia ser. Eu lato, mas não mordo. Obviamente eu sou o cara do relacionamento. Sim Naomi, relacionamento. “Não... Em”, eu estendi meu braço e acariciei suas costas. “Desculpa. Olha, você sabe que eu vou sentir sua falta. Muito”. Emily sorriu e assim mau humor desapareceu. Ela é como um anjo. Um anjo ruivo e adorável. Eu queria segurá-la e nunca deixá-la ir. “Vem cá”, eu disse. Eu a encontrei no meio do caminho e a agarrei pela sua blusa, levantando-a e atirandao-a em algum canto. Eu encarei seus peitos perfeitos. Suave, linda Emily. “Eu te amo, Emily”, eu disse acariciando seu estômago. Eu me ajoelhei e a beijei. Senti seu cheiro. Emily acariciou meu cabelo e ficamos assim por alguns minutos. Eu não queria me separar dela. Nunca. “Naomi”, Em disse eventualmente. “O quê?”, eu me levantei e botei meu braço em volta dela. Ela descansou sua cabeça sobre meu ombro e disse “Você não vai fazer alguma coisa boba, vai?” “Como o quê?” “Como... eu não sei. O que os olhos não vêem, o coração não sente”. Eu a segurei mais apertado. “Como se eu fosse”. “Nem com o Cook... Eu sei que você –“ “Escuta, Emily”, eu me distanciei para poder olhar ela propriamente. “O que aconteceu comigo e Cook foi um momento totalmente insano na minha outra vida sana. Eu estava tentando fingir que eu era... Que eu não gostava de você.”
  • 10. Os olhos de Emily ainda estavam meio que brilhando. “Que eu te amava. Amo. Tudo bem?” Ela relaxou. Covinhas voltaram a ser a perfeição de uma pele como pêssego. “Bom. Porque eu tenho certeza em relação a isso. Em relação a nós. Para mim não é um casinho da porra e acabou.” “Nem para mim”. Eu disse sem saber direito o que isso era realmente. Eu sei que a amo. Eu não consigo não me imaginar segurando, beijando e fodendo ela. Mas cabe ao júri decidir se eu sou lésbica ou hétero. “Que seja, você poderia comentar”, eu disse tirando o cabelo do rosto dela, “sobre o grande caso amoroso entre você e o JJ?” “Naomi!” Emily me empurrou em direção à cama. “Eu já te expliquei o que aconteceu comigo e o JJ. Você sabe muito bem que transei por pena. EU SOU LÉSBICA.” “Sshh”, eu disse rindo. Eu a puxei comigo pra cama. “Você pode dizer isso um pouco mais alto? Acho que não ouviram no interior da Austrália”. O som de alguém andando na sala em direção ao banheiro nos fez parar. Kieran ou minha mãe. Emily rolou de costas. E deitamos em silêncio. Dedinhos entrelaçados. Emily Segunda, 3 de Agosto. Quarto da Naomi, mais tarde. “Naomi”, eu sussurrei. Toquei seu pescoço com a ponta dos meus dedos. Acariciei lentamente sua pele desde atrás de sua orelha até seu suave e pálido ombro. “Naomi... acorda”. Naomi fez um barulho parecendo um grunhido e mexeu seu nariz. Eu sorri. Eu tenho sorrido muito ultimamente. Eu fiquei de costas e olhei para o teto e depois para seu quarto. O quarto da Naomi é maneiro. Muito mais legal que o meu. Ou melhor dizendo: do que eu divido com a Katie. Com a porra de jogadores de futebol e boybands nas paredes. Os My Little Ponies dela continuam no peitoral da janela, e com todas suas jóias e correias com estampa de leopardo perto deles. Eu só deixei a Katie tomar o quarto porque, bem... É o que ela faz. E eu também
  • 11. nunca liguei. Mas finalmente eu criei colhões comecei a enfrentá-la. E não parece ter um jeito de voltar atrás. Eu continuei a observar o quarto e a sorri. Não conseguia acreditar na minha sorte. Não conseguia acreditar que a menina que eu amava me amava também. Por um tempo eu pensei que isso nunca ia acontecer. Eu gostava da Naomi desde o ensino fundamental. Ela é apaixonante e inteligente. Contagiante. E seus olhos... Parece a rainha do gelo. Alguns pensam que ela é fria. Só porque ela não fica de conversinhas superficiais e estúpidas. Ela não é que nem a Katie que abre a boca e só sai merda. A Naomi é sincera. Se as pessoas acham que isso significa “fria”, elas estão erradas. Elas estão muito erradas. Eu bocejei alto. Depois senti a mão da Naomi no meu braço. “Merda. Que horas são?”, ela disse sonolenta. “Você tem de ir?” Eu rolei para poder encará-la. Ela estava esfregando os olhos. Então ela parou e ficamos nos encarando. Sorrisinhos surgiram em nossos rostos. “Oi, linda”, eu disse. “Já é tarde e eu estou com fome. O que você quer de café da manhã?” “Você”, disse Naomi me puxando em sua direção e me beijando primeiro gentilmente e depois mais forte. Eu estava formigando de prazer. Eu peguei sua mão e a guiei até onde eu a queria. Ela hesitou e depois seus dedos começaram a fazer seu trabalho. Ah meu Deus, essa é a porra do paraíso, eu pensei. Eu estou no paraíso. Duas horas depois nós estávamos na cafeteria, tomando café da manhã. Naomi, granola, comida de coelho. Eu, um sanduíche gigante de salsicha e ketchup. Naomi estava olhando minha comida com um sorriso em seu rosto. “O quê?” Ela engoliu um pouco da granola e do iogurte. “Você”, ela disse. “Gostando da sua salsicha, né?” Eu mastiguei e bufei, quase respingando comida mastigada nela. “Ah, sim” , eu disse para me defender “Eu amo salsicha. Você deveria experimentar, Naomi... Não tem idéia do que está perdendo.”
  • 12. “Ah, eu acho que tenho” ela estendeu sua língua e a balançou para mim. Um sujeito mais velho tomando um café da manhã tradicional olhou para nós com um olhar severo. Ele pegou seu jornal e segurou severamente na frente de seu rosto. “Vá se foder”, eu disse para o seu jornal, sem emitir nenhuma voz. Naomi revirou seus olhos e empurrou sua comida de coelho. Ela ficou mal humorada do nada. “O que foi, docinho?” eu disse limpando minha boca com um guardanapo. Naomi fez um beicinho. “Você vai entrar naquele navio”, ela disse naturalmente. “É isso”. “Você vai sentir minha falta, não vai, querida?”, eu disse parecendo um disco arranhado. “É melhor você sentir mesmo”. “Hm... Primeiramente” ela disse séria “Depois eu vou provavelmente perder o interesse”. “Naomi!” , eu disse com um grito agudo. “Vadia”. “Quantas vezes eu vou ter de te dizer?” ela sorriu. Ela parecia tão gostosa. Eu queria mordê-la. Meu estômago estava dando voltas e voltas. “Não deveria ser agora”, eu disse “E minha mãe vai ser um pé no saco.” Naomi concordou com a cabeça. “Ah é”, ela disse “A sua mãe tão liberal”. “É, bem. Nem todo mundo pode ter uma mãe que nem a sua”. “Você deveria estar agradecida por isso”, disse Naomi com um suspiro. “Eu sei que sua mãe precisa de tempo para compreender isso. Nós, eu digo. Eu também precisei de tempo pra porra para compreender. Eu acho que não posso culpá-la. Não completamente” “Ela é um pesadelo ultimamente”, eu disse. “Nós só vamos ter de transar na frente dela, é o único jeito dela entender”. “Isso sim que seria um pesadelo”, Naomi se deliciou. “Eu preferiria fazer um ménage com o Cook e a Katie”. “Ugh. Naomi! Ela é minha irmã, sua vadia safada”. Eu pensei sobre o que disse. “Porra! Você não gosta dela também, ou gosta?” Naomi ficou séria.
  • 13. “Sim, claro, ela disse. “Quer dizer, vocês são idênticas, não são?”. Naomi Segunda, 3 de agosto. Em casa, à noite. Após dar tchau para Emily à tarde, eu fiquei um pouco à deriva em uma nuvem de felicidade e amor, mas à noite eu voltei a Rabugentrópolis. Eu tinha três semanas para ficar de molho e obcecada com o que a Emily estava fazendo e com quem. Eu pensei em sua mãe que estaria totalmente num ataque anti-gay. E na Katie, aquela vadiazinha. Provavelmente ela estaria treinando suas falas malvadas. Emily pareceu pensar que Katie não seria mais uma vadia conosco, mas eu não estou tão certa. Eu estava tirando a sua gêmea. É assim que ela vê. Ela não consegue me agüentar. E esse sentimento é mútuo. Minha mãe e Kieran estavam comendo na cozinha quando eu desci as escadas depois de duas horas depressivas na minha cama escutando thrash metal alto em meu iPod. Se anime, Naomi, talvez isso nunca aconteça. Minha mãe olhou pra cima quando entrei. Ela me deu um de seus olhares meios que simpáticos e exasperados para mim. “Oi, amor” ela disse. “Está bem?”. Eu dei um grunhido e puxei uma cadeira. Kieran me olhou cautelosamente. Ele nunca estava certo quando eu iria derrubá-lo com o infortuno incidente na sala de aula quando ele tentou me dar uns amassos. Naquela hora eu fiquei ofendida porque aquilo era ilegal pra começar, caralho. Mas o Kieran é legal. Eu nunca pensei que ia dizer isso, mas ele a deixa feliz. E, indiretamente, isso significa que todos aqueles perdedores infelizes que ocupavam minha casa como se fosse uma maldita comunidade iriam finalmente sair daqui. “Sente-se. Coma alguma coisa” disse minha mãe. “Ocorreu tudo bem com a Emily?”
  • 14. Uma visão de mim e de Emily mais cedo surgiu na minha cabeça. Eu não pude evitar um sorriso surgir no meu rosto. “Sim, ocorreu tudo bem”. Eu inspecionei as caçarolas em minha frente, mas decidi contrariar. “Agora eu preciso de um emprego de férias, eu não posso ficar sentada aqui o dia todo”. Mamãe trocou olhares preocupados com Kieran. Eles também não me queriam circulando pela casa. Sem julgar pelo tempo que eles passavam no quarto da minha mãe, de qualquer jeito. Tipo uma estraga-prazeres, com Naomi-Sem-Amigos olhando para o nada tristemente. Vê, é precisamente isso que eu odeio em relacionamentos. Conexão. Você não pertence a você mesmo. Você está se dividindo com outra pessoa. Então quando não estão com você, uma parte de você some junto. Mas eu consegui o que eu queria, não consegui? “Bem,” minha mãe disse vivamente “Um emprego talvez desvie sua mente de Emily. Melhor do que fazer faxina?”. “Talvez eu não queira desviar minha mente de Emily”,eu rosnei. “Você só me quer fora do seu caminho”. “Naomi, isso não é verdade”, disse Kieran em pânico com o desenrolar da conversa. “Não é?”. “Ah, cresce”, disse minha mãe empilhando tigelas e pratos. “Poxa, Naomi, você não é assim. Normalmente é tão madura”. “Eu estou cansada disso”, eu disse. “Morando numa casa de abrigados por todos esses anos. Superando os seus atos de caridade. Sendo ‘madura’. O que você acha de eu agir como eu quero para variar? Se você não gostar, imagino” Silêncio. Kieran olhou desesperadamente para o teto. Pobre súdito. “Eu acho que está na hora de todos irmos para a cama”, disse minha mãe. “Falaremos nisso de manhã”. Eram nove da manhã. “Certo, tudo bem. Você vai pra cama”. “Você parece estar apta depois disso”. Minha mãe me ignorou, enquanto Kieran foi trocando as pernas até o quarto.
