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COMÉRCIO EXTERIOR E ESTRUTURAS PRODUTIVAS NO
                  MATO GROSSO DO SUL1


                                                                Lisandra Pereira Lamoso


         A função de fornecedor de bens primários é o papel tradicional
desempenhado pelos países latino-americanos na Divisão Internacional do
Trabalho. Ao longo dos séculos, essa participação passou por transformações
socioespaciais nas principais economias. No Brasil, Chile, Argentina e México o
processo de industrialização ocorreu com base no modelo de substituição de
importações se desenvolveu com peculiaridades que resultam em maior
internacionalização econômica (Brasil, Chile), maior subordinação à hegemonia
norte-americana (México, Equador, Colômbia, Argentina até o Governo Menen),
movimentos em busca de maior emancipação política (Venezuela, Bolívia e, do
ponto de vista diplomático, também o Brasil).
         No caso brasileiro, a substituição de importações se desenvolveu
segundo os impulsos partidos do centro dinâmico da economia capitalista,
basicamente no seguinte movimento: em períodos de expansão da economia
internacional houve um esforço de produção de mercadorias orientadas para o
comércio exterior. Segundo Rangel, “a economia brasileira, desde a descoberta,
desenvolve-se como complemento de outras economias – dos países que,
sucessivamente ocupam a vanguarda no desenvolvimento da humanidade”
(RANGEL, 2005, p. 322). Nos períodos de contração econômica internacional,
ocorreu um rearranjo das estruturas produtivas internas no sentido de provocar a
substituição dos produtos importados.
         O parque industrial formado predominantemente pelas intervenções
diretas do Estado no setor produtivo (estatais) bem como pelos seus subsídios
1
 Este texto apresenta um resumo de alguns resultados obtidos nos projetos de pesquisa “Uso do
Território pelos Principais Grupos Exportadores de Mato Grosso do Sul” (auxílio financeiro do
CNPq) e “Comércio Exterior, Empresas e Interações Espaciais” (com bolsa CNPq). Os resultados
parciais foram apresentados durante mini-curso no Projeto de Extensão “Geografia e Ensino”, sob
coordenação do Prof. Sedeval Nardoque.



                                                                                             1
diretos ao capital privado nacional, que ocorreu com intensidade durante o período
militar, resultou em um movimento crescente de aumento das exportações de
produtos semi-manufaturados e manufaturados e a redução das exportações de
produtos primários, que pode ser observada na Figura 1, sendo em 1979 o
momento de inversão das características primário-exportadoras brasileiras. Esse
processo passou por uma nova inversão nos primeiros anos do século XXI, como
repercussões das políticas neoliberais de redução do Estado, privatizações, maior
abertura às exportações e valorização cambial, implantadas durante o Governo
Fernando Henrique Cardoso (1995-2003). A partir de 2000 houve uma tendência
de aumento das exportações de bens primários e de redução das exportações de
produtos industrializados (Ver Figura 1).




        Os dados absolutos em milhões de dólares foram convertidos em
porcentagens para visualizarmos a participação de cada classe no conjunto das



                                                                                2
exportações. Os dados absolutos são mascarados pelas alterações no câmbio,
além dos dados relativos permitirem captar a perda de competitividade da
produção industrial brasileira no mercado internacional.

        O Governo Lula (2004-2010), em seu primeiro mandato, procurou reverter
o desmonte do Estado com a elaboração de políticas de planejamento de médio e
longo prazo colocando em vigor a Política de Industrial, Tecnológica e de
Comércio Exterior (PITCE) e, posteriormente no segundo mandato, a Política de
Desenvolvimento Produtivo (PDP) (BARROS e PEREIRA, 2008). A PITCE foi
elaborada no contexto de sucessivas crises internacionais que chamaram a
atenção da América Latina após a derrocada do México e da Argentina, com a
preocupação em três áreas de atuação: a) promover o desenvolvimento
tecnológico e a inovação; b) melhorar a eficiência do sistema produtivo e c)
expandir as exportações (ALMEIDA, 2010). A expansão das exportações foi
pautada estrategicamente pela política de governo com o objetivo de manter os
resultados da estabilidade financeira já adquirida e procurar o que Coutinho (2003)
chamou de “sustentabilidade macroeconômica”. Para mantê-la o poder público
avaliou que era condição sine qua non a obtenção de um elevado superávit
comercial. Este teria como objetivo “reduzir a vulnerabilidade do balanço de
pagamentos, recuperar um volume expressivo das reservas próprias de divisas e
viabilizar uma queda segura e irreversível da taxa de juros” (COUTINHO, 2003,
p.334). Embora refém da estabilidade financeira que coloca em pauta o controle
inflacionário como principal medida e mesmo sem rompimentos radicais como
modelo herdado do antecessor segundo (SADER,2010), a PDP retomou o
planejamento de médio e longo prazo em busca de um projeto de reconstrução
nacional. No segundo mandato, ao diagnosticar que o país apresentava uma
estrutura produtiva diversificada e com consideráveis vantagens comparativas na
produção de produtos agropecuários, minerais e siderúrgicos, foi dada ênfase a
ampliação das exportações. A PDP traçou quatro macro-metas para a retomada
do planejamento com visão de longo prazo: a) Aumento da taxa de investimento,
ou seja, da formação bruta de capital fixo; b) Ampliação das exportações



