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ECONOMIA BRASILEIRA
                                                                                                                            ISSN 1676-5486
Edição Especial do Informe Conjuntural                                                    Ano 26 Número 04 dezembro de 2010 www.cni.org.br




Restrições à competitividade                                                                        TEMA ESPECIAL                      4
limitam crescimento da indústria                                                                 A indústria dois anos após a crise:
                                                                                                 Situação é heterogênea entre os
                                                                                                 setores industriais
O Brasil retomou o ciclo de expansão           O balanço da manufatura nos dois anos
interrompido com a crise internacional. O      pós-crise mostra que os segmentos
crescimento de 7,6% do PIB em 2010 é,          sujeitos à competição internacional, tanto                  ECONOMIA
inclusive, o mais expressivo da década.        nos mercados globais como no mercado
A indústria mostra o melhor desempenho         doméstico, seguem em dificuldades. As
                                                                                                  BRASILEIRA EM 2010
entre os setores de atividade.                 perdas são concentradas na indústria, o


                                                                                                                                       9
                                               que torna sua percepção pela sociedade
Ainda assim, há descompasso entre a evolu-     mais difícil. A continuidade desse processo
ção da demanda doméstica e da produção.
                                                                                                    atividade econômica
                                               terá como conseqüência uma indústria                 PIB tem o maior crescimento
O forte ritmo de expansão do investimento e    menor e menos diversificada.                         da década
do consumo não tem alcançado na mesma
intensidade a produção da indústria de         Essas dificuldades refletem não apenas
transformação. Essa avaliação fica nítida no   uma situação conjuntural mundial desfa-
segundo semestre, quando o crescimento
da indústria se reduziu.
                                               vorável, mas também o pouco avanço na
                                               agenda da competitividade, que foi esque-
                                                                                                    emprego e salário
                                                                                                    Mercado de trabalho em seu
                                                                                                                                       13
                                               cida no ciclo de expansão anterior à crise.
A valorização cambial está na raiz desse                                                            melhor momento
                                               A retomada dessa agenda é crucial na
problema. Reverter esse processo não           estratégia de longo prazo para consolidar


                                                                                                                                       16
é trivial. O câmbio valorizado tem suas        uma indústria de alto valor agregado, diver-
funções na economia. De um lado,               sificada e integrada ao mercado global.              inflação, juros e
favorece o controle da inflação e o
                                               O desafio da política econômica é compa-             crédito
acesso a bens e insumos importados. De
                                               tibilizar essa estratégia com as ações de            Preços dos alimentos ditam a
outro, viabiliza a absorção de poupança
                                               curto prazo necessárias para assegurar o             inflação de 2010
externa em uma economia de baixa taxa
de poupança.                                   crescimento. É indispensável rever o tripé

Essa situação é uma ameaça ao processo
                                               macroeconômico (meta de inflação, câmbio
                                               flutuante e metas fiscais) com a adoção de           política fiscal
                                                                                                    Forte aumento dos gastos
                                                                                                                                   20
de crescimento sustentado. A provável          metas fiscais críveis e ambiciosas, para mi-
alta dos juros, em resposta à aceleração       nimizar o esforço da política monetária. Essa        públicos impõe maior custo à
da inflação, irá criar maior pressão sobe o    nova calibragem exige firmeza na execução            política monetária
câmbio, exacerbando as dificuldades de         do orçamento federal de 2011, com maior
competição dos produtos brasileiros.           contigenciamento de despesas correntes.
                                                                                                    setor externo                  24
                                                                                       7
                                                                                                    Comércio exterior
     PERSPECTIVAS 2011                                                                              brasileiro recupera níveis
     Crescimento do PIB em 2011 será menor que em 2010                                              pré-crise
Economia BrasilEira
                                                                                             Ano 26, n. 04, dezembro de 2010




balanço 2010

Demanda doméstica impulsiona PIB de 2010

Após queda de 0,6% do PIB em             à competição internacional –, o            Os segmentos onde as importações
2009, a economia brasileira deverá       crescimento acentuado da demanda           cresceram mais intensamente são
crescer 7,6% em 2010. O motor dessa      foi atendido, de forma crescente, pelas    Confecção de artigos de vestuário e
superação foi a demanda doméstica.       importações.                               acessórios, Veículos automotores,
                                                                                    reboques e carrocerias, Produtos
O intenso aumento da demanda             Dos 26 setores da indústria pesquisados    minerais não-metálicos, Máquinas,
foi motivado por políticas de            pela PIM-PF/IBGE, 12 ainda não             aparelhos e materiais elétricos, Móveis
transferência de renda, aumento do       conseguiram registrar crescimento da       e indústrias diversas e Produtos têxteis.
salário mínimo, aumento do emprego       produção industrial na comparação
formal, crescimento da massa salarial    entre 2010 e o período anterior à crise.   Apesar da desaceleração observada
e do crédito pessoa física. Todos        Entre os mais afetados, destacam-se os     nos últimos meses, a indústria registrou
esses indicadores se encontram em        setores Material eletrônico, aparelhos     níveis históricos de crescimento,
patamares superiores ao pré-crise.       e equipamentos de comunicação,             chegando a alcançar uma variação de
                                         Madeira e Metalurgia básica.               10,9% no PIB em 2010.
Impulsionado por esses fatores, o
consumo das famílias, que alcançará      O mesmo não se viu com o setor de
                                                                                    Fluxo comercial
expansão de 7,9% em 2010, responde       serviços. Nesse a demanda mais forte
pela maior parte do crescimento do PIB   implicou necessariamente no aumento        brasileiro atinge níveis
em 2010. Outro fator determinante para   da atividade.                              históricos
o aumento da demanda foi o desempe-
nho dos investimentos ao longo do ano.   Verificamos assim que o país não           O valor das exportações cresceu em
                                         aproveitou plenamente o intenso            torno de 30% em 2010. O ganho nas
Nesse sentido, a CNI estima que          aquecimento da demanda doméstica,          receitas de exportação foi gerado
a formação bruta de capital fixo         que cresceu de forma mais acentuada        principalmente pelo aumento dos preços
cresça 24,5% no ano e o peso dos         no primeiro trimestre deste ano.           internacionais das commodities.
investimentos no PIB seja de 19,6%,
o que cria a expectativa de um ciclo     A apreciação da moeda doméstica            A quantidade exportada cresceu apenas
virtuoso de crescimento para o país.     não permitiu uma resposta mais             8%, sendo que grande parte desse
                                         intensa da indústria que perdeu            crescimento concentrou-se em produtos
A expansão da demanda doméstica          participação no mercado para               básicos. Nesse sentido, é importante
beneficiou todos os setores da           produtos importados. Esse fato é           destacar a inversão na pauta de
economia. Entretanto, para a             verificado no crescimento de 35,6%         exportação. Pela primeira vez em mais
indústria, em especial a indústria       das importações em 2010, pela              de 30 anos, as exportações de produtos
de transformação – mais sujeita          metodologia das Contas Nacionais.          básicos irá superar a de manufaturados.



                                                             2
Economia BrasilEira
         Ano 26, n. 04, dezembro de 2010




A questão cambial tem uma importante
influência para esse resultado. A eleva-        Exportação brasileira por categoria de produto
da entrada de dólares continua apre-            Participação sobre o total (%)
ciando o real de forma gradativa, o que         Exportações de produtos básicos superam as de
representa uma forte ameaça à indústria         manufaturados em 2010
nacional. A apreciação acumulada des-            90

de o final de 2008 abriu espaço para um          80

forte ingresso de produtos importados            70
(bens intermediários, de capital e finais).      60

                                                 50
Se, por um lado, esse movimento traz
                                                 40
um visível benefício para o consumidor
                                                 30
nacional – além de facilitar o controle
                                                 20
inflacionário –, por outro, os prejuízos à
produção industrial são marcantes.               10

                                                  0
                                                      1964 1966 1968 1970 1972 1974 1976 1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010*
A recuperação da economia também                                                     Básicos        Semimanufaturados             Manufaturados
pode ser observada pelo bom momento             Fonte: MDIC/SECEX
do mercado de trabalho. No acumulado            * Estimativa CNI


de janeiro a outubro de 2010 foram
criados 2,4 milhões de empregos com
carteira assinada, o que representa o         contrapartida, a volatilidade dos preços                            cresceram 11,4% entre janeiro e
dobro do fluxo registrado no mesmo            dos grupos administrados, industriais e                             outubro de 2010, com relação ao
período em 2009.                              serviços se mantiveram relativamente                                mesmo período do ano anterior. Esse
                                              estáveis. Assim, a previsão é de que o                              crescimento foi ainda mais significativo
O emprego na indústria cresce a despei-
                                              IPCA feche o ano em 5,8%, acima do                                  tendo em vista a política fiscal
to da moderação da atividade industrial
                                              centro da meta de 4,5% para 2010.                                   expansionista de 2009, que foi usada
no segundo trimestre de 2010. Esse
                                                                                                                  como medida de contenção da crise.
fato pode ser explicado em um primeiro        Por conta desse quadro, o Copom
momento pela redução da ociosidade e,         iniciou em abril deste ano um ciclo de                              Por conta disso, a meta de superávit
em seguinda, pela ampliação do parque         altas na taxa básica de juros fazendo a                             primário só foi cumprida pelo ingresso de
produtivo, visando atender a crescente        Selic alcançar 10,75% a.a. em agosto.                               recursos do processo de capitalização da
demanda interna do país.                      Somado a isso, medidas de aumento no                                Petrobras. Dessa forma, o superávit pri-
                                              compulsório dos bancos para reduzir o                               mário deve atingir 2,30% do PIB em 2010,
Na questão inflacionária, destacamos
                                              excesso de liquidez de crédito também                               acima da meta ajustada de 2,15% do PIB.
que a maior volatilidade no IPCA se deu
                                              foram empregadas em dezembro.
basicamente por conta da flutuação nos                                                                            Além de impor dificuldade ao cumpri-
preços dos alimentos. Esse grupo atin-        Por fim, o crescimento da demanda                                   mento da meta fiscal, o forte aumento
giu expansão de 9,2% no acumulado de          em 2010 contou com forte expansão                                   do gasto público impôs maior custo à
12 meses até novembro de 2010. Em             fiscal. Os gastos do Governo Federal                                política monetária no controle da inflação.



                                                                                 3
Economia BrasilEira
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tema especial: a indústria dois anos após a crise

Situação é heterogênea entre os setores
industriais
A crise internacional, que se instaurou
após setembro de 2008, ocasionou uma          Taxa de crescimento da produção dos setores da indústria de
                                              transformação
série de problemas à indústria de trans-
                                              Variação entre jan-set 2010 e jan-set 2008 (%)
formação brasileira. Passados dois anos
                                              Diversos setores ainda não se recuperaram
do início desse período, pode-se avaliar,
                                              totalmente da crise
a partir dos dados relativos à produção,
exportação, importação, faturamento e                                                       Bebidas
emprego, como os diversos setores da                                                  Farmacêutica
indústria se encontram.                             Perfum., sabões, deterg. e prod. de limpeza
                                                                       Outros equip. de transporte
A principal conclusão é a grande hetero-                   Equip. de instrum. méd.-hospitalar,
                                                                              ópticos e outros
geneidade de recuperação dos diversos                                               Alimentos
setores da indústria de transformação em                                         Produtos de metal
relação ao período pré-crise (acumulado                                      Minerais não metálicos
de janeiro-setembro de 2008). Constata-                                                   Mobiliário
-se que existe espaço para reabilitação                                                    Diversos
da produção e das exportações em                                 Celulose, papel e prod. de papel
determinados ramos e uma entrada                                             Outros prod. químicos
considerável de produtos importados em                                        Veículos automotores
diversos segmentos industriais.                        Máq. para escrit. e equip. de informática
                                                                                                           Edição, impr. e reprod. de gravações
Produção setorial se                                                                                       Refino de petróleo e álcool

recupera parcialmente                                                                                      Máquinas e equipamentos

                                                                                                           Vestuário e acessórios
da crise                                                                                                   Borracha e plástico

                                                                                                           Têxtil
Analisando os efeitos da crise em cada                                                                     Calçados e artig. de couro
setor a partir da produção industrial (PIM-                                                                Metalurgia básica
-PF/IBGE), tem-se o seguinte cenário: na                                                                   Madeira
comparação com o ano de 2009, dos 26                                                                       Fumo
setores analisados, 24 apresentam cres-                                                                    Máq., apar. e materiais elétricos
cimento da produção, com destaque para                                                                     Material eletr., apar. e equip. de comunicações
Máquinas e equipamentos, Veículos auto-       -30                -20                -10                0                10               20              30
motores, Produtos de metal e Metalurgia
                                               Fonte: PIM/IBGE
básica – todos com taxa de crescimento



                                                                         4
Economia BrasilEira
        Ano 26, n. 04, dezembro de 2010




superior a 20% na comparação entre            realça a perda de mercado externo das
                                                                                                             Importações
janeiro e setembro de 2010 e 2009. Os         indústrias nacionais, refletindo tanto o
dois primeiros setores receberam fortes       câmbio apreciado, como a queda de dina-                        superaram período
estímulos de políticas públicas no período    mismo do comércio internacional.                               pré-crise na grande
de crise, como redução de impostos
(IPI) e/ou juros mais baixos. Todavia, na     Os setores com queda mais expressiva                           maioria dos setores
comparação entre o período de 2010 e          nas exportações (superior a 20,0%)
                                                                                                             Nas importações o cenário é de aumento
2008, dos 26 setores, 12 apresentam           frente a 2008 são Outros equipamentos
                                              de transporte, Material eletrônico e de                        do valor importado para todos os setores
taxa negativa, ou seja, não recuperaram o
                                              comunicações, Produtos de madeira,                             frente a 2009. Em relação ao mesmo
nível de produção do pré-crise.
                                              Confecção de artigos do vestuário e                            período de 2008, dos 22 setores pesqui-
Os principais ramos industriais com           acessórios, Metalurgia básica (um dos                          sados, 17 cresceram. Esse fato demons-
produção inferior ao período pré-crise são    principais setores da pauta de expor-                          tra o aumento da entrada de produtos im-
Material eletrônico, aparelhos e equipa-      tação nacional) e Edição, impressão                            portados de variados setores da indústria
mentos de comunicações, Máquinas, apa-        e reprodução de gravações. Os três                             de transformação na economia nacional,
relhos e materiais elétricos, Fumo, Madeira   setores com crescimento das exporta-                           que ocorreu em função principalmente
e Metalurgia básica – todos com nível         ções em relação a 2008 são Celulose,                           do câmbio valorizado e do aquecimento
5,0% inferior a 2008. Na mesma base de        papel e produtos de papel, Produtos                            do mercado doméstico. Os setores em
comparação, os setores que melhor se          alimentícios e bebidas e Produtos quí-                         que as importações superaram o período
recuperaram são Bebidas, Farmacêutica,        micos – setores com grande participa-                          pré-crise em mais de 20,0% são Confec-
Perfumaria, sabões, detergentes e produ-      ção na pauta de exportação brasileira.                         ção de artigos do vestuário e acessórios,
tos de limpeza e Outros equipamentos de
transporte – com taxas de crescimento su-
periores a 5,0%. Esses setores (à exceção
                                                Setores com melhor desempenho após a crise
de Outros equipamentos de transporte)
                                                Variação entre jan-set 2010 e jan-set 2008 (%)
estão ligados ao aquecimento da econo-
mia doméstica e ao crescimento do poder
                                                Alguns setores demonstram boa recuperação depois de serem
                                                afetados pela crise
de compra da classe C.
                                                          15,9