  • 15. Eu a vi entupindo a louça de lavar enquanto pensava se eu não tinha ido um pouco longe demais. Não que eu fosse me desculpar. Finalmente minha mãe desligou as luzes da cozinha fingindo que não sabia que eu estava a acompanhado com os olhos. Enquanto ela atravessou minha cadeira, curvou-se na altura do meu queixo. “Não fique tão nervosa, Naomi”, ela sussurrou. “É só amor”. Pandora Terça, 4 de agosto. Em casa. Desde o meu dia favorito no mundo todo, o dia do baile, eu e Thomas estamos como dois pintos no lixo. Eu fiquei tão feliz que ele ainda me amava. Eu achei que eu realmente tivesse estragado tudo. E eu sei que eu contei a Emily e a Katie que eu nunca queria transar com mais ninguém depois do Cookie porque isso só deixa tudo muito estranho, mas eu não quis dizer isso. Eu queria ter o serviço completo com o Tom como você nunca imaginaria. Claro que manter minha mãe desatualizada sobre eu virando uma mulher seria difícil. Minha mãe parece saber de tudo o que acontece comigo. Eu sempre ando até o final da nossa rua para ligar para o Thomas. Ela não gosta que eu fique perto de garotos. Que caralhos voadores ela iria dizer se soubesse o que anda se passando pela minha cabeça atualmente? Se Effy não tivesse viajado com sua mãe nessa férias, eu poderia conversar com ela sobre meus sentimentos e tal. Ela sabe tudo sobre garotos. Ela deve saber, ela tem metade deles babando por ela. Garotos nunca será um problema para a Effy. Ao menos antes dela foder com o Freddie. Effy ficou um pouco estranha com isso, e eu fiquei um pouco estranha com a Eff. Ela acertou Katie com uma pedra. Isso não é bom. Eu estava contrariada com ela depois disso. Eu vou sempre amar a Effy, acho, mas eu tenho de me virar sozinha. Eu liguei para meu adorável garoto no ponto de ônibus. “Oi, Thommo, é a Panda. Quer vir ao Brandon Hill para ficarmos nos beijando?” “Eu não posso, Panda. Eu tenho de ir trabalhar. Não são férias pra mim, sabe?” “Que isso, Thomas... Vamos lá. Nós podemos visitar tia Lizzie e tomar chá. Vai ser bombástico.”
  • 16. “Pandora, não. Eu tenho de pagar o aluguel.” Eu suspirei. Coitado do Thomas, ele não vai para o colégio porque tem de pagar todas essas coisas pra ele, sua mãe, sua irmã e seu irmão. Ele tem de trabalhar, tipo, toda hora. Não é justo porque não tenho tempo para me jogar em cima dele. Thomas disse que não preciso fazer isso ainda, ele disse quer que seja perfeito, romântico e tal. Eu só quero que nós façamos. Propriamente. Thomas será meu namorado para sempre. Não como Cookie que não queria me conhecer melhor quando não estava botando sua coisa em mim. Eu não quero mais pensar no que eu e Cookie fizemos. Faz com que eu me sinta envergonhada. “Ok, Thomas, você venceu. Te encontro no ponto de ônibus da rua Granger depois do trabalho então? “Oui, Panda. Vou esperar por isso ansiosamente” disse Thomas, eu podia ver seu sorriso pelo telefone. “Je t’aime.” “Je t’aime, aussi.” Voltando pra casa eu fiz um plano. Primeiro de tudo eu e mamãe precisávamos cair na real. Eu sei que eu não poderia ficar guardando segredo para sempre. Sobre pensamentos sensuais. Eu ainda quero fazer bolinhos vestida em meus pijamas e eu não acho que roupas que nem as da Katie caem bem em mim. Nunca serei uma tarada ambulante. Mas eu quero sexo. E eu quero com o Thomas. Eu quero mais do que tudo. Eu tinha que contar à minha mãe sobre o Thommo. Uma vez que ela o conhecer, eu acho que ela vai amá-lo também. Só que... Ela não gostaria que eu tivesse um amigo homem. Sem mencionar um namorado. Mamãe estava meditando quando eu entrei em nossa sala. Eu sentei no sofá e fiquei encarando ela. “Mãe”, eu disse. “Mãe, eu preciso te contar uma coisa.” “Hmm”, mamãe me deu um olhar severo. “Panda Poo, estou meditando.” “Eu sei, mas... mãe, eu realmente preciso te contar uma coisa.” Mamãe suspirou. “O que é, Pandora?” Eu esperei um pouco. Eu tinha que dizer agora ou eu iria amarelar e não dizer nunca. “Você sabe... Você sabe que eu nunca tive um namorado?” O rosto celestial da minha mãe se tornou num rosto de cão chupando manga. Seus olhos tomaram uma forma malvada e estreita.
  • 17. “Claro que você não tem, Pandora. Garotos ficam para depois. Muito depois. Quando você crescer.” Eu lhe dei um olhar severo. “Vê? É isso, mãe, eu sou tipo crescida agora.” Minha mãe riu e isso me incomodou. “Isso não é engraçado, mãe. Você não me leva a sério. Eu não sou mais pequena. Olha-“ eu levantei minha blusa e mostrei a ela meu sutiã 44. “Meus peitos são super enormes.” A boca da minha mãe se abriu na forma de um circulo perfeito. “Pandora! Abaixe a blusa! Nunca mais faça isso. Nunca.” Ela se levantou e começou a enrolar seu tapete de yoga rapidamente. “Agora, eu sugiro que nós tomemos uma xícara de chá e esquecermos que isso aconteceu.” Ela segurou minha mão e me levou a cozinha. Ela botou a chaleira pra ferver enquanto eu sentei na mesa. Tudo deu errado. Eu deveria ter pensado nisso melhor. Eu sou tão inútil em me virar sozinha. “Agora, Pandora” disse minha mãe. “Chá? Ou o que você acha de leite com chocolate?” Thomas Terça, 4 de Agosto. A caminho para encontrar a Panda. Depois do trabalho eu fui à loja do Sr. Sharma para comprar uma rosquinha para a Panda. Ele estava inclinado no balcão lendo jornal e cutucando seu nariz. O barulho da porta o fez pular. Eu fingi estar procurando alguma coisa no meu bolso e quando olhei para cima ele estava arrumando os cigarros. “Tudo bem, Thomas?”, ele disse. “Muito bem, obrigado Sr. Sharma. E com você?” “Aproveitando o clima, de qualquer jeito. O de sempre?” Eu afirmei com a cabeça. Sr. Sharma é um pessimista de verdade. Para ele as coisas boas eram meramente uma consolação pequena para uma vida horrível. “Aonde a Pandora está hoje?”, ele disse botando uma rosquinha de doce de manteiga e creme numa sacola de papel.
  • 18. “Eu estou a caminho para encontrá-la.” “Eu aposto que está. Você é um sortudo da porra, não é?” “Sim, eu sou”, eu não pude conter um sorriso. “Bem, não faça nada que eu não faria.” Eu ignorei isso. Mr. Sharma no quesito paixão não é uma imagem que eu queria em mente. Até ele presumiu que eu e Pandora tínhamos uma relação sexual. Todos meus amigos presumem que eu e Panda temos uma relação sexual. Acho que as únicas pessoas que não presumem que estávamos comme les lapins como dizemos aqui, eram minha mãe e a mãe de Pandora e não acho que elas estavam convictas. Não é que eu não queira transar com a Pandora. Eu só quero que seja parfait. Eu não estou interessado em fazer em qualquer canto como animais. Esse é o gosto do Cook, não o meu. Eu caminhei para encontrar Pandora com uma convicção renovada. Essa menina que eu amo merece algo melhor do que uma transa rápida embaixo de um banco. Mas quando me aproximei do nosso local de encontro no ponto de ônibus eu podia ver Panda andando pra cima e pra baixo que nem uma pessoa louca e apertei o passo. “Olá, Panda”, eu abri um sorriso largo para minha garota, mas eu não conseguia fazer com que ela sorrisse, ela estava realmente triste. “O que aconteceu?” “Não é bom, Thomas”, disse Pandora secando lágrimas de suas bochechas. “Não é bom, porra.” “O que acontecera?”, eu sentei no banco protegido e acenei para Pandora sentar-se perto de mim. “Você brigou com sua mãe?” “Não, para falar a verdade”. Panda fungou. “Bem, mais ou menos. Eu quero dizer...”, ela fechou seus olhos. “Ela não me escuta, eu tentei contar a ela sobre você. Sobre como sou crescida agora. Crescida o bastante para ter um namorado e fazer coisas com ele, entende?”. “Pandora! Você falou com sua mãe sobre sexo?”. “Eu quis”, Pandora segurou minha mão. “Mas eu nem consegui chegar tão longe assim.” “Obrigado, Deus por isso”, eu suspirei alto. “Não é muito respeitoso da sua parte falar com a sua mãe sobre essas coisas. Ela não quer saber disso”.
  • 19. “Bem, ela deveria!”, Pandora gritou. Ela soltou a minha mão. “Já está na hora, Thomas. Eu estou pronta.” Eu olhei pra baixo e a rosquinha em sua sacola. “A questão é. Pandora, que eu não sei se estou pronto para isso ainda. Não com você. Você é especial. Eu não quero estragar isso”. “Você não me ama, então?”. Pandora pareceu petrificada. “Você não pode me amar”. “Não, é precisamente porque eu te amo que não quero pressionar para fazer isso”, eu respondi. “Nós temos tempo, Panda. A hora será em breve”. Effy Quarta, 5 de Agosto. Numa cafeteria em Veneza. Porra, está quente aqui. Eu finalmente tirei minhas botas e botei meus chinelos ontem. Umas Havaianas verdes que minha mãe me comprou por uma estúpida quantidade de dinheiro. Primeiro eu me sentia nua com elas. Minhas botas e eu passamos por um monte de merda juntas. Tipo, elas são minha armadura. Eu me levantei muito cedo essa manhã. Eu não consigo encarar sentar numa mesa com sua estranha superfície de plástico, comendo aquele pão duro italiano com geléia, junto com minha mãe fingindo estar alegre tentando pensar em coisas para fazermos juntas. Ela deve ter lido aquela porra de Guia de passar o tempo em Veneza de ponta a ponta e agora ela quer que nós vamos para um tour cultural, ter certeza de que nenhuma parte de Veneza não foi revirada. Ela está tentando, eu sei que está, mas tudo o que ela faz está me dando nos nervos. Desde nosso primeiro dia eu estava esperando dar de cara com Aldo de novo. Eu até passei em seu andar super devagar e parei na escada, tentando escutar sua porta abrir. Eu não tenho colhões para bater na porta. Mas essa manhã nós nos encontramos nas caixas de correio. Ele estava mexendo em sua correspondência. Meus chinelos estavam fazendo mais barulho do que minhas botas, enquanto eu andava em sua direção. Não passo por envergonhada, então fui para perto dele. Aldo olhou pra mim e sorriu. “Bom dia”, ele disse. “Como você e sua mãe estão?”
