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MÚSICA .FILME .HQ .SHOWAno 4 nº 22 João Pessoa, agosto 2014
Distribuiçãogratuita
Na cidade do Recife, nos escombros do bairro do Ibura e na periferia de Jaboatão Velho, dois indivíduos surgiram com propos-
ta que, no mínimo, cria um habitat sonoro que expõe todas as fraquezas e dúvidas humanas. Barulho... muito barulho: serve como um
condutor de agonia e destruição dos valores que eles mesmos resolveram quebrar, juntando tudo isso com letras minimalistas, tre-
tas punks, rolês sem futuro, ressaca homéricas e gigs em combustão. Esse é o duo Pröjjetö Macabrö, no qual, Adriano Onairda (vo-
cal/guitarra), Vando Sujeira (bateria/vocal) explicitam doses cavalares de inconformismo contra o imposto. Com o recente CD intitula-
do Ruptura e uma turnê às vésperas de acontecer, o Microfonia teve um bate papo com os punks que movem mundos e moinhos. Boa leitura!
Fotos:OlgaCosta
nos anos 90 até meados dos anos 2000. E hoje vejo que
muita coisa era apenas o momento, atualmente não
tenho o preconceito, que criamos nas nossas cabeças.
A ruptura também pode ser direcionado ao movi-
mento punk?
Vando - Algumas pessoas vivenciam o punk, mas
não sabem o que significa, porém são punks também!
Adriano - Existem dois lados: tem a auto-afirmação
punk, que é a valorização da cultura e tem a viven-
cia que não precisa se auto-afirmar. Tem muitos que
se dizem punk, mas não fazem nada do que a cultura
punk oferece. Enquanto uns que nem sabem e tem
atitude feita, outros só dizem que “punk é atitude”
e só fica nessa, de apenas falar. Qual é a atitude? O
que está por trás dessa atitude punk? É o dia a dia
ou o que? Eu uso visual punk, acho massa essa que-
bra de valores, da roupa feia, tachada. Vejo muitos
se dizendo punk, radical e depois de um ano, morga.
O que levou vocês a se identificarem com o punk?
Adriano – Em 92/93 eu comecei a sentir uma ira den-
tro de mim, que eu não sabia o que era. Batia de frente
e discordava sempre, mas não sabia explicar o que era
aquilo. E comecei a escutar bandas punk. Lembro que
ganhei uma fita do Discharged e nem tinha ideia do
que era aquele som. Escuta e achava muito foda e me
identifiquei com aquela raiva. Sempre ouvi rock, mas
queria algo mais. Para mim o algo mais foi o punk!
Vando – Fui criado naquela família conservadora,
de imposições ideológicas. O que me atraiu no rock
foi a sonoridade, a estranheza. Como eu não tinha
opinião formada sobre nada, eu comecei a me in-
teressar pela ideologia através do som e comecei a
me identificar com as letras porque estavam em sin-
tonia com o que eu vivenciava e vivencio até hoje.
Vocês já levaram dedo na cara?
Adriano – Já levei porque já fiz isso! Já cheguei e
apontei dedo. Pessoas que já tachei mal e depois
pedi desculpa. E sofro até hoje porque teve um
momento que despertei e fui consertar meus er-
ros, mas ao ser mais coerente e falando o que eu
realmente pensava, muitos me criticaram muito
mais! Algumas pessoas estavam esperando que
eu fosse mais falso, então, é melhor se isolar.
Qual foiogatilho para começaroPröjjetö Macabro?
Adriano – Eu toquei em várias bandas: Derriba Tus
Muros, que tem 19 anos e toco com eles há 12 anos,
desde a morte do Crânio e o Vando toca guitarra tem
um ano, junto comAmadeus (vocal e fundador da ban-
da), que sempre nos apóia na produção/divulgação/
eventos da Pröjjetö. Teve também a Alarme de Re-
sistência que era uma banda anarcopunk (2001/2003),
depois montei uma raw punk que era a Terror Algum
(2003/2006). Quando a Terror acabou eu não queria
mais tocar em banda, não queria fazer mais nada. Para
mim foi o ápice de vivencia punk, um momento de
fúria intensa e depois do rompimento, achei que não ia
tocar mais nada, nem ia conhecer ninguém para com-
partilhar minhas idéias. E de repente, do nada, o cara
que tocava comigo, Isac, me apresentou Vando! E a
gente começou a fazer letras, nas ruas, nos ônibus...
eram letras improvisadas e dessa afinidade surgiu o
Projeto Atômico, mas aí começamos a escrever letras
Ruptura é o primeiro álbum. Qual é a ruptura do
Pröjettö Macabro?
Vando – Vai da interpretação de cada um. Mas a for-
ma de expor esse título Ruptura é abrangente porque
pode ser uma ruptura consigo mesmo, do próprio in-
dividual para com os outros. O primordial é a ruptura
individual. Falamos muito de morte, estando vivo,
ainda! E a morte é uma forma de ruptura. Falamos
em lembranças porque elas podem ser esquecidas...
Adriano – Ruptura em si foi o título que a gente
achou cabível devido ao tempo que a gente está to-
cando e só depois de cinco anos conseguimos gravar
um CD prensado, que foi muita correria. E como a
própria letra diz que “romper as afinidades descon-
struídas com contradições”, desde de amizades até
os nossos próprios conceitos, pois cada dia temos
idéias novas, rompimentos. A cada dia a gente aban-
dona uma ideia para construir outra melhor. Tem
pessoas que se dizem amigas, abraçam e quando
você dá as costas, mete a faca, fala mal. Todas as le-
tras do CD questionam a falha humana, dessa forma
de falsidade e de falta de personalidade e de sin-
ceridade. Todos os dias a gente se depara com isso,
com as pessoas mais próximas e as mais distantes...
Podemos dizer que o CD é dentro dos pa-
drões de um disco conceitual ou vocês rompe-
ram com os padrões conceituais também?
Adriano - A gente manteve uma ligação nas letras das
músicas, que vão de amizade falsa ao punk. O título
veio da grande mudança porque para gravarmos esse
CD tivemos que romper com muitas coisas, desde o
radicalismo sem fundamento, que eu vivi muito isso
Pröjjetö Macabrö - Ruptura com tudo e todos
MICROFONIA2
EXPEDIENTE
Editores:
Adriano Stevenson (DRT - 3401)
Olga Costa (DRT - 60/85)
Colaboradores: Josival Fonseca/Beto L./Erivan
Silva/Igor Nicotina/Adelvan Kenobi
Fotos/Editoração:Olga Costa
Ilustração:Josival Fonseca
Revisão: Juliene Paiva Osias
E-mail:jornalmicrofonia@gmail.com
Facebook.com/jornalmicrofonia
Twitter:@jmicrofonia
Tiragem:5.000 exemplares
Todos os textos dos nossos colaboradores são as-
sinados e não necessariamente refletem a opinião
da redação.
mais pesadas sobre o cotidiano, macabras, como a
sociedade impõe. Então, resolvemos fazer o Pröjjetö
Macabro que é contra a água da maré. Depois de dez
anos, a TerrorAlgum voltou com nova formação, que
é um pessoal do Rio de Janeiro, e está para sair em um
EP. Sempre que vou ao Rio a gente grava músicas.