                                                                                 3
brasileiras no comércio mundial; c) Elevação do investimento em Pesquisa &
Desenvolvimento e d) Ampliação do número de Pequenas e Médias empresas
exportadoras. (MDIC, 2010). Com essa política em curso, os sub-espaços da
economia    nacional   tão   variados   quanto   variadas   são   suas   formações
socioespaciais, inserem-se na economia internacional de forma distinta. Nosso
objetivo foi, com a contextualização desse novo papel do Estado no planejamento,
diagnosticar, num primeiro momento, como o Mato Grosso do Sul tem suas
estruturas produtivas reorganizadas em função do estímulo ao comércio exterior.

        A Figura 2 apresenta o comportamento das exportações do estado a
partir do ano 2000, dividido em três categorias: produtos básicos, semi-
manufaturados e manufaturados. Para os produtos básicos (soja, minério de ferro)
houve uma tendência de crescimento, com pequena inflexão após 2004 que pode
ser explicada pelo período de secas e perdas na safra agrícola, além dos
embargos devido à febre aftosa no rebanho bovino. A queda pós 2008 resulta da
redução das exportações de minério de ferro devido à crise financeira
internacional.




                                                                                  4
A exportação de produtos semi-manufaturados manteve uma pequena
tendência de expansão, que tem sido exaltada pela mídia e pelo setor industrial,
assim como para os manufaturados. Torna-se necessário registrar que os
principais grupos que dominam o comércio exterior de Mato Grosso do Sul são
empresas de capital privado estrangeiro ou com matrizes localizadas em outras
unidades da federação. Do total da pauta de exportações em 2009, 77,83% foi
formada por empresas transnacionais ou por grupos cujas matrizes não se
localizam no estado. (Ver Tabela 1).


Tabela 1 – Participação das principais empresas exportadoras no total exportado pelo
Mato Grosso do Sul no ano de 2009 e a variação entre 2008-2009.

Ordem Empresa                                 Participação Variação
                                              no valor     percentual
                                              total        ocorrida de
                                                           2008 para
                                                           2009.
   1      Bertin*                                 11,71       219,14
   2      ADM do Brasil Ltda.                     11,21        -21,13
   3      Seara Alimentos S/A                      8,47        -17.73
   4      Cargil Agrícola S/A                      7,49         69,25
   5      JBS S/A                                  4,64         11,03
   6      Bunge Alimentos S/A                      4,54        -47,68
   7      VCP –MS Celulose                         4,20           --
   8      Tavares de Melo Açúcar e Álcool S/A      4,01           --
   9      Urucum Mineração S/A                     3,65        -51,28
  10      Frigorífico Minerva S/A                  3,56         42,04
  11      Frigorífico Independência S/A            3,10        -74,10
  12      Doux-Frangosul S/A                       2,91         -2,20
  13      BRF Brasil Foods S/A                     2,80           --
  14      Cooperativa Agropecuária Mouraoense      2,39       160,48
          Ltda.
  15      Mineração Corumbaense Reunida S/A        1,70        -75,69
  16      Louis Dreiffus Commodities S/A           1,45        -60,20
* Incorporado pelo Grupo JBS.
Fonte: SECEX, 2010                                    Organizado por: Lisandra Lamoso


