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MÚSICA .FILME .HQ .SHOWAno 3 nº 13 João Pessoa, março 2013
Punks not dead?
Punks not dead… certeza! Quando o Exploited colo-
cou isso no segundo levante, estava corretíssimo! Não
pode morrer porque sempre vai ter alguém fudido com
o rock’n’roll e que vai querer alguma coisa. Por mais
que tentem assimilações, haverá sempre um contrário.
E outra, porque eu também sou imortal (risos) como
o punk! Posso morrer agora e vão lembrar de mim do
jeito que sou! É importante dentro da postura punk
mostrar-se diferente porque isso gera o diálogo, o es-
tranhamento...
O que foi que te levou para o punk?
Aquela matéria do Fantástico que falou muito mal dos
punks de São Paulo. Eu tinha uns 16 anos. Quando vi,
disse: “Porra, sou eu!”. Mesmo com imagem negativa,
fiquei interessado e fui atrás de conhecer. Na época,
eu nem ouvia rock’ n’ roll, o máximo que eu tinha ou-
vido era Elvis Presley. Daí, encontrei uma figura que
era de Caicó, que estava em São Paulo na época e fazia
fanzines. Ele me mandou um monte de fanzines por
um parente que vinha pra cá, as outras informações
que tínhamos na época era a revista Pop, Somtrês...
quando vim para Natal, já foi para encontrar com uma
galera, formar banda. Costumava dizer que o punk no
Rio Grande do Norte começou em Caicó! Tudo de bom
que aconteceu em Natal veio de Caicó, de certa forma!
Quando cheguei a Natal, queria encontrar a galera, mas
não via ninguém. Resolvi fazer meu primeiro zine, que
se chamava Diário Punk de Natal, onde eu falava do
Grito Suburbano, que tinha sido lançado... daí encon-
trei Rodrigo Ramos e Paulo Jorge Guimarães, autores
do Action File, um jornalzinho que falava sobre rock
progressivo, heavy metal e punk chamado – eles se
reuniam naquela cigarreira (banca de revista) do D.D.,
que é o lugar onde começou tudo...
Era o local de encontro chamado Anjos do Holo-
causto?
Não, não. Cigarreira era na Prudente de Moraes com a
Rua do Marista. E ali apareceu a notícia que tinha outro
punk, o Gato, que andava de skate no aeroclube, e eu
fui lá conhecê-lo. D.D. era headbanger e tinha contato
com ele. O Gato vinha do movimento em Fortaleza,
tão antigo quanto o movimento de São Paulo, só que,
em Fortaleza, eles estavam totalmente isolados, nem
tinham contato com a galera de lá, mas tinham histórias
bem semelhantes: periferia, pobreza ... eram fudidos,
mas antenados! Os discos dos Ramones chagavam via
porto em Fortaleza, tanto que, nos anos 90, quando fui
a Fortaleza, existiam duas facções punks: a ramonista
– que era a galera mais antiga, dos anos 70 e que ouvi-
ram até os Sex Pistols, não ouviam o segundo levante
produzido pelos punks; e a hardcore. Era interessante,
porque existia um movimento assim em Fortaleza, e
ninguém tinha notícia disso na época...
Se não surgisse em São Paulo, surgiria em Fortale-
za...
Ou em qualquer outra cidade... É como aquela opi-
nião de Clemente (Inocentes) no DVD Botinada, se
não tivesse surgido em Nova Iorque ou Londres, seria
em São Paulo! Com essas condições, que eram: curtir
rock’ n’ roll, ter uma rebeldia contida, uma vontade de
querer romper com os padrões e assumir uma identi-
dade como indivíduo. Penso muito assim: essa identi-
dade que é parte de mim hoje, ela foi construída com
lutas, com batalhas comigo mesmo. Sempre fui desse
posicionamento mais individualista, do processo niilis-
ta, de tentar nos revolucionar ao invés de provocar uma
revolução. O que achei legal no punk é que não era
proselitista, ele não quer que o mundo todo seja punk,
não faz propaganda dizendo: seja punk que é a salva-
ção! É muito mais de dar exemplos, da sua vivência,
se mostrar diferente, e, se me mostro diferente, então,
tenho que ser diferente em outros aspectos como no vi-
sual, nas minhas atitudes. Eu sou totalmente diferente
de todos aqui dessa comunidade, mas todos me aceitam
do jeito que eu sou! Chego com cabelo moicano espe-
tado no bar e dizem: “Oi, Sopa, tá bonito hoje!” E em
todos os níveis! Hoje o acesso a informação é muito
mais fácil! Naquela época, era correspondência. No
entanto, eu achava mais fácil produzir naquela época
do que hoje. Mesmo com toda dificuldade, eu fazia
um zine por mês e distribuía gratuitamente. Depois do
Diário Punk de Natal, que fiz duas edições, daí veio
o meu processo niilista, acabando com tudo comigo,
lancei um zine chamado Nihil (nada em latim). Esse
era totalmente minimalista, uma página só com a pala-
vra ódio. Foi nessa época que fiz as letras da O.R.$.A.
(Ódio Radical Sociedade Anônima), sem ter nem a
banda ainda, isso era final de 85...
Você falou que, na época em que surgiu o movimen-
to, o pessoal do metal estava junto. Em João Pessoa,
não existia isso. A galera do metal era separada da
galera dos punks...
A princípio, eu não achei nenhum punk. A galera,
que ouvia um som punk, era os headbangers. Quando
eu cheguei em Natal em 84, tinham duas turmas de
roqueiros: a turma do alto e a turma do baixo, que ia
para a cigarreira de D.D., eram os fudidos, que, pra
conseguir um disco, era um negócio! Todo mês guar-
dava um pouquinho para, em três meses, comprar um
LP! E Fábio (Olho Seco) foi importantíssimo no Brasil
Distribuiçãogratuita
Com muitas ideias na cabeça, o menino Haroldo, vindo de Caicó (RN), chegou em Natal e se jogou na vida disposto a dar o sangue
por aquilo que acreditava. De corpo e alma, aprendeu tudo sozinho, desde a sua alfabetização a escrever partituras. Sopa d’Osso,
como passou a ser mais conhecido, é a prova, mais que viva, de que todo mundo é capaz, e que pode ser o que bem entender
nessa vida: formou três bandas, aprendeu tupi guarani e latim, escreveu cinco livros, fez duas sinfonias e publicou diversos
zines. Quer saber mais? Leia a entrevista a seguir ou o convide para dar um mergulho nas águas proibidas da costa potiguar!
inteiro, a punkarada deve muito a ele. Eu me corres-
pondia com ele. Mandava as fitas cassetes, e ele as de-
volvia gravadas. Foi aí que eu conheci um monte de
bandas! Hoje, continuo sendo punk, e a música que
mais escuto é a música erudita de vanguarda.
Qual foi a história da OR$A?
Antes de ser O.R.$.A. era Anti-Tudo. Era eu, Obede e
Marco, que era um pessoal que morava em Neópolis,
mas não tinha informação a respeito do punk, e eu, de
certa forma, fui proselitista porque levei fanzines, mas
eles tinham outras ideias e não tinham contato com o
rock’n’roll. De repente, pintou Rômulo e Samir, que
era skatista também e da época do Gato e já ouvia punk
rock. Daí formei a O.R.$.A.: Samir na batera, Rômulo
na guitarra e eu no baixo e voz, a gente ensaiava no
Clube dos Sargentos da Polícia Militar, ali na Avenida
Dois. Nunca tinha pegado num microfone na vida, nem
Rômulo numa guitarra! Ligamos as coisas e blein! Foi
demais! Em 86, apareceu Carlos Gurgel. Nessa época,
as bandas de rock eram tudo da burguesia, surgiu o
Sodoma, a primeira banda de metal pesado, que era do
filho do dono do Diário de Natal. Carlos Gurgel arru-
mou um lugar para a gente ensaiar. Foi quando Rômulo
formou a Devastação, pois achava que as minhas ideias
eram muito radicais, e ele queria colocar outras letras.
