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COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO: A TESE DA “REPRIMARIZAÇÃO” DA
       PAUTA EXPORTADORA E SUAS REPERCUSSÕES PARA
                   MATO GROSSO DO SUL

                                                                                  Lisandra Pereira Lamoso
                                 Doutora em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo.
                                         Docente na Graduação e no Mestrado em Geografia da
                                            Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).
                                                                   lisandralamoso@ufgd.edu.br



           INTRODUÇÃO


           O mercado externo é acessado através das relações de comércio exterior e
representa o vetor de inserção da economia nacional nas relações internacionais. A maior
parte dos países sul-americanos teve seu modelo de desenvolvimento econômico atrelado aos
impulsos partidos do centro dinâmico do capitalismo. A forma como se ocorreu/ocorre esta
inserção é reveladora de importantes características de sua formação sócio-espacial.
           O comércio exterior brasileiro, nos anos noventa, apresentou uma redução da
participação de produtos manufaturados nas exportações, concomitantemente ao aumento
das exportações de produtos básicos, de origem agrícola e mineral. Esse aumento de
exportação de produtos de baixo valor agregado provocou discussões acerca da possível
“reprimarização” da economia brasileira.
           Gonçalves (2003) apresentou dados para os anos noventa para argumentar a
respeito do movimento de “reprimarização”:
                           A participação do Brasil no comércio mundial de produtos agrícolas
                           aumentou de 2,43% em 1990-94 para 2,92% em 1995-98. Por outro
                           lado, os produtos manufaturados mostram uma tendência de aumento
                           na primeira metade da década de 1999, mas uma queda ao longo da
                           segunda metade da década. A participação média das exportações
                           brasileiras no comércio mundial de manufaturados reduziu-se de
                           0,76% em 1990-94 para 0,68% em 1995-98.

           Segundo dados do MDIC (2010), no conjunto do total nacional, nos anos de
2006, 2007 e 2008 a participação percentual dos produtos básicos sobre o valor total foi de,
respectivamente: 29,2%, 32,1% e 36,9%. Para as exportações de manufaturados, no mesmo
período, os percentuais foram de 54,4%, 52,3% e 46,8%. Esse movimento pode ser
compreendido a partir de dois processos: como reflexo da perda de competitividade


                 Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3

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internacional dos produtos manufaturados e também como uma expressão da mudança na
estrutura das exportações, com uma participação maior dos produtos agrícolas e menor dos
produtos manufaturados.
            O movimento de “reprimarização” foi afetado pela crise financeira de 2008 e
ainda não sofreu os reflexos das recentes ações do Governo, como a Política de
Desenvolvimento Produtivo (PDP) e as ações diretas da nova política industrial no sentido de
reverter esse movimento. Este trabalho tem o objetivo de discutir as implicações do processo
de “reprimarização” das exportações para uma fração do espaço nacional, o estado de Mato
Grosso do Sul.
            Os dados sobre comércio exterior foram obtidos para o período de 2006 a 2009
na Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) nas seguintes variáveis: produção exportada,
fator agregado, empresas exportadoras, municípios exportadores. A revisão bibliográfica
considerou a discussão presente em Rangel (2001) sobre o caráter complementar da
economia brasileira frente aos países que ocupam a vanguarda do desenvolvimento e os
impulsos recebidos do centro dinâmico do capitalismo; a discussão de Paulino (2002) sobre a
inserção do Brasil na nova Divisão Internacional do Trabalho; a de Gonçalves (2003), sobre
a tese da “reprimarização da economia brasileira” no final dos anos noventa; Almeida (2009)
sobre os paradoxos da política industrial do Governo Lula e Amsden (2009) sobre os
desafios postos para os países emergentes que aumentaram sua participação no comércio
internacional baseada na recuperação do papel do Estado no comando de estratégias
nacionais de desenvolvimento.
            Aproximar a discussão da economia de exportação às reflexões no âmbito da
Geografia talvez esteja sendo o maior desafio enfrentado por essa pesquisa. Algumas
contribuições teóricas têm sido consideradas como ponto de partida. Veltz (1999) considera
que as transformações recentes na forma de produção e de comércio colocam o território
como uma matriz de organização e de interações sociais e não mais como repositório de
recursos técnicos.
            Santos já afirmava sobre isso ao abordar a transição da ação globalizada como
norma ao território local como norma. Para compreender essa nova dimensão do território
continua necessário considerar as relações entre classes e como as frações hegemônicas
internacionais se impõem de forma pontual, se valendo dos efeitos de uma eficiente