  • 20. “Bem, obrigada”. Eu olhei para a correspondência em suas mãos. “Você tem um monte de cartas aí.” Aldo suspirou. “Sim, sim. Sempre contas apra pagar, dinheiro para os advogados de minha esposa. Dinheiro para meus filhos... E para esse apartamento. Nunca acaba”. Minha esposa. Quem teria traído com outra pessoa?, eu pensei. Ele ou ela? “Você tem filhos?”, eu perguntei inocentemente, para ganhar tempo. “Você não mora com eles?” “Eu estou me divorciando da mãe deles”, ele disse. “É necessário me afastar deles também, embora eu não queira. É difícil.”, ele balançou um envelope marrom na minha frente. “E é muito caro!” “Desculpa”, eu disse. “Deve ser meio que uma merda”. Aldo deu de ombros e botou as cartas no bolso de sua jaqueta e me deu um olhar longo. “E aonde está seu pai?”, ele disse sendo direto. “Eu não faço idéia”, minha vez de dar de ombros. “Eles estão separados.” “Desculpe-me. Coitada de você”, ele disse. “É mais difícil para as crianças”. Nós fizemos silêncio. Sujeito legal, eu pensei. Generoso, mas nem tanto intrometido. “Então, Effy”, ele disse depois de um momento. “O que você vai fazer hoje?”. “Sei lá. Talvez explorar mais um pouco”, eu disse. “E me perder, provavelmente”. “É uma cidade labirinto, há definitivamente o risco de se perder se não conhecê-la”, ele fez uma pausa. “Mas algumas vezes pode ser... libertador estar perdido”, ele me olhou nos olhos enquanto falava. “Não acha?”. Venha comigo. “Talvez você possa vir... me mostrá-la?”. Ele olhou seu relógio e então, bem naquela hora, eu vi seus olhos trêmulos sobre meu corpo. Ele parou.
  • 21. “Por que não?”, ele disse. “Vai me fazer bem também”, ele me gesticulou primeiro a porta. “Vamos lá.” “Aonde vamos?”, eu perguntei. “Santa Maria Del Miracoli” ele disse enrolando as palavras em sua língua. Eu imaginei sua língua em outros lugares. Meus peitos, para começar. “E isso é?” “Uma igreja.” “Ótimo.” “Você irá amá-la.”, ele disse. “Eu sou atéia”, eu disse. Ele balançou a cabeça, me dando um pequeno olhar decepcionado. “Vamos lá, você com certeza é mais inteligente que isso.” Jesus, até parece que eu me tornei Katie Fitch, a rainha da grosseria e superficialidade. “Foi uma piada”,. eu disse debilmente. “Mais ou menos”. Aldo me sorriu encorajadoramente. “Ah, o senso de humor inglês! Eu preciso tempo para me adaptar, acho”. Nós entramos num labirinto de ruas de pedras e becos onde, em cima, as roupas se secavam nos parapeitos das varandas. Nós enxotamos os gatos famintos para pararmos num pequeno e mal tratado quadrado. Um sino soava alto. “Aqui”, disse Aldo, apontando para um estranho prédio com uma fachada plana. “O lugar mais bonito em Veneza”. Não parecia nada para mim. Não como a igreja que meu pai me arrastava com meu irmão Tony todo domingo quando éramos crianças. Nos tempos em que meu pai se taxava de ‘espiritual’. Idiotice total, obviamente. Aquela igreja era grande, gótica, majestosa. Essa parecia com nada, vista externamente.
  • 22. Aldo sentiu que eu não estava impressionada. “Só espere”, ele sussurrou como se fosse compartilhar um segredo fantástico. Eu senti uma faísca quando ele pegou minha mão e me levou silenciosamente até as portas de madeira e por lajes de mármore, e então eu o pude entender. As paredes estavam literalmente cobertas com mármores marrons e marfim, nos levando a uma altura louca, um teto de madeira entalhada. Era fantástica. Eu poderia estar mais imersa se eu não tivesse consciente da mão de Aldo nas minhas costas, bem no meio de minhas omoplatas. “Bem”, ele disse. “O que você acha?”. “Eu acho que é fantástico pra porra”, eu sussurrei. Aldo inclinou-se e sussurrou no meu ouvido: “Sua linguagem é um de certa forma inapropriada, Effy, mas o seu coração está no lugar certo”. “Obrigada”, eu disse, estranhamente emocionada. Mas ele estava errado. O meu coração com certeza não estava no lugar certo. Cook Quinta, 6 de agosto. Em um ponto de ônibus. “Puta que o pariu”, eu tirei o baseado da minha boca e dei para o Freddie. “Mais fraco do que mijo, isso. Quem te deu isso, cara? É horrível.” Freddie me deu uma daquelas caras de cachorrinho perdido. Deu de ombros com aqueles seus ombros de skatista idiota. “Não sei. Um amigo da Karen, acho.” Ele examinou meu rosto, que estava incrédulo pra porra. “Não, não o Johnny White. Eu não sou tão burro.” Ele deixou o baseado na sarjeta. “Bom ouvir isso, meu amigo”, eu bati em seu braço, levantei a mão e a balancei no ar. “Você andou levantando empilhadeiras, Fredster? Seus bíceps: mais fortes do que um tijolo”. JJ deu aquele seu sorriso sereno. Não bebe, não fuma de verdade. Nosso Looney Tune da casa. O que ele usa para agüentar as coisas? Ele olhou para o baseado encharcado. “Vocês são perspicazes o bastante para brigar com esses dois policiais com olhares bravos vindo em nossa
  • 23. direção? Ou vocês são maricas? Literalmente ou de outra forma.”,ele se curvou, pegou o baseado e jogou sobre seu ombro. “Seu retardado,” surgiu uma voz irritantemente velha . “Caiu bem em cima das compras que fiz”. Freds, JJ e eu demos de ombro. Fred e eu sorrimos. Não a conhecíamos, não ligávamos. “Vocês têm nenhum respeito a nada nos dias de hoje”, a bruxa continuou. Ela deu uma cotovelada nas costas de JJ. “Você, rapazinho, eu conheço sua mãe... ela busca meus livros da biblioteca para mim. Ah, eu vi você no carro dela. Não pense que eu não falarei a ela o que você anda fazendo.” “Eu não. Eu não estava-“ balbuciou JJ vermelho que nem a porra de uma beterraba. Fred e eu bufamos com uma risada. E eu não conseguia me conter, me virei. “O que acham de uma rapidinha?”, eu disse correndo minha língua sobre meus lábios. “O ônibus não vai chegar aqui tão cedo”, eu disse enquanto a velhinha armava e desarmava sua armadilha, os três mosqueteiros andavam até a casa do Fred. Eu tinha uma aposta para ele. Freddie No galpão “Certo, Freds”, disse Cook esfregando suas mãos como um homem velho e safado. “Eu tenho uma oferta que você não vai recusar”. Não gostei como isso soou, porque ele estaria certo provavelmente. Cook tem um jeito de conseguir tudo o que quer. “Você vai amar essa, um joguinho pra passar o tempo, só eu e você”. “E o JJ?”, eu disse. “Jay já está curtindo o mundo dele, não é Jaykins?”. Cook se inclinou pra frente na cadeira que ele gostava de chamar de sua – ficava no meu galpão, mas que seja – e apontou seu cigarro para mim. “Você fez ontem à noite, né?” “Sim. E daí?”
  • 24. “Foi bom, não foi?” “Foi divertido. Isso vai chegar a algum lugar?” “Bom, então: quatro semanas, eu e você, quem conseguir mais xoxotas ganha. Tem de ter penetração profunda, cara, e acertar duas vezes o mesmo passarinho não conta”. “Legal”, eu disse sarcasticamente. Mas a idéia do Cook não era tão ruim. Não envolvia nada ilegal para começar. E por várias razões eu estava querendo variedade sexual. Que se foda. “É, tudo bem então.” “Resposta certa, meu amigo. Gayjay vai marcar os pontos, mas vamos ter que roubar algumas evidências para dar para ele. Calcinha grudenta, camisinha gozada... esse tipo de coisa”. “Isso realmente não parece sórdido”, eu disse secamente. Mas realmente não importava pra mim. Como eu disse, eu já cansei de fazer significativamente. Eu amei uma garota, ela caiu fora e me deixou. Eu não vou cair nessa armadilha de novo. Eu ainda checava meu telefone de hora em hora, para falar a verdade. O que ela estaria fazendo agora? “Então,” Cook estendeu sua mão. “Que o melhor homem ganhe.” Eu apertei meus olhos. Então esse é seu jogo, não é? Eu pensei. Que se foda então. “Absolutamente”, eu disse ignorando sua mão. “O jogo começou.” JJ Loja de Kebab “Cai fora, frutinha”, disse Cook. “Isso tem nada a ver com a Effy. Então, você vai marcar a pontuação?” Eram 2 da manhã e eu e Cook estávamos num canto do Abrakebabra. Nós tínhamos ido no Caves, onde Fred e Cook transaram (não um com o outro, o Cook também dispôs essa regra em algum canto. E não no clube literalmente, o que eu acho que é desaprovado: Cook fez em um beco e Freddie saiu para a casa da menina). Pandora, Thomas e Naomi estavam lá também então foi uma boa noite mesmo que eu só tenha dançado sozinho e tentando não pensar no
  • 25. fato de que eu era o único sem a opção de sexo pós clube. Eu estava sentado durante uma canção tomando minha água com gás quando Cook reapareceu. “Eu pensei que você estava transando”, eu gritei. “Sim, terminei. Escuta Jay, eu tenho um plano. Vamos” e ele me levou à loja de Kebabs e me comprou uma espécie de batatinhas. Ele me explicou as regras no qual meio que fazia sentido. Num jeito totalmente moralmente duvidoso, obviamente. Há uma razão do Cook fazer esse jogo. Eu não sou fã de psicologia não autêntica e atualmente eu sou um lixo em coisas com um lado de compromisso empático/emocional, mas nesse caso até eu conseguia perceber. Effy queria o Freddie todo o tempo que ela ficava com o Cook: Cook perdeu o jogo. Então ele inventou um onde poderia ganhar, o que provavelmente vai, como relações sexuais para o Cook é tipo o sol amarelo da Terra para o Super Homem: sem ele, eles não tem poderes ou acham que não têm (onde a analogiacom super homem se quebra a menos que você conte encarnações pré-1986, ele realmente não tem poderes sem energia solar, enquanto estou quase certo de que o sangue vai continuar sendo bombeado pelo coração para o corpo de Cook mesmo que se ele não tivesse uma exposição regular às partes safadas de uma garota). Eu demonstrei minha análise ao Cook. Ele não parecia impressionado, por isso o comentário de babaca. “Ok, eu vou marcar os pontos”, eu disse finalmente. “Mas, sem interesse nenhum, por que você não quis que eu fizesse parte do jogo?”. Cook sorriu de uma maneira infantil. “Porque você iria perder, Jaykins”. “Eu pensei que o que importasse fosse competir”, eu disse ficando um pouco carrancudo. “E é sim. Que é outra área onde você não se dá bem, meu amiguinho virgem”. “Sai fora. Eu não sou virgem”. “Poderia passar por um, amigo”. Um ponto justo onde eu não podia argumentar.