Exportações estão                                   8,7
                                                                                   11,4
                                                                                                11,0
                                                                                                                                                10,7
                                                                                                                                                       9,4
                                                                                                                                                             10,9
                                                                 7,9 7,2                  8,3
abaixo do nível de 2008                                                                                1,6
                                                                                                             3,9
                                                                                                                          2,9 2,4


Outro indicador importante da evolução
dos setores da indústria é o valor das
exportações e das importações (SECEX/                                                                              -9,7
MDIC). Os dados das exportações no
acumulado janeiro-setembro demonstram                                                                                                   -19,4
que, dos 22 setores analisados, apenas                                             Celulose, papel e
                                                  Alimentos e bebidas                                        Produtos químicos          Produtos de metal
                                                                                   produtos de papel
dois apresentam queda entre 2010 e
2009. Frente ao mesmo período de 2008,                                     Exportação           Importação    Faturamento           Emprego

19 desses 22 setores exibem variação            Fonte: SECEX / MDIC e CNI.
                                                Elaboração: CNI
negativa nas exportações. Essa situação


                                                                               5
Economia BrasilEira
                                                                                                                                Ano 26, n. 04, dezembro de 2010




tema especial: a indústria dois anos após a crise
Veículos automotores, reboques e carroce-                    mentos de transporte, Couros e calçados                   com maior contratação são Produtos de
rias, Produtos de minerais não-metálicos,                    e Vestuário. Os setores que ainda não                     metal, Alimentos e bebidas, Minerais
Máquinas, aparelhos e materiais elétricos,                   se recuperaram em relação ao período                      não-metálicos e Máquinas, aparelhos
Móveis e indústrias diversas e Produtos                      pré-crise são os de Madeira, Metalurgia                   e materiais elétricos – todos acima
têxteis. Esses são segmentos da indústria                    básica, Refino e álcool e Material eletrô-                de 5,0%. Esses setores apresentam
que, na sua maioria, estão fortemente liga-                  nico e de comunicação. Esses são ramos                    crescimento do faturamento e da
dos ao atendimento do mercado interno.                       industriais onde a produção e exportação                  produção (à exceção de Máquinas,
                                                             ainda estão abaixo do nível de 2008.                      aparelhos e materiais elétricos) em
Quanto ao faturamento (Indicadores
                                                                                                                       relação a 2008. Os segmentos industriais
Industriais - CNI), nota-se que em relação                   A situação do indicador de emprego
                                                                                                                       onde o emprego ainda é inferior ao
a 2009, de 19 setores considerados, 17                       (Indicadores Industriais - CNI) é diferente:
                                                                                                                       mesmo período de 2008 são Madeira,
apresentam crescimento. Os setores que                       18 dos 19 setores superaram o número
                                                                                                                       Vestuário, Outros equipamentos de
mais se destacam nessa comparação                            de empregados em relação a 2009. Os
                                                                                                                       transporte, Material eletrônico e de
                                                             setores que mais se destacam são os de
são Edição e impressão, Máquinas e                                                                                     comunicação e Metalurgia básica.
                                                             Produtos de metal, Material eletrônico
equipamentos e Veículos automotores. Já
                                                             e de comunicação, Couros e calçados e
com relação a 2008, são 14 setores com
                                                             Máquinas, aparelhos e materiais elétricos.                Setores com forte
crescimento do indicador. Os mais ex-
pressivos (crescimento superior a 15,0%)                     Na comparação com 2008, 11 setores                        participação na
são Edição e impressão, Outros equipa-                       exibiram variação positiva. Os setores                    produção tem melhor
                                                                                                                       desempenho
   Setores que não se recuperaram totalmente da crise                                                                  A partir da análise dos diversos indicado-
   Variação entre jan-set 2010 e jan-set 2008 (%)                                                                      res acima, os setores com situação mais
   Alguns setores tem exibido maior dificuldade de se recuperar                                                        favorável em relação ao período pré-crise
   dos efeitos da crise                                                                                                são Alimentos e bebidas, Produtos quími-
                                                                                                       24,4
                                                                                                                       cos, Produtos de metal e Celulose, papel e
                                17,2
                                                      13,1                                                             produtos de papel. Esses são setores com
                                                                                                                       forte participação na produção e exporta-
                                          2,6                                                                 3,8
                                                                              0,1
                                                                                                                       ção (à exceção de Produtos de metal) na
                                   -1,3
                          -4,8                                    -4,0                   -4,6
                                                                                                                -2,0   economia nacional. Nos dados analisados
                                                                                                    -7,5
                                                                                 -10,5                                 verificou-se que esses ramos exibiram
                                                          -17,5                                                        crescimento em relação a janeiro-setem-
            -20,5
          -23,8 -23,4                                                                                                  bro de 2008 tanto em produção como em
                                                  -29,6
     -35,4                                                                                                             exportação. Outros ramos da indústria
                                                                         -39,4
                                                                                                                       ainda não conseguiram se recuperar
                                                                          Material eletr.,
        Madeira
                            Borracha e               Metalurgia
                                                                         apar. e equip. de                 Têxtil
                                                                                                                       totalmente do período de crise: Madeira,
                             plástico                 básica
                                                                          comunicações                                 Material eletrônico, aparelhos e equipa-
                         Exportação             Importação         Faturamento       Emprego
                                                                                                                       mentos de comunicações, Metalurgia
   Fonte: SECEX / MDIC e CNI.
   Elaboração: CNI                                                                                                     básica, Têxtil e Borracha e plástico.



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Economia BrasilEira
        Ano 26, n. 04, dezembro de 2010




P E R S P E C T I V A S                                                            2011
Crescimento do PIB em 2011 será
menor que em 2010
Passada a crise financeira e a euforia     industriais para o próximo ano,                 iii. Setor externo: é esperada a
da recuperação vista no início do ano,     o que contribuiria de forma                          continuação do efeito adverso do
a economia brasileira caminha em           significativa para a ampliação da                    vazamento da demanda doméstica
uma trajetória de convergência ao seu      capacidade produtiva em 2011. Por                    para fora do país. O crescimento
potencial de crescimento.                  conta disso, a atividade industrial                  das importações acima do da
                                           deverá crescer um pouco acima                        produção industrial levará à perda
A estimativa da CNI para a expansão        de 1,0% em média por trimestre                       de participação da indústria no
da economia é de 4,5% em 2011.             ao longo de 2011, de forma a                         mercado doméstico. Além disso,
Três fatores explicam esse ritmo de        registrar uma expansão do PIB                        a menor reação das exportações
crescimento:                               industrial de 4,5%.                                  reduz o saldo da balança comercial.

i.    Consumo das famílias: o
      forte aumento da demanda            PIB e PIB industrial
      interna continuará sustentando      Variação frente ao ano anterior (%)
      o crescimento, dada a               Taxas de crescimento do PIB total e da indústria
      expectativa de continuidade         coincidem em 2011
      de expansão do mercado de           12
      trabalho. Com isso, o consumo       10
      das famílias continuará               8
      expandindo ancorado também            6
      no crescimento do crédito e          4
      nos programas de transferência        2
      de renda.                             0
                                           -2
ii.   Investimentos: esse componente      -4
      do PIB não deverá crescer da         -6
      mesma forma que em 2010,            -8
                                                 2001         2002   2003   2004   2005   2006   2007        2008   2009   2010* 2011*
      mas há grande expectativa em
                                                                                   PIB      PIB industrial
      relação a novos investimentos
                                          Fonte: IBGE
      por parte das empresas              * Estimativas CNI




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perspectivas 2011

Para 2011, a CNI estima menor              O governo continuará insistindo em        A redução do caráter expansionista
crescimento das importações (de            medidas de contenção de curto prazo       da política fiscal deverá requerer
35,6% em 2010 para 23,3% em 2011).         para impedir a valorização do real em     menor elevação na taxa básica de
Já as exportações deverão crescer em       2011, como acúmulo de reservas e          juros. A previsão da CNI é que a Selic
ritmo muito próximo ao de 2010.            aumento de tributação sobre aplicações    encerre 2011 em 12,00 % a.a..
                                           em carteira no Brasil.
Esses movimentos farão com que a                                                     Gastos deverão
contribuição do setor externo para a       Para conter essa tendência, o Governo
variação do PIB passe de -2,7 pontos       poderia focar em medidas de longo         ser revistos para
percentuais (p.p.) em 2010 para em         prazo para aumentar a poupança            2011
-2,0 p.p. em 2011.                         interna, começando pela contenção do
                                           crescimento de gastos correntes do        Caso não haja alterações na proposta
Cenário cambial com                        setor público.                            orçamentária, o caráter expansionista
                                                                                     da política fiscal deverá permanecer
pouca alteração em                         O saldo comercial deverá continuar        para o próximo ano e mais uma vez a
2011                                       refletindo a valorização da taxa de       conta pelo controle da inflação deve
                                           câmbio. Em 2010, o saldo foi de           ser paga pela política monetária.
O fluxo de investimento estrangeiro        US$15 bilhões e a previsão para 2011
direto continuará forte em 2011, dada a                                              Entretanto, o cumprimento da
                                           é de US$ 4 bilhões. Em contrapartida,
maior atratividade do Brasil no cenário                                              meta fiscal requer corte de R$ 19
                                           o déficit em conta corrente deverá
mundial. Essa será uma condição                                                      bilhões nas despesas previstas na
                                           atingir 3,0% do PIB em 2011, um
importante para financiar o déficit em                                               proposta orçamentária. Com isso, o
                                           aumento substancial frente a 2,4%
transações correntes, o que reduz                                                    ritmo de crescimento das despesas
                                           registrado em 2010.
a probabilidade de crise nas contas                                                  deve ficar próximo do crescimento
externas no curto prazo.                                                             real esperado para o PIB,
                                           Mudança na                                reduzindo o caráter expansionista da
No entanto, a entrada de capitais
estrangeiros continuará com o processo
                                           dinâmica da inflação                      política fiscal.

de valorização do real, o que dificulta    em 2011                                   A CNI estima que em 2011 o setor
um crescimento mais intenso da                                                       público deve obter superávit primário
                                           As medidas de restrição ao crédito        de 2,2% do PIB. A queda do superávit
produção industrial doméstica.
                                           definidas pelo Banco Central e a          primário e o aumento das despesas
O investimento estrangeiro direto          provável elevação da taxa de juros        com juros em relação a 2010 farão
somou US$ 25,9 bilhões em 2009. A          Selic mudarão o cenário inflacionário     com que o déficit nominal se eleve
projeção do Banco Central para este ano    em 2011. Enquanto que em 2010 a           para 3,2% do PIB.
é de US$ 30 bilhões e, para 2011, de       inflação ganhou ritmo, em 2011 haverá
US$ 45 bilhões. Esse volume financia       desaceleração dos preços. Desta forma,    Apesar disso, o crescimento do PIB
parcialmente o déficit em conta corrente   o IPCA deverá ficar próximo ao centro     deve garantir pequena redução na
que hoje é de cerca de 48 bilhões de       da meta (4,5% a.a.) e acumulará alta de   relação dívida/PIB, que deve terminar
dólares no acumulado em 12 meses.          5% em 2011.                               2011 em 40,4% do PIB.



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Economia BrasilEira
        Ano 26, n. 04, dezembro de 2010




atividade econômica

PIB tem o maior crescimento da década
O ano de 2010 registrou um forte cresci-
                                              Estimativas de taxas de crescimento do PIB para 2010 e seus componentes
mento da economia brasileira, com o PIB
                                              Variação frente ao ano anterior (%)
se expandindo 7,6% (estimativa CNI). O
                                              Crescimento da demanda doméstica impulsiona as importações
intenso crescimento econômico se deu
mesmo com uma trajetória de perda de                                                          35,6
ritmo a partir do segundo trimestre.
                                                                         24,5
O crescimento do PIB só não foi maior,
basicamente, por duas razões: a) grande
                                                                                  11,5                                   10,9
parte das medidas de desoneração                  7,9                                                                                          7,6
                                                                                                            7,0                      5,7
tributária foram suspensas no fim do                          4,0

primeiro trimestre; e b) a valorização do
                                                Consumo     Consumo do   FBKF   Exportações Importações Agropecuária    Indústria   Serviços   PIB
real fez parte do crescimento da demanda       das famílias   governo

doméstica escoar para o setor externo
                                                                    Ótica da demanda                                   Ótica da oferta
(via aumento das importações).
                                               Estimativas: CNI

É importante destacar que o IBGE revisou
o PIB de 2009 de forma que a redução
de 0,2% para a economia naquele ano         desde 1995. Esse comportamento é re-                     no acumulado do ano até outubro, frente
deu lugar a uma queda de 0,6%. Nesse        sultado do forte crescimento do emprego                  ao mesmo período do ano anterior, as
contexto o PIB industrial intensificou a    – sobretudo formal –, do crescimento da                  importações (em quantum) desses bens
queda para 6,4%. Ou seja, o impacto da      massa salarial, do crédito, dos programas                cresceram 42,1%. O desempenho dos
crise internacional foi mais intenso do     do governo de transferência de renda e                   investimentos em 2010 é de chamar a
que o que se acreditava anteriormente.      do aumento do salário mínimo.                            atenção: a CNI estima que a formação
                                                                                                     bruta de capital fixo cresça 24,5% no ano,
                                            A expansão da economia quando ancora-
Consumo das famílias                        da em mais investimentos cria um ciclo
                                                                                                     de forma que a parcela dos investimentos
                                                                                                     no PIB, que tinha recuado para 16,9% em
foi o componente do                         de crescimento sustentável e cada vez                    2009, irá subir para 19,6% em 2010.
                                            mais próximo de seu potencial. A forma-
lado da demanda que                         ção bruta de capital fixo cresceu 25,6%                  O forte crescimento da demanda domésti-
mais impulsionou o                          no acumulado dos três primeiros trimes-                  ca associado a valorização do real impul-

PIB em 2010                                 tres do ano, frente ao mesmo período do
                                            ano anterior. As importações de máquinas
                                                                                                     sionou as importações em 2010 para um
                                                                                                     crescimento de 35,6% (Contas Nacionais).
A demanda interna foi preponderante         e equipamentos supriram grande parte                     Como as exportações cresceram em ritmo
para o crescimento econômico. O consu-      do aumento dos investimentos em 2010.                    muito inferior (estimativa de 11,5%) a
mo das famílias deverá crescer 7,9% em      Enquanto a produção doméstica de bens                    contribuição negativa do setor externo no
2010, o que é a maior taxa de expansão      de capital (PIM-PF/IBGE) cresceu 24,0%                   PIB deverá ser de 2,7 pontos percentuais.