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coordenação e administração que passou a ser otimizada pelos avanços na logística de
transportes e comunicação, que acentua os fluxos e as interações espaciais. Os espaços das
economias de exportação são considerados na pesquisa segundo a expressão de Santos
(2005) como “espaços da globalização”, nos quais o mundo se dá como norma ao oferecer
oportunidade da espacialização, em diversos pontos, de seus vetores técnicos, informacionais,
econômicos, sociais, políticos e culturais”(SANTOS, 2005, p. 169).
           É no interior dessas reflexões que procuramos compreender as características do
território usado pelos principais grupos exportadores no Mato Grosso do Sul. As dinâmicas
produtivas regionais acompanharam o movimento nacional de da exportação de produtos
agroprimários e minerais.


A PREDOMINÂNCIA DO AGROPRIMÁRIO NA INSERÇÃO SUBORDINADA
AO MERCADO INTERNACIONAL


           O Mato Grosso do Sul acentuou sua inserção internacional exercendo o papel de
fornecedor de mercadorias consideradas como bens primários, parte delas como
commodities. Predomina na pauta exportadora as mercadorias do complexo soja (grãos,
bagaço e resíduo, subproduto da extração do óleo), pedaços e miudezas de galinha, minério
de ferro, carne bovina desossada entre outros. O comportamento das exportações, analisado
percentualmente (sobre o total exportado em milhões de dólares FOB) ocorreu da seguinte
forma: em 2006: 72% das exportações eram de produtos básicos e 7% manufaturados. Em
2007 – 77% de básicos e 5% de manufaturados. Em 2008, 80% de produtos básicos e 4%
de manufaturados. Apenas em 2009 houve uma inflexão nessa tendência, na seguinte ordem:
75% de básicos e 5% de manufaturados, devido à expressão da exportação de carne
desossada de bovino congelada, que foi o produto mais exportado por Mato Grosso do Sul
em 2009.
           O rol dos principais grupos exportadores do estado apresentou, para o ano de
2009, em ordem decrescente (por valor exportado): Bertin (Frigorífico), ADM, Seara
Alimentos, Cargil Agrícola, JBS (Frigorífico), Bunge Alimentos, VCP Celulose, Tavares de
Melo Açúcar e Álcool, Urucum Mineração (mineradora que pertence à Vale), Minerva
(Frigorífico), Independência (Frigorífico) e Doux-Frangosul (agroindústria de aves), BR



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Foods (união entre Sadia e Perdigão), Coamo (cooperativa que exporta grãos de soja),
Mineração Corumbaense (mineradora que pertence à Vale), Louis Dreiffus Commodities.
Essas empresas respondem por 78% do total das exportações em 2009. Não há participação
de capital privado regional, nem mesmo entre os frigoríficos mais importantes e o estado
possui o maior rebanho bovino do país.
              A base produtiva exportadora permanece baseada no complexo soja (farelo,
grãos, óleo vegetal), carne bovina, minério e a recente expansão da produção de celulose e
etanol. A produção de etanol no estado aumentou de 495.591 milhões de litros na safra
2005/2006 para 1.076.161 em 2008/2009, um aumento de 117% (dados da Única), setor
empregados de mão-de-obra indígena, conforma apontado pelo trabalho de Mota e Avelino
Junior (2009). Embora o estudo da economia de exportação ofereça uma análise parcial
sobre a estrutura produtiva presente no estado, ela permite compreender a influência da
demanda internacional sobre a expansão da área plantada de commodities internacionais e a
redução da área plantada de produtos tradicionais da alimentação básica, análise já realizada
por Aparecida de Almeida (2009).
              A política econômica de fortalecimento de determinados setores, no caso do
frigorífico e o estímulo ao estanol provocam um movimento de fortalecimento da produção
primária, não estimula processos regionais e territoriais de industrialização e organizam o
território como base de atuação do capital privado internacional, como pode ser confirmada
pela participação expressiva das tradings de grãos e das usinas de cana recentemente
instaladas.
              A produção de açúcar e álcool no estado já é dominada pela presença do capital
privado estrangeiro, tendência que foi apontada pelo trabalho de Backes em 2009. A
tradicional aliança entre capitalistas e proprietários de terra está, no estado, hegemonizada
pela coordenada pela ação do capital estrangeiro e do capital privado nacional
internacionalizado.
              As principais empresas privadas nacionais internacionalizadas, como a Vale e o
JBS, permanecem ausentes das políticas de investimento na expansão da precária
infraestrutura estadual. Setores estrangulados como a geração de energia (útil para o processo
siderúrgico em Corumbá) e transportes (duplicação das principais rodovias que cortam o