Vando - Além do nome Pröjjetö Macabro, o tí-
tulo do primeiro CD “Do Silêncio Surge o Caos”
é porque o caos, as bombas são projetadas silen-
ciosamente até chegar a explodir. Tudo que é es-
condido é macabro! “Do Silêncio Surge o Caos” é
como uma bomba que foi projetada no sigilo e fi-
cou calada por muito tempo. O Pröjjetö Macabro
reflete toda a negatividade que a gente vivencia.
Vocês estão mais para o Anarquismo ou para o
Niilismo?
Adriano - Posso dizer que, a banda é um pessimis-
mo construtivo, vemos o lado negativo como uma
forma positiva de viver. Equilibrando mentalmente o
bem e o mal, de uma forma coesa para sobreviver. É
um anarquismo individual, não queremos um anar-
quismo utópico, então temos que viver o anarquismo
primeiro. Não adianta propor uma ideia anárquica
se eu não viver! Se viver é complicado, então,
começamos a trabalhar isso individualmente, se
tem que mudar, devemos começar por nós mesmos.
Vando – Tanto o Anarquismo como o Niilismo são
inerentes a proposta do Pröjjetö Macabro. Digamos
que, a gente usa materiais para construir daquilo que
foi demolido. É uma reciclagem de idéias no dia a dia.
Mas isso não é um tanto difícil?
Adriano – É, mas o difícil é bom (risos)
É difícil, estando dentro do sistema e alimentar
essas idéias...
Adriano – Por isso que é gostoso viver isso! A
cada dia é uma batalha. Uma vitória ou uma der-
rota. Se chegasse aqui dizendo que tudo é em vão,
estaria em casa esperando a morte chegar, engor-
dando. Montar a banda com o Vando foi a última
esperança do nada! E conseguimos coisas que nunca
tínhamos conseguido antes, tipo, shows, viagens...
Ser um duo ajuda...
Adriano - Todo mundo pergunta por que não tem
um baixista?
Vando – A proposta inicial da banda foi essa.
Adriano – Não sabemos tocar direito, as músi-
cas são curtas, frases, mas a gente ta dando certo!
As músicas são começo e fim, não tem meio. A
gente começa e dá logo a resposta final, nunca
como verdade absoluta e sim como uma incó-
gnita, plantada na cabeça de cada um que ouvir.
Que tipo de som levou vocês a fazerem o que
fazem hoje?
Vando – Sonora tem várias, mas a nossa
real influência é o cotidiano. Nossas afini-
dades, batalhas, rancores, neuroses... o ba-
rulho das ruas é a principal influência sonora.
Adriano – Eu trabalho numa empresa que tem um
bip. Esse barulho sempre está na minha cabeça. Toda
vez que escuto o bip faço uma letra. Agora, influên-
cia sonora, eu particularmente, gosto muito do D-
Beat, de bandas da Suécia, os primeiros álbuns dos
Ratos de Porão, as bandas anarco-punk do Brasil.
Vocês escutam outros sons que não seja punk?
Adriano – Escuto rap, gótico dos anos 80...
Vando – Independente da proposta do Pröjjetö Ma-
cabro - que é fazer um som barulhento, deixando bem
claro o que queremos passar, com esse tipo de so-
noridade, que é caótica e sem firulas – eu prefiro um
lance pesado que vai do punk ao rap, metal, mas eu
escuto de tudo rock and roll, jazz. Sou uma enciclopé-
dia ambulante, mas finjo que não sei de nada (risos).
Diversão versus austeridade, esse tipo de com-
portamento cria uma cobrança ideológica?
Adriano – A gente se diverte com a miséria.
Tem playboy que não vive na miséria e tenta
dizer que vive nela. É um cara que tem mui-
ta grana e fica revirando lixo. O que é diver-
tido pra gente para muitos é uma postura radical.
O punk, até hoje, incomoda, causa descon-
forto. Quando alguém do mainstream discorre
sobre o punk, sempre tem distorções, tipo, o
punk veio da boutique da Viviane Eastwood...
Vando – É a tentativa de fazer do punk
algo aceitável para a população alienada...
Adriano – Hoje em dia, os meios de comunica-
ção, internet faz com que tudo fique banal. A gente
é da época de carta e telefone de ficha! Pra pegar
uma demo esperávamos meses. Só quem sabe uti-
lizar a tecnologia, disponível hoje, é quem se fo-
deu. A molecada que já pegou o bonde andando,
a maioria, só fala besteira e briga pela internet!
Qual a postura de vocês dentro do movimento
punk? Já que tinha tantas facções no punk...
Adriano – Simplesmente a gente vive o
punk de uma forma crua. Não vou dizer que
sou de algum segmento. Sou punk e vivo o
hardcore, da postura a expressão musical.
Vando - A música requer uma interpretação daqueles
queestãoescutandoecadauminterpretadaformaque
quiser! A gente não faz um som para forçar ninguém
a aceitar nossa opção musical, nem nossa ideologia.
Adriano – Não queremos impor nada. Não a-
creditamos na verdade, acreditamos na dúvida!
EDITORIAL
Ruptura, segundo o dicionário, é ação ou
efeito de romper (-se); rompimento, fratura,
quebradura. Fora do dicionário, a ruptura
ganha novas proporções além do significa-
do acadêmico. Os nossos entrevistados
escolheram o nome Ruptura para batizar o
primeiro rebento oficial da Pröjjetö Macabrö
(PE), lançado esse ano e que já rende uma
turnê que será iniciada em breve. A Discar-
ga Violenta, há algumas décadas, também
marcou com rupturas sonoras e estéticas
no cenário potiguar, sendo seminal mesmo
sem saber, como atesta o inspirado texto
de Adelvan Kenobi em E O Vento Levou. Na
Fahrenheit 451 a ruptura califórniana dos
Dead Kennedys – Fresh Fruit for Rotten
Vegetables (os primeiros anos), escrito por
Alex Ogg, ainda ecooa até os dias atuais,
no texto de Igor Nicotina. Existe uma infini-
dade de rupturas. Algumas estão prestes a
acontecer. Qual a sua ruptura? Boa leitura!
Das cinzas do projeto “Cooperativa do caos”, que
pretendia lançar uma coletânea da cena punk/HC do
norte e nordeste do final da década de 80, surgiram
dois frutos memoráveis: a demo “Suicídio” da Karne
Krua, e o compacto “Cosmopolita” da Discarga Vio-
lenta, que era (é?) uma banda de Natal, RN, que fazia
um som rápido, barulhento e inventivo. “Cosmopoli-
ta” vinha embalado num pôster que, ao ser dobrado,
formava capa, contracapa e encarte. Orgulhava-se de
conter 19 sons em apenas 6 minutos. Começa muito
bem, com “Liberte-se”, faixa cadenciada baseada
num ótimo riff e letra minimalista que descamba num
noise densenfreado e retoma o riff no final. E assim
segue, alternando passagens desleixadas, toscas, mas
melódicas, com barulho puro. Com ótimas letras, que
transmitem grandes mensagens em poucas palavras.
