Dj Poppy tornou-se a maior DJ feminina em Portugal após anos a trabalhar na noite e desenvolver uma paixão pela música. Sua determinação e garra a ajudaram a superar a difícil aceitação inicial de sua família e a estabelecer uma carreira sólida como DJ, apesar dos desafios enfrentados por ser mulher no meio. Atualmente, é considerada uma versão feminina do renomado DJ Vibe e continua marcando diferença pela qualidade de sua música.
A trajetória de Dj Poppy, destaque feminino do djing nacional
1. Dj Poppy
Nascida na África do Sul, cedo se radicou em terras lusas, onde ganharia o
gosto pela noite. Após o período de difícil aceitação, pela família, do facto de
trabalhar à noite, tornou-se o maior nome feminino do djing nacional.
Dona de uma garra e determinação ímpares, Dj Poppy, já considerada um Vibe
versão mulher, veio para ficar e marcar a diferença pela qualidade. Um caso
como poucos!
De onde vem o nome Poppy? Que linha tocavas quando começaste? Dizem que és como uma versão feminina do
Dj Vibe. Como comentas esta afirmação?
Como nasci na Miria, os meus pais, na altura, Eu comecei com uma brincadeira, no Docks.
registaram-me como Iolanda Poppy. É o meu Fui gerente em algumas discotecas e na altura Sim, muita gente diz que eu sou o Vibe das
nome no registo que está feito na África do geria o Docks e o W (o W só a 4ª Feira). Um mulheres, o que para mim é um privilégio e
Sul, mas como os meus pais vieram a Portugal dia, os Djs fizeram-me uma praxe - sendo a um orgulho. O Vibe é o nosso “Master at work” ,
quando eu tinha 8 meses visitar a família e nova gerente teria que misturar um disco… e como eu costumo chamá-lo e é, e será sempre,
depois decidiram ficar cá de vez só que não misturei. Depois, começámos aos Sábados. Eles o nosso nº 1, é uma pessoa de quem eu tenho
deixaram fazer o registo como Iolanda Poppy. É embebedavam-se e eu fazia a última meia hora. muita referência e gosto de ouvir. Uma das
o meu nome de casa, toda a minha família me Ia tudo para o meio da pista e a Poppy ficava coisas que mais adorei, foi ouvir o Tó tocar
trata assim, apenas na escola me tratavam por ali a tocar e o bichinho quando morde... No W, Deep House. Um dia fui ao Norte e fui a um sítio
Iolanda. também comecei a fazer umas brincadeiras onde ele estava a tocar, pois queria saber qual
às 4ªas Feiras, sempre muito nervosa, pois a evolução dele, já que também vinha do tribal
Quais são as tuas grandes paixões? sou muito perfeccionista. Às tantas, notei que e visto que a onda agora seria mais essa, quis
ao andar pela casa as pessoas começaram a ir ouvir qual a mudança dele e fiquei de boca
Gosto de música, de estar com pessoas bem- perguntar-me a que horas tocava e isso foi aberta num set de 2 horas e meia. Eu identifico-
dispostas, com os amigos, e de viagens. um empurrão para mim. Eu sou muito pés me muito com a música que ele toca, pois
assentes na terra, sigo as minhas metas e não quando ele está a tocar eu oiço uma e outra
Antes de ingressares no mundo da música o passo por cima de ninguém para atingir os faixa e vejo-me nos meus sets. Quando abriu
que fazias? meus objectivos, mas quando quero uma coisa a discoteca Companhia, na Covilhã, o Tó abriu
é a sério e só entro em projectos em que eu no Sábado e eu fiz o Domingo. Fiquei super
Eu trabalho na noite há 15 anos, mas antes acredito e com os quais me identifico. Quando contente com o convite, por partilhar o fim-
estudava. Comecei a sair a noite com 17 anos comecei, gostava assim de uma linha mais de-semana da abertura com uma pessoa como
e logo passados 4, 5 meses, apaixonei-me logo forte, pois normalmente, quando começamos, ele, e correu muito bem. Foi uma das melhores
por aquele mundo. Eu ia muito ao Alcântara- quereremos sempre tocar mais forte, mas noites, dito pela boca deles.
