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CDU Alter do Chão | Abril a Junho de 2024 | Junho de 2024| N.º 43 | Ano XI
CDU
Nasci em abril...
Nasci em abril, numa primavera ainda marcelista, que já não era tão tempestuosa como as
anteriores a 68, mas onde não soprava ainda o Zéfiro almejado por todos, nem as papoi-
las das searas, as gaivotas das praias ou as crianças que sonhavam com a paz eram ainda
poema.
Quando eu nasci, ainda vivíamos num Estado velho e bafiento que apelidavam de Novo,
onde os jovens eram forçados a partir para a guerra de África, para defender um império
colonialista, sanguinário, que ou matou ou deixou marcas profundas nas casas que visitou.
Nasci logo após o início da "Conversa em Família" em que Marcelo Caetano, o presiden-
te do Conselho, paternalista, dava lições de moral aos portugueses, sempre com o olho
em encher os bolsos do estado e de quem o comandava, esquecendo a vida miserável dos
que, com a açorda, dividiam a sardinha por três.
Quando eu nasci, a escolaridade obrigatória havia há pouco aumentado de 4 para 6 anos,
as crianças de 12 anos já estavam aptas para ir trabalhar, já não precisavam de frequentar
a escola, imaginem o trabalho especializado que daí saía e a produtividade do país. E
lembremos que nesse ano de 1969, ainda existia um elevadíssimo número de analfabetos,
que nunca tinham pisado a escola, nem sabiam assinar o seu nome, tendo em conta que
isso os impedia de aceder a melhores condições de vida e até mesmo a decidir pelo voto,
ou de outras formas, aquilo que pretendiam para a sua aldeia, concelho, distrito ou país.
Quando eu nasci, as mulheres tinham muito poucos direitos e eram obrigadas a deveres
sem fim, não eram donas de si, deviam obediência aos pais e irmãos e aos maridos. Era a
estes que cabia a decisão de estudarem, ou não, de trabalharem, ou não, de viajarem, ou
não, de casarem, ou não, e com quem deveriam fazê-lo. Para além disso, tinham de obe-
decer a rígidas regras sociais que determinavam o que podiam vestir ou calçar e mesmo de
que forma deviam pentear os seus cabelos. De sua, as mulheres, tinham a casa e o dever
de recato, que a praça pública, a opinião ou a decisão eram dos homens e só a eles com-
petiam.
Quando eu nasci, vivíamos num país atrasado, onde as barracas eram ainda habitação e a
água potável, a eletricidade e o saneamento básico eram, muitas vezes uma miragem. As casas de banho tardariam ainda a chegar e os pequenos
confortos de uma máquina de lavar, de um frigorífico ou de uma televisão eram agulhas em palheiros.
Depois, em 74, chegou o abril do meu quinto aniversário, aquele que mais marcou a minha vida e a de todos os portugueses, o que nos trouxe a
liberdade cantada e sentida em cada recanto deste nosso retângulo à beira-mar.
E Portugal começou a mudar, o ar perdeu o bafio e tornou-se respirável.
Já se podia conversar e discutir e decidir sem medo. A polícia política, aquela de mau nome, que tinha residência na Rua António Maria Cardoso já
não espancava, nem torturava, nem prendia. As portas de Peniche e do Tarrafal estavam agora abertas de par em par.
A guerra colonial acabou, trazendo os jovens de volta a casa e os exilados políticos puderam voltar e ajudar a decidir o futuro de esperança que to-
dos ambicionavam.
O trabalho passou a ser mais bem remunerado e trouxe sorrisos às casas onde nunca havia pão e o fundo de fomento de habitação permitiu a mui-
tos realizar o desidério de ter quatro paredes e um teto para se abrigarem.
O serviço nacional de saúde e os médicos à periferia vieram permitir um melhor acesso à saúde e uma enorme diminuição da mortalidade infantil.
As equipas de saúde escolar, os lanches gratuitos na escola, a distribuição de flúor e cálcio melhoraram em muito os sorrisos que hoje, aos 50, apre-
sentam mais dentes que dantes aos 30.
Ainda no campo da saúde, mas nas políticas de planeamento familiar, a diminuição do número de filhos por agregado familiar fez nascer uma nova
visão da infância, melhorou a saúde da mulher e aumentou a sua liberdade.
Também a possibilidade de continuar a estudar com bolsas de estudo, a atribuição de reformas aos mais velhos e toda a política social implementada
foram decisivas no incremento da qualidade de vida no nosso país e o elevador social permitiu que pessoas como eu e muitos, nascidos numa família
de quase analfabetos, possam atualmente ser mestres ou doutores e ascender a profissões mais bem remuneradas e ter melhores condições para criar
e educar os seus filhos.
Também na cultura foi visível uma grande alteração na oferta e no conteúdo e o alargar de horizontes fez nascer sonhos e magia num país que foi
perdendo o cinzentismo.
Mas como nada é para sempre e o conforto amolece as gentes, hoje, 50 anos depois, novamente comandados por um Marcelo, que é nem mais nem
menos do que afilhado do outro, assistimos adormecidos a um renascer da guerra, a um esvaziamento dos direitos dos trabalhadores, a um roubo
das políticas sociais e, mais grave do que tudo isso, a um Portugal que já não se lembra do que passou e vota agora a favor de partidos que fazem
tremer as pernas a quem sabe o que penou às mãos do regime em vigor antes do 25 de abril de 74.
Eu nasci em abril e gostaria que os meus olhos não tivessem de assistir à vitória da "minhoca que se infiltra na maçã" e continuarei a lutar pela
"liberdade, pelo pão, pela paz e pela habitação" usando aqui os tão sérios refrões de Sérgio Godinho que, uma vez mais, ganham sentido e urge se-
rem cantados para acordar as gentes e expulsar os que querem voltar a colocar-nos cangas e peias e matar a democracia.
Rosário Narciso - Professora
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Na manhã do dia 25 de Abril do ano 1974 viajava de comboio, apanhado em Chança às 6h20, em direção à estação de Santa Margarida, onde se
situava o meu local de trabalho, com a categoria de Factor.
Após entrar no comboio, alguns amigos e outros conhecidos diziam-me: olha João, o melhor é voltares para casa porque há um golpe de estado e
isto vai entrar em guerra por todo lado no país.
Ao chegar ao local de trabalho, o companheiro que estava de serviço ( mais velhinho que eu) dizia-me: sabes João, há uma força militar que durante
a noite derrubou o governo? Então fiquei a saber melhor o que se estava a passar pela boca do colega que trabalhou toda a noite com um rádio ali
ao lado.
Fiquei muito satisfeito, pois algum peso me saiu de cima, sentia o peso do sistema que nos era transmitido por alguns chefes.
Digamos que vivi com muita intensidade a partir daí e o peso já não estava em cima de mim.
De tal forma subiu a intensidade de viver que, desde a primeira ocasião, participei nas listas da APU até à CDU, para as eleições autárquicas, até aos
dias de hoje.
Para finalizar observo, com muito desgosto, que todo este percurso poderia, de certa forma, ter acentuado de forma eficaz a defesa dos que traba-
lham e lutam pela vida. Ao mesmo tempo atestam as algibeiras daqueles que tomaram o poder, desobedecendo à protecção dos que trabalham, in-
clusivé retirando da Constituição da República, a celebre palavra, SOCIALISMO, ficando assim o termo Democracia.
Um termo que enche a boca de alguns.
João da Silva Rodrigues/Cunheira
Onde estava no 25 de Abril
Cinquenta anos passados, mantem-se o perfume e o sonho ….
Foi há cinquenta anos, também uma quinta-feira, que aquele dia inicial inteiro e limpo como o cantou a poetisa, nos aconteceu.
Apareceu-nos, primeiro envolto em receios e temores. O golpe das Caldas fora abortado há poucos dias e nos corredores falava-se de um golpe
militar da extrema-direita.
Para os territórios mais afastados dos grandes centros as horas eram de expectativa face às marchas militares e os comunicados frios que as rádios
nos faziam chegar e eu, então residente em Arronches e a trabalhar em Portalegre, e muitos outros por esse país fora vivemos esses primeiros mo-
mentos com receio de que as coisas pudessem ainda piorar. Os 24 quilómetros percorridos num velhinho autocarro dos transportes Belos em con-
versas comedidas com os jovens estudantes que, também eles se deslocavam diariamente para Portalegre, foram percorridos em ambiente de espe-
rança e medos.