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atividade econômica

PIB industrial cresce
                                              Índice de produção da indústria de transformação e de
10,9% e volta ao nível                        atividade da construção civil

de antes da crise                             Índice de difusão*
                                              Atividade industrial da construção civil foi mais dinâmica do
Mesmo com a perda de ritmo ao longo           que a da indústria de transformação
do ano, a indústria continuou produzindo      65
em níveis historicamente altos, nos pa-
tamares vigentes antes do contágio da         60

crise internacional. Se a indústria foi o
setor mais atingido pela crise em 2009,       55

também será o setor que mais crescerá
                                              50
(10,9%) em 2010 e, portanto, o que
mais contribuirá – pelo lado da oferta –
                                              45
para o crescimento do PIB desse ano.

                                              40
A indústria da construção civil mostrou
                                                      jan         fev         mar      abr       mai        jun        jul          ago          set         out
um desempenho notável em 2010. O                      2010

indicador de atividade do setor (Sondagem                  Indústria extrativa e de transformação           Construção civil              Linha de 50 pontos

                                              Fonte: Sondagem Industrial CNI
da Construção Civil CNI) ficou acima de 50    * Valores acima de 50 pontos indicam aumento da produção ou da atividade industrial

pontos em todo o ano de 2010 (indicado-
res acima de 50 pontos apontam aumento
da atividade do setor na comparação com       Utilização da capacidade instalada da indústria de transformação
o mês anterior). Pela metodologia das         Em (%)
Contas Nacionais, o PIB da construção civil   Acomodação da UCI abre espaço para a indústria atender
cresceu 13,6% no acumulado dos três pri-      aumentos repentinos de demanda
meiros trimestres do ano, frente ao mes-
                                              85
mo período do ano anterior. A expectativa           Pico histórico
                                              84
da CNI é que em 2010 esse componente
                                              83
do PIB cresça à taxa de 13,0%.
                                              82

Considerando apenas a indústria de            81

transformação (PIM-PF/IBGE), a produção       80

cresceu 11,7% no acumulado de janeiro         79
a outubro de 2010, frente ao mesmo            78
período do ano anterior. As vendas            77
reais (Indicadores Industriais CNI) do        76
setor cresceram 10,4% enquanto que                 jan      abr         jul    out     jan       abr       jul      out        jan         abr         jul     out
                                                   2008                                2009                                    2010
o emprego (Indicadores Industriais CNI)
                                              Fonte: Indicadores Industriais CNI
aumentou em 5,4% no mesmo período.



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Economia BrasilEira
        Ano 26, n. 04, dezembro de 2010




É importante considerar que mesmo             2009. A CNI estima um crescimento de                               contratações irá manter o crescimento
em um período de atividade moderada           7,0% do PIB da agropecuária em 2010.                               da massa salarial, mesmo que em ritmo
da indústria de transformação após o                                                                             mais lento. Esse fato, somado ao cres-
primeiro trimestre do ano, o emprego do       Crescimento da                                                     cimento do crédito é condição para que
setor continuou crescendo, o que pode                                                                            o dinamismo do consumo das famílias
ser uma sinalização de investimento no
                                              economia em 2011                                                   continue presente, mostrando um cres-
parque produtivo da indústria.                deverá ser de 4,5%                                                 cimento ao redor de 5,1%. O aumento
                                                                                                                 do consumo das famílias também
Enquanto que em 2009 a indústria              O cenário traçado pela CNI para 2011 é                             exercerá pressões positivas no desem-
reduziu a capacidade ociosa de forma          de continuidade do crescimento econô-                              penho do setor de serviços: a projeção
contínua, como reflexo da recuperação         mico, mas de forma mais moderada. A                                da CNI para o PIB de serviços é de um
da crise, em 2010 o maior fluxo de            estimativa de uma alta de 4,5% do PIB                              crescimento de 4,8%, o que representa
investimentos ampliou o parque indus-         para o ano que vem aponta uma diminui-                             uma taxa superior a da expansão do PIB
trial. A utilização da capacidade instalada   ção do hiato do produto (diferença entre                           para o ano.
(UCI/CNI) mostrou uma trajetória de           o PIB efetivo e potencial). As simulações
queda de maio a setembro de 2010,             para o crescimento do PIB potencial                                Os investimentos vão crescer menos
quando atingiu 82,0%. Mesmo com o             estão entre 4,1% e 4,3% na média dos                               do que em 2010 – em grande medida
ligeiro crescimento da UCI em outubro,        últimos 5 anos.                                                    em função da base de comparação –,
para 82,2%, ainda há espaço frente ao                                                                            mas continuarão ampliando a capacida-
nível pré-crise (83,2%) ou mesmo o pico       O mercado de trabalho continuará                                   de produtiva em 2011. A Pesquisa de
histórico (83,8% em fevereiro de 2008).       ofertando mais vagas formais, o que                                Investimento, conduzida pela CNI com
Essa folga aponta flexibilidade do setor      estimula o consumo, dada a maior                                   empresários do setor entre outubro e
industrial para atender aumentos repenti-     segurança que essa modalidade de                                   novembro, aponta que dentre as em-
nos de demanda.                               ocupação oferece. O forte fluxo de                                 presas consultadas, 92,0% pretendem

O dinamismo do consumo das famílias             PIB efetivo e potencial
também impulsionou a atividade do               Número índice base 1995 = 100
setor de serviços. Esse setor cresceu           PIB inicia convergência para seu potencial de crescimento
5,7% no acumulado do ano até outu-
                                                160
bro, frente ao mesmo período do ano
anterior. Dadas as boas expectativas            155

quanto ao consumo para as festas de             150
fim de ano, a CNI estima que a taxa de
                                                145
crescimento de 5,7% se mantenha no
mesmo patamar para o ano fechado de             140

2010, comparativamente a 2009.                  135

                                                130
A agropecuária registrou crescimento
importante em diversos produtos agrícolas       125
                                                         I    II    III IV      I    II    III IV       I   II     III IV     I    II    III IV        I    II    III
e abate de animais que mostraram
                                                               2006                   2007                   2008                  2009                    2010
desempenho superior em 2010 (pelas                                                        PIB efetivo                  PIB potencial
estimativas do IBGE) do que o apurado em        Fonte: IBGE
                                                Elaboração: estimativas da CNI para PIB potencial a partir de simulações com filtro Hodrick-Prescott




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                                                                                                                                Ano 26, n. 04, dezembro de 2010




atividade econômica
                                                                                                                       investir em 2011. A CNI projeta um cres-
 Expectativa do empresário industrial em relação ao aumento de demanda                                                 cimento de 13,5% da formação bruta de
 e à quantidade exportada para os próximos seis meses                                                                  capital fixo para o ano que vem.
 Índice de difusão*

 Otimismo quanto à demanda futura depende mais do                                                                      A contribuição negativa do setor externo
 mercado doméstico do que o externo                                                                                    para o crescimento do PIB deverá se re-
                                                                                                                       duzir para 2,0 pontos percentuais no ano
 70                                                                                                                    que vem, dado o menor diferencial entre
                                                                                                                       as taxas de crescimento das exporta-
 65
                                                                                                                       ções (estimativa de expansão de 11,0%)
                                                                                                                       e importações (estimativa de 23,3%).
 60

                                                                                                                       A atividade industrial deverá crescer
 55
                                                                                                                       um pouco acima de 1,0% em média por
 50                                                                                                                    trimestre ao longo de 2011, de forma a
                                                                                                                       registrar uma expansão do PIB industrial
 45                                                                                                                    de 4,5%. As perspectivas para o setor
        jan         fev       mar      abr       mai       jun       jul      ago        set         out         nov
        2010                                                                                                           são positivas (Sondagem Industrial CNI),
                          Demanda             Quantidade exportada                  Linha de 50 pontos                 uma vez que o indicador de expectativa
 Fonte: Sondagem Industrial CNI
 * Valores acima de 50 pontos indicam aumento da produção ou da atividade industrial
                                                                                                                       em relação ao aumento do emprego
                                                                                                                       ultrapassou os 60 pontos (indicadores
                                                                                                                       acima de 50 pontos apontam expectati-
 Estimativa de PIB                                                                                                     va de crescimento do emprego). Cabe
 Variação (%) e contribuição dos componentes do PIB (p.p.)                                                             ressaltar que as expectativas sobre o
                                                                                        2011
                                                                                                                       aumento da demanda futura continuam
               Componentes do PIB                                      Taxa de                      Contribuição       positivas, embora menos otimistas do que
                                                                  crescimento (%)                      (p.p.)          no início do ano, o que corrobora com o
               Consumo das famílias                                      5,1                            3,2
               Consumo do governo                                        3,0                            0,6            cenário de desaceleração do crescimento
 Ótica da
               FBKF                                                     13,5                            2,6            da demanda em 2011. É bom frisar que
 demanda
               Exportações                                              11,0                            1,3
               (-) importações                                          23,3                            3,3            a expectativa de aumento da demanda
                                                                                                                       futura está mais pautada na demanda
               Agropecuária                                                4,0                             0,2         interna, uma vez que a expectativa quanto
               Indústria                                                   4,5                             1,2
                  Indústria extrativa                                      5,0                             0,1
                                                                                                                       à quantidade exportada é de queda.
 Ótica da         Indústria de transformação                               4,0                             0,7
 oferta           Construção civil                                         6,0                             0,3         Um ponto de atenção é a valorização do
                  SIUP                                                     4,2                             0,1
                                                                                                                       real e a possibilidade do início de alta dos
               Serviços                                                    4,8                             3,2
                                                                                                                       juros em 2011. Esses fatores poderão
               PIB pm                                                      4,5                                         minar ainda mais a competitividade do
                                                                                                                       setor industrial no ano que vem e reduzir o
 Elaboração: CNI
                                                                                                                       ritmo de expansão da economia.



                                                                                               12
Economia BrasilEira
       Ano 26, n. 04, dezembro de 2010




emprego e salário

Mercado de trabalho em
seu melhor momento
Passados os efeitos da crise                Emprego e produção da indústria
internacional, o mercado de trabalho        Número índice base jan/2005 = 100 - dessazonalizado
apresenta um dinamismo inédito em           Emprego continuou crescendo mesmo com moderação da
2010. O emprego metropolitano voltou a      atividade industrial
crescer com força (PME/IBGE), de forma      120
que o indicador de criação de vagas no
                                            115
acumulado de 12 meses ultrapassou os
patamares de antes da crise. Ou seja, o     110
total de vagas encerradas com a crise
                                            105
foi restabelecido e superado.
                                            100
Emprego formal
                                             95
continua sendo
                                             90
o propulsor do                                    jan
                                                  2008
                                                         abr     jul    out       jan
                                                                                  2009
                                                                                           abr    jul     out       jan
                                                                                                                    2010
                                                                                                                           abr   jul   out


crescimento                                                                 Produção industrial    Emprego industrial

                                             Fonte: CNI e IBGE
O bom momento do mercado de
trabalho pode ser percebido pela
maior criação de empregos formais.        o emprego sem carteira reduziu 0,7%                     Os dados do Cadastro Geral de
Das 840 mil vagas criadas nas seis        e a ocupação por conta própria recuou                   Empregados e Desempregados (Caged/
regiões metropolitanas nos últimos        1,0% no mesmo período.                                  MTE) apontam a forte velocidade de
12 meses até outubro, 804 mil foram                                                               criação de vagas formais em todo
com carteira assinada do setor            O crescimento do emprego com                            território nacional. Nos 10 primeiros
privado. Em outros termos, a criação      carteira assinada em detrimento das                     meses de 2010, mais de 2,4 milhões de
de empregos formais representou 96%       ocupações informais eleva o grau de                     empregos com carteira assinada foram
de todos as novas vagas nos últimos       formalidade do mercado de trabalho.                     criados. Em termos de comparação, esse
12 meses. Em termos relativos,            Esse indicador – que é calculado                        volume de novas vagas é o dobro do
o emprego com carteira assinada           pela razão entre o pessoal ocupado                      registrado no mesmo período de 2009.
cresceu de forma intensa em todo          com carteira assinada, estatutários e
ano de 2010 até atingir expansão de       militares pelo total da ocupação – está                 A indústria criou 42,0% dos empregos
8,4% em outubro, frente ao mesmo          no maior patamar (58,8%) da série                       formais em 2010. Somando os quatro
mês do ano anterior. Nesse contexto,      histórica da PME.                                       setores da indústria (indústria de



                                                                       13
Economia BrasilEira
                                                                                                                 Ano 26, n. 04, dezembro de 2010




emprego e salário
transformação, extrativa, de construção
                                            Ocupação e população economicamente ativa
civil e serviços industriais de utilidade   Variação frente ao mesmo mês do ano anterior (%)
pública) o total de criação de empregos
                                            Taxa de crescimento da ocupação mais intensa do que da PEA
formais de janeiro a outubro de 2010 foi    reduz pressão sobre a taxa desemprego
de 1 milhão.                                 5

                                             4
Emprego cresce                               3

mesmo com                                    2

acomodação da                                1


atividade industrial                         0

                                            -1
O emprego na indústria (Indicadores
                                            -2
Industriais - CNI) continuou crescendo,
                                            -3
mesmo em um cenário de acomodação             out          abr       out          abr         out         abr         out          abr       out
da produção industrial, desde abril           2006         2007                   2008                    2009                     2010
                                                                                         Ocupação          PEA
deste ano. Essa aparente disparidade
                                            Fonte: PME/IBGE
pode ser explicada pelo investimento
para ampliar a capacidade produtiva. A
confiança do empresário industrial (ICEI/
CNI) continua elevada. Mesmo com a
queda de 68 pontos em janeiro (pico
histórico) para 62 pontos em novembro,      Taxa de desemprego metropoliatana
o indicador ainda se mantém acima da        Variação frente ao mesmo mês do ano anterior (%)
média histórica (valores acima de 50        Taxa de desemprego em 2010 recuou de maneira continua e
pontos apontam otimismo enquanto            acelerada
valores abaixo de 50 pontos indicam         9,5
pessimismo).                                                       2009
                                            9,0


Queda acelerada da
                                            8,5
                                                                          2008
                                            8,0
taxa de desemprego é                        7,5

atípica                                     7,0
                                                           2010
                                                                                                                                                   6,8
                                            6,5
A redução da taxa de desemprego nas
regiões metropolitanas ocorreu de forma     6,0
                                                                                                                                               5,7
quase que contínua, diferentemente          5,5
                                                     jan     fev   mar      abr    mai       jun    jul     ago       set    out     nov     dez
do que ocorreu nos anos anteriores.
                                            Fonte: IBGE. Projeção: CNI
Historicamente, há tendência de queda