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estado e implantação de novos ramais ferroviários) não tem recebido qualquer aporte de
recursos dessas empresas capitalizadas.


Mapa 1




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CONSIDERAÇÕES FINAIS
            Há um processo de “reprimarização” da pauta exportadora que se acentua nos
anos noventa e persiste na primeira década do século XXI. Esse movimento ainda não foi
revertido pelas políticas públicas e pelos investimentos do Governo Federal, que demandarão
um tempo médio a longo de maturação e obtenção de resultados.
            Para o Mato Grosso do Sul, o incentivo às exportações de agro-primários e
minerais tem reforçado uma sobreposição de territórios, organizados pelos principais grupos
exportadores. Essa organização ocorre em função da combinação de fatores. O estado é
formado por duas principais bacias hidrográficas, a do Rio Paraguai, a oeste e do Rio Paraná,
a leste. A ocupação dos grupos exportadores se concentra na Bacia do Rio Paraná, motivada
pela proximidade com os estados de São Paulo e Paraná. Na porção meridional, uma
sobreposição da atuação dos exportadores resulta do processo histórico de ocupação e
povoamento, com predomínio da atividade pecuária, do projeto de colonização agrícola
orientado pelo Estado Varguista e pela expansão da soja, nos anos setenta.
            É na mesma porção meridional que se concentram as principais cooperativas
exportadoras, num processo contíguo que tem origem no norte do Paraná. Os frigoríficos
ocupam as “franjas” da vizinhança com o principal mercado consumidor – São Paulo –
estado no qual estão localizadas as matrizes e, portanto, o poder definidor de políticas de
expansão, comercialização e investimento.
            Na porção Nordeste, Três Lagoas assume sua centralidade na rede exportadora
valendo-se da rodovia BR 262, que corta o estado desde a vizinhança com a Bolívia, em
Corumbá, passando pela capital Campo Grande. Além do benefício do traçado da
Ferronorte. Nesse ponto, a concentração do capital exportado acontece em função da
atividade do reflorestamento e da fabricação de celulose, pela Fibria.
            O recorte da economia de exportação apresenta apenas uma das possibilidades
de leitura do território, mas é exemplar do processo de internacionalização da economia
sul-matogrossense e do quanto suas dinâmicas produtivas são definidas por interesses




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externos, tanto internacionais quanto de capitais originários de outros estados, com
predomínio de capitais paulistas e paranaenses.


BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA, Mansueto. Desafios da real política industrial brasileira do século XXI. Textos
para Discussão IPEA – n,1452. Brasília, 2009. Disponível em
http://www.ipea.gov.br/sites/000/2/publicacoes/tds/td_1452.pdf <Acesso em 15 de janeiro
de 2010>.

AMSDEN, Alice. A ascensão do resto. São Paulo : Editora da Unesp, 2009.

BACKES, Thaine. O capital agroindustrial canavieiro no Mato Grosso do Sul e a
internacionalização da produção. 2009. Dissertação (Mestrado em Geografia). Faculdade
de Ciências Humanas, Universidade Federal da Grande Dourados. Disponível em
http://www.ufgd.edu.br/fch/mestrado-geografia/dissertacoes/thaine-regina-backes

BARROS, Octavio de; PEREIRA, Robson Rodrigues. Desmistificando a tese da
desindustrialização: reestruturação da indústria brasileira em uma época de transformações
globais. In: BARROS Octavio de; GIAMBIAGI, Fabio (Org.) Brasil globalizado. Rio de
Janeiro : Campus, 2008. p.299-330.