Na editorial a Rabeca, proprietária do Jornal com o mesmo nome e que era o principal porta-voz (do que era possível) dos opositores à ditadura
salazarista, o ambiente não era diferente. Só às 10 horas um telefonema recebido da Redacção do Jornal República pôs fim à agonia: É a revolução
que está na rua! Os militares querem derrubar a ditadura, pôr fim à guerra colonial e restaurar a democracia. O Republica já está na rua sem passar
pela Censura!
Era a madrugada tão esperada. A passagem das trevas à luminosidade absoluta. Ainda não sabia, ninguém sabia, que naquele momento se dera já
início à contra Revolução. Primeiro tentando a apropriação do movimento militar, depois sabotando as ordens para limpar o aparelho de estado,
acabar com a pide e pôr fim à guerra e ao colonialismo e depois, abertamente e à bomba, fazer-nos regressar à ditadura dos capitalistas e agrários.
Mesmo quando, no dia seguinte fomos surpreendidos com a composição da Junta de Salvação Nacional e nos seguintes constatamos como o gene-
ral do monóculo se assumia Presidente da Republica e se procurava manter os presos políticos nas masmorras, ainda não o percebemos
Percebemos mais tarde que já na tarde e noite de 25 de Abril se travava um combate entre o mero golpe e a revolução.
E a Revolução ganhou as primeiras batalhas. Os golpistas foram derrotados no chamado golpe Palma Carlos, no 28 de Setembro e no 11 de Março
em que se assumiram como traidores sanguinários e atacaram a tiro unidades militares.
Face à derrota imposta aos spinolistas, a Revolução toma a dianteira e cumpriram-se sonhos: iniciaram-se as nacionalizações, o salário mínimo pas-
sou de 3.300$ para 4.000$ (+ 20%), foram implementados os subsídios de férias e de desemprego e a licença de parto, “aconteceu” a Reforma Agrá-
ria. O povo, os portugueses de pé descalço, começaram a ser gente. O Alentejo virou a página da escravatura pela batalha da produção.
Desde então, muitos mais golpes depois, o País da Revolução dos Cravos viu-se transformado num país onde a democracia foi cerceada de muitas
das suas componentes. Um país que mantém a democracia política e onde a censura já não se faz com lápis azul e repressão mas apesar do que a
Constituição impõe, não garante a todos a Paz, o Pão, Habitação, Saúde, Educação, impõe limitações a liberdade de mudar e decidir e promove a desigualdade tirando
ao povo o que este consegue produzir.
Um país que foi aprisionado nas teias da democracia liberal e do capitalismo, que compra os fatos no pronto-a-vestir da Europa connosco e tenta
depois adaptá-los ao seu/nosso corpo mas que mesmo assim não conseguiu apagar o aroma dos cravos.
Não sei se poderá ser já agora ou teremos que esperar muito. Sei, estou firmemente convencido da razão do Ary: E, se Abril ficar distante/desta
Terra e deste Povo/ a nossa força é bastante/ Pr’ fazer UM ABRIL NOVO.
Não desistirei. Que ninguém desista!
Que viva Abril!
Diogo Serra/Portalegre
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O meu 25 de Abril
A tropa nunca foi uma coisa que gostasse e fui pedindo adiamentos enquanto pude. Para 1973 não pedi o adiamento pelo que podia ser incorporado
no serviço militar em qualquer a altura. Passaram as incorporações de Janeiro, de Abril, de Julho e nada aconteceu. A incorporação Outubro era a 8
e 9, eu não tinha nenhuma notificação e como habitual fui trabalhar.
Porém, nessa tarde de 8 de Outubro de 1973, quando cheguei a casa a minha irmã perguntou-me o que é que tinha feito ou andava a fazer pois a
GNR tinha estado em casa a perguntar por mim e para me apresentar no posto de Alverca.
Ainda pensei que fosse por causa da saída de um amigo para fora do país. Ele não queria ir à tropa e à guerra colonial e parte da saída foi planeada
em minha casa. Fui ao posto da GNR e o DRM nº 2 tinha-me chamado e mandava-me apresentar no dia 9, até às 09h00, na Escola Prática de In-
fantaria, em Mafra. A GNR até pensava que eu tivesse fugido pois não era habitual fazer aquelas comunicações com um dia de antecedência.
Fui para casa e, com a minha irmã, arranjámos a “trouxa” mais ou menos à pressa e no dia seguinte apanhei o comboio e “abalei” para Mafra, onde
estive até ao final de Dezembro de 1974.
A 16 de Janeiro de 1974 começou o Curso de Comandos para o que viria a ser a CCmds 40/41, em Lamego.
Esta companhia estava inicialmente indicada para Moçambique, mas passadas algumas semanas começamos a ler os mapas da Guiné Bissau e das
suas bolanhas. A data de embarque foi marcada para 25 de Abril de 1974.
O capitão da companhia estava envolvido como MFA e, uns dias antes desta data, foi auscultando a opinião dos seus futuros alferes para saber com
o que poderia contar. Percebeu que poderia contar connosco.
Assim, o dia 23 de Abril foi passado em Lamego a empatar tempo. No dia 24 de Abril foi de mais formaturas, preenchimento de papéis, atrasos na
entrega de material e mais umas quantas vacinas que “não tinham sido dadas por culpa do enfermeiro”. Isto durou todo o dia pois o objetivo era ter
uma companhia em boas condições operacionais para o que desse e viesse
No início da noite soubemos mais algumas coisas sobre o que se poderia vir a passar. Havia alguma tensão na messe dos oficiais de Lamego quando
ouvimos o 1º sinal “E depois do Adeus”. O 2º sinal, a senha, “Grândola, Vila Morena”, tocou na rádio. A revolta estava em marcha.
A CCmds 40/41 formou e foi armar-se a Penude, pois já não tínhamos armas. Saímos para o Porto por volta das 03h40. Estava muito frio. O MFA
estava em marcha. Fomos até ao CICA 1. O ocupámos o Monte da Virgem, o Rádio Club Português, a Legião e a sede da PIDE.
No final da tarde de 25 de Abril demos uma volta pela cidade para ver como estavam as “coisas”. As pessoas davam vivas à liberdade, à república, à
democracia e ao exército. Era uma alegria. O povo estava radiante. Na Av. dos Aliados, do meio da multidão saiu um velhote que se dirigiu a mim e,
de chapéu na mão, disse “Meu alferes, viva a República”. Nunca mais me esqueci desta frase.
No dia 29 de Abril regressámos a Lamego e tivemos uma receção estrondosa. Eu ia a comandar a Companhia de Comandos 40/41.
Não gostava da tropa, mas, por ironia, por estar lá, pude viver o 16 de Março, o 25 de Abril, o 28 de Setembro, o 11 de Março, o 29 de Julho e o 25
de Novembro datas marcantes na história do país. Foi uma experiência riquíssima e que acabou por valer muito a pena.
Romão Trindade/Alter do Chão
Almoço comemorativo do 103º aniversário do PCP
Teve lugar no dia 24 de Março, em Vale do Peso, o almoço comemorativo 103º aniversário do PCP na qual participaram dezenas de camaradas e
amigos do PCP e da CDU.
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Almoço alentejano em Grândola
Foi no dia 14 de Abril, em Grândola, o almoço regional do Alentejo. Foram muitas centenas de militantes e amigos do PCP e da CDU que estive-
ram presentes nesta grande manifestação política. Esta jornada de luta contou coma presença de João Oliveira, cabeça de lista da CDU ao Parlamen-
to Europeu, e de Paulo Raimundo, secretário-geral do PCP.
Resultado das eleições legislativas de 10 de março de 2024
Resultados apurados nas eleições legislativas de 10 de Março que não foram favoráveis à CDU, apesar da justeza das suas propostas.