                                                                   14
Economia BrasilEira
          Ano 26, n. 04, dezembro de 2010




do desemprego no segundo trimestre,                 Como a projeção de expansão para o      IBGE) nas seis principais regiões
mas não de forma contínua e intensa                 PIB de 2011 está perto do crescimento   metropolitanas do Brasil aumenta o
como ocorreu em 2010.                               potencial da economia, o problema       ritmo de crescimento. Esse indicador
                                                    quanto à taxa de desemprego no          avançou em ritmo cada vez mais intenso
Esse movimento tem sido gerado                      Brasil perde importância e dá lugar     ao longo do ano até atingir alta de 8,0%
não só pela criação de empregos,                    à dificuldade que alguns setores da     frente ao mesmo mês do ano anterior
mas pela menor procura por vaga                     indústria têm em encontrar mão-         – maior alta desde o início da série
de trabalho. A força de trabalho –                  de-obra qualificada. Para a indústria   histórica, em março de 2002.
População Economicamente Ativa                      de construção civil, por exemplo, o
(PEA) – cresce em ritmo inferior à                  problema de falta de mão-de-obra        A massa salarial real, que é calculada
ocupação desde meados de 2007, o                    qualificada é o primeiro no ranking     pela multiplicação dos salários médios
que abre um diferencial entre essas                 de principais problemas do setor        reais pelo número de ocupados, vem
taxas de crescimento. Quanto maior                  (Sondagem da Construção Civil - CNI).   aumentando seu ritmo de crescimento
esse diferencial, menor será a pressão                                                      de forma a alcançar uma expansão de
exercida sobre a taxa de desemprego.
                                                    Crescimento do                          10,7% em outubro de 2010, compa-
                                                                                            rativamente ao mesmo mês do ano
A CNI estima que em dezembro a taxa                 poder de compra                         anterior. Essa aceleração fez com que a
de desemprego chegue a 5,7% (míni-
ma histórica), o que resultaria em uma              dos trabalhadores irá                   massa salarial média no acumulado de
                                                                                            2010 até outubro seja 7,2% superior a
média anual de 6,8%. A tendência de                 garantir avanço da                      do mesmo período de 2009.
queda anual da taxa de desemprego de-
verá se manter em 2011. A CNI estima
                                                    demanda interna                         A contínua expansão do emprego
que o indicador médio de 2011 fique em              A renda média real habitualmente        formal – que traz maior confiança para
torno de 6,0%.                                      recebida pelo trabalhador (PME/         o consumo –, o forte crescimento
                                                                                            da massa salarial e a expansão do
                                                                                            crédito continuarão sendo os pilares de
  Massa salarial real habitual metropolitana                                                sustentação da demanda interna, a qual
  Variação frente ao mesmo mês do ano anterior (%)                                          continuará crescendo bem acima do
  Crescimento da massa salarial é recorde                                                   ritmo da demanda global.

  12
                                                                                            O cenário futuro para o mercado de
  10                                                                                        trabalho é bastante positivo. A CNI
                                                                                            estima que em 2011 o mercado de
   8                                                                                        trabalho continue com o processo
                                                                                            de contratação e de formalização da
   6
                                                                                            mão-de-obra, com reflexos positivos à
   4                                                                                        massa salarial e, consequentemente, ao
                                                                                            consumo doméstico. A PEA continuará
   2
                                                                                            crescendo de forma menos intensa
   0                                                                                        do que o emprego em 2011, o que
       jan    abr     jul     out     jan    abr   jul   out   jan    abr    jul   out      deverá reduzir ainda mais a taxa de
       2008                           2009                     2010
                                                                                            desemprego no ano.
  Fonte: IBGE. Cálculo: CNI




                                                                            15
Economia BrasilEira
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inflação, juros e crédito

Preços dos alimentos ditam a
inflação de 2010
O ano de 2010 foi caracterizado pela
                                             Volatilidade dos componentes do IPCA
alta volatilidade no índice oficial de
                                             Mínima, máxima e atual variação acumulada nos últimos 12 meses (%)
inflação IPCA. O índice flutuou, entre
                                             Alimentos trouxeram forte volatilidade ao IPCA em 2010
janeiro e novembro, de 4,59% a 5,64%,
no acumulado em 12 meses. Em ape-            10,0

nas um mês do ano (agosto) o índice           9,0
alcançou o centro da meta de inflação,        8,0
em 4,5% a.a..
                                              7,0

A inflação mostrou trajetória de              6,0

aceleração nos últimos meses do ano.          5,0
Contudo, o movimento nos preços               4,0
se dá de forma heterogênea entre
                                              3,0
os quatro principais componentes do
                                              2,0
IPCA: alimentos, serviços, administra-                Administrados    Industriais        Serviços       Alimentação            IPCA
dos e produtos industriais.                                                     Valor atual (novembro de 2010)
                                             Fonte: IBGE
                                             Elaboração: CNI

Alta nos preços
dos alimentos                              superior: média de 6,7%, no acumulado
                                           em 12 meses.
                                                                                             crise internacional teve um caráter defla-
                                                                                             cionário no Brasil, que resultou inclusive
compromete o                                                                                 em índices com variações negativas
                                           O IPCA acompanhou a trajetória dos
alcance do centro                          alimentos. Esses, com 23% do peso total,
                                                                                             em 2009. O IGP-M (FGV) terminou o
                                                                                             ano passado com variação negativa de
da meta                                    contribuíram essencialmente para trazer
                                                                                             1,71% a.a.. Assim, os preços reajustados
                                           volatilidade ao IPCA. Os preços admi-
Durante o ano, os preços dos produtos                                                        em função desse tipo de índice tiveram
                                           nistrados e de produtos industriais, que
alimentares aceleraram, passando dos                                                         aumento controlado em 2010.
                                           representam cerca de 52% do índice total,
3,6% acumulado em 12 meses em              pouco contribuíram para a pressão infla-
janeiro (menor valor do ano), até chegar                                                     Os preços industriais registraram
                                           cionária observada dos últimos meses. Os
a 9,2% a.a. em novembro. A inflação                                                          baixa inflação durante todo o ano
                                           serviços, que representam cerca de 25%
dos administrados e dos produtos                                                             (média de 3,5% a.a. em 2010 até
                                           do índice como um todo, sustentaram o
industriais mantiveram-se relativamente                                                      novembro) em função de dois fatores:
                                           IPCA em um patamar elevado.
estáveis, e dentro da meta de inflação.                                                      os efeitos da política de elevação
A inflação nos serviços manteve-se         Os preços administrados sofreram forte            de juros praticada pelo Copom em
estável também, mas em um nível            influência da baixa inflação de 2009. A           meados do ano e do câmbio.



                                                                  16
Economia BrasilEira
          Ano 26, n. 04, dezembro de 2010




Os produtos industriais são os                             meses acima dos 6%. Apesar de pouco            Para 2010, faltando apenas a variação
mais afetados pela alta na Selic.                          volátil, seu patamar sustenta a alta do        de dezembro, o IPCA já está pratica-
A resposta ao aumento nas taxas                            IPCA, mostrando baixa sensibilidade às         mente definido. As medidas de restri-
nas operações de crédito afeta a                           variações na taxa de juros.                    ção ao crédito colocadas em prática
demanda por esse tipo de bem.                                                                             no começo de dezembro já devem
                                                           Os preços dos alimentos apresentaram           surtir algum efeito, mas não evitarão
Apesar de não ser o causador da
                                                           comportamento distinto dos demais.             uma aceleração no índice. Assim, a
pressão de alta no IPCA, as elevações
                                                           Esses foram fortemente influenciados           CNI prevê que o ano termine com IPCA
praticadas pelo Copom durante o
                                                           por questões diversas, como os preços          acumulado em 5,8% a.a..
ano influenciaram prioritariamente os
                                                           internacionais de commodities, proble-
preços industriais.
                                                           mas de safra e flutuações sazonais. Até        Aumento nos
O câmbio altamente valorizado é o outro                    abril, o movimento era de forte aumento
ponto que contribui para essa situação:                    nos preços em função dessas questões.          juros não impediu
o produto importado, mais barato em                        Com a regularização da safra e o fim           volatilidade do IPCA
função do câmbio, é forte concorrente                      dos problemas de chuva, o movimento
                                                           se inverteu, mostrando retração até            O Copom não ficou alheio às pressões
dos produtos nacionais.
                                                           agosto. Contudo, a elevação abrupta nos        inflacionárias observadas no IPCA. O
Os preços dos serviços registraram                         preços das commodities internacionais          ano se iniciou com forte expansão nos
inflação em um patamar elevado, como                       desde junho contribuiu para carregar os        preços dos alimentos, cuja inflação
já se observa nos últimos anos. Desde                      preços domésticos (o indicador do FMI          passou de 3,6% a.a. em janeiro para
meados de 2008 o índice desse sub-                         de preços dos alimentos subiu 17,4% de         quase 7% a.a. em abril. Com o reflexo no
grupo apresenta taxa acumulada em 12                       junho a outubro).                              IPCA, o Copom iniciou novo ciclo de altas
                                                                                                          na Selic: foram 2 p.p. de abril a julho,
                                                                                                          chegando a 10,75% a.a..
 IPCA e Selic
 Variação acumulada em 12 meses do IPCA e taxa anual da Selic (%)                                         A partir de abril o IPCA voltou a recuar,
                                                                                                          alcançando o centro da meta em agosto.
 Aceleração da inflação aponta para medidas monetárias
 restritivas                                                                                              Essa adequação se deu mais em função
                                                                                                          de regularização na oferta de alimentos
  6,5                                                                                                16
                                                                                                          (que apresentaram processo deflacio-
                                                                                                     15
  6,0                                                                                                     nário no período) do que pelo canal dos
                                                                                            5,8*     14   juros. Contudo, mais uma vez o processo
  5,5
                                                                                                     13   de elevação nos preços dos alimentos
  5,0                                                                                                12   toma forma nos últimos meses, carre-
                                                                                                          gando o IPCA.
                                                                                                     11
  4,5
                                                                                                     10   Essa pressão provocou medidas
  4,0
                                                                                                     9    visando controlar a liquidez da
  3,5                                                                                                8
                                                                                                          economia. O Banco Central anunciou
        dez      abr       ago        dez       abr       ago    dez       abr        ago      dez        no início de dezembro medidas de
        2007     2008                           2009                       2010
                                   IPCA (esquerda)                  Selic (direita)
                                                                                                          restrição ao crédito ao consumidor e
  Fonte: IBGE e Banco Central do Brasil Elaboração: CNI
                                                                                                          elevação dos compulsórios (que foram
  * Estimativa CNI




                                                                                       17
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inflação, juros e crédito
reduzidos durante a crise), de forma
a retirar R$ 61 bilhões da economia.         Concessão de crédito com recursos livres à pessoa física e jurídica
O resultado esperado não é imediato,         Média dos últimos 12 meses contra os 12 meses anteriores (%)
mas deverá surtir efeitos sobre a taxa       Apenas o crédito às pessoas físicas retomou o crescimento pré-crise
de inflação nos próximos meses.
                                               25

Com a taxa Selic em 10,75% a.a. e a            20
previsão da CNI para a inflação no ano, a
                                               15
taxa de juros real média de 2010 deverá
ser de 4,6% a.a..                              10

                                                5
Descompasso entre                               0
o crédito às pessoas                           -5

físicas e jurídicas                           -10
                                                    out        fev        jun        out       fev        jun         out        fev       jun          out
A evolução nas concessões de crédito,               2007       2008                            2009                              2010
                                                                                    Pessoa física                Pessoa jurídica
especialmente com recursos livres
                                             Fonte: Banco Central do Brasil
(de origem da própria instituição            Elaboração: CNI

financeira), mostram um mesmo ciclo
tanto para pessoas jurídicas como
físicas, com uma queda após o início
da crise e a recuperação durante o ano
de 2010. Contudo, a intensidade da           Atraso maior do que 90 dias da pessoa jurídica
retração e o tempo de recuperação dos        Proporção do crédito total (%)
dois foram distintos.                        Inadimplência das empresas cai lentamente

Depois de desacelerar durante todo o         4,0

período após o início da crise, o ritmo de
expansão do crédito com recursos livres      3,5

às pessoas jurídicas voltou a crescer nos
                                             3,0
últimos meses, mas ainda não alcançou
o nível de expansão observado antes da
                                             2,5
crise. Já o crédito às pessoas físicas,
que apresentou desaceleração mais
                                             2,0
amena, já superou o patamar pré-crise
no início do ano.
                                             1,5
                                                    fev        jun            out       fev         jun         out          fev         jun        out
Essa diferença na dinâmica se                       2008                                2009                                 2010
deu essencialmente pela forma                Fonte: Banco Central do Brasil
                                             Elaboração: CNI
como o Governo tratou os dois



                                                                       18
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tomadores com as medidas anti-            a expansão do consumo interno e da        reajustados pela inflação, como
crise. Enquanto o crédito à pessoa        economia foi fortemente influenciada      aluguel, educação e serviços de
física foi impulsionado pelo crédito      pela extensão dos efeitos das medidas     saúde. Além disso, a falta de mão-
com recursos privados (medidas            governamentais adotadas durante a         de-obra qualificada e o baixo nível de
de redução de compulsórios,               crise. Esses mecanismos começaram         desemprego devem elevar os salários
garantia aos bancos pequenos e            a ser desmontados: fim das isenções       dos profissionais liberais, contribuindo
incentivo ao crédito ao consumidor),      e reduções do IPI (à exceção da           para maior pressão nos preços.
o crédito à pessoa jurídica foi           construção civil), fim do Programa
sustentado pelos recursos                 de Sustentação do Investimento do         O movimento dos preços
direcionados (BNDES). Assim,              BNDES – PSI, restrições ao crédito        dos alimentos dependerá do
parte dos recursos antes tomados          ao consumidor e recomposição dos          comportamento dos fatores externos.
com recursos da própria instituição       compulsórios.                             Considerando que não haja choques
financeira (como capital de giro), foi                                              em termos de safra, a expectativa
substituída por outras fontes.            Essa situação tende a reduzir o ritmo     é de que os preços dos alimentos
                                          de crescimento do consumo, afetando       desacelerem ao longo do ano, voltando
A rápida recuperação do crédito           tanto o nível de preços como o próprio    a ter leve aceleração apenas no fim de
à pessoa física (em comparação            crescimento econômico.                    2011. Esse movimento deverá ditar a
com a jurídica) em parte pode ser                                                   volatilidade do IPCA como um todo.
explicada pela evolução do nível de       É baixo o risco de pressões inflacioná-
inadimplência. O indicador de atraso      rias nos preços dos produtos indus-       Nesse cenário, a CNI projeta o
maior do que 90 dias do crédito à         triais. O Copom tende a não reverter      IPCA em 5% a.a., dentro da meta,
pessoa física se elevou de 7% do          sua política de juros no curto prazo e    mas 0,5 ponto percentual (p.p.) acima
crédito total para 8,5% com a crise.      os produtos importados deverão conti-     do centro.
                                          nuar gerando competição acirrada com
Contudo, desde maio de 2009 esse                                                    As medidas de restrição ao crédito
                                          os produtos nacionais. A Utilização da
indicador vem caindo, alcançando                                                    mostram um indicativo de uma
                                          Capacidade Instalada (UCI - CNI) mos-
5,9% em outubro de 2010. Já para a                                                  política monetária mais restritiva
                                          tra que há espaço para expansão da
pessoa jurídica, o indicador se elevou                                              em 2011. Com isso, e supondo
                                          oferta de produtos sem gerar pressão
de 1,7% para 4% com a crise, e está                                                 que a política fiscal seja menos
                                          sobre os preços.
em um processo lento de redução                                                     expansionista que a atual, com
(em outubro de 2010, o indicador é de     Quanto aos preços administrados, a        corte de despesas que garanta
3,5%).                                    expectativa é de que esses tenham         a superação da meta de superávit
                                          aumentos mais expressivos, uma vez        primário, o ciclo de juros necessário
A taxa de juros média cobrada reflete
                                          que os índices que baseiam grande         para atingir a meta de inflação pode
essa situação, com taxas em queda
                                          parte do reajuste desse grupo vêm se      ser menos intenso.
para pessoa física e ainda elevadas
                                          acelerando em 2010 (o IGP-M acumula
para pessoa jurídica.                                                               Sob essa hipótese, a CNI prevê um
                                          10,27% em 12 meses em novembro
                                          de 2010).                                 aumento total na Selic de 1,25 p.p.
Menor liquidez em                                                                   já nas primeiras reuniões de 2011,
                                          As perspectivas para preços dos           terminando o ano em 12,00% a.a..
2011                                      serviços também não mostram               Nesse cenário, a taxa de juros real
O ano de 2011 apresentará uma             sinais de arrefecimento. Vários           média se eleva de 4,6% a.a. em 2010
dinâmica diferente do atual. Em 2010      componentes desse grupo são               para 6,3% a.a. em 2011.