Pérolas da síntese punk. Impressionou. Porém, o me-
lhor ainda estava por vir: em 1993 eles lançaram o 2º
EP, “DADA”, melhor pensado e acabado, em todos os
sentidos, tanto gráfico, quanto na qualidade das com-
posições, pois a execução continuava tosca, com uma
única e poderosa exceção: o baterista Tampinha, que
conduziu o disco com maestria, combinando de forma
perfeita batidas blast beat com passagens nitidamente
jazzísticas. Uma evolução impressionante! Adriano
Stevenson (guitarra), ex-Devastação e depois Rotten
Flies (onde está até hoje), saiu e deu o lugar a Derek,
mas deixou como legado uma belíssima coleção de
canções. Começa com “Libera”, um hardcore rapidís-
simo, em que musica e letra se casam de forma per-
feita. Seguida por “Raimundo”, um poema desmusi-
cado, de Drummond, apenas em sua primeira parte,
puro noise, porque em seguida a mesma faixa entrega
a primeira e impressionante levada jazzística do disco.
A terceira tem uma letra que se resume a duas sen-
tenças: “Ame seu ódio/e aja já”, mas ditas de forma
brilhante num ritmo cadenciado e vigoroso. “Equi-
librio bem/mal” tem o melhor momento percussivo do
disco. O lado A encerra com “Não esqueça”, da De-
vastação, pioneira, da primeira geração punk potiguar.
O lado B começa lascivo com “Caralho dói” e segue
no mesmo ritmo com “Anjos da cidade” – trepadas
gozadas isso é que é bom. “Povo sem vergonha” se
desenrola através de um diálogo com uma voz femi-
nina (Gigi) deliciosamente carregada de sotaque nor-
destino. Fechando, “Um pássaro”, um belíssimo libelo
libertário que nos faz ter vontade de jogar tudo pro ar.
Periga ser a melhor do disco, e que disco! “DADA”,
do Discarga Violenta, é uma obra-prima. Tenho dito
isso há mais de 20 anos, e nunca mudei de ideia. A.K.
E o Vento Levou...
MICROFONIA 3
Enquanto isso, fora da redação...
KNOC DOWN – DO PESCOÇO PRA BAIXO É CANELA CD-R (PE) Esse EP mescla o que muitos diriam ser clichês do punk
rock e hardcore, mas os caras mandam bem no som que fazem. Simples e velozes as faixas passam urgência e expõem letras que
vão desde o cotidiano retratado com um toque de humor e revesada com a temática de protesto típica dessa vertente. As faixas Es-
cravos do Sistema e Encosto são dois pontos fortes, tendo a segunda umas passagens com uma pegada mais próxima do hardcore.
Já Serrote tem um flerte com a música nordestina com direito a triangulo no meio da música, algo que me lembrou um pouco o iní-
cio dos Raimundos. Na última faixa, Chun Li cita a personagem do game Street Fighter numa historinha onde o cara tem uma tara
por ela, música rápida e com direito a backing vocal mezzo NOFX mezzo Misfits. Ainda falta um diferencial, mas se você procura
diversão, os caras conseguem contagiar os ouvintes do estilo. Resta ver o que os caras aprontarão nos próximos lançamentos. I.N.
PRÖJJETÖ MACABRÖ – RUPTURA CD 2014 (PE) Posso dizer que, o país que vivemos, é um verdadeiro projeto macabro, pois
temos políticos ladrões pensando que são anjos e pastores bandidos pensando que são deuses. Estes dois tipos é o que não falta nessa
bagaça. Já o Pröjjetö fez um CD muito bacana com guitarra suja e bateria porradaça, e são apenas dois caras! O Adriano Onairda (Tio
Chico) guitarra/vocal e Vando (Sujeira) na bateria/vocal. Por sinal, o vocal ficou bem audível. O som é aquele punkão com letras
que dão o tom de como a humanidade ainda vai sofrer. A parte gráfica vem com todas as letras, mas devido a um erro na prensagem
a primeira música começa pela terceira, porém, isso não tira o mérito da banda que é um verdadeiro chute nos ovos! Destaques para
El Mariachi
MOLOTOV ATTACK – RESISTÊNCIA CD 2012 (SP) Resistência é o EP dos paulistas do Molotov Attack, os caras que
seguem a tradição de bandas de punk/hardcore do ABC, trazem um som old school, mas sem soar datado, assim fica cla-
ro que os caras não escutam só os clássicos e estão ativos e atualizados no que rola na cena. As sete faixas desse registro pas-
sam rápido e causam estrago, algo comparável a um caminhão desgovernado. Na primeira música eles passam por cima do na-
zismo e seguem nas outras faixas expondo toda a insatisfação das letras em um som agressivo, direto e sem muito tempo pra
firula. O material gráfico ficou bacana, capa e encarte com letras e de quebra um patch da banda. O disco conta com as partic-
ipações de Barata do DZK e Cláudia do Negative Control. Pra quem procura urgência, esse material é um tiro certeiro. I.N.
MAD GRINDER – HITTING AROUND 2013 (RN) Guitarras furiosas explodindo riffs repetitivos em um transe garageiro. Mossoró
tem revelado uma série de bandas que sabem fazer barulho. É o caso do power trio formado por Thassio Martins - Guitarra e Voz, Ra-
faum Costa - baixo e voz (ex-Distro) e Andola Costa – bateria, mergulhado no fuzz do stoner rock e embriagado na fonte do grunge, o
Mad Grinder da um tiro certeiro nas 10 faixas do disco. Da arrastadona I’m Fine o disco se desenrola na linha do stoner atual até a faixa
de encerramento, que com seus violões melancólicos e toques de psicodelia dão um final inesperado ao trabalho. A cozinha é potente e
as guitarras e vocais rasgados dão o toque sujo que a proposta pede. O disco foi gravado em 2013 no estúdio DoSol em Natal e tem uma
bela produção, além de um material gráfico bacana com arte simples, mas bem viajadona na capa. Pra quem sabe dirigir deve ser bacana
ouvir no talo enquanto pega estrada para algum lugar, aos que não dirigem resta pegar carona com quem curta um bom disco de rock. I.N.
GLAUCO KING & THE WEST WOLVES - SEXY OFFENDER CD 2014 (CE) O Barra Dolls agitou um monte de shows, gravou seu
material, depois mudou o nome para Bonecas da Barra e seguiu pelas ruas de Fortaleza e mundo afora, tendo tocado em João Pessoa um
pouco antes de acabar.Algum tempo se passou e o vocalista Glauco King, inquieto e cheio de idéias decidiu continuar em uma nova ban-
da chamada Glauco King & The West Wolves. Assim como nos tempos do Bonecas, New York Dolls, Stooges, Dead Boys e afins ainda
fazem a cabeça do cara e de seus parceiros, mas agora a coisa foi mais longe no rock sujo em estado terminal: os caras chutam o balde em
músicas urgentes, humor debochado, mas sem cair no besteirol. Não espere ouvir imune as letras sacanas e as guitarras ferozes seguidas
por baixo e bateria explosivos. Sexy Offender reforça que o nordeste esta longe desse eterno revival oitentista do rock nacional, com
um disco recheado de bons sons e muita munição para descarregar em músicas como Vovô Eu Uso Saia, James Dean e Sexy Offender
fuzilando qualquer ouvinte de rock’n’roll entediado e adepto do discurso enfadonho que de que só existem bons discos no passado. I.N.