Os poemas do Rômulo eram muito massa. A maioria
das letras eram de Rômulo. Tem umas duas de Samir,
como Punheta. Inclusive Punheta tinha duas versões.
Tinha da O.R.$.A., que dizia assim: “se tem que pagar/
melhor com a mão/eu vou gozar/punheta.” A de Samir
é: “pra que mulher/se eu tenho a mão.” Aí os caras
disseram: “Foi por causa disso que as meninas não
pintavam no movimento” (risos). Depois a gente mu-
dou todas as letras da O.R.$.A., deu uma reviravolta e
fizemos aquelas letras radicais, foi quando comecei a
numerar com Opus I até o Opus XII, mas a gente só en-
saiou até o Opus VII. Até hoje você não encontra banda
punk trocando uma ideia tão séria, com tanto ódio. Faz
bem odiar (risos). A O.R.$.A. era uma banda com uma
Sopa d’Osso - Punk autodidata
FotosOlgaCosta
MICROFONIA2
EXPEDIENTE
Editores Responsáveis:
Adriano Stevenson
Olga Costa(DRT – 60/85)
Colaboradores: Josival Fonseca /Beto
L. /Erivan Silva / Joelson Nascimento
Editoração:Olga Costa
Ilustração:Josival Fonseca
Revisão: Juliene Paiva Osias
E-mail:jornalmicrofonia@gmail.com
Facebook.com/jornalmicrofonia
Twitter:@jmicrofonia
Tiragem:4.000 exemplares
Todos os textos dos nossos colabora-
dores são assinados e não necessaria-
mente refletem a opinião da redação.
ideologia que os membros tinham que compartilhar,
não era só a música, tinha uma postura radical dentro
da própria radicalidade do punk, para quebrar, inclu-
sive com o conceito do movimento punk. Sou punk
porque não tinha outro jeito, na minha postura eu não
tenho que seguir modelo nenhum, eu sigo o modelo
que achar conveniente.
Se você fosse definir hoje a O.R.$.A. em uma pala-
vra, qual seria?
É o que o nome diz. É ódio mesmo... Sociedade com
um cifrão e anônima! (risos). Tanto que no zine A Voz
do Ódio, que eu fiz uns sete números, com um formato
totalmente fora da estética punk...
Era esse zine, que para ler, tinha que ser através da
imagem refletida no espelho?
Era A Voz do Ódio. Ordem do obscurecimento...
Quantos zines você fez?
O primeiro foi o Diário Punk de Natal, que eu fiz duas
edições (84/85). Depois veio Nihil zine, que foi uma
ruptura com a estética da colagem, e depois foi Boas
Novas, em seis exemplares, totalmente niilista. De-
pois veio A Voz do Ódio (feito em nanquim), que eu
fiz sete números, até 91. Depois peguei todas as ma-
trizes e queimei tudo! E mandei as cinzas pra galera –
como a última edição da Voz do Ódio. A proposta era
um dia acabar! Não era perpetuar! Queimei as demo
tapes da O.R.$.A. também...
A O.R.$.A. já estava consolidada, ensaiava junto
com a Devastação, no porão da casa de Samir.
O que era melhor naquela época, mesmo com a
dificuldade que tinha, e que você não encontra
mais hoje?
A gente era muito agregado, tava todo mundo junto
sempre. Todo mundo ensaiava no mesmo canto, todo
mundo ia para o mesmo canto. A questão do circuito
dos sebos em Natal é importante também para o movi-
mento porque, não só apoiavam o som, como também
os lugares viraram ponto de encontro. Hoje, apesar de
termos mais contatos, com a forma de comunicação
mais facilitada, todo mundo tem celular, mas a gente
quase não se vê! Rolou esse isolamento, apesar de ter
rolado o point da Praça Vermelha, que colocaram o
nome pensando na China e é em Moscou! O que era a
típica burrice punk, normal pela pouca informação...
A Praça Vermelha é na Metropolitana?
Foi o point final, antes da dispersão. É muito louco
isso... hoje a gente tem tantas possibilidades de manter
contato, mas estamos desagregados... Acho o pessoal
da Paraíba mais organizado, inclusive. Encontrei um
pessoal de Campina Grande e achei eles tão próxi-
mos... O convívio é revolucionário total!
Você é autodidata e aprendeu tupi guarani so-
zinho. Para isso, você precisou vender a guitarra, a
máquina de escrever, amplificador, para comprar
livros sobre Tupi Guarani, que eram caros...
Eu chegava nos sebos, que sempre frequentei, e co-
mecei a achar livros raríssimos de Tupi Guarani... é
meu instrumento de trabalho que tenho até hoje. O
tupi é dita uma língua clássica porque está somente na
escrita, ainda que tenha línguas da família... tem umas
quarenta línguas faladas hoje.
E você os utiliza até hoje?
Eu cheguei a dar aula de tupi guarani para os rema-
nescentes indígenas entre Canguaretama e Goianinha,
na região do Rio Catu. Eu andava três quilômetros no
meio de uma plantação de cana de açúcar, até chegar
na parte da Mata Atlântica, onde se encontrava a co-
munidade. Dava aula desde a criança alfabetizada
até o idoso analfabeto. Era uma aula que tinha que
ser bem pensada, porque era todo mundo junto. Eles
estão querendo recuperar o valor do seu povo, a ci-
dadania mesmo, porque índio passou a ser um termo
pejorativo...
Abaporu foi a sua segunda banda? Foi quando
você começou a cantar em tupi guarani?
Foi um momento quando eu não aguentava mais,
nem os punks de rua, nem os punks anarco. Fui para
uma proposta de não comunicação total. Fazia uma
música fudida... não era grindcore porque as batidas
eram mais primitivas, mas antes do Abaporu rolou o
Guarani Poxy, inclusive, o nome poxy tem o mesmo
significado de punk em tupi guarani.
Quando foi o seu primeiro contato com o niilismo?
EDITORIAL
Como você quer ser lembrado depois de
morrer? Você gostaria de ser lembrado
como o único homem que sobreviveu a
um extermínio em massa do cromos-
somo Y? Ficções à parte, nosso en-
trevistado este mês, que mora ali em Pium
e gosta de nadar todos os dias, depois que
a maré baixa, vai ser lembrado como punk,
porque, até onde sei, ele sempre foi punk
– Sopa d’Osso! Foi ele que me mostrou os
acordes que definiram minha vida e, as-
sim, ele será lembrado. Will Eisner deixou
para sempre sua marca na ponta do lápis,
pela sua perspectiva única de cidades
e personagens em sua maior arte de ex-
pressão: os quadrinhos. Você, também,
poderá ser lembrado por ter comido uma
sereia, ou ser comido por um tubarão é
mais impactante? É... mas, talvez, você
prefira não ser lembrado... boa leitura!
O meu primeiro contato com a palavra e postura foi ao
ler Nietzsche. Dentro do niilismo, tinha essa possibili-
dade da negação total, de esvaziar-se, apagar tudo em
você, eu não estava a fim de nada! Não queria fazer
nenhum projeto para o futuro, porra nenhuma, era só
viver! Já é uma coisa muito árdua ter que respirar...