Mar e ao Kremlin, na altura e ao Plateau. Um dia,quando começamos a ter mais alguma cultura
o Xana, que era do Alcântara, chamou-me para temos tendência para gostar mais de música. Ganhaste, em 2003, o prémio de Dj revelação
beber umas “unhas” chamou o Manuel Faria e
, pela PortugalNight ao lado de cinco homens.
o Samuel, e na altura e convidaram-me para E actualmente, qual o teu estilo? O que sentiste nesse momento?
trabalhar lá aos fins-de-semana.
Tal como me dizem alguns amigos, eu toco Fiquei super feliz e super lisonjeada porque
Como se dá a tua aproximação ao djing? um house brincalhão. Sou muito eclética e não estava nada a espera. Foi um voto de
gosto de coisas diferentes. Adoro Deep House, confiança e um “puxãozinho” que fez com que
Quando comecei a trabalhar no Alcântara, Tech House e House Minimal. Já não gosto de acreditasse um bocadinho mais e me desse
eu só tinha 18 anos e trabalhava 4ª, Sexta e música muito pesada e tanto o Techno como reconhecimento e, pelas pessoas que são e
Sábado e nunca pedi autorização aos meus o Tribal estão completamente fora daquilo revista séria que é, fiquei muito contente, deu-
pais para nada, ainda para mais, sendo maior, que eu gosto. Não sei explicar qual o estilo, me mais energia e fez com que acreditasse que
apenas os informava. O meu pai dizia apenas mas gosto de uma mistura de sons ecléticos. se calhar deveria levar isto mais a sério.
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“Tu vais, mas o teu irmão vai contigo!”… e lá Por vezes, até posso ir um pouco mais pelo
ia. Por vezes, quando faltava alguém do bar comercial, mas outro tipo de comercial que Neste momento, tens uma carreira bastante
ou assim, o meu irmão substituía-os, até que não é o I Gotta Feeling ou Babilónia. Recuso- sólida. Como antevês o teu futuro neste
um dia foi para light jockey e começou a ter me a tocar esse género de sons pois não me meio?
gosto pela música. Ao acompanhar a evolução identifico e não toco coisas que eu não gosto.
do meu irmão e comprando-lhe alguns discos Agora um Dj toca para as pessoas e eu prefiro Eu não sou muito de pensar no futuro e fazer
também fui desenvolvendo a minha paixão tocar uma remistura de Tears for Fears ou de grandes planos. Eu vivo o presente, não vivo
pela música, mas sem nunca ter entrado por Stevie Wonder, ir buscar remisturas de coisas o passado. Antigamente, era tudo muito mais
aquela coisa de querer ser dj ou entrar numa antigas, do que tocar estas coisas às quais eu difícil. Hoje em dia, está na moda ser Dj. Eu
cabine. Sempre acompanhei a carreira do meu chamo “bolos” e que são hits de Verão que para venho de uma cultura e de uma educação que
irmão, sempre lhe dei apoio e a minha opinião o ano não se ouvem e que, aliás, já toda a gente quando eu comecei, tinha toda a minha família
para ele sempre foi importante, como é hoje, e está farta de ouvir. a ligar para o meu pai a dizer que ele era doido
vice versa. por me deixar trabalhar à noite. Uma rapariga
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que namorasse com um Dj, nem pensar, por
ser um homem da noite, e eu venho dessa
educação. O meu pai e a minha mãe sempre
me apoiaram e aliás eu sou o que sou hoje,
tenho o que tenho, graças ao meu pai que
sempre foi uma pessoa apaixonada por música,
organizava festas de passagem de ano, eu
gravava cassetes com ele e o amor e gosto que
tenho foi por ele. Quando comecei a tocar e a
levar a música mais a sério, foi quando o perdi,
em 2003, e eu sou uma pessoa que interiorizo
muito, não sou muito de contar a minha vida,
sou uma pessoa muito frontal, peco um pouco
por isso, pois por vezes sou mal interpretada.
Prefiro uma verdade má do que uma mentira
boa. Relativamente à minha carreira, é o que
eu digo, neste meio uma coisa é verdade, não
tens apenas que ser bom. Há três coisas que
eu digo sempre, que são muito importantes, e
começam por três P´s, que são a persistência,
perseverança e profissionalismo. Tens que
correr atrás pois nada te cai do céu. Não podes
estar à espera de seres muito bom e te ligarem
pois não ligam, a verdade é essa.