BERTHOLI, Anderson. O lugar da pecuária na formação sócio-espacial
sul-matogrossense. 2006. Dissertação (Mestrado em Geografia). Centro de Filosofia e
Ciências Humanas. Universidade Federal de Santa Catarina, 2006.

BITTAR, Marisa. Mato Grosso do Sul – a construção de um estado: regionalismo e
divisionismo no sul de Mato Grosso. Vol. 1. Campo Grande : Editora da UFMS, 2009.

COUTINHO, Luciano; SARTI, Fernando. A política industrial e a retomada do
desenvolvimento. In: LAPLANE, Mario et. al. Internacionalização e desenvolvimento da
indústria no Brasil. São Paulo : Editora da Unesp/Instituto de Economia da Unicamp, 2003.
p.333-347.

GONÇALVES, Reinaldo. O Brasil e o comércio internacional: transformações e
perspectivas. São Paulo : Contexto, 2003.
PAULINO, Luíz Antônio. O Brasil Seus Sócios e Seus Negócios. São Paulo em
Perspectiva, São Paulo, v. 16, n. 02, p.82-93, 2002.
RANGEL, Ignácio. Ciclo, tecnologia e crescimento. In: BENJAMIM, Cesar (org). Obras
reunidas. v.2, São Paulo: Contraponto, 2005a. p. 255-408.

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Rangel/Bienal, 1999.




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SADER, Emir. Brasil, de Getúlio a Lula. In: SADER, Emir e GARCIA, Marco Aurélio
(orgs). Brasil, entre o passado e o futuro. São Paulo : Editora da Fundação Perseu
Abramo/Boitempo, 2010. pp. 11-29.

SANTOS, Milton. A formação social como teoria e como método. Boletim Paulista de
Geografia. n.54, 1977.

__________ . A Natureza do Espaço – técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo :
Hucitec, 1996.

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MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO. Estatísticas
de comércio exterior – DEPLA.< http://www.mdic.gov.br > Acesso em: 28 mar. 2009.

__________ . Política de Desenvolvimento Produtivo. Disponível em
<http://www.mdic.gov.br/pdp/ > Acesso em: 24 de abr. 2010.

VELTZ, Pierre. Mundialización, ciudades y territórios. Barcelona : Editorial Ariel, 1996.




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Lamoso comércio exterior brasileiro e a tese da reprimarização da economia