Passei por um processo barra pesada, que me deixou
muito frágil, não conseguia me socializar, achava tudo
chato. Foi uma fase pós O.R.$.A....
A O.R.$.A. já bebia dessa fonte...
Já tinha uma essência e, quando brotou, brotou apenas
em mim...
O que você está fazendo hoje com a música?
Hoje eu faço umas doideiras... me alfabetizei sozinho,
totalmente autodidata, nunca acreditei em professor a
nível de persuasão. Eu quis escrever música.
Comecei a ouvir música erudita achando que era a
melhor música...
Não é um contraponto com o punk?
Acho que o punk é pior! Como eu só gosto dos ex-
tremos – a melhor e a pior! Escuto música do mundo
todo, gosto muito de música étnica, da Índia, da Pér-
sia, escuto muito e leio muito a respeito. Comecei a
estudar música num processo normal: teoria, escrita,
contraponto, harmonia, orquestração, fiz um curso
regular, como faria numa universidade, para compor.
Compus duas sinfonias...
Qual o seu compositor favorito?
O compositor húngaro Bartok, me identifico muito.
Ele não tem limites de buscar elementos... outro que
me influencia é Bach, porque ele fez tudo, estudei
muito a obra do cara...
Você escreve e quem executa?
Depois de muito tempo escrevendo partituras, mandei
para um monte de concursos, mas ninguém se interes-
sou em tocar, então, eu fui buscar na música eletrônica
o intérprete perfeito: a máquina! Obviamente tive que
estudar mais para poder saber mexer.
Qual a liga do hardcore com tudo isso?
Nenhuma. Com o hardcore que eu faço, sim! Apesar
de escrever partituras, o punk faz parte de mim. Ser
erudito não é uma tarja valorizadora da coisa, mas vai
ter meu ouvido, que se formou ouvindo Luiz Gonzaga
e Raul Seixas que rolavam no rádio lá em Caicó, mas
o meu niilismo eliminou isso também. No pós-niilis-
mo, eu comecei a absorver tudo de novo, só que com
outra perspectiva. Cada audição na música erudita
é uma experiência nova, o que a música popular e a
música ligeira não favorecem a isso, a música punk
está mais ligada à memória...
MICROFONIA 3
THE NOYSY CD-R EP 2012 (PB) Formado Por Íkaro Maxx
(vocal/guitarra), Phellipe Andrew (baixo) e Pedro Monteiro (ba-
teria). Os caras fazem um som com influência de um trio que, com
certeza, vocês conhecem, além de provar que, realmente, gostam
do estilo, pois a “moda Seattle” já passou há muito tempo. O EP é
bem gravado, com tudo na medida certa e com letras cantadas em
inglês, que poderiam ter sido incluídas no encarte... até ouvi dizer
que um fantasma do passado andou falando mal do inglês can-
tado pela banda... Destaque para a música “Is This a Song?”. B.L.
LOGORRÉIA CD-R A COR DA MORTE 2012 (SE) Quando rece-
bi esse material, cheguei a pensar que era um DVD, mas não. Se trata
do CD do Logorréia, banda de Aracaju, que, em sua formação, conta
com Sílvio (guitarra/voz), Robério Nininho (baixo/voz) e Cícero
Mago (bateria). Fazem um grindcore bem anos 80. Nada daquela coi-
sa mecânica onde você adivinha início, meio e fim, com influências
de hardcore e até daquele punk mais tenebroso. As letras são relatos e
alertas que podem acontecer em qualquer lugar desse planeta. O CD é
bem gravado: guitarras na cara, baixo pesado e bateria bem marcada.
O vocal está na medida certa, bem audível. Você vai encontrar todo o
histórico da banda e todas as letras. Destaques para: Caos Devastação
(que tem umas mudanças de base bem interessantes), Esterio, Perife-
ria Sangrenta,ACor da Morte, Jogada Mortal e as versões clássicas de
Rumores de Guerra (Karne Krua) e Sobreviver (Armagedom). B.L.
LES SARDINES OOSTENDE CD-R2009 (BELGICA) Esse é um
projeto lock’n’loll, do então baterista do Nailbiter, Marcelo
thebeast. Aqui, seu nome e instrumento mudaram – o cidadão no
LesSardines toca baixo e se chama Sardine M. Quando estava em
Jampa, tocou algo parecido nas bandas Sangria Desatada e Stress
City, as duas serviram de bagagem para o que viria a ser este CD,
rock sem firula, direto, despretensioso. Sardine B. e Sardine D. (que
El Mariachi
O documentário Will Eisner: profissão cartunista é
dirigido pelos cineastas Marisa Furtado e Paulo Ser-
ran. Está dividido em três partes: “The Spirit” – trata
da criação do seu maior personagem, que surgiu na
década de 40. É a história de um detetive chamado
Danny Colt. Foi publicado inicialmente em tiras de
jornais e depois por quase todo o mundo, por mais
de 50 anos. O personagem é tão influente que, ao ler
as histórias do Demolidor publicadas aqui no Brasil
na década de 80, e que é considerada para muitos
como a fase clássica, percebe-se a influência direta
do Spirit. Na obra de Frank Miller, identifica-se a
influência de Eisner, tanto na narrativa, quanto em
seus personagens. A segunda parte, chamada de “O
sonho”, retrata o início da carreira do mestre e do
desejo de ser reconhecido como um artista por sua
arte e sua forma de expressão, ou seja, os quadri-
nhos. Também mostra os encontros com vários
artistas da geração underground que surgiram na
década de 70, como Denis Kitchenze, Robert
Crumb, Gilbert Sheldon. Fundou a American Visu-
também toca no Nailbiter) respectivamente, bateria e guitarra,
dão conta do recado. São seis sons, mas apenas quatro estão
intituladas. Destaques para: Sardine Men, Sayonara e Jane
Fountain, mas pode colocar no repeat e preparar-se para pular
muito. Diversão garantida. A banda mudou o nome, agora se
chama FARTUS (peido)... vamos ver no que isso vai dar. A.S.
DESVIO DE CONDUTA S/T CD-R2012 (SP) São dez pau-
ladas vindo diretamente de Bragança Paulista, hardcore casca
grossa. O vocalista Guaru arregaça na voz, acompanhado por
Digão (bateria), Fé (guitarra) e Bié (baixo). A gravação poderia
ser melhor, valorizando alguns detalhes que passam desper-
cebidos. A música Luta pra Viver é a mesma música da banda
Delinquentes HC (PA) intitulada Punk do Subúrbio, lançada na
Infecto Humano (Fita K7 demo de 88), mudando só um pouco
a letra. Destaques para Vinte Anos no Poder e o cover da banda
Abuso Sonoro (SP) - Amazônia. Faltam mais informações na
contracapa, um encarte seria muito bem-vindo. Lançado pelo
selo Velho Rabugento, do incansável Edilson Ramos. A.S
DAMN LASER VAMPIRES THREE-GUN MOJO CD 2011
(RS) Cramps, Bauhaus, Meteors, adicione em sua lista Damn
Laser Vampires. Oriundos de Porto Alegre (RS), o casal Ron Sel-
istre (vocal e guitarra) e Francis (guitarra) inseriu a banda Michel
Munhoz (bateria e percussão), com esse power trio sem baixo,
gravaram o segundo álbum lançado pelos selos Terrötten Records,
Mamma Vendetta Records e Cauterized Produções em 2011,
demonstrando um nível acima do esperado, algo que a produção de
MarcoButchereLuisTissotseencarregoudesegurar.Valelembrar
que o encarte do formato é 12x24 e com muita criatividade as letras
estão em forma de HQs, muito bem bolado! Esse CD chegou na re-
dação numa troca que o selo Microfonia fez, e esse já tasquei.A.S.
