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MÚSICA FILME ATITUDEAno 5 nº 27 João Pessoa, novembro 2015
Distribuiçãogratuita
Lá, não tem muito lugar pra tocar, não tem estúdio para ensaio, não tem lojas de discos, nem existe um contingente de músicos para
uma possível substituição, mas quando há um show na cidade, é um acontecimento estrondoso, como se fosse o último show do planeta.
Essa frase parece que foi tirada do cenário dos anos 80, mas não. É a realidade de uma cidade do interior da Paraíba, aproximada-
mente a 100km da capital João Pessoa: Guarabira. Dentro de sua realidade, a cidade se firma com as poucas bandas de Rock que lá se
encontram. Entre elas, o Hard Trio, que faz um southern rock digno de qualquer banda sulista americana, explicita aqui o seu orgulho
pela luta, por acreditar que, às vezes, ligar o “foda-se” e fazer acontecer, é o que interessa. No mais, leia a entrevista a seguir e se ligue.
O que é mais difícil no fato de fazer rock em
Guarabira?
Vinicius - A dificuldade engloba pessoas, público, es-
túdio de ensaio... No tempo que comecei a tocar, era
muito pior, mas muito pior mesmo! Isso por volta de
1998/99. Pra gente tocar lá, temos que promover tudo.
O pessoal que vocês viram no Rock Resiste foi a gente
que convidou pessoalmente ou por telefone. Não te-
mos estúdios de ensaio. Tem um preconceito muito
grande que rola ainda. O bom é que, quando acon-
tece um evento desses, o pessoal das cidades vizinhas,
como Bananeiras, Belém, Solânea, desce em peso!
Mas isso não serve como estímulo?
Vinicius – Sim, claro! E quem tá no rock por
lá é porque gosta mesmo! A gente não se aco-
moda. Quem faz rock, faz por gosto mesmo!
Neto – O apoio cultural do administrador da ci-
dade é fraco, não estimula a cultura de forma
geral. Nós fazemos parte de uma associação, eu e
Vinicius. Vinicius é presidente da Associação de
Arte e Cultura de Guarabira, e eu sou secretário.
Fazer rock em um país que não é do rock já
não é fácil. E vocês escolheram um estilo que
é muito difícil de encontrar bandas, principal-
mente no Nordeste. O southern rock é caip-
ira, e vocês são do interior, é essa a relação?
Vinicius – Quando comecei a descobrir o estilo, fiquei
fascinado! Tem muitas bandas que eu já gostava e fui
descobrindo mais. Quando escutei que tinha banjo,
tinha balada, rock...Acho que o som tem algo de nor-
destino porque o sul-americano são os caipiras e, para
o Sul aqui no Brasil, somos os caipiras (risos). Em
São Paulo e Minas Gerais, o estilo é bem difundido.
E aqui na Paraíba, quais são as bandas de southern
rock?
Vinicius – Desconheço alguma banda por aqui. Nunca
ouvi falar de nenhuma. Até chamamos atenção do site
de Southern Rock Brasil que vem publicando nosso
trabalho. O administrador do site quase não acredita
quando informamos que éramos do interior da Paraí-
ba.
Onde vocês gravaram o single?
Vinicius – Gravamos tudo em Guarabira. É o cartão
de visita da banda. O single tem três músicas auto-
rais, e fizemos uma versão de Boca de Veneno de um
compositor lá de Guarabira chamado Tchero Gomez.
Falamos com ele e transformamos a música dele, que
era um baião, num hard blues. Quando ele ouviu,
disse: “Caralho! Não sabia que minha música podia
ser desse jeito, não!” Nos shows, a gente toca outra
música dele, que é um blues. Fazemos questão de
mostrar o que tem de bom na nossa cidade. Tchero é
um gênio, escreve e compõe muito bem! Só não está
no mainstream porque optou por outro estilo de vida.
Se fosse gravar em outro lugar, teria diferença?
Vinicius – Não. Pensamos em ir para João Pes-
soa, por falta de um estúdio em Guarabira. Daí fi-
camos sabendo que um amigo nosso estava abrindo
um estúdio de gravação e vimos que o custo
beneficio era melhor por lá. Aqui os valores dupli-
cam. Optamos pela comodidade de estar em casa.
Na The Rovers, você compunha em português e em
inglêstambém.Vocêagorasócompõeemportuguês?
Vinicius – Eu sou um cara muito americanizado no
que diz respeito à música. Eu não escuto muita música
em português. Os que gosto são poucos, como Celso
Blues Boy, Silverado Rock Blues, Cracker Blues...
Quando fui gravar o single da The Rovers, brincando
no estúdio, escrevi uma letra em português e foi a
música que a galera mais gostava nos shows!Até hoje,
quando vou compor, eu penso a letra primeiro em in-
glês, depois passo para o português (risos). E, na hora
de compor, vem tudo de uma vez: base, letra, melodia.
Mostroparaosmeninos,eagentevaimontandooresto.
Vocês começaram tocando covers ou já caíram
para a música autoral?
Vinicius – Desde o princípio, o nosso intuito era au-
toral. Tirávamos alguns covers, mas, desde o primeiro
ensaio, foi para fazer nossas músicas. Claro que a
gente tira uns covers com o propósito de chamar aten-
ção do público, porém o foco é mostrar o trabalho que
a gente desenvolve.
Neto – Os covers que tiramos são de bandas que a
gente gosta e que tem uma liga com o som da banda.
Vinicius – Nem adianta pedir para to-
car essa ou aquela música, que não rola.
Como a banda começou? Vocês já se conheciam?
Vinicius – Neto tinha uma banda junto com o nosso
baixista anterior, Mazinho, e eu estava sem banda
porque The Rovers tinha acabado. Daí procurei Neto
para formar alguma parada. Foi assim que começa-
mos. Quando Mazinho saiu, chamamos Marcel.
A adaptação foi fácil?
Marcel – No primeiro ensaio, já rolou toda a dinâmica
e foi muito legal!
Vinicius – Até porque a gente já era amigo. Então,
só acrescentou. Como diz o ditado: caiu como
uma luva! E Marcel nos salvou porque estávamos
com alguns shows já agendados, e deu tudo certo.
Existe dificuldade em encontrar baixistas em
Guarabira?