HELGA S/T CD-R 2014 (RJ) As referências aos anos 90 estão na cara quando se escuta o som do Helga, mas nada soa deriva-
tivo, pois a identidade está presente nas faixas desse EP que conta com gente do cenário carioca que já passaram pelas bandas
Jason, Brasov, Carbona, Luxúria e Rodox, gente que viveu a década de 90. A experiência dos integrantes deve ter contado para
produzir um trabalho bruto e coeso, a cada faixa é despejado um peso em cima do ouvinte, onde os ritmos quebrados em algu-
mas passagens e os vocais alternando entre melodias e berros lembram algo entre o Helmet e o Faith No More. As guitarras estão
muito bem encaixadas e destacam cada mudança presente nas músicas do Helga. Os vocais de Vital estão realmente inspirados
nesse registro. Indicado para quem não liga para “balança” e quer ouvir um som obeso e violento. Destaque para Eu me Anulei. I.N.
MICROFONIA4
Fahrenheit 451
The Sex
Spirit
Direção:
Issac
Dovidad
com
Beverly
Lynne e
Anne Marrie
Os tempos são outros e a urgência dessa interatividade
com redes sociais e tantos lançamentos de discos vir-
tuais parecem tornar tudo efêmero e banal. Esse discur-
so está sempre presente entre os mais nostálgicos fãs de
rock e é nesse cenário que é lançado no Brasil, um livro
que relata o início de uma banda que tem em seu legado
uma constante inquietação. Fruto do tra-balho árduo de
Alex Ogg em reunir depoimentos com os membros que
um dia integraram o Dead Kennedys. O livro ilustra os
integrantes centrados na produção de sua música, ape-
sar dos conflitos de ego e das dificuldades em carregar
um nome e uma postura tão provocativa. Nas declara-
ções, mesmo que divergentes, existe o reflexo de um
grupo que além de organizado produziu bastante coisa
enquanto esteve na ativa como uma banda de verdade.
Fundaram o selo independente Alternative Tentacles e
foi uma das bandas responsáveis por levar o punk para
algo além da mesmice e moldar o que ficou conhecido
como hardcore, mas sem estagnar nos clichês desse
estilo. Entre os destaques estão o processo de criação,
gravação e lançamento do primeiro disco e as citações
a bandas como Avengers, Germs e Screamers, casas
de shows e o circuito underground de turnês abrindo
espaço para entrada de um público menor de idade.
Vale salientar as ilustrações e colagens de Winston
Smith que junto com as ideias de Jello Biafra foram
o principal ponto para criação de uma identidade vi-
sual da banda. Mas como todos sabem, o final não foi
feliz e a batalha nos tribunais ainda rola solta. Hoje o
Dead Kennedys sem Jello nos vocais funciona como
um videokê e toda aquela aura de contestação política
e senso de humor ácido deu lugar a um mero saudo-
sismo caça níqueis, mas o legado vive e o livro veio
provando que o estrago causado pelo grupo vai além
dos poucos acordes, que o trabalho de Alex Ogg
foi imparcial e tão devastador quanto cada segundo
de “Holidays in Cambodia”. Enfim, um registro es-
sencial para se entender porque a música dos caras
ainda é relevante, indo de encontro à estagnação do
que era tido como o bom e velho rock’n’roll, provo-
cando o mesmo a voltar a trilhar na contramão. I.N.
Não foi um clássico instantâneo. Foi maturado, digno
de qualquer obra que cria uma ruptura com o, já esta-
belecido, gênero. Tanto que, a revista Readers Digest,
na época, tentou avisar as pessoas para não assistirem
ao filme, pois o mesmo inspirava o canibalismo ou
até, por colocar um negro como protagonista, visto
que as tensões raciais americanas estavam em alta
no final da década de 60 (Martin Luther King foi as-
sassinado no ano da estreia do filme). Antes de 1968,
filmes de zumbi não tinham impacto, ou os zumbis
eram assistente da bruxa ou faxineiro de vampiro.
Foi então, que dois publicitários de Pittsburgh, que
gostavam dos filmes de terror, dos estúdios da Uni-
versal, por serem filmes que exploravam de forma
sofisticada o medo e o sobrenatural, começaram a bo-
lar o que seria o “santo graal”, a pedra fundamental,
o norte para os navegantes que se aventuram abor-
dando o mesmo tema. Um dos roteiristas do filme,
John Russo resolveu romancea-lo, feita que as vezes
soa como oportunismo, mas que não deixa de criar
um brilho no olhar dos que procuram alguma brecha
que possa dar aquilo que mais importa: conhecimen-
to! O mais bacana é a introdução: O Nascimento dos
Mortos Vivos, nela é explicado como a ideia de um
complementa a do outro. O diretor e também rotei-
rista George A. Romero escreveu quarenta páginas
com uma ideia em que os mortos se levantavam das
tumbas e começavam a atacar os humanos. Ao ser per-
guntado por John , qual era a motivação dos mortos,
George ficou sem palavras. Russo tinha um roteiro so-
bre alienígenas que espreitavam o planeta Terra para
comer carne humana...bingo! Juntou a tampa com a
panela, mortos que comem carne humana, maravilha,
deu no que deu! O livro também conta com outro ro-
teiro de Russo, do filme de 1985, A Volta dos Mortos
dos Vivos, que não tem nenhuma ligação com ANoite
dos Mortos Vivos, ficando na média, puxado mais pro
“terrir”, mais por culpa da direção do que do roteiro.
De qualquer forma não se pode negar que todos os
dois foram pilares pra gente como Sam Raimi, Wes
Craven, Quentin Tarantino, Robert Kirkman. Se você
conheceu o fenômeno zumbi por causa de Walking
Dead, corre lá atrás, que o negócio é sinistro. A.S.
Dead Kennedys
Fresh fruit for
Rotten
Vegetables
[os primeiros
anos]
Editora Ideal
240pgs
Brochura
R$ 39,90
Imagine você passando um final de semana em um
hotel mal assombrado, onde as pessoas são possuí-
das por forças malignas. Esse é o enredo do filme
que não chega a ser um filmão, mas as cenas estão
muito bem conduzidas pelos atores. A dona do ho-
tel é levada a transar com a namorada e as esposas
dos clientes numa pegada só. Lembrando que aqui,
ninguém é de ninguém. Remete, um pouco, a série
Clic de Milo Manara. Pena que é tudo ficção. Até
a próxima pessoal, como diz o Pernalonga. B.L.
A Noite dos
Mortos Vivos
Editora
Darside Books
21x14 cm
320 pgs.
R$ 47,90
Atrás da Porta Verde
Patrocínio
Este filme conta a história de um gigolo que aposta
com uma milionária, que pode transformar uma pros-
tituta numa dama. Ambos saem na busca da prostituta,
e não demoram muito para encontrar. A prostituta é a
atriz Constance Money, que na época foi considerada
uma das mais bonitas atrizes. O filme começa quando
a milionária transando na boate onde eles estão, de-
pois a levam para uma mansão, onde vai acontecer
as aulas. Aí você pode pensar: as lições são: como
sentar, como comer, falar e se comportar, nada disso!