Matou a Família e foi ao Cinema
Dark
Editora:
DC/
Panini
Formato:
americano
Páginas:
108
R$ 9,90
als Corporation, empresa dedicada à criação de com-
ics. A terceira parte intitulada, “Master class”, trata
dos livros “Arte sequencial” e “Narrativas gráficas”.
As duas obras tratam das técnicas desenvolvidas pelo
artista, como desenho, enquadramento, narrativa, etc.
É considerado o livro de referência para todo de-
senhista de quadrinhos e outros profissionais da área
de ilustração. Entre outras curiosidades do documen-
tário, Will Eisner declara a sua paixão pelo Brasil,
que chegou a visitar sete vezes. Além de várias en-
trevistas com Eisner, também vemos o depoimento
de vários artistas, como Bill Sienkiewicz, Ziraldo,
Angeli, Maurício de Souza, Jerry Robson, Ota.
Em 1988, a indústria de quadrinhos criou o prêmio
Will Eisner, o equivalente ao Oscar dos quadrinhos
em homenagem ao grande mestre da 9ª arte. Will
Eisner nos deixou em 3 de janeiro de 2005 aos 87
anos, devido a complicações cardíacas depois de uma
cirurgia, em 22 de dezembro do ano anterior. J.N.
THIS AIN’T JAWS XXX 2011 HUSTLER PARO-
DY – PRODUZIDO E DIRIGIDO POR STUART
CANTERBURY - História de um tubarão que ater-
roriza as praias americanas. Só que, na paródia, o
tubarão é só um pretexto, apesar de que, no início,
o filme é muito semelhante ao original. Um casal de
jovens está namorando na praia, e a garota entra no
mar. A partir daqui, a história ganha outra conotação –
sexo. A atriz Phoenix Marie tira a parte superior do bi-
quíni, chama a atenção de um salva-vidas e o leva para
dentro de uma tenda, em plena praia, mostrando para
ele que não é só no mar que existe sereia... O perito
em tubarão é uma mulher – interpretada pela atriz Eva
Stone – e tem como missão convencer a prefeita da
cidade, vivida por Darcy Tyler, dos perigos do tubarão
rondando pelas praias. Depois de uma conversa íntima
com a prefeita, ela não resiste e transa enlouquecida-
mente, no gabinete da prefeitura. Já na cena final, o
pescador, aproveitando a ausência do chefe de polícia,
transa com a perita em tubarão. Uma coisa é certa: an-
tes de ser comido pelo tubarão, o pescador comeu uma
tremenda sereia! Até a próxima e use camisinha! B.L.
Atrás da PortaVerde
MICROFONIA4
Zumbilândia
Editora:
Panini
Autor:
Brian K.
Vaughan
10 volumes
Preço médio:
R$ 29,90
De longe, um dos melhores. Rodado em Gana e
Burkina Faso, o novo cartaz do filme é muito
melhor que o anterior e mostra o continente afri-
cano em forma de caveira. A história do filme é a
seguinte: quando o último voo de evacuação para
fora da África é aplacado pela guerra num acidente,
fazendo-o cair na costa, o Tenente Brian Murphy
(Rob Freeman – que contraiu malária enquanto fil-
mava) surge como o único sobrevivente que une for-
ças com um militar local, Daniel Dembele (Prince
David Osei), que procura desesperadamente seu
filho em meio ao caos, em uma terra onde os mortos
estão retornando à vida e atacando os vivos. Filme
sério, há muito não feito, sem uso do gênero terrir.
A maquiagem tem um atrativo: o uso de figurantes,
muitos deles, realmente mutilados pela guerra civil,
dando ênfase à caracterização zumbística. The Dead,
escrito e dirigido pelos irmãos Howard e Jonathan
Ford, acertaram em cheio nas locações, criando ten-
são e terror a uma paisagem árida e pobre, o que
em muito contribui para a veracidade das cenas. Um
ótimo aperitivo para a espera de World War Z. A.S.
Imagina você, do sexo masculino, ser o último
homem da terra, onde só sobraram mulheres, o úni-
co ser com culhões, testosterona e barba por fazer.
Não é tão simples assim, o mundo povoado de mu-
lheres, onde um vírus mata toda a espécie que tenha
o cromossomo Y, causa mais caos do que fantasias
masculinas, uma vez que, em algumas funções, as
mulheres são minoria, como aviação comercial,
forças armadas e instituições governamentais. É
nesse ritmo que o escritor estadunidense Brian K.
Vaughan e a desenhista canadense Pia Guerra elu-
cida essa trama, que, no mínimo, é atrativa. No ano
de 2002, todas as criaturas com um cromossomo Y
morrem instantaneamente, porém esse “generocí-
dio” não foi tão completo assim, o jovem Yorick
Brown e seu macaco de estimação (Ampersand)
foram poupados do gigantesco extermínio. Enquan-
to se procura a causa de tamanha catástrofe, a socie-
dade tenta reconstruir-se só com as mulheres, que,
infelizmente, na visão do autor, são machos disfar-
çados, com posturas semelhantes e até mais cruéis
do que as dos próprios homens extintos. Os grupos
que controlam determinadas áreas do planeta in-
corporam o Y em falta, sem nenhuma cerimônia.
A série em dez capítulos tem um desenrolar cati-
vante até o nº 07. A partir do número seguinte, as
explicações e implicações do que teria extinguido
os homens em massa tornam-se um tanto quanto en-
fadonhas. Mesmo assim, permanece a curiosidade
para saber o que, afinal, teria acontecido e como
terminaria a intrigante trama. A série ganhou três
prêmios Eisner (melhor série regular, desenhista e
roteirista), além do aval do Stephen King! Cogita-se
que a série vá para as telonas sob a direção de Dan
Trachtenberg e com ShiaLaBeouf (Transformers)
como protagonista. Vamos esperar... A.S. + O.C.
Enquanto isso, na redação...
Amor à Queima-roupa
THE DEAD – Horror, 105min. (2010)
Um homem e seu gato, numa jornada para sobre-
viver em um mundo onde os mortos caminham e
têm fome de carne humana. Bem, esse seria o su-
per-resumo do livro, mas tem mais: não é um livro
de terror, mas tem terror, não é um livro de ação,
mas tem ação. Na realidade, o livro é o diário de
um advogado que, depois da morte da esposa, usa-o
como forma de terapia, começando como um blog
e depois passando a anotar tudo em seu caderno. A
história se passa na Espanha, onde o personagem
sem nome, que aqui vou chamá-lo de Advogado, e
seu gato Lúculo passam o dia indiferente a tudo, até
que uma notícia estranha chama sua atenção:uma
invasão havia ocorrida no Daguestão, um país que
praticamente não estava no mapa. Depois dessa
invasão, o local ficou completamente sem contato
com o resto do mundo e começou chamar atenção
da mídia (e de curiosos de todo o mundo, inclusive
o nosso protagonista). Grandes potências mandaram
equipes para ver o que estava acontecendo, boatos
começaram a surgir, histórias de que havia alguma
doença se espalham, alguns países começam a
fechar as fronteiras… O personagem vai estranhan-
do e comentando em seu blog tudo aquilo sem ter
muita ideia, até chegarema sua porta os infectados,
os não-mortos, a peste... daí em diante, sobreviver
é o lema. A editora quis vendê-lo como um Stephen
King espanhol! Exagero à parte, o escritor Manel
Loureiro começou a escrever num blog, a história
virou um fenômeno na Internet, a editora espanhola
Dolmen Books apostou,e deu no que deu.O livro é
de uma leitura contagiante e teve duas continuações:
Apocalipse Z (vol.II) Os dias escuros e Apocalipse
Z (vol.III) A ira dos justos. Vou correr atrás. A.S.