         A Tabela 1 apresenta a variação da participação das dezesseis principais
empresas ocorrida entre o ano de 2008 e 2009. A cadeia produtiva da carne



                                                                                    5
bovina, cuja pecuária extensiva tem sido base da formação socioespacial do
estado (BERTHOLI, 2006) recuperou os patamares anteriores ao embargo, mas
também reflete a capacidade de abate, processamento e exportação do Grupo
JBS, que é o maior produtor mundial do setor. As exportações da soja em grãos,
minério, e açúcar apresentaram queda em função da redução da demanda por
commodities e pelos impactos da menor demanda chinesa para o período pós-
crise. A PDP ao priorizar o movimento de exportação, reforçou as estruturas
produtivas baseadas nas corporações transnacionais e nos grupos privados
especializados na produção de commodities, com atuação no agronegócio
nacional e internacional.
         A expressão territorial dos números da economia de exportação produz
uma valorização da área que forma a Bacia do Rio Paraná, onde se concentram
as estruturas produtivas voltadas para a exportação. Na Bacia do Rio Paraguai
permanece, por foca de efeitos naturais, a exploração de minerais metálicos em
Corumbá, cujo escoamento para exportação ocorre pela Hidrovia do Rio Paraguai.
O setor de carnes, privilegiado com os aportes do BNDES para o Grupo JBS, se
fortalece tendo como localização a porção mais central do estado, a capital
Campo Grande, e o município de Naviraí (que possui uma unidade de abate),
também o internacionalizado, Marfrig (em Bataguassu), que além do setor de
carnes é proprietário da Seara Alimentos (Sidrolândia e Dourados), outro
importante grupo exportador. O complexo soja está localizado no divisor das
bacias, no eixo da BR 163 e da Ferronorte que são canais que permitem a fluidez
e a eficiência do planejamento logístico. O crescimento da produção de celulose é
acompanhado da expansão da área de reflorestamento, que ocupa a Região do
Bolsão e tem sua centralidade no município de Três Lagoas, com a instalação da
VCP Papel e Celulose. (Ver Mapa 1)2. Nesse processo, as estruturas produtivas
formam territórios da exportação com maior concentração na porção meridional do
estado, onde atuam as cooperativas, tradings, agroindústria de aves e suínos e os
2
 A autora agradece a colaboração dos Professores Adelsom Soares Filho e Charlei Aparecido da
Silva, e do Técnico de Laboratório Ângelo Franco do Nascimento Ribeiro (membros da equipe do
projeto) na orientação para elaboração dos mapas.



                                                                                          6
frigoríficos. (Ver Mapa 2). Para Veltz (1996), que trabalha com a noção de
“territórios-rede”, os territórios são mais que repositórios de objetos técnicos, mas
têm prente um conjunto de relações imateriais que também é apropriada, como a
tradição econômica, a experiência acumulada pelos agentes econômicos e
políticos, conhecer os caminhos da comercialização, do crédito, as relações com
os prestadores de serviços como motoristas, mecânicos, escritórios de
planejamento etc.




                                                                                   7
8
Considerações Finais


        As interações entre economia de exportação e as estruturas produtivas de
Mato Grosso do Sul são intensas na medida em que a política industrial em vigor
(Política do Desenvolvimento Produtivo) estimula o comércio exterior como parte
do processo de desenvolvimento econômico desejado para o país. Tal política,
que implica também no fortalecimento dos grupos privados nacionais com aportes
de capital do Estado, resulta no fortalecimento do setor do agronegócio que atua
no Mato Grosso do Sul.
        Este setor abrange a classe dos pecuaristas (subordinados ao capital
industrial e comercial dos grupos frigoríficos), do complexo soja (dominado pelas
tradings transnacionais e pelas cooperativas exportadoras, entre as quais maior
destaque cabe à Coamo) e pela produção de minério, exportado na forma bruta.
Essa configuração provoca uma extração da renda para as matrizes dos grupos
exportadores (tanto internacionais quanto aqueles localizados no próprio território
nacional, mas em outras unidades da federação) e não acelera a verticalização
dor   processos   industriais   no   estado.   Além   do   tradicional   par   carne
bovina/complexo soja, o modelo de crescimento tem permitido a expansão de dois
setores: biodiesel (com o crescimento da área plantada de cana e a expansão do
número de usinas) e da produção de celulose. Ambos, embora parte do
crescimento industrial e das exportações do estado, implicam externalidades
negativas na forma da exploração intensiva e extensiva da força de trabalho e em
impactos sócio-ambientais na forma de aumento da renda da terra para a classe
de proprietários capitalistas e imposição de modelos de baixa diversidade
biológica e alta dependência das oscilações da demanda internacional, com
prováveis impactos nas arrecadações do poder público, no emprego e na renda
dos trabalhadores do setor.