Vinicius – É difícil! Sendo em Guarabira, coloque
aí umas cinco vezes mais difícil! Marcel era o único
baixista que estava disposto pra guerrilha! (risos)
Marcel – Eu já acompanhava o trabalho dos me-
ninos desde os outros projetos e conhecia bem o
estilo que eles tocam, inclusive as autorais tam-
bém. Quando recebi o convite para entrar na ban-
da, não tivemos muito tempo de ensaio, uns vinte
dias, e já está rolando legal o nosso entrosamento.
Hard Trio - Southern Guarabira Rock
Fotos:OlgaCosta
MICROFONIA2
EXPEDIENTE
Editores:
Adriano Stevenson (DRT - 3401)
Olga Costa (DRT - 60/85)
Colaboradores: Beto L./Igor Nicotina/Fred Bas-
tos/Adelvan Kenobi
Fotos/Editoração:Olga Costa
Ilustração:Josival Fonseca
Revisão: Juliene Paiva Osias
E-mail:jornalmicrofonia@gmail.com
Facebook.com/jornalmicrofonia
Twitter:@jmicrofonia
Tiragem:5.000 exemplares
Todos os textos dos nossos colaboradores são as-
sinados e não necessariamente refletem a opinião
da redação.
Comofoiainiciaçãonorockparacadaumdevocês?
Marcel – Na minha família, todo mundo gosta de
música. Meu pai era baterista e tinha uma banda nos
anos 60. E a minha criação foi sempre escutando
rock, nunca foi de se escutar outra coisa. Como sou
mais novo do que Neto e Vinicius, já acompanhava
as bandas que eles tiveram antes, e fui aprendendo
a tocar violão, depois passei pro baixo, enquanto
eles seguiam nas bandas. Depois montei uma banda
mais voltada para o grunge. Há dois meses, recebi
o convite de Vinicius para entrar no Hard Trio.
Neto – Quando comecei, não tinha noção do que
era música. Eu escutava qualquer coisa. Fui direcio-
nado a uma banda marcial. Toquei cornetão, caixa,
bumbo, um bocado de coisa! Quando comecei a
criar uma concepção musical própria, fui escolhendo
o que me interessava. Foi quando um amigo meu,
que tinha uma banda chamada Choque Urbano, me
chamou pra tocar. Tocamos no evento do Cine Cul-
tura em Guarabira. Quando a gente estava se consoli-
dando, o meu amigo foi para uma igreja evangélica.
Beleza, depois comecei a tocar na Cadilac Sounds,
que tem um registro de 10 músicas. Quando a Ca-
dilac acabou, encontrei com Vinicius e chamei logo
Mazinho. Eu já conhecia o que Vinicius estava fa-
zendo e ele também conhecia meu trabalho. Daí ele
só foi acrescentando o meu conhecimento musical.
Vinicius – Comecei a tocar na igreja com 15 anos.
Minha família é evangélica e conheci o rock dentro da
igreja,comSalomão,meapresentouJimiHendrix,Led
Zeppelin... e aí eu fiquei doido e saí da igreja (risos).
Isso é que é bom! Às vezes, a gente
perde roqueiros para a igreja e tam-
bém ganha roqueiros da igreja! (risos).
Comecei tocando contra-baixo, no tempo da The
Rovers, mas já tocava um pouco de guitarra tam-
bém e depois tive que assumir quando o guitar-
rista saiu. Passei quase uns 10 anos tocando na The
Rovers. Antes de começar a Hard Trio conversei
muito com Neto, uns três meses. Nosso primeiro
show foi no Sessão Microfonia, no Café da Usina.
Qual foi a primeira banda de southern rock
que você ouviu e se apaixonou pelo estilo?
Vinicius – O primeiro disco que escutei foi do
Pride & Glory e fiquei maluco. Quando vi o en-
carte, tinha dedicatória para Lynyrd Skynyrd, All-
man Brothers. E fiquei me perguntando que banda
era aquela, nem Freebird eu conhecia! Fui pesquisar
e, quando ouvi, fui atrás do southern rock. A gente
sempre fecha o show com Sweet Home Alabama,
já é de praxe! Além disso, gosto muito de blues...
Como está o cenário musical de Guara-
bira e o que falta para movimentar mais?
Vinicius – Falta a galera ser mais compromissada. O
público existe, mas tem que ter um local, patrocínio,
a logística e mais união. Além do Rock Resiste,
que queremos fazer outras edições, temos também
o Café com Poeira, que acontece todas as sextas
na praça, e que ainda é marginalizado na cidade.
Neto–Oestímulodeiraosshowslocaisaindaéfracoe
precisamos desse apoio do público, que precisa acre-
ditar que temos artistas de qualidade em nossa cidade.
Falem mais sobre o Café com Poeira... qual é a
história?
Vinicius – O Café com Poeira foi iniciado por dois
caras que fazem parte da Associação de Arte e Cul-
tura. No começo a proposta era de um sarau poé-
tico voluntário. Essa ideia permanece, mas agora a
gente está organizando shows também. É um movi-
mento totalmente independente. Temos apoio de
uma padaria que fornece a bolacha. A gente serve
café, chá e bolacha. É um espaço aberto para teatro,
cordel, musica do forró, pagode, o que for!
O que vocês querem?
Vinicius – Queremos tocar. Tanto pra cinco como
para cinco mil!
EDITORIAL
Algumas escolhas passam longe da lógica.
E se a lógica funciona apenas para quem
escolheu? Fazer rock num país onde rock
é um gênero que menos circula entre as
mídias populares é algo inexplicável. A-
gora, fazer rock no Nordeste e, ainda, numa
cidade do interior, é peso! Roberto Mene-
zes escolheu julho como um bom mês para
morrer e escreveu toda uma vida num pis-
car de olhos, como se à beira da morte es-
tivesse. Fred Bastos escolheu sair do Rio
de Janeiro para se perder nas ruas alemãs
e encontrar ótimos vinis para a sua coleção.
Temos ainda Adelvan Kenobi, que escolheu
mergulhar no barulho ensurdecedor da Je-
sus and Mary Chain, completando agora
30 anos. Não podemos esquecer a Porta
Verde: dessa feita, Beto escolheu um poli-
cial pornô, cuja vilã chupa picolés! E, por
fim, resta a nossa escolha: fazer de um jor-
nalzine o nosso estilo de vida. Boa leitura!