                                                                19
Economia BrasilEira
                                                                                              Ano 26, n. 04, dezembro de 2010




política fiscal

Forte aumento dos gastos públicos impõe
maior custo à política monetária
As despesas do setor público cresceram
                                               Evolução da despesa primária do Governo Federal
de forma significativa em 2010, superan-
                                               Acumulada em 12 meses sobre o PIB (%)
do até mesmo o ritmo de crescimento
de 2009, quando a política fiscal foi          Despesas primárias crescem 2,0 p.p do PIB entre dezembro/08
                                               e outubro/10
usada para reduzir o impacto da crise
econômica sobre o nível de atividade.          20%

Em 2010, diante da retomada do cresci-
mento econômico, essa forte expansão           19%
fiscal dificultou o cumprimento da meta
de superávit primário e impôs maiores
                                               18%
custos à política monetária para conter
o aumento da demanda e, consequente-
mente, da inflação.                            17%


A mudança mais expressiva na política
fiscal ocorreu nos estados e municípios,       16%
                                                      jan       jul           jan       jul           jan              jul
que ampliaram expressivamente o ritmo                 2008                   2009                    2010
de crescimento das despesas em 2010,            Fonte: STN/MF

em contraposição à pequena elevação
promovida em 2009. Por sua vez, o
Governo Federal apenas acelerou o ritmo
de expansão dos gastos, que já havia
                                             Gastos do Governo                        Nacional no processo de capitalização
                                                                                      da Petrobras.
sido elevado em 2009.                        Federal em 2010:
                                                                                      Embora os gastos correntes tenham
Como consequência, o esforço fiscal do       grande crescimento e                     apresentado um ritmo de crescimento
setor público consolidado deve garantir      melhor composição                        elevado (9,6%) nessa mesma base de
somente o cumprimento da meta fiscal                                                  comparação, é importante ressaltar
ajustada, com a exclusão de investimen-      Os gastos primários do Governo
                                                                                      que os investimentos tiveram aumento
tos e restos a pagar de créditos extraor-    Federal apresentaram crescimento real
                                                                                      muito superior (44,2%). Isso mostra
dinários. Ainda assim, o alcance da meta     (deflator IPCA) de 11,4% entre janeiro
                                                                                      uma melhoria na composição dos
fiscal só ocorrerá em virtude da substan-    e outubro de 2010, com relação ao
                                                                                      gastos públicos, com elevação da
cial entrada de receitas extraordinárias     mesmo período do ano anterior. Cabe
                                                                                      participação dos investimentos.
provenientes da capitalização da Petrobras   ressaltar que essa variação exclui a
e da exclusão das empresas do Grupo          despesa extraordinária de R$ 42,9        A despesa com custeio e capital foi o
Eletrobras do cálculo das contas públicas.   bilhões referente ao aporte do Tesouro   item que mais pressionou pelo aumento



                                                                 20
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Balanço da economia brasileira em 2010: demanda doméstica impulsiona crescimento do PIB