                                                                                   9
Referências Bibliográficas

ALMEIDA, Mansueto. Desafios da real política industrial brasileira do século XXI.
Textos para Discussão. São Paulo : IPEA, 2010. Versão para revisão. 71p.

BARROS, Octavio de; PEREIRA, Robson Rodrigues. Desmistificando a tese da
desindustrialização: reestruturação da indústria brasileira em uma época de
transformações globais. In: BARROS Octavio de; GIAMBIAGI, Fabio (Org.) Brasil
globalizado. Rio de Janeiro : Campus, 2008. p.299-330.

BERTHOLI, Anderson. O lugar da pecuária na formação sócio-espacial sul-
matogrossense. 2006. Dissertação (Mestrado em Geografia). Centro de Filosofia
e Ciências Humanas. Universidade Federal de Santa Catarina, 2006.

COUTINHO, Luciano; SARTI, Fernando. A política industrial e a retomada do
desenvolvimento. In: LAPLANE, Mario et. al. Internacionalização e
desenvolvimento da indústria no Brasil. São Paulo : Editora da Unesp/Instituto de
Economia da Unicamp, 2003. p.333-347.

MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO. Estatísticas
de comércio exterior – DEPLA.< http://www.mdic.gov.br > Acesso em: 25 ago.
2010.

__________ . Política de Desenvolvimento Produtivo. Disponível em
<http://www.mdic.gov.br/pdp/ > Acesso em: 2 de set. 2010.

RANGEL, Ignácio. Ciclo, tecnologia e crescimento. In: BENJAMIM, Cesar (org).
Obras reunidas. v.2, São Paulo: Contraponto, 2005. p. 255-408.

SADER, Emir. Brasil, de Getúlio a Lula. In: SADER, Emir e GARCIA, Marco
Aurélio (orgs). Brasil, entre o passado e o futuro. São Paulo : Editora da Fundação
Perseu Abramo/Boitempo, 2010. pp. 11-29.

SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço – técnica e tempo, razão e emoção. São
Paulo : Hucitec, 1996.

VELTZ, Pierre. Mundialización, ciudades y territórios. Barcelona : Editorial Ariel,
1996.




                                                                                      10

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Lisandra lamoso comércio exterior e estruturas produtivas no mato grosso do sul