So sad/don’t look so sad, Marina/there’s another
part to play/save for a rainy day. Tão triste/não fique
triste, Marina/haverá dias melhores/guarde isso pra
os dias de chuva (Jayhawks). Em julho, só chove.
Não se controla a água: penetra, destrói, devasta, cor-
rói, alimenta, se espalha e jorra pelos olhos, poros...
Cerrar o luto não é tornar choro enxuto. Laura não
controla a vida. Como charrete desembestada ladei-
ra abaixo, a sua carta para Lucy é escrita com uma
urgência de vida ou morte, enquanto percorre sua reta
final (sem curvas, né,voinha?), precisa vomitar tudo o
que aconteceu. Mãe é porto seguro. Há muito, Laura
perdeu a visão do farol em alto-mar. Ou será que as
tempestades a deixaram sem visão? Guarde para os
dias de chuva grossa, intensa e que parece até que
não vai parar nunca! O percurso é como um flash que
não pode voltar ao ponto de ignição para consertar
o estrago. Apenas com alguns minutos para escrever
tudo que se passa em sua mente, Laura faz uso de
uma linha de tempo fictícia para relatar o que a mãe,
e o que, nem ela própria, testemunhou na vida.
Como o tal de Moisés, que, com um bom papo, levou
uma galera a fugir a pé de um exército do Egito. Moi-
sés, é você que é Deus? Laura tem bom humor. Laura
tem uma torre e um carro no seu jogo. Entre duali-
dades, escolheu caminhos nunca dantes trilhados por
outros de sua comunidade. Rompeu com conceitos e
tradições familiares. Algumas pessoas têm defeito de
fabricação. Inside the heartache of a fool/you’ll learn
things they don’t teach in school/and lessons there
can be real cruel – dentro de um coração partido/
você aprenderá coisas que não se ensina nas escolas/e
essas lições são realmente cruéis. Mas só voinha
era assim: zera a reza, fecha a conta e segue. O.C.
Julho é um Bom Mês para Morrer
Roberto Menezes (2015)
200 páginas 16x23cm. R$45,00.
Editora Patuá
Fahrenheit 451
MICROFONIA 3
Enquanto isso, fora da redação...
THE AUTOMATICS – DIAGRAMMA CD 2015 (RN) Muito se fala em maturidade musical quando o assunto são bandas já veteranas
nessa estrada de rock, resistência, cerveja e roubadas. Para algumas bandas amadurecer o seu som, a música torna-se inofensiva e comercial
ou, simplesmente, emula-se uma nova sonoridade pretensiosa para agradar um seleto grupo de supostos “entendedores de música”. O Auto-
matics mostra-se maduro demais em seu novo disco, para deixar de soar jovem, mas consciente do seu passado, sua história e referências. Os
ecos das décadas em que guitar bands uniam barulho e melodia ainda se fazem presentes, porque a banda surgiu nesse meio e no Nordeste,
em um período em que esse tipo de sonoridade rolava mais no underground do centro, descendo para o sul do mapa brasileiro. O novo
disco merece audição constante, vicia por ser realmente envolvente desde “The Outsider” até a décima faixa, chamada “Run to”, e o que se
ouve é uma nostalgia do hoje, de quem não nega o passado, conectado com o acontece e com um arsenal de ideias para plugar e microfonar
amanhã. Já chegando ao fim de mais um ano, posso afirmar que, entre o que ouvir em 2015, esse foi um dos melhores lançamentos do
ano. Diagramma foi gerado em 3 estúdios diferentes e tem a produção do Sandro Garcia, que assina a participação guitarrística em algumas
músicas, tendo conseguido um belo trabalho junto ao Automatics, registrando em alto e bom som o resultado desses 15 anos de estrada. I.N.
El Mariachi
LUTA CIVIL – MENTIRAS E PIADAS CD-R 2014 (SP) Trio formado por Leo Moraes (guitarra/vocal), Maurício Martins (baixo/vocal)
e Eduardo Coes (bateria), que escancara suas influências na música Eu Quero (Trilha sonora rock’n’roll) – Replicantes, Olho Seco, Garotos
Podres, Cólera, 365 e “gritar com os Devotos/Eu tenho pressa/E um herói”. Por essas citações, já se tem uma ideia do tipo de som criado. As
influências continuam na faixa seguinte, dessa feita, na sonoridade; um pouco da atmosfera dos anos 80 diretamente vindo das Mercenárias, em
Mentiras e Piadas. Na maioria das letras, Luta Civil esbraveja a indignação de viver dentro de um sistema selvagem e que está pouco se lixando
para a seu bem-estar: “se eu te perguntar sobre quem é você/ será que você vai saber o que dizer?”, refrão de Notícias do Fim Novamente, que
deveria grudar na cabeça dos que seguem o ‘rebanho que saca’(sic). Destaques para Pop Pra Quê?, Lixo Humano e País dos Miseráveis. O.C.
SILÉSTE – ALIEN/IANSÃ CD-R (2015) O segundo disco do quarteto gaúcho veio ao mundo no final de outubro desse ano e grita alto o es-
trago que se propõe a fazer. Em pouco mais de 20 minutos densos, de baixo sombrio, paredes de guitarras cortantes e bateria martelada em um
transe, tudo isso militando em nome do barulho e da sujeira criando em todo o disco um clima mergulhado em melancolia. As letras vão longe
na claustrofobia, mas, mesmo assim, cada música se mostra envolvente e não se prende ao inofensivo, como muitos grupos que mesclam poesia
e guitarras a sua sonoridade. O que temos aqui é rock em sua crueza com uma postura que poderíamos chamar de existencialista. A atmosfera
que a banda vem criando desde 2012 está afiada como uma navalha, dilacerando o clichê de bandas que fazem das referências post punk/noise
rock uma coleção de subhits medianos. O que se ouve aqui é um disco completo, e suas faixas caminham em prol dessa provocação. Registros
assim sempre explodiram as ideias e as caixas de som, independente das datas de seu lançamento. Portanto, deixe-se confundir ao som do
Siléste e a sua trilha sonora para pessoas deslocadas em um mundo onde o acesso à informação se tornou tão constante quanto a indiferença. I.N.