  • 1. ECONOMIA BRASILEIRA ISSN 1676-5486 Edição Especial do Informe Conjuntural Ano 26 Número 04 dezembro de 2010 www.cni.org.br Restrições à competitividade TEMA ESPECIAL 4 limitam crescimento da indústria A indústria dois anos após a crise: Situação é heterogênea entre os setores industriais O Brasil retomou o ciclo de expansão O balanço da manufatura nos dois anos interrompido com a crise internacional. O pós-crise mostra que os segmentos crescimento de 7,6% do PIB em 2010 é, sujeitos à competição internacional, tanto ECONOMIA inclusive, o mais expressivo da década. nos mercados globais como no mercado A indústria mostra o melhor desempenho doméstico, seguem em dificuldades. As BRASILEIRA EM 2010 entre os setores de atividade. perdas são concentradas na indústria, o 9 que torna sua percepção pela sociedade Ainda assim, há descompasso entre a evolu- mais difícil. A continuidade desse processo ção da demanda doméstica e da produção. atividade econômica terá como conseqüência uma indústria PIB tem o maior crescimento O forte ritmo de expansão do investimento e menor e menos diversificada. da década do consumo não tem alcançado na mesma intensidade a produção da indústria de Essas dificuldades refletem não apenas transformação. Essa avaliação fica nítida no uma situação conjuntural mundial desfa- segundo semestre, quando o crescimento da indústria se reduziu. vorável, mas também o pouco avanço na agenda da competitividade, que foi esque- emprego e salário Mercado de trabalho em seu 13 cida no ciclo de expansão anterior à crise. A valorização cambial está na raiz desse melhor momento A retomada dessa agenda é crucial na problema. Reverter esse processo não estratégia de longo prazo para consolidar 16 é trivial. O câmbio valorizado tem suas uma indústria de alto valor agregado, diver- funções na economia. De um lado, sificada e integrada ao mercado global. inflação, juros e favorece o controle da inflação e o O desafio da política econômica é compa- crédito acesso a bens e insumos importados. De tibilizar essa estratégia com as ações de Preços dos alimentos ditam a outro, viabiliza a absorção de poupança curto prazo necessárias para assegurar o inflação de 2010 externa em uma economia de baixa taxa de poupança. crescimento. É indispensável rever o tripé Essa situação é uma ameaça ao processo macroeconômico (meta de inflação, câmbio flutuante e metas fiscais) com a adoção de política fiscal Forte aumento dos gastos 20 de crescimento sustentado. A provável metas fiscais críveis e ambiciosas, para mi- alta dos juros, em resposta à aceleração nimizar o esforço da política monetária. Essa públicos impõe maior custo à da inflação, irá criar maior pressão sobe o nova calibragem exige firmeza na execução política monetária câmbio, exacerbando as dificuldades de do orçamento federal de 2011, com maior competição dos produtos brasileiros. contigenciamento de despesas correntes. setor externo 24 7 Comércio exterior PERSPECTIVAS 2011 brasileiro recupera níveis Crescimento do PIB em 2011 será menor que em 2010 pré-crise
  • 2. Economia BrasilEira Ano 26, n. 04, dezembro de 2010 balanço 2010 Demanda doméstica impulsiona PIB de 2010 Após queda de 0,6% do PIB em à competição internacional –, o Os segmentos onde as importações 2009, a economia brasileira deverá crescimento acentuado da demanda cresceram mais intensamente são crescer 7,6% em 2010. O motor dessa foi atendido, de forma crescente, pelas Confecção de artigos de vestuário e superação foi a demanda doméstica. importações. acessórios, Veículos automotores, reboques e carrocerias, Produtos O intenso aumento da demanda Dos 26 setores da indústria pesquisados minerais não-metálicos, Máquinas, foi motivado por políticas de pela PIM-PF/IBGE, 12 ainda não aparelhos e materiais elétricos, Móveis transferência de renda, aumento do conseguiram registrar crescimento da e indústrias diversas e Produtos têxteis. salário mínimo, aumento do emprego produção industrial na comparação formal, crescimento da massa salarial entre 2010 e o período anterior à crise. Apesar da desaceleração observada e do crédito pessoa física. Todos Entre os mais afetados, destacam-se os nos últimos meses, a indústria registrou esses indicadores se encontram em setores Material eletrônico, aparelhos níveis históricos de crescimento, patamares superiores ao pré-crise. e equipamentos de comunicação, chegando a alcançar uma variação de Madeira e Metalurgia básica. 10,9% no PIB em 2010. Impulsionado por esses fatores, o consumo das famílias, que alcançará O mesmo não se viu com o setor de Fluxo comercial expansão de 7,9% em 2010, responde serviços. Nesse a demanda mais forte pela maior parte do crescimento do PIB implicou necessariamente no aumento brasileiro atinge níveis em 2010. Outro fator determinante para da atividade. históricos o aumento da demanda foi o desempe- nho dos investimentos ao longo do ano. Verificamos assim que o país não O valor das exportações cresceu em aproveitou plenamente o intenso torno de 30% em 2010. O ganho nas Nesse sentido, a CNI estima que aquecimento da demanda doméstica, receitas de exportação foi gerado a formação bruta de capital fixo que cresceu de forma mais acentuada principalmente pelo aumento dos preços cresça 24,5% no ano e o peso dos no primeiro trimestre deste ano. internacionais das commodities. investimentos no PIB seja de 19,6%, o que cria a expectativa de um ciclo A apreciação da moeda doméstica A quantidade exportada cresceu apenas virtuoso de crescimento para o país. não permitiu uma resposta mais 8%, sendo que grande parte desse intensa da indústria que perdeu crescimento concentrou-se em produtos A expansão da demanda doméstica participação no mercado para básicos. Nesse sentido, é importante beneficiou todos os setores da produtos importados. Esse fato é destacar a inversão na pauta de economia. Entretanto, para a verificado no crescimento de 35,6% exportação. Pela primeira vez em mais indústria, em especial a indústria das importações em 2010, pela de 30 anos, as exportações de produtos de transformação – mais sujeita metodologia das Contas Nacionais. básicos irá superar a de manufaturados. 2
  • 3. Economia BrasilEira Ano 26, n. 04, dezembro de 2010 A questão cambial tem uma importante influência para esse resultado. A eleva- Exportação brasileira por categoria de produto da entrada de dólares continua apre- Participação sobre o total (%) ciando o real de forma gradativa, o que Exportações de produtos básicos superam as de representa uma forte ameaça à indústria manufaturados em 2010 nacional. A apreciação acumulada des- 90 de o final de 2008 abriu espaço para um 80 forte ingresso de produtos importados 70 (bens intermediários, de capital e finais). 60 50 Se, por um lado, esse movimento traz 40 um visível benefício para o consumidor 30 nacional – além de facilitar o controle 20 inflacionário –, por outro, os prejuízos à produção industrial são marcantes. 10 0 1964 1966 1968 1970 1972 1974 1976 1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010* A recuperação da economia também Básicos Semimanufaturados Manufaturados pode ser observada pelo bom momento Fonte: MDIC/SECEX do mercado de trabalho. No acumulado * Estimativa CNI de janeiro a outubro de 2010 foram criados 2,4 milhões de empregos com carteira assinada, o que representa o contrapartida, a volatilidade dos preços cresceram 11,4% entre janeiro e dobro do fluxo registrado no mesmo dos grupos administrados, industriais e outubro de 2010, com relação ao período em 2009. serviços se mantiveram relativamente mesmo período do ano anterior. Esse estáveis. Assim, a previsão é de que o crescimento foi ainda mais significativo O emprego na indústria cresce a despei- IPCA feche o ano em 5,8%, acima do tendo em vista a política fiscal to da moderação da atividade industrial centro da meta de 4,5% para 2010. expansionista de 2009, que foi usada no segundo trimestre de 2010. Esse como medida de contenção da crise. fato pode ser explicado em um primeiro Por conta desse quadro, o Copom momento pela redução da ociosidade e, iniciou em abril deste ano um ciclo de Por conta disso, a meta de superávit em seguinda, pela ampliação do parque altas na taxa básica de juros fazendo a primário só foi cumprida pelo ingresso de produtivo, visando atender a crescente Selic alcançar 10,75% a.a. em agosto. recursos do processo de capitalização da demanda interna do país. Somado a isso, medidas de aumento no Petrobras. Dessa forma, o superávit pri- compulsório dos bancos para reduzir o mário deve atingir 2,30% do PIB em 2010, Na questão inflacionária, destacamos excesso de liquidez de crédito também acima da meta ajustada de 2,15% do PIB. que a maior volatilidade no IPCA se deu foram empregadas em dezembro. basicamente por conta da flutuação nos Além de impor dificuldade ao cumpri- preços dos alimentos. Esse grupo atin- Por fim, o crescimento da demanda mento da meta fiscal, o forte aumento giu expansão de 9,2% no acumulado de em 2010 contou com forte expansão do gasto público impôs maior custo à 12 meses até novembro de 2010. Em fiscal. Os gastos do Governo Federal política monetária no controle da inflação. 3
  • 4. Economia BrasilEira Ano 26, n. 04, dezembro de 2010 tema especial: a indústria dois anos após a crise Situação é heterogênea entre os setores industriais A crise internacional, que se instaurou após setembro de 2008, ocasionou uma Taxa de crescimento da produção dos setores da indústria de transformação série de problemas à indústria de trans- Variação entre jan-set 2010 e jan-set 2008 (%) formação brasileira. Passados dois anos Diversos setores ainda não se recuperaram do início desse período, pode-se avaliar, totalmente da crise a partir dos dados relativos à produção, exportação, importação, faturamento e Bebidas emprego, como os diversos setores da Farmacêutica indústria se encontram. Perfum., sabões, deterg. e prod. de limpeza Outros equip. de transporte A principal conclusão é a grande hetero- Equip. de instrum. méd.-hospitalar, ópticos e outros geneidade de recuperação dos diversos Alimentos setores da indústria de transformação em Produtos de metal relação ao período pré-crise (acumulado Minerais não metálicos de janeiro-setembro de 2008). Constata- Mobiliário -se que existe espaço para reabilitação Diversos da produção e das exportações em Celulose, papel e prod. de papel determinados ramos e uma entrada Outros prod. químicos considerável de produtos importados em Veículos automotores diversos segmentos industriais. Máq. para escrit. e equip. de informática Edição, impr. e reprod. de gravações Produção setorial se Refino de petróleo e álcool recupera parcialmente Máquinas e equipamentos Vestuário e acessórios da crise Borracha e plástico Têxtil Analisando os efeitos da crise em cada Calçados e artig. de couro setor a partir da produção industrial (PIM- Metalurgia básica -PF/IBGE), tem-se o seguinte cenário: na Madeira comparação com o ano de 2009, dos 26 Fumo setores analisados, 24 apresentam cres- Máq., apar. e materiais elétricos cimento da produção, com destaque para Material eletr., apar. e equip. de comunicações Máquinas e equipamentos, Veículos auto- -30 -20 -10 0 10 20 30 motores, Produtos de metal e Metalurgia Fonte: PIM/IBGE básica – todos com taxa de crescimento 4
  • 5. Economia BrasilEira Ano 26, n. 04, dezembro de 2010 superior a 20% na comparação entre realça a perda de mercado externo das Importações janeiro e setembro de 2010 e 2009. Os indústrias nacionais, refletindo tanto o dois primeiros setores receberam fortes câmbio apreciado, como a queda de dina- superaram período estímulos de políticas públicas no período mismo do comércio internacional. pré-crise na grande de crise, como redução de impostos (IPI) e/ou juros mais baixos. Todavia, na Os setores com queda mais expressiva maioria dos setores comparação entre o período de 2010 e nas exportações (superior a 20,0%) Nas importações o cenário é de aumento 2008, dos 26 setores, 12 apresentam frente a 2008 são Outros equipamentos de transporte, Material eletrônico e de do valor importado para todos os setores taxa negativa, ou seja, não recuperaram o comunicações, Produtos de madeira, frente a 2009. Em relação ao mesmo nível de produção do pré-crise. Confecção de artigos do vestuário e período de 2008, dos 22 setores pesqui- Os principais ramos industriais com acessórios, Metalurgia básica (um dos sados, 17 cresceram. Esse fato demons- produção inferior ao período pré-crise são principais setores da pauta de expor- tra o aumento da entrada de produtos im- Material eletrônico, aparelhos e equipa- tação nacional) e Edição, impressão portados de variados setores da indústria mentos de comunicações, Máquinas, apa- e reprodução de gravações. Os três de transformação na economia nacional, relhos e materiais elétricos, Fumo, Madeira setores com crescimento das exporta- que ocorreu em função principalmente e Metalurgia básica – todos com nível ções em relação a 2008 são Celulose, do câmbio valorizado e do aquecimento 5,0% inferior a 2008. Na mesma base de papel e produtos de papel, Produtos do mercado doméstico. Os setores em comparação, os setores que melhor se alimentícios e bebidas e Produtos quí- que as importações superaram o período recuperaram são Bebidas, Farmacêutica, micos – setores com grande participa- pré-crise em mais de 20,0% são Confec- Perfumaria, sabões, detergentes e produ- ção na pauta de exportação brasileira. ção de artigos do vestuário e acessórios, tos de limpeza e Outros equipamentos de transporte – com taxas de crescimento su- periores a 5,0%. Esses setores (à exceção Setores com melhor desempenho após a crise de Outros equipamentos de transporte) Variação entre jan-set 2010 e jan-set 2008 (%) estão ligados ao aquecimento da econo- mia doméstica e ao crescimento do poder Alguns setores demonstram boa recuperação depois de serem afetados pela crise de compra da classe C. 15,9 Exportações estão 8,7 11,4 11,0 10,7 9,4 10,9 7,9 7,2 8,3 abaixo do nível de 2008 1,6 3,9 2,9 2,4 Outro indicador importante da evolução dos setores da indústria é o valor das exportações e das importações (SECEX/ -9,7 MDIC). Os dados das exportações no acumulado janeiro-setembro demonstram -19,4 que, dos 22 setores analisados, apenas Celulose, papel e Alimentos e bebidas Produtos químicos Produtos de metal produtos de papel dois apresentam queda entre 2010 e 2009. Frente ao mesmo período de 2008, Exportação Importação Faturamento Emprego 19 desses 22 setores exibem variação Fonte: SECEX / MDIC e CNI. Elaboração: CNI negativa nas exportações. Essa situação 5
  • 6. Economia BrasilEira Ano 26, n. 04, dezembro de 2010 tema especial: a indústria dois anos após a crise Veículos automotores, reboques e carroce- mentos de transporte, Couros e calçados com maior contratação são Produtos de rias, Produtos de minerais não-metálicos, e Vestuário. Os setores que ainda não metal, Alimentos e bebidas, Minerais Máquinas, aparelhos e materiais elétricos, se recuperaram em relação ao período não-metálicos e Máquinas, aparelhos Móveis e indústrias diversas e Produtos pré-crise são os de Madeira, Metalurgia e materiais elétricos – todos acima têxteis. Esses são segmentos da indústria básica, Refino e álcool e Material eletrô- de 5,0%. Esses setores apresentam que, na sua maioria, estão fortemente liga- nico e de comunicação. Esses são ramos crescimento do faturamento e da dos ao atendimento do mercado interno. industriais onde a produção e exportação produção (à exceção de Máquinas, ainda estão abaixo do nível de 2008. aparelhos e materiais elétricos) em Quanto ao faturamento (Indicadores relação a 2008. Os segmentos industriais Industriais - CNI), nota-se que em relação A situação do indicador de emprego onde o emprego ainda é inferior ao a 2009, de 19 setores considerados, 17 (Indicadores Industriais - CNI) é diferente: mesmo período de 2008 são Madeira, apresentam crescimento. Os setores que 18 dos 19 setores superaram o número Vestuário, Outros equipamentos de mais se destacam nessa comparação de empregados em relação a 2009. Os transporte, Material eletrônico e de setores que mais se destacam são os de são Edição e impressão, Máquinas e comunicação e Metalurgia básica. Produtos de metal, Material eletrônico equipamentos e Veículos automotores. Já e de comunicação, Couros e calçados e com relação a 2008, são 14 setores com Máquinas, aparelhos e materiais elétricos. Setores com forte crescimento do indicador. Os mais ex- pressivos (crescimento superior a 15,0%) Na comparação com 2008, 11 setores participação na são Edição e impressão, Outros equipa- exibiram variação positiva. Os setores produção tem melhor desempenho Setores que não se recuperaram totalmente da crise A partir da análise dos diversos indicado- Variação entre jan-set 2010 e jan-set 2008 (%) res acima, os setores com situação mais Alguns setores tem exibido maior dificuldade de se recuperar favorável em relação ao período pré-crise dos efeitos da crise são Alimentos e bebidas, Produtos quími- 24,4 cos, Produtos de metal e Celulose, papel e 17,2 13,1 produtos de papel. Esses são setores com forte participação na produção e exporta- 2,6 3,8 0,1 ção (à exceção de Produtos de metal) na -1,3 -4,8 -4,0 -4,6 -2,0 economia nacional. Nos dados analisados -7,5 -10,5 verificou-se que esses ramos exibiram -17,5 crescimento em relação a janeiro-setem- -20,5 -23,8 -23,4 bro de 2008 tanto em produção como em -29,6 -35,4 exportação. Outros ramos da indústria -39,4 ainda não conseguiram se recuperar Material eletr., Madeira Borracha e Metalurgia apar. e equip. de Têxtil totalmente do período de crise: Madeira, plástico básica comunicações Material eletrônico, aparelhos e equipa- Exportação Importação Faturamento Emprego mentos de comunicações, Metalurgia Fonte: SECEX / MDIC e CNI. Elaboração: CNI básica, Têxtil e Borracha e plástico. 6