  • 1. COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO: A TESE DA “REPRIMARIZAÇÃO” DA PAUTA EXPORTADORA E SUAS REPERCUSSÕES PARA MATO GROSSO DO SUL Lisandra Pereira Lamoso Doutora em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo. Docente na Graduação e no Mestrado em Geografia da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). lisandralamoso@ufgd.edu.br INTRODUÇÃO O mercado externo é acessado através das relações de comércio exterior e representa o vetor de inserção da economia nacional nas relações internacionais. A maior parte dos países sul-americanos teve seu modelo de desenvolvimento econômico atrelado aos impulsos partidos do centro dinâmico do capitalismo. A forma como se ocorreu/ocorre esta inserção é reveladora de importantes características de sua formação sócio-espacial. O comércio exterior brasileiro, nos anos noventa, apresentou uma redução da participação de produtos manufaturados nas exportações, concomitantemente ao aumento das exportações de produtos básicos, de origem agrícola e mineral. Esse aumento de exportação de produtos de baixo valor agregado provocou discussões acerca da possível “reprimarização” da economia brasileira. Gonçalves (2003) apresentou dados para os anos noventa para argumentar a respeito do movimento de “reprimarização”: A participação do Brasil no comércio mundial de produtos agrícolas aumentou de 2,43% em 1990-94 para 2,92% em 1995-98. Por outro lado, os produtos manufaturados mostram uma tendência de aumento na primeira metade da década de 1999, mas uma queda ao longo da segunda metade da década. A participação média das exportações brasileiras no comércio mundial de manufaturados reduziu-se de 0,76% em 1990-94 para 0,68% em 1995-98. Segundo dados do MDIC (2010), no conjunto do total nacional, nos anos de 2006, 2007 e 2008 a participação percentual dos produtos básicos sobre o valor total foi de, respectivamente: 29,2%, 32,1% e 36,9%. Para as exportações de manufaturados, no mesmo período, os percentuais foram de 54,4%, 52,3% e 46,8%. Esse movimento pode ser compreendido a partir de dois processos: como reflexo da perda de competitividade Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 1
  • 2. 2 internacional dos produtos manufaturados e também como uma expressão da mudança na estrutura das exportações, com uma participação maior dos produtos agrícolas e menor dos produtos manufaturados. O movimento de “reprimarização” foi afetado pela crise financeira de 2008 e ainda não sofreu os reflexos das recentes ações do Governo, como a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) e as ações diretas da nova política industrial no sentido de reverter esse movimento. Este trabalho tem o objetivo de discutir as implicações do processo de “reprimarização” das exportações para uma fração do espaço nacional, o estado de Mato Grosso do Sul. Os dados sobre comércio exterior foram obtidos para o período de 2006 a 2009 na Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) nas seguintes variáveis: produção exportada, fator agregado, empresas exportadoras, municípios exportadores. A revisão bibliográfica considerou a discussão presente em Rangel (2001) sobre o caráter complementar da economia brasileira frente aos países que ocupam a vanguarda do desenvolvimento e os impulsos recebidos do centro dinâmico do capitalismo; a discussão de Paulino (2002) sobre a inserção do Brasil na nova Divisão Internacional do Trabalho; a de Gonçalves (2003), sobre a tese da “reprimarização da economia brasileira” no final dos anos noventa; Almeida (2009) sobre os paradoxos da política industrial do Governo Lula e Amsden (2009) sobre os desafios postos para os países emergentes que aumentaram sua participação no comércio internacional baseada na recuperação do papel do Estado no comando de estratégias nacionais de desenvolvimento. Aproximar a discussão da economia de exportação às reflexões no âmbito da Geografia talvez esteja sendo o maior desafio enfrentado por essa pesquisa. Algumas contribuições teóricas têm sido consideradas como ponto de partida. Veltz (1999) considera que as transformações recentes na forma de produção e de comércio colocam o território como uma matriz de organização e de interações sociais e não mais como repositório de recursos técnicos. Santos já afirmava sobre isso ao abordar a transição da ação globalizada como norma ao território local como norma. Para compreender essa nova dimensão do território continua necessário considerar as relações entre classes e como as frações hegemônicas internacionais se impõem de forma pontual, se valendo dos efeitos de uma eficiente Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 2