MICROFONIA4
Psychocandy - The Jesus and Mary
Chain. Lançado originalmente em
18 denovembro de 1985.
Uma boa parte dos filmes policiais tem um mis-
tério a ser resolvido. Looker não é diferente. A
película conta a história de uma mulher que ataca
durante a noite, seduzindo todos os homens que
encontra pela frente. A atriz Lauren Montgo-
merry está muito devassa nesse papel, pois, além
de transar de todas as formas com os indivíduos,
ainda suga como se eles fossem picolés! Looker
conta também com os policiais Shanna Mc-
Cullough e Vince Voyeur. Vince, no decorrer
das investigações, fica fantasiando transar com
a sua parceira, Shanna. Uma de suas fantasias
é em um restaurante, onde Shanna se encontra
com a morena misteriosa interpretada por Erika
Bella, e Vince chega para fazer a festa, traçando
as duas. Pena que isso é apenas um sonho e não
irá acontecer, pois Shanna é lésbica e muito bem
casada com Jacklyn Lick, que, depois de transar
com Shanna, conta para ela uma história de um
mafioso que tinha o prazer de ver sua mulher
(Sylvia Saint) transar com o seu melhor capanga.
Como diz meu amigo Mano: “Haja corno!” Syl-
via está impecável nesta cena: loira escultural e
com seios apontando para a lua, ela arrasa com o
pobre do capanga. No final, acontece o verdadeiro
sexo da morte. Só assistindo para descobrir! B.L.
Looker - suspense, crimes, sexo.
(1998) - Direção de Nic Cramer. Com
Erika Bella, Sylvia Saint e Lauren
Montgomery.
Nunca vou esquecer a primeira vez que ouvi
“Psychocandy”, o primeiro disco do Jesus And
Mary Chain. Foi mais ou menos na época do lan-
çamento, ainda na década de 80 do século passado
– acho que 1986. Eu tinha meus 15, 16 anos, no
máximo, e estava começando a mergulhar nesse
universo vasto e desconhecido do rock and roll,
pelo qual eu me interessei vendo o primeiro Rock
in Rio na TV. A revista Bizz chegava lá na minha
cidade – Itabaiana, 50 km de Aracaju, Sergipe – e
serviu como guia. Foi em suas páginas que eu li
sobre esses escoceses que estavam causando furor
com shows ensurdecedores de 15 minutos, tocan-
do de costas para o público. Um amigo tinha o tal
disco, e eu fui lá na casa dele ouvir. Primeiro foi o
estranhamento com a faixa de abertura, “Just like
honey”: etérea, sussurrada, com uma gravação
abafada e guitarras cortantes, mas nada demais,
em termos de agressão sonora.Apartir do momen-
to em que a agulha chegou aos sulcos da música
seguinte, no entanto, foi um choque! Aquilo era
algo realmente novo, mesmo para meus ouvidos já
acostumados com Metallica, Slayer e Megadeth.
Era muito, muito barulhento, mas, ao mesmo tem-
po, era doce, melódico. Pop. Um doce psicótico
– poucas vezes, o título traduziu tão bem a so-
noridade de um disco. “Psychocandy” é daquelas
obras que inauguram um novo estilo, para o qual
os críticos têm que se desdobrar para criar um ró-
tulo – “shoegaze”, no caso. Guarda-chuva no qual
se abrigam também My Bloody Valentine, Ride,
Slowdive e uma série de bandas que causaram fu-
ror até a primeira metade da década seguinte. Eu
virei fã de Grindcore, mas “Psychocandy” segue
sendo o disco mais barulhento que eu conheço –
sim, mais que “From Slavement to Obliteration”
ou as “peel sessions” do Napalm Death! É o único
que eu não consigo ouvir inteiro no volume ao
qual estou acostumado: chega um momento em
que os ouvidos começam a doer. É tipo uma ser-
ra elétrica lubrificada com mel. E é lindo! A.K.
Alta FidelidadeAtrás da Porta Verde E o Vento Levou...
Foi com a dica de um contato italiano que eu par-
ti para a estação de metrô de Alexsander Platz,
buscando informações sobre como chegar à esta-
ção de Kottbusser Damm. Com a imprescindível
ajuda da fiel escudeira e esposa, chegamos bem
rápido e fácil (transporte público em Berlin fun-
ciona perfeitamente até para quem não fala um
“a” em alemão). Pelo mapa, minha esposa viu que
um bom ponto de referência era uma lanchonete
Burger King que ficava na esquina ao lado da es-
tação de metrô. Fomos pelo mapa que estava em
nossas mãos e acabamos dando uma volta grande
que passava dentro de uma feira de rua dos turcos.
Logo vimos que a lei da rua ali era mais turca que
alemã! Chegamos ao nosso destino, a loja de dis-
cos Static Shock! E valeu cada rua errada que pe-
gamos... Loja de espaço físico nada muito grande,
mas com as prateleiras absurdamente lotadas de
preciosidades da música Punk, em suas melhores
vertentes: Hardcore europeu e americano, Grind,
Crossover e muito mais. Destaque para os plays
de bandas alemãs das antigas, tipo: Razzia, Bos-
kops, OHL etc. O dono da loja não se encontrava,
e quem trabalhava no momento era um carinha
bem jovem, mas que conhecia bastante de som,
me indicou muita coisa legal e desconhecida. Eles
possuem dois toca-discos pra galera dar um con-
fere nos sons e uma das vitrolas tava ocupada por
um moleque vestido com uma camisa bem tos-
ca do Negative Approach. O garoto estava com
uma puta pilha de discos, ouvindo um por um na
maior secura e escolhendo avidamente os que iria
comprar. Mas eu também estava escolhendo os
meus, lógico! MUITA coisa fudida, reprensagens
já raras e uns original press de cair o queixo. Mas
nada de preços astronômicos, tudo perfeitamente
humano e justo. O Poison Idea havia acabado
de tocar na cidade e seu novo disco estava em
destaque na prateleira principal. Dentre as pren-
sagens originais que estavam na área, havia um
Cause for Alarm do Agnostic, em estado real-
mente mint e um Riistetyt “Nightmares in Dark-
ness” da ROR muito bem conservado. A loja tem
um selo chamado Static Age que relança muita
coisa antiga do Punk alemão, e, dessa praia, aca-
bei pegando um 7” que eu procurava havia mui-
tos anos: Beton Combo “Sound LTD EP”. Nem
acreditei quando finalmente consegui esse hiper
super clássico do Punk alemão. A repress saiu fiel
ao original, mesma capa, encarte, etc. Eles tam-
bém ajudam bandas novas locais, lançando suas
demos e demais materiais.Mais uma loja exem-
plar, que faz valer o lema “more than music”. Nota
10! Visite o site www.staticshockmusic.com.F.B.