  • 26. Considerando tudo, eu estava grato pelo Cook ter criado esse jogo. Significava que ele e Freddie eram amigos novamente, que eles ficariam felizes, e portanto eu ficaria feliz também. Relativamente falando, obviamente. Effy Quinta, 6 de agosto. Veneza, à noite. “Então, Effy, o que você acha de Vivaldi?” Aldo e eu estávamos voltando de uma caminhada. Eu estava fazendo o que o Tony chamava de caminhada amadora e instável, esbarrando levemente nele. Ele estava com as duas mãos nos bolsos. Que seja, ele iria se aquecer eventualmente. “Vivaldi”, eu repeti lentamente. “Four seasons, né?” “Isso mesmo”, ele disse. “Ele era de Veneza. Há concertos dele todo o tempo aqui, mas tem um hoje à noite que eu sei que vai ser excelente. Talvez você queira ir. E sua mãe, claro?” “Eu acho que ela odeia todas essas coisas clássicas”, eu disse. O que era verdade, por sorte. “Mas eu vou dar uma chance e ir.” Merda. Igrejas velhas e Vivaldi, nem Pandora acreditaria nisso. “Excelente”, disse Aldo. “É a sua música, Gloria. Um pequeno trabalho de um coral. Lindo”. Nós caminhamos em silêncio por um instante. Eu sentindo sua presença como a porra de um brilho de um Ready Brek. Na entrada do prédio, Aldo parou para pegar uma carta que havia deixado para trás antes. “Até essa noite, Effy. Eu te encontro no seu apartamentos às sete”. Minha mãe pareceu confusa quando eu disse a ela que iria a um concerto com um homem de meia idade. “Diz quem ele é de novo?”, ela disse com um olhar de soslaio para mim por trás da fumaça de seu cigarro.
  • 27. “Ele mora nesse prédio. Eu o ajudei a abrir seu apê quando ele ficou trancado para fora”, eu disse. “Olha, é só algo para fazer, nada do além.” “Certo. Fico imaginando qual interesse ele possivelmente poderia ter em você”, ela disse mais dura do que a porra de um osso. “Eu não sei. Um culto ao demônio? Pergunte a ele quando vier me buscar”, eu sabia que ela não iria, ainda bem. Quando Aldo chegou eu tinha acabado de sair do banho, então eu gritei para minha mãe deixá-lo entrar. Eu me deparei com eles conversando na mesa da cozinha, cada um com uma taça de vinho. Ele tomou o seu drink e se levantou. “Foi um prazer te conhecer, Anthea”, ele disse. “Você tem certeza de que eu não posso te persuadir a se juntar a nós?”. “Eu tenho certeza”, disse minha mãe. “Obrigado, de qualquer jeito.” Eu segui Aldo pelo sala e a olhei sentada na mesa com seu livro de guia turístico aberto. Pobre vaca. Eu não estava muito esperançosa para o concerto, e quando terminou, eu já não estava ouvindo. Foi difícil com Aldo perto de mim, cheirando a Dolce e Gabanna ou Versace ou o que seja. Seu braço estava tocando no meu. Só isso. Mas ele nunca olhou para nenhum lugar a não ser sua frente. Nem mesmo quando eu cruzei e descruzei minhas pernas provocativamente. Mas no começo, quando a orquestra tocou, a música começou e o coral começou a cantar de repente, eu podia escutar o som ecoando pelo teto, bem; foi estranho. Era tocante. Lembre-se, Effy, eu pensei, tu não deves se emocionar. “Maravilhoso”, ele disse enquanto saíamos na umidade. Eram dez e meia e 28 graus. Ele me recompensou com um sorrisinho em seu rosto. “Eu espero que você não tenha odiado cada minuto daquilo?” “Não, eu...gostei”, eu disse. “Eu achei a experiência divertida”. Era verdade. Eu gostara de sentar perto dele. Eu teria preferido se ele botasse a sua mão na minha coxa e deslizasse por entre minhas pernas, mas pelo visto sujeitos mais velhos não são tão diretos em avançar.
  • 28. “Fico contente por isso.” Aldo disse. “Agora, o que você quer fazer? Uma caminhada de volta ao apartamento?” “De boa”, eu não queria voltar, acho. Eu estava me divertindo. “Nós devemos pensar em algo para fazer da próxima vez, que sua mãe achasse divertido”, Aldo teve esse devaneio enquanto andava devagar pra cima e pra baixo por pequenas pontes. Devemos? “A coisa é que ela não está muito...sóciavel atualmente”, eu disse deslealmente. “Coisas pessoais a estressando. Você sabe”. “Ah”, ele me olhou. “Eu posso simpatizar com isso”. Legal. “Coisas pessoais muito complicadas”, eu acrescentei. “Você não vai querer saber.” “Entendo. Você é protetora com ela, eu posso ver. Deve ser difícil para vocês duas.” “O quê?” “Bem”, ele pareceu estranho. “Seu pai não estar por perto.” “Eu não acho que seja nem um pouco difícil pra ela”, eu disse. Eu podia sentir seus olhos em mim. “E por quê?”. “Porque é o que ela queria. Ela sempre consegue o que quer. E então vira uma bagunça gigante e ela começa a reclamar disso”, eu olhei através dele calmamente. “Eu não tenho nem um pouco de pena dela.” Se Aldo estava surpreso com a minha falta de coração, ele não demonstrou. Ele puxou meus braços porque um casal quase nos acertou e eu me achei temporariamente sendo puxada para seu peito. Senti o calor vindo dele. “Por experiência as coisas raramente são facéis assim”, ele disse quietamente. “Talvez seja digno tentar entender.” Que se foda. Eu quase ri na cara dele. Invés disso eu botei a mão na minha testa e fechei os olhos. “Effy? Você está bem?”
  • 29. “Só um pouco tonta”, eu menti. “É o calor”. Ele sentiu minha bochecha com as costas da mão. “Você está um pouco quente”. E le balançou a cabeça. “Vocês, mulheres inglesas. Criaturas tão fragéis”. Nossos olhos se prenderam um no outro. Eu prendi seu olhar. Olhei para sua boca aberta e macia, bochechas bronzeadas e seus cílios negros. Eu queria que você me beijasse. Em vez disso ele pegou meu braço e me guiou por sobre a ponte e pelos becos pavimentados com godo de volta ao nosso apartamento. Eu voltei e andei até a cozinha para me deparar com minha mãe sentada na mesa tomando Sambucca com uma velhinha. “Essa é Florence”, disse minha mãe. “Ela mora no apartamento vizinho. Florence, essa é minha filha, Effy”. Ela parecia uma anciã (a velhinha, não minha mãe, embora os últimos meses tenham tirado um poucoseu brilho), sua pele coberta por rugas, mas com postura ereta, sua mão firme enquanto segurava sua caneca. Ela era magra como um rodo, com cabelos brancos e brilhantes retorcidos e presos em sua nuca. Ela estava usando uma camisa-vestido azul petróleo com uma vertente tripla de continhas pretas até a rachadura, onde seus peitos estariam se ela tivesse algum. “Prazer em conhecê-la”, disse Florence. Inglesa. “Igualmente”, eu disse. “Eu gostei de suas continhas.” Ela as tocou. “Ah, obrigado” ela disse. “Elas são adoráveis, não são? Ébano genuíno, claro, o que eu acho que estaria enrugado agora se eu não tivesse comprado aos setenta. Não tem substituto para o genuíno, tem, Effy?” “Acho que não”, eu disse. Brilhante pra porra, nós viajamos centenas de quilometros para Itália e minha mãe fica amiga com uma velhinha senil inglesa e tagarela. “Florence se mudou de Londres para cá dez anos atrás”, disse minha mãe. “Meu marido era italiano, mas nós vivíamos em Winbledom” disse Florence. “Quando ele morreu, eu senti uma urgência tremenda de voltar para a Itália. Realmente perversa”.
  • 30. “Sim.” “Eu decidi vir a Veneza porque foi o lugar que fizemos amor pela primeira vez. Dois de setembro de 1939, o dia antes da guerra ser declarada. A ecstasy antes da agonia, por assim dizer. Benito era um amante estupendo. Dedos bonitos” Ok, talvez eu fosse passar a gostar dela. “Você tem um amante?”, Florence me perguntou enquanto eu sentava na mesa. Mamãe soltou um riso fraco. Eu estudei o rosto da senhora por um momento. Ela era real? “Não na verdade, Florence”, eu disse. “Você tem?” Florence começou a rir e terminou tossindo emitindo aquele som como se estivesse liberando anos de fumaça de cigarro. Ela bateu em seu próprio peito e disse “Ha ha! Touché, Effy! Ai, esses dias estão acabados para mim. Sinto em dizer que é um caso em que nem o espírito, nem a carne querem. Hoje em dia eu uso Sudoku para dormir.” “Boa dica, Florence”, eu disse sem conseguir tirar um sorriso genuíno do meu rosto. “Eu vou tentar isso quando a hora chegar.” Aquela noite de sono demorou a chegar. Eu deitei acordada por horas, um híbrido de Aldo, Freddie e Cook invadindo minha mente e meu corpo. Eu trabalhei com os meus dedos dentro de mim. Eu o queria em todo canto. Eu queria acordar perto dele. Emily Sexta, 7 de Agosto. Hotel Bonjour France Vacance! perto de Bordeaux, França. “Aaah, oi” disse Katie alto, sacudindo o cabelo como um rabo de cavalo bagunçado. “O que temos aqui?” Era o quarto dia de nossas alegres férias em família, mas o primeiro dia aqui no Butlins de La Mer. Nós havíamos passado alguns dias na casa de Cecile e Ed (amigos de nossos pais) em Lyon por alguns dias e Katie e eu fizemos um bom trabalho em evitar uma a outra, ajudado pelo fato de Fabien, o filho de dezenove anos de Cecile, ter transado com ela no quarto dele na
  • 31. maior parte do tempo. James não é uma companhia muito melhor, mas pelo menos eu posso bater nele toda vez que ele abrir a boca. Então agora eu e Katie estávamos tolerando um momento raro de ocupar a mesma proximidade, sentadas no monte de pedras decorativas do lado de fora do nosso chalé observando uma família chegar subindo os degraus até os deles. Um rapaz em boa forma com cabelo cacheado e escuro e membros longos e marrons estava trazendo um carregador de Linux e uma mochila enorme. Katie inclinou-se em seus braços, colocando suas pernas numa posição em que elas pareciam mais longas e magras do que elas realmente são. O rapaz subiu as escadas, ele não parecia tê-la escutado, nem ao menos dado uma olhada nela. Má sorte, Katie. “Ei”, ela disse bruscamente. “Você é surdo cego ou alguma coisa?” Ele parou e olhou para ela. “Quê?” “Esqueça”, disse Katie levantando e tirando areia de sua bunda. “Perdedor”, ela escalou arrogantemente as pedras até a praia. “Encantadora”. Ele olhou pra mim, reagiu e levantou suas sobrancelhas. “Jesus, tem duas de você?” Eu ri pela primeira vez em quatro dias. “Ignore-a”, eu disse, estendendo minha mão. “Nós nem somos tão idênticas. Meu nome é Emily.” “Josh”. Ele era doce, eu tinha de admitir. Katie ia estragar tudo com seus ataques. Ele olhou de volta pra ela, andando furiosamente pela areia. “Sua irmã sabe que sua mini saia está enfiada em sua calcinha?”, ele disse. Eu passei a gostar dele. “Ah, ela sabe com certeza”, eu disse, enquanto minha mãe saia do chalé radiante como um radar hétero. Eu me levantei rapidamente. “Melhor ir, te vejo depois.” Eu saltei por trás de minha mãe que provavelmente estava planejando sua roupa para o casamento. “Definitivamente”, disse Josh “Até mais tarde, Emily.” “Então?”, disse minha mãe quando nos sentamos para jantar. “Você fez um novo amigo então, querida?”. Boa jogada, ela estava se segurando por uma hora inteira enquanto deixava a comida pronta.