  • 7. Economia BrasilEira Ano 26, n. 04, dezembro de 2010 P E R S P E C T I V A S 2011 Crescimento do PIB em 2011 será menor que em 2010 Passada a crise financeira e a euforia industriais para o próximo ano, iii. Setor externo: é esperada a da recuperação vista no início do ano, o que contribuiria de forma continuação do efeito adverso do a economia brasileira caminha em significativa para a ampliação da vazamento da demanda doméstica uma trajetória de convergência ao seu capacidade produtiva em 2011. Por para fora do país. O crescimento potencial de crescimento. conta disso, a atividade industrial das importações acima do da deverá crescer um pouco acima produção industrial levará à perda A estimativa da CNI para a expansão de 1,0% em média por trimestre de participação da indústria no da economia é de 4,5% em 2011. ao longo de 2011, de forma a mercado doméstico. Além disso, Três fatores explicam esse ritmo de registrar uma expansão do PIB a menor reação das exportações crescimento: industrial de 4,5%. reduz o saldo da balança comercial. i. Consumo das famílias: o forte aumento da demanda PIB e PIB industrial interna continuará sustentando Variação frente ao ano anterior (%) o crescimento, dada a Taxas de crescimento do PIB total e da indústria expectativa de continuidade coincidem em 2011 de expansão do mercado de 12 trabalho. Com isso, o consumo 10 das famílias continuará 8 expandindo ancorado também 6 no crescimento do crédito e 4 nos programas de transferência 2 de renda. 0 -2 ii. Investimentos: esse componente -4 do PIB não deverá crescer da -6 mesma forma que em 2010, -8 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010* 2011* mas há grande expectativa em PIB PIB industrial relação a novos investimentos Fonte: IBGE por parte das empresas * Estimativas CNI 7
  • 8. Economia BrasilEira Ano 26, n. 04, dezembro de 2010 perspectivas 2011 Para 2011, a CNI estima menor O governo continuará insistindo em A redução do caráter expansionista crescimento das importações (de medidas de contenção de curto prazo da política fiscal deverá requerer 35,6% em 2010 para 23,3% em 2011). para impedir a valorização do real em menor elevação na taxa básica de Já as exportações deverão crescer em 2011, como acúmulo de reservas e juros. A previsão da CNI é que a Selic ritmo muito próximo ao de 2010. aumento de tributação sobre aplicações encerre 2011 em 12,00 % a.a.. em carteira no Brasil. Esses movimentos farão com que a Gastos deverão contribuição do setor externo para a Para conter essa tendência, o Governo variação do PIB passe de -2,7 pontos poderia focar em medidas de longo ser revistos para percentuais (p.p.) em 2010 para em prazo para aumentar a poupança 2011 -2,0 p.p. em 2011. interna, começando pela contenção do crescimento de gastos correntes do Caso não haja alterações na proposta Cenário cambial com setor público. orçamentária, o caráter expansionista da política fiscal deverá permanecer pouca alteração em O saldo comercial deverá continuar para o próximo ano e mais uma vez a 2011 refletindo a valorização da taxa de conta pelo controle da inflação deve câmbio. Em 2010, o saldo foi de ser paga pela política monetária. O fluxo de investimento estrangeiro US$15 bilhões e a previsão para 2011 direto continuará forte em 2011, dada a Entretanto, o cumprimento da é de US$ 4 bilhões. Em contrapartida, maior atratividade do Brasil no cenário meta fiscal requer corte de R$ 19 o déficit em conta corrente deverá mundial. Essa será uma condição bilhões nas despesas previstas na atingir 3,0% do PIB em 2011, um importante para financiar o déficit em proposta orçamentária. Com isso, o aumento substancial frente a 2,4% transações correntes, o que reduz ritmo de crescimento das despesas registrado em 2010. a probabilidade de crise nas contas deve ficar próximo do crescimento externas no curto prazo. real esperado para o PIB, Mudança na reduzindo o caráter expansionista da No entanto, a entrada de capitais estrangeiros continuará com o processo dinâmica da inflação política fiscal. de valorização do real, o que dificulta em 2011 A CNI estima que em 2011 o setor um crescimento mais intenso da público deve obter superávit primário As medidas de restrição ao crédito de 2,2% do PIB. A queda do superávit produção industrial doméstica. definidas pelo Banco Central e a primário e o aumento das despesas O investimento estrangeiro direto provável elevação da taxa de juros com juros em relação a 2010 farão somou US$ 25,9 bilhões em 2009. A Selic mudarão o cenário inflacionário com que o déficit nominal se eleve projeção do Banco Central para este ano em 2011. Enquanto que em 2010 a para 3,2% do PIB. é de US$ 30 bilhões e, para 2011, de inflação ganhou ritmo, em 2011 haverá US$ 45 bilhões. Esse volume financia desaceleração dos preços. Desta forma, Apesar disso, o crescimento do PIB parcialmente o déficit em conta corrente o IPCA deverá ficar próximo ao centro deve garantir pequena redução na que hoje é de cerca de 48 bilhões de da meta (4,5% a.a.) e acumulará alta de relação dívida/PIB, que deve terminar dólares no acumulado em 12 meses. 5% em 2011. 2011 em 40,4% do PIB. 8
  • 9. Economia BrasilEira Ano 26, n. 04, dezembro de 2010 atividade econômica PIB tem o maior crescimento da década O ano de 2010 registrou um forte cresci- Estimativas de taxas de crescimento do PIB para 2010 e seus componentes mento da economia brasileira, com o PIB Variação frente ao ano anterior (%) se expandindo 7,6% (estimativa CNI). O Crescimento da demanda doméstica impulsiona as importações intenso crescimento econômico se deu mesmo com uma trajetória de perda de 35,6 ritmo a partir do segundo trimestre. 24,5 O crescimento do PIB só não foi maior, basicamente, por duas razões: a) grande 11,5 10,9 parte das medidas de desoneração 7,9 7,6 7,0 5,7 tributária foram suspensas no fim do 4,0 primeiro trimestre; e b) a valorização do Consumo Consumo do FBKF Exportações Importações Agropecuária Indústria Serviços PIB real fez parte do crescimento da demanda das famílias governo doméstica escoar para o setor externo Ótica da demanda Ótica da oferta (via aumento das importações). Estimativas: CNI É importante destacar que o IBGE revisou o PIB de 2009 de forma que a redução de 0,2% para a economia naquele ano desde 1995. Esse comportamento é re- no acumulado do ano até outubro, frente deu lugar a uma queda de 0,6%. Nesse sultado do forte crescimento do emprego ao mesmo período do ano anterior, as contexto o PIB industrial intensificou a – sobretudo formal –, do crescimento da importações (em quantum) desses bens queda para 6,4%. Ou seja, o impacto da massa salarial, do crédito, dos programas cresceram 42,1%. O desempenho dos crise internacional foi mais intenso do do governo de transferência de renda e investimentos em 2010 é de chamar a que o que se acreditava anteriormente. do aumento do salário mínimo. atenção: a CNI estima que a formação bruta de capital fixo cresça 24,5% no ano, A expansão da economia quando ancora- Consumo das famílias da em mais investimentos cria um ciclo de forma que a parcela dos investimentos no PIB, que tinha recuado para 16,9% em foi o componente do de crescimento sustentável e cada vez 2009, irá subir para 19,6% em 2010. mais próximo de seu potencial. A forma- lado da demanda que ção bruta de capital fixo cresceu 25,6% O forte crescimento da demanda domésti- mais impulsionou o no acumulado dos três primeiros trimes- ca associado a valorização do real impul- PIB em 2010 tres do ano, frente ao mesmo período do ano anterior. As importações de máquinas sionou as importações em 2010 para um crescimento de 35,6% (Contas Nacionais). A demanda interna foi preponderante e equipamentos supriram grande parte Como as exportações cresceram em ritmo para o crescimento econômico. O consu- do aumento dos investimentos em 2010. muito inferior (estimativa de 11,5%) a mo das famílias deverá crescer 7,9% em Enquanto a produção doméstica de bens contribuição negativa do setor externo no 2010, o que é a maior taxa de expansão de capital (PIM-PF/IBGE) cresceu 24,0% PIB deverá ser de 2,7 pontos percentuais. 9
  • 10. Economia BrasilEira Ano 26, n. 04, dezembro de 2010 atividade econômica PIB industrial cresce Índice de produção da indústria de transformação e de 10,9% e volta ao nível atividade da construção civil de antes da crise Índice de difusão* Atividade industrial da construção civil foi mais dinâmica do Mesmo com a perda de ritmo ao longo que a da indústria de transformação do ano, a indústria continuou produzindo 65 em níveis historicamente altos, nos pa- tamares vigentes antes do contágio da 60 crise internacional. Se a indústria foi o setor mais atingido pela crise em 2009, 55 também será o setor que mais crescerá 50 (10,9%) em 2010 e, portanto, o que mais contribuirá – pelo lado da oferta – 45 para o crescimento do PIB desse ano. 40 A indústria da construção civil mostrou jan fev mar abr mai jun jul ago set out um desempenho notável em 2010. O 2010 indicador de atividade do setor (Sondagem Indústria extrativa e de transformação Construção civil Linha de 50 pontos Fonte: Sondagem Industrial CNI da Construção Civil CNI) ficou acima de 50 * Valores acima de 50 pontos indicam aumento da produção ou da atividade industrial pontos em todo o ano de 2010 (indicado- res acima de 50 pontos apontam aumento da atividade do setor na comparação com Utilização da capacidade instalada da indústria de transformação o mês anterior). Pela metodologia das Em (%) Contas Nacionais, o PIB da construção civil Acomodação da UCI abre espaço para a indústria atender cresceu 13,6% no acumulado dos três pri- aumentos repentinos de demanda meiros trimestres do ano, frente ao mes- 85 mo período do ano anterior. A expectativa Pico histórico 84 da CNI é que em 2010 esse componente 83 do PIB cresça à taxa de 13,0%. 82 Considerando apenas a indústria de 81 transformação (PIM-PF/IBGE), a produção 80 cresceu 11,7% no acumulado de janeiro 79 a outubro de 2010, frente ao mesmo 78 período do ano anterior. As vendas 77 reais (Indicadores Industriais CNI) do 76 setor cresceram 10,4% enquanto que jan abr jul out jan abr jul out jan abr jul out 2008 2009 2010 o emprego (Indicadores Industriais CNI) Fonte: Indicadores Industriais CNI aumentou em 5,4% no mesmo período. 10
  • 11. Economia BrasilEira Ano 26, n. 04, dezembro de 2010 É importante considerar que mesmo 2009. A CNI estima um crescimento de contratações irá manter o crescimento em um período de atividade moderada 7,0% do PIB da agropecuária em 2010. da massa salarial, mesmo que em ritmo da indústria de transformação após o mais lento. Esse fato, somado ao cres- primeiro trimestre do ano, o emprego do Crescimento da cimento do crédito é condição para que setor continuou crescendo, o que pode o dinamismo do consumo das famílias ser uma sinalização de investimento no economia em 2011 continue presente, mostrando um cres- parque produtivo da indústria. deverá ser de 4,5% cimento ao redor de 5,1%. O aumento do consumo das famílias também Enquanto que em 2009 a indústria O cenário traçado pela CNI para 2011 é exercerá pressões positivas no desem- reduziu a capacidade ociosa de forma de continuidade do crescimento econô- penho do setor de serviços: a projeção contínua, como reflexo da recuperação mico, mas de forma mais moderada. A da CNI para o PIB de serviços é de um da crise, em 2010 o maior fluxo de estimativa de uma alta de 4,5% do PIB crescimento de 4,8%, o que representa investimentos ampliou o parque indus- para o ano que vem aponta uma diminui- uma taxa superior a da expansão do PIB trial. A utilização da capacidade instalada ção do hiato do produto (diferença entre para o ano. (UCI/CNI) mostrou uma trajetória de o PIB efetivo e potencial). As simulações queda de maio a setembro de 2010, para o crescimento do PIB potencial Os investimentos vão crescer menos quando atingiu 82,0%. Mesmo com o estão entre 4,1% e 4,3% na média dos do que em 2010 – em grande medida ligeiro crescimento da UCI em outubro, últimos 5 anos. em função da base de comparação –, para 82,2%, ainda há espaço frente ao mas continuarão ampliando a capacida- nível pré-crise (83,2%) ou mesmo o pico O mercado de trabalho continuará de produtiva em 2011. A Pesquisa de histórico (83,8% em fevereiro de 2008). ofertando mais vagas formais, o que Investimento, conduzida pela CNI com Essa folga aponta flexibilidade do setor estimula o consumo, dada a maior empresários do setor entre outubro e industrial para atender aumentos repenti- segurança que essa modalidade de novembro, aponta que dentre as em- nos de demanda. ocupação oferece. O forte fluxo de presas consultadas, 92,0% pretendem O dinamismo do consumo das famílias PIB efetivo e potencial também impulsionou a atividade do Número índice base 1995 = 100 setor de serviços. Esse setor cresceu PIB inicia convergência para seu potencial de crescimento 5,7% no acumulado do ano até outu- 160 bro, frente ao mesmo período do ano anterior. Dadas as boas expectativas 155 quanto ao consumo para as festas de 150 fim de ano, a CNI estima que a taxa de 145 crescimento de 5,7% se mantenha no mesmo patamar para o ano fechado de 140 2010, comparativamente a 2009. 135 130 A agropecuária registrou crescimento importante em diversos produtos agrícolas 125 I II III IV I II III IV I II III IV I II III IV I II III e abate de animais que mostraram 2006 2007 2008 2009 2010 desempenho superior em 2010 (pelas PIB efetivo PIB potencial estimativas do IBGE) do que o apurado em Fonte: IBGE Elaboração: estimativas da CNI para PIB potencial a partir de simulações com filtro Hodrick-Prescott 11
  • 12. Economia BrasilEira Ano 26, n. 04, dezembro de 2010 atividade econômica investir em 2011. A CNI projeta um cres- Expectativa do empresário industrial em relação ao aumento de demanda cimento de 13,5% da formação bruta de e à quantidade exportada para os próximos seis meses capital fixo para o ano que vem. Índice de difusão* Otimismo quanto à demanda futura depende mais do A contribuição negativa do setor externo mercado doméstico do que o externo para o crescimento do PIB deverá se re- duzir para 2,0 pontos percentuais no ano 70 que vem, dado o menor diferencial entre as taxas de crescimento das exporta- 65 ções (estimativa de expansão de 11,0%) e importações (estimativa de 23,3%). 60 A atividade industrial deverá crescer 55 um pouco acima de 1,0% em média por 50 trimestre ao longo de 2011, de forma a registrar uma expansão do PIB industrial 45 de 4,5%. As perspectivas para o setor jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov 2010 são positivas (Sondagem Industrial CNI), Demanda Quantidade exportada Linha de 50 pontos uma vez que o indicador de expectativa Fonte: Sondagem Industrial CNI * Valores acima de 50 pontos indicam aumento da produção ou da atividade industrial em relação ao aumento do emprego ultrapassou os 60 pontos (indicadores acima de 50 pontos apontam expectati- Estimativa de PIB va de crescimento do emprego). Cabe Variação (%) e contribuição dos componentes do PIB (p.p.) ressaltar que as expectativas sobre o 2011 aumento da demanda futura continuam Componentes do PIB Taxa de Contribuição positivas, embora menos otimistas do que crescimento (%) (p.p.) no início do ano, o que corrobora com o Consumo das famílias 5,1 3,2 Consumo do governo 3,0 0,6 cenário de desaceleração do crescimento Ótica da FBKF 13,5 2,6 da demanda em 2011. É bom frisar que demanda Exportações 11,0 1,3 (-) importações 23,3 3,3 a expectativa de aumento da demanda futura está mais pautada na demanda Agropecuária 4,0 0,2 interna, uma vez que a expectativa quanto Indústria 4,5 1,2 Indústria extrativa 5,0 0,1 à quantidade exportada é de queda. Ótica da Indústria de transformação 4,0 0,7 oferta Construção civil 6,0 0,3 Um ponto de atenção é a valorização do SIUP 4,2 0,1 real e a possibilidade do início de alta dos Serviços 4,8 3,2 juros em 2011. Esses fatores poderão PIB pm 4,5 minar ainda mais a competitividade do setor industrial no ano que vem e reduzir o Elaboração: CNI ritmo de expansão da economia. 12
  • 13. Economia BrasilEira Ano 26, n. 04, dezembro de 2010 emprego e salário Mercado de trabalho em seu melhor momento Passados os efeitos da crise Emprego e produção da indústria internacional, o mercado de trabalho Número índice base jan/2005 = 100 - dessazonalizado apresenta um dinamismo inédito em Emprego continuou crescendo mesmo com moderação da 2010. O emprego metropolitano voltou a atividade industrial crescer com força (PME/IBGE), de forma 120 que o indicador de criação de vagas no 115 acumulado de 12 meses ultrapassou os patamares de antes da crise. Ou seja, o 110 total de vagas encerradas com a crise 105 foi restabelecido e superado. 100 Emprego formal 95 continua sendo 90 o propulsor do jan 2008 abr jul out jan 2009 abr jul out jan 2010 abr jul out crescimento Produção industrial Emprego industrial Fonte: CNI e IBGE O bom momento do mercado de trabalho pode ser percebido pela maior criação de empregos formais. o emprego sem carteira reduziu 0,7% Os dados do Cadastro Geral de Das 840 mil vagas criadas nas seis e a ocupação por conta própria recuou Empregados e Desempregados (Caged/ regiões metropolitanas nos últimos 1,0% no mesmo período. MTE) apontam a forte velocidade de 12 meses até outubro, 804 mil foram criação de vagas formais em todo com carteira assinada do setor O crescimento do emprego com território nacional. Nos 10 primeiros privado. Em outros termos, a criação carteira assinada em detrimento das meses de 2010, mais de 2,4 milhões de de empregos formais representou 96% ocupações informais eleva o grau de empregos com carteira assinada foram de todos as novas vagas nos últimos formalidade do mercado de trabalho. criados. Em termos de comparação, esse 12 meses. Em termos relativos, Esse indicador – que é calculado volume de novas vagas é o dobro do o emprego com carteira assinada pela razão entre o pessoal ocupado registrado no mesmo período de 2009. cresceu de forma intensa em todo com carteira assinada, estatutários e ano de 2010 até atingir expansão de militares pelo total da ocupação – está A indústria criou 42,0% dos empregos 8,4% em outubro, frente ao mesmo no maior patamar (58,8%) da série formais em 2010. Somando os quatro mês do ano anterior. Nesse contexto, histórica da PME. setores da indústria (indústria de 13