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  • 1. MÚSICA FILME ATITUDEAno 5 nº 27 João Pessoa, novembro 2015 Distribuiçãogratuita Lá, não tem muito lugar pra tocar, não tem estúdio para ensaio, não tem lojas de discos, nem existe um contingente de músicos para uma possível substituição, mas quando há um show na cidade, é um acontecimento estrondoso, como se fosse o último show do planeta. Essa frase parece que foi tirada do cenário dos anos 80, mas não. É a realidade de uma cidade do interior da Paraíba, aproximada- mente a 100km da capital João Pessoa: Guarabira. Dentro de sua realidade, a cidade se firma com as poucas bandas de Rock que lá se encontram. Entre elas, o Hard Trio, que faz um southern rock digno de qualquer banda sulista americana, explicita aqui o seu orgulho pela luta, por acreditar que, às vezes, ligar o “foda-se” e fazer acontecer, é o que interessa. No mais, leia a entrevista a seguir e se ligue. O que é mais difícil no fato de fazer rock em Guarabira? Vinicius - A dificuldade engloba pessoas, público, es- túdio de ensaio... No tempo que comecei a tocar, era muito pior, mas muito pior mesmo! Isso por volta de 1998/99. Pra gente tocar lá, temos que promover tudo. O pessoal que vocês viram no Rock Resiste foi a gente que convidou pessoalmente ou por telefone. Não te- mos estúdios de ensaio. Tem um preconceito muito grande que rola ainda. O bom é que, quando acon- tece um evento desses, o pessoal das cidades vizinhas, como Bananeiras, Belém, Solânea, desce em peso! Mas isso não serve como estímulo? Vinicius – Sim, claro! E quem tá no rock por lá é porque gosta mesmo! A gente não se aco- moda. Quem faz rock, faz por gosto mesmo! Neto – O apoio cultural do administrador da ci- dade é fraco, não estimula a cultura de forma geral. Nós fazemos parte de uma associação, eu e Vinicius. Vinicius é presidente da Associação de Arte e Cultura de Guarabira, e eu sou secretário. Fazer rock em um país que não é do rock já não é fácil. E vocês escolheram um estilo que é muito difícil de encontrar bandas, principal- mente no Nordeste. O southern rock é caip- ira, e vocês são do interior, é essa a relação? Vinicius – Quando comecei a descobrir o estilo, fiquei fascinado! Tem muitas bandas que eu já gostava e fui descobrindo mais. Quando escutei que tinha banjo, tinha balada, rock...Acho que o som tem algo de nor- destino porque o sul-americano são os caipiras e, para o Sul aqui no Brasil, somos os caipiras (risos). Em São Paulo e Minas Gerais, o estilo é bem difundido. E aqui na Paraíba, quais são as bandas de southern rock? Vinicius – Desconheço alguma banda por aqui. Nunca ouvi falar de nenhuma. Até chamamos atenção do site de Southern Rock Brasil que vem publicando nosso trabalho. O administrador do site quase não acredita quando informamos que éramos do interior da Paraí- ba. Onde vocês gravaram o single? Vinicius – Gravamos tudo em Guarabira. É o cartão de visita da banda. O single tem três músicas auto- rais, e fizemos uma versão de Boca de Veneno de um compositor lá de Guarabira chamado Tchero Gomez. Falamos com ele e transformamos a música dele, que era um baião, num hard blues. Quando ele ouviu, disse: “Caralho! Não sabia que minha música podia ser desse jeito, não!” Nos shows, a gente toca outra música dele, que é um blues. Fazemos questão de mostrar o que tem de bom na nossa cidade. Tchero é um gênio, escreve e compõe muito bem! Só não está no mainstream porque optou por outro estilo de vida. Se fosse gravar em outro lugar, teria diferença? Vinicius – Não. Pensamos em ir para João Pes- soa, por falta de um estúdio em Guarabira. Daí fi- camos sabendo que um amigo nosso estava abrindo um estúdio de gravação e vimos que o custo beneficio era melhor por lá. Aqui os valores dupli- cam. Optamos pela comodidade de estar em casa. Na The Rovers, você compunha em português e em inglêstambém.Vocêagorasócompõeemportuguês? Vinicius – Eu sou um cara muito americanizado no que diz respeito à música. Eu não escuto muita música em português. Os que gosto são poucos, como Celso Blues Boy, Silverado Rock Blues, Cracker Blues... Quando fui gravar o single da The Rovers, brincando no estúdio, escrevi uma letra em português e foi a música que a galera mais gostava nos shows!Até hoje, quando vou compor, eu penso a letra primeiro em in- glês, depois passo para o português (risos). E, na hora de compor, vem tudo de uma vez: base, letra, melodia. Mostroparaosmeninos,eagentevaimontandooresto. Vocês começaram tocando covers ou já caíram para a música autoral? Vinicius – Desde o princípio, o nosso intuito era au- toral. Tirávamos alguns covers, mas, desde o primeiro ensaio, foi para fazer nossas músicas. Claro que a gente tira uns covers com o propósito de chamar aten- ção do público, porém o foco é mostrar o trabalho que a gente desenvolve. Neto – Os covers que tiramos são de bandas que a gente gosta e que tem uma liga com o som da banda. Vinicius – Nem adianta pedir para to- car essa ou aquela música, que não rola. Como a banda começou? Vocês já se conheciam? Vinicius – Neto tinha uma banda junto com o nosso baixista anterior, Mazinho, e eu estava sem banda porque The Rovers tinha acabado. Daí procurei Neto para formar alguma parada. Foi assim que começa- mos. Quando Mazinho saiu, chamamos Marcel. A adaptação foi fácil? Marcel – No primeiro ensaio, já rolou toda a dinâmica e foi muito legal! Vinicius – Até porque a gente já era amigo. Então, só acrescentou. Como diz o ditado: caiu como uma luva! E Marcel nos salvou porque estávamos com alguns shows já agendados, e deu tudo certo. Existe dificuldade em encontrar baixistas em Guarabira? Vinicius – É difícil! Sendo em Guarabira, coloque aí umas cinco vezes mais difícil! Marcel era o único baixista que estava disposto pra guerrilha! (risos) Marcel – Eu já acompanhava o trabalho dos me- ninos desde os outros projetos e conhecia bem o estilo que eles tocam, inclusive as autorais tam- bém. Quando recebi o convite para entrar na ban- da, não tivemos muito tempo de ensaio, uns vinte dias, e já está rolando legal o nosso entrosamento. Hard Trio - Southern Guarabira Rock Fotos:OlgaCosta