  • 32. “Que? Quem?”, eu disse inocentemente e comi uma garfada de carne de cordeiro. “O garoto Josh, não é? Ele é muito bonito.” “Ah, ele”. Eu alcancei o vinho tinto para me servir mais uma taça. “Sim, mãe, ele tem uma boa aparência. Acho que a Katie está de olho nele. Né, Katie?” “De jeito nenhum”, Katie rosnou, empurrando sua comida em seu prato. “Meninos bonitos que nem ele não são meu tipo”. Que nem uma porra louca eles não são. “Nem o meu”, eu disse claramente pra minha mãe. “Obviamente.” Minha mãe revirou os olhos e deu um sorrisinho totalmente enfurecido. “Isso que vamos ver.” “Ah, mas vocês poderiam conquistar muito mais”, ela disse. “As duas”, ela começou a recolher os pratos e levá-los ao balcão da cozinha. “Alguém está afim de torta de maçã?” Aqui vamos nós. “ALÔ? EU SOU LÉSBICA!”, eu sibilei alto. “O que quer que você diga, querida!”, cantarolou minha mãe distribuindo porções de torta. Jesus. Eu preferia quando ela negava furiosamente. Seriam duas semanas inteiras só dessa merda. “Sem sobremesa para mim”, eu disse pegando meu telefone. “Eu tenho uma ligação pra fazer.” Eu passei por minha mãe que ofegou, desesperada pra ser a última a falar. “É”, disse Katie. “Nada pra mim também. Tenho de tomar cuidado com meu corpo fabuloso.” “Mesmo que ninguém tome”, eu fiz uma observação. Eu fui direto para o quarto batendo a porta na cara da Katie quando ela chegou lá. “Porra de vadia coladora de velcro”, ela disse batendo na maçaneta agressivamente. Eu a deixei entrar depois de minutos de socos e batidas na porta e decidi ligar pra Naomi em um lugar mais privado. Na praia daria. Eu deixei Katie se amarrando nela mesma, como a irmãzinha do Jordan. Cílios postiços, base como cimento, saia indo até sua xoxota. Mas o que
  • 33. eu estou falando... Eu tinha certeza de que ela ia encontrar um idiota pra transar com ela. Eu não imaginei que o pessoal se agitaria tanto por conta do Foam Nite – uma balada da vila organizada pelos resorts. Eu preferiria me matar a ir àquela pequena aglomeração. Estava uma noite clara enquanto eu caminhava até a praia. Céu ficando mais escuro de um tom azul. As estrelas estavam começando a aparecer. Eu deitei na areia olhei pra cima e pensei na Naomi. Eu sentia muito falta dela. Chequei as horas no meu celular: nem tão tarde para ligar. Ela atendeu imediatamente. “Oi, amor”. Era tão bom ouvir sua voz que eu poderia ter chorado. “Oi, você. Como andam as coisas?”, eu disse. “Ah, você sabe. Fantásticas. Ver minha mãe e seu namorado se amando não pode ser subestimado como uma forma de incrível entretenimento. Eu nunca soube como é estimulante ver dois desesperados apalpar um ao outro a cada segundo da porra do dia inteiro.” “Porra, docinho. Isso é malvadeza.” “Sim. É uma merda. Mas hoje seria uma merda de qualquer jeito”, ela suspirou. “E você?” “Mesma coisa. Estou ficando louca. Minha mãe está tentando fazer com que eu saia com um garoto”. “Oh, Deus. Com quem?” “Um rapaz do chalé vizinho. Ele é OK.” Silêncio. “Eu obviamente não estou interessada”. “Tanto faz. Acha que eu ligo?” “Eu mais que espero que sim!” Eu sabia que ela estava sorrindo, porque ela não respondeu. “Eu queria que você estivesse aqui comigo, agora.” Naomi soltou um gemido. “Eu também, não consigo parar de pensar em nós na minha cama.”
  • 34. “Eu sei.” Eu hesitei. “Me lembre...o que nós estávamos fazendo na sua cama?” “Bem...”, Naomi começou, mas ouvi passos atrás de mim. “Porra, alguém está vindo”, eu sibilei no telefone. “Eu te ligo depois.” Eu virei para ver quem estava me assustando. Era Josh. “Quem é você? Algum tipo de pervertido?”, eu disse olhando para ele. Eu não podia ver muito no escuro, mas eu poderia dizer que ele estava sorrindo. “Hã, não”, ele disse. “Não, eu sou alguém com orelhas. Não tem mistério: o som viaja.” “Tudo bem”, eu disse a ele, agarrando meu telefone. “De boa. Bem, desculpa. Eu vou te deixar sozinha”, ele disse. Ele marchou para fora da praia. Eu me senti um pouco má. “Ei”, eu o chamei. “Se você estiver sem nada pra fazer amanhã... nós poderíamos, você sabe, sair juntos ou algo assim”. Josh sorriu. “Claro”, ele disse agora andando de costas. “Eu iria gostar disso. Só dê uma batida na nossa porta.” “Excelente”, eu disse dando um tchauzinho alegre. Eu o olhei até entrar em seu chalé, então peguei meu telefone e apertei rediscar. “Ei, você”, eu disse. “Eu estava com medo que você tivesse ido dormir.” “Sem chance. Não enquanto eu estiver pensando em te despir.” “É?” “Você esta com sua calcinha branca de algodão e eu estou beijando o interior de suas adoráveis coxas.” “Eu deveria tirar minha calcinha?” “Não... eu estou fazendo isso. Então eu vou me mover mais para cima... Primeiro devagar, depois...” “Rápido”, eu disse sem ar. “Faça mais rápido.”
  • 35. “Você ama isso”, ela disse. “Eu amo pra caralho. Você pode ver meus peitos?” “Sim, e você está tocando neles. Seus mamilos estão durinhos. E eu estou me esfregando para cima e para baixo na sua coxa”. “Jesus...”, meu coração estava pulando, ficando mais rápido. Eu tinha minha mão na minha calcinha, minhas mãos sondando enquanto eu imaginava que era a língua da Naomi. “Eu vou gozar”, eu disse. “Eu quero te beijar-“. Com um ímpeto eufórico, eu gozei, com uma mão trêmula agarrando o telefone para perto do meu ouvido. “Eu te amo”, eu disse ao mesmo tempo que Naomi. “Eu te amo muito.” Katie Sexta, 7 de Agosto. Eu desci do pinto cada vez mais mole do garoto. “Transa excelente pra porra, querida. Você é gostosa”, ele disse puxando a camisinha pra fora e descendo para puxar seus shorts que estavam em seus tornozelos. Eu tirei a areia das minhas roupas e me vesti. “Sim, brilhante. Te vejo por aí.” Eu me inclinei, beijei-o e dei uma acariciada rápida em suas bolas, só para ele se lembrar de mim. E saí da praia indo em direção ao mar. Eu não tenho intenção de vê-lo de novo, mas era legal sair deixando uma nota alta. O Foam Nite da vila era obviamente idiota pra caralho, mas pelo menos eu transei. Para ser honesta, eu poderia até escolher com quem. Eu estava usando meu vestido novo verde limão por cima do sutiã e calcinhas com estampa de leopardo. E me depilei quase toda com cera antes de sairmos de Bristol. Quando cheguei ao clube eu fui direto para o bar. Antes de eu ter a chance de fazer o pedido, alguém estava me oferecendo um drink, mas não fazia o meu tipo, então educadamente neguei. O próximo a chegar em mim era melhor. Alto, boa aparência, sorriso atrevido. “Posso te pagar uma bebida?”, ele gritou por causa do barulho. Eu o olhei de cima a baixo, captei uma amostra de sua cueca branca e brilhante acima de seus jeans, camisa azul
  • 36. desgastado, cabelo preto despenteado e sorri meu sorriso mais fofo. “Claro. Vou querer um V ‘n’ T, obrigada”. Ele sorriu e se inclinou por cima de mim para fazer o pedido. Ele cheirava bem. “Como você está aqui sozinha?”, ele disse, entregando meu drink. “Onde está seu namorado?” “Eu não tenho um namorado”, eu disse. “E eu não vim aqui pra ficar só dançando”, eu olhei para ele, piscando bastante. “Garota safada”, ele disse passando a mão no meu traseiro. Meia hora depois estávamos na praia. Ele não era um amante dos mais sensíveis, mas esse raramente é o x da questão. Sexo é sexo. E sexo era a única coisa que estava deixando essas férias idiotas de doer aceitáveis. Isso e o pensamento sobre tudo o que eu deixei para trás. Não tinha nada em Bristol me esperando, a menos que você conte humilhações e memórias dolorosas. O que eu não conto, por mais que pareça engraçado. Duas semanas que eu não poderia de jeito nenhum dar de cara com o Freddie só poderia ser boa coisa, mesmo que fosse em um hotel de merda que seria como a porra de Blackpool, se não tivesse tanto sol. Tomando banho de sol o dia todo e transando a noite toda. Há jeitos piores de se passar o tempo. Eu comecei como eu pretendia seguir, transando com um cara elegante de uma despedida de solteiro numa cabine vazia de uma balsa. Ele era vil, na verdade, vestido em sua camisa polo e berrando “Oh deus, sim” quando gozou. Depois Fabien na casa de Cecile e Ed. Meio nerd, mas gostava de mim, o que era o objetivo e ele me fodeu gostoso em seu quarto por quase oito horas. Eu estou certa que seus pais sabiam por causa do barulho, mas ninguém disse nada. Deve ser normal na França. Eles se sentem mais confortáveis com relação ao sexo. Na verdade, foi doloroso depois de um tempo, mas eu já me acostumei com a dor. Não me afetava. Melhor do que não sentir nada. Emily não aprova, claro, mas ela podia ir se foder. Ela não consegue lidar com o fato de que eu sou mais pegável do que ela. É, ela esta andando por aí agora com aquele olhar convencido em seu rosto, como se o sonho do amor jovem tivesse dado um soco em sua cara. Mas eu tenho uma notícia para ela: não conta se você for uma sapa. Não é a mesma coisa, porra. Quando eu cheguei a Emily já tinha adormecido. Eu sentei na minha cama e tirei minhas roupas. Meu corpo se sentia como estivesse ferido, machucado. Eu quase sempre durmo pelada, mas eu roubei uma das blusas gigantes de lésbica da Emily, deitei na cama e botei meus joelhos perto de meu peito.