Produção musical, Poppy?
Estou a tirar o curso de produção. Confesso
que sou um bocadinho preguiçosa, ainda não
aprendi o suficiente pois é mais complicado do
que eu pensava. Acho que a produção é o passo
seguinte do Dj e cada vez mais é importante
porque, como já referi há pouco, hoje em dia
toda a gente tem acesso às nossas músicas e se
eu conseguir fazer algo mais meu, o acesso será
mais dificultado. Nós cada vez temos que provar
mais do que provava-mos e com a produção
aprendemos muito sobre a música. Eu estou
a tirar o curso na Pro Dj, sou embaixadora da
escola, estou a ter aulas com o Viriato Muata,
uma pessoa com uma capacidade imensa e
com um conhecimento musical muito vasto.
Só que eu não vivo bem com o insucesso e por
isso nunca vou lançar um hit de Verão. Eu para
lançar quero uma coisa que fique. Em toda a
minha vida eu sempre fui pelo caminho mais
difícil e adoro desafios. E o meu desafio, neste
momento, é fazer algo que fique.
Referências tuas tanto nacionais como
internacionais?
Nacionais são Dj Vibe, Jiggy, King Bizz e Stereo
Addiction. Internacionais, Carlo Lio, Pryda,
Doomwork, Alex Kenji e H.O.S.H.
Em que espaços te sentes bem a actuar?
Em clubes e gosto muito de sunset´s. Acho que
Portugal ainda não percebeu bem o conceito
de sunset, talvez só daqui a 2, 3 anos. Eu prefiro
uma festa que comece as 4h, 5h da tarde que é
o que se passa em Ibiza. Gosto muito também
de actuar em clubes assim para 300, 400
pessoas, essa é mais a minha praia.
Clubes de eleição?
Companhia na Covilhã, Estação da Luz e Pedra
do Couto.
Gigs que tenham marcado a tua carreira?
No ano passado, houve um que me marcou
muito no NoSoloÁgua, em Portimão, à noite.
Foi no dia a seguir à abertura do Sasha, estava
tudo fechado, não havia nada aberto e eu
toquei a noite toda sozinha. Confesso que sou
um bocadinho egoísta, não gosto de back to
back´s e essas coisas. Foi uma noite muito gira
e isto porque estava muita gente do Porto, de
Lisboa e do Algarve, estava tudo fechado e foi
como que uma prova para muitos. Muita gente
torcia o nariz e pensava que por ser de Lisboa
3. eu tocava comercial. Eu sou um pouco pelos fazer uma banda, a banda sem voz também e Português?
desafios e quanto mais dizem, quanto mais complicado e então é como se tivéssemos uma
falam, mais força eu tenho e mais força me banda e a puséssemos a tocar. Antigamente, as pessoas adequavam-se às
dão, e foi um set daqueles! Sem dúvida, um dos casas, eu venho do Alcântara-Mar em que às
maiores sets da minha vida. Muita gente veio, És uma pessoa aplicada? vezes estava a ver o Pedro Lorena ou o Tó a fazer
na altura, dar-me os parabéns. A Abigail Bailey porta e eles diziam às pessoas que estavam
estava lá também e veio logo ter comigo. A Sou a pessoa mais crítica. Antes de alguém me muitos desportivas para entrar e elas iam a casa
opinião de quem percebe de música para mim criticar eu já me critiquei 100 vezes. Encontro mudar de roupa, se fosse preciso, pois havia o
é muito importante. De quem não percebe, em mim mais os defeitos do que as qualidades. direito de admissão que hoje em dia é proibido.
pouco me interessa. Ando sempre à procura da perfeição. Por vezes, se pedimos este ou aquele valor para
as entradas por não querermos que entrem,
Recentemente foste a Dj mais requisitada Achas a promoção e o marketing eles pagam e ainda gozam. Agora eu invisto
nas festas de promoção do Sensation importantes na actualidade na carreira de numa casa e não posso ter o ambiente que
Wicked Wonderland. Como te sentes em um Dj, musico ou produtor? quero? Falta glamour na noite portuguesa.
relação a isso?