  • 2. MICROFONIA2 EXPEDIENTE Editores: Adriano Stevenson (DRT - 3401) Olga Costa (DRT - 60/85) Colaboradores: Beto L./Igor Nicotina/Fred Bas- tos/Adelvan Kenobi Fotos/Editoração:Olga Costa Ilustração:Josival Fonseca Revisão: Juliene Paiva Osias E-mail:jornalmicrofonia@gmail.com Facebook.com/jornalmicrofonia Twitter:@jmicrofonia Tiragem:5.000 exemplares Todos os textos dos nossos colaboradores são as- sinados e não necessariamente refletem a opinião da redação. Comofoiainiciaçãonorockparacadaumdevocês? Marcel – Na minha família, todo mundo gosta de música. Meu pai era baterista e tinha uma banda nos anos 60. E a minha criação foi sempre escutando rock, nunca foi de se escutar outra coisa. Como sou mais novo do que Neto e Vinicius, já acompanhava as bandas que eles tiveram antes, e fui aprendendo a tocar violão, depois passei pro baixo, enquanto eles seguiam nas bandas. Depois montei uma banda mais voltada para o grunge. Há dois meses, recebi o convite de Vinicius para entrar no Hard Trio. Neto – Quando comecei, não tinha noção do que era música. Eu escutava qualquer coisa. Fui direcio- nado a uma banda marcial. Toquei cornetão, caixa, bumbo, um bocado de coisa! Quando comecei a criar uma concepção musical própria, fui escolhendo o que me interessava. Foi quando um amigo meu, que tinha uma banda chamada Choque Urbano, me chamou pra tocar. Tocamos no evento do Cine Cul- tura em Guarabira. Quando a gente estava se consoli- dando, o meu amigo foi para uma igreja evangélica. Beleza, depois comecei a tocar na Cadilac Sounds, que tem um registro de 10 músicas. Quando a Ca- dilac acabou, encontrei com Vinicius e chamei logo Mazinho. Eu já conhecia o que Vinicius estava fa- zendo e ele também conhecia meu trabalho. Daí ele só foi acrescentando o meu conhecimento musical. Vinicius – Comecei a tocar na igreja com 15 anos. Minha família é evangélica e conheci o rock dentro da igreja,comSalomão,meapresentouJimiHendrix,Led Zeppelin... e aí eu fiquei doido e saí da igreja (risos). Isso é que é bom! Às vezes, a gente perde roqueiros para a igreja e tam- bém ganha roqueiros da igreja! (risos). Comecei tocando contra-baixo, no tempo da The Rovers, mas já tocava um pouco de guitarra tam- bém e depois tive que assumir quando o guitar- rista saiu. Passei quase uns 10 anos tocando na The Rovers. Antes de começar a Hard Trio conversei muito com Neto, uns três meses. Nosso primeiro show foi no Sessão Microfonia, no Café da Usina. Qual foi a primeira banda de southern rock que você ouviu e se apaixonou pelo estilo? Vinicius – O primeiro disco que escutei foi do Pride & Glory e fiquei maluco. Quando vi o en- carte, tinha dedicatória para Lynyrd Skynyrd, All- man Brothers. E fiquei me perguntando que banda era aquela, nem Freebird eu conhecia! Fui pesquisar e, quando ouvi, fui atrás do southern rock. A gente sempre fecha o show com Sweet Home Alabama, já é de praxe! Além disso, gosto muito de blues... Como está o cenário musical de Guara- bira e o que falta para movimentar mais? Vinicius – Falta a galera ser mais compromissada. O público existe, mas tem que ter um local, patrocínio, a logística e mais união. Além do Rock Resiste, que queremos fazer outras edições, temos também o Café com Poeira, que acontece todas as sextas na praça, e que ainda é marginalizado na cidade. Neto–Oestímulodeiraosshowslocaisaindaéfracoe precisamos desse apoio do público, que precisa acre- ditar que temos artistas de qualidade em nossa cidade. Falem mais sobre o Café com Poeira... qual é a história? Vinicius – O Café com Poeira foi iniciado por dois caras que fazem parte da Associação de Arte e Cul- tura. No começo a proposta era de um sarau poé- tico voluntário. Essa ideia permanece, mas agora a gente está organizando shows também. É um movi- mento totalmente independente. Temos apoio de uma padaria que fornece a bolacha. A gente serve café, chá e bolacha. É um espaço aberto para teatro, cordel, musica do forró, pagode, o que for! O que vocês querem? Vinicius – Queremos tocar. Tanto pra cinco como para cinco mil! EDITORIAL Algumas escolhas passam longe da lógica. E se a lógica funciona apenas para quem escolheu? Fazer rock num país onde rock é um gênero que menos circula entre as mídias populares é algo inexplicável. A- gora, fazer rock no Nordeste e, ainda, numa cidade do interior, é peso! Roberto Mene- zes escolheu julho como um bom mês para morrer e escreveu toda uma vida num pis- car de olhos, como se à beira da morte es- tivesse. Fred Bastos escolheu sair do Rio de Janeiro para se perder nas ruas alemãs e encontrar ótimos vinis para a sua coleção. Temos ainda Adelvan Kenobi, que escolheu mergulhar no barulho ensurdecedor da Je- sus and Mary Chain, completando agora 30 anos. Não podemos esquecer a Porta Verde: dessa feita, Beto escolheu um poli- cial pornô, cuja vilã chupa picolés! E, por fim, resta a nossa escolha: fazer de um jor- nalzine o nosso estilo de vida. Boa leitura! So sad/don’t look so sad, Marina/there’s another part