  • 37. E tentei não chorar. Emily Sábado, 8 de Agosto. No chalé. Já passara da uma da manhã quando fui para a cama e só Deus sabe quando a Katie foi, então nenhuma de nós estava interessada quando nosso pai tentou nos acordar às oito e meia. Eu o mandei pra fora, mas consegui captar as palavras ‘família’ e ‘aulas de surfe’. O bastante para garantir que eu ficasse em estado de coma até meio dia. Quando eu acordei Katie tinha ido embora e eu tinha a casa só para mim. Euforia. Eu fui até a cozinha em meus pijamas e preparei um copo de chá. Eu estava passando geléia no pão quando minha mãe, meu pai e James voltaram da manhã de esportes aquáticos, grudados. “Ahá, ela acordou!”, disse meu pai. Continuava jovial então. Perfeito. “Estou feliz que você já está de pé”, disse minha mãe, pegando a chaleira para encher de novo. “Eu pensei que você, Katie e eu poderíamos passar a noite no SPA. Um pouco de tempo só para as garotas. Eu disse que iria encontrar Katie na cidade daqui a pouco.” Eu realmente, realmente preferiria não ir. “Obrigada, mãe. Parece legal, acho, mas eu não estou querendo ir. Eu iria dar um passeio. Sozinha.” “Vamos lá, Emily. Sai dessa.” Pelo amor de Deus. “Sair do que? Eu estou bem. Eu só estou querendo uma tarde pra mim mesma.” Minha mãe suspirou. “Tudo bem. Talvez amanhã, então”. “É. Talvez.” Ela continuou tagarelando no meu quarto. Tudo bem se ela não tivesse feito a proposta, mas fez tudo parecer falso pra porra.
  • 38. Eu não me incomodei em dizer que eu tinha planos pra sair com o Josh hoje. Eu iria escutar até não ter fim. Eu esperei todo mundo ir embora antes de pegar minhas coisas pra ir para praia e parar em seu chalé. Eu bati em sua porta e ela abriu quase que imediatamente. “Obrigado, Deus, por isso”, disse Josh. Eu podia ouvir uma voz alta de mulher no fundo quando ele puxou a porta por trás dele. Eu levantei minhas sobrancelhas. “Minha mãe” ele disse. “Ela sabe como falar muito, Deus a abençoe. Eu convidaria você a entrar, mas ela já está ficando molhadinha em suas calcinhas com o pensamento de uma colega em potencial pra seu filho depravado.” “Então”, eu pressionei. “Depravado?”. “Longa história, Emily. Vamos dizer que mamãe não é a mulher mais progressiva do mundo.” Uma pequena luz surgiu. “Ahá”, eu disse. “Você é gay.” Josh tinha escovado os cabelos para trás exageradamente. “Eu, querida? Por que você pensaria isso?” “Só um chute.” “Bom trabalho, Sherlock” ele olhou pra mim. “E você?” “Também”, eu disse. “É agora que batemos um na mão do outro pra criar laços?” Ele sorriu. “Sim, se nós fôssemos uns idiotas retardados”, ele me olhou de cima a baixo. “Eu achei que tinha alguma coisa em você. Meu gaydar infalível, como sempre.” Ele olhou de volta para meu chalé. “Seus pais aceitam isso normalmente?” “Não. Eles estão fingindo que não é verdade. Você sabe, negando totalmente, esse tipo de coisa.” Nós chegamos ao topo das pedras. Josh tirou seus chinelos e os colocou em sua mochila. Estava muito quente, nenhuma nuvem em nenhum canto. A praia já estava lotando. “Quer achar algum lugar mais privado?”, disse Josh. “Eu ouvi falar que tem uma praia rochosa perto da península.” “Você está falando daquela península a cinco quilômetros?”, eu resmunguei.
  • 39. Mas meia hora depois nos encontrávamos em um trecho de areia deserto longe daquelas crianças berrando. Nós colocamos nossas toalhas em cima de algumas rochas e eu passei em mim mesma filtro solar fator 50. Eu me despi para ficar em meu biquíni e me sentei. Ele se sentou ao meu lado e pela primeira vez eu pude olhar pra ele propriamente. Cabelo longo e marrom, olhos castanhos, ombros largos, e usando bermuda de cós baixa, cáqui. “Escuta”, ele disse enquanto olhávamos para aquele mar perfeito e um casal de barcos desaparecendo no horizonte. “Eu só quero me desculpar por te envergonhar ontem à noite, quando você estava ao telefone.” “Esquece. Me desculpe por ter sido tão grossa. Eu só estou com raiva por ter que passar as férias com os meus pais. Você sabe, sentindo falta da minha namorada.” Josh cutucou alguns seixos com um galho. “Eu sei exatamente o que você está dizendo. Eu terminei com o meu namorado alguns meses atrás. É por isso que meus pais me trouxeram aqui... me persuadiram a vir pra cá porque acharam que iria me animar. E claro que eles pensaram que eu ia abrir meus olhos que lá no fundo eu sou hétero de carteirinha.” “Foda-se o que eles dizem”, eu resmunguei. “Todo mundo na minha família odeia a Naomi. Minha namorada. Eles acham que ela me transformou numa lésbica. Se eles soubessem que foi eu que a persuadi...”, eu ajeitei meus óculos escuros. “A pior é a Katie, minha irmã. Ela não consegue aceitar que eu não sou que nem ela. Ela é a porra de um imã para garotos. Ela é toda convencida, entende?” “Para falar a verdade, ela parece bem insegura para mim” Josh disse claramente. “Isso é uma piada?”, eu disse. “Insegura?” “Totalmente. Ela é desesperada. Como foi provado ontem quando eu cheguei com minha mãe e meu pai. Profundamente carente.” Por algum motivo isso me incomodou. “Ela não é carente!”, eu disse. “Ela sempre está confiante para porra com tudo. Ela nunca ficou sem um namorado.”
  • 40. “Claro que ela nunca ficou sem. Ela provavelmente dá pra todo mundo”, Josh se virou pra me encarar. “Está claro, Emily. Eu conheci um monte de meninas que nem ela.” “Tá”, eu disse baixo. “Talvez você esteja certo”. Já estava na hora de eu e minha irmã termos uma conversa séria. Effy Sábado, 8 de agosto. Veneza Minha mãe, eu e Florence esvaziamos três garrafas de vinho ontem à noite, e mesmo assim eu me encontrei vasculhando armários em busca de mais bebidas à meia noite. Eu encontrei uma coalhada de limão liquida. Eu me servi com metade da garrafa em uma caneca. Nojento pra caralho. Eu vomitei por uma hora e dormi no chão do banheiro. Minha mãe me achou. “Jesus”, ela se ajoelhou, segurou meu queixo e chacoalhou minha cabeça. Eu abri meus olhos. “O quê?”. “Você não sabe quando parar?”, ela disse secamente. “Parar com o quê?”, enquanto eu falava, eu podia sentir meu lábio se rachando. Ela me deu um olhar severo. “Meio litro de Limoncello depois de todo aquele vinho? Meu deus... e você vomitou em toda minha bolsa de maquiagem”. Ela se levantou e enxaguou uma flanela na pia. “O que você está fazendo?”. “Eu vou limpar toda essa bagunça. Cristo, olha o seu estado”. Antes que eu pudesse protestar ela começou a limpar meu rosto gentilmente. Foi legal. Relaxante. Por alguns minutos só havia o som de suas pulseiras batendo e a minha respiração. “Está muito tarde para um banho”, ela murmurou. “Sem água quente, de qualquer jeito”. Ela parou de limpar e tirou o cabelo do meu rosto. “Vamos lá. Hora de dormir”.
  • 41. “Me deixa”. Ela me ignorou. “Vamos tirar isso. E sua saia”. Ela segurou meus braços e me puxou para que eu me sentasse na ponta da banheira. “Eu posso me despir sozinha, mãe. Eu não sou um bebê”, eu disse enquanto uma onda de dor agonizante surgiu em minha cabeça. “Só me dá a porra de um paracetamol. Eu vou ficar bem”. “Não se mexa”, ela disse e saiu para a sala. Dois minutos depois ela voltou com algo largo e branco que obviamente tinha afanado de uma velhinha. “Uma camisola? Isso deve ser uma piada”. Eu me levantei desajeitada. Eu estava nua e tremendo agressivamente. Minha mãe deslizou a roupa de velhinha pela minha cabeça, colocou meus braços para dentro e abotoou até a minha garganta. Eu me senti como se tivesse cinco anos. “Boa garota”, ela disse tranquilamente. “Boa garota”. Ela segurou minha mão e me guiou até meu quarto, puxou o lençol da minha cama. Eu desmoronei no travesseiro. “Mãe”, eu disse sonolenta, observando-a fechar as persianas. “Não feche completamente”. Ela as deixou e veio em minha direção. Me cobriu com o lençol e apagou a luz. “Você vai ficar bem, Effy”, ela disse. “Tudo ficará bem”. Mas ao meio dia estávamos de volta à guerra fria. Certo, eu a deixei cuidar de mim, mas eu estava sob influência. Não significava que ficaríamos grudadas uma na outra hoje de manhã. Todas as coisas que estavam lá antes continuavam lá. Eu vaguei pela cozinha me sentindo uma merda. Minha mãe estava na mesa de costas para mim. Eu fechei meus olhos. Minha cabeça cambaleou. Eu bebi suco de laranja, tomei três aspirinas e peguei o chaveiro extra. “Eu vou sair”.
  • 42. Minha mãe me olhou por cima do livro de frases que estava estudando, inutilmente já que ela não falou uma palavra em italiano desde que chegamos aqui. “Para onde?”. “Só passear, tomar um ar. E eu talvez vá ver... qual é o nome dela?”. “Florence?”, disse minha mãe. “Talvez eu vá com você”. “Nesse caso estou indo à Lan House”, eu disse calmamente. “O que raios há de errado com você?”, minha mãe sentou furiosamente de volta na cadeira. “Eu só quero ficar sozinha. Entendeu?”, eu estava sendo uma vadia e ela não merecia isso, mas eu tenho uma reputação a manter. “Então você não está interessada a se juntar a nós mais tarde?”, ela disse claramente, fechando seu livro e se servindo com mais café. “Nós?”. “Aldo me convidou – nós – a uma excursão numa pequena ilha de Veneza”, ela disse. “Eu acho que se chama Lido”. “Tudo bem”, eu lutei contra o estímulo de chutar sua cadeira. “Bem, sim, eu vou. Por que não?”. Minha mãe sorriu e acendeu um cigarro. “Legal. Vai ser bom sentir o cheiro do mar. Nós escolhemos a época mais quente do ano para vir a uma maldita cidade no mediterrâneo. Não é a toa que todos os nativos vão para o campo. Bem...”, ela começou a colocar suas coisas em sua bolsa: óculos escuros, carteira, telefone, maquiagem. “Ele é um bom homem, não é? Gentil”. E ele é meu, eu pensei. Não seu. Houve uma batida alta na porta. Minha mãe olhou em seu relógio. “Merda. Eu não percebi que era tão tarde. Deve ser o Alfredo”. “Eu vou atender”, eu disse, me atirando para fora da cozinha. Quando abri a porta do nosso apartamento, Aldo estava lá com Florence. Seu braço cruzado com o dele.