Editora:
Planeta
Autor:
Manel Loureiro
Páginas:376
Preço médio:
R$ 33,90
Y - O ÚLTIMO HOMEM
APOCALIPSE Z - O PRINCIPIO DO FIM

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  • 1. MÚSICA .FILME .HQ .SHOWAno 3 nº 13 João Pessoa, março 2013 Punks not dead? Punks not dead… certeza! Quando o Exploited colo- cou isso no segundo levante, estava corretíssimo! Não pode morrer porque sempre vai ter alguém fudido com o rock’n’roll e que vai querer alguma coisa. Por mais que tentem assimilações, haverá sempre um contrário. E outra, porque eu também sou imortal (risos) como o punk! Posso morrer agora e vão lembrar de mim do jeito que sou! É importante dentro da postura punk mostrar-se diferente porque isso gera o diálogo, o es- tranhamento... O que foi que te levou para o punk? Aquela matéria do Fantástico que falou muito mal dos punks de São Paulo. Eu tinha uns 16 anos. Quando vi, disse: “Porra, sou eu!”. Mesmo com imagem negativa, fiquei interessado e fui atrás de conhecer. Na época, eu nem ouvia rock’ n’ roll, o máximo que eu tinha ou- vido era Elvis Presley. Daí, encontrei uma figura que era de Caicó, que estava em São Paulo na época e fazia fanzines. Ele me mandou um monte de fanzines por um parente que vinha pra cá, as outras informações que tínhamos na época era a revista Pop, Somtrês... quando vim para Natal, já foi para encontrar com uma galera, formar banda. Costumava dizer que o punk no Rio Grande do Norte começou em Caicó! Tudo de bom que aconteceu em Natal veio de Caicó, de certa forma! Quando cheguei a Natal, queria encontrar a galera, mas não via ninguém. Resolvi fazer meu primeiro zine, que se chamava Diário Punk de Natal, onde eu falava do Grito Suburbano, que tinha sido lançado... daí encon- trei Rodrigo Ramos e Paulo Jorge Guimarães, autores do Action File, um jornalzinho que falava sobre rock progressivo, heavy metal e punk chamado – eles se reuniam naquela cigarreira (banca de revista) do D.D., que é o lugar onde começou tudo... Era o local de encontro chamado Anjos do Holo- causto? Não, não. Cigarreira era na Prudente de Moraes com a Rua do Marista. E ali apareceu a notícia que tinha outro punk, o Gato, que andava de skate no aeroclube, e eu fui lá conhecê-lo. D.D. era headbanger e tinha contato com ele. O Gato vinha do movimento em Fortaleza, tão antigo quanto o movimento de São Paulo, só que, em Fortaleza, eles estavam totalmente isolados, nem tinham contato com a galera de lá, mas tinham histórias bem semelhantes: periferia, pobreza ... eram fudidos, mas antenados! Os discos dos Ramones chagavam via porto em Fortaleza, tanto que, nos anos 90, quando fui a Fortaleza, existiam duas facções punks: a ramonista – que era a galera mais antiga, dos anos 70 e que ouvi- ram até os Sex Pistols, não ouviam o segundo levante produzido pelos punks; e a hardcore. Era interessante, porque existia um movimento assim em Fortaleza, e ninguém tinha notícia disso na época... Se não surgisse em São Paulo, surgiria em Fortale- za... Ou em qualquer outra cidade... É como aquela opi- nião de Clemente (Inocentes) no DVD Botinada, se não tivesse surgido em Nova Iorque ou Londres, seria em São Paulo! Com essas condições, que eram: curtir rock’ n’ roll, ter uma rebeldia contida, uma vontade de querer romper com os padrões e assumir uma identi- dade como indivíduo. Penso muito assim: essa identi- dade que é parte de mim hoje, ela foi construída com lutas, com batalhas comigo mesmo. Sempre fui desse posicionamento mais individualista, do processo niilis- ta, de tentar nos revolucionar ao invés de provocar uma revolução. O que achei legal no punk é que não era proselitista, ele não quer que o mundo todo seja punk, não faz propaganda dizendo: seja punk que é a salva- ção! É muito mais de dar exemplos, da sua vivência, se mostrar diferente, e, se me mostro diferente, então, tenho que ser diferente em outros aspectos como no vi- sual, nas minhas atitudes. Eu sou totalmente diferente de todos aqui dessa comunidade, mas todos me aceitam do jeito que eu sou! Chego com cabelo moicano espe- tado no bar e dizem: “Oi, Sopa, tá bonito hoje!” E em todos os níveis! Hoje o acesso a informação é muito mais fácil! Naquela época, era correspondência. No entanto, eu achava mais fácil produzir naquela época do que hoje. Mesmo com toda dificuldade, eu fazia um zine por mês e distribuía gratuitamente. Depois do Diário Punk de Natal, que fiz duas edições, daí veio o meu processo niilista, acabando com tudo comigo, lancei um zine chamado Nihil (nada em latim). Esse era totalmente minimalista, uma página só com a pala- vra ódio. Foi nessa época que fiz as letras da O.R.$.A. (Ódio Radical Sociedade Anônima), sem ter nem a banda ainda, isso era final de 85... Você falou que, na época em que surgiu o movimen- to, o pessoal do metal estava junto. Em João Pessoa, não existia isso. A galera do metal era separada da galera dos punks... A princípio, eu não achei nenhum punk. A galera, que ouvia um som punk, era os headbangers. Quando eu cheguei em Natal em 84, tinham duas turmas de roqueiros: a turma do alto e a turma do baixo, que ia para a cigarreira de D.D., eram os fudidos, que, pra conseguir um disco, era um negócio! Todo mês guar- dava um pouquinho para, em três meses, comprar um LP! E Fábio (Olho Seco) foi importantíssimo no Brasil Distribuiçãogratuita Com muitas ideias na cabeça, o menino Haroldo, vindo de Caicó (RN), chegou em Natal e se jogou na vida disposto a dar o sangue por aquilo que acreditava. De corpo e alma, aprendeu tudo sozinho, desde a sua alfabetização a escrever partituras. Sopa d’Osso, como passou a ser mais conhecido, é a prova, mais que viva, de que todo mundo é capaz, e que pode ser o que bem entender nessa vida: formou três bandas, aprendeu tupi guarani e latim, escreveu cinco livros, fez duas sinfonias e publicou diversos zines. Quer saber mais? Leia a entrevista a seguir ou o convide para dar um mergulho nas águas proibidas da costa potiguar! inteiro, a punkarada deve muito a ele. Eu me corres- pondia com ele. Mandava as fitas cassetes, e ele as de- volvia gravadas. Foi aí que eu conheci um monte de bandas! Hoje, continuo sendo punk, e a música que mais escuto é a música erudita de vanguarda. Qual foi a história da OR$A? Antes de ser O.R.$.A. era Anti-Tudo. Era eu, Obede e Marco, que era um pessoal que morava em Neópolis, mas não tinha informação a respeito do punk, e eu, de certa forma, fui proselitista porque levei fanzines, mas eles tinham outras ideias e não tinham contato com o rock’n’roll. De repente, pintou Rômulo e Samir, que era skatista também e da época do Gato e já ouvia punk rock. Daí formei a O.R.$.A.: Samir na batera, Rômulo na guitarra e eu no baixo e voz, a gente ensaiava no Clube dos Sargentos da Polícia Militar, ali na Avenida Dois. Nunca tinha pegado num microfone na vida, nem Rômulo numa guitarra! Ligamos as coisas e blein! Foi demais! Em 86, apareceu Carlos Gurgel. Nessa época, as bandas de rock eram tudo da burguesia, surgiu o Sodoma, a primeira banda de metal pesado, que era do filho do dono do Diário de Natal. Carlos Gurgel arru- mou um lugar para a gente ensaiar. Foi quando Rômulo formou a Devastação, pois achava que as minhas ideias eram muito radicais, e ele queria colocar outras letras. Os poemas do Rômulo eram muito massa. A maioria das letras eram de Rômulo. Tem umas duas de Samir, como Punheta. Inclusive Punheta tinha duas versões. Tinha da O.R.$.A., que dizia assim: “se tem que pagar/ melhor com a mão/eu vou gozar/punheta.” A de Samir é: “pra que mulher/se eu tenho a mão.” Aí os caras disseram: “Foi por causa disso que as meninas não pintavam no movimento” (risos). Depois a gente mu- dou todas as letras da O.R.$.A., deu uma reviravolta e fizemos aquelas letras radicais, foi quando comecei a numerar com Opus I até o Opus XII, mas a gente só en- saiou até o Opus VII. Até hoje você não encontra banda punk trocando uma ideia tão séria, com tanto ódio. Faz bem odiar (risos). A O.R.$.A. era uma banda com uma Sopa d’Osso - Punk autodidata FotosOlgaCosta