to play/save for a rainy day. Tão triste/não fique triste, Marina/haverá dias melhores/guarde isso pra os dias de chuva (Jayhawks). Em julho, só chove. Não se controla a água: penetra, destrói, devasta, cor- rói, alimenta, se espalha e jorra pelos olhos, poros... Cerrar o luto não é tornar choro enxuto. Laura não controla a vida. Como charrete desembestada ladei- ra abaixo, a sua carta para Lucy é escrita com uma urgência de vida ou morte, enquanto percorre sua reta final (sem curvas, né,voinha?), precisa vomitar tudo o que aconteceu. Mãe é porto seguro. Há muito, Laura perdeu a visão do farol em alto-mar. Ou será que as tempestades a deixaram sem visão? Guarde para os dias de chuva grossa, intensa e que parece até que não vai parar nunca! O percurso é como um flash que não pode voltar ao ponto de ignição para consertar o estrago. Apenas com alguns minutos para escrever tudo que se passa em sua mente, Laura faz uso de uma linha de tempo fictícia para relatar o que a mãe, e o que, nem ela própria, testemunhou na vida. Como o tal de Moisés, que, com um bom papo, levou uma galera a fugir a pé de um exército do Egito. Moi- sés, é você que é Deus? Laura tem bom humor. Laura tem uma torre e um carro no seu jogo. Entre duali- dades, escolheu caminhos nunca dantes trilhados por outros de sua comunidade. Rompeu com conceitos e tradições familiares. Algumas pessoas têm defeito de fabricação. Inside the heartache of a fool/you’ll learn things they don’t teach in school/and lessons there can be real cruel – dentro de um coração partido/ você aprenderá coisas que não se ensina nas escolas/e essas lições são realmente cruéis. Mas só voinha era assim: zera a reza, fecha a conta e segue. O.C. Julho é um Bom Mês para Morrer Roberto Menezes (2015) 200 páginas 16x23cm. R$45,00. Editora Patuá Fahrenheit 451
  • 3. MICROFONIA 3 Enquanto isso, fora da redação... THE AUTOMATICS – DIAGRAMMA CD 2015 (RN) Muito se fala em maturidade musical quando o assunto são bandas já veteranas nessa estrada de rock, resistência, cerveja e roubadas. Para algumas bandas amadurecer o seu som, a música torna-se inofensiva e comercial ou, simplesmente, emula-se uma nova sonoridade pretensiosa para agradar um seleto grupo de supostos “entendedores de música”. O Auto- matics mostra-se maduro demais em seu novo disco, para deixar de soar jovem, mas consciente do seu passado, sua história e referências. Os ecos das décadas em que guitar bands uniam barulho e melodia ainda se fazem presentes, porque a banda surgiu nesse meio e no Nordeste, em um período em que esse tipo de sonoridade rolava mais no underground do centro, descendo para o sul do mapa brasileiro. O novo disco merece audição constante, vicia por ser realmente envolvente desde “The Outsider” até a décima faixa, chamada “Run to”, e o que se ouve é uma nostalgia do hoje, de quem não nega o passado, conectado com o acontece e com um arsenal de ideias para plugar e microfonar amanhã. Já chegando ao fim de mais um ano, posso afirmar que, entre o que ouvir em 2015, esse foi um dos melhores lançamentos do ano. Diagramma foi gerado em 3 estúdios diferentes e tem a produção do Sandro Garcia, que assina a participação guitarrística em algumas músicas, tendo conseguido um belo trabalho junto ao Automatics, registrando em alto e bom som o resultado desses 15 anos de estrada. I.N. El Mariachi LUTA CIVIL – MENTIRAS E PIADAS CD-R 2014 (SP) Trio formado por Leo Moraes (guitarra/vocal), Maurício Martins (baixo/vocal) e Eduardo Coes (bateria), que escancara suas influências na música Eu Quero (Trilha sonora rock’n’roll) – Replicantes, Olho Seco, Garotos Podres, Cólera, 365 e “gritar com os Devotos/Eu tenho pressa/E um herói”. Por essas citações, já se tem uma ideia do tipo de som criado. As influências continuam na faixa seguinte, dessa feita, na sonoridade; um pouco da atmosfera dos anos 80 diretamente vindo das Mercenárias, em Mentiras e Piadas. Na maioria das letras, Luta Civil esbraveja a indignação de viver dentro de um sistema selvagem e que está pouco se lixando para a seu bem-estar: “se eu te perguntar sobre quem é você/ será que você vai saber o que dizer?”, refrão de Notícias do Fim Novamente, que deveria grudar na cabeça dos que seguem o ‘rebanho que saca’(sic). Destaques para Pop Pra Quê?, Lixo Humano e País dos Miseráveis. O.C. SILÉSTE – ALIEN/IANSÃ CD-R (2015) O segundo disco do quarteto gaúcho veio ao mundo no final de outubro desse ano e grita alto o es- trago que se propõe a fazer. Em pouco mais de 20 minutos densos, de baixo sombrio, paredes de guitarras cortantes e bateria martelada em um transe, tudo isso militando em nome do barulho e da sujeira criando em todo o disco um clima mergulhado em melancolia. As letras vão longe na claustrofobia, mas, mesmo assim, cada música se mostra envolvente e não se prende ao inofensivo, como muitos grupos que mesclam poesia e guitarras a sua sonoridade. O que temos aqui é rock em sua crueza com uma postura que poderíamos chamar de existencialista. A atmosfera que a banda vem criando desde 2012 está afiada como uma navalha, dilacerando o clichê de bandas que fazem das referências post punk/noise rock uma coleção de subhits medianos. O que se ouve aqui é um disco completo, e suas faixas caminham em prol dessa provocação. Registros assim sempre explodiram as ideias e as caixas de som, independente das datas de seu lançamento. Portanto, deixe-se confundir ao som do Siléste e a sua trilha sonora para pessoas deslocadas em um mundo onde o acesso à informação se tornou tão constante quanto a indiferença. I.N.