  • 43. “Olá, querida”, ela sorriu pra mim. “Eu espero que você não se importe com uma velhinha de brinde”. Eu teria ficado puta se fosse outra pessoa. Mas Florence podia encantar os passarinhos da porra das árvores, e podia fazer companhia para minha mãe. Isso pode acabar dando certo. “Claro que não” eu disse. “Quanto mais, melhor”. Enquanto todos nós descíamos as escadas, minha mãe na frente, Aldo se virou pra mim. “Lido é um lugar extraordinário, Effy”, ele disse. “Faz parte de Veneza, mas é muito diferente. Principalmente a arquitetura. Várias construções com decorações de arte gastas que já foram incríveis. Agora é, acho que vocês ingleses diriam, um glamour que está desaparecendo. E é um pouco misterioso. É aonde gravaram Death in Venice?”. Eu fiquei sem expressão. “Um filme dirigido por Luchino Visconti. Muito perturbador”. “E um livro”, minha mãe observou. “Sobre uma escritora que se apaixona por um rapaz mais novo”. Eu aposto que ela só leu isso essa manhã na porra de seu amado guia turístico. Mas eu estava ansiosa para ir. Lido soa como aquele tipo de lugar aonde o real se torna irreal. E isso era perfeito pra mim. Nós tomamos um táxi aquático e o ar salgado lentamente levou minha dor de cabeça embora. Enquanto nos distanciávamos de Veneza, eu olhei de volta para a cidade, ardendo com o calor. Minha mãe pensou que estava na porra do Dolce Vita ou coisa assim, com um lenço amarrado na cabeça e óculos escuros. O vento estava bagunçando seu cabelo. Eu sorri com a parte de trás de sua cabeça. Quando chegamos, Aldo nos levou diretamente para almoçar em um hotel chique perto da água. Um prédio incrível pêssego e dourado aonde as pessoas pareciam ter sido presas no tempo. E agiam desse jeito, também. Eu juro que o sujeito que nos levou à nossa mesa se curvou para nós.
  • 44. Assim que nos sentamos, eu levantei novamente. “Aonde você vai?”, minha mãe perguntou. “Banheiro”, eu disse sem olhar pra ela. Eu precisava me recompor. No banheiro eu subi em uma das pias e me sentei por um tempo, massageando minha mão com o creme grátis e encarando todos que entravam. Todos desviavam o olhar desconfortavelmente. Não era minha culpa se eles se assustavam comigo. Eu não estava fazendo qualquer coisa errada. “Ah, aqui está você!”, disse Aldo sorrindo quando voltei. “Eu estava pensando pra onde você tinha ido”. “Só observando o lugar”, eu disse me servindo uma taça de vinho. “Lugar legal”. “É mesmo. Eu só estive aqui uma vez, na noite do meu casamento”. “Eu estou surpresa que tenha coragem de voltar aqui”, disse minha mãe. “Ao contrário, é uma lembrança feliz para mim”. Eu tomei todo o meu vinho e coloquei mais. Abastacendo o barco, como meu pai diria. “Effy, sem exagerar”, disse minha mãe. Eu a ignorei e tomei um grande gole de vinho. Assim era melhor. Eu estava começando a me sentir bem e bêbada. Eu fiz um gesto para o garçom trazer mais do mesmo. “Effy...”, disse minha mãe como se estivesse avisando a uma criança para ficar longe da tomada. “Ah, relaxa, mãe”, eu disse. “Relaxe. Tome mais vinho”, eu desastrosamente servi vinho em seu copo, então no de Aldo, no de Florence e no meu. Eu me senti como se estivesse pairando sobre a mesa, olhando com olhos estreitos Aldo tentando puxar conversa com minha mãe enquanto ela comia seu espaguete à bolonhesa. Como você está aventureira, mãe. Por que você não simplesmente pede ovos e batata e acaba com isso? Florence percebeu meu olhar e sorriu maliciosamente.
  • 45. Uma salva de palmas me trouxe de volta à terra. Do outro lado da sala um sujeito num terno branco se curvou e sentou em um grande piano, agitando a cauda de seu casaco enquanto o fazia. Eu ri muito alto e algumas pessoas me deram um olhar severo. Que se fodam. Ele começou a tocar a música do Billie Holiday, ‘Lover Man, Oh Where Can You Be?’, uma das minhas favoritas, acredite se quiser. Eu me inclinei, minhas mãos no meu colo e olhei para minha taça, respirando o cheiro picante e cantarolei junto. “Adorável”, disse Florence. “Me leva de volta”. Eu revirei meus olhos para olhar para ela. Ela captou meu olhar e sorriu de novo, então subitamente ergueu sua taça. “Para situações estranhas, não é, Effy?”, une ela meio que murmurou. Eu balancei meu copo precariamente, o vinho respingando em cima da mesa. Minha mãe olhou inquieta. “Que situação estranha?”, ela perguntou, seus olhos se ampliando. Eu dei a ela um sorriso irritante. “Nada para se preocupar, Anthea”, disse Florence colocando sua mão em cima da mão de minha mãe. “Nós somos todos amigos aqui”. Está tudo bem, Florence. Finja ser senil. “Como está seu bife, Effy?”, disse Aldo. Eu tinha esquecido que ele estava ali. “Certo, é isso”, disse minha mãe de repente, pegando o meu copo. “Você vai ficar doente. Coma sua comida”. Eu estava quase pegando minha taça de volta quando o pianista começou a tocar uma coisa nova. Eu não reconheci, mas Florence uniu suas mãos em um êxtase musical. Eu me levantei e comecei a me balançar e dançar, meus olhos se fecharam. “Sente-se, pelo amor de Deus”, minha mãe me sibilou. Ignorando-a, eu segurei as mãos de Aldo. “Dance comigo”, eu disse tentando levantá-lo. Seu cheiro era adorável. Aldo riu. “Eu acho que talvez você não esteja acostumada com vinho italiano”.
  • 46. Ele gentilmente se desvencilhou das minhas mãos, e eu me senti balançar. Eu estava mais bêbada do que pensava. Eu me sentei no chão e ri. Eu senti as mãos de minha mãe nos meus ombros. Ela colocou a boca perto do meu ouvido e disse, “Você precisa levantar agora. Tudo vai ficar bem, mas você precisa levantar. Você está se envergonhando”. “Eu estou tentando me divertir”, eu disse. “Não estrague”. Seus lábios, suas mãos, meu garoto de olhos castanhos. Então Aldo veio e se ajoelhou ao meu lado. “Deixe-me te ajudar a levantar, Effy”, ele disse. “Parece que você caiu”, ele colocou seus braços por baixo de meus cotovelos e tentou me levantar, mas apenas conseguiu levantar meus braços sobre minha cabeça. Me fez rir. Enquanto eu me levantava um garçom apareceu e disse, em inglês, “Posso trazer um copo de água pra sua filha?” Filha?! Eu ri alto e disse, “É, certo. Ele é meu papai. Ele, tipo, me espanca... quando eu sou travessa, mas se sou uma boa garota ele me dá a porra de uma transa”. “Effy!”, minha mãe disse. Ela cobriu seus olhos com a mão. Mortificada, ela disse, “Pelo amor de Deus, você vai fazer com que eles nos expulsem”. Eu olhei para Florence, que era a única que eu estava remotamente preocupada em ofender, mas ela estava olhando pra mim com um meio sorriso em seu rosto. Qual era o jogo dela? Então a profecia de minha mãe se tornou verdade e nós fomos expulsos. Alguns convidados ingleses do hotel tinham se queixado, aparentemente. Como se eu ligasse. Quando chegamos lá fora minha mãe se virou para Aldo e disse, “Me desculpe por Effy. Eu não sei o que aconteceu com ela”. Eu balancei minhas mãos na frente dela, com tanta raiva que eu queria agarrar o cabelo dela e bater sua cabeça na parede repetidamente. “Oi? Eu estou aqui”, eu gritei. Minha mãe desviou seu rosto de mim. “Você está com bafo”, ela disse. “Por que você liga?”, eu murmurei. “Está tentando impressionar ele, não está? Cai fora.” “Eu adoraria”, ela disse, com o rosto vermelho. “Mas para o melhor e para o pior eu sou sua mãe, e não posso te deixar nesse estado”.
  • 47. Que tocante. Era um beco sem saída. Eu sentada na calçada desejando que ter pegado a metade da garrafa de vinho que estava na mesa. Um movimento me fez olhar pra cima. Florence tinha tropeçado. “Oh, Deus”, ela disse. “Eu não estou muito bem. Muito vinho. Anthea, querida, pode me levar pra casa?”. “Claro”, disse minha mãe. “Nós todos vamos. Mas você está bem? Deveríamos encontrar um médico?”. “Ah não, não precisa. Eu só preciso dos meus remédios e da minha cama. E não precisam acabar com seu dia assim tão cedo. Eu tenho certeza de que Aldo não vai se importar de cuidar da Effy”. Ela olhou pra Aldo, que disse rapidamente, “Claro... Effy e eu vamos ficar e tomar muito café e comer muito bolo”. “Então está decidido”, disse Florence de maneira entusiasmada, até demais. E ela acabou de piscar para mim? Espertinha pra caralho. Minha mãe segurou o braço de Florence e virou para Aldo. “Sinto muito por hoje”, ela disse. “Estou me sentindo terrível”. “Não se sinta”, Aldo respondeu. “Não precisa”. Eu podia sentir minha mãe me olhando, mas me recusei a encará-la. Quando olhei pra cima, ela e Florence estavam indo embora. Aldo sentou do meu lado, suas mãos descansando em seus joelhos levantados. “Isso foi uma performance e tanto”, ele disse. Eu olhei para seus tornozelos e pés, nus em seus mocassins de couro. “Effy”. “O quê?”. “Eu disse que isso foi uma performance e tanto”. Eu dei de ombros e acendi um cigarro e me senti imediatamente nauseada. Mas isso iria passar. “Você está... você está em algum tipo de encrenca?”, Aldo disse, sem noção alguma.