  • 3. 3 coordenação e administração que passou a ser otimizada pelos avanços na logística de transportes e comunicação, que acentua os fluxos e as interações espaciais. Os espaços das economias de exportação são considerados na pesquisa segundo a expressão de Santos (2005) como “espaços da globalização”, nos quais o mundo se dá como norma ao oferecer oportunidade da espacialização, em diversos pontos, de seus vetores técnicos, informacionais, econômicos, sociais, políticos e culturais”(SANTOS, 2005, p. 169). É no interior dessas reflexões que procuramos compreender as características do território usado pelos principais grupos exportadores no Mato Grosso do Sul. As dinâmicas produtivas regionais acompanharam o movimento nacional de da exportação de produtos agroprimários e minerais. A PREDOMINÂNCIA DO AGROPRIMÁRIO NA INSERÇÃO SUBORDINADA AO MERCADO INTERNACIONAL O Mato Grosso do Sul acentuou sua inserção internacional exercendo o papel de fornecedor de mercadorias consideradas como bens primários, parte delas como commodities. Predomina na pauta exportadora as mercadorias do complexo soja (grãos, bagaço e resíduo, subproduto da extração do óleo), pedaços e miudezas de galinha, minério de ferro, carne bovina desossada entre outros. O comportamento das exportações, analisado percentualmente (sobre o total exportado em milhões de dólares FOB) ocorreu da seguinte forma: em 2006: 72% das exportações eram de produtos básicos e 7% manufaturados. Em 2007 – 77% de básicos e 5% de manufaturados. Em 2008, 80% de produtos básicos e 4% de manufaturados. Apenas em 2009 houve uma inflexão nessa tendência, na seguinte ordem: 75% de básicos e 5% de manufaturados, devido à expressão da exportação de carne desossada de bovino congelada, que foi o produto mais exportado por Mato Grosso do Sul em 2009. O rol dos principais grupos exportadores do estado apresentou, para o ano de 2009, em ordem decrescente (por valor exportado): Bertin (Frigorífico), ADM, Seara Alimentos, Cargil Agrícola, JBS (Frigorífico), Bunge Alimentos, VCP Celulose, Tavares de Melo Açúcar e Álcool, Urucum Mineração (mineradora que pertence à Vale), Minerva (Frigorífico), Independência (Frigorífico) e Doux-Frangosul (agroindústria de aves), BR Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 3
  • 4. 4 Foods (união entre Sadia e Perdigão), Coamo (cooperativa que exporta grãos de soja), Mineração Corumbaense (mineradora que pertence à Vale), Louis Dreiffus Commodities. Essas empresas respondem por 78% do total das exportações em 2009. Não há participação de capital privado regional, nem mesmo entre os frigoríficos mais importantes e o estado possui o maior rebanho bovino do país. A base produtiva exportadora permanece baseada no complexo soja (farelo, grãos, óleo vegetal), carne bovina, minério e a recente expansão da produção de celulose e etanol. A produção de etanol no estado aumentou de 495.591 milhões de litros na safra 2005/2006 para 1.076.161 em 2008/2009, um aumento de 117% (dados da Única), setor empregados de mão-de-obra indígena, conforma apontado pelo trabalho de Mota e Avelino Junior (2009). Embora o estudo da economia de exportação ofereça uma análise parcial sobre a estrutura produtiva presente no estado, ela permite compreender a influência da demanda internacional sobre a expansão da área plantada de commodities internacionais e a redução da área plantada de produtos tradicionais da alimentação básica, análise já realizada por Aparecida de Almeida (2009). A política econômica de fortalecimento de determinados setores, no caso do frigorífico e o estímulo ao estanol provocam um movimento de fortalecimento da produção primária, não estimula processos regionais e territoriais de industrialização e organizam o território como base de atuação do capital privado internacional, como pode ser confirmada pela participação expressiva das tradings de grãos e das usinas de cana recentemente instaladas. A produção de açúcar e álcool no estado já é dominada pela presença do capital privado estrangeiro, tendência que foi apontada pelo trabalho de Backes em 2009. A tradicional aliança entre capitalistas e proprietários de terra está, no estado, hegemonizada pela coordenada pela ação do capital estrangeiro e do capital privado nacional internacionalizado. As principais empresas privadas nacionais internacionalizadas, como a Vale e o JBS, permanecem ausentes das políticas de investimento na expansão da precária infraestrutura estadual. Setores estrangulados como a geração de energia (útil para o processo siderúrgico em Corumbá) e transportes (duplicação das principais rodovias que cortam o Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 4
  • 5. 5 estado e implantação de novos ramais ferroviários) não tem recebido qualquer aporte de recursos dessas empresas capitalizadas. Mapa 1 Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 5
  • 6. 6 Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 6