Pois aqui é: 69, de quatro, suruba e dupla penetração
e outras coisitas mais. A produção é bem cuidada, se
vê luxo e requinte nos ambientes, com cenas ousa-
das. No final do filme, o gigolo se apaixona pela ga-
rota de programa. Não parece uma cena de novela?
The Opening of
Misty
Bethoven
(1976) Direção
Henry Paris
com
Constance
Money e
Jimie Gilles

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Música, filme e HQs em revista punk

  • 1. MÚSICA .FILME .HQ .SHOWAno 4 nº 22 João Pessoa, agosto 2014 Distribuiçãogratuita Na cidade do Recife, nos escombros do bairro do Ibura e na periferia de Jaboatão Velho, dois indivíduos surgiram com propos- ta que, no mínimo, cria um habitat sonoro que expõe todas as fraquezas e dúvidas humanas. Barulho... muito barulho: serve como um condutor de agonia e destruição dos valores que eles mesmos resolveram quebrar, juntando tudo isso com letras minimalistas, tre- tas punks, rolês sem futuro, ressaca homéricas e gigs em combustão. Esse é o duo Pröjjetö Macabrö, no qual, Adriano Onairda (vo- cal/guitarra), Vando Sujeira (bateria/vocal) explicitam doses cavalares de inconformismo contra o imposto. Com o recente CD intitula- do Ruptura e uma turnê às vésperas de acontecer, o Microfonia teve um bate papo com os punks que movem mundos e moinhos. Boa leitura! Fotos:OlgaCosta nos anos 90 até meados dos anos 2000. E hoje vejo que muita coisa era apenas o momento, atualmente não tenho o preconceito, que criamos nas nossas cabeças. A ruptura também pode ser direcionado ao movi- mento punk? Vando - Algumas pessoas vivenciam o punk, mas não sabem o que significa, porém são punks também! Adriano - Existem dois lados: tem a auto-afirmação punk, que é a valorização da cultura e tem a viven- cia que não precisa se auto-afirmar. Tem muitos que se dizem punk, mas não fazem nada do que a cultura punk oferece. Enquanto uns que nem sabem e tem atitude feita, outros só dizem que “punk é atitude” e só fica nessa, de apenas falar. Qual é a atitude? O que está por trás dessa atitude punk? É o dia a dia ou o que? Eu uso visual punk, acho massa essa que- bra de valores, da roupa feia, tachada. Vejo muitos se dizendo punk, radical e depois de um ano, morga. O que levou vocês a se identificarem com o punk? Adriano – Em 92/93 eu comecei a sentir uma ira den- tro de mim, que eu não sabia o que era. Batia de frente e discordava sempre, mas não sabia explicar o que era aquilo. E comecei a escutar bandas punk. Lembro que ganhei uma fita do Discharged e nem tinha ideia do que era aquele som. Escuta e achava muito foda e me identifiquei com aquela raiva. Sempre ouvi rock, mas queria algo mais. Para mim o algo mais foi o punk! Vando – Fui criado naquela família conservadora, de imposições ideológicas. O que me atraiu no rock foi a sonoridade, a estranheza. Como eu não tinha opinião formada sobre nada, eu comecei a me in- teressar pela ideologia através do som e comecei a me identificar com as letras porque estavam em sin- tonia com o que eu vivenciava e vivencio até hoje. Vocês já levaram dedo na cara? Adriano – Já levei porque já fiz isso! Já cheguei e apontei dedo. Pessoas que já tachei mal e depois pedi desculpa. E sofro até hoje porque teve um momento que despertei e fui consertar meus er- ros, mas ao ser mais coerente e falando o que eu realmente pensava, muitos me criticaram muito mais! Algumas pessoas estavam esperando que eu fosse mais falso, então, é melhor se isolar. Qual foiogatilho para começaroPröjjetö Macabro? Adriano – Eu toquei em várias bandas: Derriba Tus Muros, que tem 19 anos e toco com eles há 12 anos, desde a morte do Crânio e o Vando toca guitarra tem um ano, junto comAmadeus (vocal e fundador da ban- da), que sempre nos apóia na produção/divulgação/ eventos da Pröjjetö. Teve também a Alarme de Re- sistência que era uma banda anarcopunk (2001/2003), depois montei uma raw punk que era a Terror Algum (2003/2006). Quando a Terror acabou eu não queria mais tocar em banda, não queria fazer mais nada. Para mim foi o ápice de vivencia punk, um momento de fúria intensa e depois do rompimento, achei que não ia tocar mais nada, nem ia conhecer ninguém para com- partilhar minhas idéias. E de repente, do nada, o cara que tocava comigo, Isac, me apresentou Vando! E a gente começou a fazer letras, nas ruas, nos ônibus... eram letras improvisadas e dessa afinidade surgiu o Projeto Atômico, mas aí começamos a escrever letras Ruptura é o primeiro álbum. Qual é a ruptura do Pröjettö Macabro? Vando – Vai da interpretação de cada um. Mas a for- ma de expor esse título Ruptura é abrangente porque pode ser uma ruptura consigo mesmo, do próprio in- dividual para com os outros. O primordial é a ruptura individual. Falamos muito de morte, estando vivo, ainda! E a morte é uma forma de ruptura. Falamos em lembranças porque elas podem ser esquecidas... Adriano – Ruptura em si foi o título que a gente achou cabível devido ao tempo que a gente está to- cando e só depois de cinco anos conseguimos gravar um CD prensado, que foi muita correria. E como a própria letra diz que “romper as afinidades descon- struídas com contradições”, desde de amizades até os nossos próprios conceitos, pois cada dia temos idéias novas, rompimentos. A cada dia a gente aban- dona uma ideia para construir outra melhor. Tem pessoas que se dizem amigas, abraçam e quando você dá as costas, mete a faca, fala mal. Todas as le- tras do CD questionam a falha humana, dessa forma de falsidade e de falta de personalidade e de sin- ceridade. Todos os dias a gente se depara com isso, com as pessoas mais próximas e as mais distantes... Podemos dizer que o CD é dentro dos pa- drões de um disco conceitual ou vocês rompe- ram com os padrões conceituais também? Adriano - A gente manteve uma ligação nas letras das músicas, que vão de amizade falsa ao punk. O título veio da grande mudança porque para gravarmos esse CD tivemos que romper com muitas coisas, desde o radicalismo sem fundamento, que eu vivi muito isso Pröjjetö Macabrö - Ruptura com tudo e todos
  • 2. MICROFONIA2 EXPEDIENTE Editores: Adriano Stevenson (DRT - 3401) Olga Costa (DRT - 60/85) Colaboradores: Josival Fonseca/Beto L./Erivan Silva/Igor Nicotina/Adelvan Kenobi Fotos/Editoração:Olga Costa Ilustração:Josival Fonseca Revisão: Juliene Paiva Osias E-mail:jornalmicrofonia@gmail.com Facebook.com/jornalmicrofonia Twitter:@jmicrofonia Tiragem:5.000 exemplares Todos os textos dos nossos colaboradores são as- sinados e não necessariamente refletem a opinião da redação. mais pesadas sobre o cotidiano, macabras, como a sociedade impõe. Então, resolvemos fazer o Pröjjetö Macabro que é contra a água da maré. Depois de dez anos, a TerrorAlgum voltou com nova formação, que é um pessoal do Rio de Janeiro, e está para sair em um EP. Sempre que vou ao Rio a gente grava músicas. Vando - Além do nome Pröjjetö Macabro, o tí- tulo do primeiro CD “Do Silêncio Surge o Caos” é porque o caos, as bombas são projetadas silen- ciosamente até chegar a explodir. Tudo que é es- condido é macabro! “Do Silêncio Surge o Caos” é como uma bomba que foi projetada no sigilo e fi- cou calada por muito tempo. O Pröjjetö Macabro reflete toda a negatividade que a gente vivencia. Vocês estão mais para o Anarquismo ou para o Niilismo? Adriano - Posso dizer que, a banda é um pessimis- mo construtivo, vemos o lado negativo como uma forma positiva de viver. Equilibrando