  • 1. COMÉRCIO EXTERIOR E ESTRUTURAS PRODUTIVAS NO MATO GROSSO DO SUL1 Lisandra Pereira Lamoso A função de fornecedor de bens primários é o papel tradicional desempenhado pelos países latino-americanos na Divisão Internacional do Trabalho. Ao longo dos séculos, essa participação passou por transformações socioespaciais nas principais economias. No Brasil, Chile, Argentina e México o processo de industrialização ocorreu com base no modelo de substituição de importações se desenvolveu com peculiaridades que resultam em maior internacionalização econômica (Brasil, Chile), maior subordinação à hegemonia norte-americana (México, Equador, Colômbia, Argentina até o Governo Menen), movimentos em busca de maior emancipação política (Venezuela, Bolívia e, do ponto de vista diplomático, também o Brasil). No caso brasileiro, a substituição de importações se desenvolveu segundo os impulsos partidos do centro dinâmico da economia capitalista, basicamente no seguinte movimento: em períodos de expansão da economia internacional houve um esforço de produção de mercadorias orientadas para o comércio exterior. Segundo Rangel, “a economia brasileira, desde a descoberta, desenvolve-se como complemento de outras economias – dos países que, sucessivamente ocupam a vanguarda no desenvolvimento da humanidade” (RANGEL, 2005, p. 322). Nos períodos de contração econômica internacional, ocorreu um rearranjo das estruturas produtivas internas no sentido de provocar a substituição dos produtos importados. O parque industrial formado predominantemente pelas intervenções diretas do Estado no setor produtivo (estatais) bem como pelos seus subsídios 1 Este texto apresenta um resumo de alguns resultados obtidos nos projetos de pesquisa “Uso do Território pelos Principais Grupos Exportadores de Mato Grosso do Sul” (auxílio financeiro do CNPq) e “Comércio Exterior, Empresas e Interações Espaciais” (com bolsa CNPq). Os resultados parciais foram apresentados durante mini-curso no Projeto de Extensão “Geografia e Ensino”, sob coordenação do Prof. Sedeval Nardoque. 1
  • 2. diretos ao capital privado nacional, que ocorreu com intensidade durante o período militar, resultou em um movimento crescente de aumento das exportações de produtos semi-manufaturados e manufaturados e a redução das exportações de produtos primários, que pode ser observada na Figura 1, sendo em 1979 o momento de inversão das características primário-exportadoras brasileiras. Esse processo passou por uma nova inversão nos primeiros anos do século XXI, como repercussões das políticas neoliberais de redução do Estado, privatizações, maior abertura às exportações e valorização cambial, implantadas durante o Governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2003). A partir de 2000 houve uma tendência de aumento das exportações de bens primários e de redução das exportações de produtos industrializados (Ver Figura 1). Os dados absolutos em milhões de dólares foram convertidos em porcentagens para visualizarmos a participação de cada classe no conjunto das 2
  • 3. exportações. Os dados absolutos são mascarados pelas alterações no câmbio, além dos dados relativos permitirem captar a perda de competitividade da produção industrial brasileira no mercado internacional. O Governo Lula (2004-2010), em seu primeiro mandato, procurou reverter o desmonte do Estado com a elaboração de políticas de planejamento de médio e longo prazo colocando em vigor a Política de Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE) e, posteriormente no segundo mandato, a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) (BARROS e PEREIRA, 2008). A PITCE foi elaborada no contexto de sucessivas crises internacionais que chamaram a atenção da América Latina após a derrocada do México e da Argentina, com a preocupação em três áreas de atuação: a) promover o desenvolvimento tecnológico e a inovação; b) melhorar a eficiência do sistema produtivo e c) expandir as exportações (ALMEIDA, 2010). A expansão das exportações foi pautada estrategicamente pela política de governo com o objetivo de manter os resultados da estabilidade financeira já adquirida e procurar o que Coutinho (2003) chamou de “sustentabilidade macroeconômica”. Para mantê-la o poder público avaliou que era condição sine qua non a obtenção de um elevado superávit comercial. Este teria como objetivo “reduzir a vulnerabilidade do balanço de pagamentos, recuperar um volume expressivo das reservas próprias de divisas e viabilizar uma queda segura e irreversível da taxa de juros” (COUTINHO, 2003, p.334). Embora refém da estabilidade financeira que coloca em pauta o controle inflacionário como principal medida e mesmo sem rompimentos radicais como modelo herdado do antecessor segundo (SADER,2010), a PDP retomou o planejamento de médio e longo prazo em busca de um projeto de reconstrução nacional. No segundo mandato, ao diagnosticar que o país apresentava uma estrutura produtiva diversificada e com consideráveis vantagens comparativas na produção de produtos agropecuários, minerais e siderúrgicos, foi dada ênfase a ampliação das exportações. A PDP traçou quatro macro-metas para a retomada do planejamento com visão de longo prazo: a) Aumento da taxa de investimento, ou seja, da formação bruta de capital fixo; b) Ampliação das exportações 3