Freguesias de Alter do Chão
Total do con-
celho
Distrito
de Portalegre
Total
nacional
Alter do Chão Seda Chancelaria Cunheira
AD 348 28 47 25 448 14132 1757879
PS 341 76 101 81 599 20658 1759937
Chega 333 25 45 44 447 14915 1108764
CDU 49 46 12 14 121 3604 202565
BE 36 4 7 5 52 1894 274011
IL 27 2 3 1 33 1146 312033
Livre 12 0 1 0 13 873 199890
ADN 10 4 4 3 21 631 100044
PAN 7 0 1 1 9 506 118574
MRPP 5 2 1 3 11 303 14748
ND 1 2 0 0 3 121 14479
RIR 1 0 0 0 1 176 25506
Volt 1 0 0 0 1 53 10824
Ergue 0 0 0 1 1 54 5746
MPTA 0 1 0 0 1 31 4045
PSD/CDS 52992
PTP 2498
PPM 451
NC 1627
Brancos 10 0 3 1 14 920 87956
Nulos 17 0 1 3 21 645 67347
Inscritos 2662 93106 9271479
Votos 1796 60662 6140289
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A Mulher e o Poder Local Democrático
A experiência na Freguesia de Galveias
Em maio de 1961, em Galveias, nasceu uma menina que, para ingressar na escola, foi para casa da avó materna, o que custou a separação dos pais no
período da escola, pela distância física entre Galveias e a herdade onde os pais trabalhavam e viviam. Mãe e filha encontravam-se apenas nas férias
do Natal, da Páscoa e no verão. O pai visitava-a quinzenalmente, ao domingo levando os miminhos que a mãe arranjava e que a horta dava.
No 25 de Abril de 1974 já trabalhava. Vendia pão, cumpria horário das 7 às 21 h, sem intervalo para almoço. No dia da Revolução estava a trabalhar
como nos outros dias (ditos normais). Tinha sobre o balcão do posto de venda de pão, uma telefonia (aparelho de rádio, alimentado a pilhas) para
ouvir música, mas que naquele dia transmitia os comunicados do Movimento das Forças Armadas sobre a Revolução. Revolução que deu ao Povo
Português a Liberdade, a Democracia, a Igualdade, a Paz com o fim da guerra colonial que ceifou mais de 10 mil vidas de jovens militares portugue-
ses.
Menina tornada mulher, ganhou consciência do seu papel como trabalhadora, tendo, cedo, aderido ao seu Partido de sempre – o PCP.
Em 1982 iniciou a experiência autárquica como membro de uma Assembleia de Freguesia. Até 2016, seguiram-se mandatos em diversos níveis de
responsabilidade autárquica: Junta de Freguesia, Assembleia Municipal e vereadora sem pelouros em regime de substituição.
Em 15 de janeiro de 2017, sendo a primeira candidata da lista da CDU, foi eleita, tornando-se a primeira mulher Presidente da Junta de Freguesia de
Galveias, cuja função exerce atualmente. É um desafio de grande dimensão, por vários motivos:
É uma Freguesia que gere um vasto património, legado por Testamento do Comendador José Godinho de Campos Marques. Património que con-
siste em mais de 6 200 hectares de terra e diversos elementos de património edificado, que se localiza em 3 distritos (Portalegre, Évora e Lisboa), em
8 concelhos (Ponte de Sor, Avis, Crato, Monforte, Borba, Estremoz, Torres Vedras e Lisboa) e em 17 Freguesias e Uniões de Freguesias. O patrimó-
nio edificado encontra-se em avançado estado de degradação, o que representa uma reforçada preocupação para quem gere a Junta de Freguesia de
Galveias, nomeadamente quem a preside.
É um valioso património, que ascende a mais de 57 milhões de euros, no seu estado atual. Assume lugar central na nossa preocupação a degradação
dos prédios situados na Cidade de Lisboa, de que a Freguesia de Galveias é proprietária (1 na Av. da Liberdade, 1 na Rua da Glória, 1 na Av. Viscon-
de de Valmor e 2 na Travessa e Rua dos Remolares – Cais do Sodré).
Mas também a gestão do património agrícola detém lugar de destaque, dada a gestão direta pela Junta de quase 5 mil hectares de terra onde pastorei-
am mais de 3 mil cabeças de gado ovino e bovino. A exploração da terra ditou a existência da Loja da Junta onde se comercializam os produtos ali
produzidos.
Trata-se de uma Freguesia que possui um lagar que transforma em azeite a azeitona produzida nas terras geridas pela Junta, e também presta apoio
aos produtores da Freguesia. E uma vinha com 36 hectares, com uma adega que produz vinho para consumo da população.
Também possui um parque aquático que todos os anos é muito procurado pelos veraneantes para gozo dos seus momentos de laser, fundamental-
mente em família, pelas condições ótimas que oferece.
O refeitório onde almoçam diariamente as crianças da Freguesia que frequentam o 1º ciclo do ensino básico e que fornece entre 12 a 15 refeições
diárias de apoio social é, também, propriedade da Freguesia. Também o posto de correios está na gestão da Junta há cerca de três décadas.
Por todas estas características, estamos perante uma autarquia que hoje é possuidora de um mapa de pessoal com 72 lugares, a que se juntam alguns
prestadores de serviços, num total de cerca de 80 pessoas que todos os dias trabalham ao serviço de Galveias e da sua população. É a entidade maior
empregadora da Freguesia. Possui 6 técnicos superiores entre os seus funcionários: solicitadoria, contabilidade pública, gestão, serviço social, infor-
mação e comunicação, gestão agrícola. Isto verifica-se numa Freguesia com pouco mais de mil eleitores que, apesar do seu potencial, sofre dos mes-
mos males da interioridade, da desertificação e do despovoamento que assola todo o interior do País e fundamentalmente, o nosso Alentejo.
Mas o seu potencial permitiria a realização de projetos cuja concretização, se apoiada em financiamentos por fundos europeus, nomeadamente, aju-
daria a alavancar novas formas de desenvolvimento do território da Freguesia. Mas a autonomia na estrutura administrativa do País está mutilada
pela legislação que (salvo raras exceções) não reconhece a existência das Freguesias e, por isso, reforça a sua secundarização, não lhe reconhecendo
possibilidade de acesso a fundos estruturais ou outros de apoio a projetos de desenvolvimento local. Mesmo àquelas que reúnem as condições pró-
prias capazes de responder às exigências de tais candidaturas, como é o caso de Galveias.
Ainda assim, usando a inteligência e a capacidade de trabalho que nos caracteriza damos provas de que é possível fazer muitas coisas. Olhando para
todas as áreas da gestão, tem sido possível melhorar a receita da autarquia, defender o ambiente e a qualidade de vida, melhorar os contratos de ar-
rendamento existentes e impedir as monoculturas em produção intensiva e/ou super intensiva, melhorar a gestão agrícola, renovar os efetivos pecuá-
rios, apostar na sua produção em modo biológico, promover novas plantações de sobreiros e pinheiro manso e adensar o montado existente. Os
prédios de Lisboa têm sido alvo de procedimentos administrativos públicos que abram caminho à sua requalificação e renovação, o que já consegui-
mos com 3 deles. E continuamos a trabalhar na solução para os restantes 2, porque desistir não entra no nosso vocabulário.
Promovemos o diálogo e a cooperação institucional com as demais entidades públicas, com destaque para o Município de Ponte de Sor, concelho de
que a Freguesia de Galveias faz parte. Esse diálogo permite a realização de obras, destacando-se a requalificação do velho Mercado, agora transfor-
mado em pavilhão multiusos.
O potencial cultural representa um instrumento forte para a promoção e o desenvolvimento de Galveias. Criámos: a Sala Cultural José Luís Peixoto,
o Núcleo Museológico de Galveias, condições dignas para os Serviços Sócio Culturais. Conseguimos integrar a Rota Literária do Alentejo e Ribatejo,
pelo privilégio de Galveias possuir entre os seus filhos o Escritor José Luís Peixoto, cuja obra é o maior embaixador desta terra pelo Mundo. Com
financiamento a fundo perdido de 70% do investimento que ronda os 400 mil euros, está concluído o Centro de Interpretação José Luís Peixoto e a
Rota Literária de Galveias. De braços abertos aguardamos a sua/vossa visita a Galveias que muitos nos honrará.
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Intervenção da CDU nas cerimónias do 25 de abril em Alter do Chão
Caros cidadãos do concelho de Alter do Chão
Celebramos Hoje os 50 anos da madrugada libertadora do 25 de Abril de 1974, que rapidamente se tornou na Revolução dos Cravos. Nesse dia
começava uma nova era, uma era de boa esperança para os portugueses.