  • 4. MICROFONIA4 Psychocandy - The Jesus and Mary Chain. Lançado originalmente em 18 denovembro de 1985. Uma boa parte dos filmes policiais tem um mis- tério a ser resolvido. Looker não é diferente. A película conta a história de uma mulher que ataca durante a noite, seduzindo todos os homens que encontra pela frente. A atriz Lauren Montgo- merry está muito devassa nesse papel, pois, além de transar de todas as formas com os indivíduos, ainda suga como se eles fossem picolés! Looker conta também com os policiais Shanna Mc- Cullough e Vince Voyeur. Vince, no decorrer das investigações, fica fantasiando transar com a sua parceira, Shanna. Uma de suas fantasias é em um restaurante, onde Shanna se encontra com a morena misteriosa interpretada por Erika Bella, e Vince chega para fazer a festa, traçando as duas. Pena que isso é apenas um sonho e não irá acontecer, pois Shanna é lésbica e muito bem casada com Jacklyn Lick, que, depois de transar com Shanna, conta para ela uma história de um mafioso que tinha o prazer de ver sua mulher (Sylvia Saint) transar com o seu melhor capanga. Como diz meu amigo Mano: “Haja corno!” Syl- via está impecável nesta cena: loira escultural e com seios apontando para a lua, ela arrasa com o pobre do capanga. No final, acontece o verdadeiro sexo da morte. Só assistindo para descobrir! B.L. Looker - suspense, crimes, sexo. (1998) - Direção de Nic Cramer. Com Erika Bella, Sylvia Saint e Lauren Montgomery. Nunca vou esquecer a primeira vez que ouvi “Psychocandy”, o primeiro disco do Jesus And Mary Chain. Foi mais ou menos na época do lan- çamento, ainda na década de 80 do século passado – acho que 1986. Eu tinha meus 15, 16 anos, no máximo, e estava começando a mergulhar nesse universo vasto e desconhecido do rock and roll, pelo qual eu me interessei vendo o primeiro Rock in Rio na TV. A revista Bizz chegava lá na minha cidade – Itabaiana, 50 km de Aracaju, Sergipe – e serviu como guia. Foi em suas páginas que eu li sobre esses escoceses que estavam causando furor com shows ensurdecedores de 15 minutos, tocan- do de costas para o público. Um amigo tinha o tal disco, e eu fui lá na casa dele ouvir. Primeiro foi o estranhamento com a faixa de abertura, “Just like honey”: etérea, sussurrada, com uma gravação abafada e guitarras cortantes, mas nada demais, em termos de agressão sonora.Apartir do momen- to em que a agulha chegou aos sulcos da música seguinte, no entanto, foi um choque! Aquilo era algo realmente novo, mesmo para meus ouvidos já acostumados com Metallica, Slayer e Megadeth. Era muito, muito barulhento, mas, ao mesmo tem- po, era doce, melódico. Pop. Um doce psicótico – poucas vezes, o título traduziu tão bem a so- noridade de um disco. “Psychocandy” é daquelas obras que inauguram um novo estilo, para o qual os críticos têm que se desdobrar para criar um ró- tulo – “shoegaze”, no caso. Guarda-chuva no qual se abrigam também My Bloody Valentine, Ride, Slowdive e uma série de bandas que causaram fu- ror até a primeira metade da década seguinte. Eu virei fã de Grindcore, mas “Psychocandy” segue sendo o disco mais barulhento que eu conheço – sim, mais que “From Slavement to Obliteration” ou as “peel sessions” do Napalm Death! É o único que eu não consigo ouvir inteiro no volume ao qual estou acostumado: chega um momento em que os ouvidos começam a doer. É tipo uma ser- ra elétrica lubrificada com mel. E é lindo! A.K. Alta FidelidadeAtrás da Porta Verde E o Vento Levou... Foi com a dica de um contato italiano que eu par- ti para a estação de metrô de Alexsander Platz, buscando informações sobre como chegar à esta- ção de Kottbusser Damm. Com a imprescindível ajuda da fiel escudeira e esposa, chegamos bem rápido e fácil (transporte público em Berlin fun- ciona perfeitamente até para quem não fala um “a” em alemão). Pelo mapa, minha esposa viu que um bom ponto de referência era uma lanchonete Burger King que ficava na esquina ao lado da es- tação de metrô. Fomos pelo mapa que estava em nossas mãos e acabamos dando uma volta grande que passava dentro de uma feira de rua dos turcos. Logo vimos que a lei da rua ali era mais turca que alemã! Chegamos ao nosso destino, a loja de dis- cos Static Shock! E valeu cada rua errada que pe- gamos... Loja de espaço físico nada muito grande, mas com as prateleiras absurdamente lotadas de preciosidades da música Punk, em suas melhores vertentes: Hardcore europeu e americano, Grind, Crossover e muito mais. Destaque para os plays de bandas alemãs das antigas, tipo: Razzia, Bos- kops, OHL etc. O dono da loja não se encontrava, e quem trabalhava no momento era um carinha bem jovem, mas que conhecia bastante de som, me indicou muita coisa legal e desconhecida. Eles possuem dois toca-discos pra galera dar um con- fere nos sons e uma das vitrolas tava ocupada por um moleque vestido com uma camisa bem tos- ca do Negative Approach. O garoto estava com uma puta pilha de discos, ouvindo um por um na maior secura e escolhendo avidamente os que iria comprar. Mas eu também estava escolhendo os meus, lógico! MUITA coisa fudida, reprensagens já raras e uns original press de cair o queixo. Mas nada de preços astronômicos, tudo perfeitamente humano e justo. O Poison Idea havia acabado de tocar na cidade e seu novo disco estava em destaque na prateleira principal. Dentre as pren- sagens originais que estavam na área, havia um Cause for Alarm do Agnostic, em estado real- mente mint e um Riistetyt “Nightmares in Dark- ness” da ROR muito bem conservado. A loja tem um selo chamado Static Age que relança muita coisa antiga do Punk alemão, e, dessa praia, aca- bei pegando um 7” que eu procurava havia mui- tos anos: Beton Combo “Sound LTD EP”. Nem acreditei quando finalmente consegui esse hiper super clássico do Punk alemão. A repress saiu fiel ao original, mesma capa, encarte, etc. Eles tam- bém ajudam bandas novas locais, lançando suas demos e demais materiais.Mais uma loja exem- plar, que faz valer o lema “more than music”. Nota 10! Visite o site www.staticshockmusic.com.F.B.