  • 4. brasileiras no comércio mundial; c) Elevação do investimento em Pesquisa & Desenvolvimento e d) Ampliação do número de Pequenas e Médias empresas exportadoras. (MDIC, 2010). Com essa política em curso, os sub-espaços da economia nacional tão variados quanto variadas são suas formações socioespaciais, inserem-se na economia internacional de forma distinta. Nosso objetivo foi, com a contextualização desse novo papel do Estado no planejamento, diagnosticar, num primeiro momento, como o Mato Grosso do Sul tem suas estruturas produtivas reorganizadas em função do estímulo ao comércio exterior. A Figura 2 apresenta o comportamento das exportações do estado a partir do ano 2000, dividido em três categorias: produtos básicos, semi- manufaturados e manufaturados. Para os produtos básicos (soja, minério de ferro) houve uma tendência de crescimento, com pequena inflexão após 2004 que pode ser explicada pelo período de secas e perdas na safra agrícola, além dos embargos devido à febre aftosa no rebanho bovino. A queda pós 2008 resulta da redução das exportações de minério de ferro devido à crise financeira internacional. 4
  • 5. A exportação de produtos semi-manufaturados manteve uma pequena tendência de expansão, que tem sido exaltada pela mídia e pelo setor industrial, assim como para os manufaturados. Torna-se necessário registrar que os principais grupos que dominam o comércio exterior de Mato Grosso do Sul são empresas de capital privado estrangeiro ou com matrizes localizadas em outras unidades da federação. Do total da pauta de exportações em 2009, 77,83% foi formada por empresas transnacionais ou por grupos cujas matrizes não se localizam no estado. (Ver Tabela 1). Tabela 1 – Participação das principais empresas exportadoras no total exportado pelo Mato Grosso do Sul no ano de 2009 e a variação entre 2008-2009. Ordem Empresa Participação Variação no valor percentual total ocorrida de 2008 para 2009. 1 Bertin* 11,71 219,14 2 ADM do Brasil Ltda. 11,21 -21,13 3 Seara Alimentos S/A 8,47 -17.73 4 Cargil Agrícola S/A 7,49 69,25 5 JBS S/A 4,64 11,03 6 Bunge Alimentos S/A 4,54 -47,68 7 VCP –MS Celulose 4,20 -- 8 Tavares de Melo Açúcar e Álcool S/A 4,01 -- 9 Urucum Mineração S/A 3,65 -51,28 10 Frigorífico Minerva S/A 3,56 42,04 11 Frigorífico Independência S/A 3,10 -74,10 12 Doux-Frangosul S/A 2,91 -2,20 13 BRF Brasil Foods S/A 2,80 -- 14 Cooperativa Agropecuária Mouraoense 2,39 160,48 Ltda. 15 Mineração Corumbaense Reunida S/A 1,70 -75,69 16 Louis Dreiffus Commodities S/A 1,45 -60,20 * Incorporado pelo Grupo JBS. Fonte: SECEX, 2010 Organizado por: Lisandra Lamoso A Tabela 1 apresenta a variação da participação das dezesseis principais empresas ocorrida entre o ano de 2008 e 2009. A cadeia produtiva da carne 5
  • 6. bovina, cuja pecuária extensiva tem sido base da formação socioespacial do estado (BERTHOLI, 2006) recuperou os patamares anteriores ao embargo, mas também reflete a capacidade de abate, processamento e exportação do Grupo JBS, que é o maior produtor mundial do setor. As exportações da soja em grãos, minério, e açúcar apresentaram queda em função da redução da demanda por commodities e pelos impactos da menor demanda chinesa para o período pós- crise. A PDP ao priorizar o movimento de exportação, reforçou as estruturas produtivas baseadas nas corporações transnacionais e nos grupos privados especializados na produção de commodities, com atuação no agronegócio nacional e internacional. A expressão territorial dos números da economia de exportação produz uma valorização da área que forma a Bacia do Rio Paraná, onde se concentram as estruturas produtivas voltadas para a exportação. Na Bacia do Rio Paraguai permanece, por foca de efeitos naturais, a exploração de minerais metálicos em Corumbá, cujo escoamento para exportação ocorre pela Hidrovia do Rio Paraguai. O setor de carnes, privilegiado com os aportes do BNDES para o Grupo JBS, se fortalece tendo como localização a porção mais central do estado, a capital Campo Grande, e o município de Naviraí (que possui uma unidade de abate), também o internacionalizado, Marfrig (em Bataguassu), que além do setor de carnes é proprietário da Seara Alimentos (Sidrolândia e Dourados), outro importante grupo exportador. O complexo soja está localizado no divisor das bacias, no eixo da BR 163 e da Ferronorte que são canais que permitem a fluidez e a eficiência do planejamento logístico. O crescimento da produção de celulose é acompanhado da expansão da área de reflorestamento, que ocupa a Região do Bolsão e tem sua centralidade no município de Três Lagoas, com a instalação da VCP Papel e Celulose. (Ver Mapa 1)2. Nesse processo, as estruturas produtivas formam territórios da exportação com maior concentração na porção meridional do estado, onde atuam as cooperativas, tradings, agroindústria de aves e suínos e os 2 A autora agradece a colaboração dos Professores Adelsom Soares Filho e Charlei Aparecido da Silva, e do Técnico de Laboratório Ângelo Franco do Nascimento Ribeiro (membros da equipe do projeto) na orientação para elaboração dos mapas. 6