mentalmente o bem e o mal, de uma forma coesa para sobreviver. É um anarquismo individual, não queremos um anar- quismo utópico, então temos que viver o anarquismo primeiro. Não adianta propor uma ideia anárquica se eu não viver! Se viver é complicado, então, começamos a trabalhar isso individualmente, se tem que mudar, devemos começar por nós mesmos. Vando – Tanto o Anarquismo como o Niilismo são inerentes a proposta do Pröjjetö Macabro. Digamos que, a gente usa materiais para construir daquilo que foi demolido. É uma reciclagem de idéias no dia a dia. Mas isso não é um tanto difícil? Adriano – É, mas o difícil é bom (risos) É difícil, estando dentro do sistema e alimentar essas idéias... Adriano – Por isso que é gostoso viver isso! A cada dia é uma batalha. Uma vitória ou uma der- rota. Se chegasse aqui dizendo que tudo é em vão, estaria em casa esperando a morte chegar, engor- dando. Montar a banda com o Vando foi a última esperança do nada! E conseguimos coisas que nunca tínhamos conseguido antes, tipo, shows, viagens... Ser um duo ajuda... Adriano - Todo mundo pergunta por que não tem um baixista? Vando – A proposta inicial da banda foi essa. Adriano – Não sabemos tocar direito, as músi- cas são curtas, frases, mas a gente ta dando certo! As músicas são começo e fim, não tem meio. A gente começa e dá logo a resposta final, nunca como verdade absoluta e sim como uma incó- gnita, plantada na cabeça de cada um que ouvir. Que tipo de som levou vocês a fazerem o que fazem hoje? Vando – Sonora tem várias, mas a nossa real influência é o cotidiano. Nossas afini- dades, batalhas, rancores, neuroses... o ba- rulho das ruas é a principal influência sonora. Adriano – Eu trabalho numa empresa que tem um bip. Esse barulho sempre está na minha cabeça. Toda vez que escuto o bip faço uma letra. Agora, influên- cia sonora, eu particularmente, gosto muito do D- Beat, de bandas da Suécia, os primeiros álbuns dos Ratos de Porão, as bandas anarco-punk do Brasil. Vocês escutam outros sons que não seja punk? Adriano – Escuto rap, gótico dos anos 80... Vando – Independente da proposta do Pröjjetö Ma- cabro - que é fazer um som barulhento, deixando bem claro o que queremos passar, com esse tipo de so- noridade, que é caótica e sem firulas – eu prefiro um lance pesado que vai do punk ao rap, metal, mas eu escuto de tudo rock and roll, jazz. Sou uma enciclopé- dia ambulante, mas finjo que não sei de nada (risos). Diversão versus austeridade, esse tipo de com- portamento cria uma cobrança ideológica? Adriano – A gente se diverte com a miséria. Tem playboy que não vive na miséria e tenta dizer que vive nela. É um cara que tem mui- ta grana e fica revirando lixo. O que é diver- tido pra gente para muitos é uma postura radical. O punk, até hoje, incomoda, causa descon- forto. Quando alguém do mainstream discorre sobre o punk, sempre tem distorções, tipo, o punk veio da boutique da Viviane Eastwood... Vando – É a tentativa de fazer do punk algo aceitável para a população alienada... Adriano – Hoje em dia, os meios de comunica- ção, internet faz com que tudo fique banal. A gente é da época de carta e telefone de ficha! Pra pegar uma demo esperávamos meses. Só quem sabe uti- lizar a tecnologia, disponível hoje, é quem se fo- deu. A molecada que já pegou o bonde andando, a maioria, só fala besteira e briga pela internet! Qual a postura de vocês dentro do movimento punk? Já que tinha tantas facções no punk... Adriano – Simplesmente a gente vive o punk de uma forma crua. Não vou dizer que sou de algum segmento. Sou punk e vivo o hardcore, da postura a expressão musical. Vando - A música requer uma interpretação daqueles queestãoescutandoecadauminterpretadaformaque quiser! A gente não faz um som para forçar ninguém a aceitar nossa opção musical, nem nossa ideologia. Adriano – Não queremos impor nada. Não a- creditamos na verdade, acreditamos na dúvida! EDITORIAL Ruptura, segundo o dicionário, é ação ou efeito de romper (-se); rompimento, fratura, quebradura. Fora do dicionário, a ruptura ganha novas proporções além do significa- do acadêmico. Os nossos entrevistados escolheram o nome Ruptura para batizar o primeiro rebento oficial da Pröjjetö Macabrö (PE), lançado esse ano e que já rende uma turnê que será iniciada em breve. A Discar- ga Violenta, há algumas décadas, também marcou com rupturas sonoras e estéticas no cenário potiguar, sendo seminal mesmo sem saber, como atesta o inspirado texto de Adelvan Kenobi em E O Vento Levou. Na Fahrenheit 451 a ruptura califórniana dos Dead Kennedys – Fresh Fruit for Rotten Vegetables (os primeiros anos), escrito por Alex Ogg, ainda ecooa até os dias atuais, no texto de Igor Nicotina. Existe uma infini- dade de rupturas. Algumas estão prestes a acontecer. Qual a sua ruptura? Boa leitura! Das cinzas do projeto “Cooperativa do caos”, que pretendia lançar uma coletânea da cena punk/HC do norte e nordeste do final da década de 80, surgiram dois frutos memoráveis: a demo “Suicídio” da Karne Krua, e o compacto “Cosmopolita” da Discarga Vio- lenta, que era (é?) uma banda de Natal, RN, que fazia um som rápido, barulhento e inventivo. “Cosmopoli- ta” vinha embalado num pôster que, ao ser dobrado, formava capa, contracapa e encarte. Orgulhava-se de conter 19 sons em apenas 6 minutos. Começa muito bem, com “Liberte-se”, faixa cadenciada baseada num ótimo riff e letra minimalista que descamba num noise densenfreado e retoma o riff no final. E assim segue, alternando passagens desleixadas, toscas, mas melódicas, com barulho puro. Com ótimas letras, que transmitem grandes mensagens em poucas palavras. Pérolas da síntese punk. Impressionou. Porém, o me- lhor ainda estava por vir: em 1993 eles lançaram o 2º EP, “DADA”, melhor pensado e acabado, em todos os sentidos, tanto gráfico, quanto na qualidade das com- posições, pois a execução continuava tosca, com uma única e poderosa exceção: o baterista Tampinha, que conduziu o disco com maestria, combinando de forma perfeita batidas blast beat com passagens nitidamente jazzísticas. Uma evolução impressionante! Adriano Stevenson (guitarra), ex-Devastação e depois Rotten Flies (onde está até hoje), saiu e deu o lugar a Derek, mas deixou como legado uma belíssima coleção de canções. Começa com “Libera”, um hardcore rapidís- simo, em que musica e letra se casam de forma per- feita. Seguida por “Raimundo”, um poema desmusi- cado, de Drummond, apenas em sua primeira parte, puro noise, porque em seguida a mesma faixa entrega a primeira e impressionante levada jazzística do disco. A terceira tem uma letra que se resume a duas sen- tenças: “Ame seu ódio/e aja já”, mas ditas de forma brilhante num ritmo cadenciado e vigoroso. “Equi- librio bem/mal” tem o melhor momento percussivo do disco. O lado A encerra com “Não esqueça”, da De- vastação, pioneira, da primeira geração punk potiguar. O lado B começa lascivo com “Caralho dói” e segue no mesmo ritmo com “Anjos da cidade” – trepadas gozadas isso é que é bom. “Povo sem vergonha” se desenrola através de um diálogo com uma voz femi- nina (Gigi) deliciosamente carregada de sotaque nor- destino. Fechando, “Um pássaro”, um belíssimo libelo libertário que nos faz ter vontade de jogar tudo pro ar. Periga ser a melhor do disco, e que disco! “DADA”, do Discarga Violenta, é uma obra-prima. Tenho dito isso há mais de 20 anos, e nunca mudei de ideia. A.K. E o Vento Levou...