  • 2. MICROFONIA2 EXPEDIENTE Editores Responsáveis: Adriano Stevenson Olga Costa(DRT – 60/85) Colaboradores: Josival Fonseca /Beto L. /Erivan Silva / Joelson Nascimento Editoração:Olga Costa Ilustração:Josival Fonseca Revisão: Juliene Paiva Osias E-mail:jornalmicrofonia@gmail.com Facebook.com/jornalmicrofonia Twitter:@jmicrofonia Tiragem:4.000 exemplares Todos os textos dos nossos colabora- dores são assinados e não necessaria- mente refletem a opinião da redação. ideologia que os membros tinham que compartilhar, não era só a música, tinha uma postura radical dentro da própria radicalidade do punk, para quebrar, inclu- sive com o conceito do movimento punk. Sou punk porque não tinha outro jeito, na minha postura eu não tenho que seguir modelo nenhum, eu sigo o modelo que achar conveniente. Se você fosse definir hoje a O.R.$.A. em uma pala- vra, qual seria? É o que o nome diz. É ódio mesmo... Sociedade com um cifrão e anônima! (risos). Tanto que no zine A Voz do Ódio, que eu fiz uns sete números, com um formato totalmente fora da estética punk... Era esse zine, que para ler, tinha que ser através da imagem refletida no espelho? Era A Voz do Ódio. Ordem do obscurecimento... Quantos zines você fez? O primeiro foi o Diário Punk de Natal, que eu fiz duas edições (84/85). Depois veio Nihil zine, que foi uma ruptura com a estética da colagem, e depois foi Boas Novas, em seis exemplares, totalmente niilista. De- pois veio A Voz do Ódio (feito em nanquim), que eu fiz sete números, até 91. Depois peguei todas as ma- trizes e queimei tudo! E mandei as cinzas pra galera – como a última edição da Voz do Ódio. A proposta era um dia acabar! Não era perpetuar! Queimei as demo tapes da O.R.$.A. também... A O.R.$.A. já estava consolidada, ensaiava junto com a Devastação, no porão da casa de Samir. O que era melhor naquela época, mesmo com a dificuldade que tinha, e que você não encontra mais hoje? A gente era muito agregado, tava todo mundo junto sempre. Todo mundo ensaiava no mesmo canto, todo mundo ia para o mesmo canto. A questão do circuito dos sebos em Natal é importante também para o movi- mento porque, não só apoiavam o som, como também os lugares viraram ponto de encontro. Hoje, apesar de termos mais contatos, com a forma de comunicação mais facilitada, todo mundo tem celular, mas a gente quase não se vê! Rolou esse isolamento, apesar de ter rolado o point da Praça Vermelha, que colocaram o nome pensando na China e é em Moscou! O que era a típica burrice punk, normal pela pouca informação... A Praça Vermelha é na Metropolitana? Foi o point final, antes da dispersão. É muito louco isso... hoje a gente tem tantas possibilidades de manter contato, mas estamos desagregados... Acho o pessoal da Paraíba mais organizado, inclusive. Encontrei um pessoal de Campina Grande e achei eles tão próxi- mos... O convívio é revolucionário total! Você é autodidata e aprendeu tupi guarani so- zinho. Para isso, você precisou vender a guitarra, a máquina de escrever, amplificador, para comprar livros sobre Tupi Guarani, que eram caros... Eu chegava nos sebos, que sempre frequentei, e co- mecei a achar livros raríssimos de Tupi Guarani... é meu instrumento de trabalho que tenho até hoje. O tupi é dita uma língua clássica porque está somente na escrita, ainda que tenha línguas da família... tem umas quarenta línguas faladas hoje. E você os utiliza até hoje? Eu cheguei a dar aula de tupi guarani para os rema- nescentes indígenas entre Canguaretama e Goianinha, na região do Rio Catu. Eu andava três quilômetros no meio de uma plantação de cana de açúcar, até chegar na parte da Mata Atlântica, onde se encontrava a co- munidade. Dava aula desde a criança alfabetizada até o idoso analfabeto. Era uma aula que tinha que ser bem pensada, porque era todo mundo junto. Eles estão querendo recuperar o valor do seu povo, a ci- dadania mesmo, porque índio passou a ser um termo pejorativo... Abaporu foi a sua segunda banda? Foi quando você começou a cantar em tupi guarani? Foi um momento quando eu não aguentava mais, nem os punks de rua, nem os punks anarco. Fui para uma proposta de não comunicação total. Fazia uma música fudida... não era grindcore porque as batidas eram mais primitivas, mas antes do Abaporu rolou o Guarani Poxy, inclusive, o nome poxy tem o mesmo significado de punk em tupi guarani. Quando foi o seu primeiro contato com o niilismo? EDITORIAL Como você quer ser lembrado depois de morrer? Você gostaria de ser lembrado como o único homem que sobreviveu a um extermínio em massa do cromos- somo Y? Ficções à parte, nosso en- trevistado este mês, que mora ali em Pium e gosta de nadar todos os dias, depois que a maré baixa, vai ser lembrado como punk, porque, até onde sei, ele sempre foi punk – Sopa d’Osso! Foi ele que me mostrou os acordes que definiram minha vida e, as- sim, ele será lembrado. Will Eisner deixou para sempre sua marca na ponta do lápis, pela sua perspectiva única de cidades e personagens em sua maior arte de ex- pressão: os quadrinhos. Você, também, poderá ser lembrado por ter comido uma sereia, ou ser comido por um tubarão é mais impactante? É... mas, talvez, você prefira não ser lembrado... boa leitura! O meu primeiro contato com a palavra e postura foi ao ler Nietzsche. Dentro do niilismo, tinha essa possibili- dade da negação total, de esvaziar-se, apagar tudo em você, eu não estava a fim de nada! Não queria fazer nenhum projeto para o futuro, porra nenhuma, era só viver! Já é uma coisa muito árdua ter que respirar... Passei por um processo barra pesada, que me deixou muito frágil, não conseguia me socializar, achava tudo chato. Foi uma fase pós O.R.$.A.... A O.R.$.A. já bebia dessa fonte... Já tinha uma essência e, quando brotou, brotou apenas em mim... O que você está fazendo hoje com a música? Hoje eu faço umas doideiras... me alfabetizei sozinho, totalmente autodidata, nunca acreditei em professor a nível de persuasão. Eu quis escrever música. Comecei a ouvir música erudita achando que era a melhor música... Não é um contraponto com o punk? Acho que o punk é pior! Como eu só gosto dos ex- tremos – a melhor e a pior! Escuto música do mundo todo, gosto muito de música étnica, da Índia, da Pér- sia, escuto muito e leio muito a respeito. Comecei a estudar música num processo normal: teoria, escrita, contraponto, harmonia, orquestração, fiz um curso regular, como faria numa universidade, para compor. Compus duas sinfonias... Qual o seu compositor favorito? O compositor húngaro Bartok, me identifico muito. Ele não tem limites de buscar elementos... outro que me influencia é Bach, porque ele fez tudo, estudei muito a obra do cara... Você escreve e quem executa? Depois de muito tempo escrevendo partituras, mandei para um monte de concursos, mas ninguém se interes- sou em tocar, então, eu fui buscar na música eletrônica o intérprete perfeito: a máquina! Obviamente tive que estudar mais para poder saber mexer. Qual a liga do hardcore com tudo isso? Nenhuma. Com o hardcore que eu faço, sim! Apesar de escrever partituras, o punk faz parte de mim. Ser erudito não é uma tarja valorizadora da coisa, mas vai ter meu ouvido, que se formou ouvindo Luiz Gonzaga e Raul Seixas que rolavam no rádio lá em Caicó, mas o meu niilismo eliminou isso também. No pós-niilis- mo, eu comecei a absorver tudo de novo, só que com outra perspectiva. Cada audição na música erudita é uma experiência nova, o que a música popular e a música ligeira não favorecem a isso, a música punk está mais ligada à memória...