  • 7. 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Há um processo de “reprimarização” da pauta exportadora que se acentua nos anos noventa e persiste na primeira década do século XXI. Esse movimento ainda não foi revertido pelas políticas públicas e pelos investimentos do Governo Federal, que demandarão um tempo médio a longo de maturação e obtenção de resultados. Para o Mato Grosso do Sul, o incentivo às exportações de agro-primários e minerais tem reforçado uma sobreposição de territórios, organizados pelos principais grupos exportadores. Essa organização ocorre em função da combinação de fatores. O estado é formado por duas principais bacias hidrográficas, a do Rio Paraguai, a oeste e do Rio Paraná, a leste. A ocupação dos grupos exportadores se concentra na Bacia do Rio Paraná, motivada pela proximidade com os estados de São Paulo e Paraná. Na porção meridional, uma sobreposição da atuação dos exportadores resulta do processo histórico de ocupação e povoamento, com predomínio da atividade pecuária, do projeto de colonização agrícola orientado pelo Estado Varguista e pela expansão da soja, nos anos setenta. É na mesma porção meridional que se concentram as principais cooperativas exportadoras, num processo contíguo que tem origem no norte do Paraná. Os frigoríficos ocupam as “franjas” da vizinhança com o principal mercado consumidor – São Paulo – estado no qual estão localizadas as matrizes e, portanto, o poder definidor de políticas de expansão, comercialização e investimento. Na porção Nordeste, Três Lagoas assume sua centralidade na rede exportadora valendo-se da rodovia BR 262, que corta o estado desde a vizinhança com a Bolívia, em Corumbá, passando pela capital Campo Grande. Além do benefício do traçado da Ferronorte. Nesse ponto, a concentração do capital exportado acontece em função da atividade do reflorestamento e da fabricação de celulose, pela Fibria. O recorte da economia de exportação apresenta apenas uma das possibilidades de leitura do território, mas é exemplar do processo de internacionalização da economia sul-matogrossense e do quanto suas dinâmicas produtivas são definidas por interesses Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 7
  • 8. 8 externos, tanto internacionais quanto de capitais originários de outros estados, com predomínio de capitais paulistas e paranaenses. BIBLIOGRAFIA ALMEIDA, Mansueto. Desafios da real política industrial brasileira do século XXI. Textos para Discussão IPEA – n,1452. Brasília, 2009. Disponível em http://www.ipea.gov.br/sites/000/2/publicacoes/tds/td_1452.pdf <Acesso em 15 de janeiro de 2010>. AMSDEN, Alice. A ascensão do resto. São Paulo : Editora da Unesp, 2009. BACKES, Thaine. O capital agroindustrial canavieiro no Mato Grosso do Sul e a internacionalização da produção. 2009. Dissertação (Mestrado em Geografia). Faculdade de Ciências Humanas, Universidade Federal da Grande Dourados. Disponível em http://www.ufgd.edu.br/fch/mestrado-geografia/dissertacoes/thaine-regina-backes BARROS, Octavio de; PEREIRA, Robson Rodrigues. Desmistificando a tese da desindustrialização: reestruturação da indústria brasileira em uma época de transformações globais. In: BARROS Octavio de; GIAMBIAGI, Fabio (Org.) Brasil globalizado. Rio de Janeiro : Campus, 2008. p.299-330. BERTHOLI, Anderson. O lugar da pecuária na formação sócio-espacial sul-matogrossense. 2006. Dissertação (Mestrado em Geografia). Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Universidade Federal de Santa Catarina, 2006. BITTAR, Marisa. Mato Grosso do Sul – a construção de um estado: regionalismo e divisionismo no sul de Mato Grosso. Vol. 1. Campo Grande : Editora da UFMS, 2009. COUTINHO, Luciano; SARTI, Fernando. A política industrial e a retomada do desenvolvimento. In: LAPLANE, Mario et. al. Internacionalização e desenvolvimento da indústria no Brasil. São Paulo : Editora da Unesp/Instituto de Economia da Unicamp, 2003. p.333-347. GONÇALVES, Reinaldo. O Brasil e o comércio internacional: transformações e perspectivas. São Paulo : Contexto, 2003. PAULINO, Luíz Antônio. O Brasil Seus Sócios e Seus Negócios. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 16, n. 02, p.82-93, 2002. RANGEL, Ignácio. Ciclo, tecnologia e crescimento. In: BENJAMIM, Cesar (org). Obras reunidas. v.2, São Paulo: Contraponto, 2005a. p. 255-408. __________ . Dualidade básica da economia brasileira. 2ed. [s.l.] : Instituto Ignácio Rangel/Bienal, 1999. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 8
  • 9. 9 SADER, Emir. Brasil, de Getúlio a Lula. In: SADER, Emir e GARCIA, Marco Aurélio (orgs). Brasil, entre o passado e o futuro. São Paulo : Editora da Fundação Perseu Abramo/Boitempo, 2010. pp. 11-29. SANTOS, Milton. A formação social como teoria e como método. Boletim Paulista de Geografia. n.54, 1977. __________ . A Natureza do Espaço – técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo : Hucitec, 1996. __________ . Espaço e método. São Paulo : Nobel, 1985. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO. Estatísticas de comércio exterior – DEPLA.< http://www.mdic.gov.br > Acesso em: 28 mar. 2009. __________ . Política de Desenvolvimento Produtivo. Disponível em <http://www.mdic.gov.br/pdp/ > Acesso em: 24 de abr. 2010. VELTZ, Pierre. Mundialización, ciudades y territórios. Barcelona : Editorial Ariel, 1996. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 9