  • 3. MICROFONIA 3 Enquanto isso, fora da redação... KNOC DOWN – DO PESCOÇO PRA BAIXO É CANELA CD-R (PE) Esse EP mescla o que muitos diriam ser clichês do punk rock e hardcore, mas os caras mandam bem no som que fazem. Simples e velozes as faixas passam urgência e expõem letras que vão desde o cotidiano retratado com um toque de humor e revesada com a temática de protesto típica dessa vertente. As faixas Es- cravos do Sistema e Encosto são dois pontos fortes, tendo a segunda umas passagens com uma pegada mais próxima do hardcore. Já Serrote tem um flerte com a música nordestina com direito a triangulo no meio da música, algo que me lembrou um pouco o iní- cio dos Raimundos. Na última faixa, Chun Li cita a personagem do game Street Fighter numa historinha onde o cara tem uma tara por ela, música rápida e com direito a backing vocal mezzo NOFX mezzo Misfits. Ainda falta um diferencial, mas se você procura diversão, os caras conseguem contagiar os ouvintes do estilo. Resta ver o que os caras aprontarão nos próximos lançamentos. I.N. PRÖJJETÖ MACABRÖ – RUPTURA CD 2014 (PE) Posso dizer que, o país que vivemos, é um verdadeiro projeto macabro, pois temos políticos ladrões pensando que são anjos e pastores bandidos pensando que são deuses. Estes dois tipos é o que não falta nessa bagaça. Já o Pröjjetö fez um CD muito bacana com guitarra suja e bateria porradaça, e são apenas dois caras! O Adriano Onairda (Tio Chico) guitarra/vocal e Vando (Sujeira) na bateria/vocal. Por sinal, o vocal ficou bem audível. O som é aquele punkão com letras que dão o tom de como a humanidade ainda vai sofrer. A parte gráfica vem com todas as letras, mas devido a um erro na prensagem a primeira música começa pela terceira, porém, isso não tira o mérito da banda que é um verdadeiro chute nos ovos! Destaques para El Mariachi MOLOTOV ATTACK – RESISTÊNCIA CD 2012 (SP) Resistência é o EP dos paulistas do Molotov Attack, os caras que seguem a tradição de bandas de punk/hardcore do ABC, trazem um som old school, mas sem soar datado, assim fica cla- ro que os caras não escutam só os clássicos e estão ativos e atualizados no que rola na cena. As sete faixas desse registro pas- sam rápido e causam estrago, algo comparável a um caminhão desgovernado. Na primeira música eles passam por cima do na- zismo e seguem nas outras faixas expondo toda a insatisfação das letras em um som agressivo, direto e sem muito tempo pra firula. O material gráfico ficou bacana, capa e encarte com letras e de quebra um patch da banda. O disco conta com as partic- ipações de Barata do DZK e Cláudia do Negative Control. Pra quem procura urgência, esse material é um tiro certeiro. I.N. MAD GRINDER – HITTING AROUND 2013 (RN) Guitarras furiosas explodindo riffs repetitivos em um transe garageiro. Mossoró tem revelado uma série de bandas que sabem fazer barulho. É o caso do power trio formado por Thassio Martins - Guitarra e Voz, Ra- faum Costa - baixo e voz (ex-Distro) e Andola Costa – bateria, mergulhado no fuzz do stoner rock e embriagado na fonte do grunge, o Mad Grinder da um tiro certeiro nas 10 faixas do disco. Da arrastadona I’m Fine o disco se desenrola na linha do stoner atual até a faixa de encerramento, que com seus violões melancólicos e toques de psicodelia dão um final inesperado ao trabalho. A cozinha é potente e as guitarras e vocais rasgados dão o toque sujo que a proposta pede. O disco foi gravado em 2013 no estúdio DoSol em Natal e tem uma bela produção, além de um material gráfico bacana com arte simples, mas bem viajadona na capa. Pra quem sabe dirigir deve ser bacana ouvir no talo enquanto pega estrada para algum lugar, aos que não dirigem resta pegar carona com quem curta um bom disco de rock. I.N. GLAUCO KING & THE WEST WOLVES - SEXY OFFENDER CD 2014 (CE) O Barra Dolls agitou um monte de shows, gravou seu material, depois mudou o nome para Bonecas da Barra e seguiu pelas ruas de Fortaleza e mundo afora, tendo tocado em João Pessoa um pouco antes de acabar.Algum tempo se passou e o vocalista Glauco King, inquieto e cheio de idéias decidiu continuar em uma nova ban- da chamada Glauco King & The West Wolves. Assim como nos tempos do Bonecas, New York Dolls, Stooges, Dead Boys e afins ainda fazem a cabeça do cara e de seus parceiros, mas agora a coisa foi mais longe no rock sujo em estado terminal: os caras chutam o balde em músicas urgentes, humor debochado, mas sem cair no besteirol. Não espere ouvir imune as letras sacanas e as guitarras ferozes seguidas por baixo e bateria explosivos. Sexy Offender reforça que o nordeste esta longe desse eterno revival oitentista do rock nacional, com um disco recheado de bons sons e muita munição para descarregar em músicas como Vovô Eu Uso Saia, James Dean e Sexy Offender fuzilando qualquer ouvinte de rock’n’roll entediado e adepto do discurso enfadonho que de que só existem bons discos no passado. I.N. HELGA S/T CD-R 2014 (RJ) As referências aos anos 90 estão na cara quando se escuta o som do Helga, mas nada soa deriva- tivo, pois a identidade está presente nas faixas desse EP que conta com gente do cenário carioca que já passaram pelas bandas Jason, Brasov, Carbona, Luxúria e Rodox, gente que viveu a década de 90. A experiência dos integrantes deve ter contado para produzir um trabalho bruto e coeso, a cada faixa é despejado um peso em cima do ouvinte, onde os ritmos quebrados em algu- mas passagens e os vocais alternando entre melodias e berros lembram algo entre o Helmet e o Faith No More. As guitarras estão muito bem encaixadas e destacam cada mudança presente nas músicas do Helga. Os vocais de Vital estão realmente inspirados nesse registro. Indicado para quem não liga para “balança” e quer ouvir um som obeso e violento. Destaque para Eu me Anulei. I.N.