  • 3. MICROFONIA 3 THE NOYSY CD-R EP 2012 (PB) Formado Por Íkaro Maxx (vocal/guitarra), Phellipe Andrew (baixo) e Pedro Monteiro (ba- teria). Os caras fazem um som com influência de um trio que, com certeza, vocês conhecem, além de provar que, realmente, gostam do estilo, pois a “moda Seattle” já passou há muito tempo. O EP é bem gravado, com tudo na medida certa e com letras cantadas em inglês, que poderiam ter sido incluídas no encarte... até ouvi dizer que um fantasma do passado andou falando mal do inglês can- tado pela banda... Destaque para a música “Is This a Song?”. B.L. LOGORRÉIA CD-R A COR DA MORTE 2012 (SE) Quando rece- bi esse material, cheguei a pensar que era um DVD, mas não. Se trata do CD do Logorréia, banda de Aracaju, que, em sua formação, conta com Sílvio (guitarra/voz), Robério Nininho (baixo/voz) e Cícero Mago (bateria). Fazem um grindcore bem anos 80. Nada daquela coi- sa mecânica onde você adivinha início, meio e fim, com influências de hardcore e até daquele punk mais tenebroso. As letras são relatos e alertas que podem acontecer em qualquer lugar desse planeta. O CD é bem gravado: guitarras na cara, baixo pesado e bateria bem marcada. O vocal está na medida certa, bem audível. Você vai encontrar todo o histórico da banda e todas as letras. Destaques para: Caos Devastação (que tem umas mudanças de base bem interessantes), Esterio, Perife- ria Sangrenta,ACor da Morte, Jogada Mortal e as versões clássicas de Rumores de Guerra (Karne Krua) e Sobreviver (Armagedom). B.L. LES SARDINES OOSTENDE CD-R2009 (BELGICA) Esse é um projeto lock’n’loll, do então baterista do Nailbiter, Marcelo thebeast. Aqui, seu nome e instrumento mudaram – o cidadão no LesSardines toca baixo e se chama Sardine M. Quando estava em Jampa, tocou algo parecido nas bandas Sangria Desatada e Stress City, as duas serviram de bagagem para o que viria a ser este CD, rock sem firula, direto, despretensioso. Sardine B. e Sardine D. (que El Mariachi O documentário Will Eisner: profissão cartunista é dirigido pelos cineastas Marisa Furtado e Paulo Ser- ran. Está dividido em três partes: “The Spirit” – trata da criação do seu maior personagem, que surgiu na década de 40. É a história de um detetive chamado Danny Colt. Foi publicado inicialmente em tiras de jornais e depois por quase todo o mundo, por mais de 50 anos. O personagem é tão influente que, ao ler as histórias do Demolidor publicadas aqui no Brasil na década de 80, e que é considerada para muitos como a fase clássica, percebe-se a influência direta do Spirit. Na obra de Frank Miller, identifica-se a influência de Eisner, tanto na narrativa, quanto em seus personagens. A segunda parte, chamada de “O sonho”, retrata o início da carreira do mestre e do desejo de ser reconhecido como um artista por sua arte e sua forma de expressão, ou seja, os quadri- nhos. Também mostra os encontros com vários artistas da geração underground que surgiram na década de 70, como Denis Kitchenze, Robert Crumb, Gilbert Sheldon. Fundou a American Visu- também toca no Nailbiter) respectivamente, bateria e guitarra, dão conta do recado. São seis sons, mas apenas quatro estão intituladas. Destaques para: Sardine Men, Sayonara e Jane Fountain, mas pode colocar no repeat e preparar-se para pular muito. Diversão garantida. A banda mudou o nome, agora se chama FARTUS (peido)... vamos ver no que isso vai dar. A.S. DESVIO DE CONDUTA S/T CD-R2012 (SP) São dez pau- ladas vindo diretamente de Bragança Paulista, hardcore casca grossa. O vocalista Guaru arregaça na voz, acompanhado por Digão (bateria), Fé (guitarra) e Bié (baixo). A gravação poderia ser melhor, valorizando alguns detalhes que passam desper- cebidos. A música Luta pra Viver é a mesma música da banda Delinquentes HC (PA) intitulada Punk do Subúrbio, lançada na Infecto Humano (Fita K7 demo de 88), mudando só um pouco a letra. Destaques para Vinte Anos no Poder e o cover da banda Abuso Sonoro (SP) - Amazônia. Faltam mais informações na contracapa, um encarte seria muito bem-vindo. Lançado pelo selo Velho Rabugento, do incansável Edilson Ramos. A.S DAMN LASER VAMPIRES THREE-GUN MOJO CD 2011 (RS) Cramps, Bauhaus, Meteors, adicione em sua lista Damn Laser Vampires. Oriundos de Porto Alegre (RS), o casal Ron Sel- istre (vocal e guitarra) e Francis (guitarra) inseriu a banda Michel Munhoz (bateria e percussão), com esse power trio sem baixo, gravaram o segundo álbum lançado pelos selos Terrötten Records, Mamma Vendetta Records e Cauterized Produções em 2011, demonstrando um nível acima do esperado, algo que a produção de MarcoButchereLuisTissotseencarregoudesegurar.Valelembrar que o encarte do formato é 12x24 e com muita criatividade as letras estão em forma de HQs, muito bem bolado! Esse CD chegou na re- dação numa troca que o selo Microfonia fez, e esse já tasquei.A.S. Matou a Família e foi ao Cinema Dark Editora: DC/ Panini Formato: americano Páginas: 108 R$ 9,90 als Corporation, empresa dedicada à criação de com- ics. A terceira parte intitulada, “Master class”, trata dos livros “Arte sequencial” e “Narrativas gráficas”. As duas obras tratam das técnicas desenvolvidas pelo artista, como desenho, enquadramento, narrativa, etc. É considerado o livro de referência para todo de- senhista de quadrinhos e outros profissionais da área de ilustração. Entre outras curiosidades do documen- tário, Will Eisner declara a sua paixão pelo Brasil, que chegou a visitar sete vezes. Além de várias en- trevistas com Eisner, também vemos o depoimento de vários artistas, como Bill Sienkiewicz, Ziraldo, Angeli, Maurício de Souza, Jerry Robson, Ota. Em 1988, a indústria de quadrinhos criou o prêmio Will Eisner, o equivalente ao Oscar dos quadrinhos em homenagem ao grande mestre da 9ª arte. Will Eisner nos deixou em 3 de janeiro de 2005 aos 87 anos, devido a complicações cardíacas depois de uma cirurgia, em 22 de dezembro do ano anterior. J.N. THIS AIN’T JAWS XXX 2011 HUSTLER PARO- DY – PRODUZIDO E