O fim da guerra colonial e o início de um processo revolucionário estavam em marcha. O trabalho contra o capital, a emancipação das mulheres a
democracia popular contra a ditadura eram a revolução social.
O povo veio para a rua participar na construção de um país novo. Os portugueses discutiam o que fazer e como fazer. A Reforma Agrária, as
nacionalizações de indústrias e da banca indicavam o caminho da Revolução.
Nesse tempo, acreditámos que seria o fim de um regime fascista odioso, opressivo, que mantinha o país num atraso económico, social e cultural
permanente e isolado da comunidade internacional.
Mas bem depressa o 25 de Abril e o seu espírito de liberdade e de mudança defrontaram golpes, oposição e forças de bloqueio que conduziram ao
25 de Novembro, de má memória, e que foi apoiado pelo PS, por toda a direita, pela igreja e pela NATO.
A Revolução de Abril acabou por um golpe militar mais ou menos manso (violência só sobre a esquerda) e não por um golpe fascista ao estilo do
que aconteceu no Chile de Salvador Allende.
A burguesia e a direita derrotada em Abril voltaram triunfantes em Novembro.
Os governos do PS, PSD e CDS, que dominaram nestes 50 anos, estiveram sempre empenhados em travar Abril e, por isso, desenvolveram políticas
de direita que conduziram ao acentuar das injustiças e das desigualdades entre os portugueses, aumentando o fosso entre ricos e pobres.
Hoje temos a riqueza produzida na mão de muito poucos e a pobreza a distribuída por muito de nós.
Nem a entrada na então CEE, hoje UE, nos livrou das garras do capitalismo, com as privatizações de empresas estratégicas para o país. A ANA, a
TAP, a EDP, a PT, a GALP, entre outras, são bons exemplos do que se abateu sobre nós, por imposição europeia.
A submissão à UE e à NATO/OTAN tem sido uma constante dos governos da República Portuguesa e o aceitar, agora, o aumento para 2% do PIB
para as indústrias de defesa pode conduzir ao fim de uma Europa social.
As guerras não são soluções de progresso e de liberdade, antes pelo contrário, estimulam a opressão, a destruição e a morte como são, nestes tem-
pos, as guerras em Gaza, na Ucrânia e outros países africanos e asiáticos e ainda hoje morrem 8500 crianças por ano e a cada 4 segundos morre uma
pessoa com fome no mundo.
Também foi no regime democrático que se criou, para quebrar a coluna dorsal à CGTP/Intersindical Nacional, a central sindical UGT, apoiada
pelo PS e pelos partidos de direita e que sempre esteve do lado do capital no Conselho de Concertação Social.
Nestes 50 anos depois de Abril alteraram-se as condições laborais e os contratos coletivos de trabalho para dar origem a uma força de trabalho pre-
cário, periodicamente desempregada que empurra para baixo os salários reais. Curiosamente o Tratado de Lisboa substitui o direito ao trabalho pelo
direito de procurar emprego.
Talvez o domínio onde o 25 de Abril ainda não tenha entrado, seja o da justiça. Processos enormes, muitos arguidos, tempos longos, decisões con-
trárias entre juízes ou tribunais, acusações e mais acusações sem provas ou difíceis de provar é o que temos assistido nestes 50 anos.
Isto não é Abril.
Abril é enfrentar os interesses dos grupos poderosos e lutar por uma justa distribuição da riqueza produzida, por mais justiça social, económica e
cultural.
Caros cidadãos do concelho de Alter do Chão
Nem tudo foi mau nestes 50 anos.
O facto de podermos votar é, em si mesmo, uma grande conquista de Abril. Podermos escolher, bem ou mal, os nossos representantes nas Autar-
quias, na Assembleia da República, no Parlamento Europeu ou para Presidente da República é um ato de liberdade, só possível com Abril.
O poder autárquico democrático é uma outra das grandes conquistas de Abril e uma das poucas que ainda resiste, prova disso e estarmos Hoje aqui
todos, com respeito pelos Órgãos democraticamente eleitos e quem os representa.
Também o SNS, criado em 1979, resultante, em parte, do Serviço Médico à Periferia criado com Abril de 1974, é uma grande conquista, apesar dos
constantes ataques a que é sujeito e que o conduziram à situação difícil e débil em que se encontra.
A instrução pública é outra das conquistas de Abril e também ela sujeita aos fortes ataques que temos vindo a assistir. Sem instrução o país não vai a
lado algum. Apesar de termos a geração mais qualificada, a emigração não diminui.
O ambiente e as alterações climáticas têm sido alvo das preocupações de muitos portugueses, embora se tenham abatido sobreiros, azinheiras e mui-
tos hectares de terra fértil para dar lugar a centrais fotovoltaicas. No entanto muitas lutas se têm desenvolvido junto e a favor das populações, como
foi a recente luta contra a exploração do lítio.
E na Cultura? Teríamos o Coro e a Orquestra do Teatro Nacional de S. Carlos a atuar no nosso concelho se não fosse Abril? Quantos filmes, peças
de teatro, livros e discos teríamos se não houvesse a madrugada de Abril?
Alguma coisa se fez para que os 3 D`s de Abril (Democratizar, Descolonizar e Desenvolver) se concretizassem.
Também é verdade que a Revolução dos Cravos foi influente nas transições para a democracia em Espanha, na Grécia e na América Latina.
Contudo, não é aceitável que 80 anos depois do fim da II Guerra Mundial e 50 anos depois do 25 de Abril de 1974 estejamos a discutir a ascensão
da direita e da extrema-direita, que muitos acreditaram já não existir, nos órgãos de soberania, não só em Portugal como um pouco por todo o mun-
do, quando devíamos estar a discutir a melhoria das condições de vida dos portugueses.
Caros cidadãos do concelho de Alter do Chão
Pá g in a 7
O A lt eren se J un h o d e 2 02 4 | N. º 43
Não podemos ignorar a contribuição importante, e muitas vezes decisivas, do PCP, do PEV, da ID e de muitos portugueses na construção da de-
mocracia, apesar de em nome da democracia termos perdido a REVOLUÇÃO.
No entanto, quer a APU, quer a FEPU e mesmo a CDU não fizeram sempre tudo bem, não decidiram sempre da melhor maneira. Também come-
teram alguns erros.
Mas, tal como ontem, também hoje a CDU está e estará na primeira linha para enfrentar, construir e avançar como uma Força de Abril que é, por-
que as portas que Abril abriu não mais se podem fechar.
Também no concelho de Alter do Chão podem sempre contar com a CDU na procura das melhores soluções para os problemas que afligem o
nosso concelho.
Lutaremos sempre para que as nossas gentes tenham melhorias significativas nas suas vidas económicas, sociais e culturais.
Apesar de tudo, Abril valeu a pena
A luta continua, com a coragem de sempre.