  • 48. “Encrenca?”, eu ri sem humor algum. “Talvez essa seja uma palavra para a situação”. “Quer me contar?”. Você realmente não quer saber “Não importa”, eu disse solenemente. “Eu só queria alguém para me fazer esquecer”, eu tremi apesar do calor. Aldo se moveu para mais perto de mim. Ele tirou sua jaqueta e botou em volta de meus ombros. “Álcool diminui a temperatura do seu corpo”, ele disse. Ele tirou um cigarro do meu maço. “Eu pensei que você desaprovava o fumo”. “Eu desaprovo. A desgraça do ex-fumante”, ele disse deixando as mãos em forma de concha enquanto o acendia. Ele soltou o ar. Sua mão tremeu um pouco enquanto me devolvia o isqueiro. “Eu devo dizer que estou... incerto sobre você, Effy”, ele disse, não olhando para mim, mas sim em frente. “O que quer dizer?”, eu soei mais inocente do que me sentia. Quando ele virou pra me encarar meus olhos caíram para o cinto em suas calças. Eu pensei na minha boca no seu pinto e subir nele, senti-lo preencher minha boceta. Pare Effy. Não faça algo estúpido. Aldo balançou sua cabeça, apagou o cigarro e se levantou. Ele estendeu sua mão para me levantar em sua direção e colocou seus braços em mim. “Pobre Effy”, ele disse. Eu descansei minha cabeça em seu peito, senti seu cheiro e ouvi a batida do seu coração. Eu arqueei minhas costas para que meus peitos se pressionassem nele e, quando ele não me soltou, movi o braço coloquei minha mão em seu pinto. Ele não me empurrou imediatamente, ele esperou um pouco. Nesse tempo eu consegui o que precisava. Senti-lo excitado com meu toque. “Você está um pouco bêbada, Effy”, ele disse baixo. “Isso não é o que você quer.” “Você não sabe o que eu quero”, eu disse rouca. “Você não sabe mesmo.”
  • 49. “Talvez não”. Aldo pegou outro cigarro e acendeu. “Mas você querendo ou não, eu vou comprar para você um café forte e algo bem doce para comer”. Ele abotoou sua jaqueta sobre meus ombros. “Vamos lá. Você vai se sentir muito melhor, eu prometo.” Naomi Segunda, 10 de agosto. The Caves, Bristol. “Eu ouvi falar na sua maratona infantil de sexo”, eu disse à Cook, enquanto ele zumbia a minha volta como uma vespa excitada. “E independente do fato de não estar mais interessada em pintos, de qualquer natureza, eu nunca, nunca, nem em um milhão de anos, nem se o inferno congelasse, nem que nós fossemos os últimos humanos vivos e só transar com você pudesse me salvar de ser comida viva por uma bactéria medonha, nunca, NUNCA deixaria você encostar seu pinto em mim. Ficou claro?” “Você ama isso”, disse Cook, tirando um baseado meio fumado de seu bolso de trás. “Se eu parasse de tentar transar com você, Campbell, você ficaria devastada.” Ele fechou o zíper de sua jaqueta, que estava rasgada na parte inferior de um braço. “Ah, querido. Você precisa de alguém pra cuidar de você”, eu puxei o revestimento xadrez rasgado, “não pra transar contigo.” “Idiotice pra caralho”, ele disse agradavelmente. “Quer se juntar a mim para fumar?” Eu vi JJ com olhar vazio do outro lado da pista de dança. “Não, eu acho que eu vou conversar com o Jeremiah”, eu disse. “Ter uma conversa decente e adulta.” “Justo, senhora Naomi”, Cook foi em direção à porta. “Mas se encontrar Frederick, diga a ele que ele tem de me alcançar, Cookie está na frente dele com muito vapor. Facinho, como sempre.” “Eu não vou me envolver. Isso é imbecil e triste”, eu disse. “Mas eu vou dizer para ele aonde você está e você pode dizer isso a ele”, eu vi Cook desaparecer pela porta antes de ir encontrar o JJ.
  • 50. Eu saí hoje para me recuperar. A parte de mim que estava ocupada em sentir falta da minha garota. Mas o que aconteceu foi que me encontrei procurando por ela nas multidões. Ridículo pra porra. Eu estou perdida. Senti alguém cutucar as minhas costas. JJ apareceu atrás de mim. “Quer ver uma mágica?”, ele começou a dizer ansiosamente, começando a colocar as mãos nos bolsos. “Não, JJ. Eu realmente não quero”. Peguei sua mão. “Mas vamos sentar em algum lugar.” “Sério?”, ele parecia confuso. “Para conversar”, eu disse rindo. “Sem gracinhas.” JJ me seguiu para uma banqueta gasta encostada na parede. Um casal vigorosamente esfregando o corpo um do outro estava esparramado nela. Eu bati no ombro da garota e dei a ela o meu olhar mortal infame e os dois foram para o lado e nos deixaram sentar. JJ estava simultaneamente impressionado e com cara de quem sentia muito. “Então, o que há com o Cook e essa competição maluca de sexo?”, eu disse. “Ele não pode apenas chorar como um ser humano normal?” “Sim”, disse JJ, “passa um pouco dos limites, admito.” Para provar o que JJ estava falando, Cook reapareceu, dessa vez com uma garota atrás dele. Ele a levou para o sofá que estava na nossa frente, e começou a enfiar a língua em sua garganta. Boa, Cook. Sutil. JJ os espiou. “Ele ficou com ela quando viemos aqui semana passada. Eu estou reconhecendo a tatuagem de serpente no pé dela. Devemos sentar em outro lugar?” “Eu não vou sair agora. Só vamos fingir que eles não estão aqui”. Eu ainda tinha um copo de plástico quase cheio com vodka e água tônica. Tomei um grande gole. JJ tomou um gole de sua água. “Por que você não bebe, JJ?”, eu perguntei a ele. Ele olhou pra mim e rapidamente desviou o olhar de novo. “Eu não gosto muito do sabor”, ele disse.
  • 51. “Esse é realmente o motivo?” JJ sorriu nervosamente. “Um deles”, ele tomou um gole de sua água. “Então, Naomi...” Eu o interrompi, tentando acabar com seu tormento. “JJ, você sabe que eu não ligo para o que aconteceu entre você e Emily.” Ele olhou para a garrafa em suas mãos e começou a tirar o rótulo. “Não liga? Digo... bom, fico feliz. Foi só um ato de caridade. Da parte dela, obviamente.” Eu o vi brincar nervosamente com a garrafa. “Ela gosta de você”, eu disse. “Eu não ouvi nenhuma reclamação, também... você sabe, sobre o-” O rosto de JJ de repente estava banhado em uma coloração rosa avermelhado. “Que seja”, ele murmurou. “Sei quando vocês estão sendo condescendentes comigo, Naomi.” “Porra. Não, JJ. Eu não estou sendo condescendente com você. Você é mais inteligente do que todos nós”, eu disse, me sentindo mais desajeitada a cada segundo. “Você realmente acha que transar com qualquer coisa que se mova te faz especial?”, meus olhos voaram para Cook brevemente. “Ou te faz feliz?” “Me faria muito feliz”, disse JJ, finalmente soltando a garrafa. “Me sentir normal.” Eu concordei com a cabeça. Eu sei como era sentir que todo mundo estava rindo de uma piada que eu não conseguia entender. Senti isso por quase toda a minha vida. “Você vai ficar bem”, eu disse. “Eu prometo.” JJ aceitou isso com um meio sorriso. “Enquanto isso”, ele suspirou, gesticulando para nosso oposto. “Estou aqui meramente para observar...” Cook estava se satisfazendo com afagos completamente exagerados. Sua mão estava dentro do zíper da calça da garota enquanto ela se contorcia ruidosamente em seu colo. JJ e eu trocamos olhares entretidos. Eu senti uma presença ao meu lado. “Tudo bem?”, Freddie caiu pesadamente no nosso meio. “Aonde está o Cook?” “Bem na sua frente”, respondeu JJ. “Merda, já?”, Freddie suspirou e jogou a cabeça para trás enquanto olhava para o teto.
  • 52. “Ah, Freddie”, eu disse. “Cook disse que você teria que mexer o seu traseiro se você quiser ter alguma chance de ganhar esse joguinho”, eu disse a ele. “Apenas repassando.” “Obrigado.” Freddie olhava para todo lado, menos para o que estava na nossa frente. Mas que lindo grupo de macacos nós formávamos. Depois de um tempo, Freddie sentou-se direito de repente, bateu em seus joelhos com as mãos e disse, “Então... como está indo com a Emily?” “Bem. Ela está de férias com o resto da porra da família Addams.” Ele levantou as sobrancelhas. “Eles me odeiam. Particularmente a gêmea do mal.” JJ se inclinou na direção do Freddie. “É estranho. Mesmo elas sendo idênticas, às vezes esqueço que Katie é irmã da Emily”, ele disse. Sua face se iluminou: “Ei, Freds, tivemos relações sexuais com gêmeas! É como em um filme pornô...”. Seu sorriso se desmanchou. “Digo, pelo o que ouvi dizer.” Freddie esfregou a mão em seu rosto. “Não tem graça”, ele disse. “Ainda me sinto mal por causa disso.” “Eu não me incomodaria”, eu disse. “Katie é uma vadia total. Ela mereceu tudo o que aconteceu.” “Ela não é tão má assim”, Freddie respondeu. Então, vendo minha expressão: “Quer dizer, talvez ela tenha alguns problemas e tal...” “Certo. Enquanto a Effy é um ser humano bem ajustado”, eu disse sem pensar. Freddie cruzou seus braços em seu peito e curvou os ombros. “Que porra isso quer dizer?” “Nada. Tem-se que questionar a saúde mental de alguém que deixaria uma garota inconsciente para poder transar com o namorado dela numa barraca...” eu aspirei. “Só isso.” “Você não sabe de tudo”, disse Freddie furiosamente. “Só cuide da porra da sua vida.” JJ encarou o rótulo de sua garrafa atentamente. “Tudo bem”, eu levantei meu copo pra ele. “Tchau então.”
  • 53. Quando fui embora meia hora depois, vi Freddie com uma garota chamada Ashley, que é minha vizinha e corta o cabelo da minha mãe. Eles estavam inclinados contra a parede lateral do clube. Ela estava com a saia na cintura, suas pernas ao redor dele, seus peitos a mostra. Ele estava fodendo-a gostoso. Suas nádegas indo e voltando enquanto ela ofegava para o ar. “Jesus”, eu resmunguei para mim mesma. “Me tira daqui.” Emily Terça, 11 de agosto. Na cama, tarde da noite. A porta se abriu e sua silhueta surgiu. Ela se moveu descalça até a cama. “Katie?”, eu sussurrei. Ela olhou para mim. “Você ainda está acordada?” “Não consegui dormir. Pensando em coisas.” Primeiro ela não respondeu, só tirou seu vestido e seu sutiã e foi para baixo do lençol. Eu fiquei a observando. “Por que você está tão estranha?”, ela disse. “Eu só estava tentando conversar com você”, eu disse, cansada. “Não vou te incomodar de novo.” Katie se contorceu um pouco embaixo do lençol. “Está fervendo aqui”. Ela se contorceu para ficar mais confortável e bateu agressivamente em seu travesseiro, eventualmente me encarando. “Então”, ela disse. “Vamos conversar.” “Eu estava pensando em você hoje, só isso. Sabe, não estamos exatamente nos dando bem atualmente.” “E a culpa é de quem?”, ela disse na defensiva. “Você se voltou totalmente contra mim agora que está com ela. E ela odeia meu jeito de ser.” “É, certo, e você sempre foi a maior fã dela, não é?”