DIRIGIDO POR STUART CANTERBURY - História de um tubarão que ater- roriza as praias americanas. Só que, na paródia, o tubarão é só um pretexto, apesar de que, no início, o filme é muito semelhante ao original. Um casal de jovens está namorando na praia, e a garota entra no mar. A partir daqui, a história ganha outra conotação – sexo. A atriz Phoenix Marie tira a parte superior do bi- quíni, chama a atenção de um salva-vidas e o leva para dentro de uma tenda, em plena praia, mostrando para ele que não é só no mar que existe sereia... O perito em tubarão é uma mulher – interpretada pela atriz Eva Stone – e tem como missão convencer a prefeita da cidade, vivida por Darcy Tyler, dos perigos do tubarão rondando pelas praias. Depois de uma conversa íntima com a prefeita, ela não resiste e transa enlouquecida- mente, no gabinete da prefeitura. Já na cena final, o pescador, aproveitando a ausência do chefe de polícia, transa com a perita em tubarão. Uma coisa é certa: an- tes de ser comido pelo tubarão, o pescador comeu uma tremenda sereia! Até a próxima e use camisinha! B.L. Atrás da PortaVerde
  • 4. MICROFONIA4 Zumbilândia Editora: Panini Autor: Brian K. Vaughan 10 volumes Preço médio: R$ 29,90 De longe, um dos melhores. Rodado em Gana e Burkina Faso, o novo cartaz do filme é muito melhor que o anterior e mostra o continente afri- cano em forma de caveira. A história do filme é a seguinte: quando o último voo de evacuação para fora da África é aplacado pela guerra num acidente, fazendo-o cair na costa, o Tenente Brian Murphy (Rob Freeman – que contraiu malária enquanto fil- mava) surge como o único sobrevivente que une for- ças com um militar local, Daniel Dembele (Prince David Osei), que procura desesperadamente seu filho em meio ao caos, em uma terra onde os mortos estão retornando à vida e atacando os vivos. Filme sério, há muito não feito, sem uso do gênero terrir. A maquiagem tem um atrativo: o uso de figurantes, muitos deles, realmente mutilados pela guerra civil, dando ênfase à caracterização zumbística. The Dead, escrito e dirigido pelos irmãos Howard e Jonathan Ford, acertaram em cheio nas locações, criando ten- são e terror a uma paisagem árida e pobre, o que em muito contribui para a veracidade das cenas. Um ótimo aperitivo para a espera de World War Z. A.S. Imagina você, do sexo masculino, ser o último homem da terra, onde só sobraram mulheres, o úni- co ser com culhões, testosterona e barba por fazer. Não é tão simples assim, o mundo povoado de mu- lheres, onde um vírus mata toda a espécie que tenha o cromossomo Y, causa mais caos do que fantasias masculinas, uma vez que, em algumas funções, as mulheres são minoria, como aviação comercial, forças armadas e instituições governamentais. É nesse ritmo que o escritor estadunidense Brian K. Vaughan e a desenhista canadense Pia Guerra elu- cida essa trama, que, no mínimo, é atrativa. No ano de 2002, todas as criaturas com um cromossomo Y morrem instantaneamente, porém esse “generocí- dio” não foi tão completo assim, o jovem Yorick Brown e seu macaco de estimação (Ampersand) foram poupados do gigantesco extermínio. Enquan- to se procura a causa de tamanha catástrofe, a socie- dade tenta reconstruir-se só com as mulheres, que, infelizmente, na visão do autor, são machos disfar- çados, com posturas semelhantes e até mais cruéis do que as dos próprios homens extintos. Os grupos que controlam determinadas áreas do planeta in- corporam o Y em falta, sem nenhuma cerimônia. A série em dez capítulos tem um desenrolar cati- vante até o nº 07. A partir do número seguinte, as explicações e implicações do que teria extinguido os homens em massa tornam-se um tanto quanto en- fadonhas. Mesmo assim, permanece a curiosidade para saber o que, afinal, teria acontecido e como terminaria a intrigante trama. A série ganhou três prêmios Eisner (melhor série regular, desenhista e roteirista), além do aval do Stephen King! Cogita-se que a série vá para as telonas sob a direção de Dan Trachtenberg e com ShiaLaBeouf (Transformers) como protagonista. Vamos esperar... A.S. + O.C. Enquanto isso, na redação... Amor à Queima-roupa THE DEAD – Horror, 105min. (2010) Um homem e seu gato, numa jornada para sobre- viver em um mundo onde os mortos caminham e têm fome de carne humana. Bem, esse seria o su- per-resumo do livro, mas tem mais: não é um livro de terror, mas tem terror, não é um livro de ação, mas tem ação. Na realidade, o livro é o diário de um advogado que, depois da morte da esposa, usa-o como forma de terapia, começando como um blog e depois passando a anotar tudo em seu caderno. A história se passa na Espanha, onde o personagem sem nome, que aqui vou chamá-lo de Advogado, e seu gato Lúculo passam o dia indiferente a tudo, até que uma notícia estranha chama sua atenção:uma invasão havia ocorrida no Daguestão, um país que praticamente não estava no mapa. Depois dessa invasão, o local ficou completamente sem contato com o resto do mundo e começou chamar atenção da mídia (e de curiosos de todo o mundo, inclusive o nosso protagonista). Grandes potências mandaram equipes para ver o que estava acontecendo, boatos começaram a surgir, histórias de que havia alguma doença se espalham, alguns países começam a fechar as fronteiras… O personagem vai estranhan- do e comentando em seu blog tudo aquilo sem ter muita ideia, até chegarema sua porta os infectados, os não-mortos, a peste... daí em diante, sobreviver é o lema. A editora quis vendê-lo como um Stephen King espanhol! Exagero à parte, o escritor Manel Loureiro começou a escrever num blog, a história virou um fenômeno na Internet, a editora espanhola Dolmen Books apostou,e deu no que deu.O livro é de uma leitura contagiante e teve duas continuações: Apocalipse Z (vol.II) Os dias escuros e Apocalipse Z (vol.III) A ira dos justos. Vou correr atrás. A.S. Editora: Planeta Autor: Manel Loureiro Páginas:376 Preço médio: R$ 33,90 Y - O ÚLTIMO HOMEM APOCALIPSE Z - O PRINCIPIO DO FIM