  • 7. frigoríficos. (Ver Mapa 2). Para Veltz (1996), que trabalha com a noção de “territórios-rede”, os territórios são mais que repositórios de objetos técnicos, mas têm prente um conjunto de relações imateriais que também é apropriada, como a tradição econômica, a experiência acumulada pelos agentes econômicos e políticos, conhecer os caminhos da comercialização, do crédito, as relações com os prestadores de serviços como motoristas, mecânicos, escritórios de planejamento etc. 7
  • 8. 8
  • 9. Considerações Finais As interações entre economia de exportação e as estruturas produtivas de Mato Grosso do Sul são intensas na medida em que a política industrial em vigor (Política do Desenvolvimento Produtivo) estimula o comércio exterior como parte do processo de desenvolvimento econômico desejado para o país. Tal política, que implica também no fortalecimento dos grupos privados nacionais com aportes de capital do Estado, resulta no fortalecimento do setor do agronegócio que atua no Mato Grosso do Sul. Este setor abrange a classe dos pecuaristas (subordinados ao capital industrial e comercial dos grupos frigoríficos), do complexo soja (dominado pelas tradings transnacionais e pelas cooperativas exportadoras, entre as quais maior destaque cabe à Coamo) e pela produção de minério, exportado na forma bruta. Essa configuração provoca uma extração da renda para as matrizes dos grupos exportadores (tanto internacionais quanto aqueles localizados no próprio território nacional, mas em outras unidades da federação) e não acelera a verticalização dor processos industriais no estado. Além do tradicional par carne bovina/complexo soja, o modelo de crescimento tem permitido a expansão de dois setores: biodiesel (com o crescimento da área plantada de cana e a expansão do número de usinas) e da produção de celulose. Ambos, embora parte do crescimento industrial e das exportações do estado, implicam externalidades negativas na forma da exploração intensiva e extensiva da força de trabalho e em impactos sócio-ambientais na forma de aumento da renda da terra para a classe de proprietários capitalistas e imposição de modelos de baixa diversidade biológica e alta dependência das oscilações da demanda internacional, com prováveis impactos nas arrecadações do poder público, no emprego e na renda dos trabalhadores do setor. 9
  • 10. Referências Bibliográficas ALMEIDA, Mansueto. Desafios da real política industrial brasileira do século XXI. Textos para Discussão. São Paulo : IPEA, 2010. Versão para revisão. 71p. BARROS, Octavio de; PEREIRA, Robson Rodrigues. Desmistificando a tese da desindustrialização: reestruturação da indústria brasileira em uma época de transformações globais. In: BARROS Octavio de; GIAMBIAGI, Fabio (Org.) Brasil globalizado. Rio de Janeiro : Campus, 2008. p.299-330. BERTHOLI, Anderson. O lugar da pecuária na formação sócio-espacial sul- matogrossense. 2006. Dissertação (Mestrado em Geografia). Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Universidade Federal de Santa Catarina, 2006. COUTINHO, Luciano; SARTI, Fernando. A política industrial e a retomada do desenvolvimento. In: LAPLANE, Mario et. al. Internacionalização e desenvolvimento da indústria no Brasil. São Paulo : Editora da Unesp/Instituto de Economia da Unicamp, 2003. p.333-347. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO. Estatísticas de comércio exterior – DEPLA.< http://www.mdic.gov.br > Acesso em: 25 ago. 2010. __________ . Política de Desenvolvimento Produtivo. Disponível em <http://www.mdic.gov.br/pdp/ > Acesso em: 2 de set. 2010. RANGEL, Ignácio. Ciclo, tecnologia e crescimento. In: BENJAMIM, Cesar (org). Obras reunidas. v.2, São Paulo: Contraponto, 2005. p. 255-408. SADER, Emir. Brasil, de Getúlio a Lula. In: SADER, Emir e GARCIA, Marco Aurélio (orgs). Brasil, entre o passado e o futuro. São Paulo : Editora da Fundação Perseu Abramo/Boitempo, 2010. pp. 11-29. SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço – técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo : Hucitec, 1996. VELTZ, Pierre. Mundialización, ciudades y territórios. Barcelona : Editorial Ariel, 1996. 10