  • 14. Economia BrasilEira Ano 26, n. 04, dezembro de 2010 emprego e salário transformação, extrativa, de construção Ocupação e população economicamente ativa civil e serviços industriais de utilidade Variação frente ao mesmo mês do ano anterior (%) pública) o total de criação de empregos Taxa de crescimento da ocupação mais intensa do que da PEA formais de janeiro a outubro de 2010 foi reduz pressão sobre a taxa desemprego de 1 milhão. 5 4 Emprego cresce 3 mesmo com 2 acomodação da 1 atividade industrial 0 -1 O emprego na indústria (Indicadores -2 Industriais - CNI) continuou crescendo, -3 mesmo em um cenário de acomodação out abr out abr out abr out abr out da produção industrial, desde abril 2006 2007 2008 2009 2010 Ocupação PEA deste ano. Essa aparente disparidade Fonte: PME/IBGE pode ser explicada pelo investimento para ampliar a capacidade produtiva. A confiança do empresário industrial (ICEI/ CNI) continua elevada. Mesmo com a queda de 68 pontos em janeiro (pico histórico) para 62 pontos em novembro, Taxa de desemprego metropoliatana o indicador ainda se mantém acima da Variação frente ao mesmo mês do ano anterior (%) média histórica (valores acima de 50 Taxa de desemprego em 2010 recuou de maneira continua e pontos apontam otimismo enquanto acelerada valores abaixo de 50 pontos indicam 9,5 pessimismo). 2009 9,0 Queda acelerada da 8,5 2008 8,0 taxa de desemprego é 7,5 atípica 7,0 2010 6,8 6,5 A redução da taxa de desemprego nas regiões metropolitanas ocorreu de forma 6,0 5,7 quase que contínua, diferentemente 5,5 jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez do que ocorreu nos anos anteriores. Fonte: IBGE. Projeção: CNI Historicamente, há tendência de queda 14
  • 15. Economia BrasilEira Ano 26, n. 04, dezembro de 2010 do desemprego no segundo trimestre, Como a projeção de expansão para o IBGE) nas seis principais regiões mas não de forma contínua e intensa PIB de 2011 está perto do crescimento metropolitanas do Brasil aumenta o como ocorreu em 2010. potencial da economia, o problema ritmo de crescimento. Esse indicador quanto à taxa de desemprego no avançou em ritmo cada vez mais intenso Esse movimento tem sido gerado Brasil perde importância e dá lugar ao longo do ano até atingir alta de 8,0% não só pela criação de empregos, à dificuldade que alguns setores da frente ao mesmo mês do ano anterior mas pela menor procura por vaga indústria têm em encontrar mão- – maior alta desde o início da série de trabalho. A força de trabalho – de-obra qualificada. Para a indústria histórica, em março de 2002. População Economicamente Ativa de construção civil, por exemplo, o (PEA) – cresce em ritmo inferior à problema de falta de mão-de-obra A massa salarial real, que é calculada ocupação desde meados de 2007, o qualificada é o primeiro no ranking pela multiplicação dos salários médios que abre um diferencial entre essas de principais problemas do setor reais pelo número de ocupados, vem taxas de crescimento. Quanto maior (Sondagem da Construção Civil - CNI). aumentando seu ritmo de crescimento esse diferencial, menor será a pressão de forma a alcançar uma expansão de exercida sobre a taxa de desemprego. Crescimento do 10,7% em outubro de 2010, compa- rativamente ao mesmo mês do ano A CNI estima que em dezembro a taxa poder de compra anterior. Essa aceleração fez com que a de desemprego chegue a 5,7% (míni- ma histórica), o que resultaria em uma dos trabalhadores irá massa salarial média no acumulado de 2010 até outubro seja 7,2% superior a média anual de 6,8%. A tendência de garantir avanço da do mesmo período de 2009. queda anual da taxa de desemprego de- verá se manter em 2011. A CNI estima demanda interna A contínua expansão do emprego que o indicador médio de 2011 fique em A renda média real habitualmente formal – que traz maior confiança para torno de 6,0%. recebida pelo trabalhador (PME/ o consumo –, o forte crescimento da massa salarial e a expansão do crédito continuarão sendo os pilares de Massa salarial real habitual metropolitana sustentação da demanda interna, a qual Variação frente ao mesmo mês do ano anterior (%) continuará crescendo bem acima do Crescimento da massa salarial é recorde ritmo da demanda global. 12 O cenário futuro para o mercado de 10 trabalho é bastante positivo. A CNI estima que em 2011 o mercado de 8 trabalho continue com o processo de contratação e de formalização da 6 mão-de-obra, com reflexos positivos à 4 massa salarial e, consequentemente, ao consumo doméstico. A PEA continuará 2 crescendo de forma menos intensa 0 do que o emprego em 2011, o que jan abr jul out jan abr jul out jan abr jul out deverá reduzir ainda mais a taxa de 2008 2009 2010 desemprego no ano. Fonte: IBGE. Cálculo: CNI 15
  • 16. Economia BrasilEira Ano 26, n. 04, dezembro de 2010 inflação, juros e crédito Preços dos alimentos ditam a inflação de 2010 O ano de 2010 foi caracterizado pela Volatilidade dos componentes do IPCA alta volatilidade no índice oficial de Mínima, máxima e atual variação acumulada nos últimos 12 meses (%) inflação IPCA. O índice flutuou, entre Alimentos trouxeram forte volatilidade ao IPCA em 2010 janeiro e novembro, de 4,59% a 5,64%, no acumulado em 12 meses. Em ape- 10,0 nas um mês do ano (agosto) o índice 9,0 alcançou o centro da meta de inflação, 8,0 em 4,5% a.a.. 7,0 A inflação mostrou trajetória de 6,0 aceleração nos últimos meses do ano. 5,0 Contudo, o movimento nos preços 4,0 se dá de forma heterogênea entre 3,0 os quatro principais componentes do 2,0 IPCA: alimentos, serviços, administra- Administrados Industriais Serviços Alimentação IPCA dos e produtos industriais. Valor atual (novembro de 2010) Fonte: IBGE Elaboração: CNI Alta nos preços dos alimentos superior: média de 6,7%, no acumulado em 12 meses. crise internacional teve um caráter defla- cionário no Brasil, que resultou inclusive compromete o em índices com variações negativas O IPCA acompanhou a trajetória dos alcance do centro alimentos. Esses, com 23% do peso total, em 2009. O IGP-M (FGV) terminou o ano passado com variação negativa de da meta contribuíram essencialmente para trazer 1,71% a.a.. Assim, os preços reajustados volatilidade ao IPCA. Os preços admi- Durante o ano, os preços dos produtos em função desse tipo de índice tiveram nistrados e de produtos industriais, que alimentares aceleraram, passando dos aumento controlado em 2010. representam cerca de 52% do índice total, 3,6% acumulado em 12 meses em pouco contribuíram para a pressão infla- janeiro (menor valor do ano), até chegar Os preços industriais registraram cionária observada dos últimos meses. Os a 9,2% a.a. em novembro. A inflação baixa inflação durante todo o ano serviços, que representam cerca de 25% dos administrados e dos produtos (média de 3,5% a.a. em 2010 até do índice como um todo, sustentaram o industriais mantiveram-se relativamente novembro) em função de dois fatores: IPCA em um patamar elevado. estáveis, e dentro da meta de inflação. os efeitos da política de elevação A inflação nos serviços manteve-se Os preços administrados sofreram forte de juros praticada pelo Copom em estável também, mas em um nível influência da baixa inflação de 2009. A meados do ano e do câmbio. 16
  • 17. Economia BrasilEira Ano 26, n. 04, dezembro de 2010 Os produtos industriais são os meses acima dos 6%. Apesar de pouco Para 2010, faltando apenas a variação mais afetados pela alta na Selic. volátil, seu patamar sustenta a alta do de dezembro, o IPCA já está pratica- A resposta ao aumento nas taxas IPCA, mostrando baixa sensibilidade às mente definido. As medidas de restri- nas operações de crédito afeta a variações na taxa de juros. ção ao crédito colocadas em prática demanda por esse tipo de bem. no começo de dezembro já devem Os preços dos alimentos apresentaram surtir algum efeito, mas não evitarão Apesar de não ser o causador da comportamento distinto dos demais. uma aceleração no índice. Assim, a pressão de alta no IPCA, as elevações Esses foram fortemente influenciados CNI prevê que o ano termine com IPCA praticadas pelo Copom durante o por questões diversas, como os preços acumulado em 5,8% a.a.. ano influenciaram prioritariamente os internacionais de commodities, proble- preços industriais. mas de safra e flutuações sazonais. Até Aumento nos O câmbio altamente valorizado é o outro abril, o movimento era de forte aumento ponto que contribui para essa situação: nos preços em função dessas questões. juros não impediu o produto importado, mais barato em Com a regularização da safra e o fim volatilidade do IPCA função do câmbio, é forte concorrente dos problemas de chuva, o movimento se inverteu, mostrando retração até O Copom não ficou alheio às pressões dos produtos nacionais. agosto. Contudo, a elevação abrupta nos inflacionárias observadas no IPCA. O Os preços dos serviços registraram preços das commodities internacionais ano se iniciou com forte expansão nos inflação em um patamar elevado, como desde junho contribuiu para carregar os preços dos alimentos, cuja inflação já se observa nos últimos anos. Desde preços domésticos (o indicador do FMI passou de 3,6% a.a. em janeiro para meados de 2008 o índice desse sub- de preços dos alimentos subiu 17,4% de quase 7% a.a. em abril. Com o reflexo no grupo apresenta taxa acumulada em 12 junho a outubro). IPCA, o Copom iniciou novo ciclo de altas na Selic: foram 2 p.p. de abril a julho, chegando a 10,75% a.a.. IPCA e Selic Variação acumulada em 12 meses do IPCA e taxa anual da Selic (%) A partir de abril o IPCA voltou a recuar, alcançando o centro da meta em agosto. Aceleração da inflação aponta para medidas monetárias restritivas Essa adequação se deu mais em função de regularização na oferta de alimentos 6,5 16 (que apresentaram processo deflacio- 15 6,0 nário no período) do que pelo canal dos 5,8* 14 juros. Contudo, mais uma vez o processo 5,5 13 de elevação nos preços dos alimentos 5,0 12 toma forma nos últimos meses, carre- gando o IPCA. 11 4,5 10 Essa pressão provocou medidas 4,0 9 visando controlar a liquidez da 3,5 8 economia. O Banco Central anunciou dez abr ago dez abr ago dez abr ago dez no início de dezembro medidas de 2007 2008 2009 2010 IPCA (esquerda) Selic (direita) restrição ao crédito ao consumidor e Fonte: IBGE e Banco Central do Brasil Elaboração: CNI elevação dos compulsórios (que foram * Estimativa CNI 17
  • 18. Economia BrasilEira Ano 26, n. 04, dezembro de 2010 inflação, juros e crédito reduzidos durante a crise), de forma a retirar R$ 61 bilhões da economia. Concessão de crédito com recursos livres à pessoa física e jurídica O resultado esperado não é imediato, Média dos últimos 12 meses contra os 12 meses anteriores (%) mas deverá surtir efeitos sobre a taxa Apenas o crédito às pessoas físicas retomou o crescimento pré-crise de inflação nos próximos meses. 25 Com a taxa Selic em 10,75% a.a. e a 20 previsão da CNI para a inflação no ano, a 15 taxa de juros real média de 2010 deverá ser de 4,6% a.a.. 10 5 Descompasso entre 0 o crédito às pessoas -5 físicas e jurídicas -10 out fev jun out fev jun out fev jun out A evolução nas concessões de crédito, 2007 2008 2009 2010 Pessoa física Pessoa jurídica especialmente com recursos livres Fonte: Banco Central do Brasil (de origem da própria instituição Elaboração: CNI financeira), mostram um mesmo ciclo tanto para pessoas jurídicas como físicas, com uma queda após o início da crise e a recuperação durante o ano de 2010. Contudo, a intensidade da Atraso maior do que 90 dias da pessoa jurídica retração e o tempo de recuperação dos Proporção do crédito total (%) dois foram distintos. Inadimplência das empresas cai lentamente Depois de desacelerar durante todo o 4,0 período após o início da crise, o ritmo de expansão do crédito com recursos livres 3,5 às pessoas jurídicas voltou a crescer nos 3,0 últimos meses, mas ainda não alcançou o nível de expansão observado antes da 2,5 crise. Já o crédito às pessoas físicas, que apresentou desaceleração mais 2,0 amena, já superou o patamar pré-crise no início do ano. 1,5 fev jun out fev jun out fev jun out Essa diferença na dinâmica se 2008 2009 2010 deu essencialmente pela forma Fonte: Banco Central do Brasil Elaboração: CNI como o Governo tratou os dois 18
  • 19. Economia BrasilEira Ano 26, n. 04, dezembro de 2010 tomadores com as medidas anti- a expansão do consumo interno e da reajustados pela inflação, como crise. Enquanto o crédito à pessoa economia foi fortemente influenciada aluguel, educação e serviços de física foi impulsionado pelo crédito pela extensão dos efeitos das medidas saúde. Além disso, a falta de mão- com recursos privados (medidas governamentais adotadas durante a de-obra qualificada e o baixo nível de de redução de compulsórios, crise. Esses mecanismos começaram desemprego devem elevar os salários garantia aos bancos pequenos e a ser desmontados: fim das isenções dos profissionais liberais, contribuindo incentivo ao crédito ao consumidor), e reduções do IPI (à exceção da para maior pressão nos preços. o crédito à pessoa jurídica foi construção civil), fim do Programa sustentado pelos recursos de Sustentação do Investimento do O movimento dos preços direcionados (BNDES). Assim, BNDES – PSI, restrições ao crédito dos alimentos dependerá do parte dos recursos antes tomados ao consumidor e recomposição dos comportamento dos fatores externos. com recursos da própria instituição compulsórios. Considerando que não haja choques financeira (como capital de giro), foi em termos de safra, a expectativa substituída por outras fontes. Essa situação tende a reduzir o ritmo é de que os preços dos alimentos de crescimento do consumo, afetando desacelerem ao longo do ano, voltando A rápida recuperação do crédito tanto o nível de preços como o próprio a ter leve aceleração apenas no fim de à pessoa física (em comparação crescimento econômico. 2011. Esse movimento deverá ditar a com a jurídica) em parte pode ser volatilidade do IPCA como um todo. explicada pela evolução do nível de É baixo o risco de pressões inflacioná- inadimplência. O indicador de atraso rias nos preços dos produtos indus- Nesse cenário, a CNI projeta o maior do que 90 dias do crédito à triais. O Copom tende a não reverter IPCA em 5% a.a., dentro da meta, pessoa física se elevou de 7% do sua política de juros no curto prazo e mas 0,5 ponto percentual (p.p.) acima crédito total para 8,5% com a crise. os produtos importados deverão conti- do centro. nuar gerando competição acirrada com Contudo, desde maio de 2009 esse As medidas de restrição ao crédito os produtos nacionais. A Utilização da indicador vem caindo, alcançando mostram um indicativo de uma Capacidade Instalada (UCI - CNI) mos- 5,9% em outubro de 2010. Já para a política monetária mais restritiva tra que há espaço para expansão da pessoa jurídica, o indicador se elevou em 2011. Com isso, e supondo oferta de produtos sem gerar pressão de 1,7% para 4% com a crise, e está que a política fiscal seja menos sobre os preços. em um processo lento de redução expansionista que a atual, com (em outubro de 2010, o indicador é de Quanto aos preços administrados, a corte de despesas que garanta 3,5%). expectativa é de que esses tenham a superação da meta de superávit aumentos mais expressivos, uma vez primário, o ciclo de juros necessário A taxa de juros média cobrada reflete que os índices que baseiam grande para atingir a meta de inflação pode essa situação, com taxas em queda parte do reajuste desse grupo vêm se ser menos intenso. para pessoa física e ainda elevadas acelerando em 2010 (o IGP-M acumula para pessoa jurídica. Sob essa hipótese, a CNI prevê um 10,27% em 12 meses em novembro de 2010). aumento total na Selic de 1,25 p.p. Menor liquidez em já nas primeiras reuniões de 2011, As perspectivas para preços dos terminando o ano em 12,00% a.a.. 2011 serviços também não mostram Nesse cenário, a taxa de juros real O ano de 2011 apresentará uma sinais de arrefecimento. Vários média se eleva de 4,6% a.a. em 2010 dinâmica diferente do atual. Em 2010 componentes desse grupo são para 6,3% a.a. em 2011. 19
  • 20. Economia BrasilEira Ano 26, n. 04, dezembro de 2010 política fiscal Forte aumento dos gastos públicos impõe maior custo à política monetária As despesas do setor público cresceram Evolução da despesa primária do Governo Federal de forma significativa em 2010, superan- Acumulada em 12 meses sobre o PIB (%) do até mesmo o ritmo de crescimento de 2009, quando a política fiscal foi Despesas primárias crescem 2,0 p.p do PIB entre dezembro/08 e outubro/10 usada para reduzir o impacto da crise econômica sobre o nível de atividade. 20% Em 2010, diante da retomada do cresci- mento econômico, essa forte expansão 19% fiscal dificultou o cumprimento da meta de superávit primário e impôs maiores 18% custos à política monetária para conter o aumento da demanda e, consequente- mente, da inflação. 17% A mudança mais expressiva na política fiscal ocorreu nos estados e municípios, 16% jan jul jan jul jan jul que ampliaram expressivamente o ritmo 2008 2009 2010 de crescimento das despesas em 2010, Fonte: STN/MF em contraposição à pequena elevação promovida em 2009. Por sua vez, o Governo Federal apenas acelerou o ritmo de expansão dos gastos, que já havia Gastos do Governo Nacional no processo de capitalização da Petrobras. sido elevado em 2009. Federal em 2010: Embora os gastos correntes tenham Como consequência, o esforço fiscal do grande crescimento e apresentado um ritmo de crescimento setor público consolidado deve garantir melhor composição elevado (9,6%) nessa mesma base de somente o cumprimento da meta fiscal comparação, é importante ressaltar ajustada, com a exclusão de investimen- Os gastos primários do Governo que os investimentos tiveram aumento tos e restos a pagar de créditos extraor- Federal apresentaram crescimento real muito superior (44,2%). Isso mostra dinários. Ainda assim, o alcance da meta (deflator IPCA) de 11,4% entre janeiro uma melhoria na composição dos fiscal só ocorrerá em virtude da substan- e outubro de 2010, com relação ao gastos públicos, com elevação da cial entrada de receitas extraordinárias mesmo período do ano anterior. Cabe participação dos investimentos. provenientes da capitalização da Petrobras ressaltar que essa variação exclui a e da exclusão das empresas do Grupo despesa extraordinária de R$ 42,9 A despesa com custeio e capital foi o Eletrobras do cálculo das contas públicas. bilhões referente ao aporte do Tesouro item que mais pressionou pelo aumento 20