Acho que sim, mas a imagem não pode estar O que é, para ti, a noite perfeita?
Sinto-me muito feliz e orgulhosa e vou acima do profissionalismo e acho que as
confidenciar que ao início pensei que me pessoas se importam mais com a imagem. Eu na cabine, um sítio bonito, com gente bonita
estivessem a enrolar e a tentar ser simpáticos, Como eu costumo dizer, as pessoas às vezes e bem disposta e que tenha uma pista onde as
pois para mim é tudo culpado até prova em viam-me a chegar a uma cabine e diziam que pessoas apreciem música e onde possa tocar
contrário e acho sempre um pouco duvidoso lá vinha a loira gira, mas que não toca nada. aquilo que gosto.
quando dizem que sou a mais pedida, pois já Metem logo o rótulo de que loira e gira não é
levei muitas chapadas por acreditar naquilo profissional. Tal e qual a história de ir para uma Quais os teus temas de sempre?
que os outros diziam. As festas correram muito cabine sem roupa ou com decote, estando a
bem, fiquei muito contente o feedback foi
vender a minha imagem e não a minha música. É uma pergunta difícil, pois gosto de muita
óptimo e acho que o mais gratificante é voltar
Eu quero é que as pessoas gostem da minha coisa, mas Kings of Tomorrow, 6pm, o Be
uma casa onde já tenha ido tocar.
música. Eu faço produções para revistas, já fiz Yourself da Celeda é uma música de que gosto
a Maxmen, entre outras, e em cada sítio é cada muito e anda sempre comigo, agora a Sky &
Em tempos foste também sócia gerente da
macaco no seu galho. Sand, mas é complicado porque há muita coisa
discoteca W. O que te levou a abandonar
boa hoje em dia.
este projecto?
Qual achas que é a situação da música
Deixei de acreditar nele. Foram 7 anos da electrónica, no nosso país? Para terminar, uma mensagem para os
minha vida, e não é fácil gerir uma casa durante nossos leitores.
este período de tempo, pois hoje em dia o Há um mal na noite, para mim, que é haver
difícil não é abrir discotecas, é mantê-las. Esse muita quantidade e pouca qualidade. Ha tantos Continuem a ver o Portugalnight, pois ainda
fot. Nuno Ribeiro - Direitos reservados Portugalnight
é o grande segredo e o grande trabalho. Nada espaços e quando se pergunta onde está bom, consegue ser a revista que dá valor a muitos
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funciona a telecomando e eu quando entre em poucos são os que estão a dar. Os donos das artistas de que não se fala tanto. Já sabe o que
projectos é de corpo e alma. Estava na porta, casas querem abrir com Djs top convidados, é bom há muito tempo, esta revista. Como eu
quando punha música punha música, se a estar sempre com a casa a abarrotar e reaver costumo dizer, não inventem mais Djs, apenas
casa de banho estivesse suja, eu pegava numa o investimento a curto prazo, mas não é ressuscitem os que cá estão. Esteve-se muito
esfregona e limpava, se tivesse gente no bar a assim. Se vão por aí estão tramados. Há muito tempo sem se falar do Jiggy e o Portugalnight
menos, ia para o bar, portanto tem que ser com pouco apoio nas casas, das bebidas, eventos, tem lhe dado bastante a mão e mostrado o que
corpo e alma, vestir a camisola. Fiz o meu papel etc. Temos festivais todas as semanas, tudo anda a fazer e isso é bom. Da noite, acho que
no W. muito seguido e as discotecas não aguentam. é a revista mais conceituada e comparando
Os patrocínios investem muito em festivais com outras, sem querer ofender ninguém, é a
Tu vês o djing como uma arte? e as casas que estão o ano inteiro a dar-lhes única que implica qualidade. É uma revista que
dinheiro ressentem-se com esta situação. sabe o que quer e o que é bom e que desde
Claro que sim. O Dj é um artista. Um músico início sempre me acarinhou e apoiou desde o
canta, tem a banda com ele, só com a voz. É difícil O que é, para ti, o ambiente nocturno prémio de Dj revelação em 2003.