Viva o 25 de Abril
Viva a LIBERDADE
E nunca se Calem perante as injustiças
Pá g in a 8
O A lt eren se J un h o d e 2 02 4 | N. º 43
Ficha Técnica
Edição e Propriedade: CDU - Alter do Chão
ISSN: 2183-4415
Periodicidade: Trimestral
Tiragem: 250 exemplares
Distribuição: Impressa e online (gratuitas)
Diretor: João Martins
Morada: Rua Senhor Jesus do Outeiro, n.º 17
7440 - 078 Alter do Chão
Telefone: 927 220 200
Email: cdualter2013@gmail.com
Facebook: www.facebook.com/cdu.alter
1974, O Abril da Saudade
Eram cravos a florir como nunca tinha florido
Eram homens e mulheres felizes porque fazia sentido
Eram abraços nas cidades, vilas e aldeias
Eram luzes a brilhar, apagavam-se as candeias
Eram tempos de mudança e de esperança
Eram ventos calmos que traziam a bonança
Eram vivas a Abril, à liberdade e à revolução
Eram prisioneiros políticos e a sua libertação
Eram só homens valentes, em todas as frentes
Eram homens de coragem que mudaram mentes
Eram os soldados que vinham do ultramar
Eram as suas mães que deixavam de chorar
Eram tantos homens e mulheres a sofrer e dizer não
Que no vinte e cinco de Abril se fez a revolução
Nesse dia de alegria o povo que todos unidos
Jamais seremos vencidos
Fabião Heitor Coutinho/ Seda

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  • 1. O Alterense CDU Alter do Chão | Abril a Junho de 2024 | Junho de 2024| N.º 43 | Ano XI CDU Nasci em abril... Nasci em abril, numa primavera ainda marcelista, que já não era tão tempestuosa como as anteriores a 68, mas onde não soprava ainda o Zéfiro almejado por todos, nem as papoi- las das searas, as gaivotas das praias ou as crianças que sonhavam com a paz eram ainda poema. Quando eu nasci, ainda vivíamos num Estado velho e bafiento que apelidavam de Novo, onde os jovens eram forçados a partir para a guerra de África, para defender um império colonialista, sanguinário, que ou matou ou deixou marcas profundas nas casas que visitou. Nasci logo após o início da "Conversa em Família" em que Marcelo Caetano, o presiden- te do Conselho, paternalista, dava lições de moral aos portugueses, sempre com o olho em encher os bolsos do estado e de quem o comandava, esquecendo a vida miserável dos que, com a açorda, dividiam a sardinha por três. Quando eu nasci, a escolaridade obrigatória havia há pouco aumentado de 4 para 6 anos, as crianças de 12 anos já estavam aptas para ir trabalhar, já não precisavam de frequentar a escola, imaginem o trabalho especializado que daí saía e a produtividade do país. E lembremos que nesse ano de 1969, ainda existia um elevadíssimo número de analfabetos, que nunca tinham pisado a escola, nem sabiam assinar o seu nome, tendo em conta que isso os impedia de aceder a melhores condições de vida e até mesmo a decidir pelo voto, ou de outras formas, aquilo que pretendiam para a sua aldeia, concelho, distrito ou país. Quando eu nasci, as mulheres tinham muito poucos direitos e eram obrigadas a deveres sem fim, não eram donas de si, deviam obediência aos pais e irmãos e aos maridos. Era a estes que cabia a decisão de estudarem, ou não, de trabalharem, ou não, de viajarem, ou não, de casarem, ou não, e com quem deveriam fazê-lo. Para além disso, tinham de obe- decer a rígidas regras sociais que determinavam o que podiam vestir ou calçar e mesmo de que forma deviam pentear os seus cabelos. De sua, as mulheres, tinham a casa e o dever de recato, que a praça pública, a opinião ou a decisão eram dos homens e só a eles com- petiam. Quando eu nasci, vivíamos num país atrasado, onde as barracas eram ainda habitação e a água potável, a eletricidade e o saneamento básico eram, muitas vezes uma miragem. As casas de banho tardariam ainda a chegar e os pequenos confortos de uma máquina de lavar, de um frigorífico ou de uma televisão eram agulhas em palheiros. Depois, em 74, chegou o abril do meu quinto aniversário, aquele que mais marcou a minha vida e a de todos os portugueses, o que nos trouxe a liberdade cantada e sentida em cada recanto deste nosso retângulo à beira-mar. E Portugal começou a mudar, o ar perdeu o bafio e tornou-se respirável. Já se podia conversar e discutir e decidir sem medo. A polícia política, aquela de mau nome, que tinha residência na Rua António Maria Cardoso já não espancava, nem torturava, nem prendia. As portas de Peniche e do Tarrafal estavam agora abertas de par em par. A guerra colonial acabou, trazendo os jovens de volta a casa e os exilados políticos puderam voltar e ajudar a decidir o futuro de esperança que to- dos ambicionavam. O trabalho passou a ser mais bem remunerado e trouxe sorrisos às casas onde nunca havia pão e o fundo de fomento de habitação permitiu a mui- tos realizar o desidério de ter quatro paredes e um teto para se abrigarem. O serviço nacional de saúde e os médicos à periferia vieram permitir um melhor acesso à saúde e uma enorme diminuição da mortalidade infantil. As equipas de saúde escolar, os lanches gratuitos na escola, a distribuição de flúor e cálcio melhoraram em muito os sorrisos que hoje, aos 50, apre- sentam mais dentes que dantes aos 30. Ainda no campo da saúde, mas nas políticas de planeamento familiar, a diminuição do número de filhos por agregado familiar fez nascer uma nova visão da infância, melhorou a saúde da mulher e aumentou a sua liberdade. Também a possibilidade de continuar a estudar com bolsas de estudo, a atribuição de reformas aos mais velhos e toda a política social implementada foram decisivas no incremento da qualidade de vida no nosso país e o elevador social permitiu que pessoas como eu e muitos, nascidos numa família de quase analfabetos, possam atualmente ser mestres ou doutores e ascender a profissões mais bem remuneradas e ter melhores condições para criar e educar os seus filhos. Também na cultura foi visível uma grande alteração na oferta e no conteúdo e o alargar de horizontes fez nascer sonhos e magia num país que foi perdendo o cinzentismo. Mas como nada é para sempre e o conforto amolece as gentes, hoje, 50 anos depois, novamente comandados por um Marcelo, que é nem mais nem menos do que afilhado do outro, assistimos adormecidos a um renascer da guerra, a um esvaziamento dos direitos dos trabalhadores, a um roubo das políticas sociais e, mais grave do que tudo isso, a um Portugal que já não se lembra do que passou e vota agora a favor de partidos que fazem tremer as pernas a quem sabe o que penou às mãos do regime em vigor antes do 25 de abril de 74. Eu nasci em abril e gostaria que os meus olhos não tivessem de assistir à vitória da "minhoca que se infiltra na maçã" e continuarei a lutar pela "liberdade, pelo pão, pela paz e pela habitação" usando aqui os tão sérios refrões de Sérgio Godinho que, uma vez mais, ganham sentido e urge se- rem cantados para acordar as gentes e expulsar os que querem voltar a colocar-nos cangas e peias e matar a democracia. Rosário Narciso - Professora
  • 2. Pá g in a 2 O A lt eren se J un h o d e 2 02 4 | N. º 43 Na manhã do dia 25 de Abril do ano 1974 viajava de comboio, apanhado em Chança às 6h20, em direção à estação de Santa Margarida, onde se situava o meu local de trabalho, com a categoria de Factor. Após entrar no comboio, alguns amigos e outros conhecidos diziam-me: olha João, o melhor é voltares para casa porque há um golpe de estado e isto vai entrar em guerra por todo lado no país. Ao chegar ao local de trabalho, o companheiro que estava de serviço ( mais velhinho que eu) dizia-me: sabes João, há uma força militar que durante a noite derrubou o governo? Então fiquei a saber melhor o que se estava a passar pela boca do colega que trabalhou toda a noite com um rádio ali ao lado. Fiquei muito satisfeito, pois algum peso me saiu de cima, sentia o peso do sistema que nos era transmitido por alguns chefes. Digamos que vivi com muita intensidade a partir daí e o peso já não estava em cima de mim. De tal forma subiu a intensidade de viver que, desde a primeira ocasião, participei nas listas da APU até à CDU, para as eleições autárquicas, até aos dias de hoje. Para finalizar observo, com muito desgosto, que todo este percurso poderia, de certa forma, ter acentuado de forma eficaz a defesa dos que traba- lham e lutam pela vida. Ao mesmo tempo atestam as algibeiras daqueles que tomaram o poder, desobedecendo à protecção dos que trabalham, in- clusivé retirando da Constituição da República, a celebre palavra, SOCIALISMO, ficando assim o termo Democracia. Um termo que enche a boca de alguns. João da Silva Rodrigues/Cunheira Onde estava no 25 de Abril Cinquenta anos passados, mantem-se o perfume e o sonho …. Foi há cinquenta anos, também uma quinta-feira, que aquele dia inicial inteiro e limpo como o cantou a poetisa, nos aconteceu. Apareceu-nos, primeiro envolto em receios e temores. O golpe das Caldas fora abortado há poucos dias e nos corredores falava-se de um golpe militar da extrema-direita. Para os territórios mais afastados dos grandes centros as horas eram de expectativa face às marchas militares e os comunicados frios que as rádios nos faziam chegar e eu, então residente em Arronches e a trabalhar em Portalegre, e muitos outros por esse país fora vivemos esses primeiros mo- mentos com receio de que as coisas pudessem ainda piorar. Os 24 quilómetros percorridos num velhinho autocarro dos transportes Belos em con- versas comedidas com os jovens estudantes que, também eles se deslocavam diariamente para Portalegre, foram percorridos em ambiente de espe- rança e medos. Na editorial a Rabeca, proprietária do Jornal com o mesmo nome e que era o principal porta-voz (do que era possível) dos opositores à ditadura salazarista, o ambiente não era diferente. Só às 10 horas um telefonema recebido da Redacção do Jornal República pôs fim à agonia: É a revolução que está na rua! Os militares querem derrubar a ditadura, pôr fim à guerra colonial e restaurar a democracia. O Republica já está na rua sem passar pela Censura! Era a madrugada tão esperada. A passagem das trevas à luminosidade absoluta. Ainda não sabia, ninguém sabia, que naquele momento se dera já início à contra Revolução. Primeiro tentando a apropriação do movimento militar, depois sabotando as ordens para limpar o aparelho de estado, acabar com a pide e pôr fim à guerra e ao colonialismo e depois, abertamente e à bomba, fazer-nos regressar à ditadura dos capitalistas e agrários. Mesmo quando, no dia seguinte fomos surpreendidos com a composição da Junta de Salvação Nacional e nos seguintes constatamos como o gene- ral do monóculo se assumia Presidente da Republica e se procurava manter os presos políticos nas masmorras, ainda não o percebemos Percebemos mais tarde que já na tarde e noite de 25 de Abril se travava um combate entre o mero golpe e a revolução. E a Revolução ganhou as primeiras batalhas. Os golpistas foram derrotados no chamado golpe Palma Carlos, no 28 de Setembro e no 11 de Março em que se assumiram como traidores sanguinários e atacaram a tiro unidades militares. Face à derrota imposta aos spinolistas, a Revolução toma a dianteira e cumpriram-se sonhos: iniciaram-se as nacionalizações, o salário mínimo pas- sou de 3.300$ para 4.000$ (+ 20%), foram implementados os subsídios de férias e de desemprego e a licença de parto, “aconteceu” a Reforma Agrá- ria. O povo, os portugueses de pé descalço, começaram a ser gente. O Alentejo virou a página da escravatura pela batalha da produção. Desde então, muitos mais golpes depois, o País da Revolução dos Cravos viu-se transformado num país onde a democracia foi cerceada de muitas das suas componentes. Um país que mantém a democracia política e onde a censura já não se faz com lápis azul e repressão mas apesar do que a Constituição impõe, não garante a todos a Paz, o Pão, Habitação, Saúde, Educação, impõe limitações a liberdade de mudar e decidir e promove a desigualdade tirando ao povo o que este consegue produzir. Um país que foi aprisionado nas teias da democracia liberal e do capitalismo, que compra os fatos no pronto-a-vestir da Europa connosco e tenta depois adaptá-los ao seu/nosso corpo mas que mesmo assim não conseguiu apagar o aroma dos cravos. Não sei se poderá ser já agora ou teremos que esperar muito. Sei, estou firmemente convencido da razão do Ary: E, se Abril ficar distante/desta Terra e deste Povo/ a nossa força é bastante/ Pr’ fazer UM ABRIL NOVO. Não desistirei. Que ninguém desista! Que viva Abril! Diogo Serra/Portalegre
  • 3. Pá g in a 3 O A lt eren se J un h o d e 2 02 4 | N. º 43 O meu 25 de Abril A tropa nunca foi uma coisa que gostasse e fui pedindo adiamentos enquanto pude. Para 1973 não pedi o adiamento pelo que podia ser incorporado no serviço militar em qualquer a altura. Passaram as incorporações de Janeiro, de Abril, de Julho e nada aconteceu. A incorporação Outubro era a 8 e 9, eu não tinha nenhuma notificação e como habitual fui trabalhar. Porém, nessa tarde de 8 de Outubro de 1973, quando cheguei a casa a minha irmã perguntou-me o que é que tinha feito ou andava a fazer pois a GNR tinha estado em casa a perguntar por mim e para me apresentar no posto de Alverca. Ainda pensei que fosse por causa da saída de um amigo para fora do país. Ele não queria ir à tropa e à guerra colonial e parte da saída foi planeada em minha casa. Fui ao posto da GNR e o DRM nº 2 tinha-me chamado e mandava-me apresentar no dia 9, até às 09h00, na Escola Prática de In- fantaria, em Mafra. A GNR até pensava que eu tivesse fugido pois não era habitual fazer aquelas comunicações com um dia de antecedência. Fui para casa e, com a minha irmã, arranjámos a “trouxa” mais ou menos à pressa e no dia seguinte apanhei o comboio e “abalei” para Mafra, onde estive até ao final de Dezembro de 1974. A 16 de Janeiro de 1974 começou o Curso de Comandos para o que viria a ser a CCmds 40/41, em Lamego. Esta companhia estava inicialmente indicada para Moçambique, mas passadas algumas semanas começamos a ler os mapas da Guiné Bissau e das suas bolanhas. A data de embarque foi marcada para 25 de Abril de 1974. O capitão da companhia estava envolvido como MFA e, uns dias antes desta data, foi auscultando a opinião dos seus futuros alferes para saber com o que poderia contar. Percebeu que poderia contar connosco. Assim, o dia 23 de Abril foi passado em Lamego a empatar tempo. No dia 24 de Abril foi de mais formaturas, preenchimento de papéis, atrasos na entrega de material e mais umas quantas vacinas que “não tinham sido dadas por culpa do enfermeiro”. Isto durou todo o dia pois o objetivo era ter uma companhia em boas condições operacionais para o que desse e viesse No início da noite soubemos mais algumas coisas sobre o que se poderia vir a passar. Havia alguma tensão na messe dos oficiais de Lamego quando ouvimos o 1º sinal “E depois do Adeus”. O 2º sinal, a senha, “Grândola, Vila Morena”, tocou na rádio. A revolta estava em marcha. A CCmds 40/41 formou e foi armar-se a Penude, pois já não tínhamos armas. Saímos para o Porto por volta das 03h40. Estava muito frio. O MFA estava em marcha. Fomos até ao CICA 1. O ocupámos o Monte da Virgem, o Rádio Club Português, a Legião e a sede da PIDE. No final da tarde de 25 de Abril demos uma volta pela cidade para ver como estavam as “coisas”. As pessoas davam vivas à liberdade, à república, à democracia e ao exército. Era uma alegria. O povo estava radiante. Na Av. dos Aliados, do meio da multidão saiu um velhote que se dirigiu a mim e, de chapéu na mão, disse “Meu alferes, viva a República”. Nunca mais me esqueci desta frase. No dia 29 de Abril regressámos a Lamego e tivemos uma receção estrondosa. Eu ia a comandar a Companhia de Comandos 40/41. Não gostava da tropa, mas, por ironia, por estar lá, pude viver o 16 de Março, o 25 de Abril, o 28 de Setembro, o 11 de Março, o 29 de Julho e o 25 de Novembro datas marcantes na história do país. Foi uma experiência riquíssima e que acabou por valer muito a pena. Romão Trindade/Alter do Chão Almoço comemorativo do 103º aniversário do PCP Teve lugar no dia 24 de Março, em Vale do Peso, o almoço comemorativo 103º aniversário do PCP na qual participaram dezenas de camaradas e amigos do PCP e da CDU.
  • 4. Pá g in a 4 O A lt eren se J un h o d e 2 02 4 | N. º 43 Almoço alentejano em Grândola Foi no dia 14 de Abril, em Grândola, o almoço regional do Alentejo. Foram muitas centenas de militantes e amigos do PCP e da CDU que estive- ram presentes nesta grande manifestação política. Esta jornada de luta contou coma presença de João Oliveira, cabeça de lista da CDU ao Parlamen- to Europeu, e de Paulo Raimundo, secretário-geral do PCP. Resultado das eleições legislativas de 10 de março de 2024 Resultados apurados nas eleições legislativas de 10 de Março que não foram favoráveis à CDU, apesar da justeza das suas propostas. Freguesias de Alter do Chão Total do con- celho Distrito de Portalegre Total nacional Alter do Chão Seda Chancelaria Cunheira AD 348 28 47 25 448 14132 1757879 PS 341 76 101 81 599 20658 1759937 Chega 333 25 45 44 447 14915 1108764 CDU 49 46 12 14 121 3604 202565 BE 36 4 7 5 52 1894 274011 IL 27 2 3 1 33 1146 312033 Livre 12 0 1 0 13 873 199890 ADN 10 4 4 3 21 631 100044 PAN 7 0 1 1 9 506 118574 MRPP 5 2 1 3 11 303 14748 ND 1 2 0 0 3 121 14479 RIR 1 0 0 0 1 176 25506 Volt 1 0 0 0 1 53 10824 Ergue 0 0 0 1 1 54 5746 MPTA 0 1 0 0 1 31 4045 PSD/CDS 52992 PTP 2498 PPM 451 NC 1627 Brancos 10 0 3 1 14 920 87956 Nulos 17 0 1 3 21 645 67347 Inscritos 2662 93106 9271479 Votos 1796 60662 6140289
  • 5. Pá g in a 5 O A lt eren se J un h o d e 2 02 4 | N. º 43 A Mulher e o Poder Local Democrático A experiência na Freguesia de Galveias Em maio de 1961, em Galveias, nasceu uma menina que, para ingressar na escola, foi para casa da avó materna, o que custou a separação dos pais no período da escola, pela distância física entre Galveias e a herdade onde os pais trabalhavam e viviam. Mãe e filha encontravam-se apenas nas férias do Natal, da Páscoa e no verão. O pai visitava-a quinzenalmente, ao domingo levando os miminhos que a mãe arranjava e que a horta dava. No 25 de Abril de 1974 já trabalhava. Vendia pão, cumpria horário das 7 às 21 h, sem intervalo para almoço. No dia da Revolução estava a trabalhar como nos outros dias (ditos normais). Tinha sobre o balcão do posto de venda de pão, uma telefonia (aparelho de rádio, alimentado a pilhas) para ouvir música, mas que naquele dia transmitia os comunicados do Movimento das Forças Armadas sobre a Revolução. Revolução que deu ao Povo Português a Liberdade, a Democracia, a Igualdade, a Paz com o fim da guerra colonial que ceifou mais de 10 mil vidas de jovens militares portugue- ses. Menina tornada mulher, ganhou consciência do seu papel como trabalhadora, tendo, cedo, aderido ao seu Partido de sempre – o PCP. Em 1982 iniciou a experiência autárquica como membro de uma Assembleia de Freguesia. Até 2016, seguiram-se mandatos em diversos níveis de responsabilidade autárquica: Junta de Freguesia, Assembleia Municipal e vereadora sem pelouros em regime de substituição. Em 15 de janeiro de 2017, sendo a primeira candidata da lista da CDU, foi eleita, tornando-se a primeira mulher Presidente da Junta de Freguesia de Galveias, cuja função exerce atualmente. É um desafio de grande dimensão, por vários motivos: É uma Freguesia que gere um vasto património, legado por Testamento do Comendador José Godinho de Campos Marques. Património que con- siste em mais de 6 200 hectares de terra e diversos elementos de património edificado, que se localiza em 3 distritos (Portalegre, Évora e Lisboa), em 8 concelhos (Ponte de Sor, Avis, Crato, Monforte, Borba, Estremoz, Torres Vedras e Lisboa) e em 17 Freguesias e Uniões de Freguesias. O patrimó- nio edificado encontra-se em avançado estado de degradação, o que representa uma reforçada preocupação para quem gere a Junta de Freguesia de Galveias, nomeadamente quem a preside. É um valioso património, que ascende a mais de 57 milhões de euros, no seu estado atual. Assume lugar central na nossa preocupação a degradação dos prédios situados na Cidade de Lisboa, de que a Freguesia de Galveias é proprietária (1 na Av. da Liberdade, 1 na Rua da Glória, 1 na Av. Viscon- de de Valmor e 2 na Travessa e Rua dos Remolares – Cais do Sodré). Mas também a gestão do património agrícola detém lugar de destaque, dada a gestão direta pela Junta de quase 5 mil hectares de terra onde pastorei- am mais de 3 mil cabeças de gado ovino e bovino. A exploração da terra ditou a existência da Loja da Junta onde se comercializam os produtos ali produzidos. Trata-se de uma Freguesia que possui um lagar que transforma em azeite a azeitona produzida nas terras geridas pela Junta, e também presta apoio aos produtores da Freguesia. E uma vinha com 36 hectares, com uma adega que produz vinho para consumo da população. Também possui um parque aquático que todos os anos é muito procurado pelos veraneantes para gozo dos seus momentos de laser, fundamental- mente em família, pelas condições ótimas que oferece. O refeitório onde almoçam diariamente as crianças da Freguesia que frequentam o 1º ciclo do ensino básico e que fornece entre 12 a 15 refeições diárias de apoio social é, também, propriedade da Freguesia. Também o posto de correios está na gestão da Junta há cerca de três décadas. Por todas estas características, estamos perante uma autarquia que hoje é possuidora de um mapa de pessoal com 72 lugares, a que se juntam alguns prestadores de serviços, num total de cerca de 80 pessoas que todos os dias trabalham ao serviço de Galveias e da sua população. É a entidade maior empregadora da Freguesia. Possui 6 técnicos superiores entre os seus funcionários: solicitadoria, contabilidade pública, gestão, serviço social, infor- mação e comunicação, gestão agrícola. Isto verifica-se numa Freguesia com pouco mais de mil eleitores que, apesar do seu potencial, sofre dos mes- mos males da interioridade, da desertificação e do despovoamento que assola todo o interior do País e fundamentalmente, o nosso Alentejo. Mas o seu potencial permitiria a realização de projetos cuja concretização, se apoiada em financiamentos por fundos europeus, nomeadamente, aju- daria a alavancar novas formas de desenvolvimento do território da Freguesia. Mas a autonomia na estrutura administrativa do País está mutilada pela legislação que (salvo raras exceções) não reconhece a existência das Freguesias e, por isso, reforça a sua secundarização, não lhe reconhecendo possibilidade de acesso a fundos estruturais ou outros de apoio a projetos de desenvolvimento local. Mesmo àquelas que reúnem as condições pró- prias capazes de responder às exigências de tais candidaturas, como é o caso de Galveias. Ainda assim, usando a inteligência e a capacidade de trabalho que nos caracteriza damos provas de que é possível fazer muitas coisas. Olhando para todas as áreas da gestão, tem sido possível melhorar a receita da autarquia, defender o ambiente e a qualidade de vida, melhorar os contratos de ar- rendamento existentes e impedir as monoculturas em produção intensiva e/ou super intensiva, melhorar a gestão agrícola, renovar os efetivos pecuá- rios, apostar na sua produção em modo biológico, promover novas plantações de sobreiros e pinheiro manso e adensar o montado existente. Os prédios de Lisboa têm sido alvo de procedimentos administrativos públicos que abram caminho à sua requalificação e renovação, o que já consegui- mos com 3 deles. E continuamos a trabalhar na solução para os restantes 2, porque desistir não entra no nosso vocabulário. Promovemos o diálogo e a cooperação institucional com as demais entidades públicas, com destaque para o Município de Ponte de Sor, concelho de que a Freguesia de Galveias faz parte. Esse diálogo permite a realização de obras, destacando-se a requalificação do velho Mercado, agora transfor- mado em pavilhão multiusos. O potencial cultural representa um instrumento forte para a promoção e o desenvolvimento de Galveias. Criámos: a Sala Cultural José Luís Peixoto, o Núcleo Museológico de Galveias, condições dignas para os Serviços Sócio Culturais. Conseguimos integrar a Rota Literária do Alentejo e Ribatejo, pelo privilégio de Galveias possuir entre os seus filhos o Escritor José Luís Peixoto, cuja obra é o maior embaixador desta terra pelo Mundo. Com financiamento a fundo perdido de 70% do investimento que ronda os 400 mil euros, está concluído o Centro de Interpretação José Luís Peixoto e a Rota Literária de Galveias. De braços abertos aguardamos a sua/vossa visita a Galveias que muitos nos honrará.
  • 6. Pá g in a 6 O A lt eren se J un h o d e 2 02 4 | N. º 43 Intervenção da CDU nas cerimónias do 25 de abril em Alter do Chão Caros cidadãos do concelho de Alter do Chão Celebramos Hoje os 50 anos da madrugada libertadora do 25 de Abril de 1974, que rapidamente se tornou na Revolução dos Cravos. Nesse dia começava uma nova era, uma era de boa esperança para os portugueses. O fim da guerra colonial e o início de um processo revolucionário estavam em marcha. O trabalho contra o capital, a emancipação das mulheres a democracia popular contra a ditadura eram a revolução social. O povo veio para a rua participar na construção de um país novo. Os portugueses discutiam o que fazer e como fazer. A Reforma Agrária, as nacionalizações de indústrias e da banca indicavam o caminho da Revolução. Nesse tempo, acreditámos que seria o fim de um regime fascista odioso, opressivo, que mantinha o país num atraso económico, social e cultural permanente e isolado da comunidade internacional. Mas bem depressa o 25 de Abril e o seu espírito de liberdade e de mudança defrontaram golpes, oposição e forças de bloqueio que conduziram ao 25 de Novembro, de má memória, e que foi apoiado pelo PS, por toda a direita, pela igreja e pela NATO. A Revolução de Abril acabou por um golpe militar mais ou menos manso (violência só sobre a esquerda) e não por um golpe fascista ao estilo do que aconteceu no Chile de Salvador Allende. A burguesia e a direita derrotada em Abril voltaram triunfantes em Novembro. Os governos do PS, PSD e CDS, que dominaram nestes 50 anos, estiveram sempre empenhados em travar Abril e, por isso, desenvolveram políticas de direita que conduziram ao acentuar das injustiças e das desigualdades entre os portugueses, aumentando o fosso entre ricos e pobres. Hoje temos a riqueza produzida na mão de muito poucos e a pobreza a distribuída por muito de nós. Nem a entrada na então CEE, hoje UE, nos livrou das garras do capitalismo, com as privatizações de empresas estratégicas para o país. A ANA, a TAP, a EDP, a PT, a GALP, entre outras, são bons exemplos do que se abateu sobre nós, por imposição europeia. A submissão à UE e à NATO/OTAN tem sido uma constante dos governos da República Portuguesa e o aceitar, agora, o aumento para 2% do PIB para as indústrias de defesa pode conduzir ao fim de uma Europa social. As guerras não são soluções de progresso e de liberdade, antes pelo contrário, estimulam a opressão, a destruição e a morte como são, nestes tem- pos, as guerras em Gaza, na Ucrânia e outros países africanos e asiáticos e ainda hoje morrem 8500 crianças por ano e a cada 4 segundos morre uma pessoa com fome no mundo. Também foi no regime democrático que se criou, para quebrar a coluna dorsal à CGTP/Intersindical Nacional, a central sindical UGT, apoiada pelo PS e pelos partidos de direita e que sempre esteve do lado do capital no Conselho de Concertação Social. Nestes 50 anos depois de Abril alteraram-se as condições laborais e os contratos coletivos de trabalho para dar origem a uma força de trabalho pre- cário, periodicamente desempregada que empurra para baixo os salários reais. Curiosamente o Tratado de Lisboa substitui o direito ao trabalho pelo direito de procurar emprego. Talvez o domínio onde o 25 de Abril ainda não tenha entrado, seja o da justiça. Processos enormes, muitos arguidos, tempos longos, decisões con- trárias entre juízes ou tribunais, acusações e mais acusações sem provas ou difíceis de provar é o que temos assistido nestes 50 anos. Isto não é Abril. Abril é enfrentar os interesses dos grupos poderosos e lutar por uma justa distribuição da riqueza produzida, por mais justiça social, económica e cultural. Caros cidadãos do concelho de Alter do Chão Nem tudo foi mau nestes 50 anos. O facto de podermos votar é, em si mesmo, uma grande conquista de Abril. Podermos escolher, bem ou mal, os nossos representantes nas Autar- quias, na Assembleia da República, no Parlamento Europeu ou para Presidente da República é um ato de liberdade, só possível com Abril. O poder autárquico democrático é uma outra das grandes conquistas de Abril e uma das poucas que ainda resiste, prova disso e estarmos Hoje aqui todos, com respeito pelos Órgãos democraticamente eleitos e quem os representa. Também o SNS, criado em 1979, resultante, em parte, do Serviço Médico à Periferia criado com Abril de 1974, é uma grande conquista, apesar dos constantes ataques a que é sujeito e que o conduziram à situação difícil e débil em que se encontra. A instrução pública é outra das conquistas de Abril e também ela sujeita aos fortes ataques que temos vindo a assistir. Sem instrução o país não vai a lado algum. Apesar de termos a geração mais qualificada, a emigração não diminui. O ambiente e as alterações climáticas têm sido alvo das preocupações de muitos portugueses, embora se tenham abatido sobreiros, azinheiras e mui- tos hectares de terra fértil para dar lugar a centrais fotovoltaicas. No entanto muitas lutas se têm desenvolvido junto e a favor das populações, como foi a recente luta contra a exploração do lítio. E na Cultura? Teríamos o Coro e a Orquestra do Teatro Nacional de S. Carlos a atuar no nosso concelho se não fosse Abril? Quantos filmes, peças de teatro, livros e discos teríamos se não houvesse a madrugada de Abril? Alguma coisa se fez para que os 3 D`s de Abril (Democratizar, Descolonizar e Desenvolver) se concretizassem. Também é verdade que a Revolução dos Cravos foi influente nas transições para a democracia em Espanha, na Grécia e na América Latina. Contudo, não é aceitável que 80 anos depois do fim da II Guerra Mundial e 50 anos depois do 25 de Abril de 1974 estejamos a discutir a ascensão da direita e da extrema-direita, que muitos acreditaram já não existir, nos órgãos de soberania, não só em Portugal como um pouco por todo o mun- do, quando devíamos estar a discutir a melhoria das condições de vida dos portugueses. Caros cidadãos do concelho de Alter do Chão
  • 7. Pá g in a 7 O A lt eren se J un h o d e 2 02 4 | N. º 43 Não podemos ignorar a contribuição importante, e muitas vezes decisivas, do PCP, do PEV, da ID e de muitos portugueses na construção da de- mocracia, apesar de em nome da democracia termos perdido a REVOLUÇÃO. No entanto, quer a APU, quer a FEPU e mesmo a CDU não fizeram sempre tudo bem, não decidiram sempre da melhor maneira. Também come- teram alguns erros. Mas, tal como ontem, também hoje a CDU está e estará na primeira linha para enfrentar, construir e avançar como uma Força de Abril que é, por- que as portas que Abril abriu não mais se podem fechar. Também no concelho de Alter do Chão podem sempre contar com a CDU na procura das melhores soluções para os problemas que afligem o nosso concelho. Lutaremos sempre para que as nossas gentes tenham melhorias significativas nas suas vidas económicas, sociais e culturais. Apesar de tudo, Abril valeu a pena A luta continua, com a coragem de sempre. Viva o 25 de Abril Viva a LIBERDADE E nunca se Calem perante as injustiças
  • 8. Pá g in a 8 O A lt eren se J un h o d e 2 02 4 | N. º 43 Ficha Técnica Edição e Propriedade: CDU - Alter do Chão ISSN: 2183-4415 Periodicidade: Trimestral Tiragem: 250 exemplares Distribuição: Impressa e online (gratuitas) Diretor: João Martins Morada: Rua Senhor Jesus do Outeiro, n.º 17 7440 - 078 Alter do Chão Telefone: 927 220 200 Email: cdualter2013@gmail.com Facebook: www.facebook.com/cdu.alter 1974, O Abril da Saudade Eram cravos a florir como nunca tinha florido Eram homens e mulheres felizes porque fazia sentido Eram abraços nas cidades, vilas e aldeias Eram luzes a brilhar, apagavam-se as candeias Eram tempos de mudança e de esperança Eram ventos calmos que traziam a bonança Eram vivas a Abril, à liberdade e à revolução Eram prisioneiros políticos e a sua libertação Eram só homens valentes, em todas as frentes Eram homens de coragem que mudaram mentes Eram os soldados que vinham do ultramar Eram as suas mães que deixavam de chorar Eram tantos homens e mulheres a sofrer e dizer não Que no vinte e cinco de Abril se fez a revolução Nesse dia de alegria o povo que todos unidos Jamais seremos vencidos Fabião Heitor Coutinho/ Seda