  • 4. MICROFONIA4 Fahrenheit 451 The Sex Spirit Direção: Issac Dovidad com Beverly Lynne e Anne Marrie Os tempos são outros e a urgência dessa interatividade com redes sociais e tantos lançamentos de discos vir- tuais parecem tornar tudo efêmero e banal. Esse discur- so está sempre presente entre os mais nostálgicos fãs de rock e é nesse cenário que é lançado no Brasil, um livro que relata o início de uma banda que tem em seu legado uma constante inquietação. Fruto do tra-balho árduo de Alex Ogg em reunir depoimentos com os membros que um dia integraram o Dead Kennedys. O livro ilustra os integrantes centrados na produção de sua música, ape- sar dos conflitos de ego e das dificuldades em carregar um nome e uma postura tão provocativa. Nas declara- ções, mesmo que divergentes, existe o reflexo de um grupo que além de organizado produziu bastante coisa enquanto esteve na ativa como uma banda de verdade. Fundaram o selo independente Alternative Tentacles e foi uma das bandas responsáveis por levar o punk para algo além da mesmice e moldar o que ficou conhecido como hardcore, mas sem estagnar nos clichês desse estilo. Entre os destaques estão o processo de criação, gravação e lançamento do primeiro disco e as citações a bandas como Avengers, Germs e Screamers, casas de shows e o circuito underground de turnês abrindo espaço para entrada de um público menor de idade. Vale salientar as ilustrações e colagens de Winston Smith que junto com as ideias de Jello Biafra foram o principal ponto para criação de uma identidade vi- sual da banda. Mas como todos sabem, o final não foi feliz e a batalha nos tribunais ainda rola solta. Hoje o Dead Kennedys sem Jello nos vocais funciona como um videokê e toda aquela aura de contestação política e senso de humor ácido deu lugar a um mero saudo- sismo caça níqueis, mas o legado vive e o livro veio provando que o estrago causado pelo grupo vai além dos poucos acordes, que o trabalho de Alex Ogg foi imparcial e tão devastador quanto cada segundo de “Holidays in Cambodia”. Enfim, um registro es- sencial para se entender porque a música dos caras ainda é relevante, indo de encontro à estagnação do que era tido como o bom e velho rock’n’roll, provo- cando o mesmo a voltar a trilhar na contramão. I.N. Não foi um clássico instantâneo. Foi maturado, digno de qualquer obra que cria uma ruptura com o, já esta- belecido, gênero. Tanto que, a revista Readers Digest, na época, tentou avisar as pessoas para não assistirem ao filme, pois o mesmo inspirava o canibalismo ou até, por colocar um negro como protagonista, visto que as tensões raciais americanas estavam em alta no final da década de 60 (Martin Luther King foi as- sassinado no ano da estreia do filme). Antes de 1968, filmes de zumbi não tinham impacto, ou os zumbis eram assistente da bruxa ou faxineiro de vampiro. Foi então, que dois publicitários de Pittsburgh, que gostavam dos filmes de terror, dos estúdios da Uni- versal, por serem filmes que exploravam de forma sofisticada o medo e o sobrenatural, começaram a bo- lar o que seria o “santo graal”, a pedra fundamental, o norte para os navegantes que se aventuram abor- dando o mesmo tema. Um dos roteiristas do filme, John Russo resolveu romancea-lo, feita que as vezes soa como oportunismo, mas que não deixa de criar um brilho no olhar dos que procuram alguma brecha que possa dar aquilo que mais importa: conhecimen- to! O mais bacana é a introdução: O Nascimento dos Mortos Vivos, nela é explicado como a ideia de um complementa a do outro. O diretor e também rotei- rista George A. Romero escreveu quarenta páginas com uma ideia em que os mortos se levantavam das tumbas e começavam a atacar os humanos. Ao ser per- guntado por John , qual era a motivação dos mortos, George ficou sem palavras. Russo tinha um roteiro so- bre alienígenas que espreitavam o planeta Terra para comer carne humana...bingo! Juntou a tampa com a panela, mortos que comem carne humana, maravilha, deu no que deu! O livro também conta com outro ro- teiro de Russo, do filme de 1985, A Volta dos Mortos dos Vivos, que não tem nenhuma ligação com ANoite dos Mortos Vivos, ficando na média, puxado mais pro “terrir”, mais por culpa da direção do que do roteiro. De qualquer forma não se pode negar que todos os dois foram pilares pra gente como Sam Raimi, Wes Craven, Quentin Tarantino, Robert Kirkman. Se você conheceu o fenômeno zumbi por causa de Walking Dead, corre lá atrás, que o negócio é sinistro. A.S. Dead Kennedys Fresh fruit for Rotten Vegetables [os primeiros anos] Editora Ideal 240pgs Brochura R$ 39,90 Imagine você passando um final de semana em um hotel mal assombrado, onde as pessoas são possuí- das por forças malignas. Esse é o enredo do filme que não chega a ser um filmão, mas as cenas estão muito bem conduzidas pelos atores. A dona do ho- tel é levada a transar com a namorada e as esposas dos clientes numa pegada só. Lembrando que aqui, ninguém é de ninguém. Remete, um pouco, a série Clic de Milo Manara. Pena que é tudo ficção. Até a próxima pessoal, como diz o Pernalonga. B.L. A Noite dos Mortos Vivos Editora Darside Books 21x14 cm 320 pgs. R$ 47,90 Atrás da Porta Verde Patrocínio Este filme conta a história de um gigolo que aposta com uma milionária, que pode transformar uma pros- tituta numa dama. Ambos saem na busca da prostituta, e não demoram muito para encontrar. A prostituta é a atriz Constance Money, que na época foi considerada uma das mais bonitas atrizes. O filme começa quando a milionária transando na boate onde eles estão, de- pois a levam para uma mansão, onde vai acontecer as aulas. Aí você pode pensar: as lições são: como sentar, como comer, falar e se comportar, nada disso! Pois aqui é: 69, de quatro, suruba e dupla penetração e outras coisitas mais. A produção é bem cuidada, se vê luxo e requinte nos ambientes, com cenas ousa- das. No final do filme, o gigolo se apaixona pela ga- rota de programa. Não parece uma cena de novela? The Opening of Misty Bethoven (1976) Direção Henry Paris com Constance